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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
DEPARTAMENTO DE ALIMENTOS E NUTRIO
FACULDADE DE NUTRIO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM BIOCINCIAS
NDICE DE QUALIDADE DA DIETA DE ADOLESCENTES E
FATORES ASSOCIADOS
LOIVA LIDE WENDPAP
Cuiab MT
2012
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NDICE DE QUALIDADE DA DIETA DE ADOLESCENTES E
FATORES ASSOCIADOS
LOIVA LIDE WENDPAP
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Biocincias da Faculdade de
Nutrio da Universidade Federal de Mato
Grosso (FANUT-UFMT) para obteno do ttulo
de Mestre em Biocincias.
rea de concentrao: Nutrio.
Linha de Pesquisa: Epidemiologia Nutricional.
Orientadora: Professora Dr. Regina Maria
Veras Gonalves da Silva.
Co-orientadora: Professora Dr. Mrcia
Gonalves Ferreira Lemos dos Santos.
Cuiab MT
2012
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FICHA CATALOGRFICA
W472i Wendpap, Loiva Lide. ndice de qualidade da dieta de adolescentes e fatores associados / Loiva
Lide Wendpap. 2012.
xiii, 87 f.
Orientadora: Prof. Dr. Regina Maria Veras Gonalves da Silva.
Co-orientadora: Prof. Dr. Mrcia Gonalves Ferreira Lemos dos Santos. Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade
de Nutrio, Ps-Graduao em Biocincias, rea de Concentrao: Nutrio,
Linha de Pesquisa: Epidemiologia Nutricional, 2012.
Inclui bibliografia.
Inclui anexos.
1. Nutrio Adolescentes. 2. Adolescentes Consumo alimentar. 3.
Adolescentes Hbitos alimentares. 4. Dieta Adolescentes. 5. Obesidade Adolescentes. I. Ttulo.
CDU 613.2-053.6
Ficha elaborada por: Rosngela Aparecida Vicente Shn CRB-1/931
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BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Regina Maria Veras Gonalves da Silva ____________________________
Assinatura
Prof. Dr. Edna Massae Yokoo ____________________________
Assinatura
Prof. Dr. Lenir Vaz Guimares ____________________________
Assinatura
Prof. Dr. Mrcia Queiroz Latorraca ____________________________
Assinatura
Aprovada em: 24/02/2012
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iv
DEDICATRIA
Deus, pela ddiva da vida e pela liberdade de
escolha a mim concedida.
Ao meu marido, Solemar, e s minhas filhas,
Isabela e Victria, pessoas amadas que s vezes
ficaram em segundo plano, mas que foram
essenciais para mais esta conquista.
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AGRADECIMENTOS
minha orientadora professora Dr. Regina Maria Veras Gonalves da Silva,
pessoa acolhedora que admiro muito pela sua determinao e alegria. Obrigada por ter
acreditado em meu potencial, pelo carinho, ateno e ensinamentos valiosos.
professora Dr. Mrcia Gonalves Ferreira, pela fundamental participao como
co-orientadora desta dissertao, pelo apoio, incentivo e carinho.
professora Dr Lenir Vaz Guimares, pela ateno minuciosa na reviso desta
dissertao que trouxe importantes contribuies para o aprimoramento deste trabalho.
professora Dr Edna Massae Yokoo, pela disposio de tempo e conhecimento
para a reviso deste trabalho e pela contribuio para o aperfeioamento desta dissertao.
s professoras Dr. Mrcia Latorraca e Dr. Vanessa pela pacincia em me atender
nos momentos de ansiedade e pelo emprstimo do telefone para contato com escolas e
pais.
s professoras Dr. Maria Salete e Dr. Maria Helena, pela simpatia, e pelo caf
delicioso.
Aos professores do Programa de Ps-graduao em Biocincias da Faculdade de
Nutrio, pela dedicao e compromisso com o ensino.
professora Josinete Aparecida Ferraz, coordenadora estadual do EducaCenso, da
Secretaria de Estado de Educao, por ter viabilizado a busca dos adolescentes pelo
EducaCenso, sem a qual, no seria possvel a realizao desta pesquisa.
Aos diretores, coordenadores e professores das escolas visitadas, por consentirem a
realizao das entrevistas nas escolas.
Aos adolescentes e seus pais que compreenderam a importncia do estudo e
autorizaram a realizao da entrevista.
todos que direta ou indiretamente participaram desse estudo, principalmente aos
entrevistadores e bolsistas, que se dedicaram, por vrios meses, na realizao de
entrevistas.
Eunice Ramos, gerente da GAVAS/MT-Laboratrio, pelo apoio e incentivo.
Ao Diretor do MT-Laboratrio, Ms. Marcelo Adriano Mendes dos Santos, pelo
apoio e autorizao para afastamento do trabalho, possibilitando a dedicao exclusiva
qualificao profissional, sem a qual no seria possvel a realizao de mais esta etapa de
aprendizado.
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vi
Ao Governo do Estado de Mato Grosso, Secretaria de Estado de Sade pela
concesso da licena para qualificao profissional.
Ao Paulo Rogrio, meu amigo, pelo compartilhamento de conhecimentos, pela
pacincia e ateno, e essencial ajuda na anlise, reviso e interpretao dos dados.
Anarlete, amiga querida, pela amizade, companheirismo, pacincia, ajuda na
coleta de dados e por compartilhar momentos felizes e outros nem tanto.
Ana Paula e Naiara, pela acolhida carinhosa, amizade, pacincia e repasse de
informaes essenciais para o desenvolvimento desse estudo.
Ana Amlia, pela amizade, carinho, apoio e pela dedicao ao projeto.
Paula, Isabela companheiras queridas e sempre dispostas a ajudar no que fosse
necessrio, cuja participao no projeto foi de grande valia.
Marisa, pelo companheirismo e colaborao nas entrevistas.
Iara e Nataly, pelo interesse e participao na digitao de dados.
s amigas do mestrado Sandra e Helen pelos momentos de estudo e descontrao.
s minhas amigas Miriane e Sauria, pela amizade, carinho, incentivo e por
compreenderem minha ausncia no trabalho durante esse perodo.
amiga Marlene Reis, pela amizade, incentivo, carinho e oraes.
Aos amigos dos laboratrios de anlises de alimentos do Departamento de
Alimentos e Nutrio/FANUT pelo saboroso caf e momentos de descontrao.
toda minha famlia, pelo incentivo, amor, confiana e compreenso, em especial
minha sogra Carmosina, pelas oraes.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq),
Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) e Coordenao
de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pelo apoio financeiro ao
projeto.
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vii
EPGRAFE
Se pudermos dar a cada indivduo a quantidade
exata de nutriente e de exerccio, que no seja
insuficiente nem excessiva, teremos encontrado
o caminho mais seguro para a sade.
(Hipcrates: 460 377 A.c)
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viii
SUMRIO
Pag.
Resumo....................................................................................................................... x
Abstract...................................................................................................................... xi
Lista de Tabelas......................................................................................................... xii
Lista de Siglas e Abreviaes................................................................................... xiii
1. APRESENTAO 14
2. REVISO DE LITERATURA
2.1 Adolescncia e hbitos alimentares............................................................. 15
2.2. Sobrepeso e obesidade na adolescncia....................................................... 17
2.3. Mtodos de avaliao do consumo de alimentos......................................... 18
2.3.1. Registro ou dirio alimentar................................................................ 19
2.3.2. Recordatrio de 24 h............................................................................ 20
2.3.3. Questionrio de frequncia do consumo de alimentos........................ 20
2.4. Padres alimentares...................................................................................... 22
2.4.1. ndice de qualidade da dieta............................................................... 23
2.4.2. ndice de qualidade da dieta revisado.................................................. 25
2.5. Fatores Associados qualidade da dieta...................................................... 28
2.5.1. Sexo e idade......................................................................................... 28
2.5.2. Renda e escolaridade.......................................................................... 29
2.5.3. Atividade fsica e atividades sedentrias............................................. 30
2.6. Justificativa.................................................................................................. 31
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral.............................................................................................. 32
3.2. Objetivos Especficos................................................................................... 32
4. MANUSCRITO
ndice de qualidade da dieta de adolescentes e fatores associados.................... 33
5. CONCLUSES.................................................................................................. 56
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ix
Pag.
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................ 57
APNDICES
Apndice A- Quadro 1: Nmero de pores dirias recomendadas por 1000
Kcal, valor energtico mdio das pores segundo os grupos de alimentos do
Guia Alimentar para a populao brasileira de 2006 e nmero de pores
dirias/1000 Kcal do ndice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R).............. 67
Apndice B Quadro 2: Descrio das pontuaes dos componentes do
ndice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R) e respectivas pores........... 68
ANEXOS
Anexo 1 Questionrio....................................................................................... 71
Anexo 2 Parecer do Comit de tica em Pesquisa........................................... 82
Anexo 3 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................. 84
Anexo 4 Descrio dos componentes e classificao de alguns alimentos
que pontuam no IQD-R....................................................................................... 86
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x
RESUMO
Introduo: Conhecer a qualidade da dieta de adolescentes til para auxiliar na
construo de indicadores de sade nutricional.
Objetivo: Avaliar a qualidade da dieta e sua associao com variveis sociodemogrficas,
de estilo de vida e estado nutricional de adolescentes.
Mtodos: Estudo transversal, sendo uma sub-amostra de um estudo de coorte, que incluiu
1326 adolescentes entre 10 e 14 anos, de ambos os sexos, estudantes de escolas pblicas e
privadas da regio urbana de Cuiab - Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011. Os
adolescentes responderam um questionrio, aplicado por entrevistador e as informaes
sobre o consumo alimentar foram obtidas utilizando-se questionrio de frequncia
alimentar. Avaliou-se a qualidade da dieta estimando-se o ndice de Qualidade da Dieta
Revisado adaptado populao brasileira. Este ndice composto por pontuao
distribuda entre componentes que caracterizam diferentes aspectos da dieta, sendo que o
valor mximo de 100 pontos indica dieta de alta qualidade. A pontuao dos componentes
foi expressa em mdia e intervalo de confiana de 95%. Utilizou-se o teste de Qui-
quadrado para avaliar a associao entre o ndice de Qualidade da Dieta Revisado e as
variveis independentes. As variveis que apresentaram p-valor 0,20 na anlise bivariada
foram includas na anlise de regresso logstica mltipla. Em todas as anlises foi
utilizado o nvel de significncia de 5%.
Resultados: A mdia do ndice de Qualidade da Dieta Revisado foi de 75,14 pontos (IC
95%: 74,82-75,46). Foram baixas as mdias para os componentes Vegetais Verdes
Escuros e Alaranjados e Leguminosas (2,68); Leite e Derivados (5,85) e Sdio (4,53).
Maiores pontuaes do ndice de Qualidade da Dieta Revisado foram associadas: ao menor
tempo ( 2 horas/dia) gasto em atividades sedentrias, como assistir televiso ou usar
computador/games (OR 1,33; IC 95%: 1,01-1,74); maior tempo ( 300 minutos/semana)
de prtica de atividade fsica (OR 1,38; IC 95%: 1,07-1,78) e excesso de peso (OR 1,67; IC
95%: 1,28-2,19)
Concluso: Estilo de vida saudvel, caracterizado pela prtica regular de exerccios fsicos
e baixo nvel de atividades sedentrias foi associado dieta de melhor qualidade. Destaca-
se assim a importncia do incentivo prtica de atividade fsica, reduo do nmero de
horas dirias em atividades sedentrias e interveno na prtica alimentar dos adolescentes.
Palavras-chave: Consumo alimentar; hbitos alimentares; estado nutricional; adolescente.
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xi
DIET QUALITY INDEX OF ADOLESCENTS AND ASSOCIATED FACTORS
ABSTRACT
Introduction: To assess the diet quality of adolescents is useful in the development of
nutritional health indicators.
Objective: To evaluate the diet quality and its association with socio-demographic and
lifestyle variables, and nutritional status of adolescents.
Methods: Cross-sectional study, that is a sub-sample of a cohort study with 1326
adolescents aged 10 to 14 years, of both sex, students of public and private schools of the
urban area of Cuiab City, Mato Grosso State, Brazil, between 2009 and 2011. Data were
collected based on a questionnaire administered by an interviewer, and information on
food intake was obtained using a food frequency questionnaire. The diet quality was
assessed by the Diet Quality Index Revised, adapted to the Brazilian population. This
index is composed of scores distributed by the components that characterize the different
aspects of diet, and the maximum value of 100 points indicates high quality diet. The score
of components was expressed in mean and confidence interval of 95%. The chi-square test
was used to evaluate the association between the Diet Quality Index Revised and
independent variables. Variables with p-value 0.20 in the bivariate analysis were
included in the logistic regression analysis. In all analyses, the significance level of 5%
was used.
Results: The mean of the Diet Quality Index Revised was 75.14 points (CI 95%: 74.82-
75.46). The means for the components Dark Green, Orange Vegetables and Legumes
(2.68); Milk and Dairy Products (5.85) and Sodium (4.53) were low. Higher scores of
diety quality were associated with: low time ( 2 hours / day) spent on sedentary activities
like watching television or using computer / games (OR 1.33; CI 95%: 1.01-1.74); longer
time ( 300 minutes / week) of physical activity (OR 1.38; CI 95%: 1.07-1.78) and
overweight (OR 1.67; IC 95%: 1.28-2.19).
Conclusion: Healthy lifestyle, characterized by regular exercise and low level of sedentary
activities was associated with better diet quality. Therefore the importance of encouraging
physical activity, reducing the number of daily hours in sedentary activities and
intervening in eating habits of adolescents are highlighted.
Keywords: Food intake; diet habits; nutritional status; adolescent.
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xii
Lista de Tabelas
Tabelas Pg.
1- Caracterizao de adolescentes segundo variveis sociodemogrficas, de
estilo de vida e estado nutricional, Cuiab-MT, 2009-2011 ...................... 51
2- Estatstica descritiva para os escores de cada componente do ndice de
qualidade da dieta revisado (IQD-R) e percentual de adolescentes que
obtiveram pontuao mnima e mxima, Cuiab-MT, 2009-2011............. 53
3- Prevalncia (%), razo de prevalncia (RP) e intervalo de confiana de
95% (IC 95%) do IQD-R adequado ( Quartil 3), segundo variveis
sociodemogrficas, de estilo de vida e estado nutricional, Cuiab-MT,
2009-2011................................................................................................. 54
4- Odds ratio (OR) ajustada e intervalo de confiana de 95% (IC 95%) para
os fatores associados ao IQD-R adequado de adolescentes, Cuiab-MT,
2009-2011................................................................................................. 56
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Lista de Siglas e Abreviaes
ABEP Associao Brasileira de Empresas de Pesquisas
DCNT Doenas Crnicas No Transmissveis
Gord_AA Calorias provenientes de gorduras slidas, do lcool e de acar de adio
HEI Health Eating Index
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
IQD ndice de Qualidade da Dieta
IQD-a ndice de Qualidade da Dieta ajustada pela necessidade de energia
IQD-R ndice de Qualidade da Dieta Revisado
ISA Inqurito de Sade e Alimentao
MS Ministrio da Sade
OMS Organizao Mundial da Sade
PeNSE Pesquisa Nacional de Sade do Escolar
POF Pesquisa de Oramentos Familiares
QFA Questionrio de Frequncia Alimentar
R24h Recordatrio de 24 horas
RD Registro Alimentar
SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia
SIM Sistema de Informaes sobre Mortalidade
VET Valor Energtico Total
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1. APRESENTAO
Este estudo aborda o consumo alimentar de 1326 adolescentes de ambos os sexos,
com idade entre 10 e 14 anos, matriculados em escolas pblicas e privadas do municpio
de Cuiab/Mato Grosso. Para avaliao da qualidade do consumo alimentar desses
jovens, utilizou-se como ferramenta o ndice de Qualidade da Dieta Revisado adaptado
populao brasileira.
Esta dissertao consta de trs partes: apresentao, reviso da literatura e
manuscrito, onde esto contidos, alm da introduo, os mtodos, resultados e discusso
do estudo, que ser encaminhado posteriormente para publicao.
A mudana no perfil nutricional da populao brasileira, caracterizada pela
reduo da desnutrio e aumento da obesidade, dentre outros fatores, tem sido atribuda
modificao nos padres alimentares. Entre os adolescentes, existe uma preferncia por
alimentos com elevado teor de gordura saturada e colesterol, alm de grande quantidade
de sal e acar.
Durante a adolescncia a nutrio desempenha um papel muito importante, tendo
em vista o intenso crescimento e desenvolvimento que ocorre neste perodo, o que pode
culminar tanto com desnutrio ou obesidade, caso as necessidades nutricionais no
sejam satisfeitas.
Assim, com os resultados deste estudo ser possvel conhecer a qualidade da dieta
dos adolescentes de Cuiab e subsidiar tomadas de decises no mbito educacional e de
sade pblica, a fim de prevenir e/ou minimizar agravos futuros.
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15
2. REVISO DE LITERATURA
2.1. Adolescncia e hbitos alimentares
A adolescncia a fase do desenvolvimento humano caracterizado como o
perodo de transio entre a infncia e a vida adulta. Segundo a Organizao Mundial da
Sade (OMS), a adolescncia abrange indivduos com idade entre 10 e 19 anos e engloba
as rpidas mudanas no crescimento fsico, na maturao sexual e no desenvolvimento
psicossocial, que pode ser influenciada por fatores hereditrios, nutricionais, ambientais e
psicolgicos (WHO, 1986). Compreende duas fases, a primeira, entre os 10 e 14 anos,
caracteriza-se pelas transformaes fsicas e biolgicas que acontecem no corpo, como o
estiro do crescimento, o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundrios, a menarca
nas meninas e a espermarca nos meninos. J, na fase final, entre os 15 e 19 anos, ocorre
diminuio desses processos de forma gradativa at a parada total do crescimento (WHO,
2005).
Os adolescentes podem ser considerados um grupo de risco nutricional por
diversas razes, destacando-se a inadequao da dieta no que se refere ao aumento de
necessidades energticas e de nutrientes para atender demanda do crescimento (VEIGA
e SICHIERI, 2007).
Os hbitos alimentares podem contribuir tanto para o baixo peso e desnutrio,
decorrente de carncias nutricionais importantes, bem como para o sobrepeso e obesidade
com consequente aparecimento precoce de alteraes metablicas associadas ao excesso
de gordura corporal (VIEIRA et al., 2005, VEIGA e SICHIERI, 2007). O comportamento
adotado na adolescncia muito importante por se tratar de uma fase da vida de
aprendizado e formao. Os hbitos alimentares adquiridos neste perodo serviro de
alicerce para a prtica alimentar na vida adulta (CERVATO e VIEIRA, 2003).
Diversos fatores podem interferir no consumo alimentar durante a adolescncia,
tais como valores sociais e culturais, imagem corporal, situao econmica, refeies
realizadas fora do domicilio, aumento da disponibilidade de alimentos de preparo fcil e
rpido e a influncia exercida pelos meios de comunicao (GARCIA et al., 2003).
Segundo BRAGGION et al. (2000) a auto-imagem corporal exerce influncia
sobre os hbitos alimentares dos adolescentes, principalmente do sexo feminino.
Atualmente, a tendncia social e cultural de considerar a magreza como padro de beleza
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16
e aceitao, pode influenciar negativamente o consumo alimentar levando a omisso de
refeies importantes, como desjejum e jantar e outros comportamentos alimentares
danosos a sade (SOUTO e FERRO-BUCHER, 2006).
De acordo com MORIMOTO et al. (2008) as caractersticas socioeconmicas da
famlia interferem nos hbitos alimentares e na qualidade da dieta, melhorando de acordo
com o aumento do nvel de escolaridade e da condio socioeconmica, tanto do prprio
indivduo quanto do chefe da famlia. Porm, os resultados da Pesquisa de oramentos
familiares - POF de 2008-2009 (IBGE, 2010) demonstraram que alimentos considerados
saudveis como feijo e preparaes base de milho so mais consumidos nas faixas de
menor renda. Por outro lado, alguns marcadores negativos da qualidade da dieta como,
consumo de doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados, so elevados na maior
categoria de renda.
A tendncia das famlias moradoras nos grandes centros urbanos adquirir
alimentos semi-prontos em detrimento a produtos que exijam tempo e trabalho para o
preparo, bem como a substituio de refeio pelos lanches rpidos (fast food) realizados
fora do domicilio, sendo valorizado o sabor adocicado e gorduroso, sem maiores
preocupaes com a qualidade da refeio (MONTEIRO et al., 2000; GARCIA et al.,
2003). Tais mudanas nos hbitos alimentares dos adolescentes atribuem-se em parte
progressiva ausncia dos pais nos domiclios e ao trabalho externo da mulher
(BISMARCK-NASR et al., 2006).
Da mesma forma, a mdia tambm exerce grande influncia na escolha dos
alimentos pelos adolescentes (TARDIDO e FALCO, 2006). O forte apelo comercial e
pouco cientfico das propagandas promove aumento de consumo de produtos
industrializados, ricos em sdio, assim como alimentos de alta densidade energtica como
acar, batata frita e refrigerantes, porm pobres em nutrientes como clcio e ferro. Isto
tem como consequncia uma reduo do consumo de carboidratos complexos, frutas,
hortalias e leite, nas regies metropolitanas do Brasil (ANDRADE et al., 2003;
GARCIA et al., 2003; VEIGA e SICHIERI, 2007).
O Ministrio da Sade (MS) recomenda populao brasileira quanto ao consumo
adequado de alimentos, atravs do Guia Alimentar (MS 2006). Suas diretrizes
recomendam o consumo de alimentos mais nutritivos em quantidades suficientes, com o
objetivo de promover a sade e prevenir doenas. Considera que o ato da alimentao
deve estar inserido no cotidiano das pessoas, como um evento agradvel de socializao.
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17
Ressalta o benefcio das frutas, legumes, verduras, feijes e dos alimentos que contm
amido, bem como incentiva o consumo restrito de gorduras saturadas, acar e sal. Os
atributos bsicos para uma alimentao saudvel, segundo o Guia alimentar, so a
acessibilidade fsica e financeira, sabor, variedade, cor, harmonia e segurana alimentar.
2.2. Sobrepeso e obesidade na adolescncia
Diversos pases em desenvolvimento, inclusive o Brasil, tm apresentado
importantes modificaes no perfil nutricional de sua populao (POPKIN, 2001), com
diminuio na prevalncia da desnutrio e aumento do sobrepeso e obesidade em
indivduos de todas as faixas etrias e nveis socioeconmicos (VEIGA et al., 2004;
TRICHES e GIUGLIANI, 2005).
Esse processo conhecido como transio nutricional caracterizado por
importantes mudanas no estilo de vida da populao, que determinado por fatores
culturais, sociais e econmicos, como consequncia do aumento da urbanizao e
industrializao (MONTEIRO et al., 2000, MONTEIRO et al., 2000b, GARCIA et al.,
2003; WHO, 2004). Dentre essas mudanas destacam-se, o consumo exagerado de
alimentos com alto teor de gordura e alta densidade energtica, associado reduo da
atividade fsica e aumento na prevalncia de hbitos sedentrios como assistir televiso,
usar vdeo games e computadores (POPKIN, 2001; FRENCH et al. 2001). Este fato tem
contribudo para o aumento do sobrepeso e da obesidade, com consequente elevao de
doenas crnicas no transmissveis - DCNT (KAC e VELSQUEZ-MELNDEZ, 2003;
FERREIRA e MAGALHES, 2006).
O sobrepeso definido como peso corporal acima do previsto para o sexo, altura e
idade, segundo os padres populacionais de crescimento. J, a obesidade, uma doena
caracterizada pelo acmulo excessivo de gordura corporal, resultante do balano
energtico positivo e que acarreta repercusses sade dos indivduos, sendo
considerado um importante problema de sade pblica, gerando altos custos sociais e
econmicos (WHO, 2000). A obesidade representa uma ameaa sade das populaes
em um nmero crescente de pases. Co-morbidades desta doena incluem patologias
cardiovasculares, hipertenso arterial sistmica, acidente vascular cerebral, certos tipos de
cncer, diabetes tipo I e II, doena da vescula biliar, entre outras (WHO, 2000).
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18
Segundo a Organizao Mundial de Sade - OMS (WHO, 2011), desde 1980 a
obesidade vem crescendo em todo o mundo. Em 2008, 1,5 bilho de adultos, estavam
acima do peso. Destes, mais de 200 milhes de homens e quase 300 milhes de mulheres
eram obesos.
Similar ao que ocorre com os adultos, alguns estudos mostram elevadas
prevalncias de sobrepeso e obesidade em adolescentes, em todas as classes econmicas
(FERREIRA e MAGALHES, 2006). Porm, tem-se observado que a prevalncia de
excesso de peso ainda maior nas camadas econmicas mais elevadas (SILVA et al.,
2005, NUNES, et al., 2007, IBGE, 2010). Segundo a POF de 2008-2009, o excesso de
peso atinge 20,5% dos adolescentes brasileiros e a obesidade 4,9%, sendo que as maiores
prevalncias se concentram no sexo masculino e na faixa etria de 10 e 11 anos (IBGE,
2010).
Embora a obesidade associada a morbidades ocorra mais frequentemente em
adultos, consequncias desta doena que antes eram caractersticas desta faixa etria, j
comeam a ser percebidas em crianas e adolescentes obesos (DIETZ, 1998). Segundo
OLINTO (2007), os padres alimentares esto entre os principais fatores de risco
modificveis para a reduo de mortes por DCNT. A OMS (WHO, 2004) ressalta que a
alimentao saudvel previne mortes prematuras, causadas por doenas cardacas e
cncer, sendo, por isso, importante conhecer e analisar os hbitos alimentares dos
adolescentes.
2.3. Mtodos de avaliao do consumo de alimentos
A avaliao do consumo alimentar uma tarefa no muito fcil. Estudiosos vm
tentando criar instrumentos capazes de responder aos desafios impostos pela
complexidade da dieta humana. Os mtodos de investigao do consumo de alimentos a
serem utilizados dependem do objetivo do estudo e se as estimativas sero individuais ou
para grupos populacionais, sendo que cada mtodo apresenta vantagens e desvantagens
(RUTISHAUSER, 2005; PEREIRA e SICHIERI, 2007).
Para grupos populacionais de crianas e adolescentes, os mtodos de avaliao de
consumo alimentar so semelhantes aos empregados em estudos de adultos. A idade e a
capacidade de resposta so importantes fatores para a escolha de diferentes mtodos
dietticos de entrevista. Apesar da maioria das crianas terem capacidade de responder
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questes sobre seu comportamento alimentar, somente por volta dos 10 aos 12 anos que
os indivduos tornam-se capazes de informar corretamente sua ingesto alimentar, alm
de expressar atitudes sobre o que comer e conceitos de nutrio (FRANK, 1994;
CAVALCANTE et al., 2004).
Dentre os mtodos utilizados na obteno de dados sobre o consumo de alimentos
em pesquisas epidemiolgicas, destacam-se: registro alimentar (RD), recordatrio de 24h
(R24h) e questionrio de frequncia alimentar (QFA) (CAVALCANTE et al., 2004;
SLATER et al., 2004).
Os mtodos de avaliao de consumo alimentar podem ser classificados em
relao ao perodo de coleta das informaes, sendo prospectivos, quando investigam
informaes presentes, ou retrospectivos, quando analisam as informaes do passado
imediato ou de longo prazo (FISBERG et al., 2005).
2.3.1. Registro ou dirio alimentar
O registro alimentar um mtodo prospectivo, recolhe informaes sobre a
ingesto atual de um individuo ou de um grupo populacional. Nesse mtodo, o indivduo
ou pessoa responsvel anota em formulrio especifico todos os alimentos e as bebidas
consumidas ao longo de um ou mais dias, discriminados por horrio e refeio, devendo
anotar tambm os alimentos consumidos fora de casa (FISBERG, et al., 2005).
Por ser uma medida pontual, em geral, o dirio alimentar repetido durante certo
nmero de dias, de forma contnua ou no, para a obteno da estimativa usual. A
definio do nmero de dias de registro alimentar fundamental e deve ser determinada
em funo da variabilidade intra-individual dos nutrientes de interesse no estudo e do
grau de preciso desejado (BUZZARD, 1998).
Apresenta como vantagens a eliminao do vis de memria e preciso na
capacidade da quantidade consumida (PEREIRA e SICHIERI, 2007).
As principais limitaes desse mtodo so a necessidade de colaborao e
motivao do entrevistado, grau de escolarizao do mesmo, alto custo, requer bastante
tempo para a obteno de dados, anlise de dados trabalhosa e possibilidade de alterao
na escolha dos alimentos a serem consumidos (RUTISHAUSER, 2005).
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2.3.2. Recordatrio de 24 h
O R24h o mais utilizado para a obteno de relato de consumo de alimentos.
Geralmente, refere-se ao perodo de 24 horas anteriores ao dia da entrevista, porque
considera que este o tempo em que os indivduos so capazes de lembrar a sua ingesto
alimentar com o detalhamento desejado neste tipo de investigao (THOMPSON e
BYERS, 1994; RUTISHAUSER, 2005).
Este mtodo baseia-se em entrevista conduzida por profissional treinado cujo
propsito obter informaes que permitam definir e quantificar a alimentao
consumida no perodo de referncia. Em geral, a entrevista conduzida de modo a
solicitar ao entrevistado que recorde o consumo em ordem cronolgica. Para obteno de
dados confiveis em inquritos recordatrios fundamental a habilidade do entrevistador
em estabelecer comunicao com o entrevistado, o que torna, portanto, necessrio o
treinamento e a padronizao dos entrevistadores (BUZZARD, 1998).
As principais vantagens do mtodo recordatrio so o baixo custo, maior rapidez
na coleta dos dados, melhor aceitao pelo entrevistado, no alterao dos hbitos
alimentares e a no exigncia de habilidades especiais do respondente. Os erros dos
recordatrios relacionam-se com a memria e a cooperao do entrevistado, alm de
dificuldades na estimativa das quantidades consumidas, podendo ainda ocorrer omisso
de informao. A reprodutibilidade do R24h muito difcil de ser avaliada devido
variabilidade intra-individual do consumo alimentar. Contudo, a reprodutibilidade da
estimativa mdia populacional mesmo baseada em um nico dia de consumo alta
(BUZZARD, 1998).
Este mtodo estima o consumo atual, sendo recomendada a sua repetio quando
se deseja a estimativa de consumo usual, porm um nico R24h um mtodo til para
descrever o consumo mdio de energia e nutrientes de grupos populacionais (PEREIRA e
SICHIERI, 2007).
2.3.3. Questionrio de Frequncia do Consumo de Alimentos
O QFA um questionrio em que apresentado ao entrevistado uma lista de
alimentos e solicitado que o mesmo relate com que frequncia cada item usualmente
consumido, em mdia, em um dado perodo, geralmente, os ltimos seis ou 12 meses.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Thompson%20FE%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Byers%20T%22%5BAuthor%5D
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21
Esta frequncia de consumo costuma ser referida, por categorias definidas, que objetivam
caracterizar um gradiente de ingesto, tais como: mais de trs vezes ao dia, 2 a 3 vezes ao
dia, 1 vez por dia, 5 a 6 vezes por semana; 2 a 4 vezes por semana; 1 vez por semana; 1 a
3 vezes por ms; raramente ou nunca (PEREIRA e KOIFMAN, 1999).
Os alimentos includos na lista so geralmente, escolhidos por razes especficas,
e, teoricamente, este mtodo no permite estimar o consumo total dos alimentos. Avalia a
estimativa da dieta habitual, praticada ao longo de semanas, meses ou anos. A variao na
quantidade de alimentos consumida pelos indivduos determinada pela frequncia de
consumo (WILLET, 1994).
O QFA tem sido considerado o mtodo de escolha em estudos epidemiolgicos e
o mais utilizado em estudos de base populacional para verificar a associao entre dieta e
DCNT (CARDOSO, 2007). A preferncia do QFA nos estudos epidemiolgicos est
baseada na possibilidade de medir a intensidade da exposio, permitindo classificar os
indivduos em categorias de consumo e associ-lo com o desenvolvimento de
enfermidades. prtico tanto na obteno quanto na anlise de dados, no sofre o efeito
da variao intra-individual e, por se tratar de um mtodo retrospectivo, no leva
alterao do padro do consumo dos indivduos. Portanto, embora justificvel nos estudos
de carter etiolgico, o QFA no o mtodo indicado para estudos que requerem
estimativas acuradas e absolutas de consumo, como o caso de estudos descritivos do
consumo alimentar e algumas investigaes clinicas (WILLET, 1998, PEREIRA e
SICHIERI, 2007).
So trs os tipos de QFA: qualitativo, quantitativo e semiquantitativo. Atravs do
questionrio qualitativo se obtm informaes sobre os alimentos consumidos sem incluir
dados de quantidades; no quantitativo, solicitado ao respondente que descreva a poro
usual de consumo de cada item da lista. Neste caso, pode haver tanto uma questo aberta
para quantidades, quanto pode se apresentar uma poro mdia para que o respondente
estime se sua poro pequena (menor que a apresentada), mdia (igual apresentada)
ou grande (maior que a apresentada); j no questionrio semiquantitativo includo uma
poro mdia de referncia para cada item alimentar, e o consumo deve ser estimado
como um mltiplo dessa poro.
As principais vantagens do QFA so: a possibilidade de classificar indivduos em
categorias de consumo, a simplicidade de anlise de dados, o baixo custo, a economia de
tempo e a no mudana de consumo devido avaliao (WILLET, 1998).
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As limitaes do QFA esto relacionadas dependncia de memria, ao trabalho
envolvido no desenho e avaliao do QFA, a complexidade na entrevista e a dificuldade
na preciso da quantidade consumida (WILLET, 1998).
Segundo WILLET (1998), a incluso da poro no acrescenta preciso ao QFA,
pois quando se utiliza questionrio qualitativo, o consumo de energia e nutrientes pode
ser estimado utilizando-se dados de pores mdias apropriadas para a populao em
estudo. No entanto, h necessidade de avaliar a acurcia e preciso do QFA na populao
especfica a ser estudada. Em muitas situaes, a adaptao do questionrio j utilizado
em estudos prvios pode ser uma alternativa para poupar tempo e recursos financeiros
(CADE et al., 2002). Porm, alguns aspectos devem ser considerados no processo de
adaptao e/ou desenvolvimento de um QFA, tais como sua finalidade, populao alvo,
tipo de estudo e, caso o QFA tenha sido validado anteriormente, citar se seus resultados
foram satisfatrios (CARDOSO, 2007).
No Brasil, alguns estudos de validao de QFA foram realizados em populao
adulta e em adolescentes (SICHIERI e EVERHART, 1998; CARDOSO et al., 2001;
SALVO e GIMENO, 2002; SLATER et al., 2003; LIMA et al., 2007; ARAJO et al.,
2010; HENN et al., 2010).
2.4. Padres alimentares
Padro alimentar pode ser definido como o conjunto ou grupos de alimentos
consumidos por uma dada populao. As combinaes de alimentos consumidos refletem
as preferncias alimentares individuais, que sofrem influncias de fatores genticos,
culturais, de sade, do meio ambiente, de estilo de vida e de determinantes econmicos
(KANT, 2004).
A identificao de padres alimentares pode ser feita a priori ou a posteriori.
(MICHELS e SCHULZE, 2005; MOELLER et al., 2007). Na abordagem a posteriori,
parte-se de dados empricos de alimentos ou grupos de alimentos, que so agregados
atravs de anlise estatstica tendo como resposta a identificao do padro alimentar
(TRICHOPOULOS e LAGIOU, 2001; OLINTO, 2007).
Os padres alimentares a priori propem ndices que permitem avaliar a qualidade
da dieta com base em critrios conceituais de nutrio saudvel e de diretrizes e
recomendaes nutricionais. H ndices resultantes de escores da totalizao de
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23
nutrientes, da totalizao de alimentos ou ainda ndices que resumem a adeso dos
indivduos a uma determinada diretriz diettica (TRICHOPOULOS e LAGIOU, 2001,
KANT, 2004).
Existem diversas propostas de ndices utilizados para avaliar a qualidade global da
dieta (KANT, 1996). Porm, as que mais se destacam na literatura so o Diet Quality
Index DDI (PATTERSON et al. 1994), Diet Quality Index Revised DQIR ( HAINES,
et al. 1999) e o Health Eating Index HEI (KENNEDY et al, 1995).
Segundo CERVATO e VIEIRA (2003), a escolha de um ndice depende das
caractersticas da populao a ser analisada, do mtodo usado e dos recursos disponveis
para a anlise de dados dietticos.
2.4.1. ndice de qualidade da dieta
O ndice de qualidade da dieta (IQD) um exemplo de padro alimentar a priori,
j que tem sido elaborado a partir de guias alimentares com o objetivo de obter a medida
resumo das principais caractersticas das dietas, permitindo avaliar a qualidade da dieta
da populao ou de um grupo de indivduos (KANT et al., 2000, GODOY et al., 2006).
Segundo MICHELS e SCHULZE (2005) os ndices dietticos apresentam como
vantagens as orientaes dietticas como princpios norteadores, sendo de fcil
compreenso ao pblico em geral. Representam uma ferramenta que pode ser
amplamente usada na epidemiologia nutricional, visto que identificam diferentes fatores
da dieta, tanto global, quanto com relao aos seus componentes, servindo para
caracterizar e monitorar padres alimentares da populao, alm de serem teis para
avaliar intervenes nutricionais (CERVATO e VIEIRA, 2003; FISBERG et al., 2004).
As principais limitaes do IQD so a necessidade de orientaes dietticas para
definio de ndices; a difcil comparabilidade, j que os mesmos so desenvolvidos
levando-se em considerao os hbitos alimentares e a disponibilidade de alimentos
especficos de diferentes grupos populacionais. Vale ressaltar que as orientaes dos
guias alimentares so destinadas para a populao em geral e auxiliam na preveno das
DCNT, podendo at reduzir o risco de algumas doenas (MICHELS e SCHULZE, 2005;
MOELLER et al., 2007).
O HEI ou IQD, proposto por KENNEDY et al. (1995) leva em considerao a
variedade e adequao da dieta baseada no guia alimentar para a populao americana.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Michels%20KB%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Schulze%20MB%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Michels%20KB%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Schulze%20MB%22%5BAuthor%5D
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24
Este ndice consiste na avaliao de dez componentes, baseados em diferentes
aspectos da alimentao saudvel, sendo que cada componente recebe pontuao de 0 a
10. Assim, o ndice global varia entre 0 e 100 pontos. A distribuio dos componentes
dividida em 5 grupos de alimentos (cereais, pes e tubrculos; verduras e legumes; frutas;
leite e derivados; carnes, ovos e leguminosas), quatro nutrientes (gordura total; gordura
saturada; colesterol total; sdio) e o dcimo componente, variedade da dieta.
Segundo BOWMAN et al. (1998) o Center for Nutricion Policy and Promocion
do U.S. Departament of Agriculture, monitora e avalia, periodicamente, a dieta dos norte-
americanos fazendo uso do HEI, visto que possibilita identificar grupos populacionais
que estejam em risco de apresentar dieta deficiente de um grupo de alimentos ou de
determinados nutrientes. classificado em trs categorias: abaixo de 51 pontos - dieta
inadequada; entre 51 e 80 pontos - dieta que necessita de modificao; e superior a
80 pontos - dieta saudvel.
No Brasil, FISBERG et al. (2004) adaptaram o IQD proposto por KENNEDY et
al. (1995), tendo em vista a necessidade de realizar estudos populacionais de consumo
alimentar que gerassem informaes para construo de indicadores de sade nutricional
para a populao brasileira. As adaptaes foram realizadas para os primeiros cinco
componentes, onde foi utilizada como referncia a Pirmide Alimentar proposta por
PHILIPPI et al. (1999) e, para o componente variedade da dieta, levou-se em conta os
diferentes tipos de alimentos consumidos durante o dia. Este estudo de validao ocorreu
em Botucatu-SP, onde foram avaliados 50 indivduos entre crianas, adolescentes,
adultos e idosos. O escore total dos indivduos foi dividido em trs categorias: abaixo ou
igual a 40 pontos - dieta inadequada; entre 41 e 64 pontos - dieta que necessita de
modificao; e igual ou superior a 65 pontos - dieta saudvel. A mdia dos escores de
IQD foi de 51,5 pontos, sendo que dos indivduos avaliados, somente 12% apresentaram
dieta saudvel. Os valores mdios de pontos dos diferentes componentes do IQD
apresentaram-se baixos para verduras e legumes e gordura saturada; valores
intermedirios, para leite e/ou produtos lcteos, carnes, ovos e feijes; valores altos para
cereais, frutas, colesterol e sdio e para o componente variedade de alimentos.
GODOY et al. (2006) ao realizar um estudo com adolescentes modificaram o IQD
proposto por FISBERG et al. (2004). O grupo gordura saturada foi substitudo pelo
grupo das leguminosas e considerou-se o tamanho da poro de cada alimento, para o
clculo da variedade da dieta. A opo pela separao das leguminosas foi justificada
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25
pelo hbito alimentar do brasileiro de consumir o feijo, no entanto, a sua incluso no
mesmo grupo das carnes e ovos poderia levar superestimao da ingesto desse grupo.
Os escores totais dos indivduos seguiram a classificao proposta por BOWMAN et al.
(1998). O consumo alimentar foi medido a partir da aplicao do R24h. A mdia de
pontos do IQD foi de 58,42, sendo que 96% dos adolescentes avaliados apresentavam
dieta inadequada ou que necessitava de modificaes. O estudo detectou baixo consumo
de hortalias e frutas entre os adolescentes estudados. A pontuao total do IQD
apresentou associao positiva somente para o sexo. As mdias dos escores dos
componentes cereais, hortalias, leite e variedade da dieta estiveram positivamente
associados maior escolaridade do chefe da famlia, enquanto que as maiores mdias
para o grupo leguminosas e sdio associaram-se menor escolaridade do chefe da
famlia.
ANDRADE et al. (2010) realizaram um estudo de base populaconal (n= 1584),
com o objetivo de avaliar a qualidade da dieta de adolescentes e fatores associados de
quatro diferentes reas geogrficas do estado de So Paulo. Para avaliao da qualidade
da dieta foi utilizado o IQD adaptado por GODOY et al. (2006). A pontuao mdia do
IQD para os adolescentes foi de 59,7 e apenas 3% dos adolescentes estudados tinham
uma dieta saudvel. Este estudo mostrou que a qualidade da dieta dos adolescentes esteve
associada a fatores socioeconmicos e demogrficos, como condies de moradia e
idade, indicando que a qualidade da dieta diminui significativamente com o aumento da
idade do adolescente, e condies de moradia inadequadas.
2.4.2. ndice de qualidade da dieta revisado
Com a publicao do novo guia alimentar para a populao americana em 2005,
surgiu a necessidade de modificaes no HEI proposto por KENNEDY et al. (1995).
GUENTHER et al. (2008) revisaram o HEI, tomando por base as orientaes alimentares
do United States Department of Agriculture, denominado My Pyramid, que reflete as
principais recomendaes do Guia Alimentar 2005. A pontuao final permaneceu a
mesma, com intervalo entre 0 e 100, porm, o nmero de componentes aumentou, dando
nova pontuao aos mesmos. Os componentes foram assim distribudos: Frutas Totais;
Fruta inteira; Vegetais Totais; Vegetais Verdes Escuros e Alaranjados e
Leguminosas; Cereais Totais; Cereais Integrais; Leite e Derivados (incluindo
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26
bebidas de soja); Carne e Feijo; leos (no-hidrogenados, leos vegetais e leos de
peixe, de nozes e de sementes); Gordura Saturada; Sdio e Calorias Provenientes de
Gorduras Slidas, do lcool e de Acar de Adio (SoFAAS/Gord_AA). Aps essa
reviso o HEI passou a ser denominado HEI-2005.
O HEI-2005 difere do original, considerando que as necessidades energticas dos
indivduos variam de acordo com o sexo, idade e nvel de atividade fsica, bem como a
distino da qualidade e da quantidade da dieta, ou seja, os componentes dos grupos de
alimentos so expressos por 1000 kcal, e os nutrientes como, por exemplo, gordura total,
gordura saturada e sdio, so calculados em percentual de energia total. Os componentes
desta nova adaptao so pouco correlacionados com a ingesto total de energia,
demonstrando que este pode medir a qualidade alimentar da dieta independente da
quantidade da dieta (GUENTHER et al., 2008; DIXON, 2008).
No Brasil, com a publicao do Guia Alimentar para a populao brasileira, em
2006, tambm conhecida como Guia Alimentar 2006 (MS, 2006), houve necessidade de
reviso do IQD para a populao brasileira, tendo sido feitas novas propostas tais como, o
ndice de Qualidade da Dieta Ajustada (IQD-a) pela necessidade energtica (JAIME et
al., 2010) e o ndice de Qualidade da Dieta Revisado para a populao brasileira (IQD-R)
desenvolvido por PREVIDELLI et al., 2011.
O IQD-a foi um estudo metodolgico que utilizou informao de base de uma
interveno realizada com 737 indivduos adultos de ambos os sexos de quatro empresas
de So Paulo. O IQD-a foi obtido por uma pontuao distribuda igualmente em dez itens
caracterizando diferentes aspectos da alimentao: grupos de alimentos, nutrientes e
variedade. Os componentes relacionados aos grupos de alimentos do guia alimentar para
a populao brasileira foram ajustados pela estimativa da necessidade energtica da
populao estudada. A pontuao mxima possvel para o IQD-a de 100. Pontuaes
mais altas indicam que o consumo prximo s quantidades recomendadas, enquanto que
pontuaes baixas indicam pouca conformidade com as recomendaes do Guia
Alimentar (JAIME et al., 2010).
PREVIDELLI et al., (2011) utilizaram dados dietticos de consumo alimentar, do
estudo do Inqurito de Sade e Alimentao (ISA) Capital-2003, com adolescentes acima
de 12 anos, adultos e idosos (n= 2298) para desenvolver o IQD-R adaptado para a
populao brasileira. As pontuaes para os componentes sofreram modificaes tendo
em vista as orientaes do Guia Alimentar 2006, bem como as da Organizao Mundial
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da Sade (WHO, 2004), do Institute of Medicine (NAS, 2004) e do Healthy Eating Index
2005 (GUENTHER et al., 2008). Para gordura saturada, o ponto mximo foi definido de
acordo com a Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Preveno da Aterosclerose (SBC,
2007). O valor do IQD-R pode variar entre 0 e 100, sendo que os escores mais altos
indicam que a ingesto alimentar est prxima das recomendaes. A distribuio da
pontuao desse ndice obtida atravs da avaliao de 12 componentes, dos quais nove
so grupos alimentares, dois so nutrientes e um grupo de calorias proveniente de gordura
slida, lcool e acar de adio (Gord_AA). Os grupos alimentares so: Frutas Totais
(inclui frutas e sucos de frutas naturais); Frutas integrais (exclui sucos de frutas);
Vegetais Totais; Vegetais Verdes Escuros e Alaranjados e Leguminosas (este ltimo
s pontuado aps atingir-se a pontuao mxima de carnes, ovos e leguminosas),
Cereais Totais (inclui razes e tubrculos); Cereais Integrais; Leite e Derivados
(inclui inclusive bebidas base de soja); Carnes, Ovos e Leguminosas; leos (inclui
as gorduras mono e poliinsaturadas, leos das oleaginosas e gordura de peixe). Os
nutrientes incluem Sdio e Gordura saturada. Este mtodo permite analisar vrios
componentes da dieta simultaneamente, com base na densidade energtica, visto que o
nmero de pores dirias recomendadas definida para 1000 kcal, sendo possvel
avaliar sua qualidade independente da quantidade de alimentos consumidos.
Alguns estudos vm utilizando o IQD-R proposto por PREVIDELLI et al.(2011),
para avaliar a qualidade da dieta de adolescentes e tm verificado que este um mtodo
que torna possvel realizar associaes tanto de itens considerados saudveis quanto de
itens inadequados da dieta com diferentes variveis tais como idade, sexo, classificao
econmica, estilo de vida, estado nutricional, DCNT, entre outras, podendo ser
identificados os segmentos da populao que possuem risco de ter a dieta inadequada
em algum grupo de alimentos ou nutrientes (MONTEIRO, 2010; RAMOS, 2010).
Embora o HEI proposto por KENNEDY et al. (1995) tenha sido desenhado para
avaliar a qualidade da dieta atravs de R24h, HURLEY et al. (2009) ao estudar o ndice
de qualidade da dieta para adolescentes verificaram que os resultados encontrados
atravs do QFA foram consistentes com aqueles obtidos com o uso do R24h (BASIOTIS
et al., 2002). Outros estudos tambm sugerem a utilidade do uso do QFA para avaliar o
IQD (FESKANICH et al., 2004; RAMOS, 2010).
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28
2.5. Fatores associados qualidade da dieta
Ainda que no exista um ndice universal para avaliar a qualidade da dieta da
populao mundial, o ndice de Qualidade da Dieta revisado (HEI-2005) desenvolvido
nos Estados Unidos reuniu os alimentos e nutrientes que estavam mais relacionados com
a preveno de doenas e promoo da sade, sem deixar de abordar os nutrientes
considerados malficos sade da populao. Diversos pases procuraram adaptar esse
ndice levando em conta as recomendaes especficas para a populao do pas. Assim,
dependendo da adaptao torna-se difcil a comparao entre os ndices, porm possvel
comparar o consumo de diversos grupos de alimentos ou nutrientes.
Os fatores associados qualidade da dieta ainda no esto bem esclarecidos,
alguns apontam para fatores como idade, sexo, etnia, classe econmica, prtica de
atividade fsica enquanto que outros divergem desses fatores.
2.5.1. Sexo e idade
Alguns estudos tm demonstrado que a faixa etria e o sexo interferem na
qualidade da dieta de adultos, apresentando maiores mdias de IQD entre mulheres e em
indivduos com idade superior a 50 anos (BOWMAN et al., 1998; MORIMOTO et al.,
2008). Segundo MORIMOTO et al. (2008), a idade influencia na qualidade da dieta, pois
pode refletir uma mudana na conscincia sobre a sade, com o aumento da idade,
interferindo diretamente nas escolhas alimentares. No entanto, HARRINGTON et al.
(2011) relatam que no estudo de base populacional desenvolvido na Irlanda no houve
diferena nos preditores de baixa qualidade da dieta entre homens e mulheres.
Da mesma forma, alguns estudos que foram realizados com adolescentes,
apresentaram resultados divergentes. GODOY et al. (2006) verificaram maiores
pontuaes do IQD, para indivduos do sexo masculino. Dentre a distribuio de
pontuao para os componentes, houve variao ora mais elevada para o sexo masculino
(cereais, hortalias e leguminosas), ora para o sexo feminino (sdio e variedade da dieta).
J ANDRADE et al. (2010), em estudo com adolescentes no verificaram associao
entre o IQD e o sexo, porm encontraram maiores pontuaes de IQD para os mais
jovens (12-16 anos) quando comparados aos mais velhos (16-20 anos). MONTEIRO
(2010), com dados de adolescentes de Niteri no verificou associao do IQD-R com
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sexo e idade, enquanto RAMOS (2010), em pesquisa tambm realizada com adolescentes
no verificou associao de IQD-R com o sexo.
LIMA-LOPES (2007) em um estudo com escolares com idade de 7 e 8 anos,
matriculados na 1 srie do ensino fundamental da rede pblica e particular de Cuiab-
MT, no observou diferena estatstica na qualidade da dieta, segundo o sexo e a idade.
2.5.2. Renda e escolaridade
Em um estudo de base populacional realizado por BOWMAN et al. (1998) nos
Estados Unidos, foi verificado que as dietas com pior qualidade eram consumidas por
indivduos afro-americanos, com baixa renda e menor escolaridade.
IRALA-ESTEVEZ et al. (2000) realizaram uma meta-anlise com estudos de 7
pases europeus e concluram que o consumo de frutas e legumes esteve associado
positivamente com a classe econmica, tanto para homens quanto para mulheres. Para
este estudo a classe econmica foi medida atravs do nvel de educao. GUO et al.
(2004) tambm verificaram maior pontuao do HEI para indivduos com maior renda e
escolaridade mais elevada.
Segundo FISBERG et al. (2005), indivduos com escolaridade mais elevada
tendem a possuir maior conhecimento para aquisio de alimentos, aumentando a
variedade da dieta, principalmente a partir do maior consumo de frutas e hortalias e
consequentemente aumentando a pontuao do IQD.
DARMON e DREWNOWSKI (2008) em uma reviso de estudos realizados na
Europa, Canad, Austrlia e Estados Unidos, verificaram que dietas de melhor qualidade,
so em geral consumidas por pessoas com maior grau de escolaridade e de classe
econmica mais elevada. Os autores ressaltam que a elevao constante do preo de
legumes e frutas naqueles pases, nas duas ltimas dcadas, em relao a produtos com
alta concentrao de acar e gordura, pode ser responsvel pelo menor consumo destes
alimentos pela populao de menor poder aquisitivo.
Da mesma forma, estudos com adolescentes (ANDRADE et al., 2010) e escolares
(LIMA-LOPES, 2007) constataram associao entre renda e qualidade da dieta. BIGIO et
al. (2011) demonstraram que o consumo de frutas e vegetais por adolescentes est
associado ao maior grau de escolaridade do chefe da famlia e da renda familiar, ou seja,
quanto mais elevada a renda per capita e a escolaridade do chefe da famlia, maior o
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30
consumo de frutas e vegetais por adolescentes. Isto pode ser atribudo ao fato de que o
nvel de escolaridade influencia na seleo de alimentos, visto que estes indivduos,
teoricamente, possuem maior capacidade de assimilar mensagens de programas
nutricionais e compreender a importncia da alimentao como uma forma de promover a
sade, alm do que, geralmente, a escolha dos alimentos cabe ao chefe, uma vez que so
responsveis pelas decises da famlia.
2.5.3. Atividade fsica e atividades sedentrias
GUO et al. (2004) em um estudo com adultos, encontraram diferena nas mdias
de HEI segundo o estilo de vida. Observaram associao entre maiores pontuaes do
HEI e prtica de atividade fsica mais de trs vezes por semana, enquanto que
MORIMOTO et al. (2008) e ANDRADE et al. (2010) no observaram associao entre
IQD e prtica de atividade fsica, para adultos e adolescentes, respectivamente.
Segundo NUNES et al. (2007), alguns estudos demonstram que a prtica regular
de atividade fsica, principalmente de lazer, est associada tanto com a classe econmica
mais elevada, quanto com a maior escolaridade dos pais. provvel que indivduos com
escolaridade mais elevada tenham maior conhecimento sobre os benefcios que a
atividade fsica exera sobre a sade e a maior renda facilite o acesso a prticas esportivas
em academias de ginstica, tendo em vista o alto custo das mesmas. Consideram ainda
que o hbito de assistir televiso pode expor crianas e adolescentes a vrios estmulos
alimentares no saudveis, o que por sua vez, est associado ao sobrepeso e obesidade.
Em um estudo de reviso, realizado na Europa, os autores concluram que assistir
televiso substitui atividades fsicas mais vigorosas e que existe uma correlao positiva
entre o tempo gasto assistindo televiso e estar com sobrepeso ou obesidade em
populaes de diferentes idades (CAROLI et al., 2004).
Resultados similares foram encontrados em um estudo realizado no municpio de
Feira de Santana-BA, onde foi verificada associao entre horas despendidas com hbito
de assistir TV e aumento da prevalncia de sobrepeso e obesidade. Os autores atribuem
esta associao natureza sedentria da atividade, acrescida da relao que existe entre a
mesma e o consumo de lanches, o que agravado pelo efeito cumulativo da exposio
propagandas de alimentos hipercalricos, que so frequentes na mdia brasileira
(OLIVEIRA et al., 2003).
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31
2.6. Justificativa
Mundialmente tem-se procurado desenvolver ferramentas teis e vlidas que ao
mesmo tempo permitam relacionar o consumo diettico com a incidncia das DCNT
(FISBERG et al., 2004). O pacto pela sade, no componente Pacto pela Vida est
constitudo por um conjunto de compromissos sanitrios e prioridades, dentre os quais se
encontra a promoo da sade onde se d nfase a alimentao saudvel (BRASIL,
2006).
Sabe-se que a segurana alimentar e nutricional um direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, que respeitem a diversidade
cultural e que seja social econmica e ambientalmente sustentvel (BRASIL, 2006a).
Diante disso, importante a realizao de estudos populacionais de consumo
alimentar que forneam informaes teis para construir indicadores de sade nutricional
da populao brasileira (CERVATO e VIEIRA, 2003; FISBERG et al., 2004).
No estado de Mato Grosso so poucos os estudos que investigaram os hbitos
alimentares de adolescentes, e, no foram encontrados na literatura cientfica, registros de
pesquisas utilizando o IQD-R para avaliar a qualidade do consumo alimentar desta
populao. Sabe-se que os hbitos alimentares adquiridos durante a adolescncia podero
perpetuar-se na vida adulta. Portanto, torna-se necessrio conhecer a qualidade da dieta
consumida pelos jovens e, desta forma, fornecer informaes teis para a construo de
indicadores de sade nutricional e a possibilidade de se efetuar intervenes precoces.
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32
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Analisar o ndice de qualidade da dieta de adolescentes e os fatores associados.
3.2. Objetivos Especficos
Caracterizar a populao de estudo, segundo variveis, sociodemogrficas, e de
estilo de vida;
Verificar o estado nutricional dos adolescentes;
Estimar o ndice de qualidade da dieta dos adolescentes;
Verificar a associao entre as variveis sociodemogrficas, de estilo de vida e do
estado nutricional com o ndice de qualidade da dieta dos adolescentes.
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33
4. MANUSCRITO
NDICE DE QUALIDADE DA DIETA DE ADOLESCENTES E FATORES
ASSOCIADOS
DIET QUALITY INDEX OF ADOLESCENTS AND ASSOCIATED FACTORS
RESUMO
Objetivo: Avaliar a qualidade da dieta e sua associao com variveis
sociodemogrficas, de estilo de vida e estado nutricional de adolescentes.
Mtodos: Estudo transversal, sendo uma sub-amostra de um estudo de coorte, com 1326
adolescentes, estudantes de escolas pblicas e privadas da regio urbana de Cuiab-Mato
Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011. Os adolescentes responderam um questionrio,
aplicado por entrevistador e as informaes sobre o consumo alimentar foram obtidas
utilizando-se questionrio de frequncia alimentar. Avaliou-se a qualidade da dieta
estimando-se o ndice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R) adaptado populao
brasileira. Na anlise bivariada utilizou-se o teste de Qui-quadrado para avaliar a
associao entre o IQD-R e as variveis independentes. Variveis com p-valor 0,20
foram includas na anlise de regresso logstica mltipla. Em todas as anlises foi
utilizado o nvel de significncia de 5%.
Resultados: A mdia do IQD-R foi de 75,14 pontos (IC 95%: 74,82-75,46). Observaram-
se baixas mdias para os componentes Vegetais Verdes Escuros e Alaranjados e
Leguminosas; Leite e Derivados e Sdio. Na regresso logstica mltipla, aps
ajuste pelo consumo energtico total, observou-se que tempo 2 h dirias gasto em
atividades sedentrias como assistir TV ou usar computador/games; tempo 300 minutos
por semana de atividade fsica e excesso de peso dos adolescentes associaram-se a
maiores pontuaes de IQD-R.
Concluses: Estilo de vida saudvel foi associado dieta de melhor qualidade. Destaca-
se a importncia do incentivo prtica de atividade fsica, reduo do nmero de horas
dirias em atividades sedentrias e interveno na prtica alimentar dos adolescentes.
Palavras-chave: Consumo alimentar; hbitos alimentares; estado nutricional;
adolescente.
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ABSTRACT
Objective: To evaluate the diet quality and its association with socio-demographic,
lifestyle variables, and nutritional status of adolescents.
Methods: Cross-sectional study that is a sub-sample of a cohort study with 1326
adolescents, students of public and private schools of the urban area of Cuiab City, Mato
Grosso State, Brazil, between 2009-2011. Data were collected based on a questionnaire
administered by an interviewer, and information on food intake was obtained using a
food frequency questionnaire. The diet quality was assessed by the Diet Quality Index
Revised (DQI-R), adapted to the Brazilian population. The chi-square test was used to
evaluate the association between the DQI-R and independent variables. Variables with p-
value 0.20 in the bivariate analysis were included in the multiple logistic regression
analysis. In all analyses, the significance level of 5% was used.
Results: The mean of the DQI-R was 75.14 points (CI 95%: 74.82-75.46). The mean for
the components Dark Green, Orange Vegetables and Legumes; Milk and dairy
products and Sodium were low. The multiple logistic regression, after adjusting for
total energy intake, it was observed that time of 2 hours / day spent on sedentary
activities like watching television or using computer / games; 300 minutes / week of
physical activity and overweight in adolescents were associated with higher DQI-R
scores. Conclusion: Healthy lifestyle was associated with better diet quality. Therefore
the importance of encouraging physical activity, reducing the number of daily hours in
sedentary activities and intervening in eating habits of adolescents are highlighted.
Keywords: Food intake; diet habits; nutritional status; adolescent.
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INTRODUO
Segundo a Organizao Mundial da Sade OMS (1), desde 1980 a obesidade
vem crescendo em todo o mundo. No Brasil, o aumento do excesso de peso entre
adolescentes tambm tem sido expressivo nas ltimas 3 dcadas, abrangendo todas as
classes econmicas (2). De acordo com a Pesquisa de Oramentos Familiares de 2008-
2009 (POF), o excesso de peso atinge 20,5% dos adolescentes brasileiros e a obesidade
4,9%, sendo as maiores prevalncias observadas para o sexo masculino e na faixa etria
de 10 a 11 anos (2).
A reduo da prtica de atividade fsica, o aumento na prevalncia de hbitos
sedentrios como assistir televiso, usar vdeo games e computadores e o consumo
exagerado de alimentos com alta densidade energtica, contribui para o aumento do
sobrepeso e obesidade (3), com consequente elevao do risco de desenvolvimento de
doenas crnicas no transmissveis (DCNT) (4, 5).
Nos ltimos anos, a populao brasileira reduziu a aquisio domiciliar per capita
de cereais, leguminosas, hortalias, farinhas, fculas, massas e laticnios e aumentou
expressivamente a aquisio de bebidas, infuses, alimentos preparados e misturas
industriais (2).
Os hbitos alimentares inadequados esto entre os principais fatores de risco
modificveis para a reduo de mortes por DCNT (6), sendo que a alimentao saudvel
previne mortes prematuras, causadas por doenas cardacas e cncer (7).
Sabe-se que os hbitos alimentares adquiridos durante a adolescncia podero
perpetuar-se na vida adulta (8). Assim, torna-se necessrio conhecer a qualidade da dieta
consumida pelos jovens e, desta forma, fornecer informaes que possam auxiliar na
construo de indicadores de sade nutricional e possibilitem a realizao de intervenes
precoces.
O ndice de qualidade da dieta um mtodo que caracteriza o padro alimentar
definido a priori, que permite avaliar a qualidade da dieta da populao ou de um grupo
de indivduos, com base em critrios conceituais de nutrio saudvel e de diretrizes e
recomendaes nutricionais de guias alimentares (9, 10).
Recentemente foi proposto por PREVIDELLI et al. (11) um novo mtodo de
avaliao do ndice de qualidade da dieta, baseado no Health Eating Index - HEI-2005
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(12), e nas diretrizes do Guia alimentar para a populao brasileira (13), denominado
ndice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R).
No Brasil, so poucos os estudos que avaliaram a qualidade da dieta de
adolescentes, aps a publicao do Guia Alimentar de 2006 (13). Da mesma forma, em
Cuiab-MT, no foram encontrados na literatura cientfica pesquisada, registros de
estudos utilizando o IQD-R.
Assim, o objetivo deste estudo foi estimar o IQD-R e verificar a sua associao
com variveis sociodemogrficas, de estilo de vida e do estado nutricional de
adolescentes.
MTODOS
Trata-se de um estudo de corte transversal com adolescentes de ambos os sexos,
de 10 a 14 anos de idade, matriculados em escolas pblicas e privadas da regio urbana
de Cuiab MT, Brasil. Os dados desta pesquisa foram obtidos de um estudo de coorte,
desenvolvido com crianas nascidas entre 1994 e 1999, quando eram menores de cinco
anos, sendo que o plano amostral desta fase do estudo foi descrito por GONALVES-
SILVA et al. (14).
Entre 2009 e 2011, essas crianas, agora adolescentes, foram localizadas por meio
do EducaCenso, que um levantamento de dados estatstico-educacionais de mbito
nacional, realizado todos os anos e coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira com o apoio das Secretarias Estaduais de
Educao. Maiores informaes sobre a metodologia de busca desses adolescentes
encontra-se em GONALVES-SILVA et al. (15).
Na segunda fase do seguimento (2009-2011), as entrevistas foram realizadas nas
escolas ou domiclios dos adolescentes, por entrevistadores treinados e padronizados,
sendo que os jovens responderam a um questionrio contendo perguntas relacionadas s
caractersticas sociodemogrficas e de estilo de vida, incluindo um questionrio de
frequncia alimentar (QFA) e uma ficha onde foram anotados os dados antropomtricos.
O questionrio foi previamente testado com 114 adolescentes sorteados, em uma escola
pblica e uma particular no municpio de Cuiab, com o objetivo de padronizar
entrevistadores e avaliar o instrumento para a pesquisa.
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No presente estudo, foram avaliados 1454 adolescentes entrevistados na cidade de
Cuiab-MT. Foram excludos deste estudo 72 estudantes (5%) que tinham mais de 14
anos de idade, e 56 (3,9%) que apresentaram dados de consumo energtico considerados
pouco plausveis (superiores a 9000 Kcal/dia) (16) totalizando assim, 1326 adolescentes.
Entre as variveis sociodemogrficas, a cor da pele foi auto avaliada e
classificada, segundo o IBGE (17), em cinco categorias: branca, preta, parda, amarela e
indgena, sendo posteriormente agrupada em duas categorias: branca e no branca. A
idade foi obtida em anos completos e classificada em 2 categorias: menor de 12 anos e
maior ou igual a 12 anos.
Para avaliao da classe econmica das famlias, foram utilizados os critrios
estabelecidos pela Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa (18) que emprega um
sistema de pontos, tendo como base para o clculo a acumulao de bens materiais
existentes no domicilio (eletrodomsticos e carros), a presena de empregado domstico e
a escolaridade do chefe da famlia. As categorias variaram de A (nvel mais elevado) at
E (nvel mais baixo), de acordo com a pontuao obtida. No houve nenhum individuo
classificado como classe econmica E. Posteriormente foram agrupadas em nvel A e B;
C e D.
Para avaliao da escolaridade materna e do chefe da famlia considerou-se o
nmero de anos completos de estudo, sendo categorizada em: at 8 anos e acima de 8
anos de estudo.
O nvel de atividade fsica dos adolescentes foi avaliado utilizando-se o
questionrio da Pesquisa Nacional de Sade do Escolar PeNSE (19). Foi investigada a
realizao de atividade fsica, combinando o tempo e a frequncia com que foram
realizadas. O tempo de atividade fsica acumulada foi quantificado somando-se o tempo
gasto nos ltimos sete dias utilizando duas categorias: inativos e insuficientemente ativos
(aqueles que praticavam atividade fsica abaixo de 300 minutos/semana) e ativos (aqueles
que praticavam 300 minutos ou mais de atividade fsica por semana), como o
estabelecido pelo United Kingdom Expert Consensus Group (20).
Os adolescentes foram considerados com comportamento sedentrio quando
referiram assistir televiso e/ou usar computador ou vdeo games por um tempo superior
a 2 horas/dia (21).
A avaliao antropomtrica foi realizada de acordo com as tcnicas preconizadas
por GORDON et al. (22). O peso foi aferido utilizando-se o analisador de composio
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corporal da marca TANITA (modelo UM-080) com variao de 0,1 Kg e capacidade de
150 Kg. Para a mensurao da estatura foi utilizado antropmetro porttil da marca
Sanny, com variao de 1 mm e extenso de at 210 cm. Estas medidas foram realizadas
com o adolescente descalo, usando uniforme escolar e em posio ortosttica, com a
cabea posicionada respeitando-se o plano de Frankfurt. Foram realizadas duas
mensuraes de estatura, admitindo-se variao mxima de 0,5 cm, considerando a mdia
para anlise, repetindo-se o procedimento no caso de ultrapassar essa variao.
O estado nutricional dos adolescentes foi avaliado segundo sexo e idade,
utilizando-se o ndice de massa corporal (IMC = kg/m2), expresso em escore z da curva
de referncia da OMS (23), calculado por meio do software WHO AnthroPlus, verso
1.0.4 da OMS. Para a classificao nutricional foram adotadas as novas recomendaes
da OMS (23). Foram classificados como baixo peso os adolescentes que apresentaram
IMC/idade < -2 escores-z; eutrficos, aqueles que apresentaram IMC/idade entre -2 e
+1 escore-z; com sobrepeso, os que apresentaram IMC/idade entre > +1 e +2 escores-z
e obesidade, aqueles com IMC/idade > +2 escores-z. Para fins de anlise, o estado
nutricional foi classificado em duas categorias: sem excesso de peso (baixo peso e
eutrfico) e com excesso de peso (sobrepeso e obesidade).
Avaliao da qualidade da dieta
Para o clculo do ndice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R) foram
utilizadas as informaes de consumo alimentar obtidas por QFA qualitativo, sendo que
as pores foram imputadas, levando-se em considerao a poro mdia de cada
alimento do QFA de RODRIGUES et al. (16).
O QFA foi composto por 79 itens alimentares, organizados por grupos de
alimentos, com oito opes de frequncia de consumo, variando de mais de 4 vezes por
dia at menos de 1 vez por ms. Para a anlise da frequncia de consumo relatada no
QFA foi efetuada a transformao da mesma em frequncia diria, sendo atribudo o
valor 1,0 ao consumo de uma vez por dia, e aplicados valores proporcionais para as
demais opes de frequncia (24). O consumo dirio de cada item foi obtido a partir da
multiplicao da frequncia diria pela poro mdia consumida.
O consumo alimentar dos adolescentes foi avaliado conforme o seu contedo em
nutrientes utilizando-se o software Nutwin (Programa de Apoio Nutrio 2005) (25).
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Para os alimentos que no estavam disponveis no banco de dados do programa, as
informaes foram obtidas do Nutrition Data System for Research - NDSR (Nutrition
Coordinating Center 2008) (26) e da Tabela Brasileira de Composio de Alimentos
TACO (27). Os alimentos foram agrupados de acordo com os grupos apresentados no
Guia Alimentar para Populao Brasileira (13). As preparaes que envolviam mais de
um grupo de alimentos, como sanduches, pizzas, massas recheadas e outras misturas,
foram desmembradas e seus ingredientes, classificados nos grupos correspondentes.
Para a avaliao da qualidade da dieta foi utilizado o IQD-R adaptado para a
populao brasileira, baseado no Health Eating Index - HEI-2005 (12), proposto por
PREVIDELLI et al. (11). Este ndice composto por pontuao distribuda entre
componentes que caracterizam diferentes aspectos da dieta. Cada componente avaliado
possui pontuao de zero a cinco, dez ou 20 pontos, sendo que o valor mximo de 100
pontos na soma total indica dieta de alta qualidade. O IQD-R desenvolvido por
PREVIDELLI et al. (11) foi modificado para utilizao neste estudo. O item Cereais
Integrais no foi utilizado por no haver a distino do tipo de cereal no QFA utilizado
para este estudo. Foram consideradas trs pores de cereais em 1000 Kcal equivalendo a
10 pontos como critrio para pontuao mxima neste item, ficando assim distribuda a
pontuao mxima para cada componente: 5 pontos (Frutas Totais; Frutas Integrais;
Vegetais Totais; Vegetais Verdes Escuros e Alaranjados e Leguminosas), 10 pontos
(Cereais Totais; Carne, Ovos e Leguminosas; leos; Gordura Saturada e
Sdio), 20 pontos (Calorias Provenientes da Gordura Slida, lcool e Acar de
Adio Gord_AA), conforme demonstrado nos apndices A e B.
Anlise de dados
Os dados foram duplamente digitados em banco elaborado no programa Epi Info
2008, verso 3.5.1. Aps a tabulao dos mesmos foi realizada anlise de consistncia
dos dados. A anlise estatstica foi realizada com o auxlio do software Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), verso 17.0 para Windows. (SPSS Inc., Chicago,
IL, EUA). As variveis contnuas foram descritas por mdia e intervalo de confiana de
95% (IC 95%) e as categricas apresentadas como proporo (%) com seus respectivos
IC 95%. A distribuio dos dados foi verificada por meio do teste de Kolgomorov-
Smirnov.
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Na anlise bivariada, utilizou-se a Razo de Prevalncia e IC 95% e o teste do
Qui-quadrado de Pearson para avaliar a associao entre as variveis independentes
(sexo, idade, raa/cor, tipo de escola, classe econmica, escolaridade materna,
escolaridade do chefe da famlia, tempo de atividade sedentria, tempo de atividade fsica
e estado nutricional) e a varivel desfecho (IQD-R); que foi categorizada de acordo com
os quartis de distribuio, sendo considerado como adequado, o valor do IQD-R igual ou
superior ao 3 quartil. As variveis que apresentaram p-valor 0,20 na anlise bivariada
(razo de prevalncia bruta - RP) foram selecionadas para a anlise de regresso logstica
mltipla. Em todas as anlises foi utilizado o nvel de significncia de 5%.
Os pais ou responsveis que permitiram que os adolescentes participassem da
pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da coleta de
dados.
Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica do Hospital Universitrio Jlio
Muller, da Universidade Federal de Mato Grosso (Protocolo n 651/CEP-HUJM/2009).
Esta pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de
Mato Grosso (FAPEMAT).
RESULTADOS
Este estudo avaliou 1326 adolescentes de Cuiab Mato Grosso, Brasil, com
idade entre 10 e 14 anos, sendo 50,2% do sexo masculino e 60,9% com menos de 12 anos
completos. A maioria era de cor parda (58,0%), pertencia classe econmica C
(56,5%), estudavam em escola pblica (79,0%) e 29,2% estavam com excesso de peso.
A maior proporo das mes (48,6%) e do chefe da famlia (44,3%) tinha entre 9 e 11
anos de estudo, com mediana de 11 anos para ambos (Tabela 1).
A mdia do IQD-R foi de 75,14 pontos (IC 95%: 74,82-75,46), com variao de
48,11 a 88,94 pontos. Observou-se baixa pontuao para os componentes Vegetais
Verdes Escuros e Alaranjados e Leguminosas (2,68), Leite e Derivados (5,85) e
Sdio (4,53) e pontuaes mais elevadas para o grupo Frutas Totais (4,74) Frutas
Integrais (4,67), Carne, Ovos e Leguminosas (9,94) e grupo Gord_AA (18,57).
Aproximadamente 20% dos adolescentes no consumiam Vegetais Verdes Escuros e
Alaranjados e Leguminosas (Tabela 2).
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Maiores pontuaes do IQD-R ( quartil 3) foram observadas entre os indivduos
com menor tempo dirio de atividade sedentria, como assistir TV/usar computador ou
vdeo game (RP=1,26; IC: 95%: 1,03-1,52) quando comparados aos com maior tempo
nessa atividade, maior tempo semanal de prtica de atividade fsica (RP=1,25; IC 95%:
1,03-1,50) comparados aos inativos ou insuficientemente ativos e com excesso de peso
(RP=1,45; IC 95%: 1,20-1,76) comparados aos sem excesso de peso (Tabela 3).
Na tabela 4 esto apresentados os fatores associados ao IQD-R adequado, aps
ajuste pelo consumo energtico. Observa-se que os adolescentes que permaneciam at
duas horas dirias em atividades sedentrias apresentaram 33% mais chance de ter IQD-R
adequado, quando comparados aos que permaneciam em atividade sedentria por mais de
2 horas dirias [Odds ratio (OR)=1,33; IC 95%: 1,011,74]. Da mesma forma, os
adolescentes que praticavam atividade fsica por tempo igual ou superior a 300 minutos
por semana apresentavam 38% mais chance de ter IQD-R adequado em relao aqueles
que faziam menor tempo de atividade fsica (OR=1,38; IC 95%: 1,071,78). Quanto ao
estado nutricional, verificou-se que os adolescentes com excesso de peso apresentaram
quase o dobro de chance de ter IQD-R adequado, quando comparados aqueles com peso
adequado (OR=1,67; IC 95%: 1,282,19).
DISCUSSO
Os resultados deste estudo mostraram que melhores pontuaes de IQD-R, foram
inversamente associadas com o tempo gasto com atividades sedentrias e positivamente
com o tempo de prtica de atividade fsica semanal. Alm disso, observou-se associao
positiva entre melhores escores de IQR-R e excesso de peso. Isto significa que
adolescentes que gastam menos tempo em atividades sedentrias e fazem mais atividade
fsica tm IQR-R mais adequado do que aqueles que gastam mais tempo com atividades
sedentrias e fazem menos atividade fsica. Ao contrrio, os adolescentes com excesso de
peso apresentavam melhor IQR-R do que aqueles sem excesso de peso.
HARE-BRUUN et al. (28) em um estudo com adolescentes, na Dinamarca,
verificaram que hbitos alimentares menos saudveis estavam associados ao maior tempo
assistindo televiso. O hbito de assistir televiso e usar computadores e video games,
por longas horas durante o dia, tornou-se rotina na vida de crianas e adolescentes,
inclusive com o consentimento dos pais, visto que a falta de segurana nas cidades, no
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permite que brinquem ou pratiquem atividades fsicas em ambientes abertos, como em
dcadas anteriores.
Alguns estudos tem encontrado elevada prevalncia de sedentarismo entre os
adolescentes (29, 30). Segundo TREMBLAY et al. (31), independente dos nveis de
atividade fsica, comportamentos sedentrios esto associados com risco aumentado de
doenas cardio-metablicas. Diferente do encontrado no presente estudo, ANDRADE et
al. (32) no verificaram associao entre o IQD e o tempo dirio assistindo televiso,
usando computador ou com a prtica de atividade fsica.
A associao positiva encontrada no presente estudo, entre o IQD-R e o excesso
de peso, pode ser explicada pela causalidade reversa que ocorre nos estudos transversais.
Por outro lado, pode ter ocorrido subnotificao do consumo alimentar pelos adolescentes
com excesso de peso. SANTOS et al. (33) verificaram que a subnotificao da ingesto
energtica foi positivamente associada obesidade entre adolescentes, talvez pelo fato de
que a percepo sobre o peso corporal e o desejo de perder peso possam influenciar no
modo como os obesos relatam o seu consumo alimentar. Ao contrrio, PINHEIRO e
ATALAH (34) verificaram associao inversa entre IQD e sobrepeso de adolescentes no
Chile, ou seja, menores escores de IQD estavam associados ao sobrepeso. J, em outros
estudos (32, 35-37) os autores no verificaram associao entre o IQD e o estado
nutricional.
A prevalncia de excesso de peso encontrada neste estudo (29,2%) foi prxima
observada na POF de 2008-2009 (2) para adolescentes com idade entre 10 e 11 anos
(mediana da idade do grupo estudado) que foi de 28,6% e um pouco superior
encontrada em um estudo realizado com 590 adolescentes em Pelotas-RS (38). Esta
prevalncia preocupante, visto que adolescentes obesos tendem a serem adultos obesos
e a obesidade um fator de risco para DCNT.
Nesta pesquisa, a mdia do IQD-R global foi de 75,14 pontos. Outras pesquisas
com adolescentes que avaliaram o ndice de qualidade da dieta, baseado no HEI proposto
por KENNEDY et al. (39), realizados tanto no exterior (34, 40-41) como no Brasil (10,
32, 37), adaptados ou no para a realidade local encontraram pontuaes inferiores.
provvel que a utilizao do QFA para avaliar a ingesto alimentar dos adolescentes,
pode ter sido responsvel pela maior pontuao encontrada no presente estudo, j que
este mtodo tende a superestimar o consumo alimentar (24).
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Houve um elevado consumo de frutas pelos adolescentes deste estudo, o que fez
com que este componente atingisse altas pontuaes. provvel que pelo fato de Cuiab
ser uma cidade onde a maioria da populao reside em casas, que possuem quintal com
rvores frutferas regionais, isto favorea o consumo deste componente, inclusive, pela
populao de baixa renda.
Ao contrrio, BIGIO et al. (42) em um estudo com 812 adolescentes de So Paulo
verificaram que somente 6,4% dos jovens consumiam frutas, verduras e legumes
conforme as recomendaes do Guia alimentar (13) e 22% no consumiam nenhum tipo
de frutas, verduras ou legumes. A PeNSE (19), realizada com 60 793 adolescentes,
estudantes de escolas pblicas e privadas, do 9 ano das 26 capitais brasileiras e do
Distrito Federal, tambm mostrou baixo consumo regular de frutas.
A pontuao do componente Vegetais Verdes Escuros e Alaranjados e
Leguminosas foi muito baixa (2,68), prximo aos valores encontrados por MONTEIRO
(36) em Niteri-RJ e menor que as pontuaes encontradas nos estudos de RAMOS (35).
O baixo consumo deste componente corrobora com outros estudos realizados com
adolescentes (2, 43-44), e sugerem a necessidade de se desenvolverem formas
alternativas de preparo dos vegetais (tortas, sufls, sucos e sopas), buscando assim um
equilbrio entre o paladar dos jovens e essas importantes fontes de vitaminas, minerais e
fibras (44).
Neste estudo, assim como em outros (30, 32, 34-36, 45), tambm se verificou
baixo consumo de Leite e Derivados. Alguns autores atribuem este fato ao hbito de
alguns adolescentes omitirem o desjejum (46), onde os produtos lcteos so mais
consumidos. Alm disso, rotineiramente, substituem o leite por outras bebidas, como
refrigerantes, sucos e chs (30, 42, 46), por considerarem o leite como um alimento para
crianas, excluindo-o de sua dieta (47).
A baixa pontuao para o com