Transcript

Hélice Cont ínua Monitorada

2

Consultoria e Coordenação Técnica

Urbano Alonso Consultoria e Projetos Ltda.

Equipe Técnica

Gustavo Alexandre de Moura Gavião

Marcio Abreu de Freitas

Renato Paiva de Oliveira

Denis Pereira de Andrade

Colaboração

Heitor Manrubia

Marcelo Viviani Pinto da Silva

Roberto Carlos Nahas

Gustavo Roberto Ganzerli Nahas

Projeto gráfico

Neopix Design

Última atualização

Junho/2012

3

As estacas hélice contínua já são executadas entre nós des-

de 1987, com ampla utilização e divulgação no segmento

da construção civil, desde 1993, sendo hoje uma solução

alternativa em praticamente todas as obras que utilizam es-

tacas com comprimento de até 34 m, pois podem ser utili-

zadas em qualquer tipo de solo. Face à sua rapidez executi-

va, preço competitivo e baixo nível de barulho e vibrações,

em alguns casos é também uma solução alternativa para as

fundações em sapatas e em tubulões a céu aberto.

Durante esse período foram realizadas inúmeras provas de

carga estáticas que atestaram a capacidade de carga des-

sas estacas dimensionadas com base em métodos semi-

-empíricos de amplo conhecimento em nosso meio geo-

técnico. O resultado dessas provas de carga fazem parte

de um banco de dados que veio sendo publicado pelo

engo Urbano R. Alonso desde 1996 (Revista SOLOS e RO-

CHAS, vol 19, no 3 e vol 21 no 1; SEFE IV, vol 2; SEFE V, vol

2; SEFE VI vol 1; XII COBRAMSEG vol 3 e XIII COBRAM-

SEG vol 2) e trabalhos individuais de outros autores.

Entretanto, como todo tipo de estaca, esta também neces-

sita, durante sua execução, de vários cuidados que nem

sempre estão muito claros para aqueles que a utilizam. Por

ser uma estaca que tem todas as fases de execução moni-

toradas por instrumento eletrônico (acoplado a sensores)

instalado na cabine e à frente do operador, muitos pen-

sam que esse monitoramento corresponde ao controle da

estaca. Na realidade, o controle pressupõe uma interpre-

tação desses registros, no instante da execução, (quando

é possível tomar decisões), e não a posteriori, quando a

estaca já está executada. É um assunto que ainda não foi

plenamente resolvido.

Outro esclarecimento a ser feito é que, ao contrário do que

afirmam alguns dos que comercializam este tipo de estaca,

o equipamento não mede o torque, mas sim a pressão de

injeção do óleo na bomba acoplada à mesa de giro do

trado. Embora o torque seja diretamente proporcional à

pressão de injeção, esta relação é diferente de máquina

para máquina e numa mesma máquina em função da mar-

cha em que o motor estiver.

Embora no passado tenham ocorrido vários problemas na

concretagem deste tipo de estaca, hoje esses problemas

já foram bem equacionados tendo-se, inclusive, um traço

que as concreteira denominam “concreto para hélice con-

tínua” constituído por:

1. Fator água cimento ≤ 0,6 e pedra 0 (dimensão máxima

característica 12,5 mm);

2. Consumo mínimo de cimento 400 kg/m3 (não é reco-

mendado o uso de cimento ARI);

3. % de argamassa em massa ≥ 55% (massa do cimento +

massa dos agregados miúdos)*100/massa dos agregados

graúdos);

4. Permitido o uso de agregados miúdos artificiais confor-

me a NBR 7211;

Embora esse concreto assim confeccionado confira uma

resistência característica mínima de fck = 20 MPa (200 kgf/

cm2), para efeito de dimensionamento estrutural esse valor

não pode ser aumentado devido ao fato de que esses re-

sultados são obtidos em corpos de prova moldados e cura-

dos por ação humana. Já a cura do concreto na estaca é

feita dentro do solo, portanto sem qualquer ação humana

sobre a mesma.

Além destas características do concreto, há também a

necessidade de se usarem bombas de injeção adequadas

(capacidade de bombeamento mínima de 20 m3/h para

estacas com diâmetro máximo de 50 cm e 40 m3/h para

diâmetros superiores).

Introdução

4

A estaca hélice contínua (continuous flight auger - CFA) é uma estaca de concreto moldada in loco, executada mediante

a introdução no terreno, por rotação, de um trado helicoidal circundante a uma haste tubular (Figura 1) e injeção de

concreto, pela própria haste tubular, simultaneamente com sua retirada, sem rotação (Figura 1). Após a concretagem é

introduzida a armadura (Figura 1).

Para evitar que durante a introdução do trado haja entrada de solo ou água na haste tubular, existe, em sua face inferior,

uma tampa metálica provisória, que é expulsa no início da concretagem. Essa tampa é presa por uma corrente ao trado

de tal sorte que a mesma não é perdida.

Alcançada a profundidade desejada inicia-se a fase da concretagem (após a limpeza de rede, conforme será exposto

adiante) por bombeamento de concreto pelo interior da haste tubular. Sob a pressão do concreto, a tampa provisória é

expulsa e o trado passa a ser retirado, sem rotação, mantendo-se o concreto injetado sempre sob pressão positiva, da

ordem de 0,5 a 1,0 kgf/cm2 (0,5 a 1,0 bar).

Esta pressão positiva visa garantir a continuidade do fuste da estaca. Para tanto devem ser observados dois aspectos

executivos: o primeiro é certificar-se que a ponta do trado, na fase de introdução, tenha atingido um solo que permita

a formação da “bucha” para garantir que o concreto injetado se mantenha abaixo da ponta do trado e não suba pela

interface solo-trado.

O segundo é controlar a velocidade de subida do trado de modo a sempre ter um sobre-consumo de concreto (relação

entre volume injetado e o teórico superior a 1).

B 250 B 250 B 250

Solo Solo Solo

.

Método ExEcutivo e CuIdados na exeCução

Figura 1 ] Fase de execução das estacas hélice contínua

1 - Posicionamento e in-trodução do trado até a profundidade necessária.

2 - Injeção do concreto pela haste central do trado com retirada contí-nua do mesmo, mantendo-se pressão positiva até o final da concretagem

3 - Instalação da armadura imediata-mente após o término da concretagem

4- Estaca acabada

5

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

A medida que o trado vai sendo retirado, um limpador mecânico remove o solo confinado entre a hélice do trado, e

uma escavadeira remove esse solo para fora da área do estaqueamento. Uma vista geral dos equipamentos (exceto a pá

carregadeira) envolvidos neste processo é mostrado na Figura 2.

Figura 2: Vista geral da execução de uma estaca hélice contínua

As fases de introdução do trado e concretagem ocorrem de maneira contínua e ininterrupta de tal sorte que as paredes

onde se formará a estaca estarão sempre suportadas; acima da ponta do trado, pelo solo que se encontra entre a hélice

da hélice do trado e abaixo desta cota, pelo concreto que está sendo bombeado.

Todas as fases da execução são registradas em instrumento eletrônico que fica na cabine e à frente do operador acoplado

a sensores instalados em pontos estratégicos que permitem visualizar e registrar as fases relevantes do processo executivo

(Figura 3) gerando uma ficha conforme se mostra na Figura 4. Cabe ressaltar que o perfil da estaca mostrado nesses boletins

não é necessariamente o real visto que o objetivo principal do mesmo é dar uma ideia da seção média, caso a mesma fosse

circular. Isto porque, seu desenho (feito pelo programa interno do computador) resulta da divisão do volume que vai sendo

injetado pela altura concretada, daí porque sempre resulta uma superfície cilíndrica e simétrica em relação ao eixo da estaca.

Ora, essa superfície só será cilíndrica se o solo aplicar tensão radial constante durante a concretagem, o que nem sempre

ocorre, conforme se mostra na Figura 5, onde se escavaram estacas para análise do fuste. É por esta razão que algumas

empresas não registram esta figura.

É importante lembrar que por ser a concretagem feita sob pressão, e tendo o concreto abatimento alto, não se pode exe-

cutar uma estaca próxima a outra recentemente concluída, principalmente em solos pouco resistentes, pois pode haver

ruptura do mesmo entre as estacas.

Como regra geral orientativa, recomenda-se que só se execute uma estaca quando todas, num raio mínimo de 5 diâme-

tros, já tenham sido concretadas há pelo menos 12 horas.

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

Figura 2 ] Vista geral da execução de uma estaca hélice contínua

aB

C

A - Equipamento de hélice contínua

B - Bomba de concretagem

C - Caminhão betoneira

6

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

É claro que esta recomendação orientativa é conservadora, pois se aplica a qualquer solo brasileiro e em particular aos

solos moles. Por esta razão, tanto esta distância quanto este prazo entre duas concretagens próximas podem ser reduzi-

dos no caso de terrenos que apresentem resistência compatível com as pressões a ele aplicadas pelo concreto. A pressão

máxima ocorrerá durante a concretagem devido à pressão do concreto fresco (“fluido” com peso específico γ≈ 2,2 tf/

m3) decorre da coluna de concreto dentro da haste do trado (descontado a resistência por adesão entre o concreto e a

haste de concretagem) e da pressão de injeção do concreto. Após a concretagem essa pressão será bem menor, pois só

é devida à coluna de concreto da estaca.

A decisão quanto à distância mínima e tempo entre duas concretagens próximas são feitos inicialmente analisando-se o

solo onde se executarão as estacas e estimando a resistência ao cisalhamento do mesmo. A seguir devem-se fazer ensaios

no campo, executando-se estacas experimentais (geralmente que não façam parte do estaqueamento) e decorrido o tem-

po de cura do concreto se faça uma inspeção de fuste escavando-se o solo à volta das estacas e vendo a qualidade dessa

concretagem, analogamente ao que se mostra na Figura 5.

1 - Profundidade

2 - Cabo de Aço Sensor de profundidade

3 - Pressão de Concreto

4 - Volume de Concreto

5 - Momento de torção

6 - Rotação

7 - Inclinação

8 - Cabo Umbilical

9 - Caixa de conexão

10 - Caixa de conexão

1

2

7

8

9

10

3 4

5

6

+

Figura 3 ] disposição dos sensores na perfuratriz

7

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

W1

Diametro: 700 mm

Passo:

Inclinação X/Y:

Profundidade:

Superconsumo:

Volume: 12740 L

31 %

25.27 m

-0.1°/-0.1°

8 cm

ConcretagemPerfuraçãoEstacaData de início: 20/03/12

Data de término:

Hora de início:

Hora de término:

Duração: 00:17:40

08:16:00

07:50:00

20/03/12

Data de início: 20/03/12

Data de término:

Hora de início:

Hora de término:

Duração: 00:24:39

08:51:00

08:16:00

20/03/12

GEOFIX FUNDAÇÕES

VA - Velocidade de Avanço VR - Velocidade de RotaçãoMT - Momento de Torção PC - Pressão do ConcretoVS - Velocidade de Subida

E123

Compugeo - www.compugeo.com.br

ARG_ESTALEIRO3Contrato:

Responsavel Resp. Cliente

VAm/h

VRrpm

MTbar

PCbar

VSm/h

Figura 4 ] Ficha de controle da estaca

8

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

O processo executivo acima descrito impõe que a armadura só possa ser instalada após a concretagem da estaca (Figura

1C). Para isso, a concretagem tem que ser trazida até o nível do terreno, mesmo que o arrasamento seja profundo. A não

observância deste procedimento pode comprometer a integridade da estaca, pois após a retirada do trado e antes de se

instalar a armadura, cairá terra sobre o concreto ainda fresco. Durante a introdução da armadura essa terra “embuchará”

nos estribos e será empurrada pelos mesmos criando uma “rolha” de solo dentro do corpo da estaca, conforme se mostra

na Figura 6.

Embora haja uma tendência em não se armar as estacas comprimida (resquícios da antiga NBR 6122), nas estacas hélice contí-

nua, mesmo com tensão de compressão no concreto baixa, há necessidade de armar as mesmas. Isto porque, como já informa-

mos acima, nesse tipo de estaca sempre se leva a concretagem até o nível do terreno mesmo que o arrasamento seja profundo.

Caso não se arme a estaca, ao se proceder a escavação para a o corte e preparo da cabeça da mesma, geralmente utilizan-

do-se escavadeiras mecânicas, estas “batem” na estaca durante a operação, por mais cuidadoso que seja o operador (Figura

7). A armadura terá, então, a função de absorver os esforços decorrentes dessas batidas. A armadura mínima a adotar está

indicada na Tabela 1. Esta armadura é válida para comprimentos de até 6 metros. Comprimentos superiores necessitam de

uma avaliação de diâmetro das barras longitudinais dos estribos e do enrijecimento da armadura. Esta armadura, quando

tiver comprimento de até 6 metros, será instalada manualmente, conforme se mostra na Figura 8 ou auxiliada pela escava-

deira de apoio. Para armaduras maiores, e dependendo da trabalhabilidade do concreto, poderá ser necessário a utilização

de um guindaste para instalá-la.

No caso de estacas submetidas à tração ou a cargas horizontais a armadura deverá ser dimensionada para esses esforços.

Lembra-se, entretanto, que as mesmas deverão ter ferragem longitudinal e estribos com diâmetros mínimos que garantam

o seu “enrijecimento” para permitir sua instalação após a concretagem.

Figura 5 ] estacas hélice escavadas para exame de fuste em solo não homogêneo

9

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

Figura 6 ] Contaminação do fuste de uma estaca não concretada até o nt

Nível do terreno

Contaminação por embuchamento

Parada da concretagem

Figura 7 ] necessidade de armar as estacas (garantia de integridade)

10

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

OBS.1: Quando a diferença entre a Cota do Terreno e a Cota de Arrasamento for maior que o arranque de projeto, prever complemento de todas as barras longitudinais até alcançar a Cota do Terreno (N1). OBS.2: É viável a colocação de armaduras de comprimentos superiores a 6 metros, desde que sejam estudados dois itens: o detalhe das armaduras e as características de trabalhabilidade do concreto.

tabela 1 ] armadura mínima para as estacas hélice contínua

Figura 8 ] Instalação da armadura

Figura 9 ] detalhe típico da armadura e quantidade e posição de roletes

Ø EstacaN1 - Longitudinal N2 - Estribos

Quant. Ø Bitola Compr. Ø Bitola

cm nº mm m mm

25 a 40 4

16,0 até 6,00 m 6,3050 6

60 8

70 10

80 8

20,0 até 6,00 m 8,00

90 11

100 13

110 16

120 18

130 22

140 16 25,0 até 6,00 m 12,50

11

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

Figura 10 ] tipos de roletes

A - Preferível B - Não recomendado

Uma prática que não se recomenda é o uso “excessivo” de

roletes, pois ao contrário do que ocorre nas estacas esca-

vadas com auxílio de fluido estabilizante (onde os roletes

realmente “rolam” quando batem nas paredes da escava-

ção), nas estacas hélice eles “não rolam”, pois o concreto

não deixa. Na realidade eles “empurram” o concreto. O

que se recomenda é que se coloquem 4 roletes na mudan-

ça da armadura do pé para o corpo e no topo, conforme

se mostra na Figura 9. Este procedimento permite garantir a

centralização da armadura e não impede que se “balance”

a mesma quando da instalação para forçar sua entrada. A

folga de 7,5 cm entre a armadura e o diâmetro do trado é

para permitir esse “balançamento” o que fica impedido se

existirem roletes no corpo da armadura. O pé da armadura

deve ser reduzida nos últimos 100 a 150 cm conforme se

mostra nas Figura 9.

Quanto ao tipo de rolete devem-se preferir os “finos”

(com espessura de 10 mm), representados na Figura 10A

aos “largos” (com espessura de 50mm), (Figura 10B).

Conforme já se expôs, neste tipo de estaca a concretagem

tem que ser trazida até o nível do terreno e, a seguir, instalar

a armadura. Em estacas com cota de arrasamento profunda

mas executadas em solos estáveis, pode-se, após a instala-

ção da armadura, empurrar a mesma com trado do equipa-

mento (ver Figura 11C) ou outro procedimento similar até

atingir a cota especificada no projeto (limitando a 1.5m) e a

seguir remover o concreto excedente (Figura 11D).

Na instalação de armaduras longas pode ser necessário o

uso de um pilão, pois o peso próprio da armadura pode

não ser suficiente para que a mesma seja introduzida.

Quando se executam estacas em argilas moles deve-se

tomar cuidado para garantir que o topo do trado sempre

esteja acima da cota superior da argila mole, saturadas e

submersas evitando-se que a prolonga (região sem trado)

atinja a mesma e crie um “alívio” (ausência de trado com

solo) nessa região.

Além disso, durante a concretagem deve-se manter pressão

positiva, mesmo que o consumo de concreto se mostre ex-

cessivo e comece a subir lateralmente ao trado, devido ao

pouco confinamento de solo. Aliviar a pressão do concreto,

nessa região impõe uma redução de seção da estaca (Figura

12A) ou compromete a integridade da mesma (Figura 12B).

Figura 11 ] Instalação da armadura com arrasamento profundo

Ba

dC

12

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

Quando se pretende executar estacas hélice contínua cuja ponta deva penetrar em alteração de rocha, ou até rocha

branda, devem-se substituir as “lâminas” cortantes de aço por “roller bits” confeccionados com carboneto de tungstênio

(normalmente denominados “ponteiras de wídia”).

Outra recomendação executiva importante diz respeito à limpeza da calda da “rede de concretagem” antes de se exe-

cutar a primeira estaca. Ao final de um dia de trabalho, o cocho é limpo com aplicação de óleo. Antes de se começar a

primeira estaca do dia seguinte a rede precisa ser “lubrificada” para permitir uma fluência do concreto.

Para esta lubrificação costuma-se misturar 2 sacos de cimento (de 50 kg) em cerca de 200 l de água (calda de lubrifica-

ção) dentro do cocho. Esta calda se misturará com o óleo remanescente da limpeza do dia anterior. Se a estaca for de

pequeno diâmetro (inferior a 50 cm), o volume desta calda de lubrificação é significativo, de tal sorte que, se a mesma

não for lançada fora, antes de se iniciar a concretagem da primeira estaca, na sua ponta poderá ficar parte desta calda

que, é de baixa resistência.

Por isso, antes de se iniciar a primeira estaca de cada jornada (ou quando houver uma interrupção na execução do estaque-

amento que obrigue a abrir a rede de concretagem), o trado deve ser levantado e a seguir começa-se a lançar a calda e o

concreto. Quando toda a calda tiver sido expulsa e se estiver garantido de que toda a rede já está com concreto, interrompe-

-se o lançamento da mesma, tampa-se o trado e inicia-se a perfuração da estaca (é o que se chama “limpeza de rede”).

A Figura 13 mostra o comportamento de duas estacas de pequeno diâmetro (25 cm e 12 m de comprimento), distantes

entre si de 1,40 m, uma executada sem a limpeza e outra com limpeza de rede. A estaca executada com limpeza de

rede teve, durante a prova de carga estática, um comportamento normal, enquanto que a outra, onde não houve essa

limpeza, sofreu um recalque brusco ao atingir 350 kN (provável esgotamento do atrito lateral) só retomando a carga após

um recalque de 40 mm.

Uma atividade também importante para o bom desempenho da estaca corresponde ao corte e preparo da cabeça da

mesma. Embora este serviço não faça parte da execução, propriamente dita, da estaca e seja realizado, normalmente,

quando a equipe de estaqueamento não mais esteja na obra, cabe lembrar ao responsável por este serviço que um pre-

paro adequado é de fundamental importância para o bom desempenho da estaca (ver Figura 14)..

Figura 12 ] Problemas com alívio de pressão e prolonga em argila mole

a B

13

estacas Hélice Contínua ) Método executivo e Cuidados na execução

Figura 15 ] detalhe típico para emenda das estacasFigura 14 ] Corte e preparo da cabeça da estaca

Neste preparo devem-se seguir o preconizado no Anexo F (item F.8) da NBR 6122:2010.

Se, ao se atingir a cota de arrasamento o concreto não apresentar qualidade satisfatória, o corte deve ser continuado até

se encontrar concreto de boa qualidade, sendo a seguir, emendada a estaca. Se o comprimento a emendar for superior

ao diâmetro da estaca, pode-se adotar o detalhe típico da Figura 15.

Figura 13 ] desempenho de estacas: uma com limpeza de rede e outra sem

14

EquipaMEntos

Os equipamentos que executam estacas hélice contínua

são classificados em função de seu torque (teórico, já

que o mesmo é obtido do catálogo técnico do forne-

cedor) e força de arrancamento do trado, sem girar o

mesmo. Em função dessas duas grandezas se estipulam

os diâmetros e comprimentos máximos que cada equi-

pamento pode executar.

A Geofix iniciou a execução de estacas hélice contínua

com dois tipos de equipamentos: um que apresentava um

peso de 35 tf, torque teórico máximo de 9 tf.m e força de

arranque de 40 tf e outro que apresentava peso de 65 tf,

torque teórico de 21 tf.m e força de arranque de 73 tf.

Com esses equipamentos podem-se executar estacas de

até 100 cm de diâmetro e 24 m de comprimento.

Com a boa aceitação do mercado desse tipo de esta-

cas, a Geofix introduziu equipamentos de maior porte

mostrados nas Figuras 16 a 18 que permitem executar

estacas hélice contínua até 140 cm de diâmetro e 34 m

de comprimento. O equipamento mostrado na Figura

18 apresenta peso de 85 tf, torque de 27 tf.m e for-

ça de arranque de 88 tf. O equipamento da Figura 17

apresenta peso de 120 tf, torque de 35 tf.m e força de

arranque de 120 tf.

Figura 16 ] equipamento B250

Figura 17 ] equipamento C850

Figura 18 ] equipamento B300

15

carga Estrutural adMissívEl CaraCterístICaa) Compressão

A carga admissível estrutural à compressão das estacas hélice contínua não armadas (exceto na região da cabeça, pelas

razões acima citadas) é obtida analogamente à carga de um pilar com seção nula de aço, ou seja:

(1)

em que:

Ac é a área da seção transversal da estacas

fck é resistência característica máxima do concreto permitida pela NBR 6122:2010, ou seja, 20 MPa (200 kgf/cm2)

γf é o coeficiente de majoração das cargas = 1,8

γc é o coeficiente de minoração da resistência do concreto = 1,4

Com base na expressão (1) elaborou-se a Tabela 2 que fornece as cargas máximas à compressão das estacas hélice con-

tínua, não armadas e totalmente enterradas (sem flambagem).

DEsCrição UN. VaLorEs

DiÂMETro (D) cm 25 30 35 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

CarGa aDMissÍVEL EsTrUTUraL (Pk)

tf 30 45 60 80 130 190 255 335 425 525 640 760 895 1035

DisTÂNCia MÍNiMa ENTrE EiXos (c)

cm 65 75 90 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350

DisTÂNCia EiXo-DiVisa (e)

cm 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120 120

ÁrEa DE sEção TraNsVErsaL (ac)

cm² 491 707 962 1.257 1.963 2.827 3.848 5.027 6.362 7.854 9.503 11.310 13.273 15.394

PErÍMETro (U) cm 79 94 110 126 157 188 220 251 283 314 346 377 408 440

MoMENTo DE iNÉrCia (i)

cm4x104 1,92 3,98 7,37 12,57 30,68 63,62 117,86 201,06 322,06 490,87 718,69 1.017,88 1.401,98 1.885,74

MoMENTo rEsisTENTE (W)

cm³x103 1,53 2,65 4,21 6,28 12,27 21,21 33,67 50,27 71,57 98,18 130,67 169,65 215,69 269,39

raio DE Giração (i)

cm 6,2 7,5 8,8 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0

tabela 2 ] Cargas máximas de compressão das estacas hélice contínuas não armadas

16

estacas Hélice Contínua ) Carga estrutural admissível (Característica)

b) Tração

As estacas hélice contínua somente poderão resistir à cargas de tração se forem convenientemente armadas, uma vez que

a resistência à tração do concreto é desprezada.

Para o dimensionamento estrutural da armadura As necessária para resistir à carga de tração T, utiliza-se a expressão (2)

onde se adotou um fator de redução 0,95 na tensão característica fyk do aço para garantir que durante a realização de

uma prova de carga à tração, com fator de segurança 2, não ocorra ruptura estrutural.

(2)

A NBR 6122:2010 dispensa a verificação da fissuração se o solo não apresentar agentes agressivos ao aço e desde que se

reduza 2 mm do diâmetro das barras. Com base nesta consideração elaborou-se a Tabela 2 que apresenta as cargas de

tração máximas em função da armadura da estaca.

É importante lembrar que estacas somente tracionadas (sem esforço horizontal) dispensam estribos, podendo a armadura

ser constituída apenas de barras isoladas. Por esta razão na Tabela 3 o diâmetro mínimo adotado para as barras foi 16

mm, para permitir a instalação “manual” dessas barras.

Cabe lembrar que como a carga de tração varia desde o valor máximo T (na cota de arrasamento da estaca) até zero (na

cota de ponta), a seção de aço poderá diminuir com a profundidade, em função da transferência de carga para o solo.

aço Ca 50a

CarGaT (kN)

ø=16mm ø=20mm ø=22mm ø=25mm

50 2 1

100 3 2 1

150 3 2

200 6 3 2

250 4

300 6 4 3

250

400 8 6

600 8 6

700 8

1000

tabela 3 ] número de barras

DYWiDaG

CarGaT (kN)

sisTEMamm

80 DW Ø 15

140 GW Ø 25

210 GW Ø 32

350 DW Ø 32

450 DW Ø 36

500 GW Ø 50

iNCoTEP

CarGaT (kN)

sisTEMamm

70 INCO-7MD

130 INCO-13MD

200 INCO-20MD

340 INCO-34MD

430 INCO-43MD

510 INCO-51MD

600 INCO-60MD

700 INCO-70MD

800 INCO-80MD

860 INCO-86MD

1000 INCO-100MD

17

estacas Hélice Contínua ) Carga estrutural admissível (Característica)

c) Cargas Transversais

O dimensionamento de estacas hélice contínua sujeitas a cargas transversais e imersas em solos pode ser feita com base

no método proposto por Matlock e Reese (no caso de estacas longas) ou pelo denominado “método russo” quando a es-

taca é curta. Por ser um tema que foge aos objetivos deste manual técnico, que procura fornecer os conceitos básicos de

dimensionamento sem entrar nas considerações teóricas, sugere-se aos interessados no assunto recorrer, por exemplo, ao

capítulo 4 do livro “Dimensionamento de Fundações Profundas” de autoria de Alonso, U.R. editado pela Edgard Blucher.

Para se garantir segurança contra a ruptura do solo podem-se usar as expressões de Broms, também encontradas na obra

acima citada.

Conhecidos os esforços transversais ao longo da estaca, o dimensionamento estrutural pode ser feito utilizando-se os gráficos

dos livros de Montoya (Hormigon Armado) ou de Walter Pfeil (Dimensionamento de Concreto Armado à Flexão Composta)..

Figura 19 ] dimensionamento à flexão composta

18

prEvisão da capacidadE de CargaConsiderações gerais

As cargas admissíveis estruturais apresentadas nas Tabelas 1 e 2, também denominadas de carga característica, são as máxi-

mas cargas que as estacas poderão suportar, visto que correspondem à resistência estrutural dos seus materiais componen-

tes. Entretanto há necessidade de dotar a estaca de um comprimento tal que permita que essa carga possa ser atingida sob

o ponto de vista do contato estaca-solo. Este procedimento constitui o que se denomina “previsão da capacidade de carga”.

A Figura 20 (abaixo) mostra duas situações de estacas do mesmo tipo, instaladas num mesmo solo. O caso (a) corresponde

a duas estacas com mesmo perímetro U e mesma área de ponta A, porém com comprimentos diferentes, de tal sorte que a

estaca com maior comprimento apresentará maior capacidade de carga. Analogamente, o caso (b) apresenta duas estacas

com o mesmo comprimento, mas com perímetro U e área A diferentes. Nesse caso a estaca de maior perímetro e área apre-

sentará maior capacidade de carga. Portanto, o projeto de um estaqueamento consiste em otimizar perímetros e áreas de

ponta das estacas em função das características de resistência do solo e das limitações dos equipamentos de execução das

estacas. É evidente que, nessa otimização, e sempre que for possível, devem-se utilizar estacas e equipamentos que permi-

tam instalá-las em um comprimento tal que a carga admissível estrutural possa ser atingida, pois essa é a máxima carga que

a estaca poderá suportar. Mas nem sempre isso é possível e, via de regra, a carga admissível da estaca será inferior àquela

mostrada nas Tabelas 2 e 3. É por esta razão que não existem cargas admissíveis de estacas tabeladas.

Método de cálculo utilizado pela Geofix

A Geofix utiliza para a previsão da capacidade de carga o método proposto por Alonso em 1996 (SEFE III, vol 2, p. 141-

151), resumido a seguir:

A carga de ruptura PR do solo que dá suporte a uma estaca é obtida pelo menor dos dois valores da expressão ():

PL + PP

PR ≤

PRestrutural

em que, para estacas de seção constante com a profundidade:

PL = UΣΔl.rl = parcela de carga resistida por atrito lateral ao longo do fuste da estaca;

PP = A.rp = parcela de carga resistida pelo solo da ponta da estaca.

U = perímetro da seção transversal da estaca.

A = área da seção transversal da estaca

{

Figura 20 ] estacas do mesmo tipo instaladas num mesmo solo

a BA - Mesmo solo / Comprimentos diferentesB - Solos diferentes / Mesmo Comprimento

19

estacas Hélice Contínua ) Previsão da Capacidade de Carga

rl = tensão média de adesão (ou atrito lateral) entre a estaca e o solo, na camada de espessura Δl.

rp = tensão média da capacidade de carga do solo na cota de apoio da estaca.

PL + PP é a carga de ruptura geotécnica.

Prestrutural = 0,85.a.fcd + as.fyd é a carga de ruptura estrutural. No caso de estacas não armadas Prestrutural = 0,85.a.fcd,

conforme já apresentado na equação (1).

O método original de Alonso baseava-se no ensaio SPTT (ensaio SPT com medida de torque), hoje pouco difundido entre

nós. Por esta razão o autor adaptou o método para o caso em que se dispõe apenas dos ensaios tradicionais SPT.

O método original foi assim apresentado:

rl = 0,65.fs ≤ 200 kN/m2 = 200kPa (ou 20 tf/m2)

em que T(1)min = média dos valores de Tmín no trecho 8D acima da ponta da estaca e T(2)

min idem

para o trecho 3D abaixo da ponta da estaca (D = diâmetro da estaca).

Para a penetração h = 45 cm do amostrador SPT têm-se os valores:

(em kN/m2/kgf.m) ou (em tf/m2/kgf.m)

Os valores de β são: 200 kN/m2/kgf.m para as areias (ou 20 tf/m2/kgf.m); 150 kN/m2/kgf.m (ou 15 tf/m2/kgf.m) para os siltes

e 100 kN/m2/kgf.m (ou 10 tf/m2/kgf.m) para as argilas.

Na falta dos ensaios SPTT o autor utilizou as correlações

Tmáx = 1,2 N e Tmín = N sendo N o valor do SPT tradicional e as unidades do torque em kgf.m

Com base nessas correlações o valor de rl passa a ser escrito:

= 0,43 N (em tf/m2) ou rl = 4,3 N (em kN/m2 ou kPa) valendo a limitação acima

exposta (20 tf/m2 ou 200 kPa).

Rp = 20xN para as areias, 15xN para as argilas e 8xN para os solos expansivos do massapé da Bahia e de Formação Gua-

birotuba, sendo N o valor do SPT na profundidade considerada e a unidade de rp em tf/m².

Cabe ressaltar que o método proposto por Alonso baseou-se em ensaios realizados nos solos da Bacia Sedimentar de São

Paulo, devendo ser usado, com reserva, para outras localidades.

É por esta razão que o autor alerta, em seu trabalho original, que antes de se aplicar o método em outros locais, onde

não se disponha de ensaios SPTT, deve-se inicialmente obter essa correlação e, aí sim, usar o SPT onde não se disponha

de ensaios SPTT.

Seguindo esse alerta, em trabalho posterior o autor limitou o valor de rl a 8 tf/m2 (80 kPa), ao invés de 20 tf/m2 (200 kPa)

do trabalho original para os solos expansivos do massapé da Bahia e da Formação Guabirotuba do Paraná.

são Paulo Av. Luiz Rink, 600 - Vila São José

06286-000 - Osasco / SPTel / Fax: 11 2148 9300

Email: [email protected]

Minas GeraisRua Tomé de Souza, 860 - sala 1502

Belo Horizonte / SOTel / Fax: 31 3262 0247

Email: [email protected]


Top Related