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Informativo 517 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.335.953-RS; REsp 1.353.864-GO; REsp 1.253.638-SP.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Motivação per relationem

É legítima a adoção da técnica de fundamentação referencial (per relationem), consistente na alusão e incorporação formal, em ato jurisdicional, de decisão anterior ou parecer do MP.

Comentários Quando o Tribunal julga um recurso (seja ele criminal ou cível), o Relator, em seu voto, pode fundamentar a decisão tomada apenas reproduzindo as razões invocadas por uma das partes ou pelo Ministério Público? Ainda nessa mesma linha, pode o Tribunal manter a decisão de 1ª instância mencionando apenas as mesmas razões expostas pelo juiz? A Corte Especial do STJ decidiu recentemente que sim:

(...) A reprodução de fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério Público ou mesmo de outras decisões atendem ao comando normativo, e também constitucional, que impõe a necessidade de fundamentação das decisões judiciais. O que não se tolera é a ausência de fundamentação. (...) (EREsp 1021851/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 28/06/2012)

Vamos explicar a questão com um exemplo: O Ministério Público ingressa com uma ação contra o réu (ação penal ou ACP, tanto faz). O réu é condenado pelo juiz em 1ª instância. O réu interpõe recurso de apelação, apresentando suas razões recursais. O MP, por sua vez, apresenta suas contrarrazões recursais. A apelação é encaminhada para que o Tribunal decida o recurso. O Tribunal mantém a condenação, mas na fundamentação da decisão do recurso, limita-se a transcrever trechos das contrarrazões do Ministério Público, sem agregar nenhum argumento novo. Essa fundamentação feita pelo Tribunal é válida (atende ao art. 93, IX, da CF/88)? Há duas correntes sobre o tema:

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1ª Não é válida 2ª SIM (É VÁLIDA)

A pura e simples transcrição das razões e contrarrazões de apelação com a opção por uma delas, sem mais nem menos, não serve de fundamentação. A mera repetição da decisão atacada, além de desrespeitar o art. 93, IX, da CF, causa prejuízo para a garantia do duplo grau de jurisdição, na exata medida em que não conduz à substancial revisão judicial da primitiva decisão, mas a cômoda reiteração.

Inexiste óbice a que o julgador, ao proferir sua decisão, acolha os argumentos de uma das partes ou de outros julgados, adotando fundamentação que lhe pareceu adequada. O que importa em nulidade é a absoluta ausência de fundamentação. A adoção dos fundamentos da sentença de 1ª instância ou das alegações de uma das partes como razões de decidir, embora não seja uma prática recomendável, não traduz, por si só, afronta ao art. 93, IX, da CF/88.

O STJ adotou essa 2ª corrente. Em resumo, a Corte Especial do STJ decidiu que a reprodução dos fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério Público ou mesmo de outras decisões proferidas nos autos da demanda (ex: sentença de 1ª instância) atende ao art. 93, IX, da CF/88. O STJ entendeu que a encampação literal de razões emprestadas não é a melhor forma de decidir uma controvérsia. Contudo, tal prática não chega a macular a validade da decisão. O que não se admite é a ausência de fundamentação. O STF adota o mesmo entendimento. Confira:

Não viola o art. 93, IX da Constituição Federal o acórdão que adota os fundamentos da sentença de primeiro grau como razão de decidir. (HC 98814, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 23/06/2009) O entendimento esposado na decisão do Superior Tribunal está em perfeita consonância com o posicionamento desta Suprema Corte, no sentido de que a adoção dos fundamentos da sentença de 1º grau pelo julgado de Segunda Instância como razões de decidir, por si só, não caracteriza ausência de fundamentação, desde que as razões adotadas sejam formalmente idôneas ao julgamento da causa, sem que tanto configure violação da regra do art. 93, inc. IX, da Constituição Federal. (HC 94384, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 02/03/2010)

Motivação per relationem A motivação por meio da qual se faz remissão ou referência às alegações de uma das partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo é chamada pela doutrina e jurisprudência de motivação ou fundamentação per relationem ou aliunde. Também é denominada de motivação referenciada, por referência ou por remissão. Veja:

(...) MOTIVAÇÃO PER RELATIONEM. LEGITIMIDADE JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DESSA TÉCNICA DE MOTIVAÇÃO. (...) Esta Corte já firmou o entendimento de que a técnica de motivação por referência ou por remissão é compatível com o que dispõe o art. 93, IX, da Constituição Federal. Não configura negativa de prestação jurisdicional ou inexistência de motivação a decisão que adota, como razões de decidir, os fundamentos do parecer lançado pelo Ministério Público, ainda que em fase anterior ao recebimento da denúncia. (AI 738982 AgR, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgado em 29/05/2012)

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Neste julgado, a 2ª Turma do STJ reafirmou este entendimento: (...) É legítima a adoção da técnica de fundamentação referencial (per relationem), utilizada quando há expressa alusão a decisum anterior ou parecer do Ministério Público, incorporando, formalmente, tais manifestações ao ato jurisdicional. (...) (EDcl no AgRg no AREsp 94942/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 05/02/2013)

Processo STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 94.942-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Anulação de remoção com base em decisão do STF

“A” era titular de uma serventia notarial e registral no interior do Estado. Participou de um concurso de remoção, conseguindo uma serventia na capital.

Os critérios deste concurso de remoção estavam previstos em uma Lei estadual “X”. Ocorre que esta Lei “X” foi declarada inconstitucional pelo STF no julgamento de uma ADI, com

efeitos ex tunc. Diante disso, o Tribunal de Justiça anulou a remoção de “A”. O STJ considerou que não houve ilegalidade no ato do TJ, que se limitou a afastar os critérios de

classificação declarados inconstitucionais pelo STF, em observância ao efeito erga omnes do julgamento proferido em sede de ADI.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto): “A” era titular de uma serventia notarial e registral no interior do Estado. Participou de um concurso de remoção, conseguindo uma serventia na capital. Os critérios deste concurso de remoção estavam previstos em uma Lei estadual “X”. Ocorre que esta Lei “X” foi declarada inconstitucional pelo STF no julgamento de uma ADI, com efeitos ex tunc. Diante disso, o Tribunal de Justiça anulou a remoção de “A”. O TJ entendeu que não poderia deixar de cumprir a decisão do STF, mesmo atingindo a situação de “A”. Argumentou que não é possível invocar os princípios da boa-fé, da segurança jurídica e da razoabilidade, os quais, embora relevantes, não se sobrepõem ao da supremacia da ordem constitucional. Contra esta decisão do TJ, “A” interpôs recurso ordinário constitucional (art. 105, II, “b”, da CF/88). O STJ improveu o recurso, considerando que não houve ilegalidade no ato do TJ, que se limitou a afastar os critérios de classificação declarados inconstitucionais pelo STF, em observância ao efeito erga omnes do julgamento proferido em sede de ADI.

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.221-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

Fixação do soldo em valor inferior ao salário mínimo

É possível fixar o soldo em valor inferior ao salário mínimo, desde que a remuneração total percebida pelo militar, já consideradas as vantagens pecuniárias, seja igual ou superior àquele

valor. Conforme os arts. 7º, IV, e 39, § 3º, da CF, nenhum servidor público ativo ou inativo poderá receber remuneração mensal inferior ao salário mínimo, não vigorando essa restrição

ao vencimento básico, como no caso do soldo. Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 258.848-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.

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DIREITO CIVIL

Responsabilidade pré-contratual

A parte interessada em se tornar revendedora autorizada de veículos tem direito de ser ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no caso em que esta —

após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois de comunicar àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive,

a adiantar o pagamento de determinados valores — rompa, de forma injustificada, a negociação até então levada a efeito, abstendo-se de devolver as quantias adiantadas.

Comentários Imagine a seguinte situação: Determinada marca muito famosa de carros importados publica um anúncio no jornal informando que estaria procurando novos parceiros comerciais para abrir revendedoras do veículo no Brasil. Uma empresa brasileira manifesta interesse no negócio e é submetida a uma avaliação pela marca de carros, sendo, então, aprovada para funcionar como revendedora. Diante da aprovação, a empresa brasileira paga um adiantamento para o início do negócio. Ocorre que, injustificadamente, a fabricante dos carros rompe a negociação e recusa-se a devolver as quantias adiantadas. Diante disso, a empresa brasileira ingressou com ação de indenização contra a fabricante. A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte? A parte interessada em se tornar revendedora autorizada de veículos tem direito de ser ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no caso em que esta — após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois de comunicar àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive, a adiantar o pagamento de determinados valores — rompa, de forma injustificada, a negociação até então levada a efeito, abstendo-se de devolver as quantias adiantadas. Responsabilidade civil pré-negocial Trata-se de responsabilidade civil pré-negocial, ou seja, a verificada na fase preliminar do contrato. No Brasil, o CC/1916 não trazia disposição específica a respeito do tema, tampouco sobre a cláusula geral de boa-fé objetiva. Todavia, já se ressaltava a importância da tutela da confiança e da necessidade de reparar o dano verificado no âmbito das tratativas pré-contratuais. Com o advento do CC/2002, dispôs-se, de forma expressa, a respeito da boa-fé (art. 422), da qual se extrai a necessidade de observância dos chamados deveres anexos ou de proteção. Com base nesse regramento, deve-se reconhecer a responsabilidade pela reparação de danos originados na fase pré-contratual caso verificada a ocorrência de consentimento prévio e mútuo no início das tratativas, a afronta à boa-fé objetiva com o rompimento ilegítimo destas, a existência de prejuízo e a relação de causalidade entre a ruptura das tratativas e o dano sofrido. Nesse contexto, o dever de reparação não decorre do simples fato de as tratativas terem sido rompidas e o contrato não ter sido concluído, mas da situação de uma das partes ter gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.051.065-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013.

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Independência das instâncias

A norma do art. 935 do Código Civil consagra a independência relativa das jurisdições cível e criminal (independência das instâncias).

Somente na hipótese de a sentença penal absolutória fundamentar-se na inexistência do fato ou na negativa de autoria está impedida a discussão no juízo cível.

A decisão fundamentada na falta de provas aptas a ensejar a condenação criminal não restringe o exame da questão na esfera cível.

Além disso, para que a sentença criminal produza efeitos no juízo cível é necessário que ela já tenha transitado em julgado.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: “A”, na direção de veículo automotor, atropelou “B”, causando-lhe lesões corporais. Esse fato pode ser analisado sob dois aspectos: o penal e o cível.

Sob o aspecto penal: “A” pode responder pelo crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB).

Sob o aspecto cível: “A” pode ser condenado a pagar indenização pelos danos causados a “B” (art. 927 do CC).

O julgamento criminal interfere na decisão cível? Regra geral: NÃO. Como regra, a responsabilidade civil é independente da criminal. Trata-se do princípio da independência das instâncias (art. 935, primeira parte, CC).

Exceções: Essa independência é relativa (não é absoluta). Assim, em algumas hipóteses, o julgamento criminal irá influenciar na decisão cível. 1) Se a decisão for condenatória: irá influenciar na decisão cível. Um dos efeitos da condenação é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I, do CP). Logo, o juízo cível não poderá dizer que o fato não existiu ou que o condenado não foi o seu autor. Transitada em julgado a sentença condenatória, ela poderá ser executada, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano (art. 63 do CPP). 2) Se a decisão for absolutória: nem sempre irá influenciar na decisão cível. Assim, mesmo o réu tendo sido absolvido no juízo penal, ele pode, em alguns casos, ser condenado no juízo cível a indenizar a vítima. A Min. Nancy Andrighi explica que essa relativização da independência de jurisdições se justifica em virtude de o Direito Penal exigir provas de forma mais rígida para a condenação, sobretudo em decorrência do princípio da presunção de inocência. O Direito Civil, por sua vez, parte de pressupostos diversos. Neste, autoriza-se que, com o reconhecimento de culpa, ainda que levíssima, possa-se conduzir à responsabilização do agente e, consequentemente, ao dever de indenizar. O juízo cível é, portanto, menos rigoroso do que o criminal no que concerne aos pressupostos da condenação, o que explica a possibilidade de haver decisões aparentemente conflitantes em ambas as esferas. Análise das hipóteses de absolvição penal e sua influência no juízo cível: A absolvição criminal pode ocorrer por uma das hipóteses do art. 386 do CPP.

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

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I - estar provada a inexistência do fato; II - não haver prova da existência do fato; III - não constituir o fato infração penal; IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII - não existir prova suficiente para a condenação.

Incisos I e IV: a sentença penal absolutória faz coisa julgada no cível. Incisos II, III, V e VII: mesmo com a sentença penal absolutória, a pessoa pode ser

condenada no juízo cível. Inciso VI: pode fazer coisa julgada no cível ou não, dependendo do caso (vide art. 188

do CC). Vale ressaltar, ainda, que, para a decisão no juízo penal influenciar no cível, é necessário que a sentença penal já tenha transitado em julgado. Assim, a ação em que se discute a reparação civil somente estará prejudicada na hipótese de ter sido proferida uma sentença penal absolutória, transitada em julgado, na qual foi reconhecida a inexistência do fato ou na negativa de autoria.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.164.236-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/2/2013.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

Gratuidade de justiça e atos praticados por notários e registradores

A gratuidade de justiça obsta a cobrança de emolumentos pelos atos de notários e registradores indispensáveis ao cumprimento de decisão proferida no processo judicial em

que fora concedido o referido benefício.

Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias notariais e registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.

Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:

I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Benefício da gratuidade judiciária (justiça gratuita).

Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa jurídica, de forma integral e gratuita, a ser prestada pela Defensoria Pública aos necessitados (art. 134 da CF). Regulada pela Lei Complementar 80/94.

Isenção das despesas que forem necessárias para que a pessoa necessitada possa defender seus interesses em um processo judicial.

Regulada pela Lei n. 1.060/50.

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Lei n. 1.060/50

A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ). A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?

Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções: I - das taxas judiciárias e dos selos; II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e serventuários da justiça; III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação dos atos oficiais; IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder público estadual, nos Estados; V - dos honorários de advogado e peritos. VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade. VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita goza também de isenção de pagamento dos emolumentos relativos aos serviços notariais e registrais (custas dos “cartórios extrajudiciais”)? SIM. A parte beneficiada pela justiça gratuita não precisa pagar emolumentos para que os notários ou registradores pratiquem os atos indispensáveis ao cumprimento de decisão proferida no processo judicial em que fora concedido o referido benefício.

Ex1: o autor de uma execução é beneficiário da justiça gratuita (Lei n. 1.060/50). O juiz determina a penhora dos bens do executado. O exequente não precisará pagar os emolumentos (“custas do cartório”) para que a averbação desta penhora seja feita no Registro de Imóveis (§ 4º do art. 659 do CPC). Ex2: João, beneficiário da justiça gratuita, ingressou com ação de divórcio em face de Maria. A dissolução do vínculo conjugal foi decretada pelo juiz, tendo este determinado que o divórcio fosse averbado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). O Registrador não poderá cobrar emolumentos para praticar o ato. Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias notariais e registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.

Aplica-se ao caso os incisos I e II do art. 3º da Lei n. 1.060/50, mesmo os emolumentos não sendo “taxa judiciária” e mesmo os notários e registradores não sendo “serventuários da justiça”. Deve-se fazer uma interpretação que confira máxima efetividade ao art. 5º, LXXIV, da CF/88.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 24.557-MT, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/2/2013.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

Inscrição de consumidores em cadastros de proteção ao crédito

É lícita a inscrição dos nomes de consumidores em cadastros de proteção ao crédito por conta da existência de débitos discutidos judicialmente em processos de busca e apreensão, ações de cobrança, despejo, execução, falência etc. na hipótese em que os dados referentes às disputas

judiciais sejam públicos e, além disso, tenham sido repassados pelos próprios cartórios de distribuição de processos judiciais às entidades detentoras dos cadastros por meio de

convênios firmados com o Poder Judiciário de cada estado da Federação, sem qualquer intervenção dos credores litigantes ou de qualquer fonte privada.

Comentários A Câmara de Dirigentes Lojistas (associação de lojistas) de determinado município celebrou um convênio por meio do qual ela obtinha informações sobre as pessoas que tivessem contra si ações de busca e apreensão, de cobrança, despejo, execução, falência etc. Com base nisso, a CDL fez um banco de dados dos consumidores para que seus associados pudessem consultar antes de conceder crediário aos clientes. Esta prática foi questionada pelo Ministério Público, tendo a questão chegado até o STJ. O que foi decidido? Para o STJ, trata-se de prática lícita. Os dados referentes a processos judiciais que não corram em segredo de justiça são informações públicas, nos termos do art. 5º, XXXIII e LX, da CF/88, visto que publicadas na imprensa oficial, portanto de acesso a qualquer interessado, mediante pedido de certidão, conforme autoriza o parágrafo único do art. 155 do CPC. Sendo, portanto, dados públicos, as entidades detentoras de cadastros de proteção ao crédito não podem ser impedidas de fornecê-los aos seus associados, sob pena de grave afronta ao Estado Democrático de Direito, que prima, como regra, pela publicidade dos atos processuais. Além disso, o fato de as entidades detentoras dos cadastros fornecerem aos seus associados informações processuais representa medida menos burocrática e mais econômica tanto para os associados, que não precisarão se dirigir, a cada novo negócio jurídico, ao distribuidor forense para pedir uma certidão em nome daquele com quem se negociará, quanto para o próprio Poder Judiciário, que emitirá um número menor de certidões de distribuição, o que implicará menor sobrecarga aos funcionários responsáveis pela tarefa. O STJ, ademais, tem o entendimento pacificado de que a simples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstaculizar ou remover a negativação de devedor em banco de dados. Por fim, ressalve-se que, em se tratando de inscrição decorrente de dados públicos, como os de cartórios de protesto de títulos ou de distribuição de processos judiciais, sequer se exige a prévia comunicação do consumidor. Consequentemente, a ausência de precedente comunicação, nesses casos, não enseja dano moral.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.148.179-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013.

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DIREITO EMPRESARIAL

Leasing (arrendamento mercantil)

O arrendador tem a obrigação de devolver as quantias pagas, antecipadamente, pelo arrendatário, a título de Valor Residual Garantido (VRG), nos casos em que o produto objeto do leasing for apreendido por reintegração de posse e alienado pelo arrendador? Depende: 1) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a venda

do bem for maior que o VRG total previsto no contrato: o arrendatário terá direito de receber a diferença.

2) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a venda

do bem NÃO for superior ao VRG total previsto no contrato: o arrendatário não irá receber nada.

Graficamente, a situação pode ser assim ilustrada: 1) Se VRG pago + valor do bem vendido > VRG previsto no contrato arrendatário terá

direito de receber a diferença. 2) Se VRG pago + valor do bem vendido < VRG previsto no contrato arrendatário NÃO terá

direito de receber a diferença (até porque não haverá diferença). Mesmo na hipótese 1, o contrato poderá prever que, antes de devolvida a diferença para o arrendatário, o arrendador terá direito de descontar, previamente, outras despesas que tenha tido ou encargos contratuais. Para os efeitos do art. 543-C do CPC (recurso repetitivo), o STJ firmou o seguinte entendimento: "Nas ações de reintegração de posse motivadas por inadimplemento de arrendamento mercantil financeiro, quando o produto da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior que o total pactuado como VRG na contratação, será direito do arrendatário receber a diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos contratuais". Comentários ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)

O arrendamento mercantil (também chamado de leasing) é uma espécie de contrato de locação, no qual o locatário tem a possibilidade de, ao final do prazo do ajuste, comprar o bem pagando uma quantia chamada de valor residual garantido (VRG).

Opções do arrendatário: Ao final do leasing, o arrendatário terá três opções: • Renovar a locação, prorrogando o contrato; • Não renovar a locação, encerrando o contrato; • Pagar o valor residual e, com isso, comprar o bem alugado.

Ex: “A” faz um contrato de leasing com a empresa “B” para arrendamento de um veículo 0km pelo prazo de 5 anos. Logo, “A” pagará todos os meses um valor a título de aluguel e poderá usar o carro. A principal diferença para uma locação comum é que “A”, ao final do prazo do contrato, poderá pagar o valor residual e ficar definitivamente com o automóvel.

Obs: é muito comum, na prática, que o contrato já estabeleça que o valor residual será diluído nas prestações do aluguel. Assim, o contrato prevê que o arrendatário já declara que deseja comprar o bem e, todos os meses, junto com o valor do aluguel, ele paga também o

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valor residual de forma parcelada. Como dito, isso é extremamente frequente, especialmente no caso de leasing financeiro. O STJ considera legítima essa prática? SIM. Trata-se de entendimento sumulado do STJ:

Súmula 293: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.

Modalidades de leasing: Existem três espécies de leasing:

Leasing FINANCEIRO

Leasing OPERACIONAL

Leasing DE RETORNO (Lease back)

Previsto no art. 5º da Resolução 2.309/96-BACEN

Previsto no art. 6º da Resolução 2.309/96-BACEN

Não foi previsto na Resolução 2.309-BACEN.

É a forma típica e clássica do leasing. Ocorre quando uma pessoa jurídica (arrendadora) compra o bem solicitado por uma pessoa física ou jurídica (arrendatária) para, então, alugá-lo à arrendatária.

Ocorre quando a arrendadora já é proprietária do bem e o aluga ao arrendatário, comprometendo-se também a prestar assistência técnica em relação ao maquinário.

Ocorre quando determinada pessoa, precisando se capitalizar, aliena seu bem à empresa de leasing, que arrenda de volta o bem ao antigo proprietário a fim de que ele continue utilizando a coisa. Em outras palavras, a pessoa vende seu bem e celebra um contrato de arrendamento com o comprador, continuando na posse direta.

Ex: determinada empresa (arrendatária) quer utilizar uma nova máquina em sua linha de produção, mas não tem recursos suficientes para realizar a aquisição. Por esse motivo, celebra contrato de leasing financeiro com um Banco (arrendador) que compra o bem e o arrenda para que a empresa utilize o maquinário.

Ex: a Boeing Capital Corporation® (arrendadora) celebra contrato de arrendamento para alugar cinco aeronaves à GOL® (arrendatária) a fim de que esta utilize os aviões em seus voos. A arrendadora também ficará responsável pela manutenção dos aviões.

Ex: em 2001, a Varig®, a fim de se recapitalizar, vendeu algumas aeronaves à Boeing® e os alugou de volta por meio de um contrato de lease back. O nome completo desse negócio jurídico, em inglês, é sale and lease back (venda e arrendamento de volta).

Normalmente, a intenção da arrendatária é, ao final do contrato, exercer seu direito de compra do bem.

Normalmente, a intenção da arrendatária é, ao final do contrato, NÃO exercer seu direito de compra do bem.

Em geral é utilizado como uma forma de obtenção de capital de giro.

Imagine agora a seguinte situação hipotética (apenas baseada no caso concreto): O escritório “A”, desejando comprar 50 computadores e sem possuir capital para tanto, faz um contrato de leasing financeiro com o Banco “Y” para que ele compre os equipamentos e os arrende para que o escritório fique utilizando os computadores. O escritório é o arrendatário e o Banco o arrendador. Os bens foram adquiridos pelo Banco por 150 mil reais. O VRG foi fixado em 120 mil reais, que deveria ser pago, de forma diluída durante o

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contrato, em 24 parcelas de 5 mil reais. O valor do aluguel foi estipulado em 2 mil reais. Segundo o contrato, o escritório terá que pagar o valor do aluguel dos computadores e mais o VRG diluído entre as parcelas. Em outras palavras, o arrendatário, por força do pacto, já era obrigado a antecipar o VRG e, assim, quando o contrato de leasing chegasse ao final, ele seria o dono dos computadores. O contrato tinha duração de 24 meses. Ocorre que, a partir do 16º mês, o escritório tornou-se inadimplente. Ao longo do contrato, o arrendatário pagou 32 mil reais a título de alugueis e 80 mil reais como antecipação do VRG. Desse modo, o arrendador recebeu 112 mil reais no total. Se o arrendatário não paga as prestações do leasing, qual é a ação que deverá ser proposta pelo arrendador? Ação de reintegração de posse. Logo, o Banco ajuizou uma ação de reintegração de posse. O juiz expediu uma liminar determinando que os 50 computadores fossem entregues ao arrendador. Ao final, a ação foi julgada procedente e o autor ficou na posse plena dos bens. O arrendador, que ficou com a posse dos bens por conta da reintegração, poderá vendê-los? SIM. Os bens pertencem ao arrendador e ele poderá vendê-los. Aliás, no leasing financeiro, na quase totalidade dos casos, o arrendante irá alienar os bens, pois ele é uma instituição financeira que somente adquiriu a coisa arrendada por causa do interesse do arrendatário. Dessa forma, o Banco alienou os computadores para um terceiro. A questão enfrentada pelo STJ foi, então, a seguinte: O arrendador tem a obrigação de devolver as quantias pagas, antecipadamente, pelo arrendatário, a título de Valor Residual Garantido (VRG), nos casos em que o produto objeto do leasing for apreendido por reintegração de posse e alienado pelo arrendador? Depende: 1) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a

venda do bem for maior que o VRG total previsto no contrato: o arrendatário terá direito de receber a diferença.

2) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a venda do bem NÃO for superior ao VRG total previsto no contrato: o arrendatário não irá receber nada.

Graficamente, a situação pode ser assim ilustrada:

1) Se VRG pago + valor do bem vendido > VRG previsto no contrato arrendatário terá direito de receber a diferença.

2) Se VRG pago + valor do bem vendido < VRG previsto no contrato arrendatário NÃO terá direito de receber a diferença (até porque não haverá diferença).

Mesmo na hipótese 1, o contrato poderá prever que, antes de devolvida a diferença para o arrendatário, o arrendador terá direito de descontar, previamente, outras despesas que tenha tido ou encargos contratuais. Sei que o tema é complicado. Vamos tentar entender melhor retomando o exemplo que demos acima:

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VRG previsto no contrato = 120 mil. VRG pago antecipadamente = 80 mil. O escritório ficou inadimplente, razão pela qual os computadores foram retomados. O Banco vendeu os computadores para um terceiro. O arrendatário terá direito de receber de volta alguma quantia?

Se os computadores foram vendidos por mais de 40 mil reais = SIM.

Se os computadores foram vendidos por menos de 40 mil reais = NÃO. Ex1: computadores foram vendidos por 60 mil reais. VRG pago (80) + valor da venda (60) = 140 mil. Como o VRG previsto no contrato era de 120 mil, o arrendatário irá receber esta diferença (20 mil). Ex2: computadores foram vendidos por 30 mil reais. VRG pago (80) + valor da venda (30) = 110 mil. Como o VRG previsto no contrato era de 120 mil, o arrendatário não terá diferença para receber. Mesmo no caso do exemplo 1, o contrato de leasing poderia prever que, antes de devolvida a diferença para o arrendatário, o arrendador teria direito de descontar previamente despesas ou encargos contratuais que tenha tido.

Adendo (para os que quiserem aprofundar)

Fundamentos mencionados pelo Min. Relator para chegar a esta conclusão acima exposta: No chamado leasing financeiro, o arrendador adquire o bem indicado pelo contratante sem nenhum interesse em mantê-lo em seu patrimônio após o término do contrato. A arrendadora somente adquiriu o bem para satisfazer uma necessidade da arrendatária. Caso o bem não seja adquirido pela arrendatária ao final do contrato, a arrendadora irá certamente vender o bem para algum outro interessado, não ficando com a coisa para si. Assim, no leasing financeiro prepondera o caráter de financiamento na operação, colocado à disposição do particular, à semelhança do que ocorre na alienação fiduciária. O Conselho Monetário Nacional, ao regulamentar o leasing financeiro, considera-o como a modalidade de arredamento mercantil em que “as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos” (art. 1º, I, da Res. n. 2.309/1996 do CMN). Nesse contexto, deve-se observar que se a arrendadora fosse obrigada a devolver integralmente ao arrendatário o pagamento prévio (antecipado ou diluído com as prestações) do VRG (sem fazer qualquer desconto), isso faria com que a arrendadora ficasse muito longe de recuperar ao menos o custo realizado com a aquisição do produto. É, portanto, inerente à racionalidade econômica do leasing financeiro a preservação de um valor mínimo em favor do arrendador pelo produto financiado, a servir-lhe de garantia (daí o nome: “valor residual garantido”), a depender, no caso de não exercida a opção de compra pelo arrendatário, do valor recebido com a venda do produto. Nesse sentido, o STJ tem estabelecido o entendimento de que o VRG pago antes do término do contrato não constitui propriamente um pagamento prévio do bem arrendado, mas sim um valor mínimo garantido ao arrendador no caso em que não exercida a opção de compra. A propósito, inclusive, a Portaria n. 564/1978 do Ministério da Fazenda (referente à tributação das arrendadoras nas operações de arrendamento mercantil) definiu o VRG

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como o “preço contratualmente estipulado para exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra”. Sendo assim, conclui-se que somente será possível a devolução ao arrendatário da diferença verificada no caso em que o resultado da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem tenha sido maior que o total pactuado como VRG na contratação, cabendo, ainda, o desconto prévio de outras despesas ou encargos contratuais eventualmente estipulados pelo contrato. Entende-se que assim, observando-se fielmente a finalidade do VRG, possa o arrendamento mercantil ter seu equilíbrio econômico-financeiro resguardado, preservando sua função social como pactuação propícia à proteção da confiança, da boa-fé, pelo estímulo à adimplência e ao cumprimento dos contratos. Como consequência, tem-se a redução dos custos financeiros e do spread bancário, a minoração das taxas de juros e, sobretudo, o incremento da atividade econômica em geral, tudo a bem da construção de uma sociedade em que vigore a livre iniciativa, mas com justiça social.

Processo STJ. 2ª Seção. REsp 1.099.212-RJ, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/2/2013 (recurso repetitivo).

Marca de alto renome

É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via direta, uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome.

Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da caracterização, ou não, de uma marca como sendo de alto renome, não pode o Poder Judiciário conferir, pela via judicial,

a correspondente proteção especial. Comentários Marca

Marca é um sinal, identificável visualmente, por meio do qual os produtos ou serviços são identificados e assim podem ser distinguidos dos demais. “A marca, cuja propriedade é consagrada pelo art. 5º, XXIX, da CF, se constitui um sinal distintivo de percepção visual que individualiza produtos e/ou serviços. O seu registro confere ao titular o direito de usar, com certa exclusividade, uma expressão ou símbolo.” (Min. Nancy Andrighi). Vale destacar, mais uma vez, que “marca”, segundo a legislação brasileira, é obrigatoriamente um sinal identificável pela visão, ou seja, não existe “marca sonora” ou “marca olfativa”. Justamente por isso, o famoso som “plim plim” que a rede Globo® de televisão utiliza não pode ser registrado como marca no Brasil. É comum a seguinte afirmação: “marca no Brasil é somente aquilo que a pessoa pode ver”. Importância A marca é extremamente importante para a atividade empresarial, considerando que, muitas vezes, ela é decisiva no momento em que o consumidor irá optar por escolher entre um ou outro produto ou serviço. Justamente por isso são desenvolvidas inúmeras ações de marketing para divulgar e tornar conhecida e respeitada a marca. “A sua proteção, para além de garantir direitos individuais, salvaguarda interesses sociais, na medida em que auxilia na melhor aferição da origem do produto e/ou serviço, minimizando erros, dúvidas e confusões entre usuários.” (Min. Nancy Andrighi).

Concursos federais

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Proteção da marca Por ser importante à atividade empresarial, a marca é protegida pela legislação.

A Lei n. 9.279/96 afirma que a marca pode ser registrada para que não seja utilizada indevidamente em outros produtos ou serviços:

Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais.

Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148.

Onde é realizado este registro? No Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Trata-se de uma autarquia federal que possui a atribuição de conceder privilégios e garantias aos inventores e criadores em âmbito nacional. Os direitos de propriedade industrial são concedidos, no Brasil, pelo INPI. Princípio da especialidade ou especificidade Depois da marca ter sido registrada no INPI, apenas o titular desta marca poderá utilizá-la em todo o território nacional. Contudo, em regra, no Brasil, a proteção da marca impede que outras pessoas utilizem esta marca apenas em produtos ou serviços similares, podendo a mesma marca ser usada por terceiros em produtos ou serviços distintos. Assim, a proteção da marca se submete, portanto, ao princípio da especialidade, ou seja, a marca registrada somente é protegida no ramo de atividade que o seu titular atua. “Pelo princípio da especialidade, o registro da marca confere exclusividade de uso apenas no âmbito do mercado relevante para o ramo de atividade ao qual pertence o seu titular.” (Min. Nancy Andrighi). Veja precedentes do STJ aplicando o sobredito princípio:

(...) Segundo o princípio da especialidade das marcas, não há colidência entre os signos semelhantes ou até mesmo idênticos, se os produtos que distinguem são diferentes. (...) (REsp 1079344/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 21/06/2012) (...) A marca é um sinal distintivo, visualmente perceptível, que visa a identificar um produto ou serviço no mercado consumidor. Para se obter o registro da marca e, consequentemente, sua propriedade, é necessária a observância de certos requisitos como a novidade relativa, distinguibilidade, veracidade e licitude, de molde a evitar que o consumidor seja induzido a engano, ante a existência de repetições ou imitações de signos protegidos. 2. Produtos ou serviços diferentes podem apresentar marcas semelhantes, dado que incide, no direito marcário, em regra, o princípio da especialidade; ou seja, a proteção da marca apenas é assegurada no âmbito das atividades do registro, ressalvada a hipótese de marca notória. (...) (REsp 862.067/RJ, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Terceira Turma, julgado em 26/04/2011) A proteção à marca pela Lei n. 9.279/96 não é absoluta, pois “segundo o princípio da especialidade ou da especificidade, a proteção ao signo, objeto de registro no INPI, estende-se somente a produtos ou serviços idênticos, semelhantes ou afins, desde que haja possibilidade de causar confusão a terceiros.” (REsp 333105/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, julgado em 02/06/2005).

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Exceção ao princípio da especialidade (“extravasamento do símbolo”) Existe uma exceção ao princípio da especialidade. Trata-se do caso da marca de “alto renome”, que tem proteção em todos os ramos de atividade. Diz a Lei:

Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade.

A Resolução n. 121/05 do INPI, em seu art. 2º, fornece um conceito para marca de alto renome: “Considera-se de alto renome a marca que goza de uma autoridade incontestável, de um conhecimento e prestígio diferidos, resultantes da sua tradição e qualificação no mercado e da qualidade e confiança que inspira, vinculadas, essencialmente, à boa imagem dos produtos ou serviços a que se aplica, exercendo um acentuado magnetismo, uma extraordinária força atrativa sobre o público em geral, indistintamente, elevando-se sobre os diferentes mercados e transcendendo a função a que se prestava primitivamente, projetando-se apta a atrair clientela pela sua simples presença.” Exemplos de marcas já declaradas pelo INPI como sendo de alto renome: Pirelli®, Kibon®, Natura®, Moça®, Chica Bon®, Banco do Brasil®, Diamante Negro®, Nike®, Sadia®. Quando a marca é registada no INPI, ela já recebe este status de marca de “alto renome”? É possível que o INPI dê uma declaração geral e abstrata afirmando que determinada marca é de “alto renome”? NÃO. O titular da marca somente poderá obter a declaração do INPI de que a sua marca é de alto renome se alguma outra pessoa tentar registrar a marca. Ex: suponhamos que a Ford® resolva registrar sua marca no INPI. Quando efetuar o registro, a marca Ford® não poderá ainda ser considerada como de “alto renome”. O INPI não dá esta declaração no momento do registro. No entanto, se alguma outra pessoa quiser registrar uma confecção de roupas chamada “Ford”, o titular da marca Ford® poderá se opor a este pedido de registro afirmando que a marca Ford® é de alto renome e que a sua proteção vale para todos os ramos de atividade (e não apenas para o mercado automobilístico). Na prática, portanto, o titular de uma marca só conseguirá uma declaração administrativa do INPI de que se trata de marca de “alto renome” se houver algum pedido de registro que conflite com ela. Esta impossibilidade do INPI declarar, desde logo, que a marca é de alto renome é algo que atrapalha a atividade empresarial? SIM. Segundo a doutrina especializada, a inexistência de um procedimento administrativo para que se obtenha do INPI uma declaração direta e abstrata do alto renome é algo que gera insegurança, atenta contra a proteção constitucional destinada à marca e dificulta que o titular atue preventivamente, antes do surgimento de um risco concreto de violação da propriedade industrial. Diante dessa situação, qual foi a solução encontrada pelos titulares de marcas? Os titulares de marcas começaram a ajuizar ações com o objetivo de que o Poder Judiciário (no caso, a Justiça Federal, por ser o INPI uma autarquia federal) declarasse que a sua marca seria de “alto renome”. Em suma, foram propostas ações objetivando a declaração judicial do alto renome da marca. O que o STJ entendia sobre estas demandas? Incialmente, o STJ não concordou com estas ações. Assim, a posição tradicional do STJ era no sentido de que a declaração do alto renome de uma marca consiste em ato discricionário do INPI, não podendo ser declarada pelo Poder Judiciário. Houve decisão

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recentíssima nesse sentido: AgRg no AgRg no REsp 1.116.854/RJ, 3ª Turma, Relator Min. Massami Uyeda, DJe de 02/10/2012. O que foi decidido pelo STJ no julgado noticiado neste informativo? A 3ª Turma do STJ alterou, em parte, seu entendimento. O STJ decidiu que o titular da marca possui legítimo interesse em obter, por via direta, uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome. Veja alguns argumentos veiculados pela Min. Nancy Andrighi:

O reconhecimento do alto renome só pela via incidental (de defesa) imporia ao titular um ônus injustificado de ficar constantemente acompanhando todos os pedidos de registro de marcas a fim de identificar eventuais ofensas ao seu direito marcário;

Ademais, acontece muitas vezes de a pessoa que está utilizando indevidamente a marca de alto renome nem sequer tentar fazer o registro no INPI por saber que seria questionado. Ex: a pessoa possui uma confecção de roupas Natura (com o mesmo símbolo da marca registrada). Logo, ela nem vai tentar registrar esta marca porque tem consciência de que haveria oposição por parte da empresa de cosméticos. Nesses casos, a controvérsia não chega ao INPI, impedindo que o titular da marca adote qualquer medida administrativa incidental visando à declaração do alto renome.

Verifica-se, portanto, haver efetivo interesse do titular em obter uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome.

Os atos do INPI relacionados com o registro do alto renome de uma marca, por derivarem do exercício de uma discricionariedade técnica e vinculada, encontram-se sujeitos a controle pelo Poder Judiciário, sem que isso implique violação do princípio da separação dos poderes.

O STJ decidiu, no entanto, que o Poder Judiciário não poderá declarar diretamente que a marca é de alto renome por meio de uma decisão judicial. O que o Judiciário pode fazer é determinar que o INPI examine, em um certo prazo, se a marca é realmente de alto renome. A Ministra afirmou que o Poder Judiciário não pode suprir a omissão do INPI e decidir o mérito do processo administrativo, mas apenas determinar que o procedimento seja concluído em tempo razoável. Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da caracterização, ou não, de uma marca como sendo de alto renome, não pode o Poder Judiciário conferir, pela via judicial, a correspondente proteção especial, sob pena de violar a separação dos poderes, sendo esta atribuição pertencente ao INPI, integrante do Poder Executivo.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para ação de pensão por morte no qual haverá reconhecimento de união estável

Compete à JUSTIÇA FEDERAL processar e julgar demanda proposta em face do INSS com o objetivo de ver reconhecido exclusivamente o direito da autora de receber pensão decorrente

da morte do alegado companheiro, ainda que seja necessário enfrentar questão prejudicial referente à existência, ou não, da união estável.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: Maria vivia em união estável com João, que era funcionário de uma empresa privada e, portanto, contribuía para o Regime Geral da Previdência Social (RGPS – INSS). João faleceu.

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Maria terá direito a algum benefício previdenciário?

SIM, ela terá direito à pensão por morte, benefício previsto nos arts. 74 a 79 da Lei n. 8.213/91. Suponha que Maria formulou requerimento administrativo ao INSS solicitando a pensão por morte. Ocorre que a autarquia previdenciária negou o pedido, sob o argumento de que não

restou comprovada a união estável, nos termos do § 3º do art. 22 do Decreto n. 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social). Diante disso, Maria procurou a Defensoria Pública para ajuizar uma ação contra o INSS. Repare que esta ação tem por objetivo ver reconhecido o direito da autora de receber a pensão por morte. No entanto, será necessário que ela prove, nesta demanda, que vivia, realmente, em união estável com o falecido. Surge, no entanto, um impasse aparente: a competência para julgar ações contra o INSS (autarquia federal) é, em regra, da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88. Por outro lado, a competência para reconhecer união estável é da Justiça estadual. De quem é a competência para julgar esta ação a ser proposta por Maria? Compete à JUSTIÇA FEDERAL processar e julgar demanda proposta em face do INSS com o objetivo de ver reconhecido exclusivamente o direito da autora de receber pensão decorrente da morte do alegado companheiro, ainda que seja necessário enfrentar questão prejudicial referente à existência, ou não, da união estável. A definição da competência se estabelece de acordo com os termos da demanda, e não a partir de considerações a respeito de sua procedência, da legitimidade das partes ou de qualquer juízo acerca da própria demanda. Assim, se a pretensão deduzida na inicial não diz respeito ao reconhecimento de união estável, mas apenas à concessão de benefício previdenciário, deve ser reconhecida a competência da Justiça Federal. Nesse contexto, ainda que o juízo federal tenha de enfrentar o tema referente à caracterização da união estável, não haverá usurpação da competência da Justiça Estadual, pois esse ponto somente será apreciado como questão prejudicial, possuindo a demanda natureza nitidamente previdenciária.

Processo STJ. 1ª Seção. CC 126.489-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/4/2013.

Competência no caso de ação monitória proposta contra Estado-membro

Segundo a jurisprudência do STJ, o Estado-membro não tem prerrogativa de foro. Logo, poderá ser demandado em outra comarca que não a de sua capital. Poderá ser até mesmo demandado

em outro Estado-membro da Federação. No caso de ação monitória proposta contra o Estado-membro, a competência para julgar a

causa é do local onde a obrigação deveria ser satisfeita e onde deveria ter ocorrido o pagamento da contraprestação, conforme prevê o art. art. 100, IV, “d”, do CPC.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto): O Estado “A” fez um contrato com uma rede de hotéis localizada em Brasília/DF a fim de que as autoridades estaduais lá ficassem hospedadas quando fossem tratar de assuntos institucionais na capital federal. Após alguns meses de prestação de serviços, o Estado “A” não pagou o hotel.

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O contrato celebrado não observou as formalidades necessárias para que pudesse ser considerado um título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC). Logo, o hotel dispunha de uma prova escrita da dívida, mas que não possuía eficácia de título executivo. Qual ação deverá ser proposta pelo Hotel contra o Estado? Ação monitória. Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo. Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito. Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de conta-corrente. Mas é possível ajuizar ação monitória contra um Estado-membro? SIM. Não há mais dúvidas quanto a isso atualmente. Nesse sentido: Súmula 339-STJ: É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública. A pergunta do Informativo foi a seguinte: Onde deverá ser proposta esta ação, na capital do Estado “A” ou no Distrito Federal? A competência é do local onde a obrigação deve ser satisfeita, nos termos do art. 100, IV, “d”, do CPC:

Art. 100 (...) IV - do lugar: d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;

A prestação dos serviços foi realizada em Brasília (DF) e neste local deveria ter sido cumprida a obrigação do Estado “A” de pagar por estes serviços. Logo, o juízo competente para julgar a ação monitória é uma das varas do Distrito Federal. Mas o Estado “A” poderá ser demandado em outro local que não seja a capital do Estado? SIM. O Estado-membro não tem prerrogativa de foro e pode ser demandado em outra comarca que não a da capital. Desse modo, o STJ admitiu a aplicação da regra do art. 100, IV, "d", do CPC ao caso concreto.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.316.020-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/4/2013.

Motivação per relationem

É legítima a adoção da técnica de fundamentação referencial (per relationem), consistente na alusão e incorporação formal, em ato jurisdicional, de decisão anterior ou parecer do MP.

Comentários Vide explicações na seção de Direito Constitucional.

Processo STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 94.942-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/2/2013.

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Gratuidade de justiça e atos praticados por notários e registradores

A gratuidade de justiça obsta a cobrança de emolumentos pelos atos de notários e registradores indispensáveis ao cumprimento de decisão proferida no processo judicial em

que fora concedido o referido benefício.

Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias notariais e registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.

Comentários Vide explicações na seção de Direito Notarial e Registral.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 24.557-MT, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/2/2013.

Impossibilidade de prisão em jurisdição cível, salvo no caso de obrigação alimentícia

Não é possível que o magistrado, ao conceder tutela antecipada no âmbito de processo cível cujo objeto não consista em obrigação de natureza alimentícia, efetue ameaça de decretação de

prisão para o caso de eventual descumprimento dessa ordem judicial, sob a justificativa de que, nesse caso, configurar-se-ia crime de desobediência (art. 330 do CP).

Comentários Ação de obrigação de fazer Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação. Exemplo (hipotético): “A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”, especializado em celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de suas páginas fotos íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou. Deferida a tutela antecipada O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede, liminarmente, a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (...) § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

Medidas coercitivas para cumprimento da decisão O juiz, para que a sua decisão tenha “força” e desperte no réu a vontade de cumpri-la, deve determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória (astreinte), prevista no § 4º do art. 461 do CPC:

§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

O rol legal das medidas coercitivas é meramente exemplificativo O CPC prevê, no entanto, que o magistrado pode impor outras medidas coercitivas, além da multa. Veja:

ATENÇÃO

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§ 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.

Na verdade, a doutrina afirma que existe uma “cláusula geral executiva” no CPC, considerando que § 5º do art. 461 traz um rol exemplificativo de medidas, mas o juiz poderá determinar outras que não estejam ali previstas (medidas coercitivas atípicas). É possível utilizar a prisão civil como medida coercitiva atípica? A resposta a esta indagação envolve a análise do art. 5º, LXVII, da CF/88, que determina:

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Assim, a CF veda, em regra, a prisão civil por dívida. Quando este inciso fala em “dívida”, isto significa obrigação pecuniária (obrigação de pagar quantia) ou abrange qualquer tipo de obrigação? Em outras palavras, a CF veda a: 1ª corrente: prisão civil por dívida pecuniária (obrigação de pagar); OU 2ª corrente: a prisão civil por dívida de qualquer natureza (obrigação de pagar, de fazer, de não fazer e de entregar coisa diferente de dinheiro)? Este debate é interessantíssimo e palpitante na doutrina. Vejamos um panorama:

1ª corrente: a CF veda apenas a prisão civil por dívida pecuniária.

Assim, É possível a prisão civil como medida

coercitiva no caso de obrigações que não sejam pecuniárias (ex: obrigação de fazer)

2ª corrente: a CF veda a prisão pelo inadimplemento de qualquer obrigação.

Logo, NÃO é possível a prisão civil como

medida coercitiva, salvo no caso de descumprimento de obrigação alimentícia.

Luiz Guilherme Marinoni

Marcelo Lima Guerra

Pontes de Miranda

Donaldo Armelin

Sérgio Shimura

Eduardo Talamini

Ovídio Baptista

Carlos Alberto Alvaro de Oliveira

José Garcia Medina

Humberto Theodoro Jr.

Fonte utilizada para elaboração do quadro acima: DIDIER JR., Fredie. et. al. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 5. Execução. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 477-482. Qual a posição adotada pelo STJ? A 3ª Turma do STJ, em julgado recente, adotou a 2ª corrente. De acordo com o STJ, é inviável a decretação ou a ameaça de decretação de prisão nos autos de processo civil como forma de coagir a parte ao cumprimento de obrigação, ressalvada a obrigação de natureza alimentícia. Vale ressaltar que não será permitida a prisão do destinatário da ordem nem mesmo sob o argumento de que ele, ao não cumprir o que foi determinado, estaria cometendo o crime de desobediência. Nesse sentido, confira o seguinte exemplo hipotético:

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João ingressou com uma ação de obrigação de fazer contra Paulo. O juiz deferiu a tutela antecipada determinando que Paulo cumprisse a obrigação. No mandado de intimação expedido, o magistrado ameaçou decretar a prisão do requerido, pela prática do crime de desobediência (art. 330 do CP), caso ele não cumprisse a ordem no prazo fixado. O juiz agiu de forma adequada segundo a jurisprudência do STJ? NÃO. De acordo com o STJ, é inviável a decretação ou a ameaça de decretação de prisão nos autos de processo civil como forma de coagir a parte ao cumprimento de obrigação, ressalvada a obrigação de natureza alimentícia. Assim, não é possível que o magistrado, ao conceder tutela antecipada no âmbito de processo cível cujo objeto não consista em obrigação de natureza alimentícia, efetue ameaça de decretação de prisão para o caso de eventual descumprimento dessa ordem judicial, sob a justificativa de que, nesse caso, configurar-se-ia crime de desobediência (art. 330 do CP).

Processo STJ. 3ª Turma. RHC 35.253-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 5/3/2013.

Ilegitimidade do espólio para ajuizar ação de indenização em nome dos herdeiros

O espólio não tem legitimidade ativa para ajuizar ação em que o dano moral pleiteado pela família tem como titulares do direito os herdeiros, não por herança, mas sim por causa de

direito próprio deles.

Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto viva, tendo esta ajuizado ação de indenização, mas falecido antes do trânsito em julgado.

O espólio é legitimado a prosseguir na demanda.

Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto viva. Esta faleceu sem ter ajuizado a ação.

O espólio é legitimado a propor a ação de indenização.

Ofensa à memória da pessoa já falecida. Os herdeiros (e não o espólio) são legitimados para propor a ação de indenização.

Dor e sofrimento causado pela morte da pessoa. Os herdeiros (e não o espólio) são legitimados para propor a ação de indenização.

Comentários O que é a herança? A herança é o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida. Caracteriza-se, por força de lei, como sendo bem imóvel, universal e indivisível. A herança é formada automaticamente pela morte e somente será dissolvida quando houver a partilha. O que é o espólio? O espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele. Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para praticar atos jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual (pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et. al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396).

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Quem representa o espólio em juízo (quem age em nome do espólio)?

Se já houve inventário: o espólio é representado em juízo pelo inventariante.

Se ainda não foi aberto inventário: o espólio é representado pelo administrador provisório (art. 985 do CPC).

Fixados estes conceitos, imagine a seguinte situação hipotética: João, viúvo, pai de Hugo, José e Luiz, faleceu em decorrência de suposta falha no atendimento hospitalar. Foi aberto inventário, tendo Hugo sido nomeado como inventariante. Os filhos decidem contratar um advogado para ajuizar uma ação de indenização contra o hospital pelos danos morais e materiais que eles sofreram com a morte do genitor. O advogado propõe a ação de indenização indicando como autor o espólio. O advogado agiu de maneira correta? NÃO. O espólio não tem legitimidade para postular indenização pelos danos materiais e morais supostamente experimentados pelos herdeiros, ainda que se alegue que os referidos danos teriam decorrido de erro médico de que fora vítima o falecido. Na situação exposta, o direito à reparação pelos danos causados com a morte é dos filhos de João por conta de direito próprio deles (e não por um direito que tenha sido transmitido com a herança). Assim, o direito à reparação pela morte de João nada tem a ver com a herança (não foi um bem deixado pelo falecido com a sua morte). Logo, o autor da demanda não deve ser o espólio. Resumindo: o direito no qual se funda a ação é próprio dos herdeiros, e não um direito do de cujus que foi transmitido. Vejamos, ao contrário, duas situações em que a legitimidade seria do espólio: O espólio teria legitimidade para ajuizar a ação se o direito à indenização pertencesse ao falecido e tivesse sido transmitido aos herdeiros com a morte. Ex1: suponhamos que, antes de João falecer, tenha sido publicada uma reportagem no jornal atacando a sua honra. João ajuizou uma ação de indenização contra o periódico, tendo, no entanto, morrido antes que a demanda fosse julgada. Neste exemplo, considerando a natureza patrimonial do direito de ação por danos morais, esse direito se transmitirá aos herdeiros. Logo, o espólio possui legitimidade para suceder o autor na ação de indenização, operando-se a substituição processual, nos termos do art. 43 do CPC. Ex2: a reportagem foi publicada atacando a honra de João. Ocorre que não deu tempo de ele tomar providências contra o periódico. Nesta hipótese, muito embora se reconheça o caráter pessoal da referida ação, o STJ e a doutrina majoritária consideram que o direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima. Logo, o espólio tem legitimidade para intentar a ação de reparação por danos morais. Nesse sentido é o art. 943 do CC e o Enunciado 454 do CJF.

Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.

Enunciado 454-CJF: Art. 943. O direito de exigir reparação a que se refere o art. 943 do Código Civil abrange inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha sido iniciada pela vítima.

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Vale ressaltar que o direito de personalidade da pessoa morta não foi transmitido com a herança. O direito da personalidade extinguiu-se com a morte do titular. O que se transmitiu, neste caso, foi apenas o direito patrimonial de requerer a indenização. Agora, por fim, uma última hipótese: Suponha que a reportagem atacando a honra de João foi publicada somente após a sua morte. Neste caso, será possível o ajuizamento de ação de indenização por danos morais? Quem terá legitimidade para figurar no polo ativo: o espólio ou os herdeiros? SIM, será possível a propositura de ação de indenização por danos morais. A legitimidade ativa para esta demanda é dos herdeiros, nos termos do parágrafo único do art. 12 do CC:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Se o dano ocorre depois da morte do titular, não produz efeitos jurídicos ao morto. Contudo, tal ofensa atinge, indiretamente, os familiares vivos da pessoa morta, caracterizados como “lesados indiretos”. Assim sendo, os herdeiros, considerados como “lesados indiretos” pelas ofensas devem propor a ação em nome próprio. Como explicam Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: “(...) é um direito reconhecido às pessoas vivas de ter salvaguardada a personalidade dos seus parentes (e do cônjuge ou companheiro) falecidos, sob pena de afronta à sua própria personalidade. Isto porque ao violar a honra, imagem, sepultura etc., de uma pessoa morta, atinge-se, obliquamente (indiretamente, na linguagem do Código Civil), os seus parentes (e o cônjuge ou companheiro) vivos. Bem por isso, os lesados indiretos atuam em nome próprio, defendendo um interesse próprio, consistente na defesa da personalidade de seus parentes (ou de seu cônjuge ou companheiro) falecidos. Agem, pois, por legitimidade ordinária, autônoma, e não em substituição processual.” (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 198) Quadro-resumo:

Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto viva, tendo esta ajuizado ação de indenização, mas falecido antes do trânsito em julgado.

O espólio é legitimado a prosseguir na demanda.

Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto viva. Esta faleceu sem ter ajuizado a ação.

O espólio é legitimado a propor a ação de indenização.

Ofensa à memória da pessoa já falecida. Os herdeiros (e não o espólio) são legitimados para propor a ação de indenização.

Dor e sofrimento causado pela morte da pessoa. Os herdeiros (e não o espólio) são legitimados para propor a ação de indenização.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.143.968-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/2/2013.

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Interposição do recurso via fax

Mesmo que o advogado não tenha conseguido interpor o recurso, via fax, por conta de um problema técnico do próprio Poder Judiciário, ele não terá oportunidade de ajuizar o recurso

em outra data fora do prazo.

Em outras palavras, o recurso interposto via fax fora do prazo recursal deve ser considerado intempestivo, ainda que tenha ocorrido eventual indisponibilidade do sistema de protocolo via

fax do Tribunal no decorrer do referido período de tempo.

São de responsabilidade de quem opta pelo sistema de comunicação por fax os riscos de que eventuais defeitos técnicos possam impedir a perfeita recepção da petição.

Comentários Imagine a seguinte situação: O prazo para que o advogado interponha o recurso termina hoje. Ocorre que este causídico está viajando e não há ninguém que possa protocolizar o recurso por ele no Tribunal. O que este advogado poderá fazer?

É possível que ele interponha o recurso por meio de fax. Isso está previsto na Lei n. 9.800/99. Suponha, no entanto, que, no último dia do prazo, o advogado tenta passar o fax com o recurso, mas os telefones do Tribunal estão com defeito. Como o fax não foi enviado por causa de uma falha no telefone do Poder Judiciário, o causídico poderá alegar “justa causa” (art. 183 do CPC) e ajuizar o recurso no dia seguinte? NÃO. O recurso interposto via fax fora do prazo recursal deve ser considerado intempestivo, ainda que tenha ocorrido eventual indisponibilidade do sistema de protocolo via fax do Tribunal no decorrer do referido período de tempo. Conforme a jurisprudência do STJ, são de responsabilidade de quem opta pelo sistema de comunicação por fax os riscos de que eventuais defeitos técnicos possam impedir a perfeita recepção da petição.

Processo Segunda Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 237.482-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

Impossibilidade de desistência do recurso após seu julgamento

Não é possível a homologação de pedido de desistência de recurso já julgado, pendente apenas de publicação de acórdão.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no Ag 1.392.645-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 21/2/2013.

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos

Não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista no art. 105, I, “f”, da CF com o objetivo de impugnar procedimento adotado no Tribunal de origem que, por entender que a matéria

abordada em recurso especial ali interposto não seria idêntica a outra já decidida sob a sistemática dos recursos repetitivos, tenha determinado a remessa ao STJ dos autos para julgamento.

Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos “repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.

Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento

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em idêntica controvérsia ou questão de direito. Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais repetitivos, que é previsto no art. 543-C do CPC:

Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

Procedimento O procedimento relativo ao processamento e julgamento de recursos especiais repetitivos

está previsto no art. 543-C do CPC e na Resolução n. 08/2008-STJ e pode ser assim resumido: 1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto. Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos. 2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ. Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de argumentos no recurso especial.

Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se pronuncie sobre o tema central. Cabe algum recurso contra a decisão proferida no Tribunal de origem que tenha determinado o sobrestamento do Resp com fundamento no § 1º do art. 543-C do CPC? NÃO. É irrecorrível o ato do presidente do tribunal de origem que, com fundamento no art. 543-C, § 1º, do CPC, determina a suspensão de recursos especiais enquanto se aguarda o julgamento de outro recurso encaminhado ao STJ como representativo da controvérsia. Com efeito, este ato não ostenta conteúdo decisório, tendo em vista que não há efetivo juízo de admissibilidade neste momento processual. Em verdade, a referida manifestação judicial é um despacho, de modo que tem incidência o regramento previsto no art. 504 do CPC, segundo o qual “dos despachos não cabe recurso”. Haverá possibilidade de interposição de recurso após o julgamento do recurso representativo da controvérsia no STJ, ocasião em que poderá ser manejado agravo regimental, no tribunal de origem, contra eventual equívoco no juízo de admissibilidade efetivado na forma do art. 543-C, § 7º, do CPC. (STJ. 2ª Seção. AgRg na Rcl 6.537-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013) 3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado, poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais a controvérsia esteja estabelecida. 4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsia.

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5) Se a matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae. 6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias. 7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus. 8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:

§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na origem: I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Explicando melhor esse § 7º: Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ. Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento negado e nem será mais apreciado pelo STJ. Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de origem, que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ. Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar, no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante. 9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ. Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos, mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial interposto pelo particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será encaminhado ao STJ para análise do mérito. 10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial, aplicando o entendimento do

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STJ, e a parte recorrente não concordar com isso, sob o argumento de que o caso que envolve o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte afirma que há um distinguishing. A pergunta que surge é a seguinte: será possível que esta parte interponha algum recurso contra a decisão do Presidente do tribunal de origem que negou seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º do art. 543-C do CPC? Será cabível agravo regimental, a ser julgado no Tribunal de origem, destinado a impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC. (STJ. 2ª Turma. REsp 1.346.362-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado 4/12/2012) Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que “não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011). Para o STJ, a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental, a ser processado e julgado no tribunal de origem. Imagine agora que o Tribunal de origem, no julgamento do agravo regimental, manteve a decisão monocrática do Presidente (ou Vice-Presidente), ou seja, aplicando o art. 543, § 7º, I, do CPC. Nesta hipótese, cabe algum outro recurso contra esta decisão? NÃO. Seria possível, então, interpor uma reclamação ao STJ? Também NÃO. Segundo o STJ, não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação neste caso. Além disso, o cabimento da reclamação impediria a realização do fim precípuo da reforma processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada análise de questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam ao STJ com o intuito de discutir a mesma matéria. Em outras palavras, se fosse admitida reclamação, o “filtro” imposto para evitar a subida de uma enorme quantidade de processos no STJ não teria eficácia, considerando que a Corte teria que examinar inúmeras reclamações. Em suma, contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do CPC, aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso nem reclamação. (STJ. 2ª Seção. AgRg na Rcl 10.805-RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013) 11) Vamos agora imaginar uma última hipótese cabível: o Tribunal de origem entende que a matéria veiculada no REsp interposto NÃO é idêntica a outra já decidida sob a sistemática do recurso repetitivo. Em outras palavras, o Tribunal de origem considera que existe sim uma diferença entre o assunto debatido no recurso e o que já foi decidido pelo STJ. Logo, o Tribunal de origem remete o recurso para ser julgado pelo STJ. Contra esta decisão do Tribunal de origem cabe recurso ou reclamação? NÃO. Não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista no art. 105, I, “f”, da CF com o objetivo de impugnar procedimento adotado no Tribunal de origem que, por entender que a matéria abordada em recurso especial ali interposto não seria idêntica a outra já decidida sob a sistemática dos recursos repetitivos, tenha determinado a remessa ao STJ dos autos para julgamento. (STJ. 2ª Seção. EDcl na Rcl 10.869-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.)

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A reclamação prevista no art. 105, I, “f”, da CF somente é cabível para a preservação da competência do STJ e para a garantia da autoridade de suas decisões. Nesse contexto, não há como ajuizar tal reclamação em razão de suposta usurpação da competência do STJ, tendo em vista que compete, em primeiro lugar, ao Tribunal de origem a avaliação da perfeita adequação de cada recurso especial às teses apreciadas nos recursos repetitivos.

Processo STJ. 2ª Seção. EDcl na Rcl 10.869-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.

REsp e complementação do valor do porte de remessa e retorno

O recorrente, ao interpor o recurso, deverá comprovar o preparo. No caso do recurso especial, o preparo engloba o pagamento de custas e de porte de remessa e de retorno.

Se o recorrente pagou apenas a taxa judiciária (não tendo recolhido o valor do porte de

remessa e de retorno), o preparo foi feito, mas em valor insuficiente. Como consequência, o Tribunal de origem, antes de decretar a deserção, deverá intimar o recorrente para, no prazo

de 5 dias, suprir o valor do porte de remessa e de retorno, complementando o pagamento. Somente se não for complementado o preparo é que haverá a deserção. Esta solução está

prevista no § 2º do art. 511 do CPC.

Assim, não ocorre a deserção do recurso especial no caso em que o recorrente, recolhidas as custas na forma devida, mas efetuado o pagamento do porte de remessa e de retorno em valor

insuficiente, realize, após intimado para tanto, a complementação do valor. Comentários Preparo

Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do recurso. No preparo incluem-se: Taxa judiciária (custas); Despesas postais com o envio dos autos (chamado de “porte de remessa e de retorno”

dos autos).

Desse modo, “preparar” o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que a máquina judiciária dê andamento à sua apreciação. O pagamento do preparo é feito, comumente, na rede bancária conveniada com o Tribunal. Momento do preparo O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no momento da interposição do recurso. Logo, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da interposição do recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve juntar o comprovante do pagamento. Preparo não comprovado na interposição do recurso Se o recorrente, quando interpuser o recurso, não comprovar que fez o preparo, o seu recurso será considerado deserto (deserção). Ainda que o recorrente tenha efetuado o recolhimento, se ele, no momento da interposição do recurso, não comprovar que fez o preparo, terá seu recurso inadmitido por deserção. Deserção Deserção é a inadmissibilidade do recurso pela falta de preparo. Se o recurso foi deserto significa que ele não foi conhecido (não foi sequer apreciado). Gramaticalmente, desertar é mesmo que abandonar.

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Previsão da regra do preparo

CPC/Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto): “A” interpôs recurso especial. Como vimos acima, no momento da interposição, o recorrente deveria ter comprovado o preparo (pagamento da taxa judiciária e do porte de remessa e de retorno). “A” pagou a taxa judiciária e, no momento da interposição do REsp, comprovou este pagamento juntando a respectiva GRU (Guia de Recolhimento da União). O recorrente não pagou, contudo, o porte de remessa e retorno. Diante disso, o recurso interposto deverá ser, desde logo, considerado deserto? NÃO. Segundo o Min. Relator, na presente situação, o preparo foi feito, mas em valor insuficiente. Logo, deve ser aplicada a regra prevista no § 2º do art. 511 do CPC:

§ 2º A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.

Desse modo, o STJ entende que, se a parte pagou apenas a taxa judiciária (não tendo recolhido o valor do porte de remessa e de retorno), o preparo foi feito, mas em valor insuficiente. Como consequência, o Tribunal de origem, antes de decretar a deserção, deve intimar o recorrente para, no prazo de 5 dias, suprir o valor do porte de remessa e de retorno, complementando o pagamento. Somente se não for complementado o preparo é que haverá a deserção.

Processo STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1.221.314-SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 21/2/2013.

Execução por quantia certa contra devedor insolvente

A respeito da insolvência civil, o STJ externou duas conclusões neste julgado: 1) Mesmo que não se encontre bens passíveis de penhora, isso não implicará, por si só, a extinção automática do processo de insolvência. 2) O processo de insolvência deve ser extinto na hipótese em que não tenha ocorrido a habilitação de credores. Comentários A insolvência civil é uma espécie de execução coletiva e universal em que todo o patrimônio

do devedor civil (não empresário) será liquidado para satisfação de suas obrigações (Min. Luis Felipe Salomão). É como se fosse uma “falência”, com a diferença de que se trata de devedor civil (e a falência atinge devedor empresário). Encontra-se prevista no art. 748 e ss do CPC. A respeito da insolvência civil, o STJ externou duas conclusões neste julgado: 1) Mesmo que não se encontre bens passíveis de penhora, isso não implicará, por si só, a extinção automática do processo de insolvência. A ausência de bens expropriáveis não afeta o interesse dos credores de processo de insolvência, uma vez que a declaração de insolvência protege não só a garantia atual, mas também a garantia futura de seus créditos mediante a indisponibilidade dos bens presentes e futuros do obrigado. Além disso, o interesse do devedor nessa declaração também remanesce, mormente pelo

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fato de que ele obterá, ao final do procedimento, a extinção das suas obrigações, ainda que não inteiramente resgatadas, nos termos do art. 778 do CPC. Por conseguinte, o interesse na declaração de insolvência, quer sob a ótica do credor, quer pela do devedor, transcende a mera existência de patrimônio passível de penhora, razão pela qual não há falar em extinção do processo de insolvência pela ausência de bens expropriáveis. 2) O processo de insolvência deve ser extinto na hipótese em que não tenha ocorrido a habilitação de credores. Isso porque a fase executiva propriamente dita somente se instaura com a habilitação dos credores, que integram o polo ativo do feito e sem os quais, por óbvio, não há a formação da relação processual executiva.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.614-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/2/2013.

Início do prazo para impetração de MS em caso de reajuste indevido de benefício

No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior ao que seria devido, o prazo para que a interessada impetre um MS é renovado mês a mês.

Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o prazo decadencial

estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma continuada mensalmente. Comentários PRAZO PARA IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA

A Lei n. 12.016/2009 prevê um prazo para o ajuizamento do MS:

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Prazo do MS: 120 dias. Natureza deste prazo: A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial, apesar de alguns autores defenderem que se cuida de prazo sui generis (Leonardo da Cunha). Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido. Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança. Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que, se o marco final do prazo do MS terminar em sábado, domingo ou feriado, ele deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte:

(...) 4. O termo inicial para a impetração é a data da ciência do ato, mas a contagem só tem início no primeiro dia útil seguinte e, caso o termo final recaia em feriado forense ou dia não útil (sábado ou domingo), prorroga-se automaticamente o término do prazo para o primeiro dia útil que se seguir. A observância do prazo inicial e final para o exercício do direito à ação de mandado de segurança não deve se afastar do que dispõe o artigo 184 do CPC (...) (MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 08/09/2010).

A previsão de um prazo para o MS é constitucional? SIM. Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança. Termo inicial do prazo: O prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o prejudicado toma ciência do ato coator praticado.

(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir da

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expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do momento em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a jurisprudência do STJ de que o prazo decadencial no mandado de segurança tem início na data em que o interessado teve ciência inequívoca do ato atacado. (...) REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2008.

O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato sucessivo? Como é contado o prazo para o MS no caso de a Administração Pública suprimir ou reduzir determinada vantagem paga ao servidor? Para o STJ é preciso fazer a seguinte distinção:

Ato que SUPRIME vantagem Ato que REDUZ vantagem

Ato único. Prestação de trato sucessivo.

O prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado toma ciência do ato.

O prazo para o MS renova-se mês a mês (periodicamente).

O ato administrativo que suprime vantagem de servidor é ato único e de efeitos permanentes, iniciando-se o prazo decadencial para MS no dia em que ele tem ciência da supressão.

A redução de vencimentos sofrida por servidores denota prestação de trato sucessivo, em que o prazo decadencial renova-se mês a mês.

(...) 2. A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a supressão de vantagem pecuniária devida a servidor público caracteriza-se como ato comissivo, único e de efeitos permanentes, não havendo, pois, que se falar em prestações de trato sucessivo. (AgRg no Ag 909.400/PA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 15/04/2010)

(...) Esta Corte vem definindo que quando houver redução, e não supressão do valor de vantagem, fica configurada a prestação de trato sucessivo, que se renova mês a mês, pois não equivale à negação do próprio fundo de direito, não havendo que se falar, portanto, em decadência do mandado de segurança. (...) (AgRg no REsp 1110192/CE, Rel. Min. Celso Limongi (Des. Conv. do TJ/SP), Sexta Turma, julgado em 04/05/2010)

Em síntese: • Redução de vantagem: prestação de TRATO SUCESSIVO (prazo para o MS se renova). • Supressão de vantagem: ato ÚNICO (prazo para o MS não se renova). Essa distinção já foi exigida em concurso público. Veja: (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder público, de gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo, de efeitos permanentes, e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de mandado de segurança para impugnar o ato deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias contados da sua edição. ( ) A assertiva acima está correta. No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior ao que seria devido, como é contado o prazo para que a interessada impetre um MS? O prazo renova-se mês a mês. Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o

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prazo decadencial estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma continuada mês a mês. Aplica-se a mesma regra que vimos acima para os casos de ato da Administração que reduz vantagem. Veja o quadro como fica:

Ato que SUPRIME vantagem

Ato que REDUZ vantagem Ato que reajusta benefício em valor inferior ao devido

Ato único. Prestação de trato sucessivo.

Prestação de trato sucessivo.

O prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado toma ciência do ato.

O prazo para o MS renova-se mês a mês (periodicamente).

O prazo para o MS renova-se mês a mês (periodicamente).

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 243.070-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

ACP proposta pelo MP e defesa da saúde

O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que o Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca, como

medida de proteção e defesa da saúde. O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis.

O MP possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais indisponíveis. Comentários O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que o

Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca, como medida de proteção e defesa da saúde. Doença celíaca, em palavras simples, é a intolerância ao glúten, proteína que está presente em uma grande quantidade de alimentos, como o trigo, a aveia, o centeio etc. O fornecimento desta cesta de alimentos tem por finalidade resguardar o direito à vida e à saúde dessas pessoas, interesses que se caracterizam como direitos individuais indisponíveis. Segundo a jurisprudência, o MP possui legitimidade até mesmo para propor ACP na defesa de uma única pessoa, desde que se trate de direito indisponível (ex: fornecimento de medicamento ou tratamento de saúde). Nesse sentido: STJ REsp 830.904-MG; STF RE 407.902/RS.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 91.114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

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DIREITO PENAL

Lei de Drogas

É inaplicável a causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 (traficante privilegiado) na hipótese em que o réu tenha sido condenado, na

mesma ocasião, por tráfico (art. 33) e pela associação para o tráfico (art. 35). Ora, a causa de diminuição prevista no § 4º do art. 33 pressupõe que o agente não se dedique às atividades criminosas. Se o réu foi condenado por associação para o tráfico é porque ficou

reconhecido que ele se associou com outras pessoas para praticar crimes, tendo, portanto, seu comportamento voltado à prática de atividades criminosas.

Comentários Traficante privilegiado A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também chamada de “traficância menor”, “traficância eventual” ou “traficante de primeira viagem”:

Art. 33 (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Natureza jurídica: causa de diminuição de pena. Redução: de 1/6 a 2/3 O magistrado tem plena autonomia para aplicar a redução no quantum que reputar adequado de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Vale ressaltar, no entanto, que essa fixação deve ser suficientemente fundamentada e não pode utilizar os mesmos argumentos adotados em outras fases da dosimetria da pena (STF HC 108387, 06.03.12). Vedação à conversão em penas restritivas de direitos: O STF já declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, constante deste § 4º do art. 33, de modo que é possível, segundo avaliação do caso concreto, a concessão da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, desde que cumpridos os requisitos do art. 44 do CP. Requisitos: Para que tenha direito à causa de diminuição, o agente (réu) deverá: a) Ser primário b) Possuir bons antecedentes c) Não se dedicar às atividades criminosas; d) Não integrar organização criminosa. Requisitos cumulativos: os requisitos acima são cumulativos, ou seja, se um deles não estiver presente, não poderá ser aplicada a causa de diminuição ao réu. O juiz pode negar a aplicação desta causa de diminuição usando como único argumento o

fato de que o réu cometeu o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006)? NÃO. O magistrado não pode afirmar que o réu se dedica a atividades criminosas usando como argumento para provar isso o simples fato de ter cometido o crime de tráfico de

drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006). Ora, se isso fosse possível, ninguém poderia ser beneficiado pelo § 4º, considerando que sempre o juiz poderia alegar que ele estava envolvido com tráfico de drogas. Dessa forma, é necessário que o julgador possua outros

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elementos que provem que aquele réu se dedica a atividades criminosas (STJ. 5ª Turma. HC 253.732-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/12/2012). O juiz pode negar a aplicação desta causa de diminuição usando como argumento o fato do réu, além do delito de tráfico (art. 33), ter praticado também o crime de associação para o

tráfico (art. 35 da Lei n. 11.343/2006)? SIM. É inaplicável a causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei

n. 11.343/2006 na hipótese em que o réu tenha sido condenado, na mesma ocasião, por tráfico e pela associação de que trata o art. 35 do mesmo diploma legal. A aplicação da referida causa de diminuição de pena pressupõe que o agente não se dedique às atividades criminosas. Desse modo, verifica-se que a redução é logicamente incompatível com a habitualidade e permanência exigidas para a configuração do delito de associação (art. 35), cujo reconhecimento evidencia a conduta do agente voltada para o crime e envolvimento permanente com o tráfico.

Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.199.671-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Posse de chip de celular configura falta grave na execução penal

A posse de chip de telefone celular pelo preso, dentro de estabelecimento prisional, configura falta disciplinar de natureza grave, ainda que ele não esteja portanto o aparelho.

Para o STJ e o STF, configura falta grave não apenas a posse de aparelho celular, mas também a de seus componentes essenciais, como é o caso do carregador, do chip ou da placa eletrônica,

considerados indispensáveis ao funcionamento do aparelho. Comentários A Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) prevê que, se o apenado for encontrado na

unidade prisional, com telefone celular, ele comete falta disciplinar considerada grave:

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Repare que, a redação literal do inciso VII fala em “aparelho telefônico, de rádio ou similar”. Diante disso, indaga-se: se o condenado for encontrado portando apenas o chip do telefone celular, ele cometerá falta grave? SIM. Configura falta grave não apenas a posse de aparelho celular, mas também a de seus componentes essenciais, como é o caso do carregador, do chip ou da placa eletrônica, considerados indispensáveis ao funcionamento do aparelho. Este é o entendimento pacífico do STJ e também do STF. Argumenta-se que o objetivo da previsão do inciso VII é o de evitar a comunicação entre presos e seus comparsas que estão no ambiente externo, evitando-se, assim, a deletéria conservação da atividade criminosa que, muitas vezes, conduziu-os ao aprisionamento. Portanto, há de se ter por configurada falta grave também pela posse de qualquer outra parte integrante do aparelho celular. Conclusão diversa permitiria o fracionamento do aparelho entre cúmplices apenas com o propósito de afastar a aplicação da lei e de escapar das sanções nela previstas (Min. Marco Aurélio Bellizze).

Processo STJ. 5ª Turma. HC 260.122-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013.

Concurso MP

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DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR (obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matéria)

Conduta do militar que insere dados falsos em sistema de informações não é crime militar

Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar policial militar acusado de alterar dados corretos em sistemas informatizados e bancos de dados da Administração Pública com o fim de

obter vantagem indevida para si e para outrem (art. 313-A do CP). A competência da Justiça Militar não é firmada pela condição pessoal do infrator, mas decorre

da natureza militar da infração. No caso, a ação delituosa não encontra figura correlata no Código Penal Militar e, apesar de ter sido praticada por militar, não se enquadra em nenhuma

das hipóteses previstas no art. 9º do CPM. Comentários Imagine a seguinte situação:

“João”, sargento da polícia militar, ingressou no Batalhão, acessou o computador da sala do pelotão e alterou um documento que seria remetido ao Departamento de Trânsito. A alteração consistiu em excluir multas relacionadas com determinado veículo pertencente a seu amigo. Qual foi o crime praticado, em tese, por “João”? O delito do art. 313-A do CP:

Inserção de dados falsos em sistema de informações Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

De quem é a competência para julgar este fato? Justiça estadual. Para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas no art. 9º do CPM:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;

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III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.

A conduta de inserir dados falsos em sistema de informação, prevista no art. 313-A do CP, não encontra figura correlata no Código Penal Militar. Assim, apesar do crime ter sido praticado por militar (policial militar), o caso não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 9º do CPM. A competência da Justiça Militar não é firmada pela condição pessoal do infrator, mas decorre da natureza militar da infração. Logo, não se verificando crime militar por ausência de enquadramento nas hipóteses do art. 9º do CPM, não há que se falar em competência da Justiça Militar.

Processo STJ. 3ª Seção. CC 109.842-SP, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 13/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Pena de perdimento pode ser aplicada a veículos sujeitos à leasing

É possível a aplicação da pena de perdimento de veículo objeto de contrato de arrendamento mercantil com cláusula de aquisição ao seu término utilizado pelo arrendatário para

transporte de mercadorias objeto de descaminho ou contrabando. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Bruno fez um contrato de leasing com o Banco para locação com opção de compra de um veículo. Como ocorre nos casos de leasing financeiro, o arrendador cede ao arrendatário o bem, devendo este pagar um valor a título de aluguel e possuindo o direito de, ao final, comprar o bem alugado. De qualquer modo, no leasing (arrendamento mercantil), a posse direta do bem fica com o arrendatário. De posse do carro, Bruno foi até o Paraguai e lá comprou inúmeros cigarros importados (sem registro na ANVISA) para revender no Brasil. Quando estava atravessando a fronteira, foi parado pela Polícia Federal e preso em flagrante. Qual foi o crime cometido por Bruno? Contrabando, delito previsto na 1ª parte do art. 334 do CP (“Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida”).

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De quem é a competência para julgar a infração? Justiça Federal, pois ofende interesse da União (art. 109, IV, da CF/88). O que acontece com o veículo utilizado pelo agente para o transporte dos cigarros? A Receita Federal deverá decretar o seu perdimento em favor da União, conforme determinam os arts. 96 e 104 do Decreto-lei 37/66 e dos arts. 617, V c/c 603 do Regulamento aduaneiro (Decreto 4.543/2002). Como o contrato de leasing ainda não havia chegado ao fim, o veículo ainda pertencia à arrendadora (Banco). Mesmo assim haverá o perdimento do bem? SIM. Segundo decidiu o STJ, é possível a aplicação da pena de perdimento de veículo objeto de contrato de arrendamento mercantil com cláusula de aquisição ao seu término utilizado pelo arrendatário para transporte de mercadorias objeto de descaminho ou contrabando. Realmente, a propriedade do veículo objeto de arrendamento mercantil é da instituição bancária arrendadora. No entanto, mesmo assim haverá a pena de perdimento, na medida em que o arrendador (Banco) poderá cobrar do arrendatário o valor do veículo que foi perdido. Logo, o arrendador não ficará no prejuízo por causa do perdimento. Admitir que o automóvel objeto de leasing não possa ser alvo da pena de perdimento seria conferir um salvo-conduto para que ilícitos fiscais fossem praticados com tais veículos, pois ao arrendatário nunca seria aplicada a pena em questão.

Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.268.210–PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/2/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Competência para ação de pensão por morte no qual haverá reconhecimento de união estável

Compete à JUSTIÇA FEDERAL processar e julgar demanda proposta em face do INSS com o objetivo de ver reconhecido exclusivamente o direito da autora de receber pensão decorrente

da morte do alegado companheiro, ainda que seja necessário enfrentar questão prejudicial referente à existência, ou não, da união estável.

Comentários Vide explicações na seção de Direito Processual Civil.

Processo STJ. 1ª Seção. CC 126.489-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/4/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz Federal TRF5 2011 – CESPE) O uso de marca de alto renome confere proteção ao seu titular em

todos os ramos de atividade, independentemente de registro prévio no INPI. ( ) 2) (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Marca de alto renome é aquela que somente ganha proteção em seu

próprio ramo e atividade, ou seja, sua proteção ocorre somente em relação aos produtos ou serviços idênticos ou similares, independentemente de ser previamente depositada ou registrada no Brasil. ( )

3) (Promotor MP/SP 2012) Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial e prisão civil temporária do réu. ( )

4) (MPF 2011) O lesado indireto, na indenização por morte de outrem, quando age contra o responsável, procede em nome da vítima. ( )

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5) (PGE/SP 2012) Herdeiro não pode pleitear perdas e danos por violação de direito da personalidade de pessoa morta, por se tratar de direito personalíssimo, intransmissível e que se extingue com a morte. ( )

6) (Promotor MP/MS 2013) A posse de componentes de aparelho celular não caracteriza falta grave, uma vez que a Lei de Execução Penal somente prevê como típica a conduta de portar aparelho telefônico, de rádio ou similar, não havendo a possibilidade de ser equiparada a posse de componentes de aparelho celular com o próprio aparelho. ( )

Gabarito

1. E 2. E 3. E 4. E 5. E 6. E

Obs: para aqueles que prestam concursos onde é cobrado Direito Educacional (ex: Procuradores Federais), importante ler o julgado REsp 1.335.953-RS, transcrito abaixo.

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA (OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

Amigos do Dizer o Direito,

Desde o início dos INFORMATIVOS Esquematizados, selecionamos para comentar apenas os julgados que são relevantes para fins de concurso público, ou seja, aqueles que podem ser cobrados nas provas. Deixamos de lado as decisões proferidas com base em peculiaridades muito específicas do caso concreto ou, então, que trataram sobre temas que dificilmente serão exigidos nos concursos.

Sempre fizemos isso para facilitar o estudo dos leitores, evitando que vocês percam tempo. No entanto, algumas pessoas nos escrevem relatando que ficam angustiadas por estarem deixando de ler todos os julgados noticiados nos Informativos. Por essa razão, decidimos transcrever aqui os acórdãos que não foram comentados para que as pessoas que quiserem possam lê-los sem ter que imprimir o Informativo original, além do esquematizado.

Vale ressaltar que continuamos achando recomendável estudar apenas os julgados que foram acima comentados.

Alguns de vocês nos indagam: pode ser que, em uma prova, seja cobrado um julgado que não foi comentado? Sim, com certeza isso poderá ocorrer. No entanto, vale a pena ler o informativo inteiro por conta disso? Entendemos que não porque a probabilidade de isso acontecer é muito pequena, não compensando o custo/benefício desse tempo perdido. É o mesmo caso da pessoa que estuda por dois ou três livros sobre a mesma disciplina. Gasta-se muito tempo e o retorno, em termos de concurso, é muito pequeno.

De qualquer modo, como o objetivo é sempre ajudar vocês, vamos transcrever aqui embaixo todos os julgados que não foram comentados para aqueles que quiserem ler. Os que preferirem estudar apenas os julgados comentados podem imprimir o Informativo até a página dos exercícios, evitando, assim, gastar com páginas impressas que não serão lidas.

Bons estudos a todos e que venham as aprovações!

DIREITO ADMINISTRATIVO. REGRAS DE PROGRESSÃO NA CARREIRA DA EDUCAÇÃO BÁSICA, TÉCNICA E TECNOLÓGICA. Até o advento do Decreto n. 7.806/2012, que regulamenta o art. 120 da Lei n. 11.784/2008, era possível a docente da Carreira da Educação Básica, Técnica e Tecnológica progredir por titulação sem observância de interstício temporal. Conforme o art. 120 da Lei n. 11.784/2008, “o desenvolvimento na Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico dos servidores que integram os Quadros de Pessoal das Instituições Federais de Ensino, subordinadas ou vinculadas ao Ministério da Educação, ocorrerá mediante progressão funcional, exclusivamente, por titulação e desempenho acadêmico, nos termos do regulamento”. Ainda, conforme o § 1º do referido artigo, a progressão funcional será feita após o cumprimento, pelo professor, do interstício de dezoito meses de efetivo exercício no nível respectivo. Ocorre que o § 5º do aludido dispositivo legal prevê que, até que seja publicado o regulamento previsto no caput para fins de progressão funcional e desenvolvimento na respectiva carreira, devem ser aplicadas as regras estabelecidas nos arts. 13 e 14 da Lei n. 11.344/2006, nas quais há previsão de progressão por titulação sem cumprimento de interstício temporal. Assim, o entendimento do STJ é que a progressão dos docentes da carreira do magistério básico, técnico e tecnológico federal, até a publicação do Decreto n. 7.806/2012, é regida pelas disposições da Lei n. 11.344/2006, com duas possibilidades: por interstício, com avaliação de desempenho; e por titulação, sem observância do interstício. REsp 1.335.953-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.

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DIREITO EMPRESARIAL. LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO EFETIVADO PELA SOCIEDADE EMPRESARIAL FALIDA. O ajuizamento de típica ação revocatória pelo síndico no âmbito de procedimento falencial regido pelo Decreto-Lei n. 7.661/1945 não retira a legitimidade de qualquer credor habilitado para a propositura de ação com pedido de reconhecimento de nulidade de negócio jurídico envolvendo bem de sociedade empresarial falida. Cuidando-se de ações distintas, não é aplicável à ação de nulidade o regramento da ação revocatória estabelecido pelo art. 55 do Decreto-Lei n. 7.661/1945, cujo teor confere legitimidade apenas subsidiária aos credores em relação ao síndico da massa. Desse modo, qualquer credor, por força do disposto art. 30, II, do Decreto-Lei n. 7.661/1945, é, em princípio, parte legítima para a propositura da ação anulatória. REsp 1.353.864-GO, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO EMPRESARIAL. INAPLICABILIDADE DO PRAZO PREVISTO NO ART. 56, § 1º, DO DECRETO-LEI N. 7.661/1945 À AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO REALIZADO POR SOCIEDADE EMPRESARIAL FALIDA. O direito de credor habilitado da massa falida de anular, mediante ação anulatória, negócio jurídico realizado pela sociedade empresarial falida não está sujeito ao prazo decadencial de um ano. Efetivamente, a referida ação não se confunde com a típica ação revocatória, de modo que não lhe é aplicável o prazo previsto no art. 56, § 1º, do Decreto-Lei n. 7.661/1945. REsp 1.353.864-GO, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL. PRAZO PRESCRICIONAL. RECONHECIMENTO DE NULIDADE ABSOLUTA DE NEGÓCIO JURÍDICO. Não se sujeita ao prazo prescricional de quatro anos a pretensão de anular dação em pagamento de bem imóvel pertencente ao ativo permanente da empresa sob a alegação de suposta falta de apresentação de certidões negativas tributárias. Com efeito, trata-se de hipótese de pretensão de reconhecimento de nulidade absoluta por ausência de cumprimento dos requisitos previstos em lei. Desta feita, como os atos nulos não prescrevem, a sua nulidade pode ser declarada a qualquer tempo. Não tem aplicação, portanto, o art. 178, § 9º, V, “b”, do CC/1916, cuja redação previa o prazo de quatro anos para o ajuizamento das ações de nulidade relativa, ou anulabilidade pelos vícios de consentimento e incapacidade relativa. REsp 1.353.864-GO, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL. NECESSIDADE DE RESSARCIMENTO NO CASO DE INVIABILIDADE DE RETORNO À SITUAÇÃO ANTERIOR À NULIDADE DECLARADA. O credor, no caso em que tenha recebido em dação em pagamento imóvel de sociedade empresarial posteriormente declarada falida, poderá ser condenado a ressarcir a massa pelo valor do objeto do negócio jurídico, se este vier a ser declarado nulo e for inviável o retorno à situação fática anterior, diante da transferência do imóvel a terceiro de boa-fé. Incide, na situação descrita, o disposto no art. 182 do CC/2002, de acordo com o qual, anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. Trata-se, a propósito, de dispositivo legal que, quanto aos seus efeitos práticos, também tem aplicabilidade nos casos de nulidade absoluta, não tendo incidência restrita às hipóteses de nulidade relativa. Ademais, deve-se preservar a boa-fé de terceiros que sequer participaram do negócio jurídico viciado. REsp 1.353.864-GO, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RESTABELECIMENTO DE HIPOTECA EM RAZÃO DE DECISÃO JUDICIAL QUE DECLARE A INEFICÁCIA DE NEGÓCIO JURÍDICO QUE MOTIVARA SEU ANTERIOR CANCELAMENTO. Restabelece-se a hipoteca, anteriormente cancelada em razão da aquisição do imóvel pela própria credora hipotecária, no caso em que sobrevenha decisão judicial que, constatando a ocorrência de fraude à execução, reconheça a ineficácia da referida alienação em relação ao exequente. Declarada a ineficácia do negócio jurídico, retornam os envolvidos ao estado anterior. Nesse contexto, volta o bem a integrar o patrimônio do executado, restando ineficaz também a baixa da garantia hipotecária, que poderá ser oposta em face de outros credores. REsp 1.253.638-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 26/2/2013.


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