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IV Simpósio Brasileiro de Geomática – SBG2017

II Jornadas Lusófonas - Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica - CTIG2017

Presidente Prudente - SP, 24-26 de julho de 2017

p. 511-518

J. F. Euriques; C. P. Krueger ISSN 1981-6251

INVESTIGAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO VERTICAL NA ESTRUTURA

DA BCAL/UFPR

JORGE FELIPE EURIQUES

CLAUDIA PEREIRA KRUEGER

Universidade Federal do Paraná – UFPR

Setor de Ciências da Terra, Departamento de Geomática

Programa de Pós-Graduação em Ciências Geodésicas, Curitiba – PR

{jorge.euriques, cpkrueger64} @gmail.com

RESUMO - A Base de Calibração de antenas GNSS da Universidade Federal do Paraná (BCAL/UFPR) é

a única na América Latina a realizar este serviço. Esta base é composta por pilares de concreto armado

engastados na laje de um edifício. Considerando-se a importância da BCAL foi previsto desde seu

anteprojeto, o monitoramento desta estrutura a fim de se identificar possíveis movimentos verticais. A

metodologia adotada para o monitoramento foi definida seguindo-se as instruções da Norma Técnica

Reguladora NBR 6122/2010 Projeto e Execução de Fundações, a qual sugere para monitoramento de

estruturas o método de nivelamento geométrico com visadas iguais. O recalque da estrutura foi

quantificado através da comparação com o nivelamento realizado em 2006, ano de implantação. Em

ambos determinou-se o desnível entre cada um dos seis pontos de controle de nível (PCN), engastados

nos seis blocos da fundação do edifício, aos três marcos de referência. Em seguida, efetuou-se a média

aritmética das diferenças encontradas para cada PCN, obtendo-se o valor máximo de -1,9mm, com

velocidade de recalque de 0,5μm/dia. A literatura sugere como normais valores de até 20μm/dia para

construções consideradas estáveis. Com isto, pode-se concluir que a estrutura encontra-se estável, não

deixando de serem necessárias futuras medições.

Palavras chave: Monitoramento de estruturas, Recalque, Nivelamento Geométrico

ABSTRACT - The Baseline Calibration Station for GNSS antennas in Federal University of Paraná

(BCAL/UFPR) is the only one in Latin America to perform this service. This base is composed of

reinforced concrete pillars set in the structure of a building. Considering the BCAL's importance, it was

predicted from its preliminary project the monitoring of this structure was proposed to identify possible

vertical movements. The methodology adopted for the monitoring was defined following the norm of the

Regulatory Technical Norm NBR 6122/2010 Projects and Execution of Foundations, which suggests for

the monitoring of structures the method of Geometric Leveling. The Differential Settlement was

quantified through the comparision between the results of the leveling done in 2006 and 2016. In both, the

difference between each of the six level control points (PCN), attached in the six building blocks of the

building, at three reference marks, then, the arithmetic mean of the differences found for each PCN was

calculated, obtaining the maximum settlement value of -1.9mm, with rate of 0.5μm / day. The literature

suggests as normal values of up to 20μm / day for constructs considered stable. With this, it can be

concluded that a structure is stable, and future measurements are indispensable.

Key words: Structural Monitoring, Differential Settlement, Geometric Leveling

1 INTRODUÇÃO

O monitoramento periódico da estrutura para

identificação de possíveis movimentos verticais é

fundamental em determinadas edificações, construções e

estruturas em geral, visto que estas sempre estão sujeitas a

ação de cargas, mesmo que relacionadas à própria

estrutura. Para isto devem ser efetuados levantamentos

para a quantificação de tais movimentos.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT), por meio da Norma Técnica Reguladora NBR

6122/2010 Projeto e Execução de Fundações, propõem

diretrizes para realização destes procedimentos dentre os

quais está a indicação do método a ser adotado, que é o

nivelamento geométrico de primeira ordem com visadas

iguais.

Com a adoção deste método de nivelamento são

eliminados os erros sistemáticos provenientes do não

paralelismo entre o eixo de colimação e o eixo do nível

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tubular do equipamento, da refração atmosférica e da

curvatura terrestre, possibilitando desta forma obter

determinações com alta precisão.

Nestes levantamentos devem ser determinados os

desníveis entre marcos de referência que não estejam

sujeitos às cargas atuantes na estrutura em questão e

pontos de controle inseridos nesta estrutura comparando-

se os resultados obtidos em diferentes campanhas

possibilitando, com isto, a quantificação da velocidade de

possíveis movimentos verticais da estrutura e a

significância dos resultados obtidos.

Segundo Seixas et al. (2007), “Em prédios

construídos há mais de 5 anos e considerados estáveis é

comum se registrarem velocidades de recalques inferiores

à 20 μm /dia. Nestes mesmos prédios, velocidades entre

20 μm /dia e 40 μm ⁄dia são considerados de moderadas a

altas e acima de 40 μm ⁄dia são consideradas muito altas,

portanto, preocupantes.”

Através do monitoramento de estruturas tem-se

uma ferramenta valorosa, visto que, para os casos em que

as velocidades de recalque sejam superiores àquelas

sugeridas pela literatura, podem-se realizar previsões,

tornando possível adotar medidas paliativas e corretivas

para a segurança da estrutura, evitando-se danos e

prejuízos maiores e que podem variar de prejuízos

econômicos e até mesmo de risco de vidas.

O Laboratório de Geodésia Espacial e Hidrografia

(LAGEH/UFPR) por meio da Base de Calibração

BCAL/UFPR é o único na América Latina a realizar o

serviço de calibração de antenas GNSS (Global

Navigation Satellite System). A calibração da antena

GNSS é necessária nos casos de posicionamentos em que

são requeridas altas precisões. Por meio desta são

determinados os erros inerentes ao centro de fase da

antena. Estes erros são provenientes da não coincidência

entre a componente mecânica relacionada ao ponto de

referencia da antena ARP (Antenna Reference Point), e da

componente eletrônica, caracterizada pela variação do

ponto de recepção efetivo dos sinais dos satélites, dada

em função da direção destes sinais. Segundo Seeber

(2003), tais erros podem acarretar em erros no

posicionamento na ordem de centímetros. Enfatizando-se,

portanto, que a calibração da antena receptora é

fundamental para aplicações geodésicas.

Esta base é composta por pilares de concreto

armado engastados na laje do auditório Camil Gemael,

situado junto ao LAGEH/UFPR exercendo, portanto,

carga considerável sobre a estrutura do edifício. Desta

forma, considerando-se a importância da BCAL/UFPR e

atendendo-se as premissas previstas na proposta de

implantação da mesma, faz-se necessário o

monitoramento de sua estrutura por meio do controle de

movimentos verticais.

O escopo deste trabalho consistiu na quantificação

dos movimentos verticais ocorridos na estrutura da

BCAL/UFPR, ao longo de dez anos, o que foi realizado

por meio da comparação entre duas campanhas de

nivelamento geométrico, a primeira realizada

anteriormente à implantação da referida base, em 2016, e

a segunda realizada em 2016. Nestes levantamentos foram

determinados os desníveis entre seis pontos de controle

materializados por meio de pinos metálicos engastados

nos seis blocos de fundação da estrutura do edifício em

que se encontra a base, em relação a três marcos de

referencia situados fora da área de influencia de cargas

verticais.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Objetivando o melhor entendimento da

metodologia e dos métodos utilizados nesta pesquisa, será

descrita uma revisão dos principais conceitos envolvidos

na composição deste trabalho

2.1 Movimentação Vertical de Estruturas

Segundo Oliveira e Silva (2014), em todas as

estruturas ocorrem movimentações, contudo, quando

essas se mantêm em constante aumento, ou têm variações

significativas, isso faz com que ocorra uma redistribuição

de esforços na estrutura, com isto poderão surgir fissuras,

rachaduras e demais patologias na estrutura, elementos de

vedação ou revestimentos, havendo com isto a

possibilidade de danos ou até mesmo do

comprometimento da estrutura como um todo.

Desta forma destaca-se a importância do

monitoramento de construções por meio de técnicas e

profissionais devidamente habilitados a fim de que, caso

sejam identificados movimentos significativos, seja

possível elaborar um plano de recuperação estrutural e

executá-lo em tempo hábil, evitando danos e prejuízos de

maior proporção, e até mesmo de comprometimento da

construção.

Diversas são as causas diretas ou indiretas que dão

origem a movimentação em estruturas, dentre elas, pode-

se citar o excesso de cargas, escavações ou vibrações em

áreas do entorno, rebaixamento do lençol freático, dentre

outros, sendo que não podem ser descartados possíveis

erros de projeto, de execução, e de utilização da

construção.

Inúmeros métodos podem ser utilizados para a

realização de monitoramento de estruturas. De acordo

com Kahmen e Faig, (1988) apud Corrêa (2012), métodos

geotécnicos e métodos geodésicos podem ser utilizados

para a determinação de movimentações, ou deformações,

em estruturas. Os métodos geotécnicos são utilizados para

quantificar movimentos relativos, enquanto os métodos

geodésicos quantificam primeiramente deslocamentos

absolutos.

Nos métodos geodésicos quantifica-se o

deslocamento absoluto de pontos de interesse em relação

a pontos de controle localizados fora da área de influencia

do corpo deformável, sendo de fundamental importância a

quantificação do tempo em que tais mudanças ocorreram,

permitindo desta forma compreender as deformações de

forma global e criar cenários futuros, possibilitando o

planejamento de intervenções e medidas corretivas que

devam ser executadas.

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De acordo com a ABNT (2010), por meio da NBR

6122, as obras em que as cargas mais importantes são

verticais é imprescindível a medição do recalque para a

observação do comportamento da obra. Recalque é o

movimento vertical descendente de um elemento

estrutural. Nos casos em que tal movimento é ascendente

ele é denominado levantamento.

Portanto, a maneira de se averiguar o movimento

vertical de estruturas é através da determinação do

recalque ou levantamento. Em termos práticos utiliza-se

principalmente o termo “recalque” para se referir ao

movimento vertical em ambos os sentidos (ascendente e

descendente), embora exista literalmente a distinção entre

um e outro.

A medição do recalque exige métodos refinados

que, quando realizados com equipamentos devidamente

calibrados e verificados possibilitam alta precisão. A

NBR 6122 sugere o nivelamento geométrico como

método de determinação do recalque.

2.2 Nivelamento Geométrico

De acordo com a ABNT (1994) por meio da NBR

13133, “nivelamento geométrico é aquele que realiza a

medida da diferença de nível entre pontos no terreno por

intermédio de leituras correspondentes a visadas

horizontais, obtidas com um nível em miras colocadas

verticalmente nos referidos pontos.”

O nivelamento geométrico pode ser utilizado para

aplicações topográficas ou geodésicas, diferenciando-se

pelas precisões requeridas.

A NBR 13133 estabelece as classes de

nivelamentos de linhas, seções e de circuitos, abrangendo

os métodos de medida, equipamentos, procedimentos,

desenvolvimento e materialização.

O nivelamento geométrico é subdivido em:

Visadas Iguais, Visadas Extremas, Visadas Recíprocas e

Visadas Equidistantes. O primeiro destes métodos,

nivelamento geométrico de visadas iguais, é o que

possibilita melhores precisões.

2.2.1 Método de Visadas Iguais

O termo “visada” no âmbito da topografia e

geodésia, referenciando-se ao nivelamento geométrico,

pode ser identificado como a distância entre o nível e a

mira. Neste método, como o próprio nome sugere, as

miras, tanto de ré quanto de vante, são igualmente

distanciadas do nível, com diferença de no máximo dois

metros. (Figura 1).

De acordo com Veiga, Zanetti e Faggion (2012),

este método tem a grande vantagem de minimizar os erros

causados pelo efeito da curvatura terrestre, refração

atmosférica e colimação do nível.

O desnível de um ponto A para um ponto B

(ΔHAB) é determinado pela diferença entre as leituras de

ré (A) e de vante (B).

A distância de visada é determinada pela diferença

entre a leitura do fio superior e do fio inferior, lidos na

referida mira de visada, multiplicada pela constante

estadimétrica do equipamento conforme a Equação 1. Em

geral a constante estadimétrica é indicada no manual do

equipamento, sendo normalmente igual a 100.

Figura 1 – Nivelamento geométrico pelo método de

visadas iguais. Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2012).

Distância de Visada=(LFS-LFI)*Constante da Mira (1)

Em que:

LFS: Leitura do Fio Superior.

LFI: Leitura do Fio Inferior.

A NBR 13133 estabelece também, procedimentos

e cuidados a serem tomados em nivelamentos, para que

sejam garantidas as precisões esperadas com este método:

Os comprimentos das linhas de visada devem ter

no máximo 40 m, sendo indicado o comprimento de

30 m, ou seja, com lances de sessenta metros, de

modo a compensar os efeitos da curvatura terrestre e

da refração atmosférica, além de facilitar a leitura da

mira.

As miras, devidamente verticalizadas, devem ser

apoiadas sobre chapas ou pinos e, no caminhamento,

sobre sapatas, mas nunca diretamente sobre o solo.

Para evitar os efeitos de reverberação as visadas

devem ser efetuadas acima de 50 cm do solo.

Para eliminar o erro de índice da mira deve-se

realizar um número par de lances, de modo que a

mira utilizada no ponto de partida seja a mesma no

ponto de chegada.

Convencionou-se também que não devem ser

efetuadas medidas acima de 2,7 m, devido à

influência de ventos e da dificuldade em manter as

miras verticalizadas.

A qualidade dos resultados deve ser controlada

através da análise da tolerância permitida para a diferença

entre o nivelamento e o contranivelamento. Esta

Tolerância Altimétrica (Equação 2) é dada em função da

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distância média nivelada e contranivelada (k) em

quilômetros, e de um valor em milímetros (n) adotado de

acordo com a precisão esperada com o nivelamento.

Tolerância Altimétrica = kn (2)

2.3 Medição de Recalque

O monitoramento de movimentos verticais em

uma construção é fundamental, como já mencionado. Este

monitoramento, sendo realizado através de medições

periódicas do recalque constitui uma ferramenta essencial

para a gestão de imóveis a fim de se evitar danos de

maiores magnitudes.

Assim, é muito importante que um plano de

monitoramento seja bem elaborado a fim de tornar

possível realizar determinações confiáveis. Neste plano

deve ser definido o local onde serão implantadas os

Pontos de Controle de Nível (PCN) e também os marcos

de referências, ou Benchmarks, tanto a estrutura a

monitorar quando o entorno devem ser investigados para

melhor caracterização e eficiência do monitoramento.

No caso dos marcos de referência deve-se avaliar

se o local não está suscetível a ação de forças e se maneira

geral tenha os pressupostos necessários para um marco de

referência.

A disposição dos PCN para controle do recalque

constitui um fator de extrema importância, geralmente

estes pontos são materializados por meio de pinos

metálicos que são fixados às peças estruturais.

A metodologia a ser adotada deve ser bem definida

a fim de que as medições sejam realizadas com as

mesmas condições ao longo do tempo para evitar, ou,

minimizar a variabilidade de influências nos resultados.

Dentre estas condições pode-se citar, medições entre

campanhas realizadas nos mesmos horários,

levantamentos realizados em condições ambientais

similares, utilização dos mesmos equipamentos, os quais

sempre deverão estar devidamente calibrados e

retificados, etc.

Quanto à periodicidade das campanhas,

inicialmente elas devem ser realizadas regularmente,

sendo que, caso sejam observadas variações significativas

entre campanhas, deve-se aumentar frequência das

mesmas, tornando possível calcular a velocidade em que

tais movimentações estejam ocorrendo, de maneira mais

precisa. Nos casos em que não sejam observadas

variações significativas entre campanhas, é conveniente

diminuir a frequência dos levantamentos.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

A presente pesquisa consistiu na quantificação dos

movimentos verticais ocorridos na estrutura da

BCAL/UFPR ao longo de dez anos. Tal movimentação

foi determinada por meio de nivelamento geométrico de

visadas iguais realizado em 2016 e posterior comparação

com os resultados gerados na campanha de nivelamento

realizada em 2006, ano anterior à implantação dos pilares

da BCAL/UFPR. Nessa seção será apresentada a

metodologia adotada, equipamentos, a área de estudo,

procedimentos de campo, e demais.

3.1 Área de estudo

A BCAL/UFPR localiza-se junto ao Laboratório

de Geodésia Espacial e Hidrografia – LAGEH, conforme

detalhe da Figura 2. Situa-se no campus Centro

Politécnico da Universidade Federal do Paraná, localizado

á Avenida Coronel Francisco Heráclito dos Santos, bairro

Jardim das Américas, na cidade de Curitiba, PR.

O acesso ao referido campus se dá através de duas

entradas principais, a primeira, através da Avenida

Coronel Francisco Heráclito dos Santos que tem acesso

direto a BR-277, e a segunda através da Rua Amoroso

Costa, que dá acesso a Avenida das Torres.

Figura 2– Localização da área de estudo. Fonte: Euriques

et. al (2016).

A Base de Calibração de Antenas GNSS

BCAL/UFPR foi implantada em 2007 e fundamentada

com tecnologia Alemã através de um processo de

cooperação internacional do Programa PROBRAL

(CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior - DAAD, Deutscher Akademischer

Austauschdienst).

Essa base de calibração é composta por três pilares

de concreto armado que possuem base de centragem

forçada, denominados Pilar 1000 (Oeste), Pilar 2000

(Norte) e Pilar 3000 (Sul). O modelo dos mesmos foi

baseado nos pilares que compõem a rede geodésica do

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Instituto de Geodésia da Universidade de Karlshure, em

concordância com as instruções prescritas pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para

execução de marcos e pilares do Sistema Geodésico

Brasileiro.

Estes pilares foram construídos sobre a laje de

concreto armado que cobre o antigo observatório

astronômico Camil Gemael e auditório anexo ao mesmo.

O acesso aos pilares é dado pela cobertura, que pode ser

deslocada lateralmente.

3.2 Metodologia

O monitoramento da estrutura, efetuado por meio

de nivelamento geométrico de primeira ordem vem sendo

realizados desde um período anterior ao início das obras

para construção dos pilares de calibração da

BCAL/UFPR, em 2006. Nesta pesquisa comparou-se a

campanha inicial (2006) e a campanha de 2016.

Para realização do monitoramento foram definidos

seis Pontos de Controle de Nível PCN (P1-P6)

materializados por meio de pinos metálicos engastados

nos seis blocos de fundação do edifício, indicados na

Figura 3.

Tendo em vista que o presente trabalho refere-se

ao monitoramento de uma estrutura, teve-se como

princípio seguir a mesma metodologia empregada no

nivelamento de 2006, o que permitiu a realização de

comparações entre os resultados das campanhas.

Efetuou-se o nivelamento geométrico

determinando-se o desnível entre os três marcos de

referência (RM1, RM2 e RM3) até cada um dos seis

pontos de controle de nível (P1-P6). Nas Figuras 3 e 4

estão indicados estes elementos.

O nivelamento geométrico foi efetuado adotando-

se as condições e diretrizes apresentadas na seção 2.6, em

síntese:

Os comprimentos das linhas de visada inferiores a

30 m.

As miras devidamente verticalizadas com

utilização de sapatas no caminhamento.

Leituras realizadas entre 0,5m e 2,7m.

Linhas de nivelamento com número par de lances.

Tolerância altimétrica de kmm3

O levantamento para detecção dos movimentos

verticais ocorridos em cada ponto de controle foi

realizado por meio da comparação entre os desníveis

determinados na campanha 2016, os quais passaram por

análises estatísticas em acordo com a tolerância e demais

requisitos admitidos, e os desníveis obtidos na campanha

realizada em outubro de 2006, considerando-se, portanto,

um período de 10 anos.

A quantificação dos movimentos verticais

ocorridos em cada um dos PCNs foi definida a partir do

cálculo da média aritmética das diferenças encontradas

entre os desníveis nas campanhas 2006 e 2016.

Figura 3 – Estrutura da BCAL/UFPR e os PCN. Fonte: Os

autores (2017).

Figura 4 – Detalhe PCN-P5 e RM3 Fonte: Os autores

(2017).

3.3 Equipamentos

Para efetuação do nivelamento na campanha 2016

utilizou-se o nível digital Leica DNA 03 cuja precisão

nominal está condicionada ao tipo de mira empregada,

conforme manual do equipamento. Neste levantamento

foram utilizadas miras de ínvar, tendo com isto, o desvio

padrão de 0,3 mm em 1 km. Na campanha de 2006 foi

utilizado o nível Leica NA3003 que tem precisão nominal

de 0,4mm para miras de ínvar.

4 RESULTADOS

A partir dos resultados determinou-se a

quantificação dos recalques obtidos nos seis blocos de

fundação do edifício da BCAL. Estes foram determinados

pela comparação entre os levantamentos realizados em

março de 2016 e outubro de 2006. Na sequência são

apresentadas as tabelas de desníveis determinados

respectivamente em 2006 (Tabela 1) e 2016 (Tabela 2).

As diferenças obtidas entre as campanhas

caracterizam, as movimentações verticais ocorridas em

cada linha de nivelamento, ou seja, três linhas por PCN da

estrutura, as quais são apresentadas na Tabela 3.

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Tabela 1 – Campanha 2006 - Desnível (m).

PCN RM1 RM2 RM3

P1 2,2853 1,5029 0,8455

P2 2,4989 1,7164 1,0591

P3 2,3090 1,5265 0,8692

P4 2,2794 1,4970 0,8396

P5 2,3347 1,5523 0,8949

P6 2,3582 1,5757 0,9183

Tabela 2 – Campanha 2016 - Desnível (m).

PCN RM1 RM2 RM3

P1 2,2858 1,5043 0,8453

P2 2,4989 1,7180 1,0588

P3 1,3087 1,5275 0,8688

P4 2,2797 1,4983 0,8398

P5 2,3347 1,5533 0,8947

P6 2,3596 1,5788 0,9196

Tabela 3 – Diferença (m) entre as Campanha 2006-2016.

PCN RM1 RM2 RM3

P1 -0,0005 -0,0014 0,0002

P2 0,0000 -0,0016 0,0003

P3 0,0003 -0,0010 0,0004

P4 -0,0003 -0,0013 -0,0002

P5 0,0000 -0,0010 0,0002

P6 -0,0014 -0,0031 -0,0013

O sinal negativo dos valores resultantes mostrados

indica a ocorrência de movimento vertical descendente da

estrutura, ou seja, de recalque. Valores positivos indicam

a ocorrência de movimentos verticais ascendentes ou

levantamento de acordo com cada linha de nivelamento.

A Tabela 4 indica as distâncias médias

(nivelamento e contranivelamento) entre os PCNs e os

Marcos de Referência. As quais foram utilizadas para o

cálculo da tolerância altimétrica para cada linha de

nivelamento.

Tabela 4 – Distâncias médias (metros) entre PCNs e RMs

PCN RM1 RM2 RM3

P1 84,91 79,03 24,50

P2 81,12 74,77 32,99

P3 80,14 74,54 44,83

P4 58,04 52,81 13,04

P5 56,08 50,24 17,95

P6 55,00 49,18 19,74

Considerando-se que estas diferenças obtidas entre

as campanhas (Tabela 3) referem-se às linhas de

nivelamento, a determinação dos desníveis de cada PCN

foi quantificada pelo cálculo da média aritmética das

diferenças encontradas entre as campanhas 2006 e 2016,

obtendo-se com isto, o valor da movimentação vertical

absoluta ocorrida em cada um dos seis blocos da fundação

do edifício. Tais valores estão indicados na Tabela 5.

Tabela 5 – Movimentação Vertical (Recalque) ocorrida

em 10 anos.

PCN Recalque (mm)

P1 -0,6

P2 -0,4

P3 -0,1

P4 -0,6

P5 -0,3

P6 -1,9

O fluxograma da Figura 5 indica as etapas

abordadas para a determinação dos valores de recalque

em cada PCN.

Figura 5 – Fluxograma da metodologia adotada. Fonte:

Os autores (2017).

É possível verificar que o valor máximo de

movimentação ocorreu no PCN 6, tendo ocorrido o

recalque de -0,0019m, correspondente a 1,9mm, em 10

anos. A menor movimentação foi no PCN 3, no qual

ocorreu movimentação de -0,0001m, ou seja, de 0,1mm

em 10 anos. O valor médio de recalque ocorrido nos

pontos de controle da estrutura foi -0,0007m. A Figura 6

representa a distribuição espacial das movimentações

verticais ocorrido no edifício com base nos resultados

obtidos para os 6 PCN.

Figura 6 – Recalque na estrutura do Edifício.

Fonte: Os autores (2017).

PILAR 2000

PILAR 1000

PILAR 3000

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Considerando-se o tempo de observação, 10 anos,

pode-se calcular a velocidade de recalque para o ponto de

máxima movimentação, ou seja, o ponto crítico PCN 6.

A literatura sugere valores de referência para

análise da significância do recalque em estruturas. Estes

valores são dados na unidade μm/dia, sendo considerados

normais valores até 20μm/dia para construções existentes

a mais de 5 anos e consideradas estáveis.

O cálculo da velocidade de recalque é dado pela

aplicação de uma regra de três simples, posterior a

conversão das unidades de distância em μm e de tempo

para dias.

Tempo: 10anos 3650 dias.

Recalque máximo: -0,0019 (PCN 6)

-0,0019m 3650dias

Xm 1dia

X= -0,00000052m/dia (X= -0,52 μm /dia)

Com isto, pode-se concluir que a estrutura do

edifício encontra-se estável, não apresentando riscos,

visto que o valor da velocidade de recalque determinada

foi de 0,5μm/dia, a passo que valores de até 20μm/dia são

considerados seguros. Contudo, evidencia-se que

campanhas futuras continuam sendo necessárias.

4 CONCLUSÕES

A partir desta pesquisa se quantificou os

movimentos verticais ocorridos na estrutura do edifício

que abriga a BCAL/UFPR. Definiu-se a metodologia

seguindo-se as diretrizes apresentadas na NBR 6122/2010

- Projeto e Execução de Fundações e na NBR 13133 -

Execução de Levantamento Topográfico, em acordo com

a metodologia adotada no nivelamento geométrico de

primeira ordem realizado em 2006, visando atestar a

estabilidade da estrutura do edifício.

Os resultados apresentados permitem concluir que

a estrutura em estudo apresentou valores de recalque

qualificados pela literatura como normais. A velocidade

de recalque calculada para o ponto no qual ocorreu a

maior movimentação (PCN 6) foi de 0,5μm/dia, ao passo

que valores de até 20μm/dia são considerados seguros,

não apresentando, portanto, riscos ao edifício, podendo-

se afirmar que a estrutura do mesmo encontra-se estável.

Com base nos dados evidenciados na Tabela 3, na

qual são indicadas as diferenças obtidas entre as linhas de

nivelamento, verifica-se que as maiores diferenças,

embora não caracterizem instabilidade na estrutura,

referem-se aos lances ligados ao marco RM02 e, com isto,

surge a hipótese de instabilidade do mesmo. A

investigação acerca da estabilidade destes marcos deverá

ser efetuada em trabalhos futuros por meio da

determinação do desnível entre estes.

Nesta pesquisa almejou-se atestar a estabilidade da

estrutura do edifício que abriga a BCAL/UFPR com base

na quantificação de possíveis recalques ocorridos nos

blocos de fundação do edifício. Em uma pesquisa futura,

poderão ser consideradas possíveis deformações internas

que poderão ser determinadas por meio da determinação

do desníveis envolvendo os pilares de calibração.

Apesar dos resultados obtidos, que caracterizam a

estrutura estudada como estável, evidencia-se que o

monitoramento da mesma deve continuar a ser feito, para

que sejam aplicadas as sugestões já mencionadas e que

também sejam considerados fatores como a geologia

local, o tipo de estrutura, quantificação de cargas, forças

atuantes, dentre outros que possam ser analisados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq (Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e

a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior) pelas respectivas bolsas de iniciação

científica e posteriormente de mestrado.

REFERÊNCIAS

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TÉCNICAS (ABNT). NBR 6122: Projeto e Execução de

Fundações. Rio de Janeiro, 2010.

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