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    INTERAES AMOROSAS SOB UMA PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL1

    HLIO JOS GUILHARDI

    INSTITUTO DE TERAPIA POR CONTINGNCIAS DE REFORAMENTO

    CAMPINASSP

    Amor no um sentimento, mas sim uma integrao harmoniosa de vrios sentimentos.

    Amor uma mistura de sentimentos. No um sentimento isolado. Por essa razo, impossvel

    defini-lo. As pessoas chamam de amor muitas coisas que sentem, por no saberem identificar

    como so produzidas. Sentimentos outros, produzidos por solido, perda, disputa fracassada,abandono, traio, ambio etc., que deveriam ser nomeados por termos mais apropriados, tais

    como medo, rejeio, frustrao, inveja, cimes, raiva, vingana, desamparo etc., so

    confundidos com amor. Tudo o que a pessoa sente real; porm, o nome que atribui ao que

    sente arbitrrio e, muitas vezes, equivocado. A pessoa denomina aquilo que sente de amor;

    no , porm, amor tudo o que ela sente. O amor no se encontra pronto dentro de ns. A

    potencialidade e a capacidade para vir a amar sim. ingnuo supor que saber amar intrnseco

    ao ser humano, e pensar assim reduz as relaes de amor ao seu nvel mais primitivo. A

    capacidade para amar e para desenvolver relaes de amor, essa sim intrnseca ao humano.

    Mas ter potencial no o mesmo que desenvolver e atualizar tal potencial. O amor umaconstruo socioverbal, como tal no o mesmo em diferentes culturas e nem foi o mesmo no

    desenvolvimento cultural das sociedades. Ele comea (pode comear) no bero e se amplia (pode

    se ampliar) at o tmulo. O amor pode se estender por dimenses que tendem ao infinito, ou

    estiolar e se manter murcho por toda uma vida. Seu incio de fora para dentro; depois pode se

    expandir de dentro para fora qual um cogumelo atmico. Reconhecer que o repertrio de amar

    que inclui atos e sentimentos unidos de forma inseparvel aprendido no empalidece seu

    valor e profundidade. Tal reconhecimento o eleva ao status de uma extraordinria aquisio

    humana. Quando afirmamos que amamos uma pessoa, queremos dizer que amamos os

    comportamentos dela. O amor o resultado de vrios processos comportamentais que seinfluenciam reciprocamente. Vamos falar brevemente de alguns deles! 2

    1Setembro/2015

    2Para ter acesso a uma apresentao mais abrangente dos quatros itens que se seguem leia o texto: Autoestima,

    autoconfiana e responsabilidade, disponvel no sitewww.itcrcampinas.com.br.

    http://www.itcrcampinas.com.br/http://www.itcrcampinas.com.br/http://www.itcrcampinas.com.br/http://www.itcrcampinas.com.br/
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    Alguns pr-requisitos para aprender a amar...

    1.

    Sentimentos e Comportamentos3 de Autoestima. So produzidos essencialmente pela

    interao entre duas classes de contingncias de reforamento:

    C Sr+ de naturezas scio-afetiva e social4

    Reforos scio-afetivo e social so produzidos por comportamentos

    ? Sr+ de naturezas scio-afetiva e social

    Reforos scio-afetivo e social so apresentados independentemente de relaes decontingncias de reforamento entre comportamentos e consequncias (reforo livre).

    As consequncias reforadoras positivas dos comportamentos tm que ser de natureza

    socioverbal. Falando de modo conceitual, uma pessoa que se desenvolvesse isoladamente de

    um grupo socioverbal no desenvolveria autoestima!

    A prevalncia do primeiro grupo de contingncias de reforamento no produz autoestima.

    Quem tem acesso a privilgios essencialmente produzidos por comportamentos desejados

    pelo agente do controle, paga (emitindo tais comportamentos)antecipadamente pelosprivilgios que obtm. Pode, na melhor das hipteses, desenvolver autoconfiana.

    Consegue ser competente, mas se mantm emocionalmente anmico!

    A prevalncia do segundo grupo tampouco produz autoestima. Quem tem acesso a

    privilgios sem se comportar para produzi-los no aprende a se amar, nem a amar o

    prximo, nem mesmo a amar o que a vida lhe proporciona. Mantm-se basicamente como

    um organismo que sobrevive; no se transforma significativamente em uma pessoa que se

    desenvolve.

    3Mantemos a distino entre os dois termos; no entanto, sentimentos e comportamentos no se distinguem quanto

    sua natureza. So todos eles manifestaes do organismo, evocados e eliciados por contingncias de reforamento

    e regidos pelas mesmas leis. Talvez um dia venham a ser nomeados por um nico termo, um neologismo, tal como

    comportimento!

    4Ver a distino entreAteno Scio-afetivae Ateno Socialno Apndice.

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    2. Sentimentos e Comportamentos de Autoconfiana. So produzidos essencialmente pela

    interao entre duas classes de contingncias de reforamento: a primeira positiva e asegunda aversiva.

    C Sr+ de natureza social (scio-afetiva ou simplesmente social)

    C Sr+ natural5no social

    Os reforos scio-afetivo e social e natural so produzidos por comportamentos.

    Ter no basta; preciso se comportar para produzir o que se tem. Burlar a relao operante

    gera sentimentos de vazio existencial, depresso, sensao de insaciabilidade, fobias,

    isolamento, desdm pela vida, indiferena s pessoas.

    C Sav de natureza social (crtica, desprezo, suspenso de privilgios etc.)

    C Sav natural (amenizar os danos de uma queda, safar-se de um acidente etc.)

    Os reforos negativos ( uma outra maneira, mais tcnica, de se referir a eventos aversivos)

    so evitados, minimizados ou removidos, a partir da emisso de comportamentos de fuga-

    esquiva.

    A vida no expe a pessoa apenas possibilidade de produzir reforo positivo, mas tambm

    necessidade de se esquivar ou fugir de eventos aversivos que se apresentam como eventosaleatrios ou como consequncias produzidas por comportamentos: indesejados por algum

    agente de controle (pai severo, por ex.) ou desastroso (manejar de forma descuidada uma

    panela com gua fervente, dirigir em velocidade excessiva, por ex.). A pessoa que no possui

    5Chamamos de consequncia natural aquela que produzida diretamente pelo comportamento, sem mediao de

    outro ser humano que pudesse apresentar uma consequncia arbitrria. Assim, ao mover uma maaneta da porta,

    o prprio comportamento produz como consequncia porta aberta e acesso a outro ambiente (consequncia

    natural). Algum dizer, contingente ao comportamento de mover a maaneta: Que lindinha! Voc j alcana amaaneta e sabe abrir a porta! uma consequncia social arbitrria. possvel uma consequncia social ser natural.

    Assim, por exemplo, numa sala de aula um aluno faz um comentrio, considerado pela instituio escolar como

    indesejado, mas a professora no consegue se conter e ri da frase espirituosa do aluno. O riso produzido pelo

    comentrio uma consequncia social reforadora positiva natural (reforo generalizado). Por outro lado, se a

    professora se controlasse, no risse e dissesse: Seu engraadinho, aqui no lugar para brincadeiras... V se explicar

    com a orientadora!, ela estaria apresentando uma consequncia social arbitrria contingente frase do aluno,

    supostamente aversiva (mesmo que o comentrio da professora tivesse funo reforadora positiva para o aluno,

    ele seria uma consequncia arbitrria). Numa interao social arbitrria, o agente de controle determina qual

    comportamento desejado ou indesejado (segundo critrios arbitrrios dele) e apresenta uma consequncia

    contingente, quer reforadora positiva, quer aversiva, segundo critrios (ainda arbitrrios) dele prprio.

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    repertrio de comportamentos de fuga-esquiva, em condies adversas que lhe so

    impostas socialmente, so descritas como fbicas, inseguras, medrosas, submissas etc. etornam-se marionetes ou dependentes do outro. Podem ser vistas, por outro lado, como

    humildes, tolerantes, generosas, cooperativas etc. O que distingue o primeiro grupo do

    segundo so os sentimentos que vivenciam. As primeiras so basicamente pessoas infelizes;

    as segundas vivem em paz com o seu modo de interagir com o outro. As pessoas que se

    comportam de forma a produzir consequncias aversivas para si mesmas so descritas como

    imprudentes, impulsivas, desprovidas de autocontrole, delinquentes, inconsequentes e

    podem representar perigo ou ameaa para o outro. Ou, por outro lado, podem ser descritas

    como ousadas, destemidas, aventureiras etc. Neste segundo grupo esto aquelas que, de

    modo geral, possuem bom repertrio comportamental de fuga-esquiva do desastre e, comotal, se expem a riscos calculados para si e para os demais... Numa frase: autoconfiana

    supe sentimentos e comportamentos associados a produzir reforos positivos e a evitar

    reforos negativos.

    Pode-se concluir que autoconfiana produzida por repertrio comportamental, que produz

    consequncias reforadoras positivas ou que protege a pessoa de consequncias reforadoras

    negativas (aversivas, portanto). As consequncias reforadoras (positivas e negativas) no

    tm que ser de natureza socioverbal. Assim sendo, ainda de um ponto de vista conceitual,

    uma pessoa que sobrevivesse isoladamente de um grupo socioverbal poderia terautoconfiana (to somente no teria conscincia disso).

    3. Sentimentos e Comportamentos de Responsabilidade. So produzidos essencialmente pela

    interao dentre duas classes de contingncias de reforamento:

    C desejado Sr+ natural e scio-afetivo

    C indesejado Sav natural, scio-afetivo e social

    Responsabilidade pode ser instalada e mantida por contingncias de reforamento positivas

    e coercitivas. A prtica social tem privilegiado a segunda alternativa, infelizmente.6

    4. Sentimentos e Comportamentos de Tolerncia Frustrao.So produzidos essencialmente

    pela interao entre as seguintes classes de contingncias de reforamento:

    6Para entender como a comunidade socioverbal pode instalar comportamentos e sentimentos de responsabilidade

    atravs de manejo de prticas reforadoras positivas, veja o texto Instalao de Responsabilidade atravs de

    Contingncias de Reforamento Positivo (no prelo).

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    C atraso do Sr+

    C Sav moderado (s vezes, intenso)C Sr+ intermitente

    C Sr+ (extino)

    A tolerncia frustrao (atualmente tem-se privilegiado o termo resilincia) no pode ser

    desenvolvida sem expor a pessoa a condies aversivas. Cabem, porm, alguns comentrios.

    A condio aversiva deve:

    1. Ser introduzida com intensidade crescente, mas de maneira gradual

    2.

    Ser restrita ao mnimo necessrio3. Ser eventual

    4. Ser utilizada para benefcio da pessoae no para ganhos do agente do controle

    5. Ser contingente tambm a comportamento definido como desejvel7

    O treino de tolerncia frustrao deve ser entendido como uma condio necessria, desde

    que seja equilibrada e manejada por pessoas que amam e querem benefcios para aquele que

    exposto a condies de frustraes, visando ao preparo deste para a vida. A vida social

    fonte de condies adversas: injustias, violncias, traies, abandonos, privaes de

    oportunidades etc.; a Vida tambm fonte de infortnios: mortes de pessoas queridas,catstrofes da natureza, doenas incurveis, fentipos genticos aversivos etc. e h

    necessidade de um preparo mnimo para tais eventualidades. melhor que esse preparo

    ocorra em um ambiente de amor, sem excessos e com conhecimento das leis que regem os

    comportamentos humanos. A preparao para tolerar frustraes deve incluir reforos

    socioafetivos contingentes aos progressos apresentados pelas pessoas diante das frustraes

    e dores provindas das adversidades.

    Padro comportamental sensorial

    Sensorial aquela pessoa que fica sob controle das consequncias gratificantesreforadoras positivas imediatas para si mesma, indiferente ao que seus comportamentos

    produzem no outro; no fica sob controle das consequncias aversivas a longo prazo nem para

    si, nem para o outro. Prevalecem as contingncias de reforamento de primeiro e segundo nveis

    de seleo, em detrimento daquelas de terceiro nvel. Tais pessoas so tidas como egostas,

    7Pode parecer estranho... Punir um comportamento desejvel configura uma condio de injustia. Ser injustiado

    uma fonte importante (muito mais comum do quer se pensa) de frustrao no cotidiano. Seria importante

    preparar as pessoas para tal situao.

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    impulsivas, com baixa tolerncia frustrao, eventualmente frias, calculistas etc. O padro

    sensorial no tem a ver com traos de personalidade. determinado pela histria decontingncias de reforamento da pessoa.

    Padro comportamental sensvel

    Sensvel aquela pessoa que fica sob controle das consequncias aversivas a curto e a

    longo prazo para si e para o outro, independentemente de as consequncias imediatas serem

    gratificantes para ela. Fica sob controle das consequncias positivas e aversivas que seus

    comportamentos produzem nos outros (prioriza a produo de reforos positivos para o outro eevita expor o outro a eventos aversivos). Prevalecem as contingncias de reforamento de

    terceiro nvel de seleo. Tais pessoas so tidas como acolhedoras, amorosas, tranquilas,

    tolerantes diante das dificuldades da vida, altrustas etc.

    Alguns Comentrios sobre a Maturidade Pessoal

    comum dizer que uma pessoa madura ou imatura, como se tais adjetivos pudessem

    auxiliar a explicar os comportamentos das pessoas! Maturidade no causa; causada. Taistermos so, na melhor das alternativas, metforas. Pobres metforas, que pouco ajudam no dia

    a dia do consultrio ou para melhor compreenso do ser humano. Como estend-las para uma

    linguagem comportamental?

    Uma pessoa madura aquela que apresenta um repertrio comportamental suficiente

    paraem determinadas situaesproduzir reforos positivos ou minimizar, evitar ou pospor

    reforos negativos. Se a situao no permitir o acesso a reforos positivos, a pessoa se mantm

    emitindo comportamentos em funo de reforos positivos atrasados, sem sofrer disrupo

    comportamental; ou substitui o reforo positivo-alvo (o mais desejado) por outros reforospositivos disponveis; ou mantm os comportamentos produzindo reforos positivos

    condicionados intermedirios. De modo anlogo, se no for possvel remover, adiar ou amenizar

    os eventos aversivos, com eles se deve conviver, sem desistir jamais de buscar comportamentos

    alternativos ampliando a variabilidade comportamental , at que alguma resposta seja

    selecionada por reforamento negativo. A pessoa madura capaz, adicionalmente, de reavaliar

    o valor e a importncia do reforo positivo, assim como do reforo negativo, e se ajustar ao

    resultado de tal reavaliao, pois a caracterizao de eventos como reforadores positivos ou

    negativos no absoluta, no indiscutvel, no imutvel e, quase sempre (exceto aqueles que

    tm funo prpria da espcieprimeiro nvel de seleo de Skinner), so produtos de histrias

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    de contingncias de reforamento! Como tal, podem ser alterados. Nas condies de impotncia

    apontadas, espera-se da pessoa madura tolerncia funcional frustrao, ou seja, as reaesemocionais e os sentimentos produzidos pelas contingncias de reforamento adversas devem

    ser de intensidade amena, tal que no cheguem a interferir com o fluxo de comportamentos.

    Acrescente-se que a pessoa madura capaz de apresentar variabilidade comportamental que a

    torna mais sensvel aos reforos (positivos e negativos) disponveis no ambiente e se comporta

    mais sob controle das condies presentes, do que sob governo de regras ou crenas

    previamente enunciadas e adotadas. Finalmente, a pessoa madura se estiver numa situao

    socialrespeita os limites dos demais, no produzindo eventos aversivos para o outro, nem lhe

    subtraindo reforos positivos, e, se tiver que faz-lo, por razes justificveis, as contingncias

    coercitivas e positivas que vier a utilizar devem ser amenas e as consequncias devem sercontingentes a comportamentosno pessoae, sob nenhuma condio, ela deve priorizar a

    si mesma, de modo a se safar de condies aversivas ou se beneficiar do acesso a reforos

    positivos custa do outro. Equivale a afirmar que o sucesso comportamental no deve ser uma

    empreitada individual, mas deve envolver o bem do grupo prximo e, se possvel, mais

    abrangente. No se pode adjetivar como madura uma pessoa que no se comporta sob controle

    do terceiro nvel de seleo (definido por Skinner).

    Apresentado da maneira exposta, o conceito de maturidade permite duas correes

    oportunas. Em primeiro lugar, no um trao de personalidade, nem esttico, nem estrutural,que pertence pessoa (e faz dela um ser humano maduro) ou que no lhe intrnseco (e faz dela

    uma pessoa imatura). Em segundo lugar, maturidade no se desenvolve exclusivamente com a

    passagem do tempo ( com este sentido que maturidade advm da ideia de amadurecer: o que

    ocorre, por exemplo, com uma fruta com a passagem do tempo!). A maturidade envolve uma

    gama abrangente e complexa de comportamentos que podem e precisam ser instalados e

    mantidos. produto de complexa interveno ativa da comunidade verbal qual a pessoa

    pertence e na qualdurante o processo teraputicoo terapeuta est inserido. No se encontra

    pronta uma pessoa madura; constri-se uma pessoa madura! No melhor que seja assim?

    A leitura da poesia que se segue pode ser oportuna:

    SE

    (Rudyard Kipling - traduo de Guilherme de Almeida)

    Se s capaz de manter tua calma, quando,todo mundo ao redor j a perdeu e te culpa.De crer em ti quando esto todos duvidando,e para esses no entanto achar uma desculpa.

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    Se s capaz de esperar sem te desesperares,ou, enganado, no mentir ao mentiroso,Ou, sendo odiado, sempre ao dio te esquivares,e no parecer bom demais, nem pretensioso.

    Se s capaz de pensarsem que a isso s te atires,de sonharsem fazer dos sonhos teus senhores.Se, encontrando a Desgraa e o Triunfo, conseguires,tratar da mesma forma a esses dois impostores.

    Se s capaz de sofrer a dor de ver mudadas,em armadilhas as verdades que dissesteE as coisas por que deste a vida estraalhadas,e refaz-las com o bem pouco que te reste.

    Se s capaz de arriscar numa nica parada,tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,resignado, tornar ao ponto de partida.

    De forar corao, nervos, msculos, tudo,a dar seja o que for que neles ainda existe.E a persistir assim quando, exausto, contudo,resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

    Se s capaz de, entre a plebe, no te corromperes,e, entre Reis, no perder a naturalidade.E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,se a todos podes ser de alguma utilidade.

    Se s capaz de dar, segundo por segundo,

    ao minuto fatal todo valor e brilho.Tua a Terra com tudo o que existe no mundo,eo que ainda muito maiss um Homem, meu filho!

    Kipling descreve de forma tocante o produtode contingncias de reforamento. A nscompete expor quais so as contingncias de reforamento que produzem tal ser humano.

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    O Mito do Dilogo

    Todas as relaes interpessoais se modulam por influncias recprocas de controle e

    contracontrole. Uma relao de amor harmnica no escapa a esta condio, mas se define por

    um equilbrioentre os exerccios de controle e contracontrole. Assim:

    s existe dilogo quando h, entre os interlocutores, uma interao equilibrada entre controle

    e contracontrole. Se no houver equilbrio, haver opresso, submisso ou indiferena. Se

    houver equilbrio haver respeito, compreenso, discordncia em alguns pontos sem

    ressentimentos e concordncias em outros sem opresso, nem submisso.

    Afinal, agora possvel definir amor a partir de comportamentos de amar...

    AMOR ENVOLVE COMPORTAMENTOS E SENTIMENTOS

    DOS TRS NVEIS DE SELEO PROPOSTOS POR SKINNER

    1. Nvel Filogentico:comportamentos e sentimentos selecionados que so prprios da espcie:

    a.

    Os organismos intactos de uma dada espcie os apresentam, sem necessidade de umahistria de aprendizagem, ou tais organismos tem uma potencialidade gentica de

    express-los durante seu desenvolvimento biolgico:

    - sugar o seio materno desde a primeira ocorrncia

    - emitir sons

    - acolher afago fsico

    - imitar

    - erotismo a partir do desenvolvimento hormonal ou a partir da estimulao de reas

    sensveis (ergenas)

    - comportamentos reflexos incondicionaisb. Os organismos intactos de uma dada espcie esto aptos a responder a eventos ambientais

    com funo reforadora positiva ou reforadora negativa (aversiva) sem necessidade de

    aprendizagem prvia:

    - calor ameno (SR+)

    - calor intenso (SR-)

    - toque fsico suave (SR+)

    - voz amena (SR+)

    - frio (SR-)

    - barulho sbito e intenso (SR-)

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    - objeto pontiagudo (SR-)

    Os gregos denominavam o nvel do amor regido pelo primeiro nvel de seleo de Eros.

    Quando a interao regida essencialmente por Eros, um corpo deseja outro corpo; a isso

    se resume o Amor neste nvel. Pode-se concluir que o Amor inclui componentes erticos,

    presentes como produtos da histria da espcie. Se numa relao de Amor entre pessoas

    houver erotismo, fala-se em Paixo, uma forma de amor (se assim a podemos denominar)

    em que prevalecem componentes erticos. (Assim, pode-se dizer que existe paixo

    atrao e desejo erticos primeira vista). Se numa relao de Amor entre pessoas, por

    outro lado, no houver erotismo, fala-se, ento, em amizade, admirao, fraternidade,

    companheirismo etc. Quando se restringe ao primeiro nvel de seleo, o que se chama deBeleza8(de algum) um dos produtos do erotismo. Belo aquilo que se deseja!

    2. Nvel ontogentico: comportamentos e sentimentos so selecionados no processo

    diferenciado de desenvolvimento de cada indivduo: assim o indivduo torna-se uma pessoa.

    No existem duas pessoas idnticas. O processo de tal desenvolvimento pode ser chamado

    de histria de contingncias de reforamento (que diferente de histria de vida):

    a. Os padres comportamentais e sentimentos so nicos, particulares para cada

    pessoa;

    b.

    As funes reforadoras positivas e reforadoras negativas (aversivas) so adquiridase no so as mesmas para todos os membros da espcie;

    c. Os padres de comportamentos e sentimentos, bem como as funes reforadoras

    positivas e aversivas dos eventos podem ser modificados.

    As pessoas expostas aos procedimentos e contextos de condicionamento operante e

    respondente se desenvolvem enclausuradas em si mesmas, alheias s consequncias que seus

    comportamentos produzem no ambiente social e fsico, a menos que tais consequncias as

    atinjam de forma direta e imediata. Levam uma vida centrada em si mesmas! Sero,

    provavelmente, descritas como egostas, impulsivas, dominadoras, calculistas, pragmticas,sensoriais etc. s vezes so humildes, inassertivas, submissas, generosas, cordatas, mas no

    como opo por uma forma construtiva de interagir com o outro, mas como uma maneira de

    evitar crticas, humilhaes, censuras, castigos etc. Estas ltimas no so pessoas com padres

    comportamentais mantidos por reforo positivo, mas que se comportam por fuga-esquiva,

    comportamentos mantidos por reforamento negativo. Destaque-se que os dois primeiros

    8Uso o termo Beleza, escolhido de forma arbitrria, como uma palavra que representa aquilo - aquele - aquela que

    se ama.

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    nveis interagem entre si: o primeiro nvel d origem a organismos com padres

    comportamentais denominados inatos (aqueles que ocorrem sem necessidade deexperincias de aprendizagem) e com potencialidade para aquisio de novos

    comportamentos; o segundo nvel se caracteriza pela atuao dos condicionamentos

    operante e respondente nas potencialidades do organismo, o que d origem a padres

    comportamentais e de sentimentos particulares prprios de cada um. Em conjunto, estes dois

    nveis permitem a sobrevivncia do indivduo; no do grupo social, necessariamente.

    Os gregos denominavam o nvel de amor regido pelo segundo nvel de seleo de

    Philia. Quando a interao regida essencialmente pela Philia,umapessoa se aproxima (ou

    se afasta) de outrapessoa sob influncia individualista do que aprendeu a gostar (ou a no

    gostar), sensvel exclusivamente quelas caractersticas do outro das quais foi ensinado a

    gostar ou a no gostar. A pessoa torna-se, assim, insensvel s demais caracterstica do

    outro, as quais no aprendeu a notar. Pode-se concluir que o Amor inclui preferncias e

    averses resultantes da histria de contingncias de reforamento de cada um. A histria

    ontogentica interage com a histria filogentica e a amplia e a transforma. Quando

    prevalecem as histrias onto e filogentica prepondera o individualismo. Quando estes dois

    nveis de seleo regem a interao entre duas pessoas, pode-se dizer que prevalece um

    padro de amor egosta e individualista. Tal interao se caracteriza por uma disputa

    contnua entre controle e contracontrole e prevalecem sentimentos de ansiedade, alvio,opresso, submisso, desprezo, humilhao, raiva... todos basicamente de natureza

    aversiva. As duas pessoas convivem como amigas, o erotismo vivenciado, mas a interao

    de competio, alternando-se episdios de opresso e de submisso. Pode, no entanto,

    existir uma interao de segundo nvel desprovida de erotismo. Conforme apontado em

    pargrafo anterior, fala-se em amizade, mas sem os complementos que melhor a qualificam,

    como admirao fraternidade, companheirismo etc. uma amizade egosta, individualista,

    opressiva. A nica maneira de limitar o desiquilbrio resultante da predominncia do

    segundo nvel de seleo o desenvolvimento do terceiro nvel, como se ver. Quando a

    interao se restringe ao segundo nvel de seleo, o que se chama de Beleza (de algum) um dos produtos do condicionamento operante. Belo aquilo que as contingncias de

    reforamento ensinaram a determinada pessoa que Belo!

    3. Nvel Cultural: comportamentos e sentimentos so selecionados e tm como principal

    resultado a sobrevivncia do grupo social. neste nvel que ocorrem inverses desejveis nas

    funes dos eventos. Assim: reforadorpara mimo que refora o outro, independente de

    ser originalmente reforador ou aversivo para mim. aversivopara mimo que aversivo para

    o outro, independente de ser originalmente reforador ou aversivo para mim. No se trata de

    altrusmo, pois a pessoa que assim se comporta tambm tem ganhos para si mesma... Os

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    padres de comportamentos e sentimentos deste nvel so produzidos por condicionamento

    operante de natureza socioverbal. uma aquisio da comunidade socioverbal, a qualcontribui para a sobrevivncia do grupo. O que diferencia o Homem, como ser dotado de

    caractersticas especiais, a capacidade de criar contingncias de reforamento sociais

    aquelas que Skinner atribui ao terceiro nvel de seleo , que o tornam sensvel a todas e

    quaisquer outras pessoas. Tais contingncias de reforamento por ele criadas levam-no a

    adquirir comportamentos de valorizar, desenvolver, cuidar de, cooperar com, sofrer por outro

    ser humano. Ou seja, o que melhor define o Homem sua capacidade para programar

    contingncias de reforamento que priorizem o bem estar do outro e, ao mesmo tempo, sua

    sensibilidade de se comportar sob influncia delas.

    Os gregos denominavam o nvel de amor regido pelo terceiro nvel de seleo de

    gape. Quando a interao regida essencialmente porgape, os sentimentos pelo outro

    influenciam o significado que este outro desperta e o respeito pelas caractersticas desse

    outro atinge seu apogeu. Pode-se concluir que a histria de contingncias de reforamento

    cultural estabelece limites para os determinantes filo e ontogenticos, uma vez que inclui e

    amplia, decididamente, a importncia do outrona interao amorosa e, como tal, ala o

    Amor ao seu nvel mais elevado. Quando prevalece o nvel cultural fala-se em Compaixo,

    Caridade, Fraternidade, Cooperao... Vai alm de amar o outro como a si mesmo; amar

    o outro mais do que a si mesmo! Quando o nvel cultural interage com o ontogentico efilogentico, o Amor alcana seu status mais elevado. Quando se restringe ao terceiro nvel

    de seleo, o que se chama de Beleza(de algum) um dos produtos do amor ao prximo.

    Belo aquele que amo, sem erotismo e sem preconceitos ou preferncias; Belo o outro

    ser humano9.

    9Entenda-se que se ama do ser humano seus comportamentos... Todos os comportamentos? No

    necessariamente, mas com certeza dando-lhe mais amor do que censura; mais acolhimento do que rejeio. E, em

    relao a suas limitaes, ama-se o outro ajudando-o a super-las... sem desistir!

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    RESUMO DAS INTERAES DOS TRS NVEIS DE SELEO

    NO DESENVOLVIMENTO DO AMOR

    1 nvel de seleo

    interao ertica; paixo; no se fala em Amor, mas em desejo

    2 nvel de seleo

    amizade individualista, egosta, desprovida de admirao, fraternidade,

    companheirismo...; ocorrem interaes de opresso e submisso; amizade imatura e

    sensorial

    2 nvel em interao com 1 nvel de seleo

    amor10ertico, no qual prevalecem relaes de poder, egosmo, individualismo; amor

    imaturo e sensorial

    3 nvel de seleo

    amizade, admirao, fraternidade, companheirismo. Interao madura. Pode ocorrer

    submisso consentida (no imposta) por uma das partes, mas a fraqueza deste um no

    evoca dominao por parte do outro.

    3 nvel em interao com 2 nvel de seleo

    amizade, admirao, fraternidade, companheirismo, desde que as interaes de controle

    e contracontrole (como cada uma das partes se influenciam) se equilibrem. Assim, no

    h relao de opresso, nem de submisso. O individualismo medido e polido pelo 3

    nvel; amizade madura e regulada por sensibilidade.

    3 nvel em interao com 2 e 1 nveis de seleo

    repetem-se as caractersticas do item imediatamente acima acrescidas de interesses e

    prticas erticas; h respeito e equilbrio entre as influncias recprocas em todos os trsnveis; Amor maduro vivenciado em sua plenitude, pois inclui erotismo (Eros), amizade,

    admirao, fraternidade, companheirismo, empatia (Philia egape).

    10Denomino de amor (com inicial minscula) as interaes onde h erotismo, mas no o desejado equilbrio nas

    interaes entre as pessoas envolvidas.

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    Concluso

    O amor maduro se desenvolve sob a regncia dos trs nveis de seleo descritos, que

    interagem entre si e se influenciam reciprocamente numa espiral virtuosa. O Amor se

    define, ento, pela composio interativa e harmoniosa entre Eros, Philiaegape. Dos

    outros, amamos os comportamentos. Pelos outros, somos amados, por nossos

    comportamentos. Tal o caminho da utopia da felicidade: nos comportando!

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    Apndice/ maio de 2013

    ATENO SCIO-AFETIVA E ATENO SOCIAL

    HLIO JOS GUILHARDI

    Instituto de Terapia por Contingncias de Reforamento

    Campinas - SP

    comum argumentar, e at demonstrar cientificamente, que a ateno mantm

    e amplia repertrio de comportamentos indesejados. A ateno, inclusive, tem funo

    de reforo (generalizado, condicionado) positivo, quer seja expressa de uma forma

    acolhedora (sorrisos, elogios, toques fsicos, aprovao, olhares, acenos de cabea etc.),

    quer seja apresentada de forma recriminatria (repreenses verbais, reprovaes,

    crticas, belisces, toques bruscos, safanes, gritos, palavres etc.).

    Em seu trabalho clnico, o terapeuta encontra muitos exemplos de situaes

    como as alinhavadas no pargrafo acima e, s vezes, desafiado por algumas questes

    como as duas que se seguem por pessoas pouco familiarizadas com os conceitos e

    procedimentos comportamentais:

    1. Se o comportamento indesejado produz ateno, por que ele no se enfraquece

    por saciao (da ateno que produz)?

    2. Se a pessoa est carente de ateno, por que, ao receb-la, a pessoa no passa a se

    sentir bem afinal, conseguiu aquilo de que est privada e a se relacionar de

    forma harmoniosa com seu ambiente scio-afetivo?

    Em primeiro lugar, ateno no um reforo primrio, como gua, comida, sexo,

    calor etc., mas um reforo condicionado (aprendido, portanto) generalizado positivo.

    Ateno no um comportamento nico, mas uma classe ampla de comportamentos,

    tendo todos eles a funo de reforo positivo, adquirida de maneira particular para cada

    indivduo, a partir da histria de contingncias de reforamento a que ele foi exposto. O

    termo generalizado informa que a funo reforadora da ateno foi adquirida por

    associao com inmeros outros reforos e, como tal, sua funo reforadora no

    depende de nenhuma privao especfica e individual. A pessoa, pode-se dizer, sempre

    estar privada de alguma classe de reforos e o reforo generalizado tem, portanto,

    garantida sua funo durante todo o tempo. Um exemplo didtico de tal reforo o

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    dinheiro: ele adquire a funo de instrumento que permite acesso a um sem nmero deitens que tm funo reforadora para as pessoas. raro encontrar algum que se sinta

    saciado com o dinheiro que tem! Concluo, ento, que as pessoas no se saciam quando

    produzem reforo positivo generalizado.

    Em segundo lugar, a ateno disponibilizada em diferentes esquemas de

    reforamento intermitentes (razo e intervalo variveis, na maioria das situaes), o que

    produz maior resistncia extino e maior tolerncia frustrao. O poder de

    esquemas intermitentes, de manter os comportamentos que produzem determinadaconsequncia, em parte explica a manuteno dos padres comportamentais,

    insensveis saciao (em particular quando a consequncia no tem a propriedade de

    saciar...) .

    Um terceiro argumento nos dirige a uma avaliao do repertrio

    comportamental mais amplo da pessoa. Em outras palavras, um indivduo pode obter

    ateno emitindo comportamentos indesejados porque so esses comportamentos

    exatamente os que produzem ateno e, como tal, so os selecionados naquele

    determinado contexto social (o outro que libera a ateno mais sensvel acontingncias aversivas; nota e reage a comportamentos que lhe so aversivos - se

    comporta por reforamento negativoe coloca em extino comportamentos que no

    lhe so aversivos). Se o indivduo tem repertrio comportamental restrito, basicamente

    comportamentos indesejados que produzem ateno negativa, ento sua possibilidade

    de se comportar se restringe s classes comportamentais indesejadas. Se, por outro

    lado, a pessoa tem repertrio comportamental desejado, as possibilidades de

    apresentar variabilidade e substituir comportamento indesejado por desejado e, desta

    forma, produzir ateno, so imensas. Ou seja, as interaes interpessoais podem se

    enriquecer (desde que o ambiente responda sob controle da emisso decomportamentos desejados) e se caracterizar por uma ampla gama de variabilidade

    comportamental em que se mesclam comportamentos desejados e indesejados, com

    predominnciadeseja-se que assim seja de padres comportamentais desejados

    naquele dado grupo social. Em suma, quando a pessoa tem, em seu repertrio

    comportamental, as duas classes de respostas, desejadas e indesejadas, a ateno pode

    vir a privilegiar a ocorrncia de comportamentos desejados. Algum poder perguntar:

    mesmo quando inicialmente a ateno dada contingente a comportamento

    indesejado? A resposta sim, embora possa parecer, primeira vista, um efeito

    paradoxal. A ateno, neste caso, pode adquirir a funo de SD, ou seja, ocasio em que,

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    caso as respostas adequadas sejam emitidas, ento sero consequenciadas por ateno.Pode, adicionalmente, produzir um estado corporal de bem-estar, que assume a funo

    de operao motivacional, a qual aumenta a probabilidade de emisso da classe de

    comportamentos desejados. Finalmente, a ateno pode gerar, naquele que se

    comporta mal, sentimentos de culpa em relao ao outro que libera o reforo

    generalizado, e esta contingncia de reforamento complexa evoca comportamento de

    fuga-esquiva, qual seja, respostas desejadas.

    Em quarto lugar, gostaria de fazer uma distino entre ateno com amor

    (ateno scio-afetiva) e ateno sem amor (ateno social). Os termos entre

    parnteses so arbitrrios e so propostos com a finalidade de destacar que a ateno

    presente numa interao social pode ser desprovida de afeto. Quando determinado

    comportamento (mesmo aquele denominado indesejado) produz ateno scio-afetiva,

    ocorrem dois fenmenos comportamentais produzidos pelo reforo positivo

    generalizado carregado de afeto: fortalecimento do comportamento que o produz e

    sentimentos de bem-estar, de tranquilidade, de satisfao, de felicidade etc. A pessoa

    inundada por tais sentimentos relaxa e diminui (ainda que temporariamente) a emisso

    de comportamentos que poderiam ser rotulados de agitao, de atividade (ou

    hiperatividade). como se houvesse uma saciao de ateno... Ao mesmo tempo,aumenta a probabilidade de emisso de comportamentos desejados, que se expressam

    na forma de quietude (menor agitao), cooperao, delicadeza etc. Disto tudo resulta

    num ambiente social diferencialmente sensvel s duas diferentes classes

    comportamentais uma maior probabilidade de reforamento de comportamentos

    desejados (e, concomitantemente, extino de comportamentos indesejados), os quais,

    se forem fortalecidos, resultaro em enfraquecimento na emisso dos indesejados, por

    incompatibilidade funcional.

    O mesmo no acontece quando a ateno apenas social. Ocorre fortalecimento

    da classe de comportamentos que a produzem, mas os sentimentos gerados so de

    alvio, no de bem-estar, no de satisfao, no de tranquilidade... Como tal,

    comportamentos da classe dos indesejados continuam sendo emitidos, aumenta a

    variabilidade comportamental dentro desta classe de respostas (ocorrem agitao e

    hiperatividade) e os sentimentos de alvio so alternados com sentimento de ansiedade,

    insegurana, alm de a carncia afetiva no se esvair. A ateno social no supre o afeto!

    H menor probabilidade de emisso de comportamentos desejados, mesmo que faam

    parte do repertrio da pessoa (o ambiente no disponibiliza S Ds que os evoquem) e

    surgem padres de comportamento de antagonismo, rebeldia etc. Uma metfora

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    facilitar a compreenso do exposto. O reforo generalizado positivo exclusivamentesocial equivale ao uso de um adoante diettico. Adoa, mas no alimenta. A ateno

    scio-afetiva como o acar: adoa e nutre.


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