1 Alino da Costa Monteiro (in memoriam) • Roberto de Figueiredo Caldas • Mauro Menezes • Claudio
Santos Gustavo Ramos • Marcelise Azevedo • Ranieri Resende • Monya Tavares • Raquel Rieger •
Rodrigo Torelly Luciana Martins • Denise Arantes • Andréa Magnani • Dervana Coimbra • Laís Pinto
• Paulo Lemgruber Rodrigo Castro • Renata Fleury • Cíntia Roberta Fernandes • Moacir Martins •
Verônica Amaral Raquel Perrota • Leandro Madureira • Adovaldo Medeiros Filho • Thiago Henrique Sidrim •
Rafaela Possera Pedro Mahin • Mara Cruz • Nathália Monici • Milena Pinheiro • Raissa Roussenq • Pedro
Felizola Rachel Dovera • Tércio Mourão • Marcelo Vieira • Juliana Bomfim • Rubstênia Silva • Hugo Moraes
Carolina Ávila • Rayanne Neves • João Gabriel Lopes • Catarina Lopes • Jéssica Costa • Danielle Ferreira
Aline Sterf • Roberto Drawanz • Érica Coutinho • Ana Carolina Portezan • Carina Pottes • Rodrigo Sampaio
Priscila Faro • Tatiana Dias • Virna Cruz • Luís Carlos Coentro • Vinicius Serrano
Excelentíssimo Senhor Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,
Digníssimo Relator do Processo nº STF-RE-589.998/PI,
perante o Excelso Supremo Tribunal Federal.
STF - Recurso Extraordinário nº 589.998/PI
Humberto Pereira Rodrigues, nos autos do processo em
epígrafe, em que contende com Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, vem,
por seus advogados, em face da v. intimação publicada em 1º.9.2014, apresentar suas
Contrarrazões aos Embargos de Declaração
opostos pela Embargante, identificados pelo nº 47441/2013, fazendo-o nos seguintes termos.
I. Dos pressupostos objetivos de admissibilidade
1. A presente manifestação é tempestiva, na medida em que, tida por
publicada a r. intimação no DJe de 1º.9.2014 (segunda-feira), o quinquídio legal teve início em
2.9.2014 (terça-feira), e, esgotando-se no sábado, o encerramento do prazo é prorrogado para
a segunda-feira, 8 de setembro de 2014.
2. Regular, outrossim, a representação processual, haja vista a
procuração de fl. 34 e o substabelecimento em anexo, cuja juntada ora requer.
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II. Introdução
3. A Embargante busca a reforma do v. acórdão que estabeleceu,
como requisito de validade do ato que desfaz o vínculo de empresas públicas e sociedades de
economia mista e seus empregados, a presença de motivação formalmente materializada, em
atenção aos princípios que regem os concursos públicos, tais como a impessoalidade, isonomia
e publicidade.
4. O v. acórdão, de forma clara e precisa, vincula a legitimidade do
ato à sua motivação, expressando em diversos pontos que tal consideração não decorre da
aplicação do art. 41 da Constituição Federal, mas sim dos princípios que regem os atos
administrativos em geral e o concurso público em particular, conforme se verifica da leitura da
ementa a seguir transcrita:
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT. DEMISSÃO
IMOTIVADA DE SEUS EMPREGADOS. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
MOTIVAÇÃO DA DISPENSA. RE PARCIALEMENTE PROVIDO. I - Os empregados
públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em
período anterior ao advento da EC nº 19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos
princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão por concurso público, a
dispensa do empregado de empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam
serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios, observados
no momento daquela admissão, sejam também respeitados por ocasião da dispensa. III – A
motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível quebra
do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de demitir. IV
- Recurso extraordinário parcialmente provido para afastar a aplicação, ao caso, do art. 41
da CF, exigindo-se, entretanto, a motivação para legitimar a rescisão unilateral do contrato
de trabalho.
(RE 589998, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em
20/03/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-179
DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013)
5. Trata-se de decisão que induz um sentido lógico à interpretação
constitucional sobre a matéria e tem o mérito de consolidar entendimento sobre questão há
muito tempo discutida nas cortes brasileiras.
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6. Contudo, em que pese a clareza e a completude do v. acórdão, a
Embargante opôs embargos de declaração para retomar e expandir o debate, apontando, para
tanto, as seguintes “falhas” na prestação jurisdicional:
(i) Afirma que o v. acórdão teria concedido estabilidade a empregados que não foram
contemplados pelo art. 41 da Constituição Federal.
(ii) Alega que somente as dispensas por justa causa deveriam ser motivadas, sendo
desnecessária a motivação da demissão sem justa causa.
(iii) Pede que essa E. Corte diga que a Embargante não será obrigada a indenizar de
forma retroativa os trabalhadores eventualmente reintegrados pela nulidade das
demissões imotivadas.
(iv) Pede que os efeitos da v. decisão proferida pelo Plenário dessa Excelsa Corte, em
tema com repercussão geral reconhecida, não afete outras empresas públicas.
(v) Insurge-se contra o que considera ser um julgamento extra e ultra petita, que
ademais representaria uma forma de reformatio in pejus.
(vi) Finalmente, requer a modulação dos efeitos da decisão, adotando-se como marco
temporal ou o trânsito em julgado do v. acórdão embargado, ou a data da edição da
Orientação Jurisprudencial 247 da Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou seja, 13.11.2007.
III. Insistência em superada discussão em torno da suposta concessão de
estabilidade aos empregados da ECT, inclusive aos admitidos antes da EC nº
19/98.
7. Incialmente, a Embargante insiste, por meio da inadequada via dos
embargos de declaração, reabrir discussão já superada sobre a inaplicabilidade do artigo 41 da
Constituição aos empregados da ECT. O v. acórdão é muito claro a respeito, inexistindo
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qualquer omissão nesse particular.
8. Isso porque o fundamento para determinar que todas as demissões
– sejam elas com ou sem justa causa – sejam produto de um motivo idôneo, expresso de forma
ao menos minimamente formal, não decorre da estabilidade prevista no art. 41 da Constituição,
mas sim dos princípios administrativos que limitam a atuação do gestor público, conforme se
verifica da leitura dos seguintes trechos, todos extraídos do voto do Excelentíssimo Ministro
Relator:
É dizer: o que se pretende com o entendimento perfilhado neste voto não é conferir aos
empregados das empresas estatais a estabilidade a que se refere o citado art. 41, mas,
como consignado acima, assegurar que os princípios da impessoalidade e da isonomia,
observados no momento da admissão por concurso público, sejam também respeitados
por ocasião da dispensa.
(...)
O paralelismo entre os procedimentos para a admissão e desligamento dos empregados
públicos, a meu ver, está, também, indissociavelmente ligado à observância do princípio
da razoabilidade. É que, aos agentes do Estado, não se veda apenas a prática de
arbitrariedades, mas se impõe também o dever de agir com ponderação, decidir com justiça
e, sobretudo, atuar com racionalidade.
A obrigação de motivar os atos decorre não só das razões acima explicitadas como também,
e especialmente, do fato de que os agentes estatais lidam com a res publica, porquanto o
capital das empresas estatais – integral, majoritária ou mesmo parcialmente - pertence ao
Estado, ou seja, a todos os cidadãos.
Esse dever, ademais, está ligado à própria ideia de Estado Democrático de Direito, no qual
a legitimidade de todas as decisões administrativas tem como pressuposto a
possibilidade de que seus destinatários as compreendam e o de que possam, caso
queiram, contestá-las.
No regime político que essa forma de Estado consubstancia, é preciso demonstrar não apenas
que a Administração, ao agir, visou ao interesse público, mas também que agiu legal e
imparcialmente.
(...)
Não se pode confundir, assim, a garantia da estabilidade com o dever de motivar
os atos de dispensa, tampouco imaginar que, com isso, os empregados teriam, como
supõem alguns, uma “dupla garantia” contra a dispensa imotivada, eis que, concretizada a
demissão, eles farão jus, tão somente, às verbas rescisórias previstas na legislação
trabalhista.
(...)
Isso posto, pelo meu voto, conheço do recurso extraordinário e lhe dou parcial provimento
para afastar a aplicação, ao caso, do art. 41 da CF, mas exigindo-se a motivação para
legitimar a rescisão unilateral do contrato de trabalho.
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(Trechos extraídos do voto do relator. Grifos atuais)
9. Assim, a necessária motivação dos atos demissionais praticados no
âmbito de entes da Administração indireta encontra respaldo no princípio do concurso público,
insculpido no artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, no dever de motivação dos atos
administrativos e no princípio da razoabilidade.
10. Sendo por força de imperativo de ordem constitucional que o
empregador público sofre restrição no seu direito de livre contratação, não há como sustentar-
se plena liberdade de dispensa. Entendimento diverso poderia motivar a prática de atos
violadores dos princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade, textualmente
previstos no caput do artigo 37 da Constituição. É que, a se admitir a hipótese da dispensa
imotivada, estar-se-ia permitindo uma área opaca, em que poderiam prosperar atos ilícitos, tais
como a dispensa discriminatória ou mesmo indevidos benefícios a candidatos que tenham
obtido pior classificação em concurso público.
11. Nesse mesmo sentido, convém mencionar a destacada lição de
Celso Antônio Bandeira de Mello, que precisamente localiza a questão sob as lentes do melhor
interesse da coletividade:
Assim como não é livre a admissão de pessoal, também não se pode admitir que os dirigentes
da pessoa tenham o poder de desligar seus empregados com a mesma liberdade com que o
faria o dirigente de uma empresa particular. É preciso que haja uma razão prestante para
fazê-lo, não se admitindo caprichos pessoais, vinganças ou quaisquer decisões motivadas
por subjetivismo e, muito menos, por sectarismo político ou partidário. Com efeito, a
empresa estatal é entidade preposta a objetivo de toda a coletividade. Quem tenha a
responsabilidade de geri-la exerce função, isto é, poder teleologicamente orientado para o
cumprimento de fins que são impositivos para quem o detém. Em rigor, o que dispõe é de
um dever-poder. O dever de bem curar um interesse que não é próprio, mas da coletividade,
e em nome do qual lhe foi atribuído o poder, meramente instrumental, de bem servi-la. Logo,
para despedir um empregado é preciso que tenha havido um processo regular, com direito à
defesa, para apuração de falta cometida ou de sua inadequação às atividades que lhe
concernem. Desligamento efetuado fora das condições indicadas é nulo1.
1 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 30 ed. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 227-228.
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12. Seria incongruente, portanto, admitir que entes da Administração,
ainda que constituídos sob a regência do direito privado, pudessem despedir seus empregados
sem qualquer outro fundamento que não a vontade do administrador. Não por outro motivo, a
legitimidade do ato depende, por força de imperativo constitucional, da possibilidade de que
possa ser entendido, interpretado e, se necessário for, contestado.
13. Sem razão, portanto, a embargante, quando afirma que o v. acórdão
teria outorgado estabilidade a quem está fora do escopo do art. 41 da Constituição Federal,
porquanto o entendimento no sentido da obrigatoriedade da motivação do ato demissional não
se relaciona com qualquer estabilidade.
IV. Necessária instauração de procedimento prévio não gera estabilidade e não se
limita às demissões por justa causa.
14. Considerável porção dos pontos levantados nos embargos de
declaração tem como raiz a suposição falaciosa de que a necessidade de motivar o ato demissão
implicaria estabilidade do empregado dispensado, confusão que não se justifica,
particularmente à luz do didático acórdão, que registra, uma e outra vez, que a motivação do
ato é medida que respeita os princípios administrativos aos quais a ECT está a todo momento
submetida, inclusive no momento da dispensa, seja ela com ou sem justa causa.
15. A incorreção do pensamento se dá porque, efetivamente, a dispensa
de servidor estável demanda a abertura de procedimento administrativo próprio, em que é
oportunizado o contraditório e a ampla defesa, e deve haver um motivo. Mas essa correlação
não implica causalidade. Não é a instauração de procedimento prévio que torna o
trabalhador estável.
16. É logicamente impróprio concluir que o v. acórdão criou uma nova
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estabilidade apenas porque estabeleceu que o ato que extingue o vínculo deve ser transparente
e deve possibilitar a perscrutação dos motivos que o justificam. A obrigação não deriva de
estabilidade, mas do fato de que a prévia e formal motivação torna possível aferir se os
princípios administrativos que vinculam a ECT e que se fizeram tão presentes na hora da
contratação (que é feita mediante concurso público), também foram observados quando da
demissão.
17. Assim, quando a Embargante afirma que os precedentes invocados
seriam inespecíficos, porque os empregados da ECT não gozam de estabilidade, o faz
construindo em cima do arenoso terreno da falácia apontada, pois o v. acórdão não garante
estabilidade, conforme ficou patente no trecho abaixo transcrito, extraído do v. acórdão
embargado:
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR)
- Sim, claro, é possível demitir, inclusive por razões. Como temos agora a Lei de
Responsabilidade Fiscal que limita, inclusive, os gastos públicos, o número de empregados.
Há situações que a empresa pode enfrentar - citei doutrina nesse sentido -, em que há
necessidade de um corte de seus funcionários, até radical eventualmente, em função de uma
crise econômica. Mas, como disse o doutrinador em que me apoiei, é preciso que os
critérios de demissão, mesmo em casos emergenciais, sejam objetivos.
O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO
- V.Exa. está aplicando à demissão por parte da ECT os mesmos requisitos do ato
administrativo.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR)
- Exatamente.
O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO
- Independentemente, ou melhor, sem aplicar o regime jurídico da estabilidade do
servidor público.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR)- Que eu excluo
expressamente; excluo expressamente. (grifos atuais)
18. Veja-se que os motivos não precisam coincidir perfeitamente com
aqueles elencados pela CLT. Basta apenas que os motivos, expressos em procedimento formal
que garanta a rastreabilidade da decisão para atual e posterior investigação acerca da adesão
da decisão aos princípios norteadores da gestão pública, sejam idôneos.
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19. Tendo presente que a ratio da necessária motivação do ato de
dispensa repousa sobre o princípio da impessoalidade, tem-se que a necessidade de um
procedimento prévio é consequência lógica inescapável, pois, sem a materialização da decisão
(o que, por óbvio, não dispensa uma forma física ou ao menos minimamente formal), não seria
possível verificar os motivos da demissão e, dessa forma, confirmar que o imperativo
constitucional da impessoalidade fora respeitado em cada caso.
20. Veja-se que a aderência aos princípios administrativos
mencionados não se limita apenas aos casos em que há demissão com justa causa, mas é
medida que deve permear toda a atuação do gestor, especialmente a demissão, que se contrapõe
à tão rigorosa admissão.
21. Não por outra razão a motivação é pressuposto de validade dos atos
administrativos, nos termos do que define o art. 2º da Lei nº 9.784/1998. Nas palavras do
professor Lucas Rocha Furtado,
Da mesma forma como os atos administrativos são praticados visando à realização de fim
específico, determinado, eles requerem a existência de um motivo. Não existe ato
administrativo sem motivo ou sem finalidade determinados, reais, efetivos. O exame do
motivo como requisito de validade do ato administrativo se traduz como adequação dos fatos
ao objeto do ato. Por motivo do ato administrativo temos de entender as circunstâncias de
fato e de direito que levam o administrador a praticar determinado ato2.
22. Vê-se que não há qualquer inconsistência quando os
Excelentíssimos Ministros que compõem o Plenário dessa Excelsa Corte afastam, por um lado,
a estabilidade do art. 41 da Constituição, mas, por outro, tornam obrigatória a instauração de
procedimento prévio à demissão.
23. Desnecessários, portanto, os esclarecimentos solicitados, que, em
verdade, são indisfarçadas tentativas de obter pronunciamento judicial no sentido de que não
2FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Direito Administrativo. 1 ed. Belo Horizonte: Forum, 2007.
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seria necessário motivar, quando a demissão for sem justa causa, a dispensa de empregado que
ingressou na ECT pela rigorosa via do concurso público, conclusão que choca com o que do
v. acórdão consta e que representaria, acaso fosse acolhida, verdadeira subversão do decisum.
V. Dos efeitos financeiros da reintegração de empregados dispensados sem
motivação prévia.
24. A Embargante busca que essa Excelsa Corte diga, em sede de
embargos de declaração, que o trabalhador que foi vítima de imotivada dispensa sem justa
causa, e que vier a ser reintegrado, não terá direito aos efeitos financeiros decorrentes da
declaração de nulidade do ato demissional imotivado.
25. Afirma que não seria necessário dar ao ato da demissão sem justa
causa a transparência exigida pelo v. acórdão embargado, porque nenhuma empresa demitiria
se não por relevante ato de gestão, e que a ECT não demitiria empregados por razões políticas,
ideológicas ou discriminatórias. Ademais, considera que, não havendo imputação de conduta
desabonadora, não haveria necessidade de se permitir o contraditório e não haveria acusação a
justificar a abertura de prazo para oferecer defesa.
26. Ao assim se manifestar, permissa venia, a Embargante parte da
premissa de que somente existe processo administrativo para permitir o exercício do
contraditório, o que, evidentemente, não corresponde ao conceito técnico de procedimento
administrativo.
27. Ademais, o pedido não merece acolhida uma vez que a
consequência natural da declaração de nulidade do ato é o retorno ao status quo ante, e tal
desiderato não é atingível por meio da simples reintegração, sem qualquer atenção ao período
retroativo ou à eventual progressão funcional que o trabalhador teria, não tivesse sido
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abalroado por ato nulo.
VI. Da improcedência do pedido de modulação dos efeitos do v. acórdão.
28. O pleito da Embargante de ver modulados os efeitos do v. acórdão
fundamenta-se, sobretudo, no alegado impacto econômico que tal decisão supostamente
geraria sobre seus cofres. Requer, então, que a orientação vertida por essa Excelsa Corte
Constitucional produza efeitos apenas a partir de seu trânsito em julgado ou, sucessivamente,
somente em relação às despedidas efetivadas posteriormente à alteração promovida na OJ nº
247 da SDI-I, em 13.11.2007, mediante a qual a Justiça do Trabalho passou a exigir que a ECT
motivasse as suas dispensas, por equipará-la à Fazenda Pública. Antes disso, defende, não
havia nada que lhe impusesse tal procedimento.
29. Há de se ter presente, de início, que o conteúdo do v. acórdão
embargado gravita em torno da aplicabilidade, às empresas públicas, do artigo 37, caput, da
Constituição Federal, que torna indispensável a motivação do ato demissional, em qualquer
caso. Nesse cenário, eventual deferimento do pedido de modulação dos efeitos implicará a
criação de uma nova data de vigência do mencionado artigo constitucional, ao menos para as
empresas públicas e sociedades de economia mista, pois haveria um período, entre o início da
vigência do art. 37, caput, e a data da modulação dos efeitos, em que elas estariam dispensadas
de observar o texto constitucional no momento da demissão de seus funcionários. Não parece
minimamente razoável, permissa venia, que o caput do artigo 37 da Constituição possa ser
modulado.
30. A modulação dos efeitos de decisões do Supremo Tribunal Federal,
ademais, pressupõe o atendimento a requisitos específicos, os quais não foram verificados in
casu, como se passa a demonstrar.
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a) Impossibilidade de se modular os efeitos adotando como marco temporal o
trânsito em julgado deste processo.
31. A modulação dos efeitos de decisões proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal está prevista no art. 27 da Lei 9.868/1999, aplicável por analogia,
considerando-se a objetivação dos julgamentos proferidos no marco normativo do regime da
repercussão geral.
32. Os parâmetros legais aplicáveis, portanto, demandam que a
modulação dos efeitos ocorra (i) somente quando declarada a inconstitucionalidade de lei ou
de ato normativo e (ii) a modulação atender a razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social.
33. Seu cabimento apenas quando houver declaração de
inconstitucionalidade deflui da presunção da constitucionalidade das leis e atos normativos
mas, a rigor, no v. acórdão recorrido não houve declaração de inconstitucionalidade de norma
que anteriormente autorizasse a dispensa de empregados de empresas públicas e sociedades de
economia mista sem a devida fundamentação. Houve, quando muito, declaração da
inconstitucionalidade de ato administrativo concreto de entidade da administração pública
indireta que dispensou empregado de forma imotivada, o que, porém, não serve para os fins do
artigo 27 da Lei 9.868/1999.
34. Por outro lado, tampouco está presente qualquer razão de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social que justifique a adoção da excepcional medida.
35. Note-se que a segurança jurídica de que fala o texto do artigo 27 da
Lei 9.868/1999 é aquela decorrente da presunção de constitucionalidade das leis e dos atos
normativos, que, como visto, não se viu afetada pelo v. acórdão.
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Rafaela Possera Pedro Mahin • Mara Cruz • Nathália Monici • Milena Pinheiro • Raissa Roussenq • Pedro
Felizola Rachel Dovera • Tércio Mourão • Marcelo Vieira • Juliana Bomfim • Rubstênia Silva • Hugo Moraes
Carolina Ávila • Rayanne Neves • João Gabriel Lopes • Catarina Lopes • Jéssica Costa • Danielle Ferreira
Aline Sterf • Roberto Drawanz • Érica Coutinho • Ana Carolina Portezan • Carina Pottes • Rodrigo Sampaio
Priscila Faro • Tatiana Dias • Virna Cruz • Luís Carlos Coentro • Vinicius Serrano
36. Nesse sentido, leciona Paulo Roberto Lyrio Pimenta que “A
expressão 'razões de segurança jurídica' significa a existência de situações geradas pela
norma inconstitucional, tuteladas pelo princípio da segurança jurídica. Em outros termos, o
que se busca proteger, nessa situação, é a segurança das situações constituídas sob o amparo
da lei inválida. Logo, nesse caso, no juízo de ponderação, comparecerá, de um lado, o
princípio da segurança jurídica, do outro, o da nulidade da lei inconstitucional”3.
37. Finalmente, é de se destacar que não há excepcional interesse social
que justifique a modulação dos efeitos da decisão da Corte Constitucional. Muito ao contrário,
se há algum interesse social implicado na hipótese é no sentido de assegurar a aplicação
imediata da nova orientação jurisprudencial da Suprema Corte em todos os casos pendentes de
julgamento e em todas as instâncias do Poder Judiciário.
38. Isso porque, como diz Paulo Roberto Lyrio Pimenta, o excepcional
interesse social é caracterizado pelo “interesse da coletividade (…). Não basta, porém, a
existência de interesse da coletividade, é necessário que tal interesse seja tutelado pelo
ordenamento jurídico. (…) É preciso, pois, que alguma regra ou princípio jurídico ampare as
situações geradas pela lei inconstitucional, provocando o aparecimento do interesse da
coletividade na manutenção dos efeitos decorrentes das situações surgidas sob o manto da lei
inválida”4.
39. Ora, compreendeu o STF, no caso em referência, que se deve
assegurar a simetria no tratamento de empregados de empresas públicas e sociedades de
economia mista nos momentos de sua admissão e de sua dispensa. Se a admissão desses
empregados é pautada segundo o regramento endereçado aos entes da administração pública,
3PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. O controle difuso de constitucionalidade das leis no ordenamento brasileiro: aspectos
constitucionais e processuais. São Paulo: Malheiros Editores, 2010, pp. 64-65. 4Ibidem
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também a sua dispensa deve se dar em consonância com essas normas.
40. Não há, nesse sentido, regra ou princípio jurídico que ampare as
situações geradas pelo ato administrativo inconstitucional de dispensa de empregado, por
empresa pública ou sociedade de economia mista, sem a devida motivação. Ao contrário, o
interesse social repousa em assegurar, de forma imediata, um tratamento simétrico a esses
empregados, em respeito ao texto constitucional.
41. Ante o exposto, conclui-se que, ao contrário do que pretende fazer
crer a ECT, a Lei 9.868/99 não autoriza a modulação dos efeitos da decisão proferida, segundo
a sistemática da repercussão geral, nos autos do RE 589.998/PI.
b) Impossibilidade de se adotar a alteração da OJ nº 247 da SDI-I do TST como
marco temporal para a modulação dos efeitos
42. Tampouco pode prosperar o pedido de modulação dos efeitos do v.
acórdão até a edição da Orientação Jurisprudencial 247 da Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, mediante a qual a Justiça do Trabalho
passou a exigir que a ECT motivasse as suas dispensas.
43. Ora, a consolidação do entendimento do Col. Tribunal Superior do
Trabalho a respeito da matéria, mediante a alteração do conteúdo da Orientação Jurisprudencial
247 da SDI-1 do TST, não pode servir de marco temporal para a modulação dos efeitos da
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal no RE 589.998/PI. Primeiramente, porque as
orientações jurisprudenciais das Seções de Especializadas da Corte do Trabalho apenas
traduzem a jurisprudência desses órgãos fracionários5, não sendo suficientes, por si, para gerar,
5Artigo 170 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho: “A proposta de instituição de nova orientação
jurisprudencial da Seção Especializada em Dissídios Individuais deverá atender a um dos seguintes pressupostos: I –
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em favor da ECT, a expectativa legítima de que fala o artigo 27 da Lei 9.868/99, ao se referir
a leis ou atos normativos. Nesse sentido, aliás, apresenta-se a jurisprudência desse Excelso
Supremo Tribunal Federal:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - EXECUÇÃO TRABALHISTA - RECURSO
CABIVEL - MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL - SÚMULA DO TST - APLICAÇÃO
RETROATIVA - SIGNIFICADO DAS FORMULAÇÕES SUMULARES - ALEGADA
FALTA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - INOCORRENCIA - AUSÊNCIA DE
OFENSA DIRETA A CARTA POLITICA - AGRAVO IMPROVIDO. - A QUESTÃO
PERTINENTE A DEFINIÇÃO DOS RECURSOS CABIVEIS DAS DECISÕES
TRABALHISTAS DE PRIMEIRO GRAU E MATÉRIA EMINENTEMENTE
PROCESSUAL, QUE NÃO SE REVESTE DE ESTATURA CONSTITUCIONAL. - O
CONTEUDO DAS FORMULAÇÕES SUMULARES LIMITA-SE A CONTEMPLAR E A
CONSAGRAR, NO ÂMBITO DOS TRIBUNAIS, A SUA ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL PREDOMINANTE, CARACTERIZADA PELA REITERAÇÃO DE
DECISÕES EM IGUAL SENTIDO. - O ENUNCIADO SUMULAR ASSUME VALOR
MERAMENTE PARADIGMATICO, POIS EXPRIME O SENTIDO DA
JURISPRUDÊNCIA PREVALECENTE EM DETERMINADO TRIBUNAL. A SÚMULA
NADA MAIS E DO QUE A CRISTALIZAÇÃO DA PROPRIA JURISPRUDÊNCIA. - AS
SUMULAS DOS TRIBUNAIS NÃO SE SUBMETEM AS REGRAS DE VIGENCIA
IMPOSTAS AS LEIS. NADA IMPEDE QUE OS MAGISTRADOS E TRIBUNAIS
DIRIMAM CONTROVERSIA COM FUNDAMENTO EM ORIENTAÇÃO SUMULAR
FIXADA APÓS A INSTAURAÇÃO DO LITIGIO. - A DECISÃO QUE NEGA
SEGUIMENTO A RECURSO INTERPOSTO PELA PARTE, POR NÃO IMPLICAR
AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL, NÃO DA LUGAR A RECURSO
EXTRAORDINÁRIO (AI 137619 AgR, Relator Min. CELSO DE MELLO, Primeira
Turma, julgado em 04/08/1992, DJ 18-03-1994).
44. Depois, cumpre notar que o parágrafo único do artigo 173 do
Regimento Interno do TST estabelece que os acórdãos catalogados para o fim de proposta de
orientação jurisprudencial deverão ter sido proferidos em sessões de julgamento distintas, de
modo que é impróprio afirmar que somente a partir da alteração da Orientação Jurisprudencial
247 da SDI-1 do TST se passou a exigir da ECT a motivação da dispensa de seus empregados.
Na verdade, é possível identificar precedentes da SDI-1 do TST a respeito da matéria e no
mesmo sentido do que agora decidiu esse E. STF desde, ao menos, 2005, conforme exemplifica
cinco acórdãos da Subseção respectiva, reveladores da unanimidade sobre a tese; ou II – dez acórdãos da Subseção
respectiva, prolatados por maioria simples”.
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a seguinte ementa:
RECURSO DE REVISTA. ECT - DISPENSA - DESNECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO.
Os privilégios de imunidade tributária e pagamento dos débitos trabalhistas pelo sistema do
precatório judicial conferidos à ECT, resulta na subtração da essência do poder potestativo,
posto que a equiparação ampla da empresa à Fazenda Pública deve alcançar, também, as
restrições a ela imposta quanto à forma de despedida imotivada ou arbitrária. Recurso de
revista conhecido e improvido. (…) (E-RR - 68900-30.2002.5.22.0001, Relator Ministro:
Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 14/12/2005, 2ª Turma, Data de Publicação:
17/03/2006).
45. Por fim, enquanto mero parâmetro de julgamento para o próprio
Tribunal Superior do Trabalho, as orientações jurisprudenciais não são vinculantes para as
instâncias ordinárias da Justiça do Trabalho nem, muito menos, para a Administração pública,
direta ou indireta. Ora, se assim o é, a redação original da OJ nº 247 da SDI-1 do TST não pode
ser suscitada pela ECT como justificativa para a dispensa de seus empregados sem a devida
motivação e, portanto, é imprestável para o fim de modulação dos efeitos da decisão do
Supremo Tribunal Federal.
46. Por outro lado, o pedido de modulação dos efeitos até a data da
publicação da Orientação Jurisprudencial referida é medida que conflitaria com regras de
aplicação intertemporal do direito, uma vez que se estaria revestindo entendimento
jurisprudencial (que não cria direito novo) de atributos legais.
47. Ora, diferentemente das leis, as orientações jurisprudenciais são
ferramentas úteis ao exercício da jurisdição, e aplicam-se no momento do julgamento,
característica que em nada se assemelha à capacidade que as normas têm de incidir sobre
situações fáticas e criar ou modificar as relações jurídicas. Assim, embora seja possível invocar
norma vigente à época da demissão, o mesmo não pode se dizer sobre as súmulas. É
inteiramente inconsequente conhecer a jurisprudência dominante na época do fato, ou afirmar
que a orientação jurisprudencial em questão não havia sido publicada no momento da
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demissão, se tal entendimento refere-se a princípios constitucionais então existentes.
48. Por mais estas razões, é indevida a modulação dos efeitos do v.
acórdão embargado, pretendida pela ECT.
VII. Alcance da decisão proferida em sede de repercussão geral.
49. Tampouco merece guarida a insurgência contra a extensão dos
efeitos da decisão proferida neste recurso, com repercussão geral reconhecida, a outras
empresas públicas e sociedades de economia mista.
50. Primeiro, porque falece legitimidade recursal à ECT para formular
questionamento sobre a extensão subjetiva do decisum, de modo que o pedido de
esclarecimento posto nos embargos de declaração somente pode ser caracterizado como
curiosidade inócua, já que não há dúvidas de que a decisão efetivamente atinge a Recorrente,
ora Embargante.
51. Mas não é só. O questionamento também é inoportuno ante a
clareza do v. acórdão, aplicável a todas as empresas públicas e sociedades de economia mista.
Com efeito, nos debates que se seguiram ao pronunciamento do Excelentíssimo Ministro
Relator, problematizou-se a necessidade de se estender a compreensão a todas as empresas
públicas e sociedades de economia mista, já que, a teor do art. 173, §1º, da Constituição
Federal, todas exercem atividade econômica stricto sensu.
52. Naquela data, o Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa pediu
vista do processo, devolvendo-o à apreciação do Plenário na data de 20.3.2013. Este, após
apreciação do tema, firmou a compreensão de que a vedação da despedida imotivada estende-
se a todos os cargos providos por meio de concurso público. É o que demonstram os seguintes
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trechos do voto de Sua Excelência, destacados do acórdão:
“Assim, tendo em vista que para o ingresso do empregado público é exigida a aprovação em
concurso público como corolário do princípio da impessoalidade, me parece que, de fato,
em nome desse mesmo princípio, a dispensa dos empregados dessas empresas estatais
deva ser motivada”.
“Por fim, creio que, em se tratando de recurso extraordinário submetido ao regime da
repercussão geral, a decisão adotada pela Corte deve afetar todas as empresas públicas
e sociedades de economia mista, de todas as esferas, e não apenas a ECT”. (grifos aditados)
53. Em seguida, retomou a palavra o Excelentíssimo Ministro Relator,
que de imediato declarou integral concordância com o posicionamento em relevo, nos
seguintes termos:
“Senhor Presidente, Vossa Excelência me permite a palavra por breves minutos, ou segundos
talvez? Eu acompanho inteiramente o entendimento de Vossa Excelência”.
“Mas eu entendi que, como estes servidores ingressam em tais empresas mediante concurso
público, como Vossa Excelência bem acentuou agora, a demissão deve ser, necessariamente,
motivada”. (grifos aditados)
54. O entendimento é seguido pela maioria. Vejam-se os seguintes
extratos, a comprovar que o Plenário do STF expressamente determinou que qualquer
empregado admitido pela via do concurso público somente pode sofrer despedida se
respeitadas as formalidades necessárias à motivação do ato administrativo:
“O empregado de empresa pública, por ter sido admitido por concurso, somente pode ser
demitido motivadamente, sob pena de ofensa à norma constitucional, que exige concurso
como pressuposto de contratação. Essa é a tese. Parece-me que esse fundamento é
procedente, se a Constituição exige concurso público para a contratação, não se poderia
admitir que a dispensa pudesse ocorrer sem motivação idônea, sob pena de abrir-se as portas
para a fraude à norma constitucional”. (Min. Teori Zavascki)
“O fato de as estatais disputarem no mercado não dá a elas todos os benefícios do mercado.
Elas continuam se submetendo ao Tribunal de Contas, à Lei de Licitações, ainda que sejam
normas simplificadas. Estamos no Tribunal, em outro processo, a discutir as normas
simplificadas relativas à Petrobras, por exemplo”. (Min. Dias Toffoli)
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55. A problemática da extensão daquele entendimento foi novamente
suscitada pelo Excelentíssimo Ministro Relator, que chegou até mesmo a sugerir a edição de
súmula vinculante sobre a matéria:
“Vossa Excelência me permite mais um pequeno minuto? Se eventualmente nós
caminharmos no sentido de estendermos esse entendimento a todas as empresas dessa
natureza, nos três níveis político-administrativos da Federação, talvez conviesse até
elaborarmos uma súmula vinculante para delimitarmos ainda mais, ou de forma mais
explícita, os contornos dessa nossa decisão porque, certamente, surgirão inúmeros litígios
em torno dessas demissões”.
56. Não poderia ser distinta a conclusão das discussões ali
desenvolvidas, uma vez que a sistemática da repercussão geral determina que o que for julgado
nos termos do art. 543-A, § 5º, do CPC terá aplicabilidade em todas as questões idênticas, e
não há elemento suficiente para diferenciar a Embargante das demais empresas públicas e
sociedades de economia mista que contratem mediante concurso público, a tornar o
entendimento plenamente extensível às pessoas jurídicas que a Embargante busca poupar.
57. Diante disso, impõe-se reconhecer, desde já, que a decisão
proferida por maioria de votos implica a submissão de todas e quaisquer empresas públicas e
sociedades de economia mista à obrigatoriedade de motivação da despedida de seus
empregados.
58. Conforme se observa dos trechos do v. acórdão em destaque e das
discussões transcritas, o Colegiado do Pleno do STF não teve a intenção de restringir o alcance
de sua decisão em função de características específicas de empresas públicas e sociedades de
economia mista. Tanto é assim que, em sua manifestação, o Excelentíssimo Ministro Celso de
Mello fez alusão – genérica – às empresas governamentais (empresas públicas e sociedades de
economia mista).
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O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Proponho, Senhor Presidente, que se dê
parcial provimento ao presente apelo extremo, reconhecendo-se inaplicável, em primeiro
lugar, aos empregados de empresas públicas ou de sociedade de economia mista, a
garantia da estabilidade fundada no art. 41 da Constituição. E enfatizando, em segundo
lugar, que se impõe motivar, quanto aos empregados dessas empresas governamentais,
a ruptura unilateral de seus respectivos contratos individuais de trabalho.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR) - Eu não me oponho
que isso conste da proclamação do julgamento, acho que essa é a essência, realmente, do
meu voto e da conclusão do Plenário.
O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Parece-me que essa proposta está em
absoluta consonância e em plena harmonia com os fundamentos do douto voto de Vossa
Excelência.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR) - Sem dúvida.
O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Entendo fundamental, no entanto, que tais
proclamações constem da parte dispositiva do acórdão, considerado o que dispõe o art. 469,
inciso I, do CPC.
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (PRESIDENTE) - Então eu repito:
provido parcialmente o recurso para explicitar a não aplicabilidade ao caso do artigo 41 da
Constituição, para deixar firmada a necessidade da motivação para os atos de dispensa
de empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista.
59. Vê-se, então, que a obrigatoriedade não está limitada, de forma
alguma, apenas à Embargante, dispensando o v. acórdão de maiores esclarecimentos.
VIII. Questão de Ordem. Da correta retomada da marcha processual dos recursos
extraordinários outrora sobrestados.
60. Em peça autônoma, a Embargante levanta questão de ordem para
pedir que se conceda efeito suspensivo aos embargos de declaração opostos, de forma a manter
o sobrestamento de todos os recursos extraordinários idênticos, que outrora estavam
sobrestados aguardando o posicionamento dessa Excelsa Corte sobre o Tema de Repercussão
Geral nº 131.
61. A Embargante sustenta haver elementos que tornam necessária a
concessão do efeito suspensivo, particularmente porque considera que é provável que o recurso
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obtenha êxito em sua busca por reformar o v. acórdão que, no entender da Embargante,
“concedeu de forma equivocada a estabilidade prevista no art. 41 da CF” e que provavelmente
terá os seus efeitos modulados, de modo a preservar demissão imotivadas feitas ao arrepio do
art. 37, caput, da CF.
62. Incialmente, é de se destacar que os embargos de declaração não
têm o condão de retardar a exigibilidade da decisão do Pleno sobre a inconstitucionalidade da
demissão imotivada, uma vez que se prestam, nos termos do art. 535 e seguintes do CPC,
apenas ao esclarecimento de omissão, obscuridade ou contradição no julgamento, além de
interromperem o prazo para a interposição de outros recursos. Como não permitem a
rediscussão do mérito, motivo pelo qual não são meio processual hábil para suspender a
exigibilidade de decisão judicial.
63. A jurisprudência do Eg. STF tem sido no sentido de que os
embargos de declaração não têm efeito suspensivo, de modo que não são capazes de impedir
a plena eficácia de decisão embargada, conforme se infere dos arestos abaixo transcritos:
QUESTÃO DE ORDEM. (...). INÍCIO DA INSTRUÇÃO SEM JULGAMENTO DOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA
DE EFEITO SUSPENSIVO DO RECURSO. DEMORA NA PUBLICAÇÃO DO
ACÓRDÃO DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. AUSENTE ILEGALIDADE. (...)
(…)
6. Não é necessário o julgamento dos embargos de declaração para dar início à
instrução do processo ou à oitiva das testemunhas arroladas pelas partes, dada a
ausência de efeito suspensivo do recurso em questão. 7. A alegada demora na publicação
do acórdão proferido nos embargos de declaração não causou prejuízo à defesa, sendo
relevante assinalar que o referido acórdão já foi publicado. (…)
(AP 470 QO5, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em
08/04/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT VOL-02413-01
PP-00062)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
CUMPRIMENTO DA DECISÃO. 1. Desnecessário o trânsito em julgado para que a decisão
proferida no julgamento do mérito em ADI seja cumprida. Ao ser julgada improcedente a
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Aline Sterf • Roberto Drawanz • Érica Coutinho • Ana Carolina Portezan • Carina Pottes • Rodrigo Sampaio
Priscila Faro • Tatiana Dias • Virna Cruz • Luís Carlos Coentro • Vinicius Serrano
ação direta de inconstitucionalidade - ADI nº 2.335 - a Corte, tacitamente, revogou a decisão
contrária, proferida em sede de medida cautelar. Por outro lado, a lei goza da presunção de
constitucionalidade. Além disso, é de ser aplicado o critério adotado por esta Corte, quando
do julgamento da Questão de Ordem, na ADI 711 em que a decisão, em julgamento de
liminar, é válida a partir da data da publicação no Diário da Justiça da ata da sessão de
julgamento. 2. A interposição de embargos de declaração, cuja conseqüência
fundamental é a interrupção do prazo para interposição de outros recursos (art. 538
do CPC), não impede a implementação da decisão. Nosso sistema processual permite o
cumprimento de decisões judiciais, em razão do poder geral de cautela, antes do julgamento
final da lide. 3. Reclamação procedente.
(Rcl 2576, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 23/06/2004, DJ
20-08-2004 PP-00038 EMENT VOL-02160-01 PP-00105 RTJ VOL-00193-01 PP-00103).
64. Aduz, em sua peça, que o Colendo Tribunal Superior do Trabalho
tem julgado prejudicados seus recursos, aplicando o entendimento externado pelo Excelso
STF, em sua composição Plena, no bojo do v. acórdão ora embargado, o que ofenderia seu
“direito público subjetivo processual de ver julgados seus recursos extraordinários”.
65. Contudo, inexiste tal direito subjetivo. É que o instituto da
repercussão geral demanda, quando houver pronunciamento do Plenário sobre o mérito do
recurso paradigma, a retomada da marcha processual dos processos sobrestados. No caso em
tela, tendo sido decidido que, no mérito, a dispensa imotivada colide com a Constituição
Federal, é evidente que os recursos extraordinários que versam sobre exatamente a mesma
matéria estão prejudicados.
66. Como visto, a simples oposição de embargos de declaração não
compromete a completude do v. acórdão, mas apenas obstaculiza o trânsito em julgado do
processo específico, tendo reflexo em possível execução do julgado. Entretanto, a
implementação da consequência prevista no art. 543-B, § 3º, do CPC, para os processos
sobrestados, está condicionada exclusivamente ao julgamento do mérito do recurso
extraordinário paradigma, condição esta que indiscutivelmente já se consumou.
67. Finalmente, não há que se falar em dano irreparável ou de difícil
22 Alino da Costa Monteiro (in memoriam) • Roberto de Figueiredo Caldas • Mauro Menezes • Claudio
Santos Gustavo Ramos • Marcelise Azevedo • Ranieri Resende • Monya Tavares • Raquel Rieger •
Rodrigo Torelly Luciana Martins • Denise Arantes • Andréa Magnani • Dervana Coimbra • Laís Pinto
• Paulo Lemgruber Rodrigo Castro • Renata Fleury • Cíntia Roberta Fernandes • Moacir Martins •
Verônica Amaral Raquel Perrota • Leandro Madureira • Adovaldo Medeiros Filho • Thiago Henrique Sidrim •
Rafaela Possera Pedro Mahin • Mara Cruz • Nathália Monici • Milena Pinheiro • Raissa Roussenq • Pedro
Felizola Rachel Dovera • Tércio Mourão • Marcelo Vieira • Juliana Bomfim • Rubstênia Silva • Hugo Moraes
Carolina Ávila • Rayanne Neves • João Gabriel Lopes • Catarina Lopes • Jéssica Costa • Danielle Ferreira
Aline Sterf • Roberto Drawanz • Érica Coutinho • Ana Carolina Portezan • Carina Pottes • Rodrigo Sampaio
Priscila Faro • Tatiana Dias • Virna Cruz • Luís Carlos Coentro • Vinicius Serrano
reparação, por suposta supressão de competência, especialmente porque compete ao Colendo
Tribunal Superior do Trabalho aplicar o comando do art. 543-B, § 3º, do CPC, em relação aos
recursos extraordinários por ele sobrestados.
IX. Conclusão
68. Por todo o exposto, impõe-se o não conhecimento dos embargos de
declaração da ECT, pela ausência de omissão, contradição ou obscuridade, ou, sendo
conhecidos, que sejam rejeitados, mantendo-se in totum o v. acórdão embargado.
Brasília, 8 de setembro de 2014.
Gustavo Teixeira Ramos
OAB/DF n.º 17.725
Verônica Quihillaborda Irazabal Amaral
OAB/DF n.º 19.489