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IZECKSOHN, Vitor. Cap. IX A Guerra do Paraguai. In: GRINSBERG, Keila. SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial – Vol. II – 1831-1889. 2ª ed., Rio de Janeiro, 2011. p. 385-424

O Brasil Imperial – 1832-1889CAPÍTULO IX – A GUERRA DO PARAGUAI

O CONTEXTOO Rio da Prata foi a principal rota de comércio entre Buenos aires e as minas de Potosí. A

partir de fins do século XVIII, com a criação do “Vicerreinato de la Plata” (1776), e a elevação da cidade portenha a capital (1778), pensava a metrópole em reorganizar a aparelho burocrático segundo os moldes reformistas do século. Enquanto o século XVIII foi marcado pelas reformas ilustradas, o século XIX contrasta pelos movimentos separatistas. Entre 1810-24 os quatro vice-reinados do império espanhol fragmentaram-se em 18 novos países.

As incertezas pós-independêcia acirravam as disputas por territórios e limites estatais. O que estava em cheque era não só a ameça externa como também, as desconfianças quanto às disputas de interesses num espaço limitado. As colônias espanholas se dividiram em “pátrias de cabildo”, reservando os interesses da burguesia local ascendente que inserida no estado pretendia estabelecer maiores domínios. O grande problema era de se alcançar domínio e coerção efetiva em locais tão longínquos. O baixo grau de comércio pode ser decorrente à desarticulação das grandes rotas mercantis, um agravante a mais que interrompeu o sucesso de tentativas diplomáticas.

O DRAMA PARAGUAIO“O senso de identidade que mantém uma nação unida é a mistura de crenças

compartilhadas, ideias e costumes, mas também de temores comuns de inimizades.” (IZECKSOHN, 2011, p. 389, §2).

O medo do antigo regime de domínio extrarregional, leva a um desenvolvimento constante de uma administração centralizada no governo ditatorial de José Gaspar de Francia. Temia-se o opressor estrangeiro. Contudo, diferente da Cisplatina, O povo Guarani só poderia aceder ao mar por meio da foz do Rio da Prata. Sua aliança com os administradores portenhos contudo seria da maior cautela, as desconfianças seriam mútuas. Por um lado o isolamento (entre 1814-1852), e a mestiçagem e língua franca agravaria o orgulho nacional paraguaio. Por outro o resultado terminaria com uma série de implementações de políticas estatizadoras das terras de particulares e a centralização com vistas à proteção dos interesses nacionais; além do constante preconceito produzido contra portenhos e espanhóis.

AS CAUSAS DA GUERRA“Geralmente as causas das guerras tendem a ser explicadas em termos da ação de 'grandes

forças', mas muitas vezes derivam menos de processos macro-históricos que de questões mais imediatas, ligadas às ambições pessoais dos líderes ou a problemas no exercício de sua autoridade, potencialmente prejudicada por contextos de crise.” (IZECKSOHN, 2011, p. 391, §3)

PARAGUAI – O Paraguai passaria por mudanças na forma de governar, a partir da década de 1860, o isolamento abriria espaço para os acordos diplomáticos uma vez que o comércio internacional era de vital importância para o mantenimento da economia interna. Portanto o governo paraguaio preconizava o respeito ao equilíbrio de poder na bacia do Prata, e sobretudo, assim como o Brasil, livre transação de mercadores. O desprezo brasileiro, quando da intervenção à Paissandu em agosto de 1864, afronta o orgulho nacional, capaz de ter reposta somente em guerra. Segundo Vitor Izecksohn, o governador esperava que os impérios brasileiro e a república argentina se desestabilizasse e que surgisse um enorme mosaico de “pátria chica”.

BRASIL – O império tinha uma preocupação crescente com a livre navegação dos rios da

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bacia do Paraná, por ser sobretudo, o principal meio de acesso a província de Mato grosso. A intervenção brasileira ocorre na região da Cisplatina, disputada entre o povo do oeste, e que tinha ganho autonomia desde 1828; contudo a divisão de fronteiras não acompanhara a propriedade de brasileiros, “De acordo com José Pedro Barrán, na década de 1860, os cidadãos brasileiros controlavam cerca de 30% do território uruguaio” (Idem, p. 392, §2). Os colorados eram apoiados pelos gaúchos de fronteira, e o gabinete imperial fez-se a favor, em temer um outro movimento separatista, desde a unificação de 1845. O exército brasileiro interveio na guerra civil uruguaia em 1864, tal iniciativa irrita a solidariedade do governo de Solano López.

URUGUAI – O país estava dividido entre dois partidos com milícias armadas depois da independência. A) O partido blanco defendia a proteção da economia interna por meio da nacionalização das posses de extrangeiros, além do controle do comércio. B) O colorado defendia a menor intervenção do governo de Montevidéu e a consolidação diplomática entre os dois impérios que fazem fronteira com a região. Os blanco sobem ao poder em 1862, e a guerra civil estoura no ano seguinte.

ARGENTINA – O século XIX foi marcado pela tentativa de consolidação centralizada do poder de Buenos Aires sobre as outras regiões do Cone Sul. Sua estratégica posição geográfica e a já consolidada e crescente burguesia mercantil almejava mais progresso, e o governo estava disposta a submeter outras regiões a seu controle fiscal e.

A OFENSIVA PARAGUAIA, DEZEMBRO DE 1864-JUNHO DE 1865“Em protesto contra a intervenção brasileira no Uruguai, o governo paraguaio apreendeu o

navio mercadante brasileiro Marquês de Olinda, que conduzia o presidente recém-nomeado da província de Mato Grosso, Carneiro Campos, em dezembro de 1864;” (IZECKSOHN, 2011, p. 394-5, §1).

De fato tal ofensiva, ou contra-ofensiva paraguaia não era esperada pela população pantaneira, pois não havia preparo militar, se quer plano de fuga. O expansionismo paraguaio encontra guarnições e armamentos no Mato-grosso, o problema agora era o contato com os aliados blancos do Uruguai. O tempo estava em contra-partida. Em abril de 1864 Solano pede autorização a Bartolomeu Mitre para atravessar a província de Missiones a fim de alcançar o Uruguai; após a recusa, visando neutralidade do partido colorado argentino no conflito, o exército paraguaio começa a ofensiva contra as províncias de Corrientes e Missiones, alcançando o Rio Grande do Sul por volta de junho de 1865. O rompimento com a argentina custaria o acesso ao mar e a suprimentos. A falta de preparo militar nas regiões invadidas indicam a inesperada iniciativa guaraní. A quantidade de tropas e fortificações não impediram contudo que avançassem pelos enormes campos de pradarias; que no momento era o maior obstáculo aliado ao despreparo das tropas paraguaias. Os ataques necessitavam ser rápidos, e a fuga também, o resultado foi uma enorme baixa para os soldados, que sofreram de fome e a proliferação de doenças.

REPERCUSSÃOAs notícias da intervenção paraguaia alcançam o Rio de Janeiro já em fins de dezembro de

1864. Repercutiram como a “barbárie paraguaia” associada ao governo de um povo de origem indígena em contraste a um governo herdado da dinastia Bragança. Seguida de discursos de autoridades de todas as esferas, notas e artigos em jornais e manifestação públicas em repúdio. Reforçava-se o dever civilizador do Império, que devia destituir o ditador López e instaurar uma nova era de progresso no Paraguai. Tais repercussões que se ultrajaram por todo o primeiro semestre de 1865, elevam o debate sobre o patriotismo nacional, e forças em ajuda imperial se mobilizam.

RECRUTAMENTO VOLUNTÁRIODurante o século XIX, o recrutamento era visto como uma intervenção aos direitos

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individuais, e era amplamente dificultado pelas forças locais. Portanto o exército com caráter bastante regionalista precisava de uma nova cara, uma expressão nacional. O recrutamento contudo recaía sobre os mais pobres e vulneráveis do sistema de recrutamento: desocupados, migrantes, criminosos, órfãos e desempregados. O serviço militar na monarquia centralizada passaria a ser dedicação de desqualificados sociais, mantinha-se seu caráter disciplinador e penal somente reenchendo-se de orgulho com os ares patrióticos trazidos pela intervenção paraguaia, e o louvo da repercussão.

As autoridades militares aproveitaram o movimento patriótico para aumentar a quantidade de soldados nas linhas de frente. Pedro II foi o primeiro a alistar-se num movimento de igualdade perante o amor dos voluntários da Pátria. A quantidade de alistados no primeiro semestre de 1865 surpreende as autoridades. Donativos e voluntários emergiam de todas as partes do império, incluindo imóveis, dinheiro, serviços especiais, escravos (que eram libertos sob condição de servir). Pensar que fosse uma guerra curta os daria motivação extra, porém não bastante, também estava na pauta recompensas em terras, empregos públicos e pensões. “Esses soldados eram enviados à corte, para depois partir rumo ao Uruguai, onde continuava a guerra civil.” (IZECKSOHN, 2011, p. 399, §2).

No entre rios as tropas paraguaias sofriam baixas com a fome, e se punham a se alimentar das vacas gaúchas, quando renderam-se em Uruguaiana sob o exército imperial, já em setembro de 1865.

A INVASÃO DO PARAGUAI“A assinatura do Tratado da Tríplice Aliança, em maio de 1865, praticamente selou a sorte

do Paraguai na guerra. Pelo tratado, os governos do Brasil, Argentina, e Uruguai (agora efetivamente governado pelos colorados) comprometiam-se a não depor armas até a queda do ditador.” (IZECKSOHN, 2011, p. 400, §1).

As cláusulas secretas, até então, definiam a demolição da força militar paraguaia, e a devolução dos territórios segundo os interesses dos vencedores. Somada à derrota de Uruguaiana e da frota naval em Riachuelo, as perspectivas de vitória paraguaia torna-se extremamente minimizadas. Os únicos tipos de apoio externos foram por parte do Perú, Bolívia e Estados Unidos que não passaram de pronunciamentos simbólicos. Os maus cálculos do ditador Solano, talvez fosse um certo tipo de autoconfiança, que perpetua-se como carga sobre o povo paraguaio. A invasão ao Paraguai teve início em agosto de 1866; sem conhecimento cartográfico da região a empreitada não foi das mais fáceis. Tiveram de se apoiar na vontade de comerciante que cobravam por informar. Após a queda da fortaleza de Humaitá, seguia a batalha travada em Tuiuti, a maior batalha já travada em solo latino-americano. A partir da derrota de Curupaiti, em setembro de 1866, e de levantes e revoltas na argentina o líder argentino teve de tomar retorno ao Sul, abandonando o campo de batalha, passando agora a oferecer apoio mais moral que prático. O apoio dos argentinos daí seguiria pelos serviços hospitalares das províncias do norte, além de servirem de campo de avanço.

RESISTINDO AO RECRUTAMENTO“Aos poucos o estado de espírito vai mudando no imperio. A campanha mostrava-se longa e

difícil. A morosidade das operações, os sérios problemas de infraestrutura, o grande número de baixas por doenças, o desamparo das famílias dos soldados e a necessidade de ampliação dos contingentes foram tornando o recrutamento cada vez menos atraente. (…) Várias categorias profissionais estavam automaticamente isentas do recrutamento militar: funcionários públicos, trabalhadores das estradas de ferro, empregados de casas comerciais, homens legalmente casados e outros;” (IZECKSOHN, 2011, p. 401-2, §2).

A partir de finais de 1866 o recrutamento voluntário perde força e os menos favorecidos voltam a sofrer de ameaças por servir ao exército. Reforçando a visão da guerra financiada por ricos e aplicada por pobres. O desprestígio chega ao ponto que fugas, brigas, ataques às escoltas e cadeias, mutilações, casamentos relâmpagos, e choques entre poderes são frequentes na resistência

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contra a guerra e o recrutamento forçado. As milícias locais, mais conhecidas por Guarda Nacional, criada em 1831 para conter o ânimos dos desordeiros, servia de símbolo de honor e proteção local. É possível que seu contingente tenha aumentado exponencialmente como consequência dos temores provocados pela guerra. A medida que a Guarda Nacional passaria a ser cooptada e subordinada ao exército em campo de batalha.

Em tempos de constante debate, o alistamento de adversários políticos pode não ter sido dos menos frequentes. Conflito armados locais acirrados em campo eleitoral e também de batalha animavam os estresses. Também era bastante comum disseminação de posicionamentos partidários entre as lideranças do exército em combate. A Guarda Nacional continha um certo símbolo de status e lealdade local, e ao serem cooptados pelo exército, o poder imperial interferia diretamente nos laços de interdependência tecidos nas terras interioranas. O recrutamento massivo de pobres, mostrava o intenso desprezo por suas dedicações e vidas. As disputas partidárias foram frequentes tanto na linha de frente quanto entre as patentes do exército. Como as rivalidades entre o comandante conservador Polidoro e o liberal Porto Alegre, após tomar conhecimento da designação de Caxias para o comando das tropas. A guerra caminhava para o caos, o recrutamento se via mais necessário que nunca, a solução viável para aqueles convocados era enviar escravos. As fugas foram constantes, ou a possibilidade de passar ao território estrangeiro.

LIBERTANDO ESCRAVOS PARA O SERVIÇO MILITAR“Desde o começo da campanha contra o Paraguai escravos e libertos foram alistados no

Exército e na Marinha. O alistamento desses indivíduos ocorria pela força, por doações, por substituições ou quando os escravos fugiam e se apresentavam como homens livres.”(IZECKSOHN, 2011, p.405, §4).

Em novembro de 1866 Pedro II toma a iniciativa de levar escravos para os frontes de batalha. Tal processo passaria por uma seleção. O que pensava os ministros era de poder libertar um enorme contingente de escravos e levá-los ao campo de batalha. As alforrias foram condicionadas à vontade dos senhores e não do Estado. A Segundo Vitor Izecksohn a intenção do imperio era de recompor as linhas de combate, e não de promover uma eliminação em massa de negros cativos, como fora amplamente divulgada na imprensa platina. O Estado apelava a igreja e as massas de senhores para que vendessem-lhes seus escravos. Outro dado curioso é que metade das contribuições privadas que compunha as guarnições fora enviada por substituição. Já as doações não chegavam a passar de 2% do contingente total.

Nas cartas a diversas autoridades marquês de Caxias preocupava-se com a enorme heterogeneidade das tropas, e temia pela igualitária sociabilidade entre brancos e pretos, sobretudo temia uma instauração de guerra civil, como nos assegura Ricardo Salles. A disciplina de patente para Caxias estava em risco.

CAXIAS“Caxias aliava conhecimento e experiência na organização de exércitos com talentos

políticos que facilitavam o entendimento com os comandantes dos exércitos aliados. Era um general político, capaz de coordenar as operações entre os exércitos da Aliança; mas era também um problema para o funcionamento do sistema político do império, sendo adversário do gabinete no poder.” (IZECKSOHN, 2011, p. 408, §3).

Ao longo do ano de 1867 a permanência de Caxias no comando das tropas aliadas era já questão de honra para a monarquia brasileira. O desgaste política vinha a mercê da guerra. As disputas políticas foram através de caxias “moderadas”, o autor assegura que tal medida somente foi possível pela distância que as tropas se mantinham da corte. Caxias fora muito criticado, pois paralisou o exército por 17 meses. Tempo precioso para o preparo dos recém-chegados, principalmente no uso de armas de fogo e a escavação de trincheiras que permitiram a ampliação do cerco a Humaitá, principal baluarte dos paraguaios.

DRENANDO RECURSOS

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“(…) A necessidade de ampliação dos gastos públicos comprometia a capacidade do governo de planejar e controlar com adequação as despesas. Assim, o déficit governamental, característico de praticamente todos os orçamentos do período monárquico, manteve-se em patamares muito mais elevados durante os anos da Guerra do Paraguai.” (IZECKSOHN, 2011, p.410, §1).

Foi preciso que o gabinete aumentasse de imediato a quantia de crédito a seu bel uso, geralmente em forma de 'decreto-lei'. Taxas e impostos também acarretariam despesas para o estado patrimonialista, assim como para pequenas famílias de proprietários. A moeda se desvalorizou em posição da libra esterlina. A inflação começava a subir e afetava sobretudo quem não podia pagar pela alta dos preços. Vitor Izecksohn critica a postura de manter a guerra num período de escassez financeira, já que preferia privilegiar os contingentes em combate que aqueles dedicados ao desenvolvimento da indústria, como o visconde de Mauá e seus planos ferroviários. Isso não significa que os setores de produção de armamentos e pólvora não tivesse sido ampliados. Conduzindo a como o descreve o autor, a um desfalecimento desnecessário de esforços sociais.

A QUEDA DOS PROGRESSISTAS“Ainda que o regime monárquico fosse caracterizado pela subordinação dos militares ao

comando civil, Caxias utilizou-se de sua posição como comandante em período excepcional para forçar a queda do gabinete progressista e a ascensão de um governo conservador mais afinado com suas ideais e preferências.” (IZECKSOHN, 2011, p. 411, §1).

Caxias representava o poder moderador no exército. Sua nomeação como dirigente militar desagradava a tradicional autoridade dos liberais como desertores desse cargo. Tal alteração costumeira mesmo que temporária denegria a imagem do imperador frente aos liberais. Tão logo caiu o ministério progressista, a situação militar [nomeadamente] começou a melhorar.

A CONQUISTA DO PARAGUAIEm agosto de 1868, a guerra completava 4 anos, o cerco a Humaitá finalmente dalí havia

ultrapassado, e o próximo destino ao norte era a Assunción. Caxias propôs fim a guerra. O imperador se negava a aceitar a paz se que antes deposse o ditador Solano López. O exército paraguaio continuava resistindo. Muita gente tentava fugir e a falta de infraestrutura e adequação para a retirada finalmente derrocou em grandes perdas de vidas.

A DEZEMBRADANa segunda metade do ano de 1868, o exército brasileiro contorna sobre as trincheiras

paraguaias, como os planos de engenheiros militares. O acesso por terra a Assunción foi possibilitado, e o exército nacional foi praticamente dizimado. Solano foge para o interior do país. E em janeiro do ano seguinte as tropas brasileiras chegam a capital do País, que foi em seguida saqueada por cerca de dois dias. Solano seguia comandando uma diminuta quantia de homens sobreviventes da Maldita Guerra, e deu seguimento a guerra. Porém declara desistência da guerra no mesmo mês. A guerra estava em retira. A dispensa de oficiais e voluntários se via já em vistas do fim do conflito que duraria um ano mais.

A CAMPANHA DA CORDILHEIRA E O FIM DA GUERRA“A Campanha da Cordilheira, que se iniciou em abril de 1869, foi longa e desgastante.

Enquanto os exércitos da Tríplice Aliança ainda permaneciam parados nas cercanias de Assunção, a presença de López nas montanha criava um problema para o imperio. Acreditava-se que daquela posição o ditador paraguaio poderia reorganizar seu exército e voltar ao poder, forçando o império a negociar uma paz que àquela altura seria humilhante. Capturá-lo tornou-se a obsessão do Imperador, que nomeou o genro, o Conde d'Eu (1842-1922), comandante-em-chefe.” (IZECKSOHN, 2011, p. 413, §2).

A guerra já chegava a agravar os ânimos dos combatentes. Os episódios finais foram os mais catastróficos para história do povo paraguaio. A população fugida das cidades, seguia seus

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familiares combates e ligados às tropas de Solano López. Conde d'Eu sofreu com o exército baixas causadas por enfermidades e falta de suprimentos, principalmente para os postos mais afastados como de Potreiro Capivari e São Joaquim, paralisando-os por dois meses. A partir desse momento o conde d'Eu faz constantes solicitações pelo fim da guerra, argumentando se 'ridículo' para o Brasil fazer, perante o mundo, 'esforços colossais e impotentes para agarrar um fantasma': “(...) justamente porque (…) a captura de López (…) não se dará senão em futuro remoto, e (…) não produzirá efetiro moral nenhum (…) cumpre procurar o efeito moral necessário em outro fato, e qual melhor que a volta desses milhares de Voluntários, e as demosntrações de reconhecimento que a Nação possa dar?” (IZECKSOHN, 2011, p.414-5, §4).

Após rápido combate, no dia 1º de maio de 1870 o ditador vitalício paraguaio Solano López foi capturado e morto sob comando do general visconde de Pelotas perto da fronteira com Mato Grosso. “A morte do ditador transformou-se em mártir, imagem que seria utilizada no futuro por políticos e historiadores revisionistas como símbolo de heroísmo, pois pouco antes de ser atingido pelo tiro de misericórdia López teria declarado segundo depoimentos: 'Muero con mi pátria'." (Idem, p. 415, §2). Já o mesmo não se podia dizer da imagem do príncipe, que para sua indignação lhe seria negada tal honra. Deixa o Paraguai um mês antes da captura de Solano López. E as tropas voluntárias seriam descentralizadas em seu regresso em fevereiro de 1870, por temor a uma guerra civil.

A OCUPAÇÃO DO PARAGUAI E AS QUESTÕES DIPLOMÁTICAS"Dois problema assombraram o gabinete conservador brasileiro nos anos seguintes: o

retorno dos veteranos e o acerto dos contenciosos com o governo da Aliança, principalmente o da Argentina." (IZECKSOHN, 2011, p. 416, §3).

Os argentinos queriam sua parcela de terras paraguaias, assinado nas cláusulas da Tríplice Aliança. Os governos paraguios subsequentes seriam uma mescla de veteranos de guerra e antigos inimigos de López, exilados na argentina; e que tornava árdua a tarefa de reconstrução nacional, ademais com a enorme perda de homens na guerra. O tratado de paz concretizaria em 1876, enquanto isso um contingente de 2.000 homens permanecia por medida de segurança Aliada. Muitos dos veteranos constituiriam laços de parentela no Paraguai.

No brasil as celebrações pela vitória e pela memórias dos que se forma era a forma encontrada de aliviar anos de estresse em guerra. Porém algumas autoridades civis a viam essas homenagens com certa desconfiança. Segundo o autor, o exército vinha se fortalecendo como mobilizador político das camandas mais baixas frente a um gabinete conservador, o que possivelente agravaria a imagem da monarquia dinástica. Para tanto era necessário desmobilizar o exército e reduzir a quantidade de soldados aos níveis anteriores a guerra. O intervencionismo militar no corpo burocrático, tendo por exemplo a história paraguai assombraria os seguintes anos dos posicionamentos em favor do império. As revoltas entre povo e tropa se viam como ameaças pelos dearticulados do exército desde a abdicação de Pedro I, segundo as autoridades policiais, deveriam ser desarmados, e reintegrados a economia. O aprofundamento das diferenças entre militares e a 'elite bacharelesca', agravaria nos último anos do Império.

CONCLUSÃO"A campanha de quatro anos e sete meses demonstrou a fragilidade da organização militar

do império apesar da vitória das armas brasileiras e axasperou as relações entre o poder central e as esferas locais, criando embaraços nas relações entre o governo imperial e lideranças regionais. No plano político a guerra levou ao fim da experiência da Liga Progressista, coalizão de liberais e conservadores cuja queda, ocasionada por intervenção do imperador, levou a redefinição do sistma partidário que modificaram a estrutura estabelecida nos ano de 1840." (IZECKSOHN, 2011, p. 418, §3).

A guerra aprofundou os laços de interferência política entre a corte e os habitantes das localidades. A imprensa argentina diferentemente da brasileira acentuava o caráter imperialista e seus altos custos, além dos sacrifícios feitos em batalha. O legado monárquico se consolidaria na

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ditadura vargas com monumentos erguidos na capital. Sinal de que a primeira república repudiara a conduta imperial. Porém na segunda república o conflito seria lembrado como momento oportuno de reafirmação do patriotismo nacional, sobre as pátrias provinçais. O conflito seria utilizado por diversas vezes, e evocado nas remerações emblemáticas do período da ditadura militar. Porém só a partir da década de 1980, o conflito seria objeto de pesquisa de maneira mais ampla, incluindo a pesquisa sobre as iconografias da imprensa, além do trabalho de historiadores alemães e estadunidenses numa crescente abordagem do tema, ligadas ao recrutamento militar e o legado da cultura de disciplina civil e militar. Apesar dessa primeira visão menos crítica e também menos apologética do conflito. Esses estudos mais recentes se empenham no desenrolar do sentimento patriótico, no recrutamento de voluntários e libertos, desde sua profissionalização como combatentes e o impacto causado na economia e na imprensa ilustrada. Hoje ainda está em aberto a pesquisa a vários diários de guerra.


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