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Informativo 519 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no AgRg no AREsp 52.523-RS; AgRg no REsp 1.342.593-SC; REsp 1.341.077-RJ; REsp 1.104.470-DF; REsp 1.130.704-MG.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Entrega de carnês de IPTU e ISS e ausência de privilégio dos Correios

A entrega de carnês de IPTU e ISS pelos municípios sem a intermediação de terceiros no seu âmbito territorial não constitui violação do privilégio da União na manutenção do serviço

público postal. Isso porque a notificação, por fazer parte do processo de constituição do crédito tributário, é ato próprio do sujeito ativo da obrigação, que pode ou não delegar tal ato ao

serviço público postal. Comentários Imagine a seguinte situação:

Em um determinado município, a entrega dos carnês de pagamento do IPTU e ISS (impostos municipais) é feita por meio dos servidores municipais. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, ajuíza uma ação questionando esta prática e afirmando que somente ela poderia fazer esta entrega por deter o privilégio (chamado por alguns de “monopólio”) do serviço postal, nos termos do art. 21, X, da CF/88:

Art. 21. Compete à União: X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

Os serviços postais são regulados pela Lei n. 6.538/78, que prevê:

Art. 2º - O serviço postal e o serviço de telegrama são explorados pela União, através de empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações. (...) Art. 9º - São exploradas pela União, em regime de monopólio, as seguintes atividades postais: I - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de carta e cartão-postal;

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Este art. 9º da Lei foi recepcionado pela CF/88? Os serviços postais realmente constituem-se em privilégio, ou seja, somente podem ser prestados pela União? SIM. Esta matéria já foi objeto de análise pelo STF, tendo sido prolatado o seguinte acórdão:

(...) 1. O serviço postal – conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para endereço final e determinado – não consubstancia atividade econômica em sentido estrito. Serviço postal é serviço público. 2. A atividade econômica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o serviço público e a atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de atividade econômica em sentido estrito, empreendida por agentes econômicos privados. A exclusividade da prestação dos serviços públicos é expressão de uma situação de privilégio. Monopólio e privilégio são distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da linguagem jurídica, qual ocorre no vocabulário vulgar. 3. A Constituição do Brasil confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço postal e o correio aéreo nacional [artigo 20, inciso X]. 4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, empresa pública, entidade da Administração Indireta da União, criada pelo decreto-lei n. 509, de 10 de março de 1.969. 5. É imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos serviços públicos, do regime de monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de atividade econômica em sentido estrito é empreendida pelo Estado. 6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na prestação dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal. 7. Os regimes jurídicos sob os quais em regra são prestados os serviços públicos importam em que essa atividade seja desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da exclusividade. 8. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente por maioria. O Tribunal deu interpretação conforme à Constituição ao artigo 42 da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º desse ato normativo. (ADPF 46, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 05/08/2009)

A tese dos Correios é a de que a “guia de arrecadação tributária” (carnê de pagamento de impostos) está incluída do conceito de “carta” e, por isso, somente poderia ser entregue pela empresa pública federal. A questão chegou até o STJ. O que foi decidido? A entrega de carnês de IPTU e ISS pelos municípios sem a intermediação de terceiros no seu âmbito territorial NÃO constitui violação do privilégio da União na manutenção do serviço público postal. Para o STJ, somente haveria violação ao privilégio postal da União se o Município contratasse uma empresa para realizar este envio dos boletos. No entanto, como a municipalidade faz esta entrega pessoalmente, ou seja, por meio de seus servidores, não há afronta ao serviço público de competência da União. Isso porque o envio do boleto com o imposto consiste em uma notificação ao contribuinte, fazendo parte do processo de constituição do crédito tributário. Trata-se, portanto, de ato próprio do sujeito ativo da obrigação (no caso, o Município), que pode ou não delegar tal ato ao serviço público postal.

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Vale ressaltar que este tema já foi decidido pelo STJ em sede de recurso repetitivo:

(...) 1. A entrega de carnês de IPTU pelos municípios, sem a intermediação de terceiros, no seu âmbito territorial, não viola o privilégio da União na manutenção do serviço público postal. 2. A notificação, porque integra o procedimento de constituição do crédito tributário, é ato próprio dos entes federativos no exercício da competência tributária, que a podem delegar ao serviço público postal. (...) (REsp 1141300/MG, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Seção, julgado em 25/08/2010)

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 228.049-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Governador é parte ilegítima para MS contra ato de concurso estadual

O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado de segurança no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de concurso público realizado para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva

unidade federativa. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:

Fred prestou concurso para o cargo de Auditor Fiscal da Receita estadual. A questão 79 do concurso foi anulada, mas não se atribuiu este ponto a todos os candidatos. Diante disso, Fred impetra um mandado de segurança pugnando que lhe seja atribuída a pontuação da questão anulada, com a sua consequente reclassificação no concurso. O mandado de segurança foi ajuizado, tendo sido apontado, como autoridade coatora, o Governador do Estado. A escolha da autoridade coatora foi correta? NÃO. O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado de segurança no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de concurso público realizado para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva unidade federativa. Segundo o STJ, a autoridade coatora, para impetração de mandado de segurança, é aquela que pratica ou ordena, de forma concreta e específica, o ato ilegal, ou, ainda, aquela que detém competência para corrigir a suposta ilegalidade, conforme se extrai do art. 6º, § 3º, da Lei 12.016/2009:

§ 3º Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática.

Na hipótese em análise, constatada a não atribuição de pontuação após a anulação de questão, a autoridade competente para proceder à reclassificação dos impetrantes seria a banca examinadora responsável pelo certame, que é a executora direta do ato impugnado. O Governador do Estado teria competência para nomear e dar posse aos candidatos, mas não para corrigir a ilegalidade apontada.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 37.924-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2013.

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Remoção para acompanhar cônjuge (art. 75, da Lei n. 8.112/90)

(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos nos quais se exige a Lei n. 8.112/90)

O servidor público federal tem direito de ser removido a pedido, independentemente do interesse da Administração, para acompanhar o seu cônjuge empregado de empresa pública

federal que foi deslocado para outra localidade no interesse da Administração. O art. 36, parágrafo único, III, “a”, da Lei 8.112/1990 confere o direito ao servidor público

federal de ser removido para acompanhar o seu cônjuge SERVIDOR público que foi deslocado no interesse da Administração.

A jurisprudência do STJ vem atribuindo uma interpretação ampliativa ao conceito de servidor público para alcançar não apenas os que se vinculam à Administração Direta, mas também os

que exercem suas atividades nas entidades da Administração Indireta. Desse modo, o disposto no referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma a

possibilitar o reconhecimento do direto de remoção também ao servidor público que pretende acompanhar seu cônjuge empregado de empresa pública federal.

Comentários A Lei n. 8.112/90 estabelece o seguinte:

Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede. Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção: (...) III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração: a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração;

Imagine agora o seguinte exemplo hipotético: Eduardo e Mônica são casados. Mônica é empregada da Caixa Econômica Federal (empresa pública) e Eduardo servidor do Ministério da Educação. Eles são lotados em Manaus (AM), onde residem. Mônica é removida, por interesse da Administração, para uma agência da CEF em Brasília/DF. Eduardo terá direito de ser removido também, independentemente do interesse da Administração, para acompanhar seu cônjuge? A situação de Eduardo pode ser enquadrada

no art. 36, III, “a”, da Lei n. 8.112/90? SIM. O servidor público federal tem direito de ser removido a pedido, independentemente do interesse da Administração, para acompanhar o seu cônjuge empregado de empresa pública federal que foi deslocado para outra localidade no interesse da Administração. O art. 36, parágrafo único, III, “a”, da Lei 8.112/1990 confere o direito ao servidor público federal de ser removido para acompanhar o seu cônjuge "servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios" que foi deslocado no interesse da Administração. A jurisprudência do STJ vem atribuindo uma interpretação ampliativa ao conceito de servidor público para alcançar não apenas os que se vinculam à Administração Direta, mas também os que exercem suas atividades nas entidades da Administração Indireta. Desse modo, o disposto no referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma a possibilitar o reconhecimento do direto de remoção também ao servidor público que pretende acompanhar seu cônjuge empregado de empresa pública federal, até mesmo porque a CF/88, em seu art. 226, consagra o princípio da proteção à família, bem maior que deve ser protegido pelo Poder Público, mormente quando este figura como empregador.

Processo STJ. 3ª Seção. MS 14.195-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013.

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Adicional noturno (art. 36, III, a, da Lei n. 8.112/90)

(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos nos quais se exige a Lei n. 8.112/90)

O adicional noturno previsto no art. 75 da Lei 8.112/1990 será devido ao servidor público federal que preste o seu serviço em horário compreendido entre 22 horas de um dia e 5 horas

do dia seguinte, ainda que o serviço seja prestado em regime de plantão. Comentários Lei n. 8.112/90:

Do Adicional Noturno

Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada hora como cinquenta e dois minutos e trinta segundos. Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a remuneração prevista no art. 73.

Dentre os vários argumentos expostos, o STJ ressaltou que nestes casos deve-se aplicar o raciocínio presente na Súmula 213 do STF: “É devido o adicional de serviço noturno, ainda que sujeito o empregado ao regime de revezamento”. Embora a referida súmula tenha sido editada ainda sob o império da Constituição de 1946, permanece válida a interpretação nela consagrada, uma vez que não houve alteração semântica do texto constitucional quanto ao adicional noturno. Por fim, além de tudo que já foi mencionado, o TST, ao examinar o art. 73 da CLT (que regulamenta o adicional noturno para os trabalhadores da iniciativa privada) tem decidido que esse adicional é perfeitamente compatível com o regime de plantões.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.292.335-RO, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/4/2013.

DIREITO CIVIL

Evicção

I – Para que o evicto possa exercer os direitos resultantes da evicção, na hipótese em que a perda da coisa adquirida tenha sido determinada por decisão judicial, não é necessário o

trânsito em julgado da referida decisão.

II – O direito que o evicto tem de cobrar indenização pela perda da coisa evicta independe, para ser exercitado, de ele ter denunciado a lide ao alienante na ação em que terceiro reivindicara a coisa.

Comentários O que é a evicção? A evicção ocorre quando: - a pessoa que adquiriu um bem - perde a posse ou a propriedade desta coisa - em razão de uma decisão judicial ou de um ato administrativo - que reconhece que um terceiro possuía direitos anteriores sobre este bem - de modo que ele não poderia ter sido alienado. Após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser indenizado pelo alienante por conta deste prejuízo. O fundamento desta indenização está no princípio da garantia. Logo, não interessa discutir se o alienante estava ou não de boa-fé quando vendeu o bem. Mesmo de boa-fé, ele terá a obrigação de indenizar o evicto.

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Veja como o Min. Luis Felipe Salomão definiu o instituto: “A evicção consiste na perda parcial ou integral da posse ou da propriedade do bem, via de regra, em virtude de decisão judicial que atribui o uso, a posse ou a propriedade a outrem, em decorrência de motivo jurídico anterior ao contrato de aquisição.” (REsp 1.332.112-GO). Evicção vem do latim evincere ou evictio, que significa algo como “ser vencido”. Na língua portuguesa existe o verbo “evencer”, que significa “promover a evicção de alguém”. Personagens Na evicção, temos os seguintes personagens:

Evictor: é o terceiro reivindicante do bem.

Evicto: é o adquirente do bem, que perdeu a ação movida pelo evictor.

Alienante: é o que transferiu o bem ao evicto, e, por isso, deve responder pela evicção, indenizando-o.

Requisitos A doutrina majoritária aponta os seguintes requisitos para que se configure a responsabilidade do alienante pela evicção: a) Aquisição onerosa do bem Em regra, o alienante só responde pela evicção no caso de contratos onerosos (art. 447 do CC). A hipótese mais comum é o contrato de compra e venda. No entanto, podem existir outras espécies de contrato oneroso, como é o caso da cessão onerosa de crédito, na dação em pagamento e na transação. Assim, em regra, para que o evicto seja indenizado pela evicção é necessário que tenha recebido o bem por meio de um contrato oneroso. Se a pessoa recebeu o bem por conta de um contrato gratuito (ex: doação), ela não terá direito de ser indenizada se ocorrer a evicção, salvo se as partes tiverem estipulado expressamente esta garantia no pacto. Se a doação for onerosa (também chamada de doação com encargo ou modal), o doador se responsabiliza pela evicção até o limite do encargo. Obs: existe uma situação em que a evicção pode ocorrer mesmo sem que o evicto tenha adquirido o bem por força de um contrato. Trata-se da hipótese na qual a pessoa tornou-se titular da coisa em uma hasta pública. b) Perda, total ou parcial, da propriedade ou da posse da coisa alienada Obs: alguns autores mais modernos afirmam que melhor seria falar em “privação do direito do adquirente” ao invés de “perda da propriedade ou da posse da coisa”, sendo esta expressão criticável. Nesse sentido: Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (Curso de Direito Civil. Contratos. Vol. 4, Salvador: Juspodivm, 2012, p. 497). Não se trata, ainda, de posição consolidada na doutrina, sendo preferível, para fins de concurso público, utilizar a nomenclatura tradicional. Exemplos de evicção parcial fornecidos por Rosenvald e Chaves (p. 499): Ex1: perda da servidão (João adquire uma fazenda com servidão de passagem sobre o imóvel vizinho; tempos depois, este direito real é suprimido pela preexistência de direito de terceiro). Ex2: Pedro adquire um prédio de apartamentos, mas 70% das unidades não pertenciam ao alienante.

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c) Direito anterior do evictor sobre a coisa (vício na alienação) A perda da propriedade ou da posse deve ter decorrido do fato de se reconhecer que o evictor tinha direito sobre a coisa antes mesmo de ela ter sido alienada ao evicto. Assim, deve ficar demonstrado que houve um vício na alienação por conta de um direito anterior do evictor. Deve-se analisar o momento em que o terceiro passou a ter direito sobre o bem. Se foi antes da alienação, o alienante responderá pela perda da coisa. Se foi depois, o alienante não deverá pagar indenização ao adquirente. Ex1: João vendeu um imóvel para Rui. Após a aquisição, Rui, que não estava na posse direta do terreno, é citado para responder uma ação de usucapião proposta por Francisco. Ao final, a ação é julgada procedente, Francisco é reconhecido como proprietário e Rui perde o imóvel. João indenizará Rui pela evicção se os requisitos para a usucapião se completaram antes da venda. Se o tempo necessário para a usucapião somente se concretizou após a alienação, não há que se falar em evicção. Ex2: João vendeu um imóvel para Rui. Após a aquisição, Rui perde o bem para o Estado por conta de uma desapropriação. Responde o alienante pela evicção somente se o decreto expropriatório tiver sido expedido e publicado antes da realização do negócio. Se foi após a alienação, não há que se falar em evicção. d) Por meio de decisão judicial ou ato administrativo Em regra, a perda do bem ocorre por meio de decisão judicial. No entanto, apesar de não ser tão comum, é possível que a evicção se dê por força de um ato administrativo (ex: comprador de veículo importado perde a propriedade do bem por conta de pendência administrativa junto à Receita Federal, que existia antes da alienação). Nesse sentido: REsp 1.047.882-RJ. No caso de evicção por decisão judicial, para que o alienante indenize o evicto é necessário que tenha havido o trânsito em julgado da sentença que fez com que ele perdesse a propriedade ou a posse do bem? NÃO. Segundo decidiu o STJ, para que o evicto possa exercer os direitos resultantes da evicção (ou seja, para que possa cobrar a indenização), NÃO é necessário o trânsito em julgado da decisão (STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.112-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/3/2013). O Min. Luis Felipe Salomão afirmou que o ideal seria que tivesse havido o trânsito em julgado da decisão, considerando que haveria maior segurança jurídica. No entanto, o aplicador do direito não pode ignorar a realidade comum do trâmite processual nos tribunais que, muitas vezes, faz com que o processo permaneça ativo por longos anos, ocasionando prejuízos consideráveis advindos da constrição imediata dos bens do evicto, que aguarda, impotente, o trânsito em julgado da decisão que já lhe assegurava o direito. Assim, como não há no Código Civil nem em outro diploma a exigência expressa do trânsito para conceder a indenização ao evicto, a jurisprudência e a doutrina passaram a admitir que ela seja conferida ao lesado antes da decisão judicial se tornar definitiva. Denunciação da lide Na maioria dos casos, a evicção ocorre por meio de uma sentença judicial. Assim, normalmente a evicção ocorre da seguinte forma: o evictor propõe uma ação contra o adquirente reivindicando o bem para si. Nesta hipótese, o CPC e o CC determinam que o evicto (réu), no prazo da resposta, convoque o alienante para que este compareça ao processo. Esta convocação deverá ser feita mediante o instituto da “denunciação da lide”. Assim, o evicto (réu) denuncia a lide ao alienante do bem.

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O alienante é convocado ao processo, pelo réu, com dois objetivos:

para refutar o direito alegado pelo autor;

para ser condenado, neste mesmo processo, a indenizar o adquirente, caso a ação do evictor seja julgada procedente.

Veja o que estabelece o CPC:

Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta;

O Código Civil, por sua vez, prevê:

Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.

Diante disso, indaga-se: Para que o evicto seja indenizado pelo alienante, é indispensável que ele, ao ser demandado pelo evictor, faça a denunciação da lide ao alienante do bem? Em outras palavras, é obrigatória a denunciação da lide para que o evicto seja indenizado pela perda do bem? NÃO. Prevalece no STJ que o direito que o evicto tem de cobrar indenização pela perda do bem NÃO depende, para ser exercitado, de ele ter denunciado a lide ao alienante na ação em que terceiro reivindicou a coisa. “A jurisprudência do STJ é no sentido de que o direito do evicto de indenizar-se do pagamento indevido diante do anterior alienante, não se condiciona à denunciação da lide em ação de terceiro reivindicante.” (AgRg no Ag 1323028/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 16/10/2012). Apesar da redação do art. 70, I, do CPC e do art. 456 do CC, ainda que o evicto não faça a denunciação da lide, ele NÃO perde o direito de ser indenizado. Para o STJ, não se pode fazer uma interpretação literal dos dispositivos acima mencionados. Dessa feita, a falta da denunciação da lide fará apenas com que o réu perca a possibilidade de obter a indenização regressiva do alienante no mesmo processo em que perdeu o bem. No entanto, nada impede que, mesmo sem ter feito a denunciação da lide, o evicto ajuíze uma demanda autônoma contra o vendedor. Em suma, se o evicto fizer a denunciação, no mesmo processo em que perder o bem, já haverá a condenação do alienante para que o indenize. Se ele não fizer a denunciação, perderá esta oportunidade de agilizar o recebimento da indenização, mas ainda assim poderá fazê-lo por meio de uma ação autônoma de evicção. Desse modo, NÃO são requisitos indispensáveis à indenização por evicção:

O trânsito em julgado da sentença que determina a perda do bem;

A denunciação da lide pelo evicto.

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Denunciação per saltum Imagine a seguinte situação: João comprou um terreno de Maria, que o havia comprado de Bartolomeu, que o havia comprado de Josefina, que o havia comprado de Manoel. De repente, aparece Gilberto ajuizando uma ação reivindicatória contra João e afirmando que Manoel não poderia ter vendido o terreno porque não lhe pertencia. João decide fazer a denunciação da lide a fim de garantir que seja indenizado caso a ação seja julgada procedente. Não há nenhuma dúvida de que João pode denunciar a lide a Maria, considerando que foi ela quem lhe vendeu o bem, ou seja, eles possuem uma relação jurídica entre si. Sendo Maria denunciada, ela poderá fazer a denunciação a Bartolomeu, que poderá fazer a denunciação a Josefina e esta poderá fazer a denunciação a Manoel. Trata-se da chamada “denunciação sucessiva”. Poderá, no entanto, João denunciar a lide a Manoel mesmo sem que eles tenham qualquer relação jurídica? O réu poderá fazer a denunciação da lide “pulando, saltando” todas as demais pessoas da cadeia de transmissão? Em outras palavras, o réu poderá fazer a denunciação da lide por salto (per saltum)? SIM. Há divergência na doutrina, mas prevalece ser possível a denunciação da lide per saltum, tendo ela sido autorizada pelo art. 456 do CC:

Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo.

Nesse sentido é o enunciado 29 da I Jornada de Direito Civil:

Enunciado 29-CJF/STJ: Art. 456: a interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício.

Se o réu (adquirente) fizer a denunciação e o alienante não comparecer aos autos O parágrafo único do art. 456 do CC preconiza:

Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.

Para a doutrina majoritária, este dispositivo revogou o art. 75, II, do CPC, no que tange à denunciação da lide nos casos de evicção. Veja a redação do CPC:

Art. 75. Feita a denunciação pelo réu: II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na defesa até final;

Assim, se o adquirente fizer a denunciação da lide ao alienante e este decidir não refutar o pedido do evictor, o evicto não precisará prosseguir contestando a ação proposta pelo autor. O adquirente poderá até mesmo concordar com o pedido feito pelo evictor e buscar apenas a indenização a ser paga pelo alienante. Responsabilidade pela evicção e coisa adquirida por hasta pública A obrigação do alienante de pagar indenização ao evicto, em caso de evicção, persiste ainda que o bem tenha sido adquirido por meio de hasta pública. Isso está previsto no CC:

Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

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A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz. A hasta pública pode ocorrer por meio de praça (no caso de bem imóvel) ou leilão (bem móvel). Caso o adquirente da coisa em hasta pública venha a perdê-la, a responsabilidade direta pelo pagamento da indenização é do executado. Subsidiariamente, caso o evicto não consiga receber deste, poderá demandar o credor que se beneficiou com a arrematação (responsável indireto, subsidiário). Esta é a solução apresentada por Alexandre de Freitas Câmara, citada por Flávio Tartuce (Direito Civil. São Paulo: Método, 2011, p. 229). Exemplo: João estava sendo executado por Pedro. Para adimplir o débito, uma sala comercial de João foi vendida em hasta pública e, com os recursos obtidos, Pedro foi pago. Quem adquiriu o imóvel foi Carlos. Ocorre que esta sala pertencia, na verdade, a Marcos, que entrou com uma ação reivindicatória. Por conta disso, Carlos (arrematante) perdeu o imóvel que havia adquirido. De quem Carlos poderá cobrar a indenização pela evicção? Em primeiro lugar, de João. Somente se este não tiver como pagar a indenização, a demanda será proposta contra Pedro. Indenização devida em caso de evicção: Como já vimos acima, após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser indenizado pelo alienante por conta deste prejuízo. O valor da indenização englobará o preço pago pelo evicto na compra do bem e mais as outras despesas que ele comprove ter realizado. Segundo o art. 450 do CC, o evicto possui o direito de receber as seguintes quantias: a) Restituição integral do preço que pagou, com juros e correção monetária; b) Indenização pelos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao evictor; c) Indenização pelas benfeitorias necessárias ou úteis não abonadas (art. 453); d) Indenização pelas despesas do contrato; e) Reembolso das custas judiciais e honorários advocatícios; f) Indenização pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção. Veja o que diz o CC:

Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou: I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.

Valor do preço do bem é calculado segundo a data da evicção (e não o dia da aquisição):

Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu (no momento da perda e não na data da alienação), e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

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Assim, por exemplo, se a pessoa comprou o bem por 200 mil reais, mas na data da evicção (anos mais tarde), a coisa valia 300 mil reais, este último valor é que deverá ser devolvido ao evicto. Indenização deve ser paga ainda que a coisa esteja deteriorada

Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.

Ex: Eduardo vendeu um carro a Paulo. Este veículo foi abalroado e ficou avariado e sem uso. Após este acidente, Paulo perde o carro por conta de uma evicção. Mesmo estando deteriorado o automóvel, o evicto terá direito de ser indenizado, a não ser que o alienante prove que a coisa está deteriorada por dolo (no sentido de má-fé) de Paulo.

Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante.

Utilizando o mesmo exemplo: o carro que foi objeto da evicção já estava todo avariado e sem uso. No entanto, o evicto havia conseguido vender algumas peças do motor para uma oficina mecânica. Logo, a quantia que ele conseguiu com isso será descontada do valor da indenização que lhe será paga pelo alienante. Indenização no caso de benfeitorias O evicto é considerado, em princípio, como possuidor de boa-fé. Logo, as benfeitorias necessárias e úteis que tiver feito sobre a coisa, deverão ser pagas. Quem deverá pagá-las? Em princípio, o evictor. Caso este não pague, o evicto poderá cobrar o valor do alienante. A situação normalmente acontece da seguinte forma: o evictor ajuíza a ação reivindicando o bem que está com o evicto. Este, na própria contestação, já deverá pedir que o evictor o reembolse pelas benfeitorias úteis e necessárias que fez na coisa. Se, por algum motivo, o evictor não abonar (reembolsar) o evicto, ele poderá cobrar o valor do alienante. É isso que afirma o art. 453 do CC:

Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas (não reembolsadas) ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante.

Veja agora o que diz o art. 454 do CC:

Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.

O que este dispositivo está dizendo é o seguinte: o evictor pagou ao evicto o valor das benfeitorias que foram realizadas no bem. Ocorre que tais benfeitorias foram feitas ainda pelo alienante (e não pelo evicto). Logo, neste caso, o evicto recebeu indevidamente o reembolso das benfeitorias, já que não foi ele quem as custeou. Em se verificando esta situação, o alienante, quando for pagar ao evicto a indenização pela evicção, poderá descontar do valor a quantia recebida pelas benfeitorias. Perda parcial do bem A evicção pode ser total (quando o evicto perde o bem inteiro) ou parcial (ex: perdeu 50m2 do terreno cuja área é de 300m2).

Se a evicção for parcial, em regra, o evicto será indenizado pela parte da coisa que perdeu e a aquisição da parte que restou continua em vigor. Valendo-se do exemplo acima, o evicto

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será indenizado pelos 50m2 que perdeu, enquanto que os outros 250 m2 continuam com ele normalmente.

Pode acontecer, no entanto, que esta perda parcial seja muito grande, isto é, atinja quase toda a coisa, de forma que se torna economicamente desvantajoso que o evicto permaneça somente com aquela diminuta fração. Em tais hipóteses, a lei entendeu que seria justo conferir ao evicto a escolha entre continuar com esta pequena parte do bem e ser indenizado pelo restante ou, então, ser indenizado pela coisa em sua inteireza, devolvendo a pequena fração que sobrar ao alienante. Ex: Renan vendeu um terreno de 300m2 a Eduardo, que sofreu evicção parcial e perdeu 250m2 da área para um terceiro. Eduardo poderá pleitear a indenização pelos 250m2 perdidos e ficar com os 50m2 que restaram. A lei, porém, confere uma outra alternativa a Eduardo: devolver os 50m2 que lhe sobraram, desfazendo a compra e venda, e pedindo indenização pelos 300m2.

Toda esta explicação foi para que você entendesse a redação do art. 455 do CC:

Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.

O contrato poderá trazer uma cláusula dispondo sobre a evicção A responsabilidade pelo pagamento de indenização no caso de evicção é uma garantia do adquirente que decorre da lei. Assim, não é necessário que o contrato de compra e venda preveja esta indenização. As partes podem, no entanto, reforçar, diminuir ou excluir esta responsabilidade. Veja:

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.

Cláusula de irresponsabilidade pela evicção (cláusula de non praestanda evictione) Como visto no art. 448 do CC, as partes podem estipular uma cláusula no contrato segundo a qual o alienante expressamente afirma que não irá se responsabilizar caso o adquirente sofra uma evicção, ou seja, perca a coisa alienada.

Para evitar que houvesse um prejuízo muito grande ao adquirente, o CC estabelece algumas exigências para que esta cláusula de irresponsabilidade pela evicção tenha plena eficácia.

Assim, para que o alienante fique totalmente isento de responsabilidade, é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos cumulativos:

Deverá haver cláusula expressa excluindo a responsabilidade do alienante pela evicção;

O adquirente deverá ser informado que existe risco de evicção;

O adquirente deverá declarar expressamente que aceita correr o risco da evicção que lhe foi informado.

O que acontece se houver cláusula de irresponsabilidade, mas o adquirente não tiver sido informado que havia risco concreto de evicção ou, se foi informado, não assumiu expressamente este risco? Neste caso, haverá pagamento de indenização, mas o valor desta será apenas equivalente ao preço que o adquirente pagou pela coisa evicta. Em suma, não abrangerá todas as parcelas previstas no art. 450, mas tão somente a restituição do valor pago pelo bem. É o que a doutrina majoritária conclui a partir da interpretação do art. 449 do CC:

Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

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Vale ressaltar, mais uma vez, que o valor do preço a ser restituído é calculo na data em que se evenceu, ou seja, no momento da perda do bem (e não na data da alienação). É o que afirma o parágrafo único do art. 450 do CC. Adquirente sabia que o bem era alheio ou litigioso Se o adquirente (evicto) sabia que a coisa era alheia ou litigiosa poderá mesmo assim pedir indenização em caso de evicção? NÃO. Veja o que dispõe o art. 457 do CC:

Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.

Obras consultadas

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual civil. Vol. 1. 15ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 3ª ed., São Paulo: Método, 2011. ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil. Contratos. Vol. 4, Salvador: Juspodivm, 2012. TARTUCE, Flávio. Direito Civil. São Paulo: Método, 2011.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.112-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/3/2013.

Responsabilidade da administradora de imóveis pelo inadimplemento do locatário

A administradora de imóveis é parte legítima para figurar no polo passivo de ação que objetive indenização por perdas e danos na hipótese em que a pretensão veiculada na petição inicial diga respeito, não à mera cobrança de alugueres atrasados, mas sim à sua responsabilização

civil pela má administração do imóvel. A imobiliária deve indenizar o proprietário pelas perdas e danos decorrentes da frustração de

execução de alugueres e débitos relativos às cotas condominiais e tributos inadimplidos na hipótese em que a referida frustração tenha sido ocasionada pela aprovação deficitária dos

cadastros do locatário e do seu respectivo fiador. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (diferente do caso concreto):

Você é proprietário de um apartamento e contrata uma empresa administradora de imóveis para que ela alugue o bem, receba os aluguéis do locatário e fiscalize o contrato. O apartamento é locado, no entanto, o inquilino atrasa diversas prestações do aluguel. Diante disso, você ajuíza uma ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis em atraso e rescisão contratual. Ocorre que, durante a tramitação da ação, percebe-se que o locatário é insolvente, assim como o fiador do negócio, sendo certo que ambos não possuíam renda fixa e nenhum bem que pudesse servir para pagar a dívida. Detectou-se ainda que tanto um como o outro possuíam contra si diversas execuções ajuizadas. Com base em tal exemplo, indaga-se: Que espécie de contrato foi celebrado entre você e a empresa? Um contrato de administração de imóveis. Em que consiste este contrato? É um contrato de prestação de serviços por meio do qual o proprietário do imóvel (ou o

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condomínio) confere a um administrador (pessoa física ou jurídica), por meio de mandato ou autorização, o poder de gerir o imóvel ou de dirigir seus interesses, mediante o pagamento de uma contraprestação. Para maiores informações, vide MILHOMENS, Jônatas. Manual Prático dos Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 97. Assim em nosso exemplo, após ser celebrado o contrato, a empresa administradora passou a ser mandatária do proprietário do imóvel para, em nome deste, realizar e administrar a locação. Qual é a responsabilidade da empresa administradora do imóvel? Como visto, a administradora figura como mandatária do proprietário. Logo, sua responsabilidade é regida pelo art. 653 do CC, obrigando-se a indenizar o mandante por quaisquer prejuízos advindos de sua conduta culposa:

Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente.

Em caso de inadimplemento do inquilino, a administradora deverá arcar com o pagamento dos aluguéis em atraso? Em regra não. A princípio, não cabe à imobiliária a responsabilidade pelo pagamento de aluguéis, cotas condominiais ou tributos inadimplidos pelo locatário. Excepcionalmente, a administradora terá responsabilidade em duas situações: a) Se houver previsão contratual nesse sentido (o que, na prática, é raro); ou b) Se o contratante provar que a administradora agiu com culpa (sem diligência), não

cumprindo os deveres oriundos da relação contratual. Assim, a “administradora de imóveis é responsável por locação realizada sem as cautelas que a atividade recomenda, sendo por isso obrigada a satisfazer o proprietário naquilo que ele deixou de receber.” (STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. São Paulo: RT, 2004, p. 620). No exemplo fornecido, a imobiliária responderia pelos danos causados ao locador? SIM, considerando que não agiu com diligência na aprovação do locatário e de seu fiador, não exigindo qualquer comprovação da capacidade econômica para cumprir o contrato nem fazendo uma pesquisa sobre a sua situação de solvência. Em outros termos, você poderá ajuizar uma ação contra a administradora, devendo ela ser condenada a pagar os aluguéis em atraso e demais despesas sofridas.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.103.658-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/4/2013.

Responsabilidade civil por morte de filho

A pensão mensal indenizatória devida aos pais pela morte de filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo, dos 14 até os 25 anos de idade da vítima, reduzido,

então, para 1/3 até a data em que o de cujus completaria 65 anos. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Paulo, de 17 anos, faleceu em um determinado acidente causado por culpa da empresa “X”. Os pais de Paulo, hipossuficientes, ajuizaram, por intermédio da Defensoria Pública, ação de indenização contra a empresa. Pediram indenização por danos morais e materiais, alegando que o filho ajudava com seu salário nas despesas da casa.

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Como o STJ tem julgado em casos semelhantes:

Quanto aos danos morais: A indenização por danos morais em caso de morte de filho vem sendo normalmente fixada entre 300 e 500 salários mínimos. Vale ressaltar, no entanto, que este valor não é absoluto, podendo ser estipulado fora destes parâmetros de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Isso porque a indenização por dano moral não está sujeita à tarifação, isto é, a valores fixos, devendo obedecer ao princípio da reparação integral. Para maiores detalhes sobre este ponto, veja o INFORMATIVO Esquematizado 505 do STJ.

Quanto aos danos materiais: No caso de danos materiais por morte, a jurisprudência tem condenado o autor do ilícito a pagar um valor a título de danos emergentes e uma pensão aos pais do falecido como lucros cessantes. Esta indenização encontra fundamento legal no art. 948 do CC:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização (os incisos tratam de dano patrimonial) consiste, sem excluir outras reparações (dano moral): I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; (danos emergentes) II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. (lucros cessantes)

Segundo o STJ, em se tratando de família de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado, dano este passível de indenização, na forma do inciso II do art. 948. Qual é o valor desta pensão e o seu termo final? Normalmente, o STJ utiliza os seguintes critérios:

No período em que o filho falecido teria entre 14 a 25 anos: os pais devem receber pensão em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo;

No período em que o filho falecido teria acima de 25 anos até 65 anos: os pais devem receber pensão em valor equivalente a 1/3 do salário mínimo.

Por que a jurisprudência utiliza estes parâmetros de idade?

14 anos é a idade em que a pessoa pode começar a trabalhar, como aprendiz, segundo a CF/88 (art. 7º, XXXIII). Antes disso, ela não poderia ter nenhuma atividade laborativa remunerada.

25 anos é a idade em que a jurisprudência arbitrou na qual normalmente as pessoas se casam e, com isso, constituem novo núcleo familiar e, em razão deste fato, passam a ajudar menos financeiramente os pais.

65 anos é a expectativa de vida considerada pela jurisprudência. Tais critérios são criticados por alguns doutrinadores, mas é o que prevalece no STJ. 13º salário Vale ressaltar, por ser interessante, que o autor do ilícito deverá pagar aos pais do falecido, ao final de todos anos, uma parcela extra desta pensão, como se fosse um 13º salário que teria direito o filho caso estivesse vivo e trabalhando (REsp 555036/MT, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Turma, julgado em 19/09/2006). No entanto, para a inclusão do 13º salário no valor da pensão indenizatória é necessária a comprovação de que a vítima exercia atividade laboral na época em que sofreu o dano-morte (REsp 1.279.173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013).

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Veja dois precedentes sobre o tema:

1. Tratando-se de família de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado, dano este passível de indenização. 2. Pensão mensal de 2/3 (dois terços) do salário mínimo, inclusive gratificação natalina, contada a partir do dia em que a vítima completasse 14 anos até a data em que viria a completar 25 anos, reduzida, a partir de então, para 1/3 (um terço) do salário mínimo, até o óbito dos beneficiários da pensão ou a data em que a vítima completaria 65 anos de idade, o que ocorrer primeiro. (...) (AgRg no Ag 1217064/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 23/04/2013, DJe 08/05/2013) (...) O STJ sedimentou o entendimento de que, como regra, a pensão mensal devida aos pais, pela morte do filho, deve ser estimada em 2/3 do salário mínimo até os 25 anos de idade da vítima e, após, reduzida para 1/3, haja vista a presunção de que o empregado constituiria seu próprio núcleo familiar, até a data em que o de cujus completaria 65 anos. (...) (AgRg no Ag 1132842/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 12/06/2012

Esta pensão será devida aos pais de Paulo mesmo que ele ainda não trabalhasse? SIM. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que é devida a indenização de dano material consistente em pensionamento mensal aos genitores de menor falecido, ainda que este não exerça atividade remunerada, considerando que se presume ajuda mútua entre os integrantes de famílias de baixa renda. (...) (AgRg no REsp 1228184/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 28/08/2012, DJe 05/09/2012). Súmula 491 do STF: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.279.173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013.

Alimentos fixados em percentual sobre a remuneração e verbas eventuais recebidas pelo devedor

Em regra, os alimentos provisórios fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos do alimentante não abrangem as verbas que não façam parte da sua remuneração habitual.

Se a necessidade do alimentando está plenamente satisfeita, o valor dos alimentos não deverá ser majorado pelo simples fato do alimentante ter tido um incremento em sua renda. Se, ao contrário, o quantum dos alimentos estava abaixo das necessidades do credor, caso haja um

aumento nas possiblidades do devedor, o valor dos alimentos terá que ser aumentado. Assim, mesmo que o alimentante passe a receber mais, o valor dos alimentos não será

aumentado se a quantia paga já for suficiente para atender as necessidades do alimentando. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra seu pai, Fausto, funcionário regularmente contratado de uma empresa. O juiz, por meio de decisão interlocutória, de ofício, deferiu a tutela antecipada, concedendo alimentos provisórios ao menor à razão de 30% sobre os valores líquidos percebidos por Fausto, incidentes, inclusive, sobre ganhos eventuais (abono, participação nos lucros e gratificações), que devem ser descontados diretamente da folha de pagamento do genitor.

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Fausto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste caso? Agravo de instrumento (art. 522 do CPC). O juiz pode conceder alimentos provisórios de ofício? SIM. Trata-se de uma das hipóteses em que é possível concessão de tutela antecipada de

ofício. Esta previsão está implícita no art. 4º da Lei n. 5.478/68:

Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre verbas esporádicas, eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do trabalhador, tendo natureza indenizatória e que não integram os rendimentos do alimentante, tais como adicionais, abonos, participação nos lucros e gratificações. Após sucessivos recursos, o caso do recorrente chegou ao STJ. O que decidiu a Corte? O STJ decidiu que, em regra, os alimentos provisórios fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos do alimentante não abrangem as verbas que não façam parte da sua remuneração habitual. Como é sabido, o valor dos alimentos é fixado segundo a necessidade do alimentando (credor) e a possibilidade do alimentante (devedor), dentro de uma relação de proporcionalidade. Esta regra está prevista no § 1º do art. 1.694 do CC:

§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

Se as possibilidades econômicas do alimentante aumentarem, o valor dos alimentos deverá ser, obrigatoriamente, majorado? NÃO. Se a necessidade do alimentando está plenamente satisfeita, o valor dos alimentos não deverá ser majorado pelo simples fato do alimentante ter tido um incremento em sua renda. Se, ao contrário, o quantum dos alimentos estava abaixo das necessidades do credor, caso haja um aumento nas possiblidades do devedor, o valor dos alimentos terá que ser aumentado. Assim, em resumo, “a fortuna do alimentante não está associada, de forma indiscriminada, ao valor desses alimentos” (Nancy Andrighi). Em outras palavras, mesmo que o alimentante passe a receber mais, o valor dos alimentos não será aumentado se o quantum pago já for suficiente para atender as necessidades do alimentando. Em linhas mais técnicas, “o aumento na fortuna do alimentante, independentemente da natureza da verba que dá origem a esse aumento, não tem o condão de inflar o valor dos alimentos, se esses já foram convenientemente fixados, pois as necessidades não se aumentam, automaticamente, com a possibilidade de aumento dos ganhos do alimentante.” (Nancy Andrighi). O acórdão cita a lição de Arnaldo Rizzardo para o tema: “O quantum não se mede em função dos recursos que oferece o alimentante. Não está este obrigado a dividir o seu rendimento. A responsabilidade limita-se a atender as exigências, v.g., de alimentação, moradia, vestuário, educação e recreação. Não são os alimentos concedidos ad utilitatem, ou ad voluptatem, mas ad necessitatem. O aumento da possibilidade nem sempre impõe a elevação do montante a pagar.” (RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 942).

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Cuidado O entendimento acima exposto é o resumo do que foi decidido pela 3ª Turma do STJ no REsp 1.261.247-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2013, contudo, não se trata de matéria pacífica na Corte. Isso porque em 25/06/2013, o STJ divulgou, em seu site, notícia de que a 4ª Turma decidiu que “o valor recebido pelo alimentante a título de horas extras, mesmo que não habituais, embora não tenha caráter salarial para efeitos de apuração de outros benefícios trabalhistas, é verba de natureza remuneratória e integra a base de cálculo para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos.” (http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=110194). Desse modo, a decisão, em princípio, destoa do que foi sustentado acima. Infelizmente, como corre em segredo de justiça, não foi divulgado o número do processo, de sorte que não tenho maiores detalhes sobre o caso. Contudo, irei continuar acompanhando e, assim que a decisão for publicada, irei fazer um post comparando os dois posicionamentos.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.261.247-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2013.

Alimentos fixados em valor fixo não variam se houver acréscimo das verbas trabalhistas

No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo correspondente a determinado número de salários mínimos a serem pagos em periodicidade mensal, o

alimentando não tem direito a receber, com base naquele título judicial, quaisquer acréscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali não previstos.

Os alimentos arbitrados em valor fixo devem ser analisados de forma diversa daqueles arbitrados

em percentuais sobre "vencimento", "salário", "rendimento", "provento", dentre outros ad valorem. No primeiro caso, a dívida se consolida com a fixação do valor e periodicidade em que

deve ser paga, não se levando em consideração nenhuma outra base de cálculo. O débito alimentar arbitrado em valor fixo deve ser pago pelo montante e na exata periodicidade constante no título judicial, revelando-se ofensa à coisa julgada a determinação para que o valor

arbitrado seja pago a propósito do recebimento de outras verbas pelo devedor. Comentários Ainda sobre o tema tratado acima, imagine a seguinte situação hipotética:

Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra seu pai, Fausto, funcionário regularmente contratado de uma empresa. O juiz proferiu sentença condenado o genitor a pagar alimentos no valor de 2 salários mínimos. Vejamos agora dois pontos interessantes sobre o tema: 1) É possível a fixação de pensão alimentícia em percentual ou número de salários mínimos? SIM, é possível. Este é o entendimento pacífico do STJ (REsp 1025769/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/08/2010). 2) Se Fausto, em determinado mês, receber gratificações extras em seu trabalho, o valor pago a título de pensão deverá ser aumentado (exs: abono, comissão por produtividade)? NÃO. No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo, correspondente a determinado número de salários mínimos a serem pagos em periodicidade mensal, o alimentando não tem direito a receber, com base naquele título judicial, quaisquer acréscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali não previstos. Para o STJ, na hipótese de alimentos arbitrados em valor fixo, salvo disposição em contrário na decisão que os fixa, os rendimentos do devedor são levados em consideração para aferir suas possibilidades ou, quando muito, é mero veículo de desconto do valor devido. Assim,

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eventuais flutuações dos rendimentos do alimentante, para cima ou para baixo, ou mesmo sua supressão — ao menos até que os valores sejam revistos em ação própria —, não são aptas a alterar o quantum devido, razão pela qual o recebimento de parcelas trabalhistas a título de 13º, férias e outras verbas da mesma natureza não tem o condão de influenciar a dívida consolidada, sob pena de alterar o binômio inicial (necessidade/possibilidade) considerado para a determinação do montante fixo. Basta mencionar, por exemplo, que, em situações nas quais a remuneração do alimentante é eventual ou em periodicidade diversa da mensal, os alimentos fixados em valor determinado a ser pago mensalmente não acompanham os valores recebidos pelo devedor. A dívida existe, é certa e deve ser paga na data fixada independentemente dessa circunstância. Nesse caso, fazer que o devedor pague o valor arbitrado sempre que receber remuneração — como pagaria até mesmo no caso de não recebimento — consubstancia evidente vulneração do título judicial. Enfim, se o magistrado sentenciante arbitrou os alimentos em valor fixo à luz das circunstâncias do caso concreto, há de se presumir que esse foi o método por ele considerado como o mais adequado à satisfação do binômio necessidade/possibilidade.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.091.095-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Competência para julgar ações contra sociedade de economia mista em liquidação extrajudicial

Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar ação proposta em face de sociedade de economia mista, ainda que se trate de instituição financeira em regime de

liquidação extrajudicial, sob intervenção do Banco Central. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Henrique quer ajuizar uma ação contra o “Banco Santos”. Ocorre que esta instituição financeira encontra-se sob intervenção do Banco Central (liquidação extrajudicial). Neste caso, pelo fato do BACEN (autarquia federal) figurar como interventor, esta demanda terá que ser proposta na Justiça Federal? NÃO. Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar ação proposta em face de sociedade de economia mista, ainda que se trate de instituição financeira em regime de liquidação extrajudicial, sob intervenção do Banco Central. O art. 109, I, da CF estabelece:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Desse modo, percebe-se que não existe previsão no art. 109 da CF/88 que atribua competência à Justiça Federal para processar e julgar causas envolvendo sociedades de economia mista. Ademais, o art. 109 é explícito ao excluir da competência da Justiça Federal as causas relativas à falência. A intervenção e a liquidação extrajudicial são

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procedimentos concursais administrativos que se equiparam a uma falência (art. 34

da Lei n. 6.024/74). Logo, as ações que envolvam tais procedimentos também devem ser excluídas do âmbito da Justiça Federal.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.819-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2013.

É impossível a cumulação entre ação de nulidade de registro com indenização por danos

É indevida a cumulação, em um mesmo processo, do pedido de reconhecimento de nulidade de registro marcário com o de reparação de danos causados por particular que teria utilizado

indevidamente marca de outro particular. Comentários Imagine a seguinte situação:

A empresa alimentícia “P” possui um salgadinho chamado “CHEE.TOS®”, marca esta devidamente registrada no INPI há muitos anos. A empresa “T”, também do ramo alimentício, conseguiu registrar no INPI uma marca denominada de “CHEESE.KI.TOS®” a ser utilizada em sua linha de salgadinhos. Após já ter sido efetuado o registro, a empresa “P” descobriu este fato e ajuizou uma ação contra o INPI (autarquia federal) e a empresa “T”, pedindo o reconhecimento da nulidade do registro marcário “CHEESE.KI.TOS®” e, cumulativamente, uma indenização a ser paga pela empresa “T” pelos danos causados à empresa “P”. É possível esta cumulação de pedidos? NÃO. Segundo decidiu o STJ, é indevida a cumulação, em um mesmo processo, do pedido de reconhecimento de nulidade de registro marcário com o de reparação de danos causados por particular que teria utilizado indevidamente marca de outro particular. A competência para julgar o pedido anulatório é da Justiça Federal, considerando que há o interesse do INPI, esta autarquia federal (art. 109, I, da CF/88). No entanto, a ação de indenização volta-se apenas contra a empresa privada “T”, cuidando-se de demanda entre particulares, cuja apreciação compete à Justiça Estadual. Desse modo, não é possível a cumulação de pedidos, porquanto, na forma do art. 292, § 1º, II, do CPC, esta só é possível na hipótese em que o mesmo juízo é competente para de todos conhecer:

Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação: II - que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

O registro da marca “CHEESE.KI.TOS®” poderia ter sido efetuado? NÃO. Ambas as marcas referem-se a salgadinhos snacks, exploram o mesmo mercado consumidor e, indiscutivelmente, têm grafia e pronúncia bastante assemelhadas, circunstâncias que fazem com que seja possível uma confusão entre os consumidores. Assim, o registro da marca “CHEESE.KI.TOS” violou o art. 124, XIX, da Lei da Propriedade Industrial e não atende aos objetivos da Política Nacional de Relações de Consumo, consoante disposto no artigo 4º, incisos I, III e VI, do Código de Defesa do Consumidor, sendo de rigor a sua anulação.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.188.105-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para julgar ação de reconhecimento de união estável homoafetiva

A competência para processar e julgar ação destinada ao reconhecimento de união estável homoafetiva é da vara de família.

Comentários A competência para julgar a ação de reconhecimento de união estável homoafetiva é da vara cível ou da vara de família? VARA DE FAMÍLIA. Segundo decidiu o STF, aplica-se às relações estáveis homoafetivas, por analogia, a legislação atinente às relações estáveis heteroafetivas, tendo em vista a caracterização dessa relação como modelo de entidade familiar (STF, ADI n. 4.277/DF, Min. Rel. Ayres Britto, DJe 5/5/2011).

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 964.489-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

Conversão do procedimento ordinário em sumário

O magistrado, percebendo que a demanda se amolda a uma das hipóteses do art. 275 do CPC, poderá determinar, de ofício, a conversão do procedimento ordinário em sumário. No entanto,

quando o juízo converte o procedimento de ordinário para sumário, deverá adotar medidas para adequar o procedimento ao novo rito, oportunizando às partes a indicação das provas que pretendem produzir, inclusive com a apresentação de rol de testemunhas, sob pena de

cerceamento do direito de defesa. Comentários NOÇÕES GERAIS SOBRE O PROCEDIMENTO SUMÁRIO

Procedimento significa “rito”, ou seja, sequência organizada de atos processuais. A depender do tipo de demanda proposta, os atos processuais irão ser organizados conforme um determinado rito (procedimento). Ex: se João ajuíza uma ação contra Maria cobrando 500 mil reais, os atos deste processo serão organizados segundo o procedimento comum ordinário. Ex2: se Pedro maneja uma ação de consignação em pagamento contra a empresa “B”, os atos deste processo seguirão o rito do procedimento especial previsto nos arts. 890-900 (ação de consignação em pagamento). O procedimento é considerado especial quando ele é adotado para uma situação específica (ex: a lei prevê um procedimento especial para os casos de ação possessória). Ao contrário, o procedimento é comum quando pode ser aplicado em várias hipóteses (são inúmeras as demandas que se utilizam do procedimento comum). No processo de conhecimento (“fase de conhecimento”), os procedimentos são divididos em dois grupos: a) Procedimento comum (que pode ser ordinário ou sumário); b) Procedimentos especiais (existindo várias subespécies).

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HIPÓTESES DE CABIMENTO O CPC traz as hipóteses nas quais terá que ser adotado o procedimento sumário. O legislador utilizou dois critérios para escolher as causas que deveriam tramitar sob o rito sumário: I – causas de até 60 salários-mínimos; II – causas que tratem sobre determinados assuntos (não importando o valor).

Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário: I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo; II - nas causas, qualquer que seja o valor: a) de arrendamento rural e de parceria agrícola; b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio; c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução; f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial; g) que versem sobre revogação de doação; h) nos demais casos previstos em lei. Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao estado e à capacidade das pessoas.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS PROCEDIMENTOS ORDINÁRIO E SUMÁRIO O procedimento sumário foi idealizado pelo legislador para ser mais simples e rápido que o ordinário. Vejamos as principais diferenças entre eles:

ORDINÁRIO SUMÁRIO

1 Petição Inicial

O autor, na petição inicial, indica apenas quais os meios de prova que pretenderá utilizar (testemunhal, pericial etc). É feito um requerimento genérico (“Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, em especial a testemunhal e pericial”). Somente depois é que o autor será intimado para especificar (detalhar) as provas (arrolar testemunhas, indicar quesitos e assistente técnico etc) (art. 331 do CPC). Não há necessidade, portanto, de indicação do rol de testemunhas na petição inicial.

No procedimento sumário, não basta ao autor a mera indicação do meio de prova na petição inicial, devendo já enumerar quais são as testemunhas, bem como indicar os quesitos, sob pena de preclusão probatória para o autor. Em outras palavras, o autor, na própria petição inicial, terá que:

Arrolar as testemunhas;

Formular os quesitos para perícia e indicar assistente técnico.

2 Citação, defesa e

audiência inicial

O réu é citado para apresentar sua resposta no prazo legal de 15 dias.

O réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser realizada no prazo de 30 dias, momento em que, não tendo havido conciliação, apresentará a sua defesa. O réu deverá ser citado com antecedência mínima de 10 dias.

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3 Contes-tação

O réu, na contestação, precisará apenas indicar, mas não especificar as provas que pretende produzir. Não há necessidade, portanto, de indicação do rol de testemunhas na contestação.

O réu, na contestação, já deverá apresentar documentos, arrolar testemunhas e indicar quesitos e assistentes técnicos.

4 Restrição quanto a

alguns tipos de defesa

Admite-se reconvenção, ação declaratória incidental e intervenção de terceiros.

Não são permitidas:

Reconvenção (mas cabe pedido contraposto);

Ação declaratória incidental;

Intervenção de terceiros (com exceção de assistência, recurso de terceiro prejudicado e intervenção fundada em contrato de seguro).

5 Apelação

No julgamento da apelação contra a sentença haverá, em regra, a figura do Desembargador revisor do voto do Desembargador relator, salvo nas hipóteses do § 3º do art. 551 do CPC.

Nos recursos interpostos nas causas de procedimento sumário não haverá revisor.

CONVERSÃO DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO EM SUMÁRIO Pode acontecer de o autor ajuizar a ação indicando como rito aplicável o ordinário (“ação ordinária”) quando, na verdade, o correto seria que ela tramitasse segundo o rito sumário, por se enquadrar em uma das hipóteses do art. 275 do CPC. Ex: Manoel ajuíza uma “ação ordinária” (ação segundo o rito ordinário) pleiteando a revogação de uma doação, situação que está prevista no art. 275, II, “g”, do CPC. O magistrado, percebendo que a demanda se amolda a uma das hipóteses do art. 275 do CPC, poderá determinar, de ofício, a conversão do procedimento ordinário em sumário? SIM, é possível. No entanto, quando o juízo converte o procedimento de ordinário para sumário, deverá adotar medidas para adequar o procedimento ao novo rito, oportunizando às partes a indicação das provas que pretendem produzir, inclusive com a apresentação de rol de testemunhas, sob pena de cerceamento do direito de defesa. Explicando melhor: se o autor ajuizou a ação sob o rito ordinário, ele provavelmente não apresentou o rol de testemunhas na petição inicial, considerando que isso não é necessário. Se o juiz converteu o procedimento em sumário significa que não existirá mais a fase do § 2º do art. 331 do CPC, ou seja, não haverá uma nova oportunidade para o autor apresentar os nomes das testemunhas. Para evitar este prejuízo, a jurisprudência afirma que o juiz, ao determinar a conversão em sumário, deverá dar uma chance para que o autor emende a petição inicial e especifique as provas que deseja produzir (apresente o rol de testemunhas, os quesitos para perícia etc.). A respeito do tema, o STJ citou a lição de Humberto Theodoro Júnior: “Ao determinar, porém, a conversão de causa ordinária em sumária, o juiz deverá abrir prazo ao autor para que este complete a inicial, juntando o seu rol de testemunhas, para evitar prejuízo à parte, eis que não terá, no novo procedimento, outra oportunidade para fazê-lo.” (Curso de Direito Processual Civil. V. I, 39ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 308)

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Nesse mesmo sentido:

(...) 2. A controvérsia está em saber se há preclusão na apresentação do rol de testemunhas e de quesitos quando a ação foi inicialmente ajuizada no rito ordinário e, posteriormente, convertida em sumário. 3. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que não há nulidade do processo por ter sido escolhido o rito ordinário no lugar do rito sumário, a não ser que se demonstre prejuízo, mormente em razão da dilação probatória mais ampla, o que possibilita maior efetividade do princípio constitucional da ampla defesa. 4. Por lógica, se a parte pode escolher o rito ordinário no lugar do sumário sem que configure nulidade devido à maior possibilidade de ampla defesa e dilação probatória, não pode ser surpreendida pela mudança de rito com prejuízo da perda do momento de apresentação do rol de testemunha e dos quesitos da perícia. Seria absurda a escolha pelo autor de um rito que possibilite a maior dilação probatória, mas ser ceifado do direito de apresentação das testemunhas e quesitos por mudança do rito por determinação do juízo, sem que lhe seja concedida a oportunidade de emendar a inicial. (REsp 1131741/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 27/10/2009)

Obs: se a conversão foi determinada após o réu ter apresentado a sua contestação, o juiz terá que reabrir o prazo para a especificação das provas tanto para o autor como para o requerido, considerando que na contestação no rito ordinário também não é necessária a especificação das provas. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE CASO O AUTOR OPTE PELO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO E NINGUÉM QUESTIONE ESTA ESCOLHA Em nosso exemplo acima, a demanda enquadrava-se no art. 275 do CPC (rito sumário) e, no entanto, o autor optou por ajuizar a ação sob o procedimento ordinário. O juiz, de ofício, determinou a conversão do procedimento para o sumário. Vimos acima que ele pode fazer isso. Imaginemos, porém, que o juiz não converteu o procedimento de ofício e o réu não impugnou o rito escolhido. Haveria alguma nulidade? Existe nulidade se a ação deveria correr no rito sumário, mas acabou tramitando sob o procedimento ordinário? NÃO. É pacífica a orientação do STJ, no sentido de que “inexiste prejuízo ao réu e consequentemente nulidade processual, nos casos de adoção do rito ordinário em lugar do sumário, dada a maior amplitude de defesa conferida por aquele procedimento” (REsp 1.026.821/TO, Quarta Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe de 28/8/2012). Assim, se a situação se enquadrava em uma das hipóteses do art. 275 do CPC e o autor elegeu o rito ordinário, não tendo este rito sido convertido pelo juiz de ofício nem impugnado pelo réu, o procedimento seguirá sendo o ordinário até seu trânsito em julgado, sem que haja nulidade processual pela ausência de prejuízo.

Artigos do CPC

Para seu estudo sobre o procedimento sumário ficar mais completo vale a pena ler os artigos do CPC pelo fato de muitas questões cobrarem a reprodução literal da lei. Vejamos:

Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias, citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista no § 2º deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os prazos contar-se-ão em dobro. § 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser auxiliado por conciliador. § 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença.

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§ 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por preposto com poderes para transigir. § 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do procedimento sumário em ordinário. § 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior complexidade.

Principais pontos: • Prazo para audiência: 30 dias • Antecedência mínima para o réu ser citado: 10 dias • Se a Fazenda Pública for ré: tais prazos são contados em dobro Aspectos sobre a revelia: 1) Firme no propósito de concentrar os atos processuais, o procedimento sumário prevê a necessidade de presença do réu na audiência de conciliação para que, primeiro, seja tentada a autocomposição da demanda e, em caso de negativa, se prossiga com a apresentação de contestação, sob pena de decretação da revelia (REsp 1096396/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 07/05/2013). 2) Assim, em regra, haverá revelia se o réu não comparecer à audiência. Se não for à audiência, mas enviar preposto e advogado com poderes para transigir, o réu não será considerado revel; 3) O réu será considerado revel se comparecer à audiência sem, no entanto, apresentar contestação (AgRg no Ag 1331798/RJ, Rel. Min. João Otávio De Noronha, Quarta Turma, julgado em 05/05/2011); 4) A presença do advogado da parte ré é imprescindível na audiência de conciliação do procedimento sumário, uma vez que neste momento processual será oportunizada a prática de atos defensivos e outros relativos à produção de prova, os quais jamais podem ser realizados pela própria parte, mas, sim, por intermédio de seu causídico (REsp 336.848/DF, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado do TJ/RS), Terceira Turma, julgado em 06/04/2010). Desse modo, mesmo que o réu compareça à audiência, deverá estar acompanhado de advogado.

Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico. § 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. § 2º Havendo necessidade de produção de prova oral e não ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 329 e 330, I e II, será designada audiência de instrução e julgamento para data próxima, não excedente de trinta dias, salvo se houver determinação de perícia.

Principais pontos: • Contestação é apresentada na própria audiência; • Provas são especificadas na contestação; • É possível pedido contraposto (fundado nos mesmos fatos referidos na petição inicial);

Art. 279. Os atos probatórios realizados em audiência poderão ser documentados mediante taquigrafia, estenotipia ou outro método hábil de documentação, fazendo-se a respectiva

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transcrição se a determinar o juiz. Parágrafo único. Nas comarcas ou varas em que não for possível a taquigrafia, a estenotipia ou outro método de documentação, os depoimentos serão reduzidos a termo, do qual constará apenas o essencial.

Art. 281. Findos a instrução e os debates orais, o juiz proferirá sentença na própria audiência ou no prazo de dez dias.

Art. 475-A (...) § 3º Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 698.598-RR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 2/4/2013.

Valor da causa e ação de reintegração de posse por força de comodato

O valor da causa em ação de reintegração de posse que objetive a retomada de bem objeto de contrato de comodato que tenha sido extinto deve corresponder à quantia equivalente a doze

meses de aluguel do imóvel. Comentários Valor da causa

O autor da ação deve indicar, na petição inicial, o valor da causa (art. 282, V, do CPC). A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato (art. 258). O valor da causa deve ser estipulado em reais. Importância do valor da causa A fixação do valor da causa é importante porque pode influenciar nos seguintes aspectos, além de outros: a) Determinação da competência (art. 91 do CPC); b) Definição do procedimento que será aplicado (ordinário, sumário, sumaríssimo);

c) Limitação ao direito de recorrer (art. 34 da Lei n. 6.830/80); d) Dispensa de reexame necessário (art. 475, § 2º do CPC); e) Condenação dos honorários, que podem ser calculados com base no valor da causa. Além disso, o valor da causa servirá, em regra, para determinar o quantum a ser pago como taxa judiciária. Tipos de valor da causa Há dois tipos de valor da causa: • Valor da causa legal: é o valor da causa calculado de acordo com um critério legal

previsto no art. 259 do CPC. • Valor da causa arbitrado pelo autor: quando não está previsto no art. 259. Critério para o valor da causa arbitrado pelo autor Quando o valor da causa não estiver previsto no art. 259, o valor a ser atribuído pelo autor deve corresponder à vantagem econômica que se busca com a demanda judicial. Em outras palavras, deve ser verificado o valor econômico do bem da vida pleiteado, sendo este o valor da causa. Ação de reintegração de posse que objetive a retomada de bem dado em comodato O STJ decidiu que o valor da causa em ação de reintegração de posse que objetive a

Prática forense

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retomada de bem objeto de contrato de comodato que tenha sido extinto deve corresponder à quantia equivalente a 12 meses de aluguel do imóvel. Por ausência de expressa disposição do CPC, o STJ tem entendido que o valor da causa nas ações possessórias deve corresponder ao efetivo benefício patrimonial pretendido pelo autor. Dessa forma, como o benefício patrimonial almejado pelo autor da referida ação de reintegração de posse, referente a imóvel que fora objeto de um extinto contrato de comodato, consubstancia-se no valor do aluguel que ele estaria deixando de receber enquanto o réu estivesse na posse do bem, mostra-se razoável a aplicação analógica do disposto no art. 58, III, da Lei 8.245/1991 para fixar o valor da causa da aludida ação possessória como correspondente a 12 meses de aluguel do imóvel objeto da demanda:

Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar-se-á o seguinte: III - o valor da causa corresponderá a doze meses de aluguel (...)

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.839-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/3/2013.

Juiz não está vinculado às conclusões do laudo pericial

É possível ao magistrado, na apreciação do conjunto probatório dos autos, desconsiderar as conclusões de laudo pericial, desde que o faça motivadamente.

Comentários O juiz fica vinculado às conclusões expostas pelo perito, no laudo produzido? NÃO, não existe tal vinculação. Assim, é possível que o magistrado, apreciando o conjunto probatório dos autos (ou seja, todas as provas em conjunto), desconsidere as conclusões do laudo pericial, devendo, contudo, fazer isso de forma motivada. Trata-se, inclusive, de texto expresso do CPC:

Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos.

Assim, o juiz “poderá desprezar o laudo e fundar seu julgamento em outras provas, desde que seu convencimento seja devidamente motivado. Pode arguir, por exemplo, que o laudo foi inconsistente, incoerente, insuficiente na técnica utilizada etc.” (DIDIER JR., Fredie. et. al.; Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2, 8ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 259). Vale ressaltar, mais uma vez, que o magistrado precisará, obrigatoriamente, expor, de forma motivada, as razões pelas quais está afastando as conclusões do laudo pericial. O juiz possui livre convencimento para apreciar as provas, mas isto deve ocorrer de forma motivada (“livre convencimento motivado”):

Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento.

Na fundamentação a ser exposta pelo julgador, este não poderá trazer aos autos impressões pessoais e conhecimentos extraprocessuais que não possam ser objeto do contraditório e da ampla defesa pelas partes litigantes.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.095.668-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/3/2013.

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Ação de exibição de documentos

Para que o interessado na prova ajuíze ação de exibição de documentos é DISPENSÁVEL que, antes da propositura, ele tenha requerido extrajudicialmente o documento à pessoa que está

na sua posse. No entanto, incumbe ao autor de ação exibitória o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios na hipótese em que ele não tenha requerido, em

momento anterior à propositura da ação, a apresentação dos documentos no âmbito extrajudicial, e o réu não tenha oferecido resistência à pretensão, tendo apresentado, logo

após a citação, os documentos solicitados pelo autor. Comentários Caso uma pessoa precise de determinado documento para defender seu interesse em juízo

e esta prova esteja em poder de terceiro, ela poderá ingressar com um pedido ao juiz para que seja exibido o documento. Este pedido de exibição pode ser: a) Incidental: quando o documento for necessário para ser exibido em um processo que já

está em curso (arts. 355-363 do CPC); b) Preparatório (cautelar, autônoma): quando o pleito de exibição for formulado antes da

instauração do processo (arts. 844-845 do CPC). Para que o interessado na prova ajuíze a ação preparatória de exibição é indispensável que, antes, ele requeira extrajudicialmente o documento à pessoa que está na sua posse? Em outras palavras, é necessário que a pessoa que possui o documento negue-se a fornecê-lo para que seja proposta a ação exibitória? NÃO. O prévio requerimento extrajudicial de apresentação de documentos não é requisito necessário à configuração de interesse de agir em ação exibitória de documentos. Este é o entendimento do STJ, como se observa no seguinte exemplo:

(...) O cliente de instituição bancária possui interesse de agir na propositura de ação cautelar de exibição de documentos para instruir ação principal, na qual discutirá a relação jurídica deles decorrentes, independentemente de prévio pedido administrativo. (...) (AgRg no AREsp 24547/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 15/05/2012)

No entanto, esta conduta precipitada do autor poderá gerar despesas extras, conforme você verá mais abaixo. Há pagamento de custas e honorários advocatícios na ação cautelar de exibição? SIM. O STJ entende que a ação cautelar de exibição de documentos (art. 844 do CPC) possui natureza contenciosa, de forma que, na hipótese de sua procedência, há que se condenar a parte vencida ao pagamento dos ônus sucumbenciais, tendo em vista a aplicação do princípio da causalidade (REsp 786223/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, julgado em 16/03/2006). Se o réu não se recusar a fornecer o documento, quem pagará estas despesas? O autor. Segundo decidiu o STJ, incumbe ao autor de ação exibitória de documentos comuns entre as partes o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios na hipótese em que ele não tenha requerido, em momento anterior à propositura da ação, a apresentação dos documentos no âmbito extrajudicial, e o réu não tenha oferecido resistência à pretensão, tendo apresentado, logo após a citação, os documentos solicitados pelo autor.

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Em observância ao princípio da causalidade, aquele que deu causa à propositura da ação de exibição de documentos deve arcar com o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios. Nesse contexto, não tendo o autor buscado previamente a exibição dos documentos na via administrativa, foi ele próprio quem deu causa à propositura da demanda, devendo, pois, arcar com os ônus decorrentes (REsp 1.232.157-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/3/2013).

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.157-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/3/2013.

Recursos (embargos infringentes)

Não são cabíveis embargos infringentes para impugnar acórdão não unânime que se limite a anular a sentença em razão de vício na citação.

A admissibilidade dos embargos infringentes pressupõe que a divergência derive do mérito da controvérsia — sendo incabível quando se tratar de matéria eminentemente processual — e, mais do que isso, é necessário que se trate de reforma ou substituição da decisão de primeiro

grau, e não simples anulação. Comentários Embargos infringentes são uma espécie de recurso.

Os embargos infringentes só cabem para questionar acórdão. Não basta, contudo, que seja acórdão, é preciso que ele seja NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que houve voto vencido. A finalidade dos embargos infringentes é a de renovar a discussão para fazer prevalecer as razões do voto vencido. O que é mais difícil de entender, sendo o mais cobrado nos concursos, são as hipóteses de cabimento dos embargos infringentes. Segundo o art. 530 do CPC, cabem embargos infringentes somente em duas hipóteses: 1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reforma, em grau de apelação, a

sentença de mérito. 2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julga procedente a ação rescisória.

1ª) contra acórdão não unânime (por maioria)

proferido por TJ ou TRF que julgou APELAÇÃO e REFORMOU a sentença de mérito

2ª) contra acórdão não unânime (por maioria)

proferido por Tribunal (de 2ª instância ou superior)

que julgou a AÇÃO RESCISÓRIA

tendo julgado PROCEDENTE essa ação rescisória.

Prazo dos embargos infringentes: 15 dias Quem julga: o próprio Tribunal, segundo as regras do regimento interno. Exemplo da hipótese 1: “A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”. O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito. “B” interpõe apelação ao TJ. O TJ, por meio de uma Câmara Cível, composta por 3 Desembargadores, reforma a sentença do juiz, afirmando que “A” não tem direito à indenização. Dos 3 Desembargadores, 2 votaram pela reforma e 1 votou pela manutenção da sentença, ou seja, o acórdão foi não unânime. Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.

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Exemplo da hipótese 2: “A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”. O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito. “B” interpõe apelação ao TJ que, no entanto, mantém a sentença. Ocorre o trânsito em julgado. “B” ajuíza ação rescisória e o Tribunal, por maioria, julga procedente a rescisória. Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes. Pergunta: Se o Tribunal, ao julgar a apelação, em acórdão não unânime, anula a sentença em razão de vício na citação, cabem embargos infringentes? NÃO. Não são cabíveis embargos infringentes para impugnar acórdão não unânime que se limite a anular a sentença em razão de vício na citação. O art. 530 do CPC, que trata do cabimento dos embargos infringentes, exige que tenha havido reforma de “sentença de mérito”. Assim, a admissibilidade dos embargos infringentes pressupõe que a divergência derive do mérito da controvérsia. Logo, é incabível quando se tratar de matéria eminentemente processual. Além disso, é necessário que se trate de reforma ou substituição da decisão de primeiro grau, e não de simples anulação.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.320.558-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/4/2013.

Reconhecimento de que determinado assunto possui repercussão geral não acarreta o sobrestamento de MS que tramita no STJ

O reconhecimento da repercussão geral pelo STF não implica, necessariamente, a suspensão de mandado de segurança em trâmite no STJ. Isso porque o que fica sobrestado são os recursos.

Assim, eventual recurso extraordinário interposto em face de acórdão proferido pelo STJ ou por outros tribunais fica sobrestado, mas não um mandado de segurança.

Comentários Para maiores informações sobre a repercussão geral, vide o Informativo 699 do STF.

Processo STJ. 3ª Seção. MS 11.044-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/3/2013.

Arresto executivo eletrônico

É possível a realização de arresto executivo on-line na hipótese em que o executado não tenha sido encontrado pelo oficial de justiça para a citação.

Comentários Em uma execução de título extrajudicial para pagar quantia certa, pode acontecer de o oficial de justiça não localizar o executado para ser citado. Neste caso, se forem localizados bens do patrimônio do devedor, poderá ser realizado o ARRESTO EXECUTIVO de tais coisas a fim de que sejam utilizadas para a satisfação da dívida. É o que determina o art. 653 do CPC:

Art. 653. O oficial de justiça, não encontrando o devedor, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução. Parágrafo único. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o devedor três vezes em dias distintos; não o encontrando, certificará o ocorrido.

O arresto executivo de que trata o art. 653 do CPC consubstancia a constrição de bens em nome do executado quando este não for encontrado para a citação. Trata-se de medida que objetiva assegurar a efetivação de futura penhora na execução em curso e somente ocorre se o devedor não foi citado.

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Caso tenha sido possível a citação, a medida a ser decretada não é mais o arresto executivo e sim a penhora. A doutrina afirma, portanto, que o arresto executivo é um ato de “pré-penhora” ou “penhora antecipada”. Portanto, o arresto executivo visa a evitar que a tentativa frustrada de localização do devedor impeça o andamento regular da execução, ocorrendo antes que tenha havido a citação. A citação será condição necessária apenas para que o arresto seja convertido, posteriormente, em penhora. É possível a realização do arresto executivo de forma on-line, ou seja, utilizando-se do sistema BACENJUD? SIM. É possível a realização da penhora on-line, consistente na localização e apreensão, por meio eletrônico, de valores, pertencentes ao executado, depositados ou aplicados em instituições bancárias. Havia dúvida se seria possível ou não o arresto executivo on-line pelo fato de não haver previsão legal expressa nesse sentido. No entanto, o STJ decidiu que poderia ser aplicado, por analogia, o art. 655-A do CPC, que trata sobre a penhora on-line:

Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.370.687-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 4/4/2013.

Execução provisória de sentença que concede gratificação a servidor

A implementação de gratificação no contracheque de servidor público cujo direito foi reconhecido pelo Poder Judiciário, inclusive em sede de mandado de segurança, deve se dar

após o trânsito em julgado da decisão, nos termos do artigo 2º-B da Lei n. 9.494/1997.

Contudo, nos casos de INSTITUIÇÃO DE PENSÃO por morte de servidor público, o STJ tem admitido a possibilidade de execução provisória contra a Fazenda Pública, porque a situação não está inserida nas vedações do art. 2º-B da Lei n. 9.494/97, cuja interpretação deve ser restritiva.

Comentários REGRA GERAL Imagine a seguinte situação hipotética: Antônio, servidor público, ajuizou ação pleiteando que a gratificação “X” fosse incorporada aos seus vencimentos pagos mensalmente. O juiz poderá conceder a gratificação mediante medida liminar?

NÃO, considerando que existe expressa vedação na Lei n. 12.016/2009 (art. 7º, § 2º):

Art. 7º (...) § 2º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

Na sentença, o juiz julgou procedente a ação acolhendo o pleito do servidor e condenando o Estado a incorporar mensalmente a gratificação “X”. É possível que seja implementada desde logo essa gratificação na remuneração do servidor ou será necessário aguardar o trânsito em julgado?

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A implementação de gratificação no contracheque de servidor público cujo direito foi reconhecido pelo Poder Judiciário somente pode ocorrer após o trânsito em julgado da

decisão. Trata-se de previsão legal expressa no art. 2º-B da Lei n. 9.494/1997:

Art. 2º-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações, somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

A sentença que determinar, em favor de servidores da União, Estados/DF e Municípios:

a liberação de recurso

a inclusão em folha de pagamento,

a reclassificação,

a equiparação,

a concessão de aumento ou

a concessão de extensão de vantagens

somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado.

Na Lei do Mandado de Segurança existe previsão em sentido semelhante:

Art. 14 (...) § 3º A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar.

INSTITUIÇÃO DE PENSÃO POR MORTE DE SERVIDOR PÚBLICO

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, servidor público, faleceu deixando uma filha (Beatriz). Esta requereu, administrativamente, o direito de receber “pensão por morte de servidor público” em decorrência do óbito de seu pai. A Administração Pública denegou o pedido. Diante disso, Beatriz ajuizou uma ação pleiteando a instituição da pensão por morte. O juiz julgou procedente a ação acolhendo o pedido de Beatriz e determinando que a Administração institua a pensão por morte. O Tribunal confirmou a sentença do magistrado. É possível que seja instituída, desde logo, esta pensão por morte ou será necessário aguardar o trânsito em julgado? Segundo entendimento consolidado no STJ, é admitida a execução provisória contra a Fazenda Pública nos casos de instituição de pensão por morte de servidor público. Assim, não será necessário aguardar o trânsito em julgado.

Mas e a vedação do art. 2º B da Lei n. 9.494/97? A instituição de pensão por morte de servidor público não está inserida nas vedações do

art. 2º-B da Lei n. 9.494/1997, cuja interpretação deve ser restritiva. Veja novamente o dispositivo:

Art. 2º-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações, somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

A instituição de pensão, embora acarrete, por via reflexa, a liberação de recursos públicos, não se trata de concessão de aumento ou extensão de vantagem.

Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 230.482-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 7/3/2013.

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Execução contra a Fazenda Pública e prescrição intercorrente

Durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda Pública estiver suspenso em razão da morte da parte exequente (para a habilitação dos sucessores da parte falecida),

não corre prazo para efeito de reconhecimento de prescrição intercorrente da pretensão executória. Isso porque não há previsão legal que imponha prazo específico para a habilitação

dos referidos sucessores. Comentários Existe algum prazo prescricional para que a pessoa ajuíze a execução contra a Fazenda

Pública? SIM. O STJ afirma que o prazo prescricional para a propositura de execução contra a

Fazenda Pública é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 e na Súmula 150 do STF:

Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originaram. Súmula 150-STF: Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

Interrupção do prazo prescricional Normalmente, no direito em geral, quando o prazo prescricional é interrompido, ele volta a correr do zero, ou seja, reinicia-se o prazo. A Fazenda Pública, no entanto, goza de um benefício quanto a este aspecto. Se o prazo prescricional para ajuizar ação contra a Fazenda Pública é interrompido, ele voltará a correr pela metade do tempo. Vamos a um exemplo: João sofreu um ato ilícito praticado pelo Estado em 2004. Logo, ele teria até 2009 para ajuizar a ação de indenização. Em 2008, ocorre algum fato que interrompe a prescrição (art. 202 do CC). Isso significa que o prazo de João para ajuizar a ação será reiniciado, mas não integralmente e sim pela metade. Dessa forma, João terá mais 2 anos e 6 meses para ajuizar a ação. Este privilégio da Fazenda Pública (bastante criticável) está previsto no art. 9º do Decreto

n. 20.910/1932 e na Súmula 383 do STF:

Art. 9º A prescrição interrompida recomeça a correr, pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do último ato ou termo do respectivo processo. Súmula 383-STF: A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

Este é o entendimento prevalente no STJ:

(...) Esta Corte tem entendimento pacífico de que o prazo para a ação de execução contra a fazenda pública é de cinco anos, nos termos da Súmula 150/STF, podendo ser interrompido uma única vez, recomeçando a correr pela metade, resguardado o prazo mínimo de cinco anos, nos termos da Súmula 383/STF. (...) (AgRg no REsp 1247027/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/10/2011, DJe 04/11/2011)

O que é prescrição intercorrente? Prescrição intercorrente é aquela que ocorre durante o processo judicial em virtude da demora em se prolatar uma decisão pondo fim à causa.

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Ex: o prazo para ajuizar uma ação de reparação civil entre particulares é de 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC). Imaginemos que Carlos propôs a ação contra Antônio em 2005. Em 2008, se a ação não tivesse sido julgada, teria havido prescrição intercorrente. A prescrição intercorrente é admitida no direito brasileiro? Em regra não. Isso porque se a demora na prestação jurisdicional resultou exclusivamente do Poder Judiciário que demorou a julgar a causa não se pode punir o autor com a perda de sua pretensão. Contudo, admite-se o reconhecimento da prescrição intercorrente, se ficar provado que o demandante agiu com descaso ou manteve-se inerte e não realizou os atos necessários ao impulso processual (STJ AgRg no AREsp 144.978/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 04/06/2013). Vale ressaltar que existe uma espécie de prescrição intercorrente prevista expressamente

na legislação (art. 40 da Lei n. 6.830/80). Se o autor da ação proposta contra a Fazenda Pública morre e os seus sucessores demoram em se habilitar no processo, poderá ser decretada a prescrição intercorrente neste período? NÃO. Segundo o STJ, durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda Pública estiver suspenso em razão da morte da parte exequente — para a habilitação dos sucessores da parte falecida —, não corre prazo para efeito de reconhecimento de prescrição intercorrente da pretensão executória. Isso porque não há previsão legal que imponha prazo específico para a habilitação dos referidos sucessores.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 286.713-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

Incabível condenação em honorários no caso de indeferimento liminar dos embargos do devedor

Os honorários advocatícios não são devidos na hipótese de indeferimento liminar dos embargos do devedor, mesmo que o executado tenha apelado da decisão indeferitória e o

exequente tenha apresentado contrarrazões ao referido recurso. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Maria propõe uma execução contra determinado Município cobrando um milhão de reais. No caso de ser proposta execução contra a Fazenda Pública, a legislação prevê que o Poder Público será citado para, querendo, opor embargos à execução (embargos do devedor), no

prazo de 30 dias (art. 730 do CPC c/c art. 1º-B, da Lei n. 9.494/97). Vale ressaltar que não se aplicam à Fazenda Pública as regras do cumprimento de sentença (art. 475-I e ss), não havendo aplicação da multa de 10% de que trata o art. 475-J, por exemplo. Intimação do exequente/embargado Se os embargos do devedor forem recebidos, o juiz irá determinar a intimação do exequente/embargado para se manifestar no prazo de 15 dias.

Art. 740. Recebidos os embargos, será o exequente ouvido no prazo de 15 (quinze) dias; a seguir, o juiz julgará imediatamente o pedido (art. 330) ou designará audiência de conciliação, instrução e julgamento, proferindo sentença no prazo de 10 (dez) dias.

E os embargos podem ser indeferidos liminarmente? SIM. Os embargos do devedor podem ser indeferidos liminarmente nas hipóteses previstas no art. 739 do CPC:

Art. 739. O juiz rejeitará liminarmente os embargos: I - quando intempestivos;

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II - quando inepta a petição (art. 295); ou III - quando manifestamente protelatórios.

Vale lembrar que, se os embargos foram rejeitados liminarmente, isso significa que o juiz nem abriu vista ao exequente/embargado para se manifestar sobre esta forma de defesa. A rejeição foi imediata. O juiz irá condenar o embargante/executado em honorários advocatícios por conta da sucumbência dos embargos? NÃO. Segundo o STJ, os honorários advocatícios não são devidos na hipótese de indeferimento liminar dos embargos do devedor porque o advogado do exequente não foi obrigado a preparar manifestação contra os embargos. Suponhamos, em nosso exemplo, que os embargos do devedor foram indeferidos liminarmente por inteiro. O Procurador do Município foi intimado desta decisão. Qual recurso ele deverá interpor? A decisão que rejeita liminarmente os embargos por inteiro é uma sentença, recorrível, portanto, por meio de APELAÇÃO (art. 296 do CPC). O exequente será intimado para apresentar contrarrazões à apelação? NÃO. De acordo com a jurisprudência do STJ, no caso de indeferimento liminar da petição inicial (os embargos do devedor possuem natureza jurídica de ação), não há necessidade de intimação do embargado para apresentar contrarrazões, considerando que ele não teve influência no convencimento do juiz que rejeitou liminarmente a ação. Nada impede que o embargado, por iniciativa própria, decida apresentar contrarrazões para reforçar os argumentos e tentar fazer com que o Tribunal mantenha a rejeição liminar. A intimação para essas contrarrazões, contudo, não é obrigatória. Em nosso exemplo, o advogado de Maria, muito diligente, sabendo que a PGM havia interposto recurso de apelação contra a sentença que rejeitou liminarmente os embargos, decidiu apresentar contrarrazões. Se o Tribunal mantiver a sentença, o advogado de Maria terá direito de receber honorários advocatícios de sucumbência pela derrota do Município nos embargos? NÃO. De acordo com o STJ, os honorários advocatícios não são devidos na hipótese de indeferimento liminar dos embargos do devedor, mesmo que o executado tenha apelado da decisão indeferitória e o exequente tenha apresentado contrarrazões ao referido recurso. Isso porque esta apresentação das contrarrazões foi uma iniciativa sua, mas, a rigor não haveria necessidade. Logo, não justifica a condenação do embargante/derrotado em honorários.

Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 182.879-RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 5/3/2013.

Execução fiscal (necessidade de intimação específica quanto à penhora)

O comparecimento espontâneo do executado aos autos da execução fiscal, após a efetivação da penhora, não supre a necessidade de que seja formalmente intimado sobre o ato constritivo

com a advertência de que seu prazo para o oferecimento dos embargos à execução fiscal inicia-se a partir daquele momento, nos termos do art. 12 da Lei n. 6.830/80.

A ciência da penhora em virtude do comparecimento espontâneo do executado não pode ser equiparada ao ato formal de intimação, que deve se revestir da necessária solenidade da

indicação do prazo para oposição dos pertinentes embargos.

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Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: O município de Belo Horizonte ajuizou uma execução fiscal contra determinada “empresa” (sociedade empresária).

O juiz despachou a petição inicial e determinou a citação do executado (art. 7º da Lei n. 6.830/80). Citação do executado por meio de AR Na execução fiscal, a citação será feita, preferencialmente, pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma. Assim, tentou-se a citação da empresa por meio postal, mas a correspondência retornou afirmando que não havia ninguém para receber o aviso no endereço. Citação por oficial de justiça Como restou frustrada a citação postal, o juiz determinou a citação por oficial de justiça, mas esta também não teve sucesso. Citação por edital Se a citação por meio do Oficial de Justiça também não foi possível, o juiz deverá determinar a citação do executado por edital. Súmula 414-STJ: A citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as demais modalidades. Juiz determina a penhora de bens Como a empresa não compareceu em juízo para pagar a dívida nem garantir a execução, o magistrado determinou a penhora de seus bens. Conseguiu-se penhorar um imóvel da empresa. Executada comparece espontaneamente em juízo Após a penhora ser realizada, a empresa, mesmo sem ser formalmente intimada da penhora, comparece em juízo. É necessário ainda que a executada seja intimada sobre a penhora? SIM. O comparecimento espontâneo do executado aos autos da execução fiscal, após a efetivação da penhora, não supre a necessidade de que seja formalmente intimado sobre o ato constritivo com a advertência de que seu prazo para o oferecimento dos embargos à execução

fiscal inicia-se a partir daquele momento, nos termos do art. 12 da Lei n. 6.830/80. A ciência da penhora em virtude do comparecimento espontâneo do executado não pode ser equiparada ao ato formal de intimação, que deve se revestir da necessária solenidade da indicação do prazo para oposição dos pertinentes embargos. A intimação é um ato de comunicação processual da mais relevante importância, pois é dela que começam a fluir os prazos para que as partes exerçam os seus direitos e faculdades processuais.

Info 510 STJ Para maiores detalhes sobre a citação na execução fiscal, vide o Informativo 510 STJ.

Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.358.204-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 7/3/2013.

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DIREITO PENAL

Estupro e atentado violento ao pudor (crimes hediondos)

Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n. 12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples e com

violência presumida. Comentários Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n.

12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples. Esse é o entendimento também do STF (HC 101.694-RS, DJe 2/6/2010).

Posição pacífica

A posição acima explicada é pacífica tanto no STF como no STJ. Nesse sentido: STJ 3ª Seção. REsp 1.110.520-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012.

E após a Lei 12.015/09?

Antes da Lei n. 12.015/09 havia os crimes de estupro no art. 213 e de atentado violento ao pudor no art. 214 do CP. Se esses crimes fossem praticados contra menor de 14 anos, tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com violência presumida por ser menor de 14 anos), todos do Código Penal com

redação anterior à Lei n. 12.015/2009. Com o advento dessa Lei, as condutas antes descritas nos arts. 213 e 214 foram unificadas apenas no art. 213 e foi criado um novo delito, no art. 217-A, chamado de “estupro de vulnerável”:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Quanto ao fato de ser ou não hediondo, não houve alteração com a Lei n. 12.015/2009, ou seja, tanto o ato de manter conjunção carnal como praticar ato libidinoso, seja contra adulto ou contra menor de 14 anos, seja com violência ou sem violência, tudo isso é considerado crime hediondo.

Para facilitar: seja antes ou depois da Lei n. 12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte.

Processo STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 250.451-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/3/2013.

Abolitio criminis temporária

É típica a conduta de possuir arma de fogo de uso permitido com numeração raspada, suprimida ou adulterada (art. 16, parágrafo único, IV, da Lei 10.826/2003) praticada após 23/10/2005. A nova redação do art. 32 da Lei n. 10.826/2003, trazida pela Lei n. 11.706/2008, não mais suspendeu, temporariamente, a vigência da norma incriminadora ou instaurou uma abolitio criminis temporária (conforme operado pelo art. 30 da mesma lei), mas instituiu uma causa permanente de exclusão da punibilidade, consistente na entrega espontânea da arma.

Resumindo:

A abolitio criminis temporária abrangia quais crimes? De 23/12/2003 a 23/10/2005 Após 23/10/2005 até 31/12/2009 Posse de arma de fogo de uso

PERMITIDO e de uso RESTRITO. Posse de arma de fogo de uso

PERMITIDO apenas.

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Comentários Os arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento preveem:

Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei. (Obs1: redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Obs2: esse prazo foi prorrogado até 31/12/2009 pela Lei 11.922/2009)

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma.

Desse modo, os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada poderiam solicitar o registro da arma até o dia 31/12/2009. Assim, até esse prazo (31/12/2009), não era típica a conduta de possuir arma de fogo de uso permitido. Nesse período, a posse de arma de fogo de uso permitido não era crime porque houve abolio criminis temporária (também chamada de descriminalização temporária ou vacatio legis indireta). A quais crimes se aplica essa vacatio legis especial? No período compreendido entre 23/12/2003 a 23/10/2005, a vacatio legis indireta abrangia as condutas de posse de arma de fogo de uso permitido e de uso restrito. A partir de 23/10/2005 até 31/12/2009 a vacatio legis especial passou a incidir somente sobre a conduta de posse de arma de fogo de uso permitido. Resumindo:

A abolitio criminis temporária abrangia quais crimes?

De 23/12/2003 a 23/10/2005 A partir de 23/10/2005 até 31/12/2009

Posse de arma de fogo de uso PERMITIDO e de uso RESTRITO.

Posse de arma de fogo de uso PERMITIDO apenas.

Obs: tais datas são muito importantes para resolver casos práticos, mas acredito que, dificilmente, serão exigidas em uma prova de concurso, salvo se o objetivo do examinador for o de que quase todos errem porque não há razoabilidade em ter que memorizar isso. De qualquer forma, vejamos os seguintes exemplos de aplicação da vacatio legis especial: A polícia encontrou, no dia 18/07/2007, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso permitido. “X” poderá se valer da vacatio legis especial para não responder ao processo? SIM, considerando que se trata do fato previsto no art. 12 do Estatuto do Desarmamento. A polícia encontrou, no dia 18/07/2005, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso permitido. “X” poderá se valer da vacatio legis especial para não responder ao processo? SIM, considerando que se trata do fato previsto no art. 12 do Estatuto do Desarmamento.

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A polícia encontrou, no dia 18/07/2007, na mochila de “X”, que andava na rua, uma arma de fogo de uso permitido, sem que ele tivesse autorização. “X” poderá se valer da abolitio criminis temporária para não responder ao processo? Essa abolitio criminis temporária poderia ser aplicada para o porte de arma de fogo de uso permitido (art. 14)? NÃO. A polícia encontrou, no dia 18/07/2005, na mochila de “X”, que andava na rua, uma arma de fogo de uso permitido, sem que ele tivesse autorização. “X” poderá se valer da abolitio criminis temporária para não responder ao processo? Essa abolitio criminis temporária poderia ser aplicada para o porte de arma de fogo de uso permitido (art. 14)? NÃO. A vacatio legis prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento não torna atípica a conduta de porte ilegal de arma de uso permitido (art. 14). Essa vacatio legis especial somente tem aplicação para os casos de POSSE de arma de fogo. A polícia encontrou, no dia 18/07/2007, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso restrito. “X” poderá se valer da abolitio criminis temporária para não responder ao processo? Essa abolitio criminis temporária poderia ser aplicada? NÃO, porque se trata de posse de arma de fogo de uso restrito praticado após 23/10/2005. A polícia encontrou, no dia 18/07/2005, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso restrito. “X” poderá se valer da abolitio criminis temporária para não responder ao processo? Essa abolitio criminis temporária poderia ser aplicada? SIM, porque praticado antes de 23/10/2005.

Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.311.408-RN, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013 (recurso repetitivo).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Obrigatoriedade do juiz remeter cópia dos autos ao MP quando verificar a existência de indícios de crime

A abertura de vista ao Ministério Público para eventual instauração de procedimento criminal, após a verificação nos autos, pelo magistrado, da existência de indícios de crime de ação penal pública, não é suficiente ao cumprimento do disposto no art. 40 do CPP. Isso porque o referido artigo impõe ao magistrado, nessa hipótese, o dever de remeter ao Ministério Público as cópias

e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia, não podendo o Estado-juiz se eximir da obrigação por se tratar de ato de ofício a ele imposto pela lei.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto): Em um determinado processo cível, identificou-se a existência de indícios da prática de um crime. Diante disso, o Promotor de Justiça requereu ao juiz que ele determinasse que a Vara extraísse cópia dos autos e a remetesse ao Ministério Público estadual para apuração. O juiz afirmou que havia um excesso de serviço na Vara e poucos servidores, o que dificultava o cumprimento da medida e, assim, determinou que, ao invés de ser tirada cópia dos autos, deveria ser dado vista do processo ao MP para que este tomasse as providências que entendesse necessárias à instauração do procedimento criminal. O Ministério Público recorreu contra esta decisão, tendo a questão chegado ao STJ. O que ficou decidido ao final? O STJ afirmou que o Ministério Público tinha razão e que, havendo indícios da prática de crime de ação pública, deverá ser extraída cópia dos autos com a sua remessa ao Parquet.

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Segundo o Relator, esta providência encontra-se prevista no art. 40 do CPP:

Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia.

O art. 40 do CPP exige que o Poder Judiciário envie cópia dos autos ao Ministério Público. Assim, segundo o STJ, não é suficiente que seja dada vista dos autos ao MP, sendo indispensável o envio das cópias.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.360.534-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/3/2013.

Assistente de acusação

Não há nulidade processual na hipótese em que o assistente de acusação, por não ter arrazoado recurso interposto pelo MP após ter sido intimado para tanto, deixe de ser intimado

quanto aos atos processuais subsequentes. Comentários Segundo o art. 271, § 2º, do CPP, o assistente da acusação não será mais intimado se,

sendo-o, não comparecer a qualquer dos atos de instrução e julgamento.

Art. 271 (...) § 2º O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado.

Quando o § 2º do art. 271 fala em “atos de instrução ou julgamento”, quis a norma abranger todo e qualquer ato processual para cuja prática o assistente foi cientificado, em qualquer fase do processo, e não apenas em primeiro grau. Diante disso, se o assistente de acusação foi intimado para arrazoar o recurso interposto pelo MP e não o fez, ele não precisará mais ser intimado quanto aos atos processuais subsequentes.

Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.035.320-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 2/4/2013.

Progressão de regime no tráfico de drogas com a causa de diminuição do § 4º do art. 33

A partir da vigência da Lei 11.464/2007, que modificou o art. 2º, § 2º, da Lei 8.072/1990, exige-se o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três

quintos), se reincidente, para a progressão de regime no caso de condenação por tráfico de drogas, ainda que aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006.

A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 não

afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas. Assim, se o indivíduo é condenado por tráfico de drogas e recebe a diminuição prevista no § 4º do art. 33, mesmo assim terá cometido um

crime equiparado a hediondo. Comentários O tráfico de drogas é crime hediondo?

NÃO. O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos. Estes três delitos (TTT) são equiparados (assemelhados) pela CF/88 a crimes hediondos. Em outras palavras, não são crimes hediondos, mas devem receber o mesmo tratamento penal e processual penal mais rigoroso que é reservado aos delitos hediondos.

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A Lei n. 8.072/90, em sua redação original, determinava que os condenados por crimes hediondos ou equiparados (TTT) deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: (...) § 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.

Em 23/02/2006, o STF declarou inconstitucional este § 1º do art. 2º por duas razões principais, além de outros argumentos: a) A norma violava o princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF) já que obrigava o juiz a sempre condenar o réu ao regime integralmente fechado, independentemente do caso concreto e das circunstâncias pessoais do réu; b) A norma proibia a progressão de regime de cumprimento de pena, o que inviabilizaria a ressocialização do preso. A ementa do julgado ficou assim redigida:

PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-aberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º, DA LEI Nº 8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Conflita com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. (HC 82959, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/02/2006)

Diante dessa decisão, o Congresso Nacional editou a Lei n. 11.464/2007, modificando o §

1º do art. 2º da Lei n. 8.072/90:

Redação original Redação dada pela Lei 11.464/2007

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida INTEGRALMENTE em regime fechado.

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida INICIALMENTE em regime fechado.

Para os crimes anteriores à Lei n. 11.464/2007, como o antigo § 1º era inconstitucional, o STF considera que é possível a progressão de regime cumprido 1/6 da pena (art. 112 da LEP). No mesmo sentido é o entendimento do STJ (Súmula 471-STJ).

Para os crimes posteriores à Lei n. 11.464/2007, foi prevista a possibilidade de progressão de regime para crimes hediondos, conforme os requisitos previstos no § 2º do art. 2º (2/5 se primário e 3/5 se reincidente).

Segundo entendeu o STF, essa nova redação dada pela Lei n. 11.464/2007 somente é válida para os crimes praticados após a sua vigência (29.03.2007).

Assim, a Lei n. 11.464/2007 (que fixou os requisitos de 2/5 e 3/5) é irretroativa, considerando que, segundo o STF, trata-se de lei posterior mais grave. Isso porque depois da decisão do STF reconhecendo a inconstitucionalidade da vedação de progressão para crimes hediondos (prevista na redação original do § 1º), os condenados por crimes hediondos e equiparados passaram a poder progredir com o requisito de 1/6, mais favorável que o critério da Lei n.º 11.464/07 (RHC 91300/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 5.3.2009).

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Recapitulando:

§ 1º (em sua redação original): proibia a progressão para crimes hediondos.

STF (em 23/02/2006): decidiu que essa redação original do § 1º era inconstitucional (não se podia proibir a progressão).

Como o STF afirmou que o § 1º era inconstitucional: as pessoas condenadas por crimes hediondos ou equiparados passaram a progredir com os mesmos requisitos dos demais crimes não hediondos (1/6, de acordo com o art. 112 da LEP).

Lei n. 11.464/2006: modificou o § 1º, prevendo que a progressão para crimes hediondos e equiparados passaria a ser mais difícil que em relação aos demais crimes (2/5 para primários e 3/5 para reincidentes).

Logo, a Lei n. 11.464/2006 foi mais gravosa para aqueles que cometeram crimes antes da sua vigência (e que podiam progredir com 1/6). Por tal razão, ela é irretroativa.

Progressão no caso de crimes hediondos e equiparados (tráfico, tortura e terrorismo)

ANTES da Lei n. 11.464/2007 DEPOIS da Lei n. 11.464/2007

Requisito objetivo para progressão: cumprir 1/6 da pena

Requisito objetivo para progressão: cumprir 2/5 da pena – se primário

cumprir 3/5 da pena – se reincidente

Tráfico de drogas com a causa de diminuição

O delito de tráfico de drogas está previsto no art. 33 da Lei n. 11.343/2006:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também chamada de “traficância menor” ou “traficância eventual”:

Art. 33 (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Qual é a natureza jurídica deste § 4º? Trata-se de uma causa de diminuição de pena.

Havia uma tese defensiva sustentando que o art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006 não seria tão grave e, por isso, não poderia ser equiparado a hediondo. A jurisprudência acolheu esta posição?

NÃO. Tanto o STF como o STJ possuem o entendimento de que o § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 é também equiparado a hediondo. Isso porque a causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º NÃO constitui tipo penal distinto do caput do mesmo artigo, sendo o mesmo crime, no entanto, com uma causa de diminuição. Dessa forma, a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas, pois a sua incidência não decorre do reconhecimento de uma menor gravidade da conduta praticada e tampouco da existência de uma figura privilegiada do crime. A criação da minorante tem suas raízes

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em questões de política criminal, surgindo como um favor legislativo ao pequeno traficante, ainda não envolvido em maior profundidade com o mundo criminoso, de forma a lhe propiciar uma oportunidade mais rápida de ressocialização. Assim, se o indivíduo é condenado por tráfico de drogas e recebe a diminuição prevista no § 4º do art. 33, mesmo assim terá cometido um crime equiparado a hediondo.

A pessoa condenada pelo art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006 poderá progredir de regime em quanto tempo? Como vimos acima, o § 4º do art. 33 é também equiparado a hediondo. Logo, os requisitos para a progressão serão os mesmos do crime hediondo:

Progressão no caso do art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006

ANTES da Lei n. 11.464/2007 DEPOIS da Lei n. 11.464/2007

Requisito objetivo para progressão: cumprir 1/6 da pena

Requisito objetivo para progressão: cumprir 2/5 da pena – se primário

cumprir 3/5 da pena – se reincidente

Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.329.088-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013 (recurso repetitivo).

Posse de cabo USB, fone de ouvido e microfone por visitante de preso NÃO configura falta grave

No âmbito da execução penal, não configura falta grave a posse, em estabelecimento prisional, de um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone por visitante de preso.

Comentários A Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) prevê que, se o apenado for encontrado na unidade prisional, com telefone celular, ele comete falta disciplinar considerada grave:

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Repare que a redação literal do inciso VII fala em “aparelho telefônico, de rádio ou similar”. Diante disso, indaga-se: se o condenado for encontrado portando apenas o chip do telefone celular, ele cometerá falta grave? SIM. Configura falta grave não apenas a posse de aparelho celular, mas também a de seus componentes essenciais, como é o caso do carregador, do chip ou da placa eletrônica, considerados indispensáveis ao funcionamento do aparelho. Este é o entendimento pacífico do STJ e também do STF. Imagine agora a seguinte situação: A esposa do detento “João” vai visitá-lo na penitenciária e, durante a revista para entrada, os funcionários da unidade prisional encontram com ela, amarrados na barra de seu vestido, um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone. Diante disso, indaga-se: houve a prática de falta grave por parte de João? NÃO. No âmbito da execução penal, não configura falta grave a posse, em estabelecimento prisional, de um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone por visitante de preso. Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que os referidos componentes eletrônicos não se

amoldam à hipótese prevista no art. 50, VII, da Lei n. 7.210/1984 porque, embora sejam considerados acessórios eletrônicos, não são essenciais ao funcionamento de aparelho de

ATENÇÃO

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telefonia celular ou de rádio de comunicação e, por isso, não se enquadram na finalidade da norma proibitiva que é a de impedir a comunicação intra e extramuros. Além disso, também não há como falar em configuração de falta grave, pois a conduta praticada por visitante não pode alcançar a pessoa do preso, tendo em vista que os componentes eletrônicos não foram apreendidos com o detento, mas com seu visitante.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 255.569-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Imposto de renda sobre verbas retroativas deverá observar as alíquotas que eram aplicáveis na época em que os valores deveriam ter sido liberados

No caso de benefício previdenciário pago em atraso e acumuladamente, não é legítima a cobrança de imposto de renda com parâmetro no montante global pago extemporaneamente. Isso porque a incidência do imposto de renda deve observar as tabelas e alíquotas vigentes na

época em que os valores deveriam ter sido adimplidos, devendo ser observada a renda auferida mês a mês pelo segurado.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 300.240-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/4/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Cartório PE 2013 FCC) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção, salvo se a aquisição

se houver realizado em hasta pública. ( ) 2) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Essa

subsiste garantia ainda que a aquisição tenha se realizado em hasta pública. ( ) 3) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Na hipótese de exclusão contratual da responsabilidade pela evicção, se

esta se der, o evicto terá direito a receber o preço que tiver pago pela coisa evicta se não sabia do risco da evicção, mas, todavia, se dele tiver sido previamente informado, não lhe será albergado o direito de receber a quantia paga, mesmo que não tenha assumido o risco quando tomou conhecimento desse. ( )

4) (DPE/AC 2012 CESPE) A responsabilidade pela evicção ocorre apenas quando a causa da constrição operada sobre a coisa é posterior à relação jurídica entabulada entre o alienante e o evicto, sendo o determinante o momento da constrição, a qual será, necessariamente, anterior à alienação. ( )

5) (DPE/SC 2012 FEPESE) Pode o adquirente demandar pela evicção, mesmo sabendo que a coisa é alheia ou litigiosa. ( )

6) (MP/PI 2012 CESPE) Assinale a opção correta a respeito da evicção. A) As partes podem, por cláusula expressa, maximizar a responsabilidade pela evicção, mas não podem diminuí-la. B) As benfeitorias necessárias ou úteis que não tenham sido reembolsadas ao que sofreu a evicção terão de ser pagas pelo alienante. C) Será legítima a demanda pela evicção por parte do adquirente que, assumindo o risco, tenha conhecimento de que a coisa é alheia ou litigiosa. D) De acordo com a lei civil, para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulte, o adquirente poderá notificar do litígio apenas o alienante imediato, sendo-lhe defeso fazer a denominada denunciação por saltos.

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E) Havendo cláusula excludente da garantia da evicção, se esta ocorrer, o evicto não terá nenhum direito a reclamar.

7) (Cartório SP 2012 VUNESP) É cabível a nomeação à autoria do alienante, na ação em que terceiro

reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta. ( )

8) (Juiz TJAC 2012 CESPE) No que concerne a evicção, assinale a opção correta de acordo com o Código Civil. A) A responsabilidade decorrente da evicção deriva da lei e prescinde, portanto, de expressa previsão contratual; todavia, tal responsabilidade restringe-se à ação petitória, não sendo possível se a causa versar sobre posse. B) Responde o alienante pela garantia decorrente da evicção caso o comprador sofra a perda do bem por desapropriação do poder público, cujo decreto expropriatório seja expedido e publicado posteriormente à realização do negócio. C) Dá-se a evicção quando o adquirente perde, total ou parcialmente, a coisa por sentença fundada em motivo jurídico anterior, e o alienante tem o dever de assistir o adquirente, em sua defesa, ante ações de terceiros, sendo, entretanto, tal obrigação jurídica incabível caso o alienante tenha atuado de boa-fé. D) De acordo com o instituto da evicção, o alienante deve responder pelos riscos da perda da coisa para o evicto, por força de decisão judicial em que fique reconhecido que aquele não era o legítimo titular do direito que convencionou transmitir ao evictor. E) Sendo a evicção uma garantia legal, podem as partes, em reforço ao já previsto em lei, estipular a devolução do preço em dobro, ou mesmo minimizar essa garantia, pactuando uma devolução apenas parcial.

9) (DPE/AC 2012 CESPE) Em razão do rito abreviado que caracteriza o procedimento sumário, não é

permitido ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor. ( ) 10) (DPE/PR 2012 FCC) Processada uma causa de ressarcimento por danos causados em acidente de

veículo de via terrestre pelo rito comum sumário, o juiz poderá proferir sentença ilíquida, deixando a fixação do montante da condenação para a fase de liquidação, toda vez que entender ser a causa complexa. ( )

11) (Juiz TJGO 2012 FCC) De acordo com o Código de Processo Civil, no procedimento sumário

A) a prova pericial deve ser requerida em audiência de conciliação, a ser designada no prazo de 30 dias. B) o juiz decidirá, na audiência de conciliação, a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre a natureza da demanda. C) verificada a necessidade de prova técnica de maior complexidade, o juiz extinguirá o processo sem resolução de mérito. D) é lícito ao réu formular pedidos em seu favor, funda dos, ou não, nos fatos referidos na inicial. E) é admissível ação declaratória incidental.

12) (Juiz Federal TRF4 2012) A respeito do procedimento sumário, assinale a alternativa correta.

A) É admissível a ação declaratória incidental. B) É admissível a oposição. C) É admissível a formulação, na contestação, de pedido em favor do réu, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. D) É admissível a formulação de pedido envolvendo a capacidade das pessoas. E) No julgamento da apelação interposta no procedimento sumário, os autos devem ser submetidos à revisão.

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13) (Juiz TJMS 2012 PUC/PR) No rito sumário, a oposição deve sempre preceder a audiência de saneamento. ( )

14) (OAB/VIII 2012 FGV) O procedimento sumário deve ser adotado em causas cujo valor não supere

sessenta salários mínimos ou em situações, qualquer que seja o valor da causa, em que se debata um dos assuntos previstos na lei. Indique, dentre as alternativas abaixo, a que contém espécie de resposta que não pode ser apresentada pelo réu no rito comum sumário. A) Reconvenção. B) Exceção. C) Contestação. D) Impugnação ao valor da causa.

15) (MP/RR 2012 CESPE) No procedimento sumário, é cabível a ação declaratória incidental fundada em

questão processual relevante. ( )

16) (Juiz Federal TRF1 2009 CESPE) Em ação de indenização por acidente de veículo em via terrestre, não cabe ao réu denunciar à lide a seguradora, devendo exercer seu direito de regresso em ação autônoma, pois não se admite intervenção de terceiros no procedimento sumário. ( )

17) (DPE/ES 2009 CESPE) Não é cabível no procedimento sumário o provimento antecipatório da tutela

pretendida pelo autor. ( )

18) (MP/PI 2012 CESPE) No procedimento sumário, são admissíveis, em regra, a denunciação da lide, a oposição, a nomeação à autoria, a assistência e o recurso de terceiro prejudicado. ( )

19) (Juiz TJPR 2012) Nos recursos interpostos de decisões proferidas em autos que tramitam pelo rito

sumário, despejo e indeferimento liminar da petição inicial, não há revisão por integrante do órgão julgador. Da mesma forma, não há revisão nos recursos de agravo de instrumento e embargos de declaração. ( )

20) (Juiz TJPI 2012 CESPE) Ajuizada ação sob o rito sumário, o autor requereu a exibição de determinados

documentos e a realização de perícia, oferecendo, desde então, seus quesitos. Quinze dias antes da audiência de conciliação, o autor apresentou complementação do rol de testemunhas. Durante a audiência, o réu não compareceu, mas seu advogado, devidamente constituído, apresentou contestação e pedido contraposto, mantendo-se silente quanto à perícia. Nessa situação hipotética, A) será necessária a reconvenção, devendo o pedido contraposto ser repelido, independentemente do exame de seu mérito. B) o silêncio do réu diante do pedido de perícia contido na inicial importará preclusão do seu direito de apresentar quesitos. C) o juiz deverá indeferir a exibição de documentos, incompatível com a celeridade do rito. D) o réu deverá sofrer os efeitos da revelia porque não compareceu à audiência e frustrou etapa necessária. E) ao autor não é possível a complementação do rol de testemunhas, sendo o indeferimento da oitiva o caminho necessário, independentemente de manifestação do réu.

Gabarito

1. E 2. C 3. E 4. E 5. E 6. Letra B 7. E 8. Letra E 9. E 10. E

11. Letra B 12. Letra C 13. E 14. Letra A 15. E 16. E 17. E 18. E 19. C 20. Letra B

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA (OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. OPÇÃO DO CREDOR PELA ALIENAÇÃO DO DIREITO DE CRÉDITO DECLARADA ANTES DO INÍCIO DO PRAZO PREVISTO NO ART. 673, § 1º, DO CPC. É possível que o exequente, antes mesmo do início do prazo que lhe é outorgado pelo art. 673, § 1º, do CPC, manifeste sua preferência pela alienação judicial do precatório oferecido à penhora. De acordo com o art. 673, caput, do CPC, feita a penhora em direito e ação do devedor, e não tendo este oferecido embargos, ou sendo estes rejeitados, o credor fica sub-rogado nos direitos do devedor até a concorrência do seu crédito. Todavia, conforme o § 1º do mesmo dispositivo legal, o credor pode preferir, em vez da sub-rogação, a alienação judicial do direito penhorado, caso em que declarará a sua vontade no prazo de dez dias contados da realização da penhora. A efetivação da garantia, entretanto, não configura condição de eficácia dessa declaração de vontade do credor. Dessa forma, é possível concluir que a disciplina processual contida no art. 673, caput e § 1º, do CPC privilegia a satisfação do exequente, uma vez que lhe faculta a forma de liquidação de direito de crédito que mais aprouver no caso concreto. Precedente citado: REsp 1.304.923-RS, Primeira Turma, DJe 28/5/2012. AgRg no AgRg no AREsp 52.523-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 9/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. ALCANCE DO REAJUSTE DE 31,87% CONCEDIDO PELAS LEIS 8.622⁄1993 E 8.627/1993. Os demais servidores públicos não fazem jus à diferença entre o reajuste de 31,87% concedido aos oficiais-generais do Exército pelas Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, e o reajuste de 28,86%, deferido a todo o funcionalismo público. Isso porque o reajuste concedido aos oficiais-generais não caracteriza revisão geral apta a ser estendida a todos servidores. Precedente citado: EREsp 550.687-PE, Terceira Seção, DJ 31/5/2004. AgRg no REsp 1.342.593-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. APLICABILIDADE DA ISENÇÃO GENÉRICA DE II E DE IPI PREVISTA NOS ARTS. 2°, II, J, E 3°, I, DA LEI 8.032/1990. As isenções de imposto de importação e de imposto sobre produtos industrializados previstas no art. 2º, II, "j", e no art. 3º, I, da Lei 8.032/1990 (restabelecidas pelo art. 1º, IV, da Lei 8.402/1992) aplicam-se às importações de peças e componentes de reposição, reparo e manutenção necessárias ao funcionamento de plataformas petrolíferas, sendo indiferente a revogação que o art. 13 da Lei 8.032/1990 trouxe em relação ao Decreto-lei 1.953/1982. De fato, o Decreto-lei 1.953/1982 trata de isenções especificamente relacionadas a bens destinados a prospecção e produção de petróleo. Por sua vez, os arts. 2°, II, "j", e 3°, I, da Lei 8.032/1990 cuidam de isenção genericamente relacionada a embarcações, nas quais se incluem as plataformas petrolíferas. Nesse contexto, deve-se asseverar que a revogação da legislação especial não impede a concessão da isenção genérica. REsp 1.341.077-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NECESSIDADE DE PRÉVIA DESISTÊNCIA DE EXECUÇÃO SINGULAR PARA POSSIBILITAR A PROPOSITURA DE AÇÃO DECLARATÓRIA DE INSOLVÊNCIA. O autor de execução individual frustrada só pode ajuizar outra ação judicial, fundada em idêntico título, com pedido de declaração de insolvência do devedor — com o objetivo de instauração de concurso universal —, caso antes desista de sua execução singular, ainda que esta esteja suspensa por falta de bens penhoráveis. Com efeito, é impossível a utilização simultânea de duas vias judiciais para obtenção de um único bem da vida, consistente na percepção de um crédito específico. Desse modo, é necessária a extinção da relação processual instaurada pela execução individual mediante a realização de pedido de desistência, o qual depende de homologação pelo juiz para produzir efeitos. Precedente citado do STF: RE

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100.031-PR, Primeira Turma, DJ 2/12/1983. REsp 1.104.470-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DISPENSABILIDADE DA APÓLICE DE SEGURO NOS AUTOS DE AÇÃO REGRESSIVA AJUIZADA POR SEGURADORA EM FACE DO SUPOSTO CAUSADOR DO SINISTRO. A apólice de seguro é peça dispensável à propositura de ação regressiva por seguradora em face do suposto causador do dano, tampouco configura documento essencial à comprovação do fato constitutivo do direito do autor na referida demanda. Conforme o art. 758 do CC, a apólice, o bilhete ou o comprovante do pagamento do prêmio constituem meios de prova do contrato de seguro. O referido dispositivo legal, entretanto, não exclui aprioristicamente outras formas aptas à comprovação da relação securitária. Não se trata, portanto, de hipótese de prova legal ou tarifada. Está-se, na verdade, diante de uma previsão de prova pré-constituída, cuja exibição se dá para que, no futuro, não se levantem dúvidas acerca da existência da relação jurídica. Desse modo, mesmo em face de previsão legal de prova pré-constituída — como é o caso do art. 758 do CC —, aplica-se o art. 332 do CPC, segundo o qual "todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou defesa". Ademais, em uma ação regressiva ajuizada pela seguradora contra terceiros, assumir como essencial a apresentação da apólice consubstanciaria exigência de prova demasiado frágil, porquanto é documento criado unilateralmente por quem dele se beneficiaria. REsp 1.130.704-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2013.


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