CASA DAS PÉRGOLAS DESLIZANTES
Local Bauru Ano 2012-14
Escritório FGMF
Autoras: Jéssica Lucena e Tamires Cabral
Implantação e Partido Formal
A casa das Pérgolas Deslizantes é uma residência unifamiliar de uso regular elaborada e executada entre 2012 e 2014 pelo escritório FGMF. Está situada em um condomínio privado na cidade de Bauru, São Paulo em um terreno de cerca de 500m² e possui uma área construída de 160m².
Figura 1: Implantação da Casa das Pérgolas Deslizantes – FGMF
Fonte: Revista Monolito, 21ª edição, ano 2014
A ideia inicial da casa era seguir a proposta da residência “Tic-Tac”, um estudo de uma residência
unifamiliar desenvolvido em 2009, pelo FGMF, para a revista britânica Wallpaper que tinha
como premissas a flexibilidade, fluidez e mutabilidade, as quais foram alcançadas através de
uma estrutura móvel que se adequava aos turnos do dia e as diferenças climáticas. No caso da
casa das Pérgolas Deslizantes, essas três premissas foram alcançadas através da instalação de
várias pérgolas móveis, que possibilitam uma adequação dos espaços externos as diferentes
necessidades climáticas, como também por meio da criação de uma casa “fechada” para o
entorno com módulos isolados que ora se volta e se integra aos ambientes externos do lote e
ora se fecha no próprio espaço interno de cada ambiente.
Residência térrea erguida sobre um terreno de faces irregulares, sua implantação parte de uma
divisão do lote em oito módulos de 3,86m, onde, de acordo com questões climáticas e com a
irregularidade das faces laterais, os espaços internos foram distribuídos em quatro módulos
retangulares, conectados por uma grande circulação longitudinal. Observa-se que a forma dos
módulos construídos independe do formato do terreno e que a circulação se conecta a cada um
desses módulos, ora penetrando-o e ora alinhando-se com alguma de suas laterais.
Figura 2: Modulação em gralha da casa das Pérgolas Deslizantes - FGMF
Fonte: Tamires Cabral
A ausência de visuais interessantes no entorno e a busca pela fluidez e flexibilidade dos espaços
levaram a adoção de uma configuração baseada na ideia da casa-pátio fechando-se a construção
em suas laterais e fundo com um muro elevado que impede o contato físico e visual com o
entorno; inserindo, em determinados pontos dos espaços internos, aberturas que possibilitam
a completa integração entre o interior e o exterior; e criando nos espaços externos várias áreas
onde podem ser desenvolvidas atividades de lazer, circulação e contemplação. Assim, todos os
ambientes internos possuem laterais que se conectam aos vários “pátios” externos produzindo
uma intensa relação de integração, ampliando a casa de 160m² para 500m².
Figura 3:Diagrama conceitual da casa das Pérgolas Deslizantes – FGMF
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-
arquitetos/5499d11ee58ece8436000105, acesso em março de 2015
Configuração Funcional
1. Posição dos Elementos de Composição
Os elementos de composição estão setorizados de acordo com uma sequência crescente de
profundidade do lote: setores de serviços dispostos nos módulos 1 e 2, setores sociais nos
módulos 3, 4, 5 e 6 e setores íntimos nos módulos 6, 7 e 8. Dentro dessa setorização existem
elementos de composição que são regulares e irregulares, havendo uma predominância de
espaços regulares, ocupando desde o segundo até o oitavo módulo, enquanto que os irregulares
ocupam o primeiro e o segundo módulo além da interposição de dois elementos de composição
irregulares, banheiros íntimos, junto a elementos regulares, quartos.
Figura 4: Zoneamento da casa das Pérgolas Deslizantes – FGMF
Fonte: Tamires Cabral
2. Linha de Circulação
A residência pode ser acessada por duas entradas:
- Acesso principal: localizada na porção oeste do terreno, esta abertura dá acesso a uma extensa
circulação social que interliga todos os módulos da edificação, sendo esta sugerida1 e
espacializada2.
1 Circulação sugerida: circulação estabelecida na continuidade espacial, tendo, de certo modo, um caráter residual. 2 Circulação espacializada: circulação independente dos cômodos, buscando promover privacidade e
autonomia de uso. Neste caso, a circulação é um elemento de composição autônomo, que conduz a lugares privados.
- Acesso secundário: abertura localizada no lateral sudoeste do lote a qual permite a entrada
para a circulação de serviços, que é periférica, especializada e não convencional, pois este
espaço ora funciona como espaço interno e ora como externo, devido à presença de uma
cobertura móvel. Sua extensão é reduzida ao segundo e terceiro módulo.
Figura 5: Planta Baixa – Circulação – Casa das Pérgolas Deslizantes – FGMF
Fonte: Tamires Cabral
Espacialidade
Figura 6 - Planta baixa, Casa das Pérgolas Deslizantes, com pontos de perspectivas Fonte: Jéssica Lucena
O módulo da garagem, o primeiro dos oito módulos de divisão do terreno, possui uma visão
unidirecional do espaço, com planos verticais em “U” onde, no seu sentido transversal, seus
limites são os muros da edificação, com cerca de 2,50m de altura, que impedem a visão do
entorno nessa direção, enquanto que, no sentido longitudinal, existe uma completa
permeabilidade na lateral voltada para a rua e uma parcial permeabilidade na lateral voltada
para o interior da edificação.
Figura 7 - Perspectiva A, a partir da rua Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
A partir da garagem é possível passar para o segundo módulo da edificação que abriga espaços
com visão estática, como é o caso da área de serviços e despensa; unidirecional, corredor de
serviços e cozinha; e multidirecional, corredor principal. No terceiro e quinto módulo existe
apenas o corredor principal como espaço interno, o qual possui nesse módulo uma visão
multidirecional de 360º, devido a seu fechamento em vidro em duas de suas laterais e a sua
continuidade espacial nas outras direções, os espaços externos nesse módulo possuem então
visão unidirecional, novamente devido à presença do muro que impede a visão do entorno da
edificação.
Figura 8 - Perspectiva B, no 5º módulo
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
Figura 9 - Perspectiva C Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
No quarto módulo o volume da circulação adentra a um volume transversal, que ocupa boa parte desse módulo, onde está localizado o escritório, na região acima da circulação, e as salas de estar e jantar, abaixo da circulação. Esse ambiente central possui aberturas verticais em vidro nas suas fachadas, sendo algumas fixas e outros móveis, o que possibilita uma intensa interação visual e parcial interação física com os o espaço externo e os módulos adjacentes, por isso esse espaço se caracteriza por uma visão multidirecional.
Figura 10 - Perspectiva D, sala de jantar
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
Figura 11 - Perspectiva E, sala de estar e espaço gourmet Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
No sexto módulo o espaço interno é ampliado acima do volume de circulação, concentrando ai
uma suíte que possui duas laterais fechadas com esquadrias de vidro e madeira possibilitando
assim dois tipos de configuração: fechamento total para o exterior, o que gera uma tensão
estática; abertura parcial, que possibilidade interação visual e/ou física, transformando esse
ambiente em um espaço multidirecional.
Figura 12 - Perspectiva F Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
Figura 13 - Perspectiva G
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/759465/casa-das-pergulas-deslizantes-fgmf-arquitetos
No sétimo módulo a circulação que até então era longitudinal muda de direção possibilitando assim o acesso três últimos ambientes internos da edificação, dois quartos e um banheiro, dessa forma, apesar de continuar sendo um espaço multidirecional, sua visão na direção dos quartos e banheiro é bastante limitada, podendo apenas ter acesso visual aos espaços externos adjacentes. Já os quartos e banheiros possuem uma visão unidirecional, sendo o banheiro um espaço fechado por quatro planos verticais e aberto apenas por uma porta de acesso e uma pequena janela alta, e os quartos fechados por planos verticais em forma de “U” e uma grande esquadria de vidro na quarta fachada.
Figura 144 - Perspectiva G
Fonte: Tamires Cabral. 2015
De modo geral, as tensões espaciais vão sendo alternadas entre unidirecional e multidirecional
de modo que os espaços sociais são totalmente abertos e integrados ao passo que os espaços
íntimos adquirem privacidade flexível podendo estar ora integrado com o exterior e ora isolado,
e os de serviços se mantém isolados, exceto a cozinha, que permeia entre uma setorização social
ou de serviços, que se fecha na sua lateral voltada para a rua e se abre na lateral voltada para o
interior da casa. E assim, pode-se dizer que a espacialidade da casa Pérgolas Deslizantes intercala
entre espaços fechados/abertos e estáticos/dinâmicos de acordo com as necessidades e funções
de cada ambiente.