Investir em Medidas Assecuratórias para Prevenir a Tortura
26 de junho de 2017 (Genebra/Washington DC/Viena/Amsterdam) – Hoje, por ocasião do Dia
Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura, nós comemoramos e rendemos nossa homenagem à
vítimas e sobreviventes de tortura e reafirmamos nosso comprometimento de continuar trabalhando
juntos e com parceiros ao redor do mundo para combater a tortura em todas suas formas e em todos os
lugares. Ao mesmo tempo, nós nos mantemos vigilantes contra a ameaça de tortura e outras formas de
maus-tratos, e cientes do fato de que a tortura pode ocorrer em qualquer lugar, a qualquer hora e contra
qualquer pessoa.
Como podemos nos livrar desse flagelo mundial? Para enfrentar esta prática abominável, devemos
primeiramente identificar os riscos de que a tortura se dê e então encontrar soluções para reduzi-los e
eliminá-los. É sabido que o risco de tortura e outras formas de maus-tratos é significativamente maior
durante as primeiras horas da custódia policial. Para prevenir a tortura durante este momento de
elevado risco, medidas assecuratórias, tais como acesso a um advogado e notificação a familiares,
devem ser implantadas na prática. A pesquisa independente “A Prevenção da Tortura Funciona?” que
examinou 16 países num período de mais de 30 anos, incumbida pela Associação para a Prevenção da
Tortura, concluiu que medidas assecuratórias, quando implantadas na prática, constituem a maneira
mais eficaz para prevenir a tortura. Existe uma gama de medidas viáveis que os Estados podem adotar
para prevenir a tortura.
Prevenção não é um conceito novo. Trinta anos atrás, no dia 16 de junho de 1987, a Convenção da
ONU contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes entrou em
vigor, exigindo que os Estados tipificassem o crime de tortura e adotassem medidas para preveni-lo.
Naquele mesmo dia, o Conselho da Europa adotou a Convenção Europeia para a Prevenção da
Tortura, estabelecendo um comitê com atribuição para realizar visitas de monitoramento a qualquer
lugar de privação de liberdade em qualquer Estado Membro da região. Desde então, metade dos
Estados Membros da ONU já acolheram o sistema internacional de visitas a todos os locais onde
pessoas se encontram privadas de liberdade estipulado no Protocolo Facultativo da Convenção da
ONU.
Eliminar sistemas de justiça criminal centrados na confissão também é essencial para prevenir a
tortura. Neste contexto, a metodologia para realizar interrogatórios e investigações por agentes de
segurança pública é em si mesma uma medida assecuratória crucial contra a tortura. Desta forma,
fazemos um apelo a que os Estados utilizem técnicas eficazes, éticas e não-coercitivas para a condução
de investigações e entrevistas de todas as pessoas, incluindo pessoas suspeitas, vítimas e testemunhas.
Tal modelo de interrogatório investigativo deve estar baseado no princípio da busca da verdade e deve
operacionalizar a presunção de inocência. Ao abolir técnicas acusatórias, manipulativas e centradas em
obter confissões, os Estados irão não somente aprimorar o grau de observância aos direitos humanos
de suas práticas investigativas e de interrogatórios, como também sua eficácia em resolver crimes e
manter a sociedade segura e estável.
Hoje, na qualidade de especialistas nesta questão, fazemos um apelo a todos os países para investir em
medidas assecuratórias voltadas à prevenção da tortura e outras formas de maus-tratos. Cada vítima de
tortura é inaceitável. Nesse momento quando líderes de Estado estão contestando a absoluta proibição
da tortura, uma das melhores maneiras de combate-la e de alcançar um mundo livre de tortura é
trabalharmos juntos e juntas para garantir sua prevenção em todos os lugares.
Relator Especial da ONU sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes Professor Nils Melzer (Suíça), 2016-presente
Ex-Relatores Especiais da ONU sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes:
Professor Juan Méndez (Argentina), 2010-2016
Professor Manfred Nowak (Áustria), 2004-2010
Professor Theo van Boven (Holanda), 2001-2004