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HOME OFFICE: ORIGEM, CONCEITO EINFERÊNCIAS SOBRE O SIGNIFICADO SOCIAL DO

NOVO MODELO DE TRABALHO FLEXÍVEL

Elisangela Lobo Schirigatti1

Luis Fernando Fonseca Kasprzak2

1 Mestre em Gestão do Design e do Produto pela UFSC, Especialista em Marketing pela PUCPR, Designerde Produto pela PUCPR e docente do Curso de Administração e Marketing da Faculdade Expoente.

2 Mestre em Gestão do Design e do Produto pela UFSC, Especialista em Marketing pela PUCPR,Designer de Produto pela PUCPR e docente do Curso de Design de Produto da PUCPR.

RESUMO

Este estudo pretende contribuir para a compreensão do conceito de home office,como um novo modelo de trabalho flexível advindo das transformações ocorridasno mercado de trabalho, evidenciando a importância da sua abordagem respeitandoo contexto sociocultural. Com base nessas considerações, os pontos de discussãosão: elucidar os fatores conotativos que podem influenciar a construção conceitualdo objeto de estudo sob a ótica da semântica clássica, Utilizando-se para isso, asbases do conhecimento declarativo que norteiam as aplicações da relação causal,para extrair inferências da tríade casa–escritório–trabalhador e incentivar a reflexãosobre a temática em questão.

Palavras-chave: Trabalho flexível, home office, semântica, representação socialdo trabalho, psicologia do trabalho.

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ABSTRACT

This work aims to contribute for the comprehension about the home office’sconcept like a new model of the flexible work. It comes from the news transformationsoccurring in the market work. Showing for this, the importance of it’s into the contextsocial cultural. Bases in these considerations, the points of discussions involveshowing the connotative factors that could be influents in the concept constructionof this subject. Include a point of view from classic semantic. Using for this, thebase of the declarative knowledge, it is considered the orientation to the applicationsinto causal relation, for extract inferences about the triad home-office-worker andincentive the reflection about the thematic.

Key-words: flexible work, home office, semantic, social work representation,psychology of the work.

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INTRODUÇÃO

Na concepção home office, o trabalho profissional é desenvolvido em ambien-tes diferenciados mas que compartilham a infra-estrutura do ambiente doméstico. OServiço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas divulga que este novomodelo empresarial, decorrente da globalização da economia e do aumento daterceirização de serviços, está em expansão e vem mudando o perfil do emprego. Atendência mundial quebra os paradigmas da relação empresa–profissional e prome-te maiores oportunidades nos setores de contabilidade, cosméticos, alimentos, con-fecções, publicidade, computação gráfica e consultoria em geral.

O número de micro e pequenas empresas que começam seusnegócios em casa tem sido cada vez maior, transformando ashome offices em alavancas do setor empresarial e da economianacional. Esses números são bastante expressivos: as micro epequenas empresas cresceram, em menos de uma década, de 665mil, para 3,5 milhões atuais, ou seja, 500%. O setor é responsávelpor 52% do Produto Interno Bruto do País. (SEBRAE, 2006, p.01)

Esse fato pode estar relacionado à questão financeira, pois o trabalho flexível éideal para o profissional que deseja iniciar uma pequena atividade empresarial porconta própria e pode facilitar o crescimento de um negócio com um risco mínimo, ouseja, com um baixo investimento.

Lannes (1998, p. 86) compara as mudanças das características do modelo detrabalho tradicional com as novas tendências do mercado de trabalho, destacandoa importância de uma relação mais honesta e transparente desde o final do séculoXX. Na figura 1 o autor conclui que essas tendências se refletem no novoposicionamento do contrato psicológico de trabalho, contabilizando, entre outros,o aparecimento da força de trabalho flexível.

PermanênciaCrecimento da populaçãoForça de trabalho monolíticaEmpregados de tempo integralValorização da lealdadePaternalismoCompromisso com a empresaSegurança de empregoCrescimento linear de carreiraOnetime learningRelação vitalícia

TemporariedadeDiminuição da populaçãoForça de trabalho flexívelTrabalhos part timeValorização da performanceAutoconfiança e responsabilidadeCompromisso consigo mesmoDesenvolvimento e realizaçãoCarreiras múltiplasAprendizado permanenteEmpregabilidade

Modelo tradicional Novas tendências

Figura 1 Modelo tradicional de trabalho e novas tendências

Fonte: Lannes, Luciano Santos. Equipes autogerenciáveis e a forma de organização do trabalhoadequado à sua implantação. Monjografia apresentada à FEA-USP como trabalho de conclusão do MBA.1998. Disponível em: <http://www.lsannes.com.br/monografia/parte4/conclusoes.html> em 18 de Abril 2006.

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Druck, citado por Antoniazzi (2005, p. 05), descreve as possíveis razões que con-tribuíram para o surgimento das novas formas de ser e do novo perfil do trabalhador.

a. Mudanças nos conteúdos de trabalho, novas exigências de perfis profissio-nais e novas qualificações, motivadas pelas inovações tecnológicas eorganizacionais.

b. Crescimento do número de desempregados qualificados.c. Flexibilização da organização e gestão do trabalho, elemento chave da

reestrututração, que tem provocado: precarização do trabalho (insegurança,piores condições de saúde e riscos, alta competitividade, desmotivação),precarização do emprego (instabilidade, falta de vínculo, subcontratação,temporários), crescimento galopante da informalidade do mercado de traba-lho, exigindo: adaptabilidade, flexibilidade, criatividade, sob o rótulo da“empregabilidade”, desemprego crescente.

Conforme Lima (2004, p. 15), as metamorfoses do trabalho, decorrentes dessecontexto, podem ser percebidas nas mudanças no mercado de trabalho, nosparadigmas produtivos, no lugar e sentido atribuídos ao trabalho, na formação dasociabilidade e da identidade. O mundo do trabalho que, tendo sido historicamenteseparado da casa, da família, do local de moradia, torna-se cada vez mais autônomoe independente das relações sociais e das práticas políticas, religiosas, culturais eeducacionais. Um conjunto de atividades sociais antes integradas no cotidiano devida comporia o mundo do não-trabalho.

Contudo Harvey (1998) expõe que a flexibilidade está presente em diferentescampos do trabalho, envolvendo os novos processos, os novos mercados de tra-balho, as novas tecnologias comerciais, os novos produtos e padrões de consumo.Essas mudanças norteiam a ‘acumulação flexível’, ou seja, um modelo apoiado naspolíticas econômicas fundamentadas nas doutrinas monetaristas neoliberais.

Esse panorama revela que estão ocorrendo significativas mudanças no mundodo trabalho, entre elas, a flexibilidade, inserida no contexto contemporâneo. Essassituações podem estar impondo novas condições que conseqüentemente podemexpressar novos significados sociais. As codificações de significados na memóriasão realizadas por meio de conceitos – idéias e palavras que se aproximam de seusaspectos simbólicos mais evidentes. E é a Psicologia do Trabalho, segundo Cruz(2005), que apresenta como objeto de estudo e de intervenção estes processoscognitivos e perceptivos sobre os fenômenos psicológicos na atividade de traba-lho, neste caso, o princípio do trabalho flexível no escritório de casa.

Portanto, torna-se imprescindível a abordagem teórica de como os autores enten-dem e tratam esse novo modelo de trabalho, o home office, evidenciando a importân-cia desta referência, em uma abordagem sociocultural contemporânea. Baseados nes-tas considerações, os pontos de discussão envolvem elucidar os fatores conotativosque podem influenciar a construção conceitual do objeto de estudo, utilizando-separa isso, as bases do conhecimento declarativo, que norteiam as aplicações da rela-ção causal, para extrair inferências da tríade: casa-escritório-trabalhador.

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DEFINIÇÃO DE HOME OFFICE

Para compreender o home office como espaço de estudo é preciso, a priori,estabelecer seus limites conceituais. A definição de home office pode enquadrar-seno modelo do trabalho flexivo que, segundo Selby & Wilson (2001), é um termoabrangente que descreve todas as práticas que estão além dos modelos tradicionaisde trabalho. Especialistas de gestão e profissionais de marketing ilustram algunsexemplos aplicáveis desta categoria.

Este novo conceito de trabalho é conhecido pela sigla SOHO, do inglês SmallOffice and Home Office ou Single Office/Home Office que traduzido significa Escri-tório em casa que pode desenvolver operações de pequeno e médio porte, e quegeralmente pode conter de 01 a 10 trabalhadores, conforme, WIKIPEDIA (2006). Osistema dispensa o vínculo empregatício com as grandes empresas e o trabalho comfins lucrativos é desenvolvido plenamente no ambiente doméstico. Porém, trabalhoem casa não é sinônimo de trabalho informal. Um estudo realizado pelo Instituto dePesquisas Econômicas – FIPE – para o Ministério do Trabalho e Emprego indicaque os determinantes da ocupação e da remuneração dos trabalhadores por contaprópria e/ou microempresários são distintos dos assalariados informais. Os primei-ros encontram-se no mercado de bens e serviços enquanto que os últimos estão nomercado de trabalho e não possuem registro.

“Os primeiros dependem das condições de oferta dos bensque produzem ou dos serviços que prestam e da evolução deseu mercado, (massa de mercado, renda familiar – seu volume,nível médio e distribuição de renda de sua clientela e de seusgostos) enquanto que os segundos para melhorar a sua situ-ação ocupacional e de renda estão sujeitos aos fatoresinstitucionais (regras de normas laborais), ao seu poder debarganha e às expectativas de seus empregadores sobre osnegócios e a sua realização.”

(CASSIAMALI 2002, p. 09)

O teletrabalho é outra visão equivocada de home office, o primeiro também éconsiderado um novo modelo baseado no trabalho em casa e ambos apresentamaspectos operacionais e comportamentais muito semelhantes. A diferença está emque, no primeiro caso, o profissional faz parte da estrutura organizacional empresa-rial e recebe insumos e equipamentos necessários para realizar suas atividades. ParaFüchter (1999), esta nova concepção iniciou nos anos de 1980, quando as mulheresamericanas, que trabalhavam fora há mais de uma década, procuraram adaptar suasnecessidades pessoais, incluindo o cuidado das crianças. Com a evolução datecnologia, milhões de empregados, homens e mulheres, começaram a trabalharpara suas companhias, pelo menos parte do tempo, em suas próprias casas.

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Contudo Neri, apud Médola (2004), afirma que o home office não está ligadosomente à tecnologia, mas principalmente ao profissional, considerado umautogestor. Ressalta que, a opção profissional por um escritório em casa chama-seautogestão, ou seja, o profissional pode executá-lo onde quer que esteja, sem de-pender de equipe ou linha de montagem, por exemplo. Para adotar este modelo, énecessário que os principais recursos sejam de cunho intelectual e estratégico.

O HOME OFFICE E O CONTEXTO SOCIAL

O conceito de trabalho, segundo Gorz (1991), deve ser redefinido diante dadiversidade e da pluralidade de práticas emergentes de trabalho nas sociedadescontemporâneas. Elas envolvem mulheres, idosos, menores, desenrolam-se no âm-bito da chamada “economia informal” e do mundo do não-trabalho. Nesse sentido,o trabalho recobre um campo mais amplo do que o de emprego ou do trabalhoassalariado, constituindo-se numa atividade social presente em todas as socieda-des, apesar das diferentes definições do que seja trabalho. O autor comenta que otrabalho não está, portanto, separado da vida, e que se torna impossível qualquerdistinção entre as atividades de trabalho e de não-trabalho.

Entretanto para Jacks, apud Lima (2004), existem quatro cotidianidades: a do-méstica, a do trabalho, a da cidadania e a da mundialidade e cada um desses contex-tos se converte num espaço com especificidades próprias. Distintos e complexos,os contextos se intercambiam e se interpenetram, determinando outros contextos.

Para entender o significado da representação social do trabalho em home office, épreciso considerar o trabalho dentro destes contextos históricos da sociedade. Umarepresentação social, para Ferreira et al (2004, p.04), não provém de processos racio-nais de prospecção da realidade. Não se trata de idéias diretamente relacionadas ainformações concretas que se tem a respeito de um dado fenômeno. A percepção darealidade manifestada no conhecimento de cada indivíduo, serve de parâmetro para aforma pela qual ele vai se relacionar com o objeto de sua representação. Esta caracte-rística reforça, portanto a validade do estudo de representações sociais quando sedeseja entender a forma pela qual a sociedade tem se relacionado com determinadosfenômenos sociais, como é o caso do home office, objeto de estudo aqui apresentado.

O trabalho, portanto, é uma atividade muito complexa, fortemente ligada às evo-luções sociotecnológicas, mas onde um grande número de temáticas podem seconstituir em objeto de estudo e de intervenção para a Psicologia do trabalho,como, por exemplo, os processos cognitivos, perceptivos e de tomadas de decisão,as competências e o desenvolvimento humano no trabalho, as cargas psicológicas,o estresse e as psicopatologias relacionadas ao trabalho. A amplitude do campo deestudos gerados em Psicologia do Trabalho e em Ergonomia.

Segundo Navega (1999), a percepção, sob a ótica da ciência cognitiva, é oprincipal e mais básico mecanismo relacionado à inteligência. Para Sillamy, citadapor Polli (2003, p.18), a percepção é a organização e a interpretação das sensações

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para tornar o conhecimento do real. A percepção é feita daquilo que é dado direta-mente pelos órgãos dos sentidos, acrescentada a projeção imediata do objeto dequalidades que são conhecidas por inferência, ou seja, a relação do sujeito com oobjeto, admitindo que o objeto possui suas características, mas a percepção decor-re da subjetividade individual.

A capacidade perceptiva evolui de acordo com o que recebemos do mundo ecomo nosso cérebro se “otimiza” para reconhecer padrões importantes e recorrentes.Dentro de uma visão capitalista, o modelo clássico de trabalho herda padrões darevolução industrial e reúne referências de atitudes ainda explícitas no cotidiano dotrabalho contemporâneo. Na figura 2 estão listados estas possíveis características.

fonte: SEBRAE (2006)

fonte: autores

Para De Paula (1999), os processos psicossociais são constituídos, em parte,por percepções e atitudes dos indivíduos e, em parte, por elementos culturais quedirecionam os vínculos. Por exemplo, os critérios específicos sobre saúde, doença,trabalho, são constituídos pela cultura e transformados pelos indivíduos. A cultura

Em contrapartida ao modelo tradicional, a figura 3 mostra as características rela-cionadas com o home office, que, descritas pelo SEBRAE, evidenciam os fatorespositivos do retorno do homem para sua casa.

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é edificada a partir do meio ambiente, que corresponde ao mundo externo e à realida-de imediata. Esta realidade é decorrente da vida cotidiana e subjetivamente dotadade sentido para os homens, na medida em que forma um mundo coerente.

As práticas de trabalho apresentam uma linguagem que se expressa em vários luga-res e apresenta múltiplos significados. Os modelos tradicionais de trabalho estão solidi-ficados em conceitos que variam de acordo com a sociedade na qual estão inseridos.Quer dizer que, quando remetidos às dimensões sociais, fazem parte da vida, perseguemoutros objetivos e valores como, por exemplo, de conviviabilidade, solidariedade eresponsabilidade. Indagam os modelos universais e civilizatórios fundados na cisãoentre economia e sociedade; entre produtor e consumidor; trabalhador, enquanto pes-soa, e força de trabalho; trabalho concreto e trabalho abstrato. (BLASS, 2003, p.10)

De acordo com Vygotsky, citado por Peres (2003, p.3), a relação homem-mundo nãose dá de forma direta, uma vez que envolve a utilização dos elementos mediadores. Taiselementos, segundo o modelo histórico-cultural, introduzem um elo a mais na relaçãoindivíduo–meio e garantem, conseqüentemente, um maior grau de complexidade àsações humanas. Seus estudos identificaram dois tipos de mediadores: os instrumentos(“objetos” orientados internamente) e os signos (“ferramentas psíquicas” orientadasinternamente). Portanto, pode-se afirmar que o emprego de signos e símbolos é o que,em última análise, torna possível, a efetiva transformação da natureza em cultura. Razãoesta, que desperta, à primeira vista, a importância de se compreender como provavel-mente os conceitos se inter-relacionam para formar outros, sobre novas situações oucircunstâncias pouco presentes na realidade de determinada sociedade.

A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE HOME OFFICE

O estudo da arquitetura do conhecimento declarativo, entendido aqui como umcorpo organizado de informações factuais, é utilizado como ponto de partida paraauxiliar a compreensão da construção do conceito de home office dentro de umaabordagem semântica clássica. A preocupação está na tentativa de deduzirlogicamente uma explicação mais razoável de como as pessoas representam o con-ceito do objeto deste estudo a partir de outros conceitos alienados a sua gênese.Pois nenhum conceito individual pode ser compreendido sem alguma compreensãodo modo como se relaciona com outros conceitos. (KEIL, 1989, p.1)

Segundo Sternberg (2000, p.185), “A unidade fundamental do conhecimento sim-bólico é o conceito – uma idéia sobre alguma coisa.” A representação mental dascoisas, que é conhecida como imaginação, permite que sensações sejam recordadasmesmo que não estejam acessíveis no momento, e podem envolver qualquer modali-dade sensorial. O estudo teórico em questão preocupa-se apenas com os conceitos,particularmente em função das palavras como conceito. No caso do home office po-dem ser identificados dois conceitos, ou unidades de pensamento, fundamentais: acasa e o escritório e, a partir destes, podem ser determinados outros conceitos.

O conceito casa pode estar relacionado com habitação, lar, família e edificação

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(FERREIRA, 1993). No estudo realizado por Ferreira (1989), há uma clara organizaçãode idéias sobre conceitos legais e constitucionais condizentes com ‘casa’ na tentativade estabelecer bases para a inviolabilidade domiciliar. O mais relevante deles refere-seao direito constitucional brasileiro, abrangendo: a. qualquer compartimento habitado;b. aposento ocupado de habitação coletiva em pensões, hotéis, casas de pousada;c. dependências de casas, sendo cercadas, gradeadas, muradas. A base referencialdeste trabalho também aborda que o conceito de casa é muito mais abrangente do queo simples objeto de posse ou propriedade, e verifica outros significados além deste,como o de proteção, paz doméstica e espaço reservado de outrem.

Esta representação de recinto visivelmente separado do mundo exterior, pormeio de um impedimento material, embora facilmente arredável, que o isole e de-monstre a proibição de acesso, é tratada pela Constituição da República de 1988, norol dos direitos individuais e coletivos, art. 5º, inciso XI: “a casa é asilo inviolável doindivíduo (...)”. Porém Moraes (1999) explica que, “no sentido constitucional, otermo domicílio tem amplitude maior do que somente daquele definido no direitoprivado ou no senso comum, não sendo somente a residência, ou ainda, a habitaçãocom intenção definitiva de estabelecimento. Considera-se, pois, domicílio todo lo-cal, delimitado e separado, que alguém ocupa com exclusividade, a qualquer título,inclusive profissionalmente, pois nessa relação entre pessoa e espaço, preserva-se,medianamente, a vida privada do sujeito.”.

A figura 4 apresenta uma coletânea conceitual de “casa” envolvendo a percep-ção de diferentes autores pesquisados durante a elaboração do estudo em questão.

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Pode-se observar na figura 4, algumas expressões que estão diretamente relacio-nadas ao trabalho home office e que estão representadas pelo consultório médico,odontológico, de advogado e de engenharia, além do ateliê do artista, oficina eescritório profissional. A conexão casa–escritório está instituída pelo Supremo Tri-bunal Federal, quando este se refere no art. 5º, XI, da Carta Política, ao conceitonormativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer comparti-mento privado onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III),também compreende os consultórios profissionais dos cirurgiões-dentistas.

O conceito ‘escritório’ pode designar trabalho, representado pela atividade físi-ca ou intelectual, empresa e remuneração, ou seja, lugar onde se faz o expedienteduma administração ou se tratam negócios. (FERREIRA, 1993). Porém, na línguafrancesa, a palavra escritório é bureau e representa em sua origem etimológica umtipo de móvel – a escrivaninha – inerente a certas atividades ainda hoje ditas “degabinete” que envolvem atividades de leitura, de escrita, de contabilidade, de cálcu-lo, de projeto (LE ROBERT, 1998). Segundo Kartro (1987), esses móveis ocupavamoriginalmente os gabinetes, isto é, pequenos cômodos onde a concentração requeridapor essas tarefas essencialmente individuais e intelectuais é assegurada pelo isola-mento, diferentemente do ateliê ou da oficina onde o trabalho é freqüentementecoletivo e manual. Uma prática caracterizada, desde os primórdios, nos ambientesgovernamentais, razão pela qual existe a palavra em inglês Bureaucracy, cuja tradu-ção significa – burocracia. (FONTES, 1999).

Caldeira (2006) recorre a uma breve abordagem histórica sobre o tema, e cita queos escritórios se destacam como os mais eminentes tipos de espaços contemporâ-neos construídos pelo homem para abrigar suas atividades cotidianas.

O arquétipo do gabinete é a célula monástica ou dos sábios,cuja representação constitui um dos temas prediletos da pin-tura e da gravura do período humanista (séculos XV e XVI).Esses gabinetes de trabalho aparecem como cenários carrega-dos de simbologias que se referem à identidade do persona-gem central retratado e onde invariavelmente se misturam es-tantes de livros, instrumentos científicos e musicais, animais eobjetos diversos, simulacros de mobiliário íntimo. O aspectodos primeiros escritórios representados é, portanto,indissociável da pessoa que os ocupa. São espaços absoluta-mente individualizados, tal como ainda hoje ocorre com mui-tos escritórios incorporados às moradias ou com os consultó-rios de certos profissionais liberais. (CALDEIRA, 2006, p. 02)Observa-se que o escritório em casa não é um conceito tãoinusitado dentro do contexto histórico-social, como muitosautores citam. Porém acredita-se que estes conceitos antigostenham participado diretamente na construção do novo mo-

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delo. Entretanto o molde contemporâneo está cercado porabordagens mais evoluídas daqueles descritos nos primórdios,podendo conter concepções e significados modificados pe-las próprias situações históricas.Partindo-se dos princípios levantados anteriormente, a figura5, compõe um modelo mental que se utiliza de palavras e for-mas simbólicas para representar sinteticamente a tríadeconceitual casa-escritório-trabalhador e sua contribuição naformulação do conceito home office. A figura estilizada de umamáquina fotográfica é utilizada para representar um escritóriode prestação de serviços nesta área.

fonte: autores

Os conceitos envolvidos podem ser relacionados entre si e reorganizados criandoesquemas, que segundo Bartlett, apud Sternberg (2000, p. 185), são estruturas men-tais para representar o conhecimento, abrangendo uma série de conceitos inter-relaci-onados em uma organização significativa. Cada esquema pode apresentar atributossingulares, ou seja, informações que são próprias do conceito, suas características equalidades. O esquema para ‘casa’, por exemplo, pode apresentar atributos deinformalidade, no que se refere ao tratamento entre irmãos, pais e tios. A presença deobjetos pessoais e móveis mais confortáveis pode aproximar a idéia de uma estruturamais personalizada. O ambiente de descanso, composto por espaço físico privativo,pode contribuir para a idéia de restrição e relaxamento. A relação familiar pode sugerirproximidade através de carinho, compreensão e afetividade. A rede de contatos éforte, pouco volúvel podendo ser pré-definida pelos amigos e parentes.

Com relação às atividades de trabalho em casa, Guérin et al (2001, p.16) apontam que,em geral, são desenvolvidas por estudantes, donas de casa, desempregados, aposenta-

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dos, portanto, não são remuneradas ou são pouco remuneradas, pois, como cita o autor,alguns especialistas definiram o trabalho como atividade imposta e o regime assalariado éuma forma atual da imposição do trabalho. Carvalho (2000, p. 41) complementa esta visãodizendo que “a representação que se tem hoje de trabalho está associada à idéia deemprego, ocupação, atividade para garantir os meios de sobrevivência”.

Um conceito pode originar-se a partir de outros conceitos. No caso em questão,a definição de casa e a definição escritório mesclam-se para compor um terceiroconceito, o home office. Entretanto estas duas formulações fundamentais podemestar enquadradas em níveis de alta posição, ou seja, correspondem a estruturasque representam algum tipo de ambiente ou de situação estereotipados. SegundoMinsky (1975), este tipo de enquadramento é fixo, sólido e dificilmente alterável,pois serve para representar coisas que sempre são verdadeiras sobre a situação queestá sendo representada, neste caso, o trabalho realizado em casa.

Coelho (2002) também se utiliza dos estudos de Bartlett para explicar que oschema não corresponde ao conceito lógico definido com rigor. Contudo, represen-ta uma forma de conhecimento corrente, em diferentes graus de abstração, abran-gendo tanto o que é verdadeiro de modo geral quanto o que é local e ocasional. Oselementos que o compõem não são subunidades classificatórias e não se relacio-nam segundo necessidade lógica. Aplicando-se este raciocínio, pode-se inferir quehome office é esquema que compreende o esquema casa e o esquema escritório. Oesquema pode formar-se na prática ou através de matrizes anteriores.

Entretanto deve-se considerar que, para uma melhor compreensão de conceitos,é importante contemplar informações adicionais relacionadas com os conceitos –os atributos. A figura 6 propõe a representação sumária construída a partir dosconceitos de casa e escritório e seus possíveis atributos.

fonte: autores

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“Os esquemas também incluem informações que podem ser utilizadas como umabase para extrair inferências em situações novas.” David, apud Sternberg (2000, p.185). Porém, como no caso em questão, os conceitos que dão origem a este novomodelo de trabalho possuem forte base cultural, suas inferências podem justificar aconstrução de particularidades impróprias ao seu cerne. Como resultado de umasuposição obtida através de uma relação causal (se-então) dentro dos esquemascasa-escritório podem ser obtidas inúmeras inferências que possivelmente podeminterferir na arquitetura do significado social de home office.1. Se a casa é um ambiente de descanso, então o escritório em casa pode não ser produtivo.2. Se o trabalho em casa não é remunerado, então o trabalho no escritório em casa

pode representar menor valor.3. Se a casa possui aspecto de informalidade, então o serviço prestado no escritório

em casa pode não ser convencional ou padrão.4. Se casa é considerada um invólucro inviolável, então a presença de pessoas

consideradas fora do círculo familiar significa a perda de privacidade pessoal epode gerar constrangimento.

5. Se casa é sinônimo de estrutura personalizada, então o trabalho em casa podepressupor um trabalho amador ou de baixa qualidade.A construção desses significados pode gerar atributos imediatos não condizen-

tes com a classe de esquema home office. Esses resultados podem influenciar arelação cliente–escritório ocasionando reações indesejadas, como alterações naformulação da imagem, surgimento de pré-conceito e ausência de credibilidade emrelação aos serviços prestados. Estas possíveis alterações entre aquilo que é perce-bido, ou seja, aquilo que possui fortes bases psicológicas no individuo, e aquiloque o objeto realmente é, podem aflorar pela simples razão de que uma nova formu-lação de conceito surge em contraposição ao modelo existente.

fonte: autores

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A figura 7 sugere um modelo de compreensão desta situação. O home officesurge em contraposição ao modelo tradicional de trabalho e pode estar acarretandonovas abordagens nas representações de trabalho inclusive nas dimensões estéti-ca, funcional, do significado e da cognição. Por isso, futuros estudos abrangendoestes quatro quadrantes possivelmente permitirão rediscutir e refletir, mais profun-damente, sobre este novo conceito.

CONCLUSÃO

O objetivo do estudo foi realizar uma abordagem teórica enfatizando a baseconceitual do novo modelo de trabalho flexível, o home office. Este modelo revela-se tendencioso por caracterizar uma alternativa para o trabalho nas condições con-temporâneas como a autogestão, a qualidade de vida, a empregabilidade, entreoutros. Diante do princípio da flexibilidade, surgem situações paradigmáticas base-adas em inferências socioculturais e estético-simbólicas. Tais situações podem con-ferir discrepâncias (conflitos, pré-conceitos) no processo de construção do conhe-cimento sobre home office.

Parte desses princípios pode ser gerada pela falta de conhecimento ou de infor-mação por parte de um dos atores. Os modelos mentais são de grande complexidadee podem variar de indivíduo para indivíduo no contexto social e, considerando-setambém o grau de conhecimento a respeito do objeto de interferência. Pode-setambém compreender, que de acordo com os objetivos dos atores, e se estes obje-tivos realmente são de extrema importância ou amplamente almejados, tais modelosmentais, mesmo que formulados podem ser absorvidos, regulados ou desviados docontexto perceptivo em função do objetivo principal. O estudo inicia uma reflexãosobre o tema e sugere futuros estudos sobre as questões abordadas.

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