Transcript
  • G963c GUIMARES, Mrcio Azevedo

    Caderno de Histria Aplicada ao Direito Dom Alberto / Mrcio Azevedo Guimares. Santa Cruz do Sul: Faculdade Dom Alberto, 2010.

    Inclui bibliografia.

    1. Direito Teoria 2. Histria Aplicada ao Direito Teoria I. GUIMARES, Mrcio Azevedo II. Faculdade Dom Alberto III. Coordenao de Direito IV. Ttulo

    CDU 340.12(072)

    Catalogao na publicao: Roberto Carlos Cardoso Bibliotecrio CRB10 010/10

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  • APRESENTAO

    O Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto teve sua semente lanada no ano de 2002. Iniciamos nossa caminhada acadmica em 2006, aps a construo de um projeto sustentado nos valores da qualidade, seriedade e acessibilidade. E so estes valores, que prezam pelo acesso livre a todos os cidados, tratam com seriedade todos processos, atividades e aes que envolvem o servio educacional e viabilizam a qualidade acadmica e pedaggica que geram efetivo aprendizado que permitem consolidar um projeto de curso de Direito.

    Cinco anos se passaram e um ciclo se encerra. A fase de crescimento, de amadurecimento e de consolidao alcana seu pice com a formatura de nossa primeira turma, com a concluso do primeiro movimento completo do projeto pedaggico.

    Entendemos ser este o momento de no apenas celebrar, mas de devolver, sob a forma de publicao, o produto do trabalho intelectual, pedaggico e instrutivo desenvolvido por nossos professores durante este perodo. Este material servir de guia e de apoio para o estudo atento e srio, para a organizao da pesquisa e para o contato inicial de qualidade com as disciplinas que estruturam o curso de Direito.

    Felicitamos a todos os nossos professores que com competncia nos brindam com os Cadernos Dom Alberto, veculo de publicao oficial da produo didtico-pedaggica do corpo docente da Faculdade Dom Alberto.

    Lucas Aurlio Jost Assis Diretor Geral

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  • PREFCIO

    Toda ao humana est condicionada a uma estrutura prpria, a uma natureza especfica que a descreve, a explica e ao mesmo tempo a constitui. Mais ainda, toda ao humana aquela praticada por um indivduo, no limite de sua identidade e, preponderantemente, no exerccio de sua conscincia. Outra caracterstica da ao humana sua estrutura formal permanente. Existe um agente titular da ao (aquele que inicia, que executa a ao), um caminho (a ao propriamente dita), um resultado (a finalidade da ao praticada) e um destinatrio (aquele que recebe os efeitos da ao praticada). Existem aes humanas que, ao serem executadas, geram um resultado e este resultado observado exclusivamente na esfera do prprio indivduo que agiu. Ou seja, nas aes internas, titular e destinatrio da ao so a mesma pessoa. O conhecimento, por excelncia, uma ao interna. Como bem descreve Olavo de Carvalho, somente a conscincia individual do agente d testemunho dos atos sem testemunha, e no h ato mais desprovido de testemunha externa que o ato de conhecer. Por outro lado, existem aes humanas que, uma vez executadas, atingem potencialmente a esfera de outrem, isto , os resultados sero observados em pessoas distintas daquele que agiu. Titular e destinatrio da ao so distintos.

    Qualquer ao, desde o ato de estudar, de conhecer, de sentir medo ou alegria, temor ou abandono, satisfao ou decepo, at os atos de trabalhar, comprar, vender, rezar ou votar so sempre aes humanas e com tal esto sujeitas estrutura acima identificada. No acidental que a linguagem humana, e toda a sua gramtica, destinem aos verbos a funo de indicar a ao. Sempre que existir uma ao, teremos como identificar seu titular, sua natureza, seus fins e seus destinatrios.

    Consciente disto, o mdico e psiclogo Viktor E. Frankl, que no curso de uma carreira brilhante (trocava correspondncias com o Dr. Freud desde os seus dezessete anos e deste recebia elogios em diversas publicaes) desenvolvia tcnicas de compreenso da ao humana e, consequentemente, mecanismos e instrumentos de diagnstico e cura para os eventuais problemas detectados, destacou-se como um dos principais estudiosos da sanidade humana, do equilbrio fsico-mental e da medicina como cincia do homem em sua dimenso integral, no apenas fsico-corporal. Com o advento da Segunda Grande Guerra, Viktor Frankl e toda a sua famlia foram capturados e aprisionados em campos de concentrao do regime nacional-socialista de Hitler. Durante anos sofreu todos os flagelos que eram ininterruptamente aplicados em campos de concentrao espalhados por todo territrio ocupado. Foi neste ambiente, sob estas circunstncias, em que a vida sente sua fragilidade extrema e enxerga seus limites com uma claridade nica,

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  • que Frankl consegue, ao olhar seu semelhante, identificar aquilo que nos faz diferentes, que nos faz livres.

    Durante todo o perodo de confinamento em campos de concentrao (inclusive Auschwitz) Frankl observou que os indivduos confinados respondiam aos castigos, s privaes, de forma distinta. Alguns, perante a menor restrio, desmoronavam interiormente, perdiam o controle, sucumbiam frente dura realidade e no conseguiam suportar a dificuldade da vida. Outros, porm, experimentando a mesma realidade externa dos castigos e das privaes, reagiam de forma absolutamente contrria. Mantinham-se ntegros em sua estrutura interna, entregavam-se como que em sacrifcio, esperavam e precisavam viver, resistiam e mantinham a vida.

    Observando isto, Frankl percebe que a diferena entre o primeiro tipo de indivduo, aquele que no suporta a dureza de seu ambiente, e o segundo tipo, que se mantm interiormente forte, que supera a dureza do ambiente, est no fato de que os primeiros j no tm razo para viver, nada os toca, desistiram. Ou segundos, por sua vez, trazem consigo uma vontade de viver que os mantm acima do sofrimento, trazem consigo um sentido para sua vida. Ao atribuir um sentido para sua vida, o indivduo supera-se a si mesmo, transcende sua prpria existncia, conquista sua autonomia, torna-se livre.

    Ao sair do campo de concentrao, com o fim do regime nacional-socialista, Frankl, imediatamente e sob a forma de reconstruo narrativa de sua experincia, publica um livreto com o ttulo Em busca de sentido: um psiclogo no campo de concentrao, descrevendo sua vida e a de seus companheiros, identificando uma constante que permitiu que no apenas ele, mas muitos outros, suportassem o terror dos campos de concentrao sem sucumbir ou desistir, todos eles tinham um sentido para a vida.

    Neste mesmo momento, Frankl apresenta os fundamentos daquilo que viria a se tornar a terceira escola de Viena, a Anlise Existencial, a psicologia clnica de maior xito at hoje aplicada. Nenhum mtodo ou teoria foi capaz de conseguir o nmero de resultados positivos atingidos pela psicologia de Frankl, pela anlise que apresenta ao indivduo a estrutura prpria de sua ao e que consegue com isto explicitar a necessidade constitutiva do sentido (da finalidade) para toda e qualquer ao humana.

    Sentido de vida aquilo que somente o indivduo pode fazer e ningum mais. Aquilo que se no for feito pelo indivduo no ser feito sob hiptese alguma. Aquilo que somente a conscincia de cada indivduo conhece. Aquilo que a realidade de cada um apresenta e exige uma tomada de deciso.

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  • No existe nenhuma educao se no for para ensinar a superar-se a si mesmo, a transcender-se, a descobrir o sentido da vida. Tudo o mais morno, sem luz, , literalmente, desumano.

    Educar , pois, descobrir o sentido, viv-lo, aceit-lo, execut-lo. Educar no treinar habilidades, no condicionar comportamentos, no alcanar tcnicas, no impor uma profisso. Educar ensinar a viver, a no desistir, a descobrir o sentido e, descobrindo-o, realiz-lo. Numa palavra, educar ensinar a ser livre.

    O Direito um dos caminhos que o ser humano desenvolve para garantir esta liberdade. Que os Cadernos Dom Alberto sejam veculos de expresso desta prtica diria do corpo docente, que fazem da vida um exemplo e do exemplo sua maior lio.

    Felicitaes so devidas a Faculdade Dom Alberto, pelo apoio na publicao e pela adoo desta metodologia sria e de qualidade. Cumprimentos festivos aos professores, autores deste belo trabalho. Homenagens aos leitores, estudantes desta arte da Justia, o Direito.

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    Luiz Vergilio Dalla-Rosa Coordenador Titular do Curso de Direito

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  • Sumrio

    Apresentao...........................................................................................................

    Prefcio....................................................................................................................

    Plano de Aula...........................................................................................................

    Aula 1 Direito nas Sociedades Primitivas...........................................................................

    Aula 2 O Direito Grego Antigo............................................................................................

    Aula 3 A Instituio da Famlia em a Cidade Antiga..........................................................

    Aula 4 A Natureza Histrica da Instituio do Direito de Propriedade...............................

    Aula 5 O Direito Romano e seu Ressurgimento no final da idade mdia..........................

    Aula 6 O Direito Romano e seu Ressurgimento no final da idade mdia: Fatores Epistemolgicos......................................................................................................

    Aula 7 Trabalho..................................................................................................................

    Aula 8 Aspectos Histricos, Polticos e Legais da Inquisio............................................

    Aula 9 Da Invaso da Amrica aos Sistemas penais de hoje: o discurso da Inferioridade Latino americana............................................................................

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  • Misso: "Oferecer oportunidades de educao, contribuindo para a formao de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento tico e visando ao desenvolvimento regional.

    Centro de Ensino Superior Dom Alberto

    Plano de Ensino

    Identificao Curso: Direito Disciplina: Histria Aplicada ao Direito Carga Horria (horas): 60 Crditos: 4 Semestre: 1

    Ementa Instituies, Historicidade Crtica e Novos Paradigmas. Noes de Direito Asitico, Grego e Romano. Instituies Greco-Romanas: Famlia, Cidade e as Leis. Direito Medieval e influncia da Dogmtica Cannica: tribunais, processos e "feiticeiros" na Europa Pr-Moderna. Amrica Latina: Conquista e Instituies. Capitalismo Moderno e Ordem Normativa Burguesa. Justia e Burocracia no Brasil Colonial. Elites e Magistrados na Sociedade Imperial. Academia, Formalismo e o Bacharelismo Liberal. Tradio Legal e Instituies Polticas Nacionais. Repensando as Razes Culturais Brasileiras. Histria Crtica das Instituies Jurdicas. Avaliao da Disciplina.

    Objetivos Geral: A disciplina de Histria do Direito de extrema relevncia por dar nfase ao aspecto prtico, acentuando que o conhecimento desse direito no s necessrio, seno indispensvel para a perfeita inteligncia de nossa legislao civil, posto que, para interpretar e aplicar realmente as leis de um povo, foroso conhecer os elementos que concorreram para a sua formao e a histria de sua origem.

    Especficos: Capacitar o aluno, atravs de pesquisas e reflexo, a compreender a origem histrica e os fundamentos do Direito bem como sua evoluo. Instig-los a compreender como se originaram os institutos de direito privado, especialmente aqueles do Direito Romano, de forma a adquirirem a percepo de que o nosso direito privado, como tantos outros, nele est fundado. Incitar o aluno a vislumbrar as diversas fases da evoluo do Direito atravs dos tempos, provocando sua reflexo e crtica sobre as idias mestras de cada perodo. Estimular o aluno a entrar em contato com a terminologia jurdica visando que desenvolva seu prprio discurso jurdico. Construir uma base epistemolgica capaz de nortear o entendimento, em especial no que tange a questo da Cincia Poltica e suas relaes com o Direito. Delimitar e desenvolver temticas especficas que envolvam as problemticas propostas. Refletir, propor e consolidar categorias jurdicas que permitam qualificar a interveno dos graduandos em sua realidade prtica acerca das temticas desenvolvidas.

    Inter-relao da Disciplina Horizontal: A disciplina de Histria do Direito de extrema relevncia por dar nfase ao aspecto prtico, acentuando que o conhecimento desse direito no s necessrio, seno indispensvel para a perfeita inteligncia de nossa legislao civil, posto que, para interpretar e aplicar realmente as leis de um povo, foroso conhecer os elementos que concorreram para a sua formao e a histria de sua origem.

    Vertical: Cincias Polticas, Economia aplicada ao Direito, Introduo Cincia do Direito, Sociologia aplicada ao Direito, Filosofia Aplicada ao Direito, Teoria da Constituio, Direito Constitucional e Direito Internacional, Direito Civil e Penal.

    Competncias Gerais Ampliar conhecimento das diversas manifestaes jurdicas nos diferentes perodos histricos, sejam elas na forma de legislao, doutrina, jurisprudncia ou outras fontes do direito; Conhecer correta utilizao da terminologia jurdica e da Cincia do Direito; Explorar a utilizao do raciocnio jurdico, de argumentao, de persuaso e de reflexo crtica e sensvel, bem como a capacidade metafrica e analgica; Ter possibilidade de uma boa reflexo histrica sobre o papel dos institutos jurdicos, para a fundamentao e tomada de decises; Compreender os fundamentos filosficos e tericos do Direito, mediante a experincia de diversos povos, dentre eles, os responsveis pela construo da identidade jurdica nacional, a partir de seus contextos histricos, possibilitando a articulao das experincias passadas das prticas jurdicas, com a aplicao imediata do direito no presente.

    Competncias Especficas

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  • Misso: "Oferecer oportunidades de educao, contribuindo para a formao de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento tico e visando ao desenvolvimento regional.

    Formar uma boa percepo histrica sobre os fenmenos jurdicos, a fim de dominar tecnologias e mtodos alternativos, para permanente compreenso e aplicao do direito. Fornecer as ferramentas e os recursos conceituais e intelectuais, para compreenso dos fundamentos filosficos e tericos do Direito e seus princpios norteadores, para a sua articulao com sua aplicao prtica.

    Habilidades Gerais Promover iniciativas de pesquisa da legislao, da doutrina e da jurisprudncia e das outras fontes do direito, com um interesse histrico e tcnico-investigativo e humanstico; Discutir acerca da melhor utilizao da terminologia jurdica e da Cincia do Direito; Instigar o raciocnio filosfico e jurdico, onde ser necessrio criar e resolver situaes, em que seja necessria a argumentao e a persuaso; Estimular a reflexo crtica e sensvel, bem como a capacidade metafrica e analgica; Habilitar para a fundamentao racional das tomadas de decises mediante o domnio de contedos histricos das normas jurdicas; Utilizar e dominar o uso das tecnologias e dos mtodos alternativos disponveis para permanente compreenso e aplicao do direito.

    Habilidades Especficas Fazer utilizao do raciocnio jurdico, de argumentao, de persuaso e de reflexo crtica e sensvel, bem como a capacidade metafrica e analgica, mediante a comparao de perodos histricos anteriores com a existncia hoje de institutos jurdicos tpicos de ordenamentos de civilizaes passadas.

    Contedo Programtico Programa:

    1. Aspectos tericos. 2. Sociedade e poltica na conformao do Direito na Antigidade. 2.1 Direito arcaico a sociedade seminmade e a religio: impacto no direito costumeiro; 2.2 Do direito costumeiro s primeiras codificaes na histria; 2.3. Instituies polticas e sociais na Grcia Antiga: um estudo de caso a cidade-estado de Atenas; 2.4. Instituies polticas e sociais na Roma Antiga: o impacto do regime poltico na evoluo histrica do Direito Romano.

    3. Retrocesso e recuperao: a gnese do direito europeu na Era Medieval; Sociedade e poltica na Idade Mdia.

    4. Direito Moderno Europeu. 4.1. Estado Moderno: o renascimento cultural, o capitalismo mercantil e a formao do direito moderno. 4.2. Estado Portugus: impactos no Brasil. 4.3. Do Estado Absolutista ao Estado Liberal-Burgus: o papel do jusnaturalismo no Direito.

    5. Direito Contemporneo. 5.1. Estado Liberal e impactos no Direito Brasileiro. 5.2. Estado Social e impacto nas instituies polticas e jurdicas do Brasil. 5.3. O Estado Democrtico de Direito e a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988.

    6. Tpicos atuais. 6.1. Globalizao e crise. 6.2. O dilema entre a poltica e o direito.

    Estratgias de Ensino e Aprendizagem (metodologias de sala de aula) Aulas expositivas dialgico-dialticas. Trabalhos individuais e em grupo e preparao de seminrios. Leituras e fichamentos dirigidos. Elaborao de dissertaes, resenhas e notas de sntese. Utilizao de recurso udio-Visual.

    Avaliao do Processo de Ensino e Aprendizagem A avaliao do processo de ensino e aprendizagem deve ser realizada de forma contnua, cumulativa e sistemtica com o objetivo de diagnosticar a situao da aprendizagem de cada aluno, em relao programao curricular. Funes bsicas: informar sobre o domnio da aprendizagem, indicar os efeitos da metodologia utilizada, revelar conseqncias da atuao docente, informar sobre a adequabilidade de currculos e programas, realizar feedback dos objetivos e planejamentos elaborados, etc.

    Para cada avaliao o professor determinar a(s) formas de avaliao podendo ser de duas formas:

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  • Misso: "Oferecer oportunidades de educao, contribuindo para a formao de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento tico e visando ao desenvolvimento regional.

    1 Avaliao Peso 8,0 (oito): Prova; Peso 2,0 (dois): Trabalho. 2 Avaliao: Peso 8,0 (oito): Prova; Peso 2,0 (dois): referente ao Sistema de Provas Eletrnicas SPE (mdia ponderada das trs provas do SPE)

    Avaliao Somativa A aferio do rendimento escolar de cada disciplina feita atravs de notas inteiras de zero a dez, permitindo-se a frao de 5 dcimos. O aproveitamento escolar avaliado pelo acompanhamento contnuo do aluno e dos resultados por ele obtidos nas provas, trabalhos, exerccios escolares e outros, e caso necessrio, nas provas substitutivas. Dentre os trabalhos escolares de aplicao, h pelo menos uma avaliao escrita em cada disciplina no bimestre.

    O professor pode submeter os alunos a diversas formas de avaliaes, tais como: projetos, seminrios, pesquisas bibliogrficas e de campo, relatrios, cujos resultados podem culminar com atribuio de uma nota representativa de cada avaliao bimestral. Em qualquer disciplina, os alunos que obtiverem mdia semestral de aprovao igual ou superior a sete (7,0) e freqncia igual ou superior a setenta e cinco por cento (75%) so considerados aprovados. Aps cada semestre, e nos termos do calendrio escolar, o aluno poder requerer junto Secretaria-Geral, no prazo fixado e a ttulo de recuperao, a realizao de uma prova substitutiva, por disciplina, a fim de substituir uma das mdias mensais anteriores, ou a que no tenha sido avaliado, e no qual obtiverem como mdia final de aprovao igual ou superior a cinco (5,0).

    Sistema de Acompanhamento para a Recuperao da Aprendizagem Sero utilizados como Sistema de Acompanhamento e Nivelamento da turma os Plantes Tira-Dvidas que so realizados sempre antes de iniciar a disciplina, das 18h00min s 18h50min, na sala de aula.

    Recursos Necessrios Humanos

    Professor. Fsicos

    Laboratrios, visitas tcnicas, etc. Materiais

    Recursos Multimdia.

    Bibliografia Bsica

    SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mo de Alice: O social e o poltico na ps-modernidade. So Paulo: Cortez, 2003. WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de histria do direito. Belo Horizonte: Delrey, 2003. COULANGES, Fustel de. A Cidade antiga. So Paulo: Hemos, 1975. LOPES, Jos Reinaldo de Lima. O direito na histria: lies introdutrias. Max Limonad, 2002. CAENEGEM, R. C. Van. Uma introduo histrica ao direito privado. So Paulo: Martins Fontes,1995.

    Complementar

    GILISSEN, John. Introduo histrica ao Direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. VENANCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao Bacharelismo. So Paulo: Perspectiva, 1982. SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e sociedade no Brasil colonial. So Paulo: Perspectiva, 1979. WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Histria do direito no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2005. SZMRECSNYI, Tams. Histria econmica da independncia e do imprio. Hucitec, 2002.

    Adicional: PINSKY, Jaime. Histria da cidadania. Contexto, 2003. COUTINHO, Carlos Nelson (org.). Historia das idias polticas. Jorge Zahar, 2000.

    Peridicos

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  • Misso: "Oferecer oportunidades de educao, contribuindo para a formao de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento tico e visando ao desenvolvimento regional.

    Jornais: Zero Hora, Folha de So Paulo, Gazeta do Sul, entre outros. Jornais eletrnicos: Clarn (Argentina); El Pas (Espanha); El Pas (Uruguai); Le Monde (Frana); Le Monde Diplomatique (Frana). Revistas: Revista Brasileira de Histria, Veja, Isto , entre outras.

    Sites para Consulta www.scielo.br www.tj.rs.gov.br www.trf4.gov.br www.senado.gov.br www.stf.gov.br www.stj.gov.br www.ihj.org.br www.oab-rs.org.br

    Outras Informaes Endereo eletrnico de acesso pgina do PHL para consulta ao acervo da biblioteca: http://192.168.1.201/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl.xis&cipar=phl8.cip&lang=por

    Cronograma de Atividades

    Aula Consolidao Avaliao Contedo Procedimentos Recursos

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    Legenda Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Cdigo Descrio Cdigo Descrio Cdigo Descrio AE Aula expositiva AE Aula expositiva AE Aula expositiva TG Trabalho em

    grupo TG Trabalho em grupo TG Trabalho em grupo

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    TI Trabalho individual

    TI Trabalho individual TI Trabalho individual

    SE Seminrio SE Seminrio SE Seminrio

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  • Misso: "Oferecer oportunidades de educao, contribuindo para a formao de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento tico e visando ao desenvolvimento regional.

    Cronograma de Atividades

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    Legenda Cdigo Descrio Cdigo Descrio Cdigo Descrio AE Aula expositiva QG Quadro verde e giz LB Laboratrio de informtica TG Trabalho em grupo RE Retroprojetor PS Projetor de slides TI Trabalho individual VI Videocassete AP Apostila SE Seminrio DS Data Show OU Outros PA Palestra FC Flipchart

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  • HISTRIA APLICADA AO DIREITO Profa. Janana Machado Sturza

    2010/02

    O DIREITO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS

    Cada sociedade possui aspectos dos mais variados tipos, diferentes regras que regem sua conduta, com o objetivo de manter a ordem social, implementam instrumentos eficazes para que isso ocorra. Esse instrumento a Lei, norma jurdica que garante a convivncia social humana.

    As organizaes possuem leis diferentes, que explica a evoluo de cada povo, ao falar em Direito nas sociedades primitivas, precisa falar dos primeiros textos jurdicos, que surgiram junto com as primeiras escritas, porm no perodo Pr Histrico h falta de respostas no surgimento das instrues jurdicas.

    No possui direito em povos que possuem forma de organizao social sem conhecimento da escrita, sendo que ainda hoje existem civilizaes que continuam a viver com o direito arcaico, e a Cammon Law gerou um surto de pluralismo poltico.

    O Direito Arcaico pode ser interpretado a partir da compreenso do tipo de sociedade que o gerou, o Direito antigo no resultante de uma pessoa, pois se imps a qualquer tipo de legislador, nascendo inteiramente nos antigos princpios da famlia, porm quando no havia legislao era falta oralmente marcada por revelaes sagradas e divinas, os primeiros interpretes e executores das leis foram os Sacerdotes, o Direito era respeitado religiosamente, os Sacerdotes explicavam que tinham recebido essas leis dos deuses, o ilcito se confundia com a quebra da tradio. As sanes legais eram associadas sano ritual, possuindo carter repressivo e restritivo.

    No Direito Arcaico destaca-se pelas formas repetidas no priorizando o contedo, as formas eram atos simblicos, os efeitos jurdicos eram feitos por atos envolvidos pela magia das palavras e de muito ritualismo. O Direito primitivo tem trs grandes estgios de evoluo: O Direito que provem dos deuses, o direito combinado com costumes e o direito identificado com a lei, bem como expressos na vontade divina.

    Houve perodos em que no se conhece a inveno da escrita, a investida no poder judicial era o nico meio de existir rigor aos costumes das tribos. A diferenciao do Direito nos dois hemisfrios no se diferenciava na essncia, somente foi avanar quando comeava a distino entre o Direito moral e o Direito Religioso, sendo os

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  • Romanos os que mais contribuam para o avano e o aumento das obrigaes, e os deveres caracterizando Direito Legislativo e Formal.

    O Direito Primitivo no era legislado, cada organizao possua seu Direito nico, cada comunidade tinha sua prpria regra, vivendo com autonomia, possuindo uma grande diversidade dos direitos no escritos. A religio tem influncia muito grande e dificulta a distino entre o que preceito sobrenatural e natureza jurdica.

    Por falta de conhecimento as regras podem variar, assumindo em carter jurdico garantindo o cumprimento, as fontes jurdicas so povos, existindo costumes e preceitos verbais, a religio por ter muita influncia na religio e na sociedade aparece como fenmeno quando dificulta a distino entre os preceitos sobrenaturais e o preceito de natureza jurdica.

    Cada cultura humana desenvolve obrigaes, proibies e leis, que devem ser cumpridas por diversos motivos, a base do direito primitivo est na imposio rgida dos costumes para efeitos de investigao, ainda se produz a criminalidade para as formas de castigo e as recomposies da ordem, acabam tratando igualmente tendo a reciprocidade como base da estrutura social.

    A lei primitiva no se reduz to somente a imposio, divergindo de vrios antroplogos surge afirmao que no existia Direito Civil, aceito e respeitado contrariando teses recm formadas. A Lei Civil no negativa quando todo descumprimento gera castigo, mas positivo, quando da recompensa dos que cumprem respeitam a convivncia. O Direito no funciona por si mesmo, um aspecto da vida tribal, socialmente completo em si mesmo.

    Toda Lei expresso de dos prprios costumes, afirmando existir um Direito Civil por impor obedincias ao homem primitivo, esses por necessidades sociais. A funo do Direito limitar certas inclinaes comuns, canalizar e dirigir extintos humanos e impor uma conduta obrigatria no espontnea, distinguindo das imposies religiosas e foras naturais, sendo elemento que controla a vida, protegendo a vida, a propriedade e a personalidade.

    No havendo sano religiosa e castigo penal, preciso buscar na concatenao das obrigaes o cumprimento dessas regras de Direito Civil, procedendo da tendncia psicolgica, interesse pessoal, o Direito no exercido de forma arbitrria e sim feito com regras bem definidas e dispostas em cadeia de servio.

    O Direito Matrimonial destaque, com fundamento essencial dos costumes das instituies, sendo que os privilgios seguem o desejo da linha materna.

    O Direito Primitivo passou por uma lgica progresso constituda pela comunho de grupos, no comprovando se a legalidade acompanhou e refletiu estgios das

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  • sociedades, bem como se o matriarcado ocorreu. Sendo que o Direito Civil no poderia ter sido violado, tambm seria objeto de consenso sendo mais respeitado na sociedade moderna.

    DIREITO E SOCIEDADE NO ORIENTE ANTIGO: MESOPOTMIA E EGITO

    A descrio do texto jurdico e as instituies judiciais no podem mostra o verdadeiro significado das manifestaes do Direito que surgem ao longo do tempo. No existe direito fora da sociedade e nem sociedade fora do direito. A cartografia das formas da sociedade e a percepo de fenmenos jurdicos so as duas dimenses do historiador. O Direito Arcaico, Antigo e Moderno marcam as trs manifestaes do direito. A Mesopotmia e o Egito so os primeiros modelos de Direito Antigo. Os fatores histricos como surgimento das cidades, inveno, domnio da escrita e o advento do comrcio marcam as formas Arcaicas.

    A Cidade como lugar cvico e satisfao do homem superam qualquer concepo da origem das cidades e considera o agrupamento humano como primeira manifestao da identidade do prprio homem em relao aos outros seres vivos.

    A ideia de Cidade torna-se capaz a partir da organizao do homem em aldeias. A Mesopotmia teve sua formao lenta. A Tripalite era a estrutura que desses grupos, cercada de muralhas, local onde casas, plantaes e animais se misturavam e os estrangeiros se instalavam no porto fluvial.

    A escrita possui grande ligao com o surgimento das Cidades, a Mesopotmia que se faz a primeira escrita, com mais sinais e aspectos ideogrficos e fonticos.

    O comeo fundamental na consolidao das civilizaes da Mesopotmia e do Egito, a diviso de trabalho, a criao de uma camada de comerciantes e a atribuio de valor e bens marca a origem do comrcio e o homem deixa de ser o senhor do processo de produo identificando o rico e o pobre.

    Cidade, Escrita e Comrcio representam uma sociedade fechada organizada em tribos, com pouca diferenciao de papeis sociais, por aspectos msticos e religiosos, que ao longo do tempo constroi uma sociedade urbana aberta a trocas de materiais e experincias polticas que demandar a criao do novo Direito. A nova sociedade, suas primeiras manifestaes ocorrem na Mesopotmia e Egito, bem como os primeiros textos hierglifos, que a urbanizao d-se de forma gradual, na Mesopotmia, porm, h um lapso de tempo.

    As duas regies tinham vantagem sobre as demais localidades do Oriente Mdio devido as suas bacias hidrogrficas onde ali formaram suas civilizaes em torno do rio

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  • Tigre, Nilo e Eufrates, lugar de solo propcio agricultura e navegao fluvial para transporte de mercadorias, contribuindo para um rpido e avanado crescimento poltico e econmico.

    A crena e mentalidades so notadas de forma muito forte nesses povos, no perodo de cheia do Nilo que previsto, por serem um povo Politesta, comum a ligao entre as divindades e fenmenos da natureza, sendo associada a um rito de imortalidade, possibilitando um ciclo natural de vida.

    Na Mesopotmia, no pode surgir Cidades devido cheia e recuo das guas, ventos cortantes e vrias alteraes climticas e no Egito os rios tens comportamento diferentes.

    A Monarquia marca a organizao poltica das civilizaes. A, fragmentao/unidade no Poder Poltico uma diferena das Civilizaes. Com a unificao no Egito nos dois hemisfrios, forma-se uma nova Monarquia, unificada com poder definido pelo Fara, h vrios perodos de instabilidade interna. A Mesopotmia optou pela criao das Cidades designadas Cidade/ Estado, com independncia e seu governante e divindades prprias, as Cidades tambm se distinguiam pelo papel conferido aos soberanos. O comportamento das guas dos rios tem papel central nas civilizaes.

    A utilizao do solo para plantio e o crescente emprego de navegao como meio de transporte de mercadorias so aspectos fundamentais no aspecto da economia. As cidades da Mesopotmia dependiam do comrcio mais que as do Egito porque no Egito tem ouro, cobre e na Mesopotmia somente o solo frtil.

    Hoje no Oriente a histria baseia na arqueologia para aprofundar o Direito deste povo. O Direito Arcaico produz efeitos nessas civilizaes. A Justia nesses povos identifica a vontade dos deuses. A configurao do Direito reflete o Estado de maturidade da poca, na tradio que o cdigo encontra fundamentos.

    Com a queda do imprio acabou com a hegemonia sumria, surgindo o primeiro escrito da histria do direito.

    A estrutura desses cdigos descrita como meo termo entre o Direito entre o Direito fortemente concreto das sociedades arcaicas e as formas abstratas e gerais do Direito Moderno. O cdigo traz que existem duas grandes classes de povos, os homens livres e os escravos, funcionrios que servem os palcios, as formas ligam-se ao Direito Penal, nesse sentido surgem ainda cdigos novos, contendo artigos moral, civil e penal.

    A organizao da sociedade, o Direito de Famlia, o domnio econmico, o Direito Penal e o Direito Civil so os termos que compem o Cdigo.

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  • O processo de aplicao do Direito d-se atravs de documentos escritos que produzem decises judiciais tomadas em casos concretos. Ao lado da justia das cidades existe uma justia real e os representantes nomeados pelo rei.

    Nenhum texto legal do perodo do Egito chegou ao conhecimento do homem moderno. A aplicao do Direito est subordinada a indecncia de um critrio divino de justia. Os crescimentos do sistema jurdico na Mesopotmia e no Egito atribuem destaque na evoluo do Direito, descobrindo a herana da civilizao do Oriente, no se podendo mais iniciar o estudo dos textos sem passar pela experincia mesopotmica e egpcia.

    REFERNCIAS

    SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mo de Alice: O social e o poltico na ps-modernidade. So Paulo: Cortez, 2003. GILISSEN, John. Introduo histrica ao Direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de histria do direito. Belo Horizonte: Delrey, 2003. COULANGES, Fustel de. A Cidade antiga. So Paulo: Hemos, 1975. LOPES, Jos Reinaldo de Lima. O direito na histria: lies introdutrias. Max Limonad, 2002.

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  • HISTRIA APLICADA AO DIREITO Profa. Janana Machado Sturza

    2010/02

    O DIREITO GREGO ANTIGO: A ESCRITA GREGA; A LEI GREGA ESCRITA COMO INSTRUMENTO DE PODER; O DIREITO GREGO ANTIGO; AS INSTITUIES GREGAS

    O Perodo Arcaico, o Clssico, o Romano marcam a Grcia antiga. A polis que marca o incio do Estudo Grego s termina quando surge o Reino Helenstico chamado Arcaico onde tem incio os primeiros jogos olmpicos e a batalha da Salamina. O Direito se desenvolveu de forma melhor e mais democrtica em Atenas, seu processo e legislao avanaram de forma expressiva, mesmo com a polis fornecendo mais informaes. No se pode falar em Direito Grego como sistema nico que abrange toda a polis, preciso diferenciar o Direito Grego do Direito Ateniense. A colonizao junto com as inovaes e criaes marca o perodo Arcaico. Os fenmenos climticos misturados a grande quantidade de pessoas, so fatores que determinavam que a polis transferisse de lugar as pessoas mandando para lugares distantes, e estas vinham a fundar uma colnia, fazendo com que os Gregos se espalhassem pelo Mediterrneo.

    O comrcio tornou-se atividade econmica, o que estimulou indstria devido aos gregos se espalhar e fazerem contatos com outras pessoas e fundarem as colnias, pois estas precisavam fazer trocas de mercadorias. O aumento naval com as Trirremes, o armamento terrestre com os hoplitas, o cavalo montado, a moeda e o alfabeto foram algumas inovaes do perodo Arcaico.

    A hoplitia foi uma transformao de ttica militar que permitiu o maior nmero de pessoas ao poder militar, a moeda foi adotada pelos gregos para o desenvolvimento do comrcio e acumulo de riquezas, fazendo com que a aristocracia perdesse o poder econmico. A escrita surge como tecnologia permitindo que em muros fossem divulgadas as leis, fazendo com que a aristocracia perdesse o monoplio da justia.

    O primeiro cdigo de leis de Atenas foi fornecido por Drcon, suas leis eram severas e aconteceu a introduo ao Direito Penal, diversificando os diferentes tipos de homicdios que foi mantido por Slon, julgado nos tribunais. J Slon, altera o cdigo de Drcon e cria nova legislao, criando tambm uma reforma econmica e social,

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  • reorganiza a agricultura com o cultivo de oliveira e vinhas, obrigava tambm os pais a ensinarem o ofcio a seus filhos e os filhos teriam que cuid-los quando ficassem velhos.

    Surgem tambm os Tiranos, que nessa poca no tinham significado pejorativo, nesse perodo que surge a moeda com a figura da deusa que protege a cidade que a coruja, os Tiranos, porm no destituem e mantm as leis que Slon havia criado.

    A Assemblia, o Conselho dos Quinhentos, e os Tribunais da Heliaia, so as principais instituies gregas que se consolidam no perodo chamado guerras Prsicas, quando so conquistadas vrias vitrias, a vitria em Maratona, vitria naval de Salamina e a remunerao de quem estivesse trabalhando h mais tempo para polis, esse perodo fica conhecido como era clssica da Grcia, a Assemblia do Povo era a principal instituio, onde as decises eram tomadas.

    O Direito Grego foi por muito tempo uma disciplina deserdada porque na maioria das vezes foi estudado por filsofos e romancistas que eram fechados e mantinham sua categoria tradicional. J a escrita grega surgiu ao longo da histria da civilizao grega, nem sempre a escrita foi tratada como lngua, porm a escrita era instrumento idealizado para execuo de tarefa, e quando surge dentro de uma sociedade conhecida como tecnologia, e sempre posterior a expresso oral, pois existem povos em que a lngua falada no escrita.

    O Direito tem uma ntima ligao com a escrita, pois no existe sistema jurdico sem escrita, esto tambm relacionados com a tecnologia e nos meios de escrita possibilitam produzir e divulgar as leis. O Direito na Sociedade humana surge como modelo composto de trs estgios.

    A Sociedade pr-legal, que no tem procedimento para lidar com as disputas que aparecem, no podendo ficar nesse sistema por muito tempo, pois cresce o nmero de pessoas e h necessidade de disputas. A Sociedade proto-legal, que exigem regras para se administrar disputas, no havendo distino de regras e leis e existe tambm a Sociedade legal, esta igual aos dias de hoje, onde atos desvirtuados deveriam sofrer punies, sendo que a lei rege esse tipo de sociedade. Foi na civilizao Miscenica, que a Grcia conheceu uma srie de dialetos. Aps a destruio da civilizao Miscenica os gregos alm de ignorar a arte da escrita adotaram o alfabeto semtico. Perodos depois, os gregos contriburam na criao das vogais.

    A transferncia do alfabeto silabrio para o fontico criando smbolo para as vogais fez com que se gerasse um mal estar, pois estaria se afirmando que a escrita seria uma transcrio da fala sendo que a escrita um modelo para a prpria fala, ler e escrever significa ouvir e pensar.

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  • A recusa do grego em aceitar a profissionalizao do Direito e a Figura do Advogado e a de que preferia falar ao invs de escrever so caractersticas bem particulares da civilizao grega, mesmo que tenha sido o bero da democracia, filosofia, do teatro e da escrita fontica e alfabtica. Os primeiros escritos de Plato so na forma de dilogo, as discusses, pessoas e fatos reais marcam suas ideias filosficas.

    Uma informao importante que os gregos preferiam a fala ao invs da escrita, e tiveram acesso ao papiro por volta do sculo VII, j o grego comum escrevia em qualquer lugar ou coisa, mais tarde surgiu o pergaminho devido a proibio de exportao do papiro, no entanto houve o surgimento do cdex, escrita dos dois lados em forma de rolo, sendo a mais importante revoluo do livro, que foi dominado no incio do primeiro sculo de nossa era.

    Devido ao trmino do perodo Micnico os gregos estavam sem leis, no possuam leis escritas e esta somente foi reaprendida mais tarde, sendo que o uso dessa nova arte foi a inscrio pblica das leis, que gerou opinies contrrias, pois se afirma que o povo grego comeou a exigir leis escritas para melhor assegurar a justia perante aos juzes, foi um desejo de colocar limites no exerccio do poder por aqueles que detinham autoridade, com o objetivo de que o contedo no poderia somente ficar sob controle de alguns grupos, devendo coloc-las em lugar de acesso e visvel, defendendo a tese que o pobre e o rico tm justia igual.

    Outro fator foi que antes dos legisladores as leis estavam sob controle de grupos da sociedade, de uma forma controlar o processo judicial e outra ter o controle do conhecimento, existindo uma queixa da forma que aplicavam as leis no existindo nenhuma confirmao de que as leis escritas eram mais justas de que as anteriores.

    Uma diferente viso versava sobre a utilizao da escrita pela polis, cidade, como instrumento de poder sobre o povo, as leis escritas no colocaram em xeque nem limitaram o poder dos governantes e magistrados, o poder poltico continuava intocvel mesmo sendo limitado o poder dos governantes. Fortalecer e controlar o grupo que dominava a cidade e beneficiar a polis, essas foram s causas da reforma introduzida, e foi Slon quem teve as primeiras iniciativas de democratizao.

    A transio do grande reino Micnico para uma proporo menor formado pelas cidades independentes, isso foi o argumento que foi utilizado quando do colapso da cultura Micnica. Com o aumento da populao passou a existir necessidades de maior controle pela vida de seus habitantes, aumentando as oportunidades de conflitos e meio de soluo, e como resposta aos conflitos buscaram na lei escrita uma forma de controle, as leis de Slon mesmo sendo mais democrticas aumentaram o controle da cidade sobre a vida dos seus habitantes.

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  • O processo de jurisdio em substituio a autotutela d-se na medida em que a justia privada cede lugar a justia pblica que o Estado impe para resoluo dos conflitos, a atividade de mediante a qual os juzes estatais examinam as pretenses e resolvem o conflito d-se o nome de Jurisdio, as primeiras leis no fortaleceram as formas de governo, e alcanaram a eficincia do Sistema Judicirio,apoiando todos os grupos.

    As cidades gregas comearam a aumentar seu poder de custo devido s famlias, conforme cresciam viam a necessidade de mais leis, para impor ordem na vida de seus cidados, essas leis para o interesse de todas. As leis escritas em muros demonstravam o poder da cidade sobre o povo, com a criao de novas leis ela se tornou operador de publicidade, mais tarde forma escritas na pedra, mais afirmando do que informando, afirmando a vontade de agir e transformar a vida pblica, de impor novas prticas na sociedade para que seja feita a vontade da maioria.

    Os gregos estabeleceram suas leis codificadas e oficiais somente no meio do sculo VII a.C, antes atravessou um perodo denominado era das trevas, no possuindo leis e nem sistemas de punio. As fontes literrias e as fontes epigrficas so as duas formas das leis escritas, a primeira publica documentos em madeira, bronze, pedra, e as literrias em discursos e monografias. Eles tambm no elaboravam tratados sobre o direito, apenas legislavam e administravam a justia na resoluo de conflitos, as escritas somente poderiam chegar aos dias de hoje devido reproduo das originas, muitas escritas foram feitas e muitas foram perdidas.

    A classificao das leis gregas pode ser definida como famlia, pblica e processual, havia uma categoria denominada por crimes e inclui o homicdio voluntrio e involuntrio, incluem tambm a lei de penalidades para ofensa, assalto, estupro, roubo e tambm para difamao e calnia, e nas leis classificadas como famlia esto as leis de casamento, sucesso, herana, adoo, legitimidade de filhos e escravos. A informao mais abundante, as leis pblicas por sua vez regulam as atividades e deveres polticos dos cidados, atividades religiosas, econmicas, vendas, finanas, e o processo legislativo, nesse sentido h distino entre a lei substantiva e processual, enquanto a lei substantiva prpria e a justia a busca a outra regula a conduta das relaes dos tribunais.

    Os gregos do importncia a parte processual ao se referir as trs reformas populares de Slon que afirma: primeiro e mais importante dar emprstimo incidindo sobre as pessoas, o prximo a quem se dispusesse de reclamar reparao aos injustiados e a ltima o direito de apelo aos tribunais, essas medidas foram citadas por

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  • Aristteles, as duas ltimas relacionadas com o funcionamento do processo legal de Atenas e a primeira da lei econmica, social, lei pblica.

    A Arbitragem Privada e a Pblica significa o quanto era evoludo o direito processual grego, a Privada era a mais fcil, pois era realizada fora do tribunal e os rbitros eram escolhidos entre as pessoas de confiana, estes no emitiam julgamentos, mas queriam um acordo, j por outro lado na Pblica o rbitro era designado pelo Magistrado para emitir julgamento, embora esses fatores no estabelecessem diferenas a ao pblica podia ser iniciada por qualquer cidado que se sentisse prejudicado pelo Estado, e a Privada era um debate judicirio entre dois litigantes, reivindicando direitos de contestar a ao e somente as partes envolvidas podiam iniciar a ao. Assassinato, perjrio, propriedade, assalto, ao envolvendo violncia sexual, ilegalidade e roubo so exemplos de aes privadas, aes pblicas, algum que se recusa a prestar contas, por impiedade, contra oficial por aceitar suborno, contra estrangeiro pretendendo ser cidado, contra quem props um decreto ilegal, por registrar falsamente algum so exemplos de aes pblicas.

    No h magistrado que inicie um processo, no h Ministrio Pblico que sustente a causa da sociedade, em princpio cabe a cada pessoa lesada ou seu representante legal intentar o processo, fazer a citao, tomar a palavra na audincia sem auxlio do advogado, essas so as principais caractersticas do individualismo grego aplicado ao direito. Na lei Ateniense no havia advogado, juiz, promotores, a lei era retrica, com essas afirmaes possvel concluir que os gregos no influenciaram as sociedades subseqentes em relao ao direito. possvel afirmar que os gregos conservam o direito nas mos dos amadores, pois na Inglaterra a lei muito cara, j em Atenas o objetivo permanecer barata e rpida, os julgamentos eram feitos em um dia, no tendo advogado profissional, o presidente da corte no era um profissional, mas era remunerado e sorteado.

    O direito a um julgamento por um jri formado por cidados comuns comumente visto nos estados modernos como parte fundamental da democracia, sendo uma inveno em Atenas, nessa parte processual que se encontra a retrica da persuaso.

    Os tribunais formados por cidados era atividade do dia-a-dia das cidades gregas, na sociedade moderna a administrao da justia est nas mos dos juzes, j na sociedade clssica a situao era contrria, existindo um tribunal popular onde se julgava todas as causas pblicas e privadas com exceo de crimes de sangue, sendo os componentes sorteados, que recebiam um salrio por cada julgamento.

    Os litigantes apresentavam seus prprios casos aos jurados com a ajuda de um parente ou associado, os casos eram normais e perfunctrios, os loggrafos (escritores

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  • profissionais que escreviam os discursos forenses e tinham familiaridade com as leis e o processo) afirmam que os clientes deveriam dizer que eram de sua autoria, faziam o discurso parecer o mais natural para parecer o mais extemporneo. A retrica dos loggrafos era o mais eficaz meio de persuaso sendo uma grande fonte do direito antigo. A Judiciria Deliberativa e Epidtica so consideradas retricas, a Judiciria visava o jri e tratava eventos passados, hoje retrica so os discursos pomposos, no passado retrica quer dizer orador arte de dizer. Predecessores e Contemporneos de Demstenes so os dois grupos de loggrafos. A Sicofanta parte do sistema processual que estimula qualquer cidado grego a iniciar uma ao pblica, o estimulo dado por meio de leis que concedem percentuais pagos ao acusador sobre a quantia que o acusador deveria pagar ao estado principalmente quando de reembolso, os Sicofantas uma classe temida e odiada e muito criticada.

    As Instituies gregas, principalmente as de Atenas podem ser classificadas em instituies polticas de governo da cidade e os tribunais so instituies relativas administrao da justia.

    No governo da cidade tem-se, a Assemblia do povo que era composta por cidados com mais de 20 anos e com posse de seus direitos polticos, na gora dificilmente conseguia se reunir mais de 6 mil pessoas dentre uma populao de 300 mil, a Assemblia constitua-se no rgo de maior autoridade com atribuies legislativas, executivas e judicirias, competiam-lhe as funes de relaes exteriores, o poder legislativo, a parte poltica do poder judicirio e o controle do poder executivo, conferindo a nomeao e fiscalizao do judicirio.

    Tambm o Conselho faz parte do governo da cidade, composto por 500 pessoas, com idade acima de 30 anos e escolhidos por sorteio a partir de candidatura prvia com renovao todos os anos, estes eram submetidos a exame moral prvio pelos antigos conselheiros e a prestao de contas no final de sua atividade, a atividade do conselho exigia dedicao total durante 1 ano e mesmo que fosse paga, no era suficiente para um ateniense de pouca renda se dedicar a tal atividade. Por meio da Assemblia, o povo era soberano, mesmo encontrando dificuldades para exercer, no podendo ficar somente para preparar textos e decretos para discusso e votao e nem se tinha a certeza que os projetos seriam aprovados, tinham que fiscalizar a administrao pblica e negociar com estados estrangeiros e receber seus representantes; o papel do conselho era auxiliar a Assemblia e aliviar das atividades que exigiam dedicao total, as principais atividades eram preparar os projetos para encaminhar a Assemblia, controlar os tesoureiros, fazer a prestao de contas dos magistrados, receberem os embaixadores, investigarem as acusaes de alta traio e examinar os futuros conselheiros e magistrados. Os Prtanes

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  • eram a Comisso permanente do Conselho, os 500 membros do conselho eram organizados em 10 grupos de 50 representando as tribos, seu presidente era o epistats escolhido por sorteio uma vez somente, era o guardio das chaves dos templos onde ficavam os tesouros e arquivos, eles eram os elos, entre o conselho, a Assemblia, os cidados e os embaixadores.

    Os estrategeos tambm faziam parte do Governo da cidade e foram institudos em 501 a.C. em nmero de dez, sendo eleitos pela Assemblia, e podendo ser reeleitos indefinidamente, sendo cidados natos e casados legitimamente, tendo que ao fim das atividades prestarem contas. Tinham como atividades principais o comando do exrcito, distribuio do imposto de guerra, dirigir a poltica de Atenas e a defesa nacional.

    A ltima instituio eram os magistrados, sorteados dentre os candidatos eleitos, renovados anualmente e no podiam ser reeleitos, os atenienses tinham vrios tipos de magistraturas, quase sempre agrupadas em forma de colegiado em nmero de dez. Os demais magistrados conhecidos ocupavam-se em executar as sentenas de morte, inspecionar os mercados, os sistemas de gua, de medidas e atividades relacionadas administrao municipal.

    A organizao das instituies pblicas era feita da seguinte forma: O Conselho: examina, prepara as leis, controla; j a Assemblia: delibera, decide, elege e julga. Os Estrategos: administram a guerra, distribuiam os impostos - dirigem a poltica e os Magistrados: instruem os processos, ocupam-se dos cultos, e exercem as funes municipais.

    Sempre coube ao Estado o papel de administrador da justia, como detentor da soberania, ao povo, e somente a ele cabia administrar a justia e resolver os conflitos, as administraes atenienses para administrao da justia podem ser chamadas de justia criminal e justia civil.

    Na justia criminal o Arepago era o tribunal mais antigo, institudo pela deusa Atena para julgar Orestes. Era um tribunal Aristocrtico com poderes tanto na corte da justia como no conselho poltico, teve seus poderes esvaziados com as reformas perdendo atribuies polticas e somente julgava casos de homicdios voluntrios, de incndio e de envenenamento, tendo como seus membros os ex arcontes. O Pritaneu, o Paldio, o Delfnio e o Fretis compem o tribunal de Efetas, composto por cinqenta e uma pessoas com mais de 50 anos. O Arepago enviava a esses tribunais os casos de homicdio involuntrios ou desculpveis.

    No entanto na justia civil, os juzes dos demos, em nmero de 30 e mais tarde de 40, escolhidos por sorteio, percorriam os demos e resolviam de forma rpida os litgios que no ultrapassassem 10 dracmas (cerca de 20 dias de salrio), no caso de processos

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  • importantes cabia aos juzes dos demos a responsabilidade da investigao preliminar, facilitando a vida dos habitantes do campo, evitando que se dirigissem a cidade para solucionar seus litgios.

    Os rbitros podiam ser privados ou pblicos, os privados eram escolhidos pelos litigantes que mantinham o caso fora dos tribunais e tinham conhecimento pblico, era um rpido e econmico sistema para a soluo dos litgios, sempre procuravam uma soluo negociada sem apelao. Os rbitros pblicos eram escolhidos por sorteio com mais de 60 anos, o processo era mais rpido e menos custoso, mas a sentena era imposta pelo rbitro sem possibilidade de apelao.

    A heliaia foi a grande demonstrao de que o povo era soberano em matria judiciria, por ser um tribunal que permitia que a maior parte dos processos fosse julgada por grandes jris populares, os heliastas eram escolhidos anualmente por sorteio entre cidados com mais de 30 anos, era o tribunal onde a cidade se reunia para julgar, com o sistema que procurava dificultar as possibilidades de suborno aos jurados e era feito pela manh o primeiro sorteio para escolha dos jurados; se escolheria tambm o lugar podendo ser na gora ou no Odeon, os jurados chamavam-se dikastas.

    Finalmente, havia os juzes dos tribunais martimos (nautodikai), que se ocupavam dos assuntos concernentes ao comrcio e marinha mercante, alm das acusaes contra os estrangeiros que usurpavam o ttulo de cidado.

    Com relao ao Direito Grego, dois mitos tem se perpetuado na cultura que os gregos no eram fortes em direito e o da severidade das leis draconianas que tudo punia com a morte; o Direito grego uma das reas do direito que mais podemos garimpar, uma rica mina pouco explorada, alm disso, o desenvolvimento da escrita e a publicao de textos em material durvel, a obstinao dos gregos em no aceitar a profissionalizao do Direito so fatores que contriburam para o direito grego no ocupar a importncia que merece, devido forma que foi escrito em madeira, papiro e pedra poucos materiais sobraram para os demais estudiosos estudarem.

    Contrariamente, o Direito comeou a ser escrito na Grcia e logo aps veio o surgimento da escrita para que o povo tivesse acesso s leis; a escrita vista como meio de controle e persuaso, os gregos antigos no s tiveram um direito evoludo como influenciaram o Direito romano e os conceitos como jri, advogado, diferenciao de homicdio voluntrio e involuntrio, essa influncia no foi resultado do acaso, mas do fruto da atividade, do envolvimento e da genialidade do povo, que alm de ter se destacado na filosofia, nas artes e literatura, destacou-se tambm no Direito. Na histria de uma civilizao, a diferena reside naquilo que as geraes seguintes preservaram e transmitiram ou deixaram de fazer.

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  • REFERNCIAS

    Bsica: SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mo de Alice: O social e o poltico na ps-modernidade. So Paulo: Cortez, 2003. GILISSEN, John. Introduo histrica ao Direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de histria do direito. Belo Horizonte: Delrey, 2003. COULANGES, Fustel de. A Cidade antiga. So Paulo: Hemos, 1975. LOPES, Jos Reinaldo de Lima. O direito na histria: lies introdutrias. Max Limonad, 2002.

    Complementar: VENANCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao Bacharelismo. So Paulo: Perspectiva, 1982. SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e sociedade no Brasil colonial. So Paulo: Perspectiva, 1979. CAENEGEM, R. C. Van. Uma introduo histrica ao direito privado. So Paulo: Martins Fontes,1995. WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Histria do direito no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2005. SZMRECSNYI, Tams. Histria econmica da independncia e do imprio. Hucitec, 2002.

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  • HISTRIA APLICADA AO DIREITO Profa. Janana Machado Sturza

    2010/02

    A INSTITUIO DA FAMLIA EM A CIDADE ANTIGA Tem como objetivo o estudo das velhas crenas das sociedades antigas e suas

    implicaes no que tange s regras e princpios que balizavam a sociedade e a famlia na Antiguidade clssica, tendo por objeto anlise dos costumes gregos e romanos, seguindo a orientao de Fustel de Coulanges em sua obra A cidade antiga.

    A famlia romana e grega trazia um tipo de organizao poltica baseada na autoridade do Pater Famlias que era o chefe, o sacerdote e o juiz poltico e abrangendo a todos quantos a ela se submetiam. Instituda em crenas religiosas primitivas, as famlias gregas e romanas estabeleceram as relaes de casamento, a autoridade paterna, determinao de linha de parentesco, o direito a propriedade e de sucesso fundamentadas na unio familiar. Fustel de Coulanges demonstra que a construo social e jurdica da cidade antiga baseava-se na religio primitiva e esta estava assentada nas crenas primitivas tendo a famlia com centro.

    A obra A Cidade Antiga pode ser compreendida em 02 momentos; a formao das cidades baseada e regrada pro crenas religiosas e numa segunda fase a dissoluo na qual elenca trs principais causas: A suspenso da autoridade polticas dos reis, alteraes na constituio da famlia e a revoluo social da plebe.

    O culto e as antigas crenas O principio conformador da famlia e todas as instituies nessa poca a religio

    primitiva formada pro diversas crenas antigas. A primeira das crenas referente alma e a morte; os antigos acreditavam que alma e corpo no se separavam e estavam enterrados no mesmo lugar precisando de alimento e gua; para tento em determinado dia do ano levavam uma refeio a cada tmulo o que era chamado de banquete fnebre. Os mortos (manes) eram considerados criaturas sagradas e cada morto um Deus sendo o seu tmulo um Templo, no havendo distino de pessoa entre os mortos.

    Uma segunda crena era o culto ao fogo, para o qual possuam, tanto na famlia grega como na romana, altar e prestavam reverencias, sendo que a lembrana de alguns desses mortos sagrados achava-se ligada ao fogo.

    A religio nas cidades antigas era estritamente domstica, ao contrrio do que passou a ocorres com o advento do cristianismo. Essa religio domstica tinha como

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  • ncleo o culto aos mortos, que eram os Deuses Lares, protetores especficos de cada famlia e s por ela poderiam ser adorados, sendo representados pelo fogo sagrado que existia em todas as casas.

    O primeiro filho era encarregado de continuar o culto aos ancestrais e se deixasse de fazer traria infelicidade e morte a famlia, estabelecendo assim um poderoso lao, unindo todas as geraes de uma mesma famlia. Essa religio s podia propagar-se pelas geraes na linha masculina; a mulher s participava do culto atravs do pai ou do marido, o que trouxe limitaes ao direito privado e na constituio familiar da poca.

    A famlia antiga Nas famlias antigas o que s caracterizava era o culto a os mortos, e um mesmo

    deus em volta do fogo sagrado. O poder paterno era uma pea fundamental para se entender a antiga concepo de famlia, da autoridade, da herana e da propriedade.

    A origem da famlia no esta na gerao; a prova disso que pode haver laos de sangue entre vrias pessoas, sem que essas pertenam mesma famlia, e, por sua vez, pessoas sem nem um vinculo sanguneo podem constituir uma s famlia, desde que sujeitos a autoridade de um mesmo chefe.

    Filhos casados e emancipados no fazem parte da mesma famlia, pois no adoram os deuses a redor do mesmo fogo sagrado, e no so submissos ao mesmo chefe (o pater famlias), cujo poder ilimitado era concedido pela religio.

    Pode-se dizer que dois homens eram parentes quando tivesse os mesmos deuses, o mesmo lar, o mesmo banquete fnebre. Tambm esses direitos de membros da famlia eram dados somente aos homens, por esse motivo os parentes da mulher sofriam as conseqncias, como o direito de herdar e, tantos outros.

    O casamento foi a primeira instituio estabelecida pela religio domestica, ele forava a mulher troca de moradia, de religio, pois ela passava a cultuar e adorar os deuses da famlia de seu cnjuge.

    Os antigos julgavam que a felicidade dos mortos no dependia de suas atitudes em vida, mas sim da conduta de seus descendentes seu respeito. Por esse motivo os filhos eram forados a acreditar que precisavam dar continuidade a famlia, pois s assim garantiam a sua felicidade e de seus ancestrais eterna-mente. Porm para dar continuidade a famlia o filho precisava ser fruto de um casamento religioso, pois se a mulher no participasse do mesmo culto religioso do marido, seu filho tambm no seria aceito.

    Os casamentos onde a mulher era estril podiam ser desfeitos com a justificativa da continuidade da famlia. A, as famlias que no tinham filhos era permitido adoo,

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  • desde que o adotado pudesse desvincular-se totalmente da famlia anterior, esse filho era recebido na famlia com as mesmas formalidades religiosa de um filho natural.

    A religio regulava tambm o direito de propriedade das famlias, pois cada famlia tinha que ter um lugar para enterrar seus mortos, que viravam deuses, esse lugar era inalienvel e pertencia a toda a famlia. A religio garantia o direito a esta propriedade, pois ali estavam enterrados seus ancestrais e isso tornava a terra intransfervel, os homens no podiam ser deposto do direito a essa propriedade, a no ser em caso de sentena de exlio, pois ai ele perdia o direito a cidadania e, em conseqncia o direito a propriedade.

    Ao primeiro filho homem era obrigado a continuar o culto religioso, herdava o direito de administrar os bens, no tendo direito a recusa ou desistncia. O que s mais tarde foi incorporado ao direito.

    Na assero de Fustel de Coulanges, o direito de propriedade, tendo-se estabelecido para perpetuao de um culto hereditrio, no podia desaparecer ao longo da existncia de um indivduo.

    As filhas mulher no tinham esses direitos, mesmo que fossem primognitas. As famlias nessas sociedades antigas assumiam enormes propores. A gens,

    ou melhor, a famlia unida pela religio, era formada no s pelos agnados, pelos parentes, mas tambm pelos servos, escravos e clientes que, depois de iniciados passavam a pertencer quela famlia, ao preo de sua liberdade. Para antes e depois da morte, todas as pessoas submetidas ao poder do pater famlias, concedido pela religio.

    Consideraes finais preciso considerar as circunstncias histricas e os contingentes genricos que

    instituram e conformaram para verificar o desenvolvimento das Instituies Gregas, isso no que tange a famlia em A cidade antiga que constitui em uma admirvel construo de linha severas e puras, apresentando um panorama mais amplo quanto as Instituies gregas e romanas.

    O estudo das Instituies greco-romanas indispensvel para qualquer estudo, pois elucidadora e faz uma anlise singular da sociedade sob uma religio, sendo feita apresentao de uma famlia antiga concebida em funo da religiosidade influenciando, o poder poltico do Imprio Romano que nasce de sua organizao.

    Tendo poderes ilimitados sobre sua descendncia e todos de sua responsabilidade, o Pater Famlias exercia autoridade suprema, dispondo livremente de suas vidas e patrimnio, tendo a mulher dependente e os filhos jamais alcanando a maior idade seno

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  • concebida pela religio, possibilitando uma forte disciplina familiar com favorveis implicaes na organizao do povo.

    Ao explicar com clarivalncia a natureza de suas instituies, mostrando um equvoco das concluses apresentadas entre a democracia moderna e a democracia que os antigos alcanaram e valorizaram no momento da histria, sendo apresentado como um Estado, em que a religio a senhora absoluta da vida privada e da vida jurdica, o Estado uma comunidade religiosa, o rei um pontfice, o magistrado um sacerdote e a lei uma frmula sagrada, o patriotismo piedade e o exlio excomunho, ficando o homem submetido ao Estado pela alma, pelo corpo e pelos bens.

    Com isso no era mesmo possvel liberdade individual a tal ponto que era apenas como parte de uma comunidade poltica religiosa que o homem se revestia da qualidade de cidado e, portanto de ser livre, mudando sua concepo a famlia moderna recolheu sobre tudo a espiritualidade crist, reduzindo o grupo familiar aos pais e filhos, sucedendo a organizao aristocrtica uma orientao democrtica e afetiva, sendo assim, deslocou o centro da constituio familiar do princpio da autoridade paterna para a compreenso do amor e o pai na modernidade, exercendo o ptrio poder exclusivamente no interesse dos filhos, menos como direito e mais como dever, para concluir importante afirmar que tudo isso levou a uma nova concepo da instituio familiar, abandonando-se o carter hiertico e conquistando-se novas relaes e papeis que so responsveis modernamente pela evoluo da civilizao humana.

    DIREITO ROMANO CLSSICO: SEUS INSTITUTOS JURDICOS E SEU LEGADO

    A sociedade romana pode ser caracterizada como desigual, e por isso gerou uma srie de instituies polticas e jurdicas sui generis decorrentes destas desigualdades sociais, bem como um ambiente de conflitos de classe principalmente entre Patrcius e Plebeus. Esta situao se manifestou na rebelio plebia que gerou a elaborao da famosa Lei das XII Tbuas. George Duby, na monumental obra reconstituidora da histria ocidental, desmistifica o universo cultural romano idealizado e similar ao contexto europeu. Apesar de caracterizar as relaes familiares por valores que tornaram a civilizao romana to extica, ele tambm salienta seu modo de produo escravagista e suas peculiares formas de controle social. O abandono de crianas era comum na Roma Antiga. O pai s tinha o filho se quisesse e o abandono de crianas era condicionado a diferentes motivos, que iam desde a m formao at questes relacionadas classe social. J o casamento romano no possua uma configurao que permitisse a interveno do poder pblico, era um ato privado, oral e informal.

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  • O direito romano era baseado em ardis e fraudes, que por sua vez acabavam beneficiando os mais fortes em face da existncia de uma sociedade extremamente desigual, em que o direito formal permitia usualmente apenas aos mais fortes beneficiar-se do sistema jurdico existente devido ao seu poder material alicerado nos planos econmico e militar. No existia um poder pblico coativo e exterior, capaz de impor a sano jurdica de forma organizada e centralizada.

    A Importncia do Direito Romano e a Sua Presena nos ordenamentos Jurdicos Modernos

    Jos Cretella Jnior aponta alguns significados da expresso direito Roman, interpretando-o como: A) Aquele direito vigoroso por 12 sculos, b) direito privado romano, c) direito contido no Corpo do Direito Civil, para separa-lo do direito Cannico, ou Corpus Juris Civilis e Corpus Juris Canonici, abrangendo mais delimitadamente o condesado no Imprio do Oriente.

    O direito romano continua vivo em vrias instituies liberais individualistas contemporneas: Esto vivos, ou exatamente como foram, ou com alteraes to pequenas que se reconhecem, ainda, nos modernos institutos de nossos dias que lhes correspondem.

    A expresso Corpus Juris Civilis no foi lanada por Justiniano, mas pode ser creditada ao estudioso do direito romano Denis Godefroid, e que atribuiu compilao de quatro livros, Institutas, Pandectas, Digesta e Codex. Esse trabalho de sistematizao do direito foi feito no imprio Justiniano por uma comisso de juristas dirigidos por Tribonianos, juristas de Beirute, a servio do Imprio do Oriente.

    As Fases Histricas da Civilizao Romana e de suas Instituies Jurdico-Polticas Na Realeza, primeiro perodo, atribui-se uma origem lendria aos romanos, atravs

    da lenda de Rmulo e Remo; na segunda etapa, deram a primeira organizao poltica a de Roma no perodo da Realeza.) O cargo de rei era de carter de magistratura vitalcia, sendo ao mesmo tempo chefe poltico, jurdico, religioso e militar. O senado era uma espcie de conselho do rei, sua funo era meramente consultiva. Nessa poca, o direito era costumeiro, sendo a jurisprudncia monopolizada pelos pontfices.

    Na Repblica, as magistraturas passaram a ganhar mais prestgio, destacando-se do poder dos dois cnsules, que inicialmente so as magistraturas nicas e vitalcias; comandam o exrcito, velam pela segurana pblica, procedem recenseamento da populao, administram a justia criminal. As magistraturas romanas nesse perodo caracterizavam-se por serem temporrias, colegiadas, gratuitas e irresponsveis. As fontes do direito na Repblica so o costume, a lei e os editos dos magistrados.

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  • Com o progresso econmico e as vastas conquistas houve a passagem para o Imprio. O ltimo perodo da historia da civilizao romana, o baixo Imprio, caracterizado por sua cristianizao, assim como decadncia poltica e cultural

    As fases histricas da civilizao romana e de suas instituies jurdico poltica Os perodos que a historiografia jurdica divide a histria jurdico-poltica do Imprio

    correspondem a etapas cronolgicas delimitadas, que formam: O Perodo da Realeza, o perodo da Repblica, o Perodo do Principado e o Perodo do Baixo Imprio.

    A Realeza atribui-se uma origem lendria aos romanos, atravs da lenda de Rmulo e Remo, os quais atriburam simbologia a dois grupos rivais que disputavam o poder, nessa faze tambm surgem instituies poltico-jurdico, vinculadas a um Estado Teocrtico, o rei era o chefe poltico, jurdico, religioso e militar, existiam tambm assessores do rei que julgavam os julgamentos do assassnio voluntrio de um pater famlias pelo seu filho nas funes religiosas. O Senado funciona como o Conselho do Rei, era subordinado ao Rei e por este convocado sua funo era consultiva, mas em relao aos comcios era deliberativo. O direito era costumeiro, sendo a jurisprudncia monopolizada pelos pontfices e encerrou com a queda de Tarqunio.

    Na Repblica, as magistraturas ganharam mais prestgio, destacando o poder dos dois cnsules que inicialmente so magistraturas nicas e vitalcias, que comandam o exrcito e velam pela segurana pblica, procedem ao recenseamento da populao e administram a justia criminal. Com a Lex Valeria a gesto de finanas delegada a dois questores, j com a Lex Licinia os plebeus adquirem o direito de ser cnsules, as magistraturas romanas nesse perodo caracterizavam-se por serem temporrias, colegiadas, gratuitas e irresponsveis.

    As fontes de direito na Repblica so o costume, a lei e os editos dos magistrados. A passagem da Repblica ao Imprio fez-se progressivamente, o processo econmico, as dificuldades sociais e vastas conquistas provocaram uma crise poltica que desencadeou a centralizao do poder, nesse perodo tambm chamado se destaca tambm a cincia jurdica romana que um dos maiores jurisconsultos, incluindo um dos maiores sistematizadores do direito romano.

    O ltimo perodo da histria da civilizao romana do baixo Imprio, quando ocorre a cristianizao do Imprio, e tambm a decadncia poltica e cultural, as fontes de criao do direito passa a ser a constituio imperial, o prximo passo o de fixar a importncia da Lei das Tbuas e de alguns institutos jurdicos romanos mais importantes, como a propriedade, a personalidade e o direito obrigacional.

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  • A Queda do Imprio romano e a Emergncia do mundo feudal O colapso da economia escravagista, a falncia dos pequenos agricultores, o

    crescimento o exrcito de desocupados urbanos, a criao de leis para evitar rebelies, a distribuio de po em circo para as massas e o colapso da pesada administrao romana, foram alguns fatores que possam ter contribudo para a queda do Imprio.

    O Estado tornou-se insolvente e falsrio, a moeda tinha apenas trs por cento de prata, o restante era constitudo de cobre e bronze, razo pela qual foi sendo paulatinamente abandonada pela populao sendo que o Estado no cultivava a disciplina dos velhos tempos.

    Os camponeses cortavam dedos polegares para no ser convocados como soldados, os Federati e os Coloni, brbaros, passaram a ocupar as fronteiras do imprio, enquanto os habitantes da cidade migravam para o campo em busca de segurana privada dos grandes proprietrios, o modo escravagista foi substitudo por uma economia de subsistncia agrria e esttica baseada no trabalho servil e nos valores de uso, sendo que o declnio do trabalho escravo, o crescimento do cristianismo e o retorno ao campo em busca de segurana so responsveis pelo processo de decadncia.

    A queda do Imprio constituiu apenas o ultimo passo no processo de desintegrao, pois a necessidade de sobrevivncia e defesa militar e a ausncia de governo e de legies romanas tornaram possvel e necessria a instituio de um sistema senhorial, no qual encontramos as origens do que veio depois a ser chamado de feudalismo, perceptvel tambm que em determinada fase o exrcito romano, que foi considerado uma imbatvel mquina de guerra, passava a ser encarada como fora desprezvel pelos hunos de tila, surge tambm a duplicidade de domnio, com a bipartio do domnio til e do emineste, atravs da difuso do arrendamento de terras, gerando o germe do feudalismo, emergindo definitivamente desse processo de decadncia uma nova estrutura econmica, jurdica, poltica e cultural chamada feudalismo

    A retomada pelos estudos romansticos no direito do ocidente europeu A continuidade dos estudos sobre o Direito romano justificava-se pela sua

    apropriao pelos ordenamentos jurdicos europeus, a partir das monarquias absolutistas e do movimento de codificao francs sedimentado por Napoleo Bonaparte, com o surgimento do comrcio em decorrncia do renascimento comercial europeu, criando necessidade da construo de um Direito privado moderno a partir de um sistema mais abstrato, formal e adaptado as exigncias do direito civil e comercial surgidos.

    A recepo do direito romano

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  • Os fatores que caracterizaram o pleno renascimento da jurisprudncia no contexto europeu moderno podem destacar a unidade e ordenao das diversas fontes do Direito que se classificam como romano cannico e local, a unidade do objeto da cincia jurdica, a unidade quanto aos mtodos empregados pelos juristas e a unidade quanto ao ensino jurdico so tambm caractersticas do renascimento.

    A administrao do direito romano deu-se unicamente pela necessidade de acolher suas qualidades formais genricas que ajudavam os burgueses na conduo prtica capitalista, mas eles no estavam interessados na apropriao das determinaes materiais do direito romano, pois as instituies de direito mercantil eram quem os satisfazia.

    A apropriao de algumas qualidades formais do direito romano foi essencial para o estabelecimento da justia principesca patrimonial no Ocidente que no foi administrao patriarcal, o direito romano no teve ajustamento mecnico e universal, em face das novas condies econmicas criadas pela sociedade mercantil, o que apenas demonstra os limites da recepo do direito romano, mais apropriado nos seus aspectos formais do que substanciais.

    Devido influncia da formao filosfica doa antigos juristas, o elemento puramente formal adquiriu muita importncia no pensamento jurdico, com a concepo do direito romano, houve uma importante alterao na estrutura do pensamento jurdico ocidental, a sistematizao do direito ocorre em etapa posterior e coloca o direito romano como disciplina histrica aps a sua reapropriao na modernidade, isso constitua o carter indutivo e emprico do direito desse perodo, o direito ocidental adquire o carter dedutivo que lhe caracterstico, com seu significado universalizador, abstrato e consubstanciado pelo atendimento dos requisitos formais essenciais.

    Desta forma, as produes jurdicas ocasionais e concretas dos juristas romanos, retiradas da interpretao de jurisconsultos, aplicados de forma indutiva e emprica, so efetivadas atravs da perda de seu carter concreto e contextual da prtica dos antigos romanos e transformados em postulados jurdicos que sero aplicados dedutivamente. Os romanos tambm se caracterizam pela interpretao dura do direito, pois os conceitos forma codificados e transformados em mximas do direito, dessa descontextualizao da prtica dos princpios jurdicos originais romanos resultam a alienao da vida de um direito puramente lgico, isto no impedindo de ver o direito romano como fator de racionalizao do direito moderno.

    Tambm no se pode negar a sua influncia no delineamento de importantes institutos privados, como a propriedade no seu sentido material, que foi um dos atributos mximos da codificao napolenica, assim o direito romano garantia um conceito de

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  • propriedade absoluta, sem restries, oponvel em relao a terceiros e independente de outros fatores extrnsecos.

    Porm no se pode desconsiderar que o direito romano e o seu conceito de propriedade foram produzidos em outro modo de produo. O modo de produo escravagista, num contexto histrico profundamente diferenciado do protocapitalismo renascentista italiano, do capitalismo mercantil dos estados absolutistas e do capitalismo concorrencial ps Revoluo Industrial, a construo foi imediata, precisando aplicar e incorporar todos os institutos a realidade do final da Idade Mdia, este trabalho sendo empreendido pelos juristas novos, contratados para atender necessidades mercantis burguesas.

    Ao contrrio do apregoado a codificao foi um fator contribuinte de unificao do direito privado europeu, servindo tambm como instrumento de expanso do direito romano-germnico, o processo de codificao consolida a dominao das vrias potncias coloniais europeias, erigindo seus sistemas jurdicos como hegemnicos para estabelecer um sistema de propriedade garantidor da escravido e da supremacia metropolitana sobre as colnias com modelo de produo monoculturista.

    Consideraes finais O direito romano caracterizou uma civilizao forjada sob o modo de produo

    escravagista, o modelo romano criou uma ordem prtica, calada em uma ordem sicofntica, baseada no ardil e no uso de artifcios para uma sociedade desigual. Na sociedade romana, sempre esteve presente na luta de classes entre patrcias e plebeus o que resultou na criao de lei das Tbuas, o direito escrito resultante da rebelio de Monte Sagrado, vivendo o Imprio Romano uma faze de ascenso e declnio.

    O formalista direito civil romano foi flexibilizado pelas aes dos pretores, a Europa e as suas colnias de explorao adotaram o sistema romano-germnico, permitindo o surgimento de uma ordem liberal individualista e uma ordem patrimonialista nas colnias ibricas. A Common Law tambm sofreu influncia da ordem romana atravs dos tribunais de chancelaria e que geraram as regras.

    Ao concluir podemos afirmar que ainda que se possam levantar crticas s instituies romanas inegvel a influncia dos monumentos jurdicos como a Lei das Tbuas e o Cdigo de Justiniano sobre a formao do direito moderno ocidental.

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  • REFERNCIAS

    Bsica: SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mo de Alice: O social e o poltico na ps-modernidade. So Paulo: Cortez, 2003. GILISSEN, John. Introduo histrica ao Direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de histria do direito. Belo Horizonte: Delrey, 2003. COULANGES, Fustel de. A Cidade antiga. So Paulo: Hemos, 1975. LOPES, Jos Reinaldo de Lima. O direito na histria: lies introdutrias. Max Limonad, 2002.

    Complementar: VENANCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao Bacharelismo. So Paulo: Perspectiva, 1982. SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e sociedade no Brasil colonial. So Paulo: Perspectiva, 1979. CAENEGEM, R. C. Van. Uma introduo histrica ao direito privado. So Paulo: Martins Fontes,1995. WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Histria do direito no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2005. SZMRECSNYI, Tams. Histria econmica da independncia e do imprio. Hucitec, 2002.

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  • HISTRIA APLICADA AO DIREITO Profa. Janana Machado Sturza

    2010/02

    A NATUREZA HISTRICA DA INSTITUIO DO DIREITO DE PROPRIEDADE

    1. INTRODUO A questo proposta, de que a propriedade privada da terra uma instituio

    histrica, poderia ser abordada sob os mais diversos aspectos, ou seja, quanto legitimidade, quanto aos aspectos jurdicos de uma evoluo do conceito de propriedade e ao nvel poltico e econmico de que a terra o mais importante meio de produo.

    Para que se possa vislumbrar esses conceitos preciso compreender como alguns autores entendem a histria. Fustel de Coulanges, em a obra A cidade antiga A histria no estuda apenas os fatos materiais e as instituies: seu verdadeiro objeto de estudo a alma humana, o que essa alma acreditou, pensou e sentiu em diferentes idades da vida do gnero humano.

    As crenas dos homens tinham papel de relevncia, era o culto que constitua o vnculo unificador de toda e qualquer sociedade. A ponto de sobrepuj-las s condies materiais de existncia.

    Max Weber lido e apropriado por foras tericas e polticas conservadoras creditaria Reforma, proposta pelo protestantismo, enquanto religio disciplinadora, a responsabilidade por construir e firmar o modo de produo capitalista.

    Friedrich Engels nega que as representaes religiosas tenham forjado as instituies. Para ele, so as condies de vida real, as mudanas ocorridas na produo, pelo alargamento das fontes de subsistncia, que transformaram as instituies e ainda as moldam atualmente.

    J quanto aos gregos, como parte do objeto de estudo de Coulanges, Engels e tantos outros autores, entendiam a histria como linear e progressiva. O ciclo em que reaparecem sempre as mesmas situaes, a representao mais forte do tempo e dentro deste contexto, ento, passaremos a analisar as questes pertinentes propriedade.

    2. A PROPRIEDADE PRIMITIVA E ANTIGA: UMA VISO COMO REPRESENTAO DAS CRENAS DOS HOMENS

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  • A propriedade coletiva das comunidades gentlicas foi a forma de propriedade que predominou nas antigas civilizaes, as quais no Egito, Sria e Mesopotmia estavam organizadas basicamente em grupos familiares, cls e tribos, em que a propriedade coletiva tinha em sua base o entendimento de que a comunidade predominava sobre o indivduo. O que conta a comunidade, e, sendo assim, a terra pertence ao grupo todo, tanto aos vivos quanto aos mortos, visto que a crena, nesses tempos, sustentava que os mortos permaneciam de certa forma ligados s condies terrenas.

    Sendo a propriedade pertencente ao grupo social em sua totalidade, os objetos que o homem fabrica para seu uso pessoal comeam a receber uma conotao de propriedade individual, privada. A relao que se estabelece entre o proprietrio e tais utenslios particulares, bem como entre o grupo e a terra, recheada por um vnculo mstico muito forte, conferindo propriedade a caracterstica de ser algo sagrado.

    Essa forma de propriedade coletiva da terra e a forma da propriedade privada mvel vai com o tempo transformar-se, propiciando o nascimento de um novo Estado, que inverte, ao privilegiar juridicamente o indivduo, as relaes existentes. O indivduo singular agora o centro referencial. Estabelece-se tambm a diviso entre a propriedade privada e a propriedade pblica.

    Fustel de Coulanges afirma que as crenas tiveram papel fundamental na determinao das leis, das instituies, ou, ainda, que a nossa inteligncia modifica-se sculo aps sculo, sendo que esta est sempre evoluindo, quase sempre em progresso e, por este motivo, nossas instituies e nossas leis esto sujeitas a flutuaes da inteligncia humana.

    Coulanges sustenta que, ao tratar-se das antigas populaes da Itlia e da Grcia, sempre houve a propriedade privada da terra em contraste com as populaes que teriam tido a terra em comum, como os germanos, entre os quais cada membro da tribo ganhava um lote numa partilha anual dos campos para cultivo, sendo assim proprietrios apenas da colheita e no da terra; ou entre os trtaros, que admitiam o direito de propriedade apenas no tocante ao rebanho. Apesar das diferenas, existia a idia da propriedade privada, e para o autor decorre basicamente da organizao estrutural da religio domstica:

    Cada famlia, nessa poca remota, tinha os seus prprios deuses, adorados apenas por ela, uma vez que os deuses eram os antepassados que s a ela protegiam. Da ser de propriedade exclusiva o culto e conjuntamente a terra que compe a rea de cultivo.

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  • Como a religio domstica estava ligada tambm a um espao territorial, no se comunicando com outra religio, de uma outra famlia, a propriedade inalienvel.

    Entende Coulanges que no foram as leis, porm a religio, que a princpio garantiu o direito de propriedade. Cada domnio estava sob a proteo das divindades domsticas que velavam por ele. Como a famlia no pode renunciar aos seus deuses, neste culto aos antepassados, no pode renunciar propriedade da terra em que os vivo e os mortos de uma mesma famlia habitam.

    Nos sculos anteriores ao advento do cristianismo, a propriedade particular de uma grande famlia, e quanto expropriao por dvidas, no permitido que a propriedade seja confiscada em proveito do credor:

    O corpo do homem responde pela dvida, mas no a terra, porque esta inseparvel da famlia. Ser bem mais fcil escravizar o homem do que tirar-lhe um direito de propriedade, que pertence mais famlia do que a ele prprio; o devedor est nas mos do seu credor: a sua terra, de algum modo, acompanha-o na escravido.

    No entender de Coulanges, um progresso intelectual da humanidade d-se com a evoluo no campo da crena. O passo seguinte foi corresponde a criao de um culto da cidade que encaminhou a humanidade ao supra-sumo da crena: o cristianismo.

    Na composio das famlias primitivas, o culto e a propriedade familiar esto interligados figura do poder paterno e ao pai cabia ser chefe religioso, senhor da propriedade e juiz. O pai, que tem a propriedade como direito, no a tem individualmente, mas sim como direito familiar.

    3. A PROPRIEDADE ANTIGA, MEDIEVAL E MODERNA A PARTIR DO MATERIALISMO HISTRICO

    Friedrich Engels, em A origem da famlia, da propriedade privada e do Estado, expe os estudos que Lewis H. Morgan fez junto aos ndios norte-americanos. Engels v a importncia desse trabalho para uma compreenso maior da pr-histria, da histria da primitiva famlia, da inverso do direito materno ao direito paterno, da propriedade privada, dos costumes, da produo.

    No trabalho de Morgan tem-se uma nova base para o estudo da histria primitiva, o que permite uma abordagem atravs da concepo materialista da histria.

    Morgan divide a histria humana em trs pocas principais: (1) selvageria; o casamento de grupo (2) barbrie; a famlia acasalada e, (3) civilizao, a monogamia. Acontece uma reduo progressiva da famlia, chegando ltima unidade binria - homem e mulher -, num estreitamento cada vez maior, chegando monogamia.

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  • No entender de Engels, a famlia monogmica j no traz em seu seio condies naturais de sua formao, mas sim condies econmicas.

    A histria para Marx e Engels no se prende simples anlise das idias, das atitudes e mudanas que ocorrem com determinados governos, regimes polticos e Estados. Ela um processo complexo da luta de classes.

    Para Marx e Engels, em A ideologia alem, as formas de propriedade esto em relao direta com as diferentes fases da diviso do trabalho, ou seja, cada uma das fases da diviso do trabalho determina tambm as relaes dos indivduos entre si no que diz respeito ao material, ao instrumento e ao produto do trabalho.

    Com a diviso social do trabalho tem-se a propriedade privada, o


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