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7/25/2019 Influência da Iniciação Científica na Formação de Pesquisador

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Influênciada Iniciação Científica na Formação de Pesquisadores

Pesquisadores Diva Lopes da Silveira (coordenadora),Alexandre Gomes Ga-

lindo, Jadcele Gonçalves Gondrae Paulo Roberto Nunes Pinto

Instituição: UniversidadeFederalRural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Fonte financiadDra:

CNPq (PIBC/UFRRJ-UFES)

Problemática

A questão da influência da ini-

ciação cientrfica (IC) na fonnação de

pesquisadores pode ser entendida em

tennos da contradição fundamental

existente entre a concepção de ciên-

cia como patrimônio da humanidade e

a sustentação deSse conceito pelas

escolas (de 12,22,32 e 42graus). De

fato, a iniciação à ciência nas institui-

ções de ensino superior (IES) tende a

começar nos programas de p6s-gra-

duação. Ora, em paTsescomo o Bra-

sil, isso é o mesmo que reservaresse

bem público para uma minoria,já que,

como sabemos, apenas uns poucos

conseguem chegar até esse nTvelde

escolaridade.

Essa contradição tende a negli-

genciar o processoque o IC envolve.

Como propõe Silveira  1991 , a IC se

refere a um processode socialização

de conteúdos como os técnico-cientr-

ficos (por exemplo, teorias e metado-

lagias), os filos6ficos (por exemplo, a

busca da totalidade do saber, a ética

da pesquisa) e os polTtico-sociais(por

exemplo, a democratizaçãodos resul-

tados da pesquisa), os quais são in-

terpretados e intemalizados como di-

retrizes para o comportamento do ci-

dadão-pesquisador (Bernstein, 1987,

p.18). A iniciação à ciência implica,

portanto, um processo longo, talvez

nunca tenninado, que será tanto mais

crTticoe democrático quanto mais ce-

do começado. Ou seja, a maioria ex-

cluTdae a minoria privilegiada s6 te-

rão a ganhar com a antecipação (de-

vida) desse processo para a gradua-

ção e antes desta, acompanhado, é

claro, da pesquisa e dos seus meios

de sustentação (bolsa de IC, por

exemplo).

Assim definida, a IC influencia e

é influenciada (entre outras coisas)

pelas realidades objetivas e subjeti-

vas da IES onde se desenvolve. Por

realidades objetivas entendemos aqui

o grau de articulação entre enSinO,

pesquisa e extensão e entre as suas

funções técnico-cientrficas e polrtico-

sociais e o grau de interdisciplinarida-

de existente na IES. As realidades

subjetivas incluem os aspectos moti-

vacionais como ps _ posicionamentos

(intemalizados) dos indivTduossobre

tais atividades.e funções e as articu-

lações entre estas.

Essa problemática, aqui breve-

mente descrita, clama por polTticas

institucionais (e nacionais) de pesqui-

sa e de IC comprometidas çom a glo-

balidade da fonnação do pesquisador,

e por maneiras de pensar (r~fletir e

tratar) a implementação das mesmas.

Uma dessas- maneiras, proposta por

Silveira

 1991 ,

é pen ;ar-(nos dois

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R. b ras. Est . pedag ., Brasf lik V.  2 n . 170 , p . 96-98 , jan .lab r. 1991

..,..

sentidos do verbo) o processo de IC

no conjunto das relações entre a es-

trutura posicional (Vlasceanu, 1976

e do campo de iniciação cientrfica . A

estrutura posicional, no caso da pes-

quisa e da IC, inclui os pesquisadores

(professores, alunos e outros), os ad-

ministradores das IES e as relações

de poder (Bernstein, 1987) entre es-

ses agentes nas decisões sobre a

(re)formulação de polTticasde pesqui-

sa e de IC, alocaçãode recursos etc.

O campo da IC refere-se,especifica-

mente, aos pesquisadores e às suas

relações de controle sobre as deci-

sões e realizaçõesdas atividades ine-

rentes ao processo de IC e das pes-

quisas que eles desenvolvem. Onde

as relações entre as duas dimensões,

as polTticasgovemamentais e a so-

ciedade em geral forem dialéticas,

supõe-se que o processo tenha uma

influência estimuladora na fonnação

de pesquisadoresnas IES. Onde essa

dialética falhar, o processo poderá

correr o risco de se transfonnar num

mero banco de bolsas ou de mão-

de-obra para a pesquisa, e respon-

der, precariamente, às necessidades

sociais, ou de esvaziar a estrutura po-

sicional e o campo de iniciação que o

sustentam.

Este trabalho pretende ser uma

contribuição para a IC como processo

institucional. Para isso busca: a) iden-

tificar e analisar os posicionamentos

dos pesquisadores da UFRRJ quanto

à atividade e à função básica da uni-

versidade, ao processo de IC propria-

mente dito, à interdisciplinaridadee à

articulação entre o ensino de gradua-

ção e a pesquisa; b) solicitar aos pes-

quisadores propostas de polfticas de

pesquisa e de IC, c) sugerir,aos ca-

nais competentes da UFRRJ, algu-

mas diretrizes para a implementação

dessaspolfticas.

 éto o

O estudo coletou os dados atra-

vés de questionário (pré-testado)junto

a 63 pesquisadores (quarenta do

PIBIC/CNPq e trinta do balcão do

CNPq) e a 49 alunos bolsistas do

Programa Interinstitucional de Bolsas

de Iniciação Cientr fica (PIBIC) do

CNPqlUFRRJ-UFES, implantado em

1989. Esse campo de IC já participou

de várias atividades (por exemplo,

seminários sobre ética de pesquisa,

iomadas de IC), organizadas pela es-

trutura posicional do PIBIC/CNPqI

UFRRJ. As respostas dos participan-

tes estão sendo examinadas através

da técnica de análise de conteúdo

(Grace,

1978 , agrupadas

por áreas

do conhecimento (ciências da vida,

exatas e humanas/sociais),classifica-

das como integradasou não-inteQra-,

das (Bemstein, 1987) e situadas em

nTvelmacro da Nação (por exemplo,

as propostas de polTticas govema-

mentais) e em nTvelmicro da estrutu-

ra posicional e do campo de IC do

PIBIC/UFRRJ.

  lguns resultados

A

pesquisa vem demonstrando

uma tendência geral para considerar

básica a articulação entre ensino,

pesquisa e extensão e entre as fun-

ções técnico-cientrticae polftico-soclal

das IES. Nesse sentido, os depoimen-

tos foram classificados como integra-

dos, o que supõe um espaço impor-

tante para a realização da IC como

R. b ras. Est . pedag ., Brasf lia, v . 72, n . 170 , p .96-98 , jan .lab r. 1991

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processo e de pesquisas interdiscipli-

nares. Não foram poucos os depoi-

mentos sobre essa função básica.

Num deles, por exemplo, diz-se que

-a universidade deve associar o saber

e sua produção ao quadro de neces-

sidades da sociedade, pois ela espera

respostas para os seus problemas .

Isso nos remete não só ao cumpri-

mento das competências técnica e

polrticada educação, como também à

influênciada ICnesse processo.

Quanto às propostas,destaca-

mos aqui a continuaçãodo PISIC,o

aumento do número de bolsas, o

apoio a projetosemergentesde pes-

quisa, a avaliaçãodos desempenhos

docente e discente e da pesquisa.

Numcontextode ICcomoprocesso,

essas propostas reivindicat6riassão

pensadas comomeiosimportantesde

sustentação e superaçãode algumas

contradiçõesque a ciênciacomobem

públicoenvolve.

Cumpre esclarecer que a pes-

quisa está em fase finalde elabora-

ção de artigos e de relatóriose que,

emborase refiraa umprogramaainda

relativamentenovona UFRRJ(e em

outras IES),o PISICé, no nossoen-

tender, crucial nas decisões para a

implementaçãode polfticasde pes-

quisa e de ICno ensinode gradução

de todoo Pars.

Referências bibliográficas

BERNSTEIN, B. Class, codes and con-

trol. London: Routledge Kegan

Paul, 1971. v.1, p.85-115: Sobre a

classificação e a estruturação do co-

nhecimento educacional. (trad. por

DivaL.da Silveira, Ed. UFRRJ,1987).

GRACE, G. Teachers, ideology and

controL London: Routledge Kegan

Paul, 1978.

SILVEIRA,D. L. da. Iniciação cientlfica

na graduação: uma proposta da

UFRRJ. In: REUNIÃO ANUAL DA

SBPC,43, 1991. Rio de Janeiro. Ciên-

cia e sobrevivência. Rio de Janeiro:

UFRRJ,  99 p.543-544.

VLASCEANU,L. Decision and innova-

tion in the Romanian education sys-

tem: a theoretical exploration of tea-

chers's orientation. London: 1976.te-

se (doutorado) - University of

London.

98 R. bras. Esl. pedag., Brasllia. v. 72, n. 170, p. 96-98, jan.labr. 1991


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