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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009
INGRESSO DE ESTUDANTE DE CLASSE POPULAR NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO: chances de sucesso e enfrentamento das desigualdades
Guiomar de Oliveira Passos1
Marcelo Batista Gomes2 Ana Caroline Viana Costa3
RESUMO
Aborda-se a desigualdade social no ensino superior público, a partir das diferenças entre inscritos e aprovados na UFPI/2005, nos cursos de maior e menor concorrência. Investiga-se a seletividade e desigualdades sociais na educação superior pública, evidenciando os aspectos da desigualdade social a partir de fatores como a renda familiar liquida e o tipo de escola média freqüentada pelos candidatos. Os alunos de camadas populares, com renda até 3 salários mínimos e que estudaram o ensino médio em escola pública foram aprovados principalmente para os cursos menos concorridos. O sistema de ingresso ao ensino superior público, perpetua as desigualdades sociais. Palavras-chave: Educação Superior. Desigualdade social. Exclusão
social.
ABSTRACT
Approaches to social inequality in higher education from the differences between registered and approved in UFPI/2005 in courses of greater and lesser competition. It investigates the selectivity and social inequality in public education, emphasizing the aspects of social inequality from factors such as net family income and type of school attended by applicants. Students of classes, with incomes up to 3 minimum wages, and who studied high school in public schools were adopted primarily for the courses attended less. The system of admission to public higher education, perpetuates social inequalities. Keywords: Higher Education. Social inequality. Social exclusion.
1 Doutora em Sociologia – Docente da Universidade Federal do Piauí - Departamento de Serviço
Social. E-mail: [email protected] 2 Graduando em Ciências Sociais - Departamento de Serviço Social/ Bolsista PIBIC/UFPI -
Universidade Federal do Piauí . E-mail: [email protected] 3 Graduanda de Pedagogia - Departamento de Serviço Social/ Bolsista/PIBIC/CNPq - Universidade
Federal do Piauí. E-mail: [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
Este texto parte dos resultados da pesquisa: “Acesso ao ensino superior
público: democratização e desigualdades sociais na Universidade Federal do Piauí”,
que analisa a condição e posição de classe de inscritos e aprovados no exame
seletivo de ingresso na UFPI em 2005, financiada pelo CNPq e integrante do
Programa de Bolsa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq e UFPI. A intenção é analisar
o acesso à universidade pública, verificando o ingresso de estudantes de escolas
públicas com renda familiar de 1 até 3 salários mínimos e pais e mãe com
escolaridade elementar ou sem escolaridade.
Parte-se, do princípio de inteligibilidade inaugurado por Pierre Bourdieu
de que o sistema de ensino guarda estreita relação com a estrutura das classes
sociais, sendo muito maiores as chances de um jovem da camada superior ingressar
na universidade do que um filho de um assalariado agrícola ou um filho de um
operário. Pergunta-se: quais foram as chances de sucesso dos candidatos das
camadas populares de ingresso ao ensino superior público? Em que cursos
obtiveram êxito?
O objetivo é verificar o êxito obtido pelos candidatos a uma vaga na UFPI
em 2005 que pertencem à classe popular por provirem de famílias com renda inferior
a 3sm, possuírem pais e mães com escolaridade elementar ou inexistente e
cursado o ensino médio em escolas públicas, analisando suas chances e os modos
de enfrentamento da desigualdade.
As políticas públicas de educação superior, desde a década de 1960 com
a Reforma Universitária de 1968 e principalmente no governo atual, têm se voltado
para a ampliação da oferta de vagas, cursos, instituições e matrículas tanto no setor
público como no privado. Esses têm sido os objetivos do Programa Universidade
para Todos (PROUNI), instituído pela lei nº. 11.196 de 13 de Janeiro de 2005
(BRASIL, 2005); a Bolsa-Permanência, instituída pela Portaria nº. 569 (BRASIL,
2006) para os beneficiados do PROUNI que estudam em tempo integral e do
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Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (REUNI), instituído pelo Decreto nº. 6.096 de 24 de abril de 2007 (BRASIL,
2007).
Essas ações, conforme consta no Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE) (BRASIL, 2007, p. 27), voltam-se, prioritariamente, para “a
expansão democrática do acesso ao ensino superior”, ou seja, para o aumento do
“contingente de estudantes de camadas sociais de menor renda na universidade
pública”. Assim, analisa-se o que vem sendo feito pelo Estado, voltando-se, mais
para os usuários de uma política que tem efeito sobre o trabalho e a renda, vale
dizer para quem usufrui de um recurso público. Para isso, foram utilizados os dados
colhidos pela Comissão Permanente de Seleção (COPESE) através de questionário
sócio-econômico preenchido quando da inscrição no exame seletivo de ingresso à
Universidade Federal do Piauí realizado em 2005. Na analise, foram utilizados os
Programas Startitical Package for the Social Siences (SPSS version 13.0) e
Microsoft Office Excel 2003.
No texto, primeiro, são analisadas possibilidades de sucesso dos
candidatos da classe popular a partir do número de inscritos e de aprovados, em
seguida, são examinados os modos de enfrentamento das dificuldades, com a
identificação dos cursos escolhidos e os que foram aprovados, a relação entre
escolha e concorrência e, por último, a modalidade de ingresso preferida e a
influência desta no resultado. Na conclusão, identifica-se a chance de êxito daqueles
estudantes identificados como da classe popular e em quais cursos este foi
alcançado.
2 AS CHANCES DE SUCESSO
As 2.345 vagas oferecidas no ano de 2005 pela Universidade Federal do
Piauí foram disputadas por 18.0654 candidatos, o que significava 7,7 por vagas.
4 Este foi o número de inscritos divulgado, todavia, os dados válidos são relativos a 17.985
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Aqueles que pertenciam às classes populares, conforme os fatores aqui
considerados ― renda menor que 3sm, pai e mãe com escolaridade elementar ou
inexistente e curso médio realizado em escola pública ― eram 4.877 candidatos
(27%), representando 2,1 por vaga. Os demais, considerando-se apenas os casos
válidos, eram 13.108, o que significava 5,6 por vaga.
Verifica-se que esse estrato da população, apesar de ser maioria na
população piauiense (73,04%), é minoria entre os que pleiteiam o ingresso na
Universidade Federal do Piauí, por conseguinte, opera-se uma primeira seleção: a
auto-exclusão. Isso pode decorrer tanto da falta de acesso ao ensino médio (no
Piauí a taxa de escolarização nesse nível de ensino líquida é 22,4% e bruta 76,5%)
como das escassas chances objetivas de sucesso, pois enquanto as probabilidades
de êxito dos que possuem maiores rendas, freqüentaram escolas particulares ou
estudaram em uma escola e outra e possuem pais com escolaridade maior ou igual
a fundamental completa, é de ocuparem 1709 vagas, a deles é de ocuparem 635
vagas, o que significa que têm 2,7 vezes menos chances de sucesso.
3 ENFRENTAMENTO DA DESIGUALDADE
A inscrição se deu em todos os cursos, sendo maior nos seguintes:
Licenciatura em Pedagogia - Magistério no Campus Senador Helvídio Nunes de
Barros, 50,2% dos candidatos, Licenciatura em Matemática (Noturno), 46,6%,
Licenciatura em Pedagogia - Magistério (Vespertino) no Campos Ministro Petrônio
Portela 44,3%, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e Portuguesa (Matutino),
41,6%, Licenciatura em Letras no Campus Senador Helvídio Nunes de Barros,
41,3%, Licenciatura em Pedagogia - Magistério (Noturno), 41%, Licenciatura em
Física (Noturno), 40%, Ciências Econômicas no Campus Ministro Reis Veloso,
37,9% e Licenciatura em Letras (Noturno), 36,8% dos inscritos.
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A concorrência nesses cursos variou de 3,0 candidatos por vaga, no
curso de Licenciatura em Licenciatura em Física (Noturno), a 6,8 no curso de Língua
Portuguesa e Literatura Brasileira e Portuguesa (Matutino), isto é menor que 7,7 que
foi a registrada no certame. Percebe-se, então, que tentam maximizar as chances de
êxito, inscrevendo-se naqueles cursos menos concorridos. A aprovação foi obtida
por 298 inscritos de classe popular, aproximadamente, 47% dos que tinham
probabilidade de êxito e 6,1% daqueles inscritos nessa condição. Em relação às
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vagas oferecidas pela Universidade Federal do Piauí naquele ano, representa a
ocupação de 12,7%.
O êxito foi obtido em todos os cursos, exceto, em Enfermagem, Direito
(Diurno e Noturno), Odontologia e Bacharelado em Biologia. Todavia, maior número
entre os seguintes: Engenharia de Agrimensura (29,6% dos inscritos da classe
popular nesse curso), Língua Francesa (27,3%), Ciências econômicas- Campus
Ministro Reis Veloso (21,3%), Licenciatura em Física noturno (19,4%), Bacharelado
em Licenciatura em Matemática (18,8%), Licenciatura em Matemática Noturno
(17%), Ciências econômicas (16,4%), Ed. Artística (15,4%), Química (13,1%) e
Letras Noturno e Licenciatura em Pedagogia - Magistério Matutino respectivamente
com 12,5% de aprovações.
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Esses cursos, salvo, Ciências Econômicas (Campus Ministro Reis
Veloso), Licenciatura em Licenciatura em Física (Noturno), Licenciatura em
Licenciatura em Matemática (Noturno) e Licenciatura em Letras (Noturno), foram
aqueles em que foi mais se inscreveram e são os dez de menor concorrência,
exceto Licenciatura em Pedagogia - Magistério (Matutino) que teve uma taxa de 6,8
e fica na 22ª posição. Percebe-se, então, que o êxito se dá nos cursos menos
concorridos, indicando haver relação entre aprovação e concorrência.
A modalidade5 de ingresso escolhida por 62% foi a geral, sendo esta uma
preferência pela maior parte dos candidatos em todos os cursos, menos no de
Administração que todos optaram pela gradativa ao contrário dos da Licenciatura em
Física que todos optaram pela geral. Dos candidatos da primeira modalidade 6,3%
obtiveram êxito e dos da segunda 5,8%, por conseguinte, pequena a diferença entre
5 O processo seletivo para ingresso de novos alunos nos cursos de graduação da Universidade
Federal do Piauí consiste em um “concurso seriado, classificatório” denominado Programa Seriado de Ingresso na Universidade (PSIU) que é realizado em duas modalidades: 1ª) GRADATIVA, através de subprogramas trienais, com provas realizadas em três etapas correspondentes às três séries do Ensino Médio regular, de no mínimo três anos e 2ª) GERAL, com as provas das três séries realizadas de uma única vez, ao final do Ensino Médio. Inclui, nas duas modalidades, o conteúdo específico das matérias e disciplinas do Núcleo Comum Obrigatório deste nível de ensino: Língua Portuguesa, Língua Estrangeira (Inglês, Espanhol e Francês), Licenciatura em Matemática, Biologia, Química, Licenciatura em Física, Geografia e História (Universidade Federal do Piauí/COPEVE, 2006).
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as duas opções, ainda que aquela tenha sida a preferida por um maior número,
mostrando ser essa uma das estratégias de ingresso.
Foram aprovados 191 candidatos (64,1%) na modalidade geral e por 107
(35,9%) na gradativa, sendo em 66% dos cursos na primeira, 18% na segunda e
16% o mesmo número numa e noutra. Destaca-se que prevaleceu a modalidade
geral naqueles cursos em que os membros da classe popular obtiveram mais êxito,
exceto Ciências Econômicas (Campus Ministro Petrônio Portela) que foi na
gradativa. Além disso, que há cursos em que 100% obteve êxito na modalidade
geral ― Licenciatura Plena em Educação Artística, Licenciatura Plena em Filosofia,
Licenciatura em Letras (Noturno), Ciências Contábeis, Licenciatura em Matemática,
Engenharia Civil, Medicina e Farmácia. Já em outros, isso ocorreu na modalidade
gradativa ― Serviço Social, Comunicação Social e Arquitetura e Urbanismo.
Percebe-se que a modalidade de ingresso pouco altera o resultado, sendo maior a
influência da concorrência.
4 CONCLUSÃO
O exame das chances de ingresso de candidatos da classe popular, por
terem estudado o ensino médio em escolas públicas, possuírem genitores sem
escolaridade ou apenas a fundamental incompleta e pertenceram a famílias com
renda de até 3 salários mínimos se voltou para o número de inscritos e aprovados e
condições econômicas e culturais dos candidatos à uma vaga na Universidade
Federal do Piauí no exame seletivo de ingresso de 2005. Constatou-se que as
chances de quem estudou o ensino médio em escola pública, têm genitores sem
escolaridade ou têm apenas a fundamental incompleta e pertence à famílias com
rendimento menor ou igual a 3 salários mínimos é 7 vezes menor do que aqueles
que freqüentaram escolas particulares ou estudaram em ambas as redes de ensino,
têm pais com escolaridade maior ou igual ao ensino fundamental e renda familiar
maior que 3 salários mínimos.
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Essa diferença se dá tanto porque os primeiros concorrem menos às
vagas, havendo como que uma auto-exclusão ou uma seleção ‘natural’, como
também porque só uma pequena parcela é aprovada. Isso apesar das estratégias de
enfrentamento das desigualdades que utilizaram: escolher cursos menos
concorridos e a modalidade geral de ingresso. A primeira se mostrou proveitosa,
pois a maior parte das aprovações ocorreu nos cursos menos concorridos, já a
segunda quase não influenciou os resultados, pois relativamente, foi igual o número
de aprovados em uma e outra.
Assim, se um menor número de postulantes favorece o ingresso de quem
tradicionalmente está excluído do seleto ensino superior público e a modalidade de
ingresso não altera o resultado, verifica-se que as chances objetivas de sucesso de
membros da classe popular encontra-se, fundamentalmente, na ampliação das
oportunidades e, principalmente, da melhoria das condições objetivas de acesso,
como por exemplo, do aumento de vagas e melhoria da qualidade do ensino médio.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de Janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade para Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior; altera a Lei no 10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras providências. Diário Oficial da União, publicado em 14/01/2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11096.htm>. Acesso em: 11 mar. 2008. BRASIL. Portaria MEC Nº 569, de 23 de Fevereiro de 2006. Regulamenta o art. 11 da Lei no 11.180, de 23 de setembro de 2005; descreve procedimentos para recebimento da bolsa-permanência para alunos beneficiados com bolsa integral pelo PROUNI. Disponível em:<http://www.sinepemg.org.br/legislacao/ens_superior /prouni/index.html>. Acesso em: 11 mar. 2008. BRASIL. Decreto nº. 6.096 de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2007-2010/2007/Decreto/ D6096.htm >. Acesso em: 11 mar. 2008.
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BRASIL. Ministério da Educação, Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/ livro/livro.pdf> Acesso em 11 mar. 2008. BOURDIEU, Pierre. A Escola Conservadora: as desigualdades frente á escola e à cultura. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio (Orgs). Escritos de Educação. Trad. Aparecida Joly Gouveia. 4. ed. Petrópolis (RJ): Vozes 2002, p.39-64.