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Introdução aos

Grupos de Matrizes

Mauro Patrão

UnB - 2010

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Sumário

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1 Séries de Funções 7

1.1 Norma de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71.2 Critério de convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91.3 Critério de diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2 Exponencial 15

2.1 Norma de operadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152.2 Derivada do produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162.3 Definição da exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172.4 Propriedades da exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182.5 Comutador de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3 Limites de Produtos 23

3.1 Produto e comutador de exponenciais . . . . . . . . . . . . . . 233.2 Logaritmo do produto e do comutador . . . . . . . . . . . . . 243.3 Exponencial da soma e do comutador . . . . . . . . . . . . . . 27

4 Homomorfismos 29

4.1 Grupo de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 294.2 Álgebra de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304.3 Grupos a um parâmetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 314.4 Homomorfismos derivados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

5 Grupos Euclideanos 37

5.1 Grupos topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 375.2 Carta da identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

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4 SUMÁRIO

A Exercícios 41

A.1 Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41A.2 Grupos de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42A.3 Álgebras de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44A.4 Homomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45A.5 Grupos topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45A.6 Grupos euclideanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

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SUMÁRIO 5

Prefácio

Essas notas surgiram de uma experiência colaborativa na internet. Duranteo segundo semestre de 2009, juntamente com os estudantes Fernando Luca-telli e Thiago Ribeiro, elaboramos um material de introdução aos grupos dematrizes no Blog do Grupo de Teoria de Lie e Dinâmica da Universidade deBrasília, localizado no seguinte endereço eletrônico:

www.liedinamica.wordpress.com

Este material foi estruturado diretamente dentro do Blog e foi utilizadocomo referência bibliográfica o seguinte artigo de divulgação matemática:

Roger Howe. Very Basic Lie Theory. The American Mathematical Monthly,Vol. 90, No. 9 (Nov., 1983), pp. 600-623.

O artigo acima tem como objetivo fornecer uma abordagem elementarpara os fundamentos dos grupos de matrizes, evitando a utilização da teoriade variedades diferenciáveis, de modo a permitir que este assunto seja acessí-vel a estudantes no final de uma graduação em matemática. Apesar de seuobjetivo explícito, o artigo de R. Howe possui duas falhas que prejudicam asua eficácia. Por um lado, apresenta algumas demonstrações com excessivadensidade analítica e que se estendem por algumas páginas. Por outro lado,não apresenta uma abordagem auto-contida, de modo que alguns conceitose resultados centrais ao assunto são apresentados sem suas respectivas jus-tificativas. Isso ocorre por exemplo na definição da função exponencial dematrizes e em algumas de suas propriedades básicas, como sua diferenciabi-lidade, apresentada sem qualquer demonstração.

O presente texto procurou suprir estas duas dificuldades presentes notexto de R. Howe. O material foi elaborado para ser utilizado num mini-curso com cinco aulas, de modo que em cada aula fosse abordado um dos seuscinco capítulos. Os pré-requisitos são um curso básico de álgebra linear, umbom curso de análise no Rn e algumas noções de teoria dos grupos. No finaldo texto, encontram-se uma lista com diversos exercícios para o estudantetreinar os conceitos apresentados. Pretendemos divulgar as respostas dessesexercícios no endereço acima do Blog do Grupo de Teoria de Lie e Dinâmicada Universidade de Brasília.

Aproveito a oportunidade para agradecer ao meu orientando FernandoLucatelli pela ajuda na revisão desse material, alertando que as falhas rema-nescentes são de minha inteira responsabilidade.

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6 SUMÁRIO

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Capítulo 1

Séries de Funções

Denotamos por C(B,Rd) o conjunto das funções contínuas de B em Rd, ondeB ⊂ Rp é uma bola fechada (portanto compacta, por estarmos num espaçovetorial de dimensão finita). Temos que C(B,Rd) é um espaço vetorial.

1.1 Norma de funções

Seja |·| uma norma em Rd. Para podermos falar em convergência de se-qüências e de séries, introduzimos uma norma em C(B,Rd). Note que nemtodas as normas nesse espaço vetorial são equivalentes, afinal não se trata deum espaço vetorial de dimensão finita. Logo é de fundamental importânciadeixar explícito qual norma estamos usando. Dado F ∈ C(B,Rd), definimos

‖F‖ = maxX∈B

|F (X)| ,

que está bem definido, pois B é compacto.

Lema 1.1 A função ‖·‖ é uma norma em C(B,Rd).

Prova: Para provar que ‖·‖ é uma função norma, devemos provar que elasatisfaz às seguintes propriedades:

1. F 6= 0 =⇒ ‖F‖ > 0,

2. ‖λF‖ = |λ| ‖F‖,

3. ‖E + F‖ ≤ ‖E‖+ ‖F‖.

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8 CAPÍTULO 1. SÉRIES DE FUNÇÕES

1. Com efeito, seja F ∈ C(B,Rd) uma função não nula. Segue que existeY ∈ B tal que F (Y ) 6= 0. Logo |F (Y )| > 0. E, então, segue que

‖F‖ = maxX∈B

|F (X)| ≥ |F (Y )| > 0.

2. Dados λ ∈ R e F ∈ C(B,Rd). Temos, pela compacidade de B, que existeY ∈ B tal que ‖F‖ = max

X∈B|F (X)| = |F (Y )|. Segue então que

|λ| |F (Y )| ≥ |λ| |F (X)| ,

para todo X ∈ B. Ou seja, temos que

|λF (Y )| ≥ |λF (X)| ,

para todo X ∈ B. Isso provou que

‖λF‖ = maxX∈B

|λF (X)| = |λF (Y )| = |λ| |F (Y )| = |λ| ‖F‖ .

3. Para provar a desigualdade triangular, temos que existem Y,W,Z ∈ Btais que

‖E‖ = maxX∈B

|E(X)| = |E(Y )|, ‖F‖ = maxX∈B

|F (X)| = |F (W )|

e‖E + F‖ = max

X∈B|(E + F )(X)| = |(E + F )(Z)|

Segue então que

|E(Y )|+ |F (W )| ≥ |E(X)|+ |F (X)| ≥ |E(X) + F (X)|

para todo X ∈ B. E, assim, como Z ∈ B, temos que

|E(Y )|+ |F (W )| ≥ |(E + F )(Z)|,

o que equivale a ‖E‖+ ‖F‖ ≥ ‖E + F‖.�

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1.2. CRITÉRIO DE CONVERGÊNCIA 9

1.2 Critério de convergência

Uma seqüência de vetores no espaço vetorial C(B,Rd) é denotada por (Fk).Dizemos que (Fk) converge se existe F ∈ C(B,Rq) tal que

‖Fk − F‖ → 0.

Dada uma seqüência (Fk) em C(B,Rd), sua série C(B,Rd) é denotada por

Fk é o limite da seqüência das somas parciaisl∑

k=0

Fk, quando este limite

existe em C(B,Rd). Nesse caso, temos que∥

Fk −l∑

k=0

Fk

→ 0.

Proposição 1.2 Seja (Fk) uma sequência de funções em C(B,Rd). Se existe

uma sequência numérica (Mk) tal que a série∑

Mk é convergente e tal que

‖Fk‖ ≤ Mk, para todo k ∈ N, então a série∑

Fk é convergente.

Prova: Dado X ∈ B, temos que |Fk(X)| ≤ ‖F‖ ≤ Mk e, então, pelo teste dacomparação, temos que

|Fk(X)| converge. Definimos S(X) =∑

Fk(X).Como temos que

m∑

k=0

Fk(X)−l∑

k=0

Fk(X)

=

m∑

k=l+1

Fk(X)

≤m∑

k=l+1

|Fk(X)|

≤m∑

k=l+1

Mk ≤∑

k>l

Mk,

tomando o limite m → ∞, segue que∣

S(X)−l∑

k=0

Fk(X)

≤∑

k>l

Mk,

para todo X ∈ B e para todo l ∈ N.

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10 CAPÍTULO 1. SÉRIES DE FUNÇÕES

Agora, provamos que S ∈ C(B,Rd). Como∑

Mk é convergente, dado

ε > 0, existe l ∈ N tal que∑

k>l

Mk <ε

4. Por outro lado, temos que

l∑

k=0

Fk ∈ C(B,Rd) e, pela compacidade de B, segue quel∑

k=0

Fk é unifor-

memente contínua. Logo existe δ > 0 tal que

l∑

k=0

Fk(X)−l∑

k=0

Fk(Y )

2,

sempre que |X − Y | < δ. Portanto

|S(X)− S(Y )| ≤

S(X)−l∑

k=0

Fk(X)

+

l∑

k=0

Fk(X)−l∑

k=0

Fk(Y )

+

+

l∑

k=0

Fk(Y )− S(Y )

≤ 2∑

k>l

Mk +ε

2< 2

ε

4+

ε

2= ε,

sempre que |X − Y | < δ, o que prova que S é contínua.

Como temos que∣

∣S(X)−

∑lk=0 Fk(X)

∣≤∑

k>l Mk, para todo X ∈ B

e para todo l ∈ N, segue que∥

∥S −

∑lk=0 Fk

∥≤∑

k>l Mk, completando a

demonstração, uma vez que∑

Mk é convergente. �

1.3 Critério de diferenciabilidade

Agora supomos que p = 1. Neste caso, B é um intervalo fechado e, portanto,será denotado por J . Uma função F ∈ C(J,Rd) é inteiramente determinadapelas funções coordenadas, ou seja, as funções F1, . . . , Fd ∈ C(J,R) tais queF (x) = (F1(x), . . . , Fd(x)). Por exemplo, a função F é contínua se e sóse todas suas funções coordenadas são contínuas. Temos também que F éderivável se e só se todas as funções coordenadas são deriváveis e, além disso,quando isso acontece, temos que

F ′(x) = (F ′1(x), . . . , F

′d(x)).

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1.3. CRITÉRIO DE DIFERENCIABILIDADE 11

O mesmo acontece no caso da integração. Uma função F : J → Rd éintegrável se e só se as funções coordenadas são integráveis. A primitiva deF (se houver) é a d-upla das primitivas das funções coordenadas, e a integraldefinida de F é a d-upla das integrais definidas de suas funções coordenadas,ou seja,

∫ b

a

F (τ)dτ =

(∫ b

a

F1(τ)dτ, . . . ,

∫ b

a

Fd(τ)dτ

)

.

Note que toda função em C(J,Rd) é integrável, uma vez que as funçõescoordenadas dessa função são contínuas e, portanto, integráveis.

O próximo passo é provar um resultado sobre a derivada de séries defunções contínuas e deriváveis. Para isso, necessitamos do seguinte lema.

Lema 1.3 Se F ∈ C(J,Rd), então existe c ∈ R tal que

∫ t

0

F (τ)dτ

≤ c

∫ t

0

|F (τ)|dτ.

Prova: Pela equivalência entre as normas em Rd, existem constantes po-sitivas b, c ∈ R tais que |X| ≤ bmax{|X1|, . . . , |Xd|} ≤ c|X|, onde X =(X1, . . . , Xd) ∈ Rd. Temos, então, que

∫ t

0

F (τ)dτ

≤ bmax

{∣

∫ t

0

F1(τ)dτ

, . . . ,

∫ t

0

Fd(τ)dτ

}

,

onde Fi é a i-ésima função coordenada de F . Pela monotonicidade da integrale como

−|Fi(τ)| ≤ Fi(τ) ≤ |Fi(τ)|,

temos que∣

∫ t

0

Fi(τ)dτ

∫ t

0

|Fi(τ)|dτ.

Isto implica que∣

∫ t

0

F (τ)dτ

≤ bmax

{∫ t

0

|F1(τ)|dτ, . . . ,

∫ t

0

|Fd(τ)|dτ

}

= max

{∫ t

0

b|F1(τ)|dτ, . . . ,

∫ t

0

b|Fd(τ)|dτ

}

∫ t

0

c|F (τ)|dτ.

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12 CAPÍTULO 1. SÉRIES DE FUNÇÕES

Proposição 1.4 Seja (Fk) uma seqüência de funções deriváveis em C(J,Rd)tal que (F ′

k) também está em C(J,Rd). Se existe uma seqüência de números

reais (Mk) tal que a série∑

Mk é convergente e tal que ‖Fk‖ , ‖F′k‖ ≤ Mk,

para todo k ∈ N, então(

Fk

)′

=∑

F ′k.

Prova: Pela Proposição 1.2 , temos que as séries S =∑

Fk e T =∑

F ′k

são ambas convergentes. Devemos provar que S ′ = T . Pela definição de

convergencia de séries, temos que

T −l∑

k=0

F ′k

→ 0 , quando l → ∞.

Para t ∈ J , pelo teorema fundamental do cálculo, temos que

∫ t

0

T (τ)dτ −l∑

k=0

(Fk(t)− Fk(0))

=

∫ t

0

T (τ)dτ −l∑

k=0

(∫ t

0

F ′k(τ)dτ

)

=

∫ t

0

T (τ)dτ −

∫ t

0

(

l∑

k=0

F ′k(τ)

)

=

∫ t

0

(

T (τ)−l∑

k=0

F ′k(τ)

)

.

Portanto segue do lema precedente que existe uma constante c ∈ R tal que∣

∫ t

0

T (τ)dτ −l∑

k=0

(Fk(t)− Fk(0))

=

∫ t

0

(

T (τ)−l∑

k=0

F ′k(τ)

)

≤ c

∫ t

0

T (τ)−l∑

k=0

F ′k(τ)

≤ c |t− 0|

T −l∑

k=0

F ′k

→ 0,

quando l → ∞. Portanto, pelo teorema do sanduíche, quando l → ∞, temosque

∫ t

0

T (τ)dτ −l∑

k=0

(Fk(t)− Fk(0))

→ 0.

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1.3. CRITÉRIO DE DIFERENCIABILIDADE 13

Segue então que∑

(Fk(t)− Fk(0)) =

∫ t

0

T (τ)dτ,

mostrando que

S(t)− S(0) =

∫ t

0

T (τ)dτ.

Pelo teorema fundamental do cálculo, isso implica S ′ = T . �

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14 CAPÍTULO 1. SÉRIES DE FUNÇÕES

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Capítulo 2

Exponencial

O trabalho neste capítulo estará estreitamente ligado ao espaço das matrizesquadradas Rn2

. Esse espaço pode ser identificado por um isomorfismo (dabase canônica) com o espaço das transformações lineares L(Rn,Rn) .

2.1 Norma de operadores

Lembramos que todas as normas no espaço vetorial Rn2são equivalentes, por

se tratar de um espaço vetorial de dimensão finita. Vamos definir, aqui, umanorma que nos é conveniente. Dada uma matriz X ∈ R

n2, a transformação

linear identificada pelo isomorfismo é tal que associa cada vetor v ∈ Rn aovetor Xv ∈ Rn, onde Xv é o produto usual da matriz quadrada X pela matrizcoluna v. A aplicação v 7→ |Xv| é contínua e portanto assume o máximo nodomínio compacto {v ∈ Rn : |v| = 1}. Dada uma matriz X ∈ Rn2

, podemosentão definir

|X| = max|v|=1

|Xv|.

Lema 2.1 Temos que |·| é uma norma em Rn2

satisfazendo

|XY | ≤ |X| |Y | ,

para quaisquer X, Y ∈ Rn2. Em particular,

∣Xk∣

∣ ≤ |X|k ,

para todo X ∈ Rn2.

15

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16 CAPÍTULO 2. EXPONENCIAL

Prova: A demonstração de que se trata de uma norma é idêntica àquela apre-sentada no Lema 1.1, bastando trocar o domínio B por {v ∈ Rn : |v| = 1}.Sejam X, Y ∈ Rn2

. Dado v ∈ Rn com |v| = 1, temos que

|XY v| =

X

(

Y v

|Y v|

)∣

|Y v| ≤ |Y | |X| ,

uma vez que |v| = 1 e∣

Y v|Y v|

∣= 1. Portanto, em particular, temos que

|XY | ≤ |Y | |X|.Para provar que

∣Xk∣

∣ ≤ |X|k, basta fazer indução sobre k. �

2.2 Derivada do produto

Para funções em C(J,Rn2), vale uma regra de derivação, enunciada e provada

abaixo, que é análoga à regra do produto para funções em R.

Lema 2.2 Se F,G ∈ C(J,Rn2) são diferenciáveis, então, para todo t ∈ J ,

(F (t)G(t))′ = F ′(t)G(t) + F (t)G′(t).

Em particular, temos que, para todo t ∈ J ,

(F (t)k)′ =

k∑

l=1

F (t)l−1F ′(t)F (t)k−l.

Prova: A entrada (i, j) da matriz F (t)G(t) é dada pork∑

l=1

Fil(t)Glj(t). A

derivada dessa expressão nos fornece a entrada (i, j) da matriz (F (t)G(t)))′.Utilizando as regras da soma e do produto, obtemos que

(

k∑

l=1

Fil(t)Glj(t)

)′

=

k∑

l=1

F ′il(t)Glj(t) +

k∑

l=1

Fil(t)G′lj(t),

que é igual a entrada (i, j) da matriz F ′(t)G(t) + F (t)G′(t).A segunda afirmação é demonstrada por indução. Temos que

(F (t))′ = F ′(t) =

1∑

l=1

F (t)l−1F ′(t)F (t)1−l.

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2.3. DEFINIÇÃO DA EXPONENCIAL 17

Se a fórmula é verdadeira para k − 1, então

(F (t)k)′ = (F (t)F (t)k−1)′

= F ′(t)F (t)k−1 + F (t)(F (t)k−1)′

= F ′(t)F (t)k−1 + F (t)k−1∑

l=1

F (t)l−1F ′(t)F (t)k−1−l

= F ′(t)F (t)k−1 +

k−1∑

l=1

F (t)lF ′(t)F (t)k−1−l

= F ′(t)F (t)k−1 +

k∑

l=2

F (t)l−1F ′(t)F (t)k−l

=k∑

l=1

F (t)l−1F ′(t)F (t)k−l,

completando, portanto, a demonstração por indução. �

2.3 Definição da exponencial

Sejam B ⊂ Rn2uma bola fechada de centro 0 e raio R qualquer e J um

intervalo fechado e limitado de centro 0 na reta. Nos próximos resultados,estamos interessados nos espaços C(B,Rn2

) e C(J,Rn2

) munidos da norma‖·‖ definida na Seção 1. Dado um inteiro k ≥ 0, denotamos por Pk a funçãopotência de grau k, de modo que

Pk(X) = Xk.

Proposição 2.3 Temos que Pk ∈ C(B,Rn2) e que a série

E =∑ Pk

k!

converge em C(B,Rn2).

Prova: A continuidade de Pk segue do fato de que as entradas de Xk sãopolinômios das entradas de X. Pelo Lema 2.1, temos que

‖Pk‖ = maxX∈B

|Pk(X)| = maxX∈B

∣Xk∣

∣ ≤ maxX∈B

|X|k ≤ Rk.

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18 CAPÍTULO 2. EXPONENCIAL

Logo, para todo inteiro k ≥ 0, temos que∥

Pk

k!

=‖Pk‖

k!≤

Rk

k!.

Como∑ Rk

k!= eR, pela proposição 1.2 do capítulo 1, segue que

∑ Pk

k!converge em C(B,Rn2

). �

A aplicação E ∈ C(B,Rn2) , definida acima, é denominada exponencial

de matrizes. Dado X ∈ Rn2, denotamos

eX = E(X) =∑ Xk

k!.

2.4 Propriedades da exponencial

Vamos mostrar que de fato ela satisfaz as principais propriedades da funçãoexponencial de números reais. Uma função é de classe C1 se e só se todas assuas derivadas direcionais são contínuas.

Teorema 2.4 A função E é de classe C1 e sua derivada na origem E ′(0) é

a aplicação identidade. Além disso, a função t 7→ etX satisfaz

(etX)′ = XetX ,

para todo t ∈ J .

Prova: Se F ∈ C(J,Rn2) é dada por F (t) = Y + tX, então F (0) = Y e

F ′(t) = X, para todo t ∈ J . Para cada k ≥ 0, definimos Fk ∈ C(J,Rn2) por

Fk(t) =F (t)k

k!. Pelo Lema 1.2, segue que

F ′k(t) =

1

k!

k∑

l=1

F (t)l−1XF (t)k−l.

Temos então que, para todo t ∈ J ,

|Fk(t)| ≤|F (t)|k

k!≤

‖F‖k

k!

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2.4. PROPRIEDADES DA EXPONENCIAL 19

e que

|F ′k(t)| ≤

1

k!

k∑

l=1

|F (t)|l−1 |X| |F (t)|k−l = |X|‖F‖k−1

(k − 1)!.

Portanto seguem as desigualdades

‖Fk‖ ≤‖F‖k

k!e ‖F ′

k‖ ≤ |X|‖F‖k−1

(k − 1)!.

Como∑ ‖F‖k

k!= e‖F‖

e também∑

k≥1

|X|‖F‖k−1

(k − 1)!= |X| e‖F‖,

segue, pela Proposição 1.4, que

(E(F (t)))′ =(

Fk(t))′

=∑

k≥1

F ′k(t).

Temos que a derivada direcional de E no ponto Y ∈ B e na direção X édada por

∂XE(Y ) = (E(F (t)))′t=0 =∑

k≥1

Gk(Y ),

onde

Gk(Y ) = F ′k(0) =

1

k!

k∑

l=1

Y l−1XY k−l.

Como |Y | ≤ R, temos então que

|Gk(Y )| ≤1

k!

k∑

l=1

|Y |l−1|X||Y |k−l

≤ |X|Rk−1

(k − 1)!,

mostrando que

‖Gk‖ ≤ |X|Rk−1

(k − 1)!.

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20 CAPÍTULO 2. EXPONENCIAL

Como∑

k≥1

|X|Rk−1

(k − 1)!= |X|eR,

segue, pela Proposição 1.2, que ∂XE =∑

k≥1Gk ∈ C(B,Rn2), mostrando

que E é de classe C1.Por outro lado, temos que a derivada de E na origem é dada por

E ′(0)X = ∂XE(0) =∑

k≥1

Gk(0) = X,

mostrando que E ′(0) é a aplicação identidade.Quando Y = 0, temos que

Fk(t) =(tX)k

k!=

tk

k!Xk

e então

F ′k(t) =

tk−1

(k − 1)!Xk = X

(tX)k−1

(k − 1)!.

Nesse caso, temos que, para todo t ∈ J ,

(etX)′ = (E(F (t)))′ =∑

k≥1

X(tX)k−1

(k − 1)!= XetX .

2.5 Comutador de matrizes

O comutador entre as matrizes X e Y é a matriz dada por

[X, Y ] = XY − Y X.

É fácil de notar que duas matrizes X, Y comutam se e só se [X, Y ] = 0.

Proposição 2.5 Temos que eX+Y = eXeY , sempre que [X, Y ] = 0.

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2.5. COMUTADOR DE MATRIZES 21

Prova: Pelo teorema da existência e unicidade de equações diferenciais,basta mostrarmos que O(t) = et(X+Y ) e P (t) = etXetY satisfazem o mesmoproblema de valor inicial. Pela Teorema 2.4, temos que O′(t) = (X+Y )O(t)e que O(0) = I. Por outro lado, temos que que P (0) = I e, pela regra doproduto, segue que

P ′(t) = XetXetY + etXY etY

= (X + Y )etXetY

= (X + Y )P (t)

onde utilizamos que o fato que Y comuta com etX , já que comuta com X. �

Corolário 2.5.1 Sejam X, Y ∈ Rn2. Temos que [X, Y ] = 0 se e só se

etXesY = esY etX para todo t ∈ R e todo s ∈ R.

Prova: Dados t, s ∈ R, se [X, Y ] = 0, segue, evidentemente, que [tX, sY ] =0. Logo, pelo teorema precedente, etXesY = etX+sY = esY+tX = esY etX . Re-ciprocamente, supõe-se que etXesY = esY etX para todo t ∈ R e todo s ∈ R.Derivando em relação a s em s = 0, tem-se que etXY = Y etX . E, derivandoem relação a t em t = 0, tem-se XY = Y X. Isso completa a prova da recí-proca. �

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22 CAPÍTULO 2. EXPONENCIAL

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Capítulo 3

Limites de Produtos

Fazendo uso dos resultados dos capítulos anteriores, demonstramos algunsresultados fundamentais para os próximos capítulos.

3.1 Produto e comutador de exponenciais

Definimos

P (t) = etXetY , e C(t) = e−tXe−tY etXetY

para t num intervalo real de centro 0.

Proposição 3.1 Temos que P (0) = C(0) = I, que

P ′(0) = X + Y, C ′(0) = 0

e que

P ′′(0) = X2 + 2XY + Y 2, C ′′(0) = 2[X, Y ].

Prova: A igualdade P (0) = C(0) = I é imediata de e0 = I. Usando a regrado produto, temos que

P ′(t) = XetXetY + etXY etY ,

mostrando que P ′(0) = X + Y. Temos que C(t) = T (t)P (t), onde

T (t) = P (−t), T ′(t) = −P ′(−t) e T ′′(t) = P ′′(−t).

23

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24 CAPÍTULO 3. LIMITES DE PRODUTOS

Pela regra do produto, segue que

C ′(0) = T (0)P ′(0) + T ′(0)P (0) = P ′(0) + T ′(0) = 0.

Temos queP ′′(t) = X2etXetY + 2XetXY etY + etXY 2etY ,

de onde segue que

P ′′(0) = X2 + 2XY + Y 2 = T ′′(0).

Novamente pela regra do produto, segue que

C ′′(0) = T (0)P ′′(0) + T ′(0)P ′(0) + T ′(0)P ′(0) + T ′′(0)P (0)

= 2(P ′′(0)− P ′(0)2)

= 2(X2 + 2XY + Y 2 − (X + Y )2)

= 2[X, Y ].

3.2 Logaritmo do produto e do comutador

Como a derivada da exponencial E na origem é a identidade (ver Teorema2.4), pelo teorema da função inversa, segue que E é um difeomorfismo deuma vizinhança V da origem com uma vizinhança U de E(0) = I. Assimestá definido em U a função logaritmo E−1, de modo que podemos definir

Q(t) = E−1(P (t)) e B(t) = E−1(C(t))

numa intervalo J centrado em 0 tal que P (t), C(t) ∈ U para todo t ∈ J . Aexistência desse intervalo J é garantida pela continuidade de P e C. Note,então, que

E(Q(t)) = P (t) e E(B(t)) = C(t).

Proposição 3.2 Temos que Q(0) = B(0) = 0, que

B′(0) = 0 e Q′(0) = X + Y.

Além disso,

limt→0

Q(t)

t= X + Y e lim

t→0

B(t)

t2= [X, Y ].

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3.2. LOGARITMO DO PRODUTO E DO COMUTADOR 25

Figura 3.1: Logaritmo do produto e do comutador.

Prova: Temos que E(Q(0)) = P (0) = I, e que E(B(0)) = C(0) = I. Pelainjetividade da exponencial, segue que Q(0) = B(0) = 0. Pela regra dacadeia, temos que

C ′(0) = E ′(B(0))B′(0) = E ′(0)B′(0) = B′(0).

Portanto, pela proposição precedente, segue que B′(0) = C ′(0) = 0.Pela fórmula de Taylor,

C(t) = I + tC ′(0) +t2

2C ′′(0) +R(t)

= I +t2

2(2[X, Y ]) +R(t)

= I + t2[X, Y ] +R(t),

onde limt→0

R(t)

t2= 0. Logo

1

t2(C(t)− I) = [X, Y ] +

R(t)

t2

e então

limt→0

(

1

t2(C(t)− I)

)

= limt→0

(

[X, Y ] +R(t)

t2

)

= [X, Y ].

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26 CAPÍTULO 3. LIMITES DE PRODUTOS

Temos também que

B(t) = B(0) +B′(0)t+ r(t),

onde limt→0

r(t)

t= 0. Como B(0) = B′(0) = 0, temos que

limt→0

B(t)

t= lim

t→0

r(t)

t= 0.

Por outro lado,

1

t2(C(t)− I) =

1

t2(E(B(t))− I)

=1

t2

(

B(t) +∑

k≥2

B(t)k

k!

)

=B(t)

t2+

(

B(t)2

t2

)

k≥2

B(t)k−2

k!.

Evidente que∑

k≥2

B(t)k−2

k!é contínua e que, portanto,

limt→0

k≥2

B(t)k−2

k!=

I

2.

Como

limt→0

B(t)2

t2=

(

limt→0

B(t)

t

)2

= 0,

segue que

limt→0

(

1

t2(C(t)− I)

)

= limt→0

(

1

t2(E(B(t))− I)

)

= limt→0

B(t)

t2+ lim

t→0

(

B(t)2

t2

k≥2

B(t)k−2

k!

)

= limt→0

B(t)

t2

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3.3. EXPONENCIAL DA SOMA E DO COMUTADOR 27

Isso provou que

limt→0

B(t)

t2= lim

t→0

(

1

t2(C(t)− I)

)

= [X, Y ].

Por outro lado, pela regra da cadeia, temos que

P ′(0) = E ′(Q(0))Q′(0) = E ′(0)Q′(0) = Q′(0)

mostrando que Q′(0) = P ′(0) = X + Y . Pela definição de derivada, temosque

Q(t) = Q(0) +Q′(0)t+ r(t) = t(X + Y ) + r(t)

onde limt→0

r(t)

t= 0. Logo lim

t→0

Q(t)

t= X + Y . �

3.3 Exponencial da soma e do comutador

A próxima proposição será de extrema importância nas próximas etapas dotrabalho.

Proposição 3.3 Temos que

eX+Y = limk→∞

(

eXk e

Yk

)k

e também que

e[X,Y ] = limk→∞

(

e−Xk e−

Yk e

Xk e

Yk

)k2

.

Prova: Temos que X + Y = limt→0

Q(t)

t, pelo resultado anterior. Logo

eX+Y = elimt→0Q(t)t

= elimk→∞ kQ( 1k)

= limk→∞

(ekQ(1/k))

= limk→∞

(

eQ(1/k))k

= limk→∞

(P (1/k))k

= limk→∞

(

eXk e

Yk

)k

.

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28 CAPÍTULO 3. LIMITES DE PRODUTOS

De maneira análoga, como [X, Y ] = limt→0

B(t)

t2, segue que

e[X,Y ] = elimt→0B(t)

t2

= elimk→∞ B( 1k)k2

= limk→∞

eB( 1k)k2

= limk→∞

(

eB( 1k))k2

= limk→∞

(C(1/k))k2

= limk→∞

(

e−Xk e−

Yk e

Xk e

Yk

)k2

.

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Capítulo 4

Homomorfismos

4.1 Grupo de matrizes

Denotamos por Gl(n) ⊂ Rn2o grupo das matrizes inversíveis de ordem n,

denominado grupo linear geral. Um grupos (de Lie) de matrizes G é subgrupode Gl(n) fechado em Gl(n).

Proposição 4.1 Sejam G ≤ Gl(n) e H ≤ Gl(m) grupos de matrizes. Dado

um homomorfismo φ : G → H, definimos

F =

{(

gφ(g)

)

: g ∈ G

}

.

Se φ é contínuo, então F é um grupo de matrizes de Gl(n+m).

Prova: Com efeito, dada uma seqüência de termos

(

gnφ(gk)

)

∈ F

convergente em Gl(n+m), supomos que

(

gh

)

é o limite dessa seqüência

em Gl(n +m). Segue então que gk → g (em G) e φ(gk) → h (em H). Mas,pela continuidade de φ, temos que φ(gk) → φ(g), logo, pela unicidade doslimites, h = φ(g). Portanto

(

gkφ(gk)

)

(

gφ(g)

)

∈ F,

mostrando que F é fechado em Gl(n +m).

29

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30 CAPÍTULO 4. HOMOMORFISMOS

Resta, então, provar que F é um subgrupo de Gl(m + n). Como efeito,

dados

(

gφ(g)

)

,

(

hφ(h)

)

∈ F , segue que

(

gφ(g)

)−1

·

(

hφ(h)

)

=

(

g−1

φ(g)−1

)

·

(

hφ(h)

)

=

(

g−1hφ(g)−1φ(h)

)

=

(

g−1hφ(g−1h)

)

∈ F

uma vez que g−1h ∈ G. Isso completa a prova de que F é subgrupo deGl(n +m). �

4.2 Álgebra de matrizes

Uma álgebra (de Lie) de matrizes g é um subespaço vetorial de Rn2que é

fechado para o comutador de matrizes. Ou seja, uma álgebra de Lie é umsubespaço de Rn2

tal que

[X, Y ] = XY − Y X ∈ g,

para todos X, Y ∈ g. Denotamos por gl(n) a álgebra Rn2de todas as matrizes

de ordem n, denominada álgebra linear geral.

Figura 4.1: Álgebra g do grupo G.

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4.3. GRUPOS A UM PARÂMETRO 31

A cada grupo de matrizes G ≤ Gl(n) associamos o conjunto

g ={

X ∈ gl(n) : etX ∈ G, ∀t ∈ R}

,

denominado a álgebra de G. Mostraremos que g é, de fato, uma álgebra dematrizes.

Proposição 4.2 A álgebra g de um grupo de matrizes G ≤ Gl(n) é uma

álgebra de matrizes.

Prova: Pela definição de g, para todo X ∈ g e todo α ∈ R, temos queet(αX) ∈ G para todo t ∈ R, mostrando que αX ∈ g. Além disso, dado t ∈ R

e dados X, Y ∈ g, para todo k ∈ N, temos que etXk , e

tYk ∈ G. Como G é um

subgrupo de Gl(n), temos então que(

etXk e

tYk

)k

∈ G, para todo k ∈ N. Pela

Proposição 3.3, temos que

limk→∞

(

etXk e

tYk

)k

= etX+tY = et(X+Y ) ∈ Gl(n)

Como G é fechado em Gl(n), segue que et(X+Y ) ∈ G para todo t ∈ R,mostrando que X + Y ∈ g. Isso mostra que g é subespaço vetorial de Rn2

.Resta mostrar que g é fechado para o comutador. Analogamente ao

parágrafo anterior, é fácil verificar que, para todo k ∈ N e todo t ∈ R,(

e−tXk e−

tYk e

tXk e

tYk

)k2

∈ G. Pela Proposição 3.3, temos que

limk→∞

(

e−tX/ke−tY/ketX/ketY/k)k2

= e[tX,tY ] = et[X,Y ] ∈ Gl(n)

Como G é fechado em Gl(n), segue que et[X,Y ] ∈ G para todo t ∈ R, mos-trando que [X, Y ] ∈ g. �

4.3 Grupos a um parâmetro

Nessa seção, vamos caracterizar os homomorfismos contínuos da reta nogrupo linear geral, denominados de grupos a um parâmetro. Para isso énecessário o seguinte resultado.

Proposição 4.3 Se g, h ∈ B(I, 1) ⊂ Rn2e g2 = h2, então g = h.

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32 CAPÍTULO 4. HOMOMORFISMOS

Prova: Temos que g = I + A e h = I + B , onde |A| < 1 e |B| < 1. Logog2 = (I +A)2 = (I +B)2 = h2, donde segue que I +2A+A2 = I +2B+B2.Ou seja, 2(A− B) = (B2 −A2).

E, fatorando, temos que 2(A − B) = B(B − A) + (B − A)A. Portanto,tomando a norma,

2 |A− B| = |B(B − A) + (B − A)A|

≤ |B| |B − A|+ |B −A| |A|

= |B − A| (|A|+ |B|) .

Se, por absurdo, B 6= A, segue que 2 |A− B| < 2 |B − A|. Absurdo.Portanto temos A = B, ou seja, g = h. �

Proposição 4.4 Temos que t 7→ g(t) é um grupo a um parâmetro se e só se

existe um único X ∈ gl(n) tal que g(t) = etX .

Prova: Com efeito, se g(t) = etX para algum X ∈ Rn2, então, pelo teorema

2.4, segue imediatamente que t 7→ g(t) é um grupo a um parâmetro.Reciprocamente, pelo teorema da função inversa, existe r > 0 tal que a

função exponencial E : Rn2→ Gl(n) é um difeomorfismo da bola B(0, r)

numa vizinhança aberta U de I em Gl(n) contida na bola B(I, 1), comoilustrado pela Figura 4.2.

Figura 4.2: Exponencial é difeomorfismo de B(0, r) em U .

Pela continuidade de g, segue que existe δ > 0 tal que |x| ≤ δ implicag(t) ∈ U . Em particular, g(δ) ∈ U . Logo g(δ) = eY para algum Y ∈B(0, r) ⊂ Rn2

. Definindo X = 1δY , note que g(δ) = eδX .

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4.4. HOMOMORFISMOS DERIVADOS 33

Provemos, por indução, que g

(

δ

2k

)

= eδ

2kX para todo k ∈ N. A afirma-

ção é verdadeira para k = 0. Utilizando o fato de g ser um homomorfismo,temos que

(

g

(

δ

2k+1

))2

= g

(

2k+1

)

= g

(

δ

2k

)

.

Por outro lado, pela hipótese de indução, temos que

(

2k+1X)2

=(

2kX)

= g

(

δ

2k

)

.

Como

δ

2k+1X

≤ |δX| < r, segue que eδ

2k+1X ∈ U . Como U é vizinhança

aberta de I com diâmetro menor que 1, pela proposição anterior, temos que

2k+1 X = g

(

δ

2k+1

)

. Isso completa, então, a prova por indução da afirmação.

Para qualquer m ∈ Z e para todo k ≥ 0, temos que

g

(

2k

)

=

(

g

(

δ

2k

))m

= emδ

2kX .

Ficou provado que g(t) = etX para todo t ∈

{

2k: k ∈ N, m ∈ Z

}

, que é

um subconjunto denso na reta. Como as funções g(t) e etX são contínuas,segue que g(t) = etX para todo t ∈ R.

Resta provar a unicidade de X. Com efeito, supomos que

etX = etY .

Derivando os dois lados da igualdade em t = 0, segue que X = Y . �

4.4 Homomorfismos derivados

Um homomorfismo entre álgebras de matrizes é uma transformação linearque preserva o comutador de matrizes.

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34 CAPÍTULO 4. HOMOMORFISMOS

Proposição 4.5 Sejam G ≤ Gl(n) e H ≤ Gl(m) grupos de matrizes. Se

φ : G → H é contínuo, existe um único homomorfismo φ′ : g → h de álgebras

de Lie tal que o seguinte diagrama comuta

gφ′

→ h

↓E ↓E

Gφ→ H

ou seja

φ(eX) = eφ′X ,

para todo X ∈ g.

Prova: Considere

F =

{(

gφ(g)

)

: g ∈ G

}

.

Pela Proposição 4.1, temos que F é um grupo de matrizes de Gl(n + m).Então podemos considerar a álgebra de matrizes f associada a F .

Para cada X ∈ g, temos que t 7→ φ(etX) é um homomorfismo contínuo.Logo, pela Proposição 4.4, existe um único Xφ ∈ h tal que φ(etX) = etXφ ,para todo t ∈ R. Temos então que, para todo X ∈ g,

Z =

(

XXφ

)

∈ f,

uma vez que, para todo t ∈ R,

etZ =

(

etX

etXφ

)

=

(

etX

φ(etX)

)

∈ F.

Como f é uma algebra de matrizes, para quaisquer

Z =

(

XXφ

)

e W =

(

YYφ

)

∈ f

e para todo λ ∈ R, temos que(

λXλXφ

)

= λZ

(

X + YXφ + Yφ

)

= Z +W

(

[X, Y ][Xφ, Yφ]

)

= [Z,W ]

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4.4. HOMOMORFISMOS DERIVADOS 35

pertencem a f. Pela definição da álgebra f, para todo t ∈ R, temos que

etλZ =

(

etλX

etλXφ

)

∈ F,

mostrando que

et(λXφ) = φ(

et(λX))

= et(λX)φ.

De forma análoga, concluímos que

et(Xφ+Yφ) = φ(

et(X+Y ))

= et(X+Y )φ

e que

et[Xφ,Yφ] = φ(

et[X,Y ])

= et[X,Y ]φ .

Definindo φ′ : g → h por φ′(X) = Xφ e utilizando as equações acima e aunicidade dada pela Proposição 4.4, segue que φ′ é homomorfismo de álgebrasde matrizes.

Resta então provar a unicidade de φ′. Supomos que existe homomorfismosde álgebras de Lie φ′, ϕ′ : g → h tais que os diagramas

gφ′

→ h

↓E ↓E

Gφ→ H

eg

ϕ′

→ h

↓E ↓E

Gφ→ H

comutam. Segue que, dado X ∈ g, eφ′X = φ(eX) = eϕ

′X . Pela injetividadeda exponencial numa vizinhança da origem, temos que φ′X = ϕ′X, para todoX numa vizinhança da origem. Como φ′ e ϕ′ são transformações lineares,segue que elas são iguais. �

O homomorfismo de álgebras φ′ associado ao homomorfismo topológicoφ é denominado homomorfismo derivado de φ. O próximo resultado mostrahomomorfismos derivados de isomorfismos topológicos são isomorfismos deálgebras.

Corolário 4.5.1 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes. Se G e H são

isomorfos, então suas álgebras também são isomorfas.

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36 CAPÍTULO 4. HOMOMORFISMOS

Prova: Com efeito, seja φ : G → H um isomorfismo de grupos (topológicos).Pelo teorema precedente, temos que existe um homomorfismo φ′ : g → h

φ′ : g → h tal que

gφ′

→ h

↓E ↓E

Gφ→ H

comuta. Da mesma forma, existe um homomorfismo (φ−1)′: h → g tal que

h(φ−1)

→ g

↓E ↓E

Hφ−1

→ G

comuta. Logo segue que

hφ′◦(φ−1)

−→ h

↓E ↓E

Hφ◦φ−1

−→ H

comuta. Pela unicidade do homomorfismo de álgebras de Lie associado a(φ ◦ φ−1) = idH : H → H , segue que

(

φ′ ◦ (φ−1)′)

= idh : h → h. De formaanáloga, concluímos que

(

(φ−1)′◦ φ′)

= idg : g → g.Isso completou a prova de que (φ−1)

′= (φ′)−1, ou seja, completou a prova

de que φ′ é um isomorfismo e, portanto, g e h são isomorfos. �

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Capítulo 5

Grupos Euclideanos

O principal objetivo deste capítulo é mostrar que os grupos de matrizes sãolocalmente homeomorfos às suas álgebras.

5.1 Grupos topológicos

Um grupo topológico é um grupo munido de uma topologia tal que as opera-ções de produto e inversão são contínuas. Um grupo euclideano é um grupotopológico tal que, para todo elemento g ∈ G, existe uma vizinhança U deg ∈ G tal que U é homeomorfo a um aberto de R

d, para algum d ∈ N.

Lema 5.1 Seja G um grupo topológico. Segue que G é um grupo euclideano

se e só se existe uma vizinhança da identidade que é homeomorfa a um aberto

de Rd, para algum d ∈ N.

Prova: Sejam G um grupo topológico e U uma vizinhança do elemento neu-tro homeomorfa a um aberto V ⊂ Rd. Dado g ∈ G, tem-se que Dg : G → G,dado por Dg(h) = hg é evidentemente um homeomorfismo, pois sua inversaDg−1 é contínua. Temos, então, que Dg(V ) = Ug é uma vizinhança de ghomeomorfa a U e, portanto, homeomorfa a V . Isso completa a prova deque, para todo g ∈ G, existe uma vizinhança gU homeomorfo a um abertoV de um espaço euclideano. �

37

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38 CAPÍTULO 5. GRUPOS EUCLIDEANOS

5.2 Carta da identidade

Vamos mostrar que a restrição da exponencial a uma vizinhança aberta daorigem da álgebra de um grupo de matrizes é um homeomorfismo com umavizinhança aberta da identidade do respectivo grupo de matrizes.

Lema 5.2 Seja G ⊂ Gl(n) um grupo de matrizes. Se (Yk) é uma seqüência

em E−1(G) tal que Yk → 0 e se (sk) é uma seqüência de números reais tal

que skYk → X, então X ∈ g.

Prova: Dado t ∈ R, existe lk ∈ Z tal que |lk − tsk| ≤ 1. Temos, então, que

|lkYk − tX| = |(lk − tsk)Yk + t(skYk −X)|

≤ |lk − tsk| |Yk|+ |t| |skYk −X|

≤ |Yk|+ |t| |skYk −X| .

Por hipótese, temos que Yk → 0 e |skYk −X| → 0. Assim, usando o teoremado confronto, segue que |lkYk − tX| → 0, de modo que lkYk → tX. MasE(lkYk) = E(Yk)

lk ∈ G e portanto lkYk ∈ E−1(G). Como E−1(G) é fechado,isso implica que tX ∈ E−1(G) . Temos então que tX ∈ E−1(G) para todot ∈ R. Portanto X ∈ g. �

Teorema 5.3 Sejam G ≤ Gl(n) um grupo de matrizes e g a sua álgebra. A

exponencial E : g → G é um homeomorfismo de uma vizinhança aberta de 0em g numa vizinhança aberta de I em G.

Prova: Seja c ⊂ gl(n) tal que gl(n) = g ⊕ c. Para cada X ∈ gl(n), temosque X = Xg +X c, onde Xg ∈ g e X c ∈ c estão unicamente determinados.

Definimos F : gl(n) → Gl(n), onde

F (X) = E(Xg)E(X c) = eXg

eXc

.

Para qualquer X ∈ gl(n), temos que

F ′(0)X =F (tX)

dt|t=0 =

(

etXg

etXc)′

|t=0

=(

(

etXg)′

etXc

+ etXg (

etXc)′)

|t=0

= Xg +X c

= X.

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5.2. CARTA DA IDENTIDADE 39

Isso mostra que F ′(0) é a identidade em gl(n). Pelo teorema da funçãoinversa, segue que existe uma vizinhanças aberta V de 0 tais que E e Frestritas a V são difeomorfismos sobre suas imagens (que são abertas).

Figura 5.1: Sequência Yk e suas componentes.

Caso I não estivesse no interior de E(g) em G, existiria gk → I tal quegk ∈ G e gk 6∈ E(g). Definindo-se Yk = F−1(gk), segue que

gk = F (Yk) = E(Y gk )E(Y c

k ).

Segue também que Y ck 6= 0, pois o contrário implicaria gk = E(Y g

k ) ∈ E(g),o que contraria as hipóteses acima. Como gk e E(Y g

k ) pertencem a G, segueque

E(Y ck ) = E(Y g

k )−1gk ∈ G,

mostrando queY ck ∈ E−1(G).

Como gk → I, tem-se que

Yk = F−1(gk) → F−1(I) = 0.

Temos então que Y ck → 0, que Y c

k 6= 0 e que Y ck ∈ E−1(G). Pela compacidade

da esfera unitária em c, podemos supor sem perda de generalidade que

1

|Y ck |Y ck → X,

para algum X ∈ c com |X| = 1. Pelo lema anterior, é fácil verificar que issoimplica que X ∈ g, o que é um absurdo, pois g ∩ c = {0}. �

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40 CAPÍTULO 5. GRUPOS EUCLIDEANOS

Corolário 5.3.1 Se G é um grupo de matrizes, então G é euclideano.

Prova: Com efeito, seja G um grupo de matrizes. Sua álgebra associada é,em particular, um espaço euclideano. Pelo provado, existe uma vizinhançada identidade homeomorfa a uma aberto da álgebra associada. Logo, pelolema 5.1, tem-se que G é um grupo euclideano. �

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Apêndice A

Exercícios

A.1 Exponencial

Exercício 1 Mostre que se

X =

(

λ−λ

)

,

então

etX =

(

etλ

e−tλ

)

.

Exercício 2 Demonstre que se

X =

(

−11

)

,

então

etX =

(

cos(t) −sen(t)sen(t) cos(t)

)

.

Exercício 3 Prove que seX = gY g−1,

entãoetX = getY g−1.

41

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42 APÊNDICE A. EXERCÍCIOS

A.2 Grupos de matrizes

Exercício 4 Sejam G ≤ Gl(n) e H ≤ Gl(m) grupos de matrizes. Proveque

G×H =

{(

gh

)

: g ∈ G, h ∈ H

}

≤ Gl(n +m)

é um grupo de matrizes, denominado grupo produto de G por H . Mostre queG×H é compacto se e só se G e H são compactos.

Exercício 5 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes. Mostre que

Z(H,G) = {g ∈ G : gh = hg, ∀h ∈ H}

é um grupo de matrizes, denominado centralizador de H em G.

Exercício 6 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes, demonstre que

N(H,G) = {g ∈ G : gH = Hg}

é um grupo de matrizes, denominado normalizador de H em G.

Exercício 7 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes, prove que G ∩ H éum grupo de matrizes.

Exercício 8 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes, se H é compacto eG ≤ H , então G é compacto.

Exercício 9 Prove que

Sl(n) = {g ∈ Gl(n) : det(g) = 1}

é um grupo de matrizes não compacto, denominado grupo linear especial.

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A.2. GRUPOS DE MATRIZES 43

Exercício 10 Prove que

O(n) ={

g ∈ Gl(n) : gTg = I}

é um grupo de matrizes compacto, denominado grupo ortogonal. Mostretambém que O(n) ≤ Sl(n).

Exercício 11 Como conseqüência dos quatro exercícios anteriores, verifiqueque SO(n) = O(n) ∩ Sl(n) é um grupo de matrizes compacto, denominadogrupo ortogonal especial.

Exercício 12 Denotando

J =

(

−II

)

∈ Gl(2n),

prove queSp(n) =

{

g ∈ Gl(2n) : gTJg = J}

é um grupo de matrizes, denominado grupo simplético.

Exercício 13 Mostre que

S1 = {z ∈ C : |z| = 1}

é topologicamente isomorfo a SO(2).

Exercício 14 Como conseqüência do exercícios anterior, demonstre que otoro

T n = S1 × · · · × S1

é topologicamente isomorfo a um grupo de matrizes em Gl(2n).

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44 APÊNDICE A. EXERCÍCIOS

A.3 Álgebras de matrizes

Exercício 15 Sejam G ≤ Gl(n), H ≤ Gl(m) grupos de matrizes, g aálgebra de G e h a álgebra de H . Prove que

g× h =

{(

XY

)

: X ∈ g, Y ∈ h

}

≤ gl(n+m)

é a álgebra do grupo G×H , denominada álgebra produto de g por h.

Exercício 16 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes, g a álgebra de G eh a álgebra de H . Mostre que g ∩ h é a álgebra de G ∩H .

Exercício 17 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes, demonstre que

z(h, g) = {X ∈ g : [X, h] = 0}

é a álgebra do centralizador Z(H,G), denominada centralizador de h em g.

Exercício 18 Sejam G,H ≤ Gl(n) grupos de matrizes, prove que

n(h, g) = {X ∈ g : [X, h] ⊂ h}

é a álgebra do normalizador N(H,G), denominada normalizador de h em g.

Exercício 19 Mostre que

sl(n) = {X ∈ gl(n) : tr(X) = 0}

é a álgebra do grupo SL(n).

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A.4. HOMOMORFISMOS 45

Exercício 20 Demonstre que

o(n) ={

X ∈ gl(n) : XT +X = 0}

é a álgebra de O(n) e também de SO(n).

Exercício 21 Prove que

sp(n) ={

X ∈ gl(2n) : XTJ + JX = 0}

é a álgebra de Sp(n).

A.4 Homomorfismos

Exercício 22 Sejam det : GL(n) → R∗ a função determinante e tr :

gl(n) → R a função traço. Mostre que

det(eX) = etr(X).

Exercício 23 Sejam G,H ≤ H grupos de matrizes. Demonstre que seφ : G → H é um homomorfismo e φ′ : g → h seu homomorfismo derivado,então a álgebra do núcleo Ker(φ) de φ é o núcleo Ker(φ′) de φ′.

A.5 Grupos topológicos

Exercício 24 Sejam G um grupo topológico. Se H ≤ G é aberto em G.Prove que H também é fechado em G.

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46 APÊNDICE A. EXERCÍCIOS

Exercício 25 Sejam G um grupo topológico conexo e U uma vizinhançado elemento neutro. Mostre que

G =⋃

k≥1

Uk,

ondeUk = {g1 · · · gk : g1, . . . , gk ∈ U}.

Exercício 26 Seja G um grupo topológico conexo. Demonstre que se H ≤G é tal que int(H) 6= ∅, então H = G. Conclua que o único subgrupo abertode um grupo topológico G conexo é o próprio G. Em particular, não hásubgrupos próprios do grupo aditivo R que contenha intervalos.

Exercício 27 Sejam G1, G2 grupos topológicos, H1 ⊳ G1 e H2 ⊳ G2. Proveque

G1 ×G2

H1 ×H2≃

G1

H1×

G2

H2.

Exercício 28 Mostre que S1 é topologicamente isomorfo R/Z.

Exercício 29 Demonstre que T k é topologicamente isomorfo Rk/Zk.

Exercício 30 Prove que se G ≤ Rn é discreto, então G ≃ Zk (k ≤ n).

Exercício 31 Sejam G,H grupos topológicos. Mostre que se φ : G → H éum homomorfismo topológico sobrejetivo e aberto, então

H ≃ G/Ker(φ).

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A.6. GRUPOS EUCLIDEANOS 47

A.6 Grupos euclideanos

Exercício 32 Demonstre que se G é um grupo de matrizes abeliano, entãog é abeliano.

Exercício 33 Prove que a recíproca do exercício anterior é verdadeiraquando G é um grupo de matrizes abeliano conexo.

Exercício 34 Seja G um grupo de matrizes. Mostre que se H é subgruponormal de G, então h é ideal de g (subálgebra tal que n(h, g) = g).

Exercício 35 Demonstre que quando G é conexo, a recíproca do exercícioanterior é verdadeira.

Exercício 36 Sejam G um grupo de matrizes e g a álgebra de G. Prove quese G é abeliano conexo, então a exponencial E : g → G é um homomorfismotopológico sobrejetivo e aberto. Mostre que Ker(E) é subgrupo normal dogrupo aditivo g.

Exercício 37 Mostre que se G é abeliano conexo, então

G ≃ g/Ker(E) ≃ T k × Rm.

Exercício 38 Mostre que se G é abeliano, conexo e compacto, então G éalgum toro, ou seja, G ≃ T k.


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