HISTÓRIA DA TINTA ATRAVÉS DA ARTE OCIDENTAL THE HISTORY OF INK THROUGHOUT WESTERN ART Libia Schenker Escola de Museologia - UNIRIO Correio Eletrônico: [email protected] Resumo: Este artigo propõe-se a apresentar a História da Tinta, oferecendo ao leitor um amplo
panorama das transformações no uso deste material no decorrer da história da arte dita
“Ocidental”. A trajetória apresentada toma como ponto de partida a Pintura Rupestre e continua
com as pinturas egípcias; chega às pinturas na Ilha de Creta e da Grécia propriamente dita.
Apresenta e discute também: o legado pictórico dos romanos e dos bizantinos; os registros
pictóricos religiosos da Arte Paleocristã e Gótica; as mudanças paradigmáticas do
Renascimento; as (re) definições pictóricas do Barroco, do Rococó, do Neoclassicismo, do
Romantismo e do Realismo; as inovações do Impressionismo e do Pontilhismo; as
contribuições de Van Gogh, Cézanne e Matisse; as heranças fauvistas e cubistas; as
(re)construções pictóricas abstratas e seus grandes nomes; os surrealistas e suas
experiências; as aplicações de Pollock; e, finalmente, a Arte Contemporânea e seus diferentes
nomes e representações. Constata-se que, do período Paleolítico ao século XXI, a pintura
demonstrou que, mesmo em meio aos desvios e ao forte apelo da linguagem fotográfica e dos
recursos digitais, se mantém soberana no universo da História da Arte Ocidental.
Palavras-chave: Arte ocidental; História da Arte; Pintura.
Abstract: This article intent to present the History of Ink, giving the reader a wide view of the
transformations in the uses of this material throughout the history of the art that is called
“Western”. The journey presented has its starting point with the cave painting and carries on
with the Egyptian paintings; it reaches the paintings in the isle of Crete and in Greece itself. It
presents and debates also: the pictorial legacy of Romans and the Byzantines; the religious
pictorial inscriptions of Paleo-Christian art and Gothic art; the paradigmatic changes of
Renascence; the pictorial (re) definitions of the Baroque, the Rococo, the Neoclassicism, the
Romantics and the Realism; the innovations of Impressionism and Pointillism; the contributions
of Van Gogh, Cézanne and Matisse; the fauvist and cubist heritage; the abstract pictorial
(re)constructions and its great names; the surrealists and their experiences; the applications of
Pollock; and, finally, the Contemporary Art and its different names and representations. We
realize that, from the Paleolithic period to the XXI century, the painting revealed that, also
among the detours and the strong appeal of photographic language and digital resources, it
maintained its realm in the universe of the western art history.
Keywords: Western art; Art history; Painting.
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HISTÓRIA DA TINTA ATRAVÉS DA ARTE OCIDENTAL Libia Schenker
A história da tinta se confunde com a própria aurora da civilização e com a história das
técnicas artísticas. As principais mutações que permearam a trajetória da Arte Ocidental se
relacionam com os diversos materiais utilizados nas técnicas pictóricas. As transformações
estéticas decorrentes das características específicas de cada tipo de tinta enfatizam as
variantes tonais, as texturas, os diferentes tratamentos espaciais e o nível de fidelidade ao real.
O primeiro testemunho ficou gravado nas paredes das grutas, uma pintura rupestre que
o homem do Período Paleolítico criou a partir de têmperas feitas com terra, argila, ossos
calcinados e carvão vegetal misturados com sangue, gordura e excrementos. As cores, o
volume e o movimento das figuras denotam o domínio de uma linguagem artística, embora o
sentido ritual de magia, para auxiliar na caça dos animais, seja também uma explicação da
existência dessas pinturas no interior das cavernas. (1)
CAVALO SELVAGEM , ARTE RUPESTRE,LASCAUX, FRANÇA, PINTURA, PERIODO PALEOLÍTICO 12.000-17000 ANOS
As pinturas egípcias que resistiram à passagem dos séculos denotam uma policromia
muito rica, onde as cores tinham funções simbólicas e as figuras eram retratadas de acordo
com a lei da frontalidade: rosto e pernas de perfil, torso e olhos de frente, enfatizando as
principais características do corpo humano. As técnicas pictóricas empregadas variavam
entre a têmpera(mistura de pigmentos com ovo ou caseína) e a encáustica (mistura de
pigmentos com
cera derretida). (2)
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RAINHA NEFERTARI JUNTO À DEUSA HATHOR,ARTE EGIPCIA, PINTURA MURAL, 19ª DINASTIA RAMSÉS II, 1320-1200 A.C.
Na ilha de Creta ficaram os primeiros testemunhos da técnica do afresco na Arte
Ocidental. Uma pintura mural que decorava as paredes do Palácio de Cnossos. Essa técnica
consistia numa tinta formada por pigmentos diluídos com água aplicada sobre uma parede que
havia recebido uma camada de argamassa úmida. (3)
TAUROMAQUIA , ARTE MINÓICA, CRETA , PALACIO DE CNOSSOS, AFRESCO, SEC. XV A.C.
Da Grécia que nos legou tantas obras magníficas de arquitetura e escultura, não restou
nenhum exemplo da pintura que ali foi produzida pelos artistas helênicos. Somente as
descrições dos autores antigos que apontam para a beleza, o ilusionismo e o perfeccionismo
desses trabalhos é que ficaram para nossa imaginação. Nos vasos pintados também perduram
o testemunho das características plásticas do classicismo grego. (4)
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GANYMEDE E ZEUS , ARTE GREGA,VASO PINTADO, PERÍODO CLÁSSICO, 490-480 A.C.
Quanto ao legado dos romanos, podemos citar algumas pinturas murais (afrescos)
encontradas nas escavações, como as de Pompéia. A forte influência artística dos gregos,
principalmente do período helenístico, foi o que mais marcou o estilo das obras do Império
Romano. Um tratamento realista das figuras, com uso do claro-escuro em algumas cenas,
denota as características dessa herança. Arquitetura, escultura e mosaicos são os mais
importantes exemplos da linguagem artística que esse povo produziu. (5)
HÉRCULES ESTRANGULA AS COBRAS, CASA DOS VETTII, ARTE ROMANA,POMPEIA, AFRESCO, 62 – 79 D.C.
Com o Império Bizantino o mosaico repleto de tons dourados assumiu a posição
principal ao lado dos primeiros ícones, uma pintura em encáustica sobre madeira com metais
preciosos e cores simbólicas, enfatizando o cunho divino dessas peças. (6 e 7)
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CRISTO PANTOCRATOR, ARTE BIZANTINA, CÚPULA DA IGREJA DE CHORA, MOSAICO, 536 D.C.
CRISTO PANTOCRATOR, ARTE BIZANTINA, MONASTÉRIO DE SANTA CATARINA, EGITO, ÍCONE, ENCÁUSTICA, SÉCULOS VI OU VII D.C.
As pinturas das catacumbas, escondidas e escuras, apresentam exemplos de afrescos
com temática bíblica e símbolos típicos do início do Cristianismo, uma arte Paleocristã
destinada aos túmulos de uma religião proibida. (8)
CRISTO COM A MULHER JUNTO AO POÇO, ARTE PALEOCRISTÃ, CATACUMBA ROMANA, MEADOS DO SÉCULO IV D.C.
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Com a passagem da Antiguidade para a Idade Média os estilos artísticos vão tomando
outra feição. Entre os séculos V e XIV a Arte Medieval européia foi se transformando e
apresentando diferentes elementos decorativos, sempre a serviço dos temas sagrados da
religião cristã. A integração entre a arquitetura, a escultura e a pintura mural marcou o Período
Românico, difundindo seus valores religiosos através dos grandes afrescos. O tratamento
cromático enfatizava a planaridade, sem jogos de luz e sombra, evitando o naturalismo e o
volume no espaço.
O Teocentrismo – Deus como centro do universo e medida de todas as coisas –
determinava os aspectos espirituais dessas obras e traduzia o poder ilimitado que a igreja
possuía como a representante de Deus na terra. (9)
ANGE LAMPADOPHORES, ARTE ROMÂNICA, IGREJA DE STO NICOLAU DE TAVANT, FRANÇA, AFRESCO, CRIPTA DO SÉCULO XII
Na fase do estilo Gótico temos a arquitetura das catedrais, com seus vitrais coloridos
filtrando a luz desses ambientes altos e verticais, com arcos, ogivas, colunas e relevos
estilizados. A temática bíblica dos vidros coloridos supria as funções decorativas e didáticas
nesses ambientes sagrados. Outra característica marcante da Idade Média foram as
Corporações de Ofícios, onde os artesãos detinham o monopólio do conhecimento prático das
técnicas artísticas e trabalhavam de maneira anônima, sem individualidade, sem assinar os
trabalhos.
Além das pinturas murais e das iluminuras (pergaminhos manuscritos e ilustrados), os
retábulos de madeira com articulações e portas laterais representavam um dos mais
importantes suportes das artes medievais. A técnica da têmpera com ovo e os douramentos
eram aplicados em todas as partes do painel e denotavam o grande esmero e domínio técnico
desses pintores, com uma tinta que secava rápido e exigia uma habilidade metódica e
conhecimento específico dos materiais. (10, 11, 12 e 13)
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ILUMINURA S/PERGAMINHO, CARTA DE SÃO PAULO,ARTE GÓTICA, CERCA DE 1200, BIBLIOTECA NACIONAL , PARIS
VITRAL,NOTRE DAME DE LA BELLE VERRIERE, CATEDRAL DE CHARTRES, FRANÇA, ARTE GÓTICA, SÉCULO XIII
CIMABUE, CRUCIFIXO DE SÃO DOMENICO, TÊMPERA S/MADEIRA, ARTE GÓTICA, 1268-1271,
AREZZO, ITÁLIA
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DUCCIO DI BUONINSEGNA, A VIRGEM SAGRADA E CRISTO MENINO COM SÃO DOMENICO E STA ÁUREA,TRÍPTICO, TÊMPERA S/ MADEIRA, ARTE GÓTICA, RETÁBULO PORTATIL, CERCA DE
1300, NATIONAL GALLERY, LONDRES.
Por volta de 1300 temos as primeiras pinturas murais de Giotto, pintor da Escola
Florentina, o precursor do Renascimento. Os seus afrescos eram praticados com a técnica da
argamassa úmida, onde o pigmento fica integrado na estrutura e cristalizado na superfície da
parede. Ele também usou a técnica da têmpera, com o ovo como aglutinante dos pigmentos.
Giotto encerrou uma linguagem pictórica que se ocupava sobretudo de Deus e abriu uma outra
que passou a se ocupar sobretudo do Homem. As proporções hierárquicas e a síntese entre a
representação em superfície e a do espaço em profundidade foram a grande contribuição das
obras desse artista, que com um colorido intenso, abriu as portas para o tratamento espacial
Renascentista. (14)
GIOTTO, SONHO DE INOCÊNCIO III, AFRESCO, IGREJA DE SÃO FRANCISCO, CERCA DE 1300, ASSIS, ITÁLIA
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Após tantos séculos de predomínio da têmpera e do afresco, a tinta a óleo começou a
ser praticada com afinco pelos artistas flamengos, que guardavam o segredo e o mistério
alquímico dos aglutinantes e dos pigmentos. A polêmica acerca desse assunto provocava
muitas dúvidas sobre a verdadeira origem dessa técnica.
Muitos historiadores atribuíam sua invenção ao pintor flamengo Jan Van Eyck, embora
essa não seja exatamente a verdade. Em torno de 1420 começou a florescer esse novo tipo
de mistura entre as obras flamengas. Entretanto, o primeiro a descrever uma pintura a óleo
sobre madeira foi um monge alemão, Teófilo, num tratado sobre Artes Medievais do século XII.
A principal limitação da tinta a óleo era sua lentidão para secar, que na opinião do monge
tornava a técnica muita demorada e tediosa, sobretudo para pintar figuras humanas. Após três
séculos de experiências e aperfeiçoamentos, no final do século XIV, a introdução de
catalisadores conseguiu acelerar a sua secagem. Com a têmpera o poder de matização das
cores não oferecia a possibilidade de efeitos de tridimensionalidade. Somente com a
introdução do óleo é que esse efeito de matização foi alcançado.
A pintura era preparada com pigmento moído com óleo de linhaça, mas não se sabe se
no início era empregado algum elemento volátil como a terebintina. Jan Van Eyck dominava
essa técnica de maneira tão hábil, com efeitos óticos tão inovadores, como na obra “O Casal
Arnolfini” (1434), que sua perícia acabou originando a lenda de que havia sido ele quem
inventara esse processo. Sem o aperfeiçoamento dessa técnica, a superfície lustrosa e o
brilhante ilusionismo da sua pintura não poderiam ter sido alcançados. Anteriormente as
qualidades pictóricas das obras apresentavam outras características, cores mais opacas e
menos detalhes realistas. (15)
JAN VAN EYCK, CASAL ARNOLFINI, ÓLEO S/MADEIRA, PINTURA FLAMENGA, 1434, NATIONAL GALLERY , LONDRES
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Esse trabalho de Van Eyck é a primeira grande demonstração porque essa técnica veio
a se tornar a favorita da Arte Ocidental. Apesar de sua secagem ser mais lenta do que as
anteriores, esse problema é também uma qualidade, pois os artistas podiam introduzir
modificações na composição durante o processo de feitura. O afresco nunca permitiu essa
liberdade fundamental para o processo criador, pois a secagem rápida da argamassa impedia
essa interferência. A têmpera, por sua vez, não possuía o mesmo poder de cobertura que as
pinceladas com óleo apresentavam.
O Renascimento significou para a história do Ocidente um momento de renovação, uma
nova concepção de vida e um marco fundamental para o conhecimento e a criação artística. Às
descobertas científicas somam-se o progresso material e as expansões marítimas. É a época
do Humanismo, o Antropocentrismo que substituiu o Teocentrismo Medieval. O resgate dos
valores da Antiguidade Clássica Greco-romana é o grande referencial do homem erudito do
século XIV. Os temas religiosos subsistem, mas a arte deixa de ser mística e simbólica e passa
a ter inspiração profana, o artista observa a natureza, adota o homem como modelo e
representa o espaço da realidade. Ao anonimato anterior opõe-se a diferenciação e a
individualização dos artistas e artesãos.
Na Itália, no período do Renascimento, a pintura dos seus mestres tinha no domínio da
perspectiva o seu grande trunfo. O naturalismo das figuras, a projeção dos planos no espaço
bidimensional do suporte, o tratamento pictórico dos volumes e a luz refletida foram as maiores
conquistas desses mestres. Enquanto os italianos buscavam a beleza das formas com uma
plasticidade intensa, os alemães e os flamengos se dedicaram à beleza interior e à meditação,
aos detalhes e ao tratamento suntuoso dos elementos da composição.
A grande umidade da cidade de Veneza dificultava a secagem dos afrescos, mas com a
flexibilidade dos óleos e a substituição dos suportes de madeira pelas telas, o trabalho poderia
ser executado no ateliê, ser enrolado e depois levado para o seu destino definitivo. Esse passo
foi fundamental para a grande difusão da técnica a óleo a partir do século XV. O pintor
Antonello da Messina foi o introdutor desse tipo de tinta em Veneza, em 1475. Mas foi com
Giovanni Bellini que a pintura a óleo alcançou todas as suas possibilidades e especificidades
técnicas. A partir daí a riqueza das cores, o brilho e a estética Renascentista se desenvolveram
de maneira tão triunfante. (16 e 17)
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ANTONELLO DA MESSINA, CRISTO NA COLUNA, ÓLEO S/TELA, 1476-1478, MUSEU DO LOUVRE,PARIS
BELLINI, O DOGE LEONARDO LOREDAN,ÓLEO S/MADEIRA E TÊMPERA COM OVO, 1501-1505, NATIONAL GALLERY, LONDRES
Enquanto a arquitetura inspirada nas ordens e nas proporções clássicas e simétricas,
com suas cúpulas grandiosas e equilibradas, se renova e passa a apresentar uma nova
concepção de espaço, a escultura assume sua plenitude com harmonia, vigor e caráter
humanizado. A pintura renascentista, por sua vez, apresentou uma produção tão prolífica que
viria a ser considerada como um dos mais ricos momentos das artes plásticas ocidentais.
Piero Della Francesca, da Escola Florentina, pintou em 1442 a obra “O Batismo de
Cristo“. Com um tratamento espacial ilusionista, composição equilibrada e simétrica, cores
delimitadas pela linha do desenho, esse mestre criou um típico exemplo de pintura
renascentista. Ele utilizou a técnica da têmpera com ovo, mas também tratou algumas partes
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com óleo. Por isso podemos perceber que a primazia do óleo não se deu de modo repentino, e
sim gradual. Muitos artistas dessa época utilizavam as duas técnicas ao mesmo tempo. (18)
PIERRO DELLA FRANCESCA, A FLAGELAÇÃO, ÓLEO E TÊMPERA S/ PAINEL, 1469, GALLERIA NAZIONALE DELLE MARCHE, URBINO, ITALIA
PIERO DE LA FRANCESCA,O BATISMO DE CRISTO, TÊMPERA S/ PAINEL, 1442, NATIONAL GALLERY, LONDRES
Leonardo da Vinci, uma das principais figuras do Renascimento Italiano, dedicou-se
com afinco ao estudo dos mais diversos assuntos: matemática, anatomia, física, botânica,
geologia, hidráulica, óptica, arquitetura e engenharia militar. Suas pinturas denotam a
aplicação de seus vastos conhecimentos na formalização das figuras humanas e nas
paisagens. Através da análise de suas obras podemos reconhecer as grandes inovações que
ele introduziu na linguagem da pintura. (19 e 20)
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LEONARDO DA VINCI, MONA LISA (DETALHE), ÓLEO S/MADEIRA, 1503-1506, MUSEU DO LOUVRE, PARIS
LEONARDO DA VINCI, A VIRGEM DAS ROCAS, ÓLEO S/ MADEIRA, 1503-1506, NATIONAL GALLERY, LONDRES
- O “sfumato“, termo italiano criado por ele para se referir à técnica de pintura em que
sucessivas camadas de cor são misturadas em diferentes gradações de forma a passar ao olho
humano a sensação de profundidade, forma e volume. Trata-se de uma mistura de matizes
aplicada de forma sutil, sem uma transição abrupta entre as formas. Remete à idéia de
esfumaçado, ou como ele dizia: “sem linhas ou limites, à maneira de fumaça”. Ao diluir as
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formas na atmosfera ele realizou a síntese entre a figura feminina e a paisagem. Aliás, a
introdução de paisagens de fundo com características de perspectiva atmosférica foi uma das
suas grandes inovações.
- O “chiaroscuro“, termo italiano traduzido como claro-escuro, significa a relação entre luz e
sombra, uma técnica de modelado para a definição das formas através do contraste luminoso
entre as zonas de luz e sombra.
Embora Leonardo tivesse acesso a todos os pigmentos disponíveis na época, sua paleta era
geralmente bastante reduzida, a cor desempenhava um papel secundário na sua obra, pois a
matemática, as leis da geometria, a busca da proporção áurea é que dominavam o seu
processo criador.
A partir de meados do século XVI a técnica da tinta a óleo vai sendo adotada com
características específicas pelos maiores mestres da pintura européia. O estilo Maneirista, que
se distanciava do tratamento pictórico do Renascimento, passa a enfatizar a riqueza cromática.
Embora Michelangelo tenha sido reconhecido como o outro grande nome do
Renascimento, seus afrescos da Capela Sistina são classificados esteticamente como um dos
grandes exemplos da pintura Maneirista. O tipo de tratamento pictórico, a movimentação das
formas, a dramaticidade das figuras e a policromia das composições evidenciam as
características da linguagem Maneirista, uma clara reação ao classicismo do Renascimento.
(21)
MICHELANGELO, O ÚLTIMO JULGAMENTO, CAPELA SISTINA, AFRESCO, 1536-1541, MUSEU DO VATICANO
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Outro exemplo de pintura Maneirista, a obra de Ticiano da Escola Veneziana, denota o
desaparecimento da linha e enfatiza a sua pincelada direta, mesclando zonas de empaste das
tintas com outras de veladuras mais transparentes. (22)
TICIANO, RETRATO DE PIERO ARETINO, ÓLEO S/ TELA, 1545, PALACIO PITTI, FLORENÇA, ITALIA
El Greco, que nasceu em Creta e se estabeleceu na Espanha, realizou a maior parte de
suas pinturas em Toledo. Sua característica pictórica fundamental é a singular riqueza
cromática aliada às distorções das figuras e ao movimento dos tecidos, onde podemos notar a
fisicalidade da tinta e o dinamismo das pinceladas. Sua técnica original e suas cores ácidas
provocaram a rejeição do seu talento, que só foi valorizado com o surgimento da Arte Moderna,
no final do século XIX. (23)
EL GRECO, MADONA E O MENINO COM STA MARTINA E STA AGNES, ÓLEO S/TELA,
1597-1599, NATIONAL GALLERY OF ART, WASHINGTON, EUA
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Caravaggio, um dos primeiros nomes da pintura Barroca, tinha no tratamento realista e
no dramático emprego da luz e das sombras, aliado ao ilusionismo espacial, as marcas do seu
talento e do domínio da técnica da tinta a óleo. Apesar da influência que sua pintura exerceu
sobre muitos artistas, seu estilo era criticado pelos conservadores, acusado de abandonar a
idealização clássica renascentista. (24)
CARAVAGGIO, A CEIA DE EMMAUS, ÓLEO S/TELA, 1600-1601, NATIONAL GALLERY, LONDRES
Dentre os outros artífices da pintura Barroca do século XVII estão: Velazquez,
Rembrandt e Vermeer. Embora cada um apresente especificidades no manejo dos pincéis e
na aplicação das tintas, o que podemos enfatizar como características marcantes são:
pinceladas livres sugerindo detalhes luminosos e brilhantes, formas sugeridas e não a imitação
perfeita do real, poucas texturas, veladuras finas e pequenos pingos sugerindo reflexos das
luzes. O domínio da tinta a óleo e os recursos que cada um soube tirar dessa técnica
transformaram esse artistas em fontes de grande influência sobre os artistas modernos. (25, 26
e 27)
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VELAZQUEZ, AS MENINAS, ÓLEO S/TELA, 1656, MUSEU DO PRADO, MADRI
REMBRANDT, HENDRICKJE BANHANDO-SE NO RIO, ÓLEO S/PAINEL, 1654, NATIONAL GALLERY, LONDRES
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VERMEER, A ARTE DA PINTURA, ÓLEO S/TELA, 1666-1673, KUNSTHISTORISCHES MUSEUM, VIENA
Com Goya, a pintura se torna um símbolo da revolta popular contra a opressão. Ao
pintor da corte se soma a consciência crítica dos fatos e tragédias do cotidiano espanhol,
enfatizando a mistura de estilos que permeiam a sua trajetória (rococó, neoclassicismo,
romantismo e realismo). Com formas inacabadas, pinceladas expressivas e luzes dramáticas
ele deixou profundas marcas na História da Arte do século XIX. (28)
GOYA, O FUZILAMENTO DE 3 DE MAIO DE 1808, ÓLEO S/TELA, 1814, MUSEU DO PRADO, MADRI
No final do século XVIII o Neoclassicismo havia trazido de volta os valores da estética
Renascentista. Mas Ingres, com seu estilo pessoal e sensual, se destaca dos demais
integrantes desse movimento. Sua pintura com uma iluminação suave e frontal, cores
delimitadas pela linha e figuras modeladas com proporções alongadas de acordo com a
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composição, denotam a importância que essa obra, tão independente dos cânones
acadêmicos, vai ter para a linguagem modernista. (29)
INGRES, A GRANDE ODALISCA, ÓLEO S/ TELA, 1814, MUSEU DO LOUVRE, PARIS
Os Românticos que atribuíam grande importância ao significado dramático do tema -
como Delacroix, com suas cores quentes e pinceladas soltas e Turner, com suas paisagens, os
efeitos de tormentas e seus matizes com transparências - se distanciaram da rigidez das
pinturas acadêmicas e liberaram o caminho para as novas conquistas pictóricas. (30 e 31)
DELACROIX, MULHERES DE ARGEL, ÓLEO S/ TELA, 1834, MUSEU DO LOUVRE, PARIS
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TURNER, TEMPESTADE DE NEVE, ÓLEO S/ TELA, 1842, NATIONAL GALLERY, LONDRES
A partir de meados do século XIX, como conseqüências da Revolução Industrial, vários
fatores serão fundamentais para as transformações radicais da linguagem das artes visuais.
O desenvolvimento da indústria de tintas a óleo com tubos metálicos, as pesquisas no
campo da química introduzindo novos pigmentos, as teorias científicas sobre luz e cor e
principalmente o surgimento da técnica fotográfica em 1839, são alguns dos mais notáveis
avanços que vão definir uma nova trajetória no campo das artes plásticas.
Com o advento da fotografia, um meio mecânico de captar e multiplicar a realidade, a
pintura teve que buscar a única alternativa que lhe restava: enfatizar o tratamento pictórico
através da fisicalidade da tinta, uma textura que era exclusiva da técnica a óleo.
Qual seria a diferença entre as técnicas artísticas e as novas técnicas industriais em
relação ao valor e ao significado das imagens produzidas pela máquina e as criadas pelo
pintor? A pintura liberada da sua tradicional função de representar o real, buscou um papel
mais específico, se apresentando como puramente pintura, ou seja, com procedimentos
técnicos específicos se obtém valores plásticos impossíveis de se realizarem com outro método
qualquer. O único aspecto que a fotografia não poderia substituir na pintura era esse contato
direto entre o olho e a tinta.
Dos realistas, Courbet foi dos primeiros a abordar essas questões. Seus temas típicos
foram os trabalhadores, as mulheres do povo, ou seja, os assuntos sociais, embora sua maior
contribuição tenha sido a ênfase de que a força da pintura residia na própria pintura e não na
temática. (32)
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COURBET, O ESTÚDIO DO ARTISTA, ÓLEO S/ TELA, 1855, MUSEU D’ ORSAY, PARIS
Entretanto, foi com Manet que a pintura realista deu o salto definitivo. Ao abandonar as
cores, as pinceladas e os assuntos tradicionais, ele abriu as portas da Modernidade. A
temática transgressora enfrentava os valores burgueses com mulheres nuas, mas não eram
ninfas ou deusas, e sim, cenas da vida urbana contemporânea. Manet não queria representar
uma perspectiva ou uma paisagem real, ele observava os elementos e organizava um espaço
mais ou menos semelhante, arranjados especificamente segundo uma lógica pictural. Quanto
à transformação da técnica ele modificou a aplicação das tintas - primeiro as camadas mais
gordurosas e por cima a pintura mais diluída. Ele suprimiu os tons médios e reforçou as zonas
de luz forte e direta, sem claro-escuro, nem relevos, evitando também o espaço profundo, a
separação entre o vazio espacial e o volume das coisas. Há nessas pinturas uma interação
entre as cores que precede a análise cromática dos Impressionistas. (33)
MANET, O ALMOÇO NA RELVA, ÓLEO S/ TELA, 1863, MUSEU D’ ORSAY, PARIS
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A partir do Impressionismo a tinta passa a ter uma importância fundamental na História
da Arte. O emprego das cores primárias, secundárias e suas complementares, bem como a
pincelada virgulada, passam a definir a abordagem dos efeitos fugazes da luz e da cor sobre a
natureza. Uma questão fundamental para essas mudanças é a inusitada vivência do tempo
com os novos meios de transporte como o trem e a proliferação dos relógios públicos,
determinando o tipo de efeitos dinâmicos através das pinceladas. Monet, o introdutor da
pintura ao ar livre, representava a paisagem, a passagem do tempo e os efeitos atmosféricos
através da espontaneidade e da aparência “flou“, com composições assimétricas e uma paleta
luminosa. A textura da tinta e o emprego das cores frias e quentes, com seus contrastes
simultâneos, assumiram a função de aproximar as distâncias e evitar os ilusionismos espaciais.
O tema é apenas um motivo para o exercício soberano da pintura, pois ela representa a
aparência das coisas e não as coisas propriamente ditas. (34)
MONET, BARCO-ESTÚDIO, ÓLEO S/ TELA, 1876, ART AND HISTORY MUSEUM,
NEUFCHÂTEL, FRANÇA
Com Seurat a pincelada estruturada em pontinhos passa a definir um sentido mais
científico para as suas composições, gerando o novo estilo Pontilhista. Ele se ateve às
investigações científicas acerca das leis óticas da visão e dos contrastes simultâneos, mas sua
intenção não era fazer uma pintura científica e sim criar uma pintura como uma ciência
autônoma, uma análise plástica dentro do próprio procedimento técnico. (35)
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SEURAT, O CIRCO, ÓLEO /TELA, 1891, MUSEU D’ ORSAY, PARIS
Van Gogh, o holandês que liberou a cor da sua função naturalista, empregava as cores
da maneira a mais arbitrária para enfatizar a força dos contrastes e a sua visão rebelde em
relação à submissão das convenções. A textura das pinceladas e as camadas espessas
aproximam os planos e convocam o olhar do fruidor para a fisicalidade da superfície pictórica.
(36)
VAN GOGH, A NOITE ESTRELADA SAINT REMY, ÓLEO S/ TELA, 1889, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
A liberação do espaço do ilusionismo da perspectiva foi a tarefa primordial de Cézanne,
o grande pai da Arte Moderna. Sua busca incessante visava o afastamento da simples
transcrição da natureza e a problematização da diluição dos volumes engendrada pelos
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Impressionistas. Ele criou uma harmonia paralela à natureza, reconstruindo-a geometricamente
e assim se distanciando da relação com o real. Ele dava forma às coisas com o pincel,
modulava com a cor, somava diversos pontos de visão e assim acentuava a superfície plana
do suporte. Ele conseguiu criar e não mais representar os objetos e a natureza, daí formulou
plasticamente a noção de signo - a posição da pintura entre as linguagens humanas. (37)
CÉZANNE, MONTANHA STA VICTÓRIA E CASTELO NEGRO, ÓLEO S/ TELA, 1904-1906, BRIDGSTONE MUSEUM OF ART, TÓQUIO
Entre o inicio Fauvista e o desenrolar de uma trajetória independente, Matisse se firmou
como o grande colorista da arte no século XX. A técnica do Fauvismo (fauve, palavra francesa
que significa fera) se baseava numa síntese das cores audazes de Van Gogh e Gauguin, bem
como numa reação ao acabamento perfeito da pintura acadêmica francesa. Mas a grande
questão que a sua pintura nos legou foi a concepção da cor como espaço e a superação da
dicotomia entre linha e cor. A pincelada fina, que seria linha, mas sem ser contorno, é apenas
um arabesco de cor que cria as formas livres e recortadas no próprio campo. Entre o fundo
recoberto com uma camada de tinta plana e as figurações que habitam o espaço, não há
separação, tudo se dá no mesmo nível - volume e bidimensionalidade, síntese e harmonia
pictórica. (38)
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MATISSE, O ESTÚDIO VERMELHO, ÓLEO S/ TELA, 1911, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
Picasso, que somou a herança de Cézanne e a influência da Arte Africana, criou o
Cubismo ao lado do seu companheiro Braque e com isso revolucionou a arte nos primeiros
anos do século XX. Esse estilo aboliu a visão monocular, desconstruiu os volumes e o espaço
abordando os diversos ângulos de visâo, eliminou a perspectiva e geometrizou as formas
subvertendo a aparência da realidade. Para enfatizar o aspecto científico dessa pintura
aboliram as cores primárias e adotaram uma paleta de tons cinzentos, marrom, ocre, preto e
branco - a cor das máquinas, das ciências, um desvio das qualidades cromáticas típicas da
pintura até então. Mas logo em seguida passaram a introduzir pedaços da realidade, restos de
papéis, jornais, etc, na superfície das obras, uma transgressão ao conceito das Belas-Artes.
Com essa técnica de colagem, o Cubismo rompeu com a tradicional integridade da pintura a
óleo e passou a problematizar o próprio conceito de realidade colada e realidade representada.
Aos poucos as cores voltaram a permear as suas pinturas e as desconstruções foram
substituídas pelas formas sintetizadas. Com o passar dos anos o Cubismo cedeu lugar ao Pós-
Cubismo e a volta da policromia enfatizando as distorções das figuras com pinceladas
carregadas de tintas coloridas. (39 e 40)
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PICASSO, A MOÇA COM BANDOLIM, ÓLEO S/ TELA, 1910, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
BRAQUE, TENORA, PAPEL COLADO, ÓLEO, CARVÃO, GIZ E LÁPIS S/ TELA, 1913, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
Se até então a representação figurativa interferia na percepção da obra, com a
linguagem abstrata a cor se torna o principal assunto da pintura moderna. A partir daí o
caminho da fruição fica liberado das imposições temáticas e se abre para o campo das
representações não-objetivas.
Kandinsky, o iniciador da Abstração Informal, perseguiu esse caminho através da
associação com a música. O seu esforço para criar uma Arte Abstrata, com grande
intensidade emocional e espiritual, se concretizou com a fusão entre formas e cores livres de
qualquer compromisso naturalista. A ausência de representação figurativa acentua a flutuação
das cores no espaço e a planaridade dessas pinturas. Kandinsky dizia que quando ouvia
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música via cores. Este fenômeno de associação simultânea e subjetiva de percepções
originadas em sentidos diferentes, chama-se Sinestesia. (41)
KANDINSKY, IMPROVISAÇÃO 26, ÓLEO S/ TELA, 1912, STÄDTISCH GALERIE IM LEMBACHHAUS, MUNIQUE
Quanto à diversidade de técnicas, Klee foi um dos pintores mais inovadores. Com a
tinta a óleo ele variava os suportes: sobre cartão, sobre gaze com gesso, tela, papel montado
sobre madeira, tecidos com texturas variadas, etc. Ele justificava essa assombrosa variedade
de materiais afirmando que uma pintura deve crescer como um organismo vivo. Aliás, ele
dizia: “a arte é o equivalente da criação e sua função é revelar a realidade que há por detrás
das coisas”. Ou então: “a arte não reproduz o visível e sim torna visível”. Com seu estilo
abstrato peculiar ele transitou entre as figuras estilizadas e os símbolos, entre as letras e os
sinais. (42)
KLEE, BALÃO VERMELHO, ÓLEO S/ MUSSELINA E GIZ, 1922, MUSEU GUGGENHEIM, N. YORK
Com a Abstração Geométrica temos duas variantes: o Suprematismo russo de Malevich
e o Neo-Plasticismo do holandês Mondrian. O reducionismo das cores imperou em ambos,
embora seus estilos abordem questões específicas.
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A obra de Malevich se inicia com cores fauvistas, passa pela desconstrução cubista e
atinge o seu alvo com o “Quadrado Preto sobre fundo Branco”, até a concepção radical do
“Quadrado Branco sobre fundo Branco“. A forma do quadrado é a única que não nasce na
natureza, por isso o melhor exemplo de uma forma abstrata concebida pela mente do homem.
Ele não queria reproduzir a natureza, ele buscou uma arte Suprematista onde a sensação
cósmica, o movimento e o sentimento são as forças motrizes de um mundo dinâmico, a própria
vida moderna em transformação representada pictoricamente. O preto, o vermelho, o branco e
um pouco de amarelo e azul, serão as cores adotadas, embora os monocromáticos preto ou
branco sejam as grandes inovações dessa linguagem carregada de sentido místico, que
almejava a representação total do espaço, aquele da 4ª dimensão. (43 e 44)
MALEVICH, QUADRADO PRETO, ÓLEO S/ TELA, 1913, STATE RUSSIAN MUSEUM, SÃO PETERSBURGO, RUSSIA
MALEVICH, QUADRADO BRANCO S/ BRANCO, ÓLEO S/ TELA, 1918, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
Mondrian, por sua vez, adotou as cores primárias, as não-cores preto, cinza e branco,
as linhas retas horizontais e verticais, criando um estilo absolutamente pessoal e inovador, com
zonas de tinta lisa, sem nenhuma textura ou ilusionismos. O equilíbrio, a harmonia universal e a
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relação entre suas pinturas e o ambiente foram as metas buscadas pelo seu Neo-Plasticismo,
um reducionismo estético e ao mesmo tempo uma ambiciosa influência sobre a vida moderna.
Ao abolir a moldura ele abriu as fronteiras entre a obra, a parede, a arquitetura e o espaço
urbano. (45)
MONDRIAN, COMPOSIÇÃO COM PLANO AZUL, VERMELHO, PRETO, AMARELO E CINZA, ÓLEO S/ TELA, 1921, DALLAS MUSEUM OF ART, EUA
Dentre os Surrealistas devemos estabelecer a distinção entre os Figurativos e os
Abstratos. Os primeiros retomaram a técnica de pintura acadêmica, uma tinta aplicada com
esmero detalhista e camadas de verniz, para enfatizar o aspecto insólito dos seus temas
oriundos de exercícios psicológicos com as teorias freudianas. Enquanto os Abstratos
adotaram técnicas variadas com tintas a óleo e experiências com vários materiais. A técnica do
automatismo psíquico com desenhos e pinturas liberava os movimentos da linha sem nenhum
planejamento consciente. Esse tipo de exercício com tinta a óleo sobre superfícies adesivas
recebia camadas de areia colorida que se somavam às zonas com gesso e carvão. Um
exemplo de processo criador que vai influenciar os artistas americanos do Pós-Guerra. (46 e
47)
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MAGRITTE, A CONDIÇÃO HUMANA, ÓLEO S/ TELA, 1933, NATIONAL GALLERY OF ART, WASHINGTON, EUA
MASSON, BATALHA DOS PEIXES, AREIA, GESSO, ÓLEO, LÁPIS, CARVÃO S/ TELA, 1926, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
A partir do final dos anos 40 Nova York vai superar Paris como centro irradiador da Arte
Moderna. A Arte Americana rompe, então, com o passado regionalista, e passa a apresentar
uma concepção totalmente inovadora da linguagem plástica no âmbito internacional.
Pollock é o nome mais transgressor dessa fase denominada de Expressionismo
Abstrato. As principais características da sua técnica são: imenso rolo de tela esticada no
chão, sem montagem sobre chassi, tintas que escorrem das latas furadas ou que respingam
através de hastes de madeira ou cabo dos pincéis, movimentos livres ao redor da tela ou
pisando sobre ela, zonas que se alternam entre grafismos com esmalte, manchas com óleo,
tintas fluidas misturadas com areia, vidro moído, etc. O ritmo emocionante desse processo
expressa sua vontade de estar no âmago da cena, a tela é a sua arena, e a dimensão da obra
só é estabelecida no final dessa verdadeira performance. O assunto dessa pintura é o seu
próprio processo criador, onde a espacialidade gigantesca da tela enfatiza a sua busca de
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superação do ilusionismo e a abertura para uma abstração que é pura pintura de ação. (48 e
49)
POLLOCK, NUMBER 1 LAVENDER MIST, ÓLEO, ESMALTE, ALUMINIO S/TELA, 1950, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
POLLOCK, FOTOGRAFADO POR HANS NAMUTH, 1950
Desde o período entre Guerras, os químicos passaram a desenvolver novos pigmentos
e resinas sintéticas, substituindo o óleo de linhaça que era muito usado para fins militares. Nos
anos 50 foram criadas tintas especiais para pinturas de exteriores e novos tipos de esmaltes
para acabamento de automóveis. Nos anos 60 a pesquisa com resinas sintéticas conferiu às
tintas maior resistência contra substâncias químicas e gases. Foi nesse período que as tintas
fluorescentes se popularizaram. A grande novidade dessa época contemporânea veio do
desenvolvimento da química que permitiu a criação de pigmentos orgânicos de síntese
(compostos de carbono). A química do petróleo foi a grande responsável pelo surgimento das
mais variadas nuances de pigmentos.
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Por isso, quando nos anos 60 a Arte Contemporânea adotou as tintas acrílicas, com
cores ácidas e fluorescentes, mesclando pinceladas gestuais com técnicas de serigrafia, a
pintura assumiu um outro caráter, uma temática acerca das idéias da banalização dos meios de
comunicação. A famosa frase que previa que no futuro todos seriam celebridade por 15
minutos, traduz a força da mídia determinando o aspecto repetitivo dessas imagens. Andy
Warhol deslocou os ícones do consumo e as pessoas famosas para o campo das telas e
mergulhou as imagens em camadas de tinta lisa, desconstruindo o conteúdo figurativo para
desvelar o sentido abstrato dessa linguagem. (50)
ANDY WARHOL, AUTORETRATO, SERIGRAFIA E TINTA ACRÍLICA S/ 9 TELAS, 1966, MUSEU DE ARTE MODERNA , N. YORK
Outro exemplo de mudança no tratamento pictórico que revolucionou a estética
contemporânea foi a abstração pós-pictórica, com suas imensas telas pintadas com tintas
acrílicas, polímeros sintéticos e esmaltes, com uma fatura lisa e aspecto planar. Muitas dessas
obras adotam a cor monocromática para enfatizar de modo radical a bidimensionalidade da
pintura. O que predomina nesses trabalhos é o aspecto anônimo, pois não há resquício da
mão do artista na aplicação da tinta. As próprias obras tridimensionais do Minimalismo
passaram a adotar camadas de tinta automotiva para caracterizar o aspecto industrial dessas
estruturas. (51, 52 e 53)
ELLSWORTH KELLY, CURVA AMARELA/VERMELHA, ÓLEO S/TELA, 1972, CENTRO POMPIDOU, PARIS
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FRANK STELLA, MAIS OU MENOS, PÓ METÁLICO E EMULSÃO ACRÍLICA SOBRE TELA,
1964, CENTRO POMPIDOU, PARIS
DONALD JUDD, SEM TÍTULO, ESCULTURA EM FERRO GALVANIZADO COM LACA, 1967,
MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
Desde meados dos anos 50 a linguagem contemporânea vinha incorporando elementos
da vida cotidiana, sucata, etc, somadas às tintas encáustica, acrílica, óleo e impressões
serigráficas para subverter o domínio da linguagem abstrata e problematizar a relação
figuração versus abstração. Paralelamente à essa diversidade de materiais e técnicas, as
linguagens de cunho conceitual, herdeiras das transgressões de Marcel Duchamp,
passaram a dominar o panorama da arte nos anos 60/70. Ao reinado da pintura, que por
tantos séculos havia dominado a Historia da Arte, se contrapunha a disseminação de discursos
conceituais, onde a ruptura com os suportes tradicionais das linguagens plásticas e a
problematização do conceito de arte passaram a dominar o panorama contemporâneo. A
tinta e a tela cederam o lugar para as intervenções no ambiente, os objetos e materiais
comerciais, o próprio corpo, enfim, uma abundante diversificação de projetos originais. (54, 55
e 56)
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MARCEL DUCHAMP, A FONTE, READY-MADE, 1917, PHILADELPHIA MUSEUM OF ART,
EUA
JASPER JOHNS, FLAG, ENCÁUSTICA, ÓLEO E COLAGEM S/ TELA MONTADA S/
MADEIRA, 1954-55, MUSEU DE ARTE MODERNA, N. YORK
RAUSCHENBERG, CANYON, COMBINE S/ TELA, 1959, COLEÇÃO SONABEND, PARIS
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WALTER DE MARIA, THE N. YORK EARTH ROOM (SALA DE TERRA DE NY), 197 M³ DE
TERRA S/ 335 M² DE ESPAÇO, 1977, SOHO, N. YORK
Um dos nomes das artes plásticas que mais enfatizou a criação da tinta como um
verdadeiro assunto nas suas obras foi Yves Klein. Ele adotou um tipo de azul ultramar, intenso
e luminoso, acentuando seu efeito com uma fórmula que não empregava óleo fixador e que
deixava os grãos individuais do pigmento em pó livres e vibrantes. Ele registrou essa tinta
“International Klein Blue – IKB” como sua propriedade. Com esse material ele criou pinturas
monocromáticas e banhou outros suportes com linguagens diversificadas, sempre explorando
o poder espacial dessa cor. (57)
YVES KLEIN, RELEVO AZUL -ESPONJA, ESPONJA, PEDRA E PIGMENTO AZUL S/ TELA E
MADEIRA, 1960, STADEL MUSEUM, FRANKFURT
Mas, a partir dos anos 80, a pintura retomou seu espaço e passou a conviver com as
instalações, os vídeos e com a fotografia. Isto denota a pluralidade de técnicas e idéias que
vêm permeando o contexto da arte na atualidade. (58 e 59)
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ANDREAS GURSKY, 99 CENT,FOTOGRAFIA CROMOGÊNICA,1999,MARKS GALLERY,
N. YORK
Com a passagem dos anos, e a própria virada do milênio, podemos constatar que a
tinta a óleo recuperou seu espaço dentre as técnicas artísticas, ao lado das emulsões,
esmaltes, acrílicas, oxidações e as técnicas mistas em geral. Mas quando se trata de uma
superfície com textura oleosa, fisicalidade pictórica, empastes e cores primordiais a tinta a óleo
continua e deverá continuar a ser a referência fundamental, como foi no passado para os
pintores que concretizaram as imagens do nosso mundo.
Das pinturas rupestres às gigantescas e profundas telas do pintor alemão Anselm Kiefer
com suas misturas de tintas e elementos que enriquecem a textura das suas composições,
instigando a nossa percepção com contrastes espaciais e sensações dramáticas, religamos os
dois extremos da historia da tinta. (60)
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ANSELM KIEFER, AO PINTOR DESCONHECIDO, EMULSÃO, PEDAÇOS DE MADEIRA,
BORRACHA E PALHA S/ TELA, 1983, CARNEGIE MUSEUM OF ART, PITTSBURGH, EUA
Da fase Paleolítica ao Século XXI a pintura demonstrou que, apesar dos desvios e do
forte apelo da linguagem fotográfica e dos recursos digitais, ela se mantém soberana no
universo da História da Arte Ocidental.
NOTA:
A leitura desse texto pelos alunos do curso de Museologia contribui de maneira
fundamental para uma visão abrangente e cronológica da História da Arte Ocidental, bem como
para o desenvolvimento do olhar acerca das especificidades desse assunto no contexto
museológico.
Oferecer ao leitor um amplo panorama das transformações do uso das tintas através da
História da Arte Ocidental, foi o intuito desse trabalho.
Entretanto, muitos foram os artistas plásticos, dos mais variados estilos, omitidos no
desenrolar dessa pesquisa, pois uma leitura via Internet requer um espaço definido e um tempo
específico. Por isso, o que determinou a escolha de uns e a ausência de outros foi sempre o
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critério da ênfase no tratamento da tinta - seja pela inovação técnica, pela riqueza pictórica ou
pela transgressão aos conceitos das artes plásticas.
Quanto à História da Arte Brasileira, a abordagem seria outra, muito mais relacionada
às especificidades e dificuldades do contexto nacional.
REFERÊNCIAS: VASARI, GIORGIO. VASARI ON TECHNIQUE. DOVER PUBLICATIONS, NEW YORK JANUSZCZAK, WALDEMAR. TECNICA DE LOS GRANDES PINTORES. H.BLUME EDICIONES ANDAHASI, FEDERICO. O SEGREDO DOS FLAMENGOS. L & PM FRANCASTEL, PIERRE. PINTURA Y SOCIEDAD. EMECÉ EDITORES FRANCASTEL, PIERRE. A REALIDADE FIGURATIVA. EDITORA PERSPECTIVA BAZAIN, GERMAIN. BAROQUE AND ROCOCO. THAMES AND HUDSON VENTURI, LIONELLO. DE GIOTTO A CHAGALL. ESTUDIOS COR BURNS, EDWARD MCNALL. HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL. EDITORA GLOBO ARGAN, GIULIO CARLO. EL ARTE MODERNO. FERNANDO TORRES EDITOR PLEYNET, MARCELIN. L’ENSEIGNEMENT DE LA PEINTURE. EDITIONS DU SEUIL SITES: WWW.ARTCYCLOPEDIA.COM WWW.ARTCHIVE.COM WWW.ATMOSPHERE.MPG.DE WWW.ART-AND-ARCHAELOGY.COM WWW.ALL-ART.ORG/HISTORY