Tribunal de Justiça do Estado do MaranhãoProcesso Judicial Eletrônico - PJe
O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0805785-61.2017.8.10.0000em 27/10/2017 14:45:30 por ANNA GRAZIELLA SANTANA NEIVA COSTADocumento assinado por:
- ANNA GRAZIELLA SANTANA NEIVA COSTA
17102711302322700000001261865
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE
DAS CÂMARAS CRIMINAIS REUNIDAS DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO
LUIS HENRIQUE ALVES SOBREIRA MACHADO,
OAB/DF 28.512, ANNA GRAZIELLA SANTANA NEIVA COSTA,
OAB/MA 6.870 e BRUNO ARAÚJO DUAILIBE PINHEIRO,
OAB/MA,6026, brasileiros, advogados, com escritórios,
respectivamente, na SHIS QL 10, Conjunto 10, Casa 06, Lago Sul,
Brasília/DF, CEP 71.630-105, na Rua Miquerinos, Quadra 32,
Loteamento Boa Vista, Edifício Golden Tower, sala 1007,
Renascença II, São Luís – MA, CEP 65075-045 e Av. Colares
Moreira,444, Ed. Monumental, sala 520, Renascença II, CEP
65.075-440, São Luís, vêm, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, impetrar, com fundamento no art. 5º, LXVIII, da
Constituição Federal e arts. 647 e seguintes do Código de
Processo Penal
HABEAS CORPUS
em favor de ROSEANA SARNEY MURAD, brasileira, casada, ex-
Governadora do Estado do Maranhão, inscrita no CPF sob nº
115.116.991-91, residente e domiciliada na Rua dos Caiapós,
Quadra 21, nº 09, Calhau, São Luís/MA.
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Requer, desde já, o regular processamento do feito no
âmbito deste Egrégio Tribunal.
Termos em que pede deferimento.
Brasília, 27 de outubro de 2017
ANNA GRAZIELLA SANTANA NEIVA COSTA
OAB/MA 6.870
LUÍS HENRIQUE A. S. MACHADO
OAB/DF 28.512
BRUNO ARAÚJO DUAILIBE PINHEIRO
OAB/MA 6.026
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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO,
EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR RELATOR,
COLENDA CÂMARA JULGADORA,
DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA
Impetrantes: Luís Henrique Alves Sobreira Machado, Anna Graziella
Santana Neiva Costa e Bruno Araújo Duailibe Pinheiro;
Paciente: Roseana Sarney Murad;
Autoridade Coatora: Juíza Auxiliar de Entrância Final da 8ª Vara Criminal
da Comarca de Ilha de São Luís/MA, nos autos da Ação Penal nº 19880-
63.2016.8.10.0001, Cristiana de Sousa Ferraz Leite;
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão.
I. DO CABIMENTO.
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXVIII, prevê:
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
Corroborando com esse entendimento, o Código de Processo
Penal, em seu artigo 647 também afirma:
Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.
In casu, o presente writ tem como fulcro, ainda, o artigo 648,
inciso I, do Código de Processo Penal1, tendo em vista a falta de justa causa
para a Ação Penal 19880-63.2016.8.10.0001, que teve sua denúncia recebida
por decisão da MM. Juíza Auxiliar de Entrância Final da 8ª Vara Criminal da
Comarca de Ilha de São Luís/MA, Cristiana de Sousa Ferraz Leite.
1Art.648.Acoaçãoconsiderar-se-áilegal:I-quandonãohouverjustacausa;
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O habeas corpus é o instrumento de controle da legalidade das
ações penais haja vista a possibilidade mediata de atingir a liberdade e, de
forma drástica, a dignidade da pessoa humana. Segundo Föppel e Santana2
“partindo da constatação de que a propositura da ação penal, por si só, já
atinge o status dignitatis do acusado, a denúncia deve vir acompanhada de
suporte probatório mínimo, sob pena de falta de justa causa para o seu
processamento”.
Além disso, a justa causa, que diz respeito à existência de
lastro probatório mínimo, ainda compreende o mérito, como nos casos de
atipicidade da conduta imputada ou da extinção da punibilidade3. Nesse
sentido, o entendimento do Supremo Tribunal Federal é pacífico4, como
afirma o Ministro Ricardo Lewandowski, no julgamento do HC 95.058/ES:
Consoante jurisprudência pacífica desta Suprema Corte, o trancamento de ação penal somente é cabível em sede de habeas corpus quando, de modo flagrante, e que não demande o exame aprofundado dos elementos probatórios, ficar evidenciada a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a ausência de elementos indiciários demonstrativos de autoria e prova da materialidade. (Grifamos)
É o caso dos autos! Cabível, portanto, o presente Habeas
Corpus com fulcro nos artigos mencionados e, pelas razões de fato e de
direito, a seguir aduzidas.
II. DA AUSÊNCIA DE PREPARO.
Dispõe o Regimento Interno deste Tribunal, in verbis:
Art. 237. Independem de preparo:
IV - os habeas corpus, os habeas data e os processos criminais, salvo os iniciados mediante queixa;
Sendo assim, o preparo, in casu, resta dispensado.
2DIDIERJR.,Fredie.AçõesConstitucionais.5ªEd.Salvador:JusPODIVM,2011,p.45.3DIDIERJR.,Fredie.AçõesConstitucionais.5ªEd.Salvador:JusPODIVM,2011,p.45.4HC89.398;HC84.738;HC92.183.
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III. DA LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ DO PROMOTOR DE JUSTIÇA.
Em 31.10.2016 (segunda-feira), foram distribuídos os autos
do processo em comento à 8ª Vara Criminal da Comarca de São Luís. A
denúncia foi recebida em 04.11.2016 (sexta-feira), após coletiva de
imprensa, ocorrida no dia anterior (03.11.2016), oportunidade em que o
promotor Paulo Roberto Barbosa Ramos afirmou que fez um acordo com o
poder Judiciário5 e que a decisão de recebimento seria proferida no dia
seguinte o que, de fato, ocorreu.
Na coletiva, o promotor declarou:
“Eu não disse que não fiz. Eu fiz. Eu só não quero antecipar, porque perde o sentido. Já que vai ser decidido na sexta, até pelo acordo que fiz com a juíza, então vou esperar a manifestação em respeito a ela.”6
Ab initio, impende salientar que não se coloca em xeque a
honradez e o decoro da eminente juíza Cristiana de Sousa Ferraz Leire,
ainda que esta tenha proferido decisão teratológica ao receber a denúncia
5 Blog do Neto Ferreira: Promotor diz que fez acordo com judiciário para prender investigados. Online:http://www.netoferreira.com.br/poder/2016/11/promotor-diz-que-fez-acordo-com-judiciario-para-prender-investigados/(Acesso19.05.2017)Luis Cardoso. Bastidores da Notícia: Promotor diz que fez acordo com judiciário para prender investigados . Online:https://luiscardoso.com.br/politica/2016/11/promotor-diz-que-fez-acordo-com-judiciario-para-prender-investigados/(Acesso22.05.2017)6 Conjur: Promotor que investiga Roseana Sarney diz ter combinado estratégia com a juíza. Online:http://www.conjur.com.br/2016-nov-07/promotor-roseana-sarney-combinado-estrategia-juiza(Acesso19.05.2017)
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(sem qualquer fundamentação, ao arrepio do que estabelece a legislação) da
Ação Penal em comento.
Todavia, cumpre aos membros do Ministério Público e do
Poder Judiciário a obrigação de desenvolver as suas atividades dentro dos
limites estabelecidos na Constituição Federal e na legislação
infraconstitucional, sob pena de configuração de falta disciplinar e
extrapolação dos deveres funcionais.
Dessa forma, não se pode admitir que, sob o pretexto de
promover o bem comum e comprovar cometimento de supostos ilícitos, o
Ministério Público possa atropelar as garantias e os direitos fundamentais
resguardados no texto constitucional.
Dito isso, a defesa se insurge contra a litigância de má-fé
perpetrada por parte do promotor de justiça, Paulo Roberto Barbosa
Ramos, porquanto agiu de forma irresponsável, atentando não somente
contra a credibilidade do poder Judiciário, mas principalmente contra a
lisura de suas atitudes enquanto promotor público.
O Promotor de Justiça agiu com o claro objetivo de obter
promoção pessoal, externando prematuro juízo de valor, de modo que
imputou condenação antecipada aos denunciados (mesmo sem que o
processo judicial tivesse sequer iniciado), portando-se de forma a violar a
dignidade, a honra, a imagem, bem como a conduta ética, séria e equilibrada
inerente à instituição do Ministério Público.
Registre-se, por relevante, que a conduta do Promotor se
amolda, com perfeição, ao que o Eminente Conselheiro Jarbas Soares
Júnior, do Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP, classificou
como "espécie de amadorismo" apto e que "depõe contra a Instituição
como um todo, lamentavelmente, e causa desprestígio social e
intelectual ao Ministério Público". Note-se:
"Antecipar juízo de valor, efeitos de eventual ação penal ou
civil, indicar responsáveis por malfeitos no início das
investigações, divulgar diligências que ainda nem foram
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realizadas, ou, como no caso, os resultados dessas diligências
sem uma análise cuidadosa, e o que é pior, violar sigilo
processual, ou de diligências, em razão do cargo, como
observado na espécie, revela, desculpe-me o termo, uma
espécie de amadorismo. Essa espetaculização das ações dos
membros do Ministério Público depõe contra a Instituição
como um todo, lamentavelmente, e causa desprestígio social e
intelectual ao Ministério Público, instituição tão fundamental ao
Estado de Direito. Tal situação, ao meu juízo, não pode se
perpetuar no tempo, pois não somos mais uma Instituição
juvenil. Já temos uma história construída após a Constituição de
1988. Se é certo que ousamos no início, se acertamos, e, às vezes,
errando em determinado momento da história recente, ao fim,
conquistamos a confiança da sociedade. Portanto, os erros
voluntários não podem mais ser tolerados, sobretudo por este
Conselho Nacional, que tem a incumbência de exercer as funções
elencadas no art. 130-A, §2o, da Constituição da República"
(Julgamento PAD 0.00.000.000981/2011-56) (Grifamos)
O promotor público Paulo Roberto agiu nos exatos moldes
delineados pelo Conselheiro Jarbas Soares Júnior, do CNMP: antecipou juízo
de valor, divulgou diligência que sequer foi realizada e celebrou, como já dito,
uma espécie de pacto com os meios de comunicação usados exclusivamente
para vilipendiar, especialmente, a ex-governadora Roseana, ora Paciente.
As condutas praticadas pelo promotor macularam o processo
instaurado ao condenar os denunciados de forma açodada e prematura,
violando os princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência,
consubstanciados no art. 37 da Constituição Federal.
É notório que o promotor agiu visando exploração midiática,
expondo os denunciados ao constrangimento público — de forma a
exterminar as mais básicas garantias previstas no texto Constitucional, tais
como a presunção de inocência (CF/88, art. 5o, LVII), o resguardo à imagem,
à intimidade e à honra (CF/88, art. 5o, X) e, ainda, ao devido processo legal
(CF/88, art. 5o, LIV).
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Ressalta-se, por oportuno, que após a coletiva de imprensa
declinada acima, o promotor continuou sua saga junto aos meios de
comunicação ao comparecer a rádio oficial do governo do Estado do
Maranhão para, ao lado de dois jornalistas declaradamente opositores
políticos dos denunciados e, servidores comissionados do governo do
Maranhão, conceder entrevista e emitir opiniões saturadas de ideologias
partidárias.
Na entrevista o promotor confessa que possui estreita
relação com os órgãos do Governo do Estado responsável por lhe
entregar todos os documentos que lastreiam suas peças acusatórias.
A atuação midiática e tendenciosa do promotor provocou
estarrecimento na sociedade ocasionando enxurrada de críticas severas,
contundentes e esclarecedoras da imprensa, das entidades de classe, tais
como Associações de Procuradores Nacionais, OAB, Sindicato de Jornalista.
A mácula na forma de agir do promotor Paulo Roberto
denuncia sua falta de postura, ideologia político-partidária e ausência de
condições psicológicas no desempenho de suas funções. Tal fato está
comprovado nas coletivas de impressa, no comparecimento aos meios de
comunicação institucional do Governo do Estado do Maranhão e, até
mesmo, ao utilizar sua página da rede social – Facebook – para fazer
comentários acerca do caso7.
Apesar de ter sido procurado pelos mais diversos meios de
comunicação e ter dito que não mais se manifestaria, o ilustre Promotor
compareceu, novamente, no dia 08/11/2016, à rádio Timbira8, rádio
oficial do Governo do Estado do Maranhão para dar entrevista ao lado
de dois jornalistas: Gilberto Lima e Felipe Klamt Mota (ambos
funcionários do alto escalão do governo do Estado do Maranhão,
7 Gilberto Léda. “Não fui feliz”, diz promotor após antecipar decisão contra Roseana e mais nove. Online:http://gilbertoleda.com.br/2016/11/05/nao-fui-feliz-diz-promotor-apos-antecipar-decisao-contra-roseana-e-mais-nove/(Acesso22.05.2017)8GilbertoLéda.CasoSefaz:apósdizerquenãomaissepronunciaria,promotordáentrevistaarádiooficialdogoverno.Online:http://gilbertoleda.com.br/2016/11/09/caso-sefaz-apos-dizer-que-nao-mais-se-pronunciaria-promotor-da-entrevista-a-radio-oficial-do-governo/(Acesso22.05.2017)
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declaradamente opositores (violentos) à ex-Governadora Roseana, ora
Paciente.
Durante a mencionada entrevista9, dia 08.11.2016, na rádio
oficial do Governo do Estado do Maranhão, o promotor Paulo Roberto
Barbosa Ramos conseguiu ir ainda mais longe. Em tom debochado e
risonho desdenhou de toda a população do estado do Maranhão
afirmando que ainda se tratava de uma província; atacou a imprensa
não alinhada ao Governo do Estado; agrediu verbalmente os
procuradores do estado; enxovalhou o poder judiciário; e, por fim,
caluniou os denunciados aos quais chamou de LARÁPIOS. Deve-se
considerar que, até o este presente momento, os acusados sequer tinham
sido ouvidos e não tinham tido acesso aos autos. Ausente, portanto, o
contraditório e a ampla defesa. In verbis:
“É uma grande felicidade estar com vocês, tendo essa oportunidade de esclarecer à população o que realmente tem acontecido e quais são as providências que o Ministério Público irá tomar de modo a punir essas pessoas que lesaram o erário público de maneira muito violenta. Foram milhões de reais desviados que poderiam ter sido aplicados adequadamente na educação, na saúde, na infraestrutura, e serviram para alimentar os bolsos desses larápios que desviaram o dinheiro público, bem como alimentar, e nós temos indícios disso, alimentar campanhas eleitorais.”
9 Rádio Timbira. Promotor Paulo Roberto Barbosa Ramos fala sobre a Máfia da Sefaz. Online:http://radiotimbira.ma.gov.br/promotor-paulo-roberto-barbosa-ramos-fala-sobre-a-mafia-da-sefaz/(Acesso22.05.2017)
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Destaca-se que este mesmo promotor também foi o
responsável pelo ajuizamento de ação de improbidade administrativa contra
a Paciente. Não há espaço para dúvidas diante dos fatos (narrados) e das
provas (anexadas) de que configurada está a perseguição e a utilização da
tão falada pós-verdade.
Lamentavelmente, diante da ausência de elementos
probatórios mínimos para corroborar com a acusação formulada,
impossibilitado de, ainda que de maneira sútil, expor o fato delituoso em
toda a sua essência e circunstâncias; sabedor de que não conseguiria
individualizar as condutas, por que crime não há; face a impossibilidade de
ofertar a prova da materialidade de um crime que não existiu, o promotor
abdicou de seu dever, lateralizou Carta Magna no que dispõe o artigo 5,
inciso LV, a obrigação imposta pelo artigo 41, do Código de Processo Penal e
seguiu pelos atalhos da pós-verdade.
As ações praticadas pelo promotor Paulo Roberto encontram
amparo no direito comparado. Bem explorada na doutrina norte americana é
inquestionável que os acusados estão sendo vítimas daquilo que se
denomina de Lawfare, termo utilizado em referência ao fenômeno abusivo e
frívolo do direito, nacional ou internacional, como forma de se
atingirem objetivos militares, econômicos e políticos, eliminando,
deslegitimando ou incapacitando um inimigo 10 . A expressão se
popularizou, de tal forma, que a sua aplicação tem sido ampliada para
diferentes contextos. Lawfare, conforme descrito por Susan Tiefenbrun, “é
uma arma destinada a destruir o inimigo, utilizando, mal utilizando,
e abusando do sistema legal e da mídia, em vistas de conseguir o
clamor público contra o inimigo.”11
Esse foi o objetivo do promotor de justiça Paulo Roberto e tal
conduta aponta para transgressão disciplinar, porquanto o membro do
Ministério Público teria o dever de declarar-se suspeito quando tivesse 10“it is filingfrivolous lawsuitsandmisusing legalprocessesto intimidateandfrustrateopponents inthetheatreofwar”.Online:http://thelawfareproject.org/lawfare/what-is-lawfare-1/(Acesso:04.12.2016)11Tiefenbrun,Susan:SemioticDefinitionofLawfare.Traduçãolivre.Dooriginal:“Lawfareisaweapondesignedtodestroytheenemybyusing,misusing,andabusingthelegalsystemantthemediainorderraisepublicoutcryagainsttheenemy”.
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interesse no desfecho de sua atuação funcional e assim não o fez, como seria
de rigor. É o que prevê o artigo 43, inciso VII, da Lei Federal n. 8.625/1993
(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
Outro gravame acerca da conduta do membro do parquet
corresponde à sua confissão de que possui estreita relação com os
órgãos do Governo do Estado, responsável por lhe entregar todos os
documentos que lastreiam suas peças acusatórias.
Aproveitando o ensejo cumpre dizer que o Sr. Paulo Roberto
responde reclamação disciplinar no CNMP. Vejamos:
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A seriedade e a ilegalidade dos fatos ora relatados são tão
evidentes que o CNMP decidiu apurá-los.
A conduta do Promotor de Justiça Paulo Roberto, sob
qualquer ângulo que seja analisada, compromete o prestígio, a seriedade e a
dignidade do Ministério Público. Afronta deveres legais que lhe são impostos,
em especial, os de manter conduta ilibada e compatível com o exercício do
cargo, de zelar pela dignidade de suas funções, de tratar com urbanidade os
jurisdicionados, de observar a formalidades legais no desempenho de sua
atuação funcional.
Convocar coletivas, dar entrevistas, exclusivamente, aos meios
de comunicação oficial do Governo do Estado do Maranhão, emitir opiniões
pelas redes sociais, antecipar juízo condenatório, de forma incisiva e
peremptória, apenas por ter promovido ação penal e ação de improbidade
contra a Paciente e mais dez réus, sem que o rito processual sequer tivesse
sido iniciado, afrontar os princípios do contraditório e ampla defesa,
superficialmente, já escancara a existência de excessos e violações.
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Demonstrada a litigância de má-fé do promotor, importa
registrar que a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB – também solicitou
que as condutas de Paulo Roberto e da Juíza Cristiana Souza Ferraz Leite
(que recebeu a denúncia) fossem investigadas, haja vista a suspeita relação
das autoridades12.
Em razão dos grotescos e desarrazoados acontecimentos,
desnecessário dizer que cada dia que perdura o presente processo judicial
em desfavor da Paciente – processo esse que sequer narra, ainda que
mínima e sucintamente, qualquer vínculo subjetivo da Paciente com os
supostos fatos criminosos a ela atribuído -, resta nítido o constrangimento
pessoal, o prejuízo para sua imagem e reputação, principalmente por se
tratar de pessoa pública, restando evidenciada a má-fé do promotor Paulo
Ramos na Ação Penal em comento.
IV. DA SÍNTESE FÁTICA
A Paciente fora denunciada nas penas do art. 312, § 1º e art.
319, ambos do Código Penal, art. 3º, III, da Lei 8.137/90 e art. 2º, § 4º, II, da
Lei 12.850/2013. Denúncia recebida pela MM. Juíza sob o seguinte
“fundamento”:
“Dessa forma, entendo estar presente a justa causa para o recebimento da denúncia, em uma primeira análise, haja vista restar configurado a existência do mínimo necessário de provas de materialidade e autoria para a admissibilidade da peça acusatória.”
Apresentada defesa lastreada em farto, sólido e irrefutável
conjunto probatório que repele de logo, com segurança e certeza, a frágil,
inidônea e temerária acusação formulada.
O Ministério Público, concomitante à apresentação das peças
de resistência, requereu o sequestro de todos os bens móveis e imóveis dos
por meio de peça genérica e em desconformidade com as exigências impostas
12G1.OABpedequecondutasdejuízaepromotorsejamapuradasnoMA.Online:http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2016/12/oab-pede-que-conduta-de-juiza-e-promotor-sejam-apuradas-no-ma.html(Acesso23.05.2017)
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pelo CPP, pela Lei n.º 9.613/98, pela doutrina e pela jurisprudência.
Entretanto, o pedido fora deferido pela Juíza Oriana Gomes, da maneira com
que fora pedido pelo membro do parquet e todos os bens móveis e imóveis da
Paciente, e dos demais acusados, foram sequestrados e todas as contas
bancárias bloqueadas.
Diante da patente teratologia da decisão a defesa impetrou
Mandado de Segurança contra o ato da Juíza de 1º grau. Liminar deferida e,
posteriormente, mérito confirmado pela unanimidade das Câmaras
Criminais reunidas. Afirma o relator Desembargador José de Ribamar
Froz Sobrinho:
Em verdade, na hipótese dos autos o Parquet pugnou genericamente pelo sequestro de todos os bens da impetrante, sendo tal pleito deferido pela Impetrada na decisão datada de 27.01.2017. Posteriormente, o Órgão Ministerial apresentou planilha dos bens pertencentes à impetrante, tendo a Magistrada de base determinado o sequestro de todos eles. Ressalte-se que não houve qualquer menção na representação, tampouco na decisão atacada, quanto à origem ilícita dos bens a serem bloqueados. Não houve sequer a preocupação de prévia investigação acerca da ilicitude na origem dos bens. Quanto aos bens imóveis cuja ordem de sequestro recai, a documentação que instrui o mandamus demonstra que os mesmos foram adquiridos em período bem anterior à suposta prática dos delitos, inclusive muitos deles são datados ainda da década de 80. Nesta senda, induvidosa a abusividade da decisão que determinou o sequestro dos bens da impetrante, mormente quando se observa que os mesmos foram adquiridos antes mesmos dos crimes lhes atribuídos. Tal fato demonstra, pois, que os bens não podem ser frutos dos lucros e vantagens obtidos com a "suposta" prática dos delitos. E, ainda que os bens tivessem sido adquiridos de forma contemporânea aos fatos, recairia de toda forma ao Ministério Público o ônus de comprovar os indícios veementes de ilicitude, tanto sob a ótica do Código de Processo Penal, quanto da Lei de Lavagem. Desse modo, e de acordo com o parecer da Procuradoria Geral de Justiça, CONCEDO o mandado de segurança impetrado, com a invalidação da decisão que determinou o bloqueio e sequestro de todos os bens móveis e imóveis pertencentes à impetrante, bem como o bloqueio de suas contas bancárias, confirmando-se a liminar anteriormente deferida.
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Acerca do julgamento do Mandado de Segurança, também
merece relevo o parecer da Procuradoria de Justiça que avançou na
discussão da temática afirmando:
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As conclusões expostas pelo Parquet são contundentes e
corroboram, de forma veemente, com os argumentos trazidos no presente
Habeas Corpus.
Diz o Ministério Público em seu parecer “Portanto, não se
afigura possível que a constrição recaia sobre bens diversos, tais
como, e.g., bens que já pertenciam ao acusado antes da prática
delituosa”. E continua:
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OS TRECHOS DO PARECER DA PROCURADORIA SÃO
ESCLARECEDORES, TRANSBORDAM A VERDADE E REVERBERAM O
QUE SERÁ SUSTENTADO: A PRESENTE AÇÃO PENAL NÃO SE
SUSTENTA POR NÃO HAVER PROVA E/OU INDÍCIOS MÍNIMOS DE
AUTORIA E MATERIALIDADE. A VERDADE PULULA NOS AUTOS!
Superada decisão proferida pela MM. Juíza - autorizativa do
sequestro de todos os bens e bloqueio de todas contas da Paciente -, bem
como ficando evidente quando do julgamento do Mandado de Segurança a
aberração jurídica existente os Impetrantes buscam, agora, a reforma da
decisão, proferida de forma teratológica, que recebeu a denúncia contra a
Paciente, ainda que essa tenha se mostrado carente de justa causa, seja
pela atipicidade da conduta ou pela inépcia da mesma.
Assim não há, data venia, como sustentar a acusação que
pesa sobre a Paciente sendo fundamental que este egrégio Tribunal proceda
ao trancamento da ação penal pelos motivos doravante expostos e pela farta
matéria probatória carreada.
V. DO DIREITO
a) TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL PELA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA
O artigo 395, III, do Código de Processo Penal afirma que a
denúncia será rejeitada quando faltar justa causa para o exercício da ação
penal. Não obstante, a MM. Juíza, em decisão proferida nos autos da Ação
Penal 19880-63.2016.8.10.0001, recebeu a denúncia, ainda que ausente a
justa causa necessária para seu recebimento.
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Nesse sentido, verificada a “atipicidade da conduta, por
patente inocência da acusada, ou ausência de indícios mínimos de autoria e
materialidade delitivas, ou, ainda, consumação da prescrição punitiva”13, o
Habeas Corpus é a via eleita para o trancamento da Ação Penal. A denúncia
se consubstancia nas seguintes premissas:
• À época dos fatos, a Paciente exercia o cargo de governadora do
Estado do Maranhão, sendo considerada o “suporte político” da
suposta organização criminosa;
• A vinculação da acusada aos atos supostamente delituosos se
deu por dois fatos:
1º Fato - ter celebrado, com o aval dos procuradores por ela
nomeados, dois acordos, homologados judicialmente, os quais
teriam acarretado prejuízo aos cofres públicos;
2º Fato - ter nomeado 26 (vinte e seis) pessoas em cargos
comissionados – pessoas essas cujos nomes não foram declinados na
peça acusatória, tendo a defesa sido obrigada a fazer um trabalho
hercúleo para descobrir quais seriam esses tais servidores -, quando
assumiu o governo estado do ano de 2009 (ato de praxe de todo chefe
de poder executivo estadual e que, na imensa maioria das vezes,
coloca-se a assinatura digital do governador),– sendo muitos desses
servidores já funcionários do estado em vários governos anteriores
ao seu – e, supostamente, essas pessoas seriam também contratadas
da empresa Linuxell Informática e Serviços Ltda. que prestava na
SEFAZ do Estado do Maranhão. Ocorre que tais contratações
ocorreram em 2014, pelo que se depreende nos autos. Diz a peça
acusatória que esta atitude seria um “elo” da ex-governadora com
a organização denunciada.
Oportuno trazer à luz os ensinamentos de Afrânio Silva Jardim:
13RE 593443, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. RICARDO LEWANDOWSKI,Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-097DIVULG21-05-2014PUBLIC22-05-2014
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“a justa causa constitui ‘(...) um lastro mínimo de prova que
deve fornecer arrimo à acusação, tendo em vista que a simples
instauração do processo penal já atinge o chamado status
dignitatis do imputado. Tal arrimo de prova nos é fornecido
pelo inquérito policial ou pelas peças de informação, que devem
acompanhar a acusação penal (arts. 12, 39, § 5o, e 46, § 1o, do
Cód. Proc. Penal’ (Direito Processual Penal. 9. ed., rev. e atual. Rio
de Janeiro: Forense, 2000. p. 93).
Prossegue o eminente processualista:
‘Desta forma, torna-se necessário ao regular exercício da ac ̧ão penal
a demonstrac ̧ão, prima facie, de que a acusação não e ́ temerária
ou leviana, por isso que lastreada em um mínimo de prova. Este
suporte probatório mínimo se relaciona com os indícios da
autoria, existência material de uma conduta típica e alguma
prova de sua antijuridicidade e culpabilidade. Somente diante de
todo este conjunto probatório é que, a nosso ver, se coloca o
princípio da obrigatoriedade da ação penal’ (op. cit., p. 97).
Assim, não basta que a denúncia, formalmente,
‘(...) impute ao réu uma conduta típica, ilícita e culpável. Isto
satisfaz o aspecto formal da peça acusatória, mas para o regular
exercício da ação pública se exige que os fatos ali narrados
tenham alguma ressonância na prova do inquérito ou constante
das peças de informação. Em outras palavras, a acusação não
pode resultar de um ato de fé ou de adivinhação do autor da
ação penal (...)’ (Afrânio Silva Jardim, op. cit., p. 98).
Maria Thereza Rocha de Assis Moura, em clássica obra a
respeito da justa causa, aduz que ‘(...) para que alguém seja acusado em
juízo, faz-se imprescindível que a ocorrência do fato típico esteja
evidenciada; que haja, no mínimo, probabilidade (e não mera
possibilidade) de que o sujeito incriminado seja seu autor e um mínimo
de culpabilidade’14. Segundo a ilustre autora:
14Justacausaparaaaçãopenal–doutrinaejurisprudência.SãoPaulo:EditoraRevistadosTribunais,2001.p.222.
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‘[p]rova induvidosa da ocorrência de um fato delituoso, na
hipótese, e prova ou indícios de autoria, apurados em inquérito
policial ou nas peças de informação que acompanham a acusação: é
neste binômio que, para esta postura, consiste o fundamento tido
como indispensável para a acusação, sem o qual inexiste justa
causa para a instauração do processo criminal’ (op. cit., p. 241).
(...)
‘Em síntese, a justa causa para o recebimento da acusação não
sobressai apenas de seus elementos formais, mas, mormente, de
sua fidelidade à prova que demonstre a legitimidade da
imputação. Segue-se que a necessidade de existência de justa
causa funciona como mecanismo para impedir, em hipótese, a
ocorrência de imputação infundada, temerária, leviana,
caluniosa e profundamente imoral’ (op.cit., p. 247).
Na linha desses posicionamentos doutrinários, o Supremo Tribunal
Federal, no HC 73.371/SP, Primeira Turma, Relator o Ministro Celso de
Mello, DJ de 4/10/96, assentou que:
‘[o] Ministério Público, para validamente formular a denúncia
penal, deve ter por suporte uma necessária base empírica, a fim
de que o exercício desse grave dever-poder não se transforme
em instrumento de injusta persecução estatal. O ajuizamento da
ação penal condenatória supõe a existência de justa causa, que
se tem por inocorrente quando o comportamento atribuído ao
réu ‘nem mesmo em tese constitui crime, ou quando,
configurando uma infração penal, resulta de pura criação
mental da acusação’ (RF 150/393, Rel. Min. OROZIMBO
NONATO)’.
AUSÊNCIA DE LASTRO MÍNIMO PROBATÓRIO.
Acerca do lastro probatório mínimo, é claro notar que a
denúncia oferecida pelo Ministério Público fora apresentada de maneira
genérica, não apontando com clareza os supostos atos delituosos cometidos,
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não individualiza a conduta supostamente praticada pela Paciente e não
demonstra, portanto, qual é o fato que se adequa aos tipos penais citados.
Note-se:
1º Fato
(i) “Noutra ponta, essa organização criminosa contava com o decisivo
beneplácito de Roseana Sarney Murad, em virtude de ter autorizado acordos
judiciais baseados em pareceres manifestamente ilegais”. (pág. 8 da
denúncia)
(ii) “Importa anotar que essa organização criminosa começou a fincar
raízes na SEFAZ com a nomeação de Cláudio José Trinchão Santos
para o cargo de Secretário de Estado dos Governos de Roseana Sarney
Murad. Registra-se governos de Roseana Sarney Murad, porquanto Cláudio
José Trinchão Santos, permaneceu neste cargo de 17 de abril de 2009 a 02 de
abril de 2014, quando, se afastou para concorrer ao cargo de Deputado
Federal pelo PSD, para o qual não foi eleito” (pág. 9 da denúncia);
(iii) “Mesmo diante do disposto no art. 170 do Código Tributário Nacional,
Roseana Sarney Murad, governadora do Estado, de 17 de abril de
2009 a 31 de dezembro de 2014, celebrou, com a conivência dos então
Procuradores-Gerais Marcos Alessandro Coutinho Passos Lobo e Helena
Maria Cavalcanti Haickel e do então Procurador-geral Adjunto para
Assuntos Judiciais Ricardo Gama Pestana, pelo menos, dois acordos
judiciais, um com as empresas DISPEBEL Distribuidora de Bebidas
Presidente LTDA., SADIBE Santa Inês Distribuidora de Bebidas Ltda., DIGAL –
Distribuidora de Bebidas Ltda. e MARDISBEL Marreca Distribuidora de
Bebidas Ltda. e outro com Mateus Supermercados S/A e Armazém Mateus
S/A, sucessores processuais do Santander S/A – Serviços Técnicos,
Administrativos e de Corretagem de Seguros, incorporador do Banespa S/A –
Administradora de Cartões de Crédito e Serviços, anteriormente denominado
Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo – BADESP” (pág. 22 da
denúncia).
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(iv) “Roseana Sarney Murad, Marcos Alessandro Coutinho Passos Lobo,
Helena Maria Cavalcanti Haickel e Ricardo Gama Pestana
concorreram decisivamente para o sucesso da organização criminosa,
na medida em que, por meio de manifestações jurídicas, sem amparo
legal e constitucional, e em completa deslealdade às instituições as quais
serviram, já que em razão se suas posições política institucional davam
aparência de legalidade a acordos judiciais que seriam, em tese, excelentes
negócios para o Estado do Maranhão, mas que na verdade não passavam de
uma burla ao disposto no art. 170 do Código Tributário Nacional e ao art. 100
da Constituição Federal, garantia o sucesso da organização criminosa,
especialmente por terem negociado com Jorge Arturo Mendoza Reque Júnior o
pedido de homologação judicial dos acordos efetuados, em flagrante
convergência de interesses para atender os pleitos da organização criminosa,
criando, vale repetir, uma aparência de legalidade, aproveitando-se, para isso,
inclusive do Poder Judiciário, foram incontestavelmente coniventes com a
organização criminosa”. (pág. 42 da denúncia);
(v) “Ocorre que a partir de 17 de abril de 2009, quando Roseana Sarney
Murad retorna ao governo do Maranhão, os procuradores-gerais do Estado por
ela nomeados passaram a adotar essa prática altamente prejudicial ao erário
público e às determinações do Código Tributário Nacional e da Constituição
Federal de 1988. Pois bem. Esse comportamento reflete a clara intenção de
lesar, de subtrair, de utilizar o dinheiro público como se privado fosse, uma
vez que esses acordos homologados judicialmente, festejados no governo
Roseana Sarney Murad como altamente benéficos aos interesses públicos,
somente beneficiavam empresas de amigos e, por conseguintes, todos aqueles
envolvidos na operação para liberar essas altas quantias”. (pág. 43 da
denúncia).
(vi) “Por conta disso, Roseana Sarney Murad encontra-se incursa nas penas
dos art. 312, § 1º, do Código Penal, por duas vezes, em concurso material,
(art. 69 do Código Penal), art. 319, por duas vezes, em concurso material (art.
69 do Código Penal), art. 3º, III, da Lei 8.137/90 e art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.
850/2013, por representar o suporte político da organização criminosa, uma
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vez que foi durante seus governos que pagamento de precatórios sem
observâncias das determinações legais e constitucionais tornaram-se uma
rotina, com claro objetivo de sangrar os recursos públicos, para atender
interesses próprios e de terceiros”. (pág. 44 da denúncia).
2º Fato
(i) “Para garantir o sucesso da atuação da organização criminosa, por meio da
contratação da empresa Linuxell Informática e Serviços Ltda., Roseana Sarney
Murad, na qualidade de governadora do Estado do Maranhão, nomeou 26
(vinte e seis) terceirizados que trabalhavam para a empresa Linuxell
Informática e Serviços Ltda., contratada para prestar serviços de tecnologia da
informação na SEFAZ, para exercerem ao mesmo tempo, agora por meio de
cargos em comissão, a mesma função na SEFAZ, o que demonstra seu elo com
a organização criminosa, uma vez que esta empresa foi contratada para
atender os interesses da organização criminosa” (pág. 67 da denúncia).
(ii) “Por outro lado, entre os agraciados com o cargo em comissão, mesmo já
sendo empregado da Linuxell Informática e Serviço Ltda., prestando serviços
na SEFAZ, encontrava-se Edimilson Santos Ahid Neto pago duas vezes, com
mais 25 (vinte e cinco) outros funcionários da Linuxell Informática e Serviços
Ltda., para realizar o mesmo serviço na SEFAZ. Para além de improbidade
administrativa essa conduta se caracteriza como crime, daí porque Roseana
Sarney Murad encontra-se incursa nas penas do art. 312, §1º, do Código
Penal, por 26 vezes, em concurso material (art. 69 do Código Penal) (pág. 67 e
68 da denúncia)”.
Fernando Capez15 assevera que “para ser recebida, a inicial
deve vir acompanhada de um suporte probatório que demonstre a idoneidade
e a verossimilhança da acusação”. Esse não é, definitivamente, o caso dos
autos.
O Ministério Público, objetivamente falando, acusa
Roseana Sarney de ter praticado ato administrativo (inerente a qualquer
um que exerça o cargo de chefe do Poder Executivo) e pasmem, ato este 15CAPEZ,Fernando.CursodeProcessoPenal.12ªEd.SãoPaulo:Saraiva,2005,p.144.
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decidido em conformidade com o que determinara o parecer emitido
pela Procuradoria do Estado (nos termos e formas previstos na
legislação estadual LC 20/94 e Constituição do Estado do Maranhão) de
autorização de transação que fora homologada judicialmente com
parecer favorável do Ministério Público que, no presente caso, estava no
exercício de sua função de fiscalizador, de custos legis. Esse é o suposto
fato criminoso; frágil, genérico e excêntrico narrado pelo membro do
Parquet.
E não é só! No presente processo judicial havia ação rescisória
ajuizada pelo Ministério Público Estadual que, ciente dos termos do acordo
judicial que seria firmado beneficiando o Estado do Maranhão, DESISTE da
ação rescisória ajuizada.
Longe dos holofotes e do show midiático imposto até aqui
é exatamente isso que temos de mais factível no caso ora exposto.
Deve-se relatar também que não há, em todo o processo, nenhum
suporte probatório que respalde as alegações contidas na denúncia.
Obviamente porque crime não há! Temos câmeras e luzes, porém não
temos fato típico!
A Paciente está sendo responsabilizada objetivamente por
ter autorizado que que fosse feito acordo JUDICIAL, nos termos indicados
por parecer emitido por procuradores do estado.
Sobre a temática, entendeu o ministro Celso de Mello, do
Supremo Tribunal Federal, que “o processo penal condenatório, pois, não
pode ser um instrumento de arbítrio do Estado, seja quando instaurado pelo
Ministério Público, seja quando promovido por particulares.”16
Nesse sentido, afirma:
“Vê-se, desse modo, que a legítima instauração de “persecutio criminis” pressupõe a existência de elementos probatórios mínimos que possam, ao menos, indicar a real ocorrência dos fatos imputados ao agente, não bastando, para tanto, meras
16Inquérito1.978-RelatorMinistroCELSODEMELLO,Plenário,DJde17deagostode2007
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referências genéricas, declarações unilaterais, depoimentos contraditórios ou conjecturas pessoais”.17
Ainda conforme entendimento do min. Celso de Mello18, “se
revela inadmissível, em juízo, imputação penal destituída de base empírica
idônea, ainda que a conduta descrita na peça acusatória possa ajustar-se, em
tese, ao preceito primário de incriminação”.
Mesmo entendimento tem o Superior Tribunal de Justiça.
Verbis:
AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. GRAVAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA POR UM DOS INTERLOCUTORES SEM O CONHECIMENTO DO OUTRO. INVESTIDA CRIMINOSA NÃO CONFIGURADA. ILICITUDE DA PROVA. AFRONTA A PRIVACIDADE (ART. 5º, X, DA CF). INVESTIGAÇÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO. INQUÉRITO CIVIL E CRIMINAL. ART. 33, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LOMAN. CONJUNTO PROBATÓRIO INSUFICIENTE PARA SUSTENTAR O RECEBIMENTO DA EXORDIAL ACUSATÓRIA. ART. 6º DA LEI 8.038/90. I - A análise da licitude ou não da gravação de conversa por um dos interlocutores sem a ciência do outro deve ser verificada de caso a caso. (...) IV - No processo penal, a exordial acusatória deve vir acompanhada de um fundamento probatório mínimo apto a demonstrar, ainda que de modo indiciário, a efetiva realização do ilícito penal por parte do denunciado. Se não houver uma base empírica mínima a respaldar a peça vestibular, de modo a torná-la plausível, inexistirá justa causa a autorizar a persecutio criminis in iudicio. Tal acontece, como in casu, quando a situação fática não está suficientemente reconstituída. V - Acolhida a primeira preliminar relativa à ilicitude da prova obtida mediante gravação clandestina. Rejeitada a segunda preliminar referente à alegada usurpação da função da polícia judiciária pelo Ministério Público. Denúncia rejeitada por falta de justa causa. (Apn 479/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 29/06/2007, DJ 01/10/2007, p. 198) (Grifamos)
17Inquérito1.978-RelatorMinistroCELSODEMELLO,Plenário,DJde17deagostode200718Inquérito1.978-RelatorMinistroCELSODEMELLO,Plenário,DJde17deagostode2007.
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Ora, a denúncia deve descrever perfeitamente a ocorrência
das condutas que se adequem aos tipos penais propostos, de forma que,
quando não o faz, atenta contra o direito ao contraditório por dificultar ou
impedir o direito de defesa, bem como demonstra ser a conduta atípica, tal
qual ocorre no caso dos autos.
Ad argumentandum tantum, ainda que se admita não ser
necessária a descrição minuciosa dos acontecimentos, a denúncia deve, ao
menos, relatar fato individualizado, perceptível e que traduza uma conduta
típica e, na forma como se apresenta, encerra descrição abstrata, sendo
inepta a denúncia e atípico o fato narrado.
Fornecendo um panorama geral sobre o tema em relação à
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, explica o Ministro Gilmar
Ferreira Mendes:
“Outra questão relevante na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal diz respeito ao contraditório e à ampla defesa exercida em face de denúncia genérica ou que não descreve de maneira adequada os fatos imputados ao denunciado. É substancial a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que considera atentatório ao direito do contraditório o oferecimento de denúncia vaga ou imprecisa, por impedir ou dificultar o exercício do direito de defesa”.19 (Grifamos)
Além de imprecisa e genérica, a denúncia não está amparada
pela justa causa, que concentra-se na carência de provas capazes de
sustentar a existência e a manutenção do processo criminal.20 Sendo assim,
não demonstrado um mínimo de provas idôneas e verossímeis na inicial
acusatória, esta não poderia ser recebida, já que ausente a justa causa e,
por ter sido recebida, deve ser trancada.
DA ATIPICIDADE DA CONDUTA DA PACIENTE.
19Mendes, Gilmar Ferreira; Coelho, Mártires Inocêncio; Branco, Paulo Gustavo Gonet: Curso de DireitoConstitucional,editoraSaraiva,SãoPaulo,2007,p.527.20NUCCI,GuilhermedeSouza.ManualdeProcessoPenaleExecuçãoPenal.5ªEd.SãoPaulo:EditoraRevistadosTribunais,2008,p.952.
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Noutro giro, a ministra Maria Thereza de Assis Moura21 afirma
que a posição mais avençada da doutrina, que também encontra algum
respaldo na jurisprudência, admite que a justa causa diga respeito, também,
a questões de fato e, sendo assim, vincula o recebimento da denúncia ou
queixa à prova da existência material de conduta típica, na hipótese, e
de indícios de que o acusado seja seu autor.
Embora não seja necessária a descrição minuciosa dos
acontecimentos, a denúncia deve, ao menos, relatar fato individualizado,
perceptível e que traduza uma conduta típica, sendo que, na forma como se
apresenta, encerra descrição abstrata, sendo atípico o fato narrado. Esse é o
entendimento do Tribunal de Justiça do Maranhão:
SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL
HABEAS CORPUS Nº. 046334-2014
PACIENTE: JOSÉ ANTÔNIO ALVARES MENDES SOBRINHO
IMPETRANTE: JOSÉ CAVALCANTE DE ALENCAR JÚNIOR
IMPETRADO: JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DE ENTORPECENTES DA COMARCA DE SÃO LUÍS
RELATOR: DESEMBARGADOR JOSÉ BERNARDO SILVA RODRIGUES
EMENTA. HABEAS CORPUS. ART. 14 DA LEI N.º 6.368/1976. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. PROCEDÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA.
1. O trancamento da ação penal, em habeas corpus, por falta de justa causa, constitui medida excepcional que só deve ser aplicada nos casos de manifesta atipicidade da conduta, causa de extinção da punibilidade do paciente ou de ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas.
2. Ordem concedida.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que figuram como partes os acima mencionados, ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, por unanimidade, de acordo com o parecer ministerial, modificado em banca, em conceder em definitivo a ordem impetrada, nos termos do voto do Desembargador Relator.
Votaram os Senhores Desembargadores JOSÉ BERNARDO SILVA RODRIGUES - Relator, JOSÉ LUIZ OLIVEIRA DE ALMEIDA - Presidente, RAIMUNDO JOSÉ BARROS DE SOUSA. Sala das
21MOURA,MariaTherezaRochadeAssis.JustaCausaparaaAçãoPenal.SãoPaulo,Ed.RevistadosTribunais,2001,p.241
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Sessões da Egrégia Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, em São Luís, 20 de novembro de 2014.
Desembargador JOSÉ BERNARDO SILVA RODRIGUES
1º Fato
O questionamento está em saber:
a) se a ex-Governadora, ora Paciente, pode ser responsabilizada
penalmente por ter autorizado acordo, com base em parecer
exarado por Procuradores do Estado, conforme determina a LC
20/94, homologados judicialmente e com parecer favorável do
Ministério Público, em processo judicial transitado em julgado.
Preliminarmente, é de fácil constatação, porém lamentável,
que a Paciente responda à imputação pelo simples fato de ter ocupado o
cargo de governadora, condição em que nomeou os ex-secretários de
fazenda, bem como os procuradores de estado, e, em consequência disso,
celebrou dois acordos judiciais, os quais, segundo a denúncia, teriam
beneficiado empresas do setor privado.
De antemão, necessário esclarecer que os dois acordos
celebrados foram precedidos por pareceres expedidos pela Procuradoria
do Estado e, posteriormente, chancelados judicialmente, dissipando,
assim, qualquer dúvida sobre eventuais ilegalidades. Afinal, não é de
esperar que o Poder Judiciário homologue atos ilegais.
Constate-se, outrossim, que a Paciente só avalizou que os
acordos fossem assinados em virtude de ter a legalidade atestada por
pareceres emitidos pelo órgão responsável por tal análise, qual seja, a
Procuradoria do Estado, bem como por ter a Secretária de Estado da
Fazenda emitido nota técnica de que a negociação era extremamente
benéfica ao Estado. Ou seja, optou por buscar o melhor benefício ao Erário,
em face da redução sensível dos valores e dos parcelamentos estipulados, a
serem exigidos de forma definitiva do Estado.
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Ademais, importante ressaltar que a acusada cumpriu
rigorosamente com os procedimentos administrativos. Nesse ponto,
fundamental ter em mente os atributos referentes aos atos administrativos,
quais sejam: a imperatividade, a presunção de legitimidade e a auto-
executoriedade.22
No que tange à presunção de legitimidade, define José dos
Santos Carvalho Filho:
“Os atos administrativos, quando editados, trazem em si a presunção de legitimidade, ou seja, a presunção de que nasceram em conformidade com as devidas normas legais, como bem anota DIEZ. Essa característica não depende de lei expressa, mas deflui da própria natureza do ato administrativo, como ato emanado de agente integrante da estrutura do Estado”.23 (grifamos)
Isto é, no caso em apreço, a ex-governadora firmou os
acordos respaldada por pareceres jurídicos, pautada pela presunção de
legitimidade dos atos expedidos pelos procuradores, mesmo porque não
é de se exigir do governador de Estado expertise em matéria jurídica,
razão pela qual se faz necessário colher a opinião legal do órgão
competente antes da autorização.
Nesses termos, foram emitidos pareceres pelos procuradores
cujos acordos celebraram-se com as empresas DISPEBEL Distribuidora de
Bebidas Presidente LTDA., SADIBE Santa Inês Distribuidora de Bebidas Ltda.,
DIGAL – Distribuidora de Bebidas Ltda., Mateus Supermercados S/A e
Armazém Mateus S/A.
Na hipótese, a Paciente seguiu fielmente o que foi determinado
pela Procuradoria, haja vista a presunção de legitimidade dos atos
expedidos. No caso, a Procuradoria entendeu pela viabilidade jurídica dos
acordos, ou seja, do ponto de vista legal não havia nenhum óbice para firmar
a avença entre as empresas e o Estado do Maranhão, assim como havia
22Filho,MarçalJusten:Cursodedireitoadministrativo,7.ed.Rev.eatual.BeloHorizonte,Fórum,2011,p.373.Filho,JosédosSantos:Manualdedireitoadministrativo,22.ed.Rev.,amp.,eatual.RiodeJaneiro,LumenJuris,2009,p.116ff.23Filho, JosédosSantos:Manualdedireitoadministrativo,22.ed.Rev.,amp.,eatual.RiodeJaneiro,LumenJuris,2009,p.116.
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emissão de nota técnica pela Secretaria de Planejamento atestando os
benefícios financeiros da composição.
Nesse aspecto, impende observar que é incabível a
responsabilização seja penal, seja administrativa da ex-governadora,
porquanto presume-se que os conteúdos dos atos expedidos pela
Procuradoria do Estado são legítimos. Com a palavra, Marçal Justen Filho:
“O primeiro aspecto da presunção de legitimidade se relaciona com o conteúdo do ato administrativo. Presume-se que o conteúdo do ato é compatível com o direito e que os fatos cuja ocorrência é afirmada efetivamente ocorreram”.24
Estando os atos de acordo com as normas legais e avalizados
pela Procuradoria, competia à Paciente, no âmbito do juízo de conveniência e
oportunidade, celebrar ou não o acordo. Frise-se, portanto, que o conteúdo
dos atos externados nos pareceres goza de legitimidade, estando em
conformidade com a legislação em vigência à época.
Quanto à interpretação dos artigos 170 e 170-A do Código
Tributário Nacional realizada pelos procuradores, também deflui da
presunção de legitimidade que os atos expedidos são compatíveis com a
norma legal. Marçal Justen Filho é categórico em afirmar que a presunção
de regularidade do ato envolve “a interpretação jurídica adotada pela
Administração para o direito aplicável ao caso”.25
Em outras as palavras, os procuradores não deveriam ser
processados porque adotaram uma dada interpretação ao caso em concreto.
E é assim, porque evita-se que o administrador público parecerista seja
sancionado pelo aquilo que se denomina de “crime de hermenêutica”.
Além disso, é de se lembrar que o parecer dos procuradores é
consistente na argumentação nitidamente favorável ao Estado, no
concernente às vantagens econômicas pela redução do valor de sua dívida
24Filho,MarçalJusten:Cursodedireitoadministrativo,7.ed.Rev.eatual.BeloHorizonte,Fórum,2011,p.375.25Filho,MarçalJusten:Cursodedireitoadministrativo,7.ed.Rev.eatual.BeloHorizonte,Fórum,2011,p.375.
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para com os credores titulares de decisões transitadas em julgado
condenatórios do Estado.
Alega a denúncia que os acordos firmados geraram suposto
prejuízo de mais de R$ 200.000.000,00, que “poderiam ter sido investidos na
construção de escolas de alta qualidade nas regiões mais pobres do
Maranhão”. (fl. 23 da denúncia)
Ocorre que o MP omite que, nos processos judiciais, os
valores em discussão atingiam quase R$ 390.000.000,00 (trezentos e
noventa milhões de reais), sendo que, conforme menciona a inicial, “A soma
desses acordos alcançou a não desprezível cifra de R$ 196.599.610,97 (cento
e noventa e seis milhões, quinhentos e noventa e nove mil, seiscentos e dez
reais e noventa e sete centavos)”. (fl. 23 da denúncia)
Assim, os acordos firmados, ao contrário do alegado pelo
promotor, geraram uma economia aos cofres públicos de quase R$
200.000.000,00 (duzentos milhões), sem contar a economia decorrente
do congelamento dos referidos valores, diante da não incidência de
correção monetária, juros de mora e multas, exigência imposta pelo
Estado do Maranhão para a celebração dos mesmos.
A simples não incidência de correção monetária, juros e
multas sobre os valores devidos pelo Estado do Maranhão já geraria enorme
vantagem, que, por si só, autorizaria a celebração dos acordos.
Repita-se, portanto, que a Paciente somente firmou a
autorização, porque, antes de mais nada, presume-se a legitimidade do
conteúdo do ato externado nos pareceres. Não só o princípio da
moralidade foi respeitado, tendo a ex-governadora consultado os órgãos
técnicos, em especial o PGE, como o princípio da eficiência foi atendido,
pela clara redução da dívida em função da compensação que autorizou.
Ademais, como abordado anteriormente, os dois acordos
foram homologados. Isso implica dizer que ambas as avenças foram
submetidas ao crivo do Poder Judiciário, soando absurdo que os acordos
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tenham sua validade contestada depois de averiguada a sua legalidade. É
contraditório e despropositado imaginar que os magistrados homologariam
acordos em dissonância com a norma legal.
Resta, portanto, evidente que os atos de firmar acordos,
amparados por pareceres e devidamente homologados judicialmente, não se
revestem de ilicitude.
Acerca da temática deve-se ressaltar o julgamento no STJ, do
do RHC dos réus Ricardo Pestana e Helena Haickel que, escorreitamente,
decidiu por trancar a ação penal declarando a inépcia da denúncia e a
atipicidade das condutas narradas. Vejamos:
RECURSO EM HABEAS CORPUS No 82.377 - MA (2017/0064335-4)
MINISTRO RIBEIRO DANTAS
RECORRENTE: RICARDO GAMA PESTANA
ADVOGADOS: RAVIK DE BARROS BELLO RIBEIRO E OUTRO
RECORRIDO: MINISTE ́RIOPU ́BLICODOESTADODOMARANHA ̃O
EMENTA
PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINA ́RIO EM HABEAS CORPUS. PREVARICAC ̧ÃO. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EXCEPCIONALIDADE NA VIA ELEITA. FLAGRANTE ATIPICIDADE EVIDENCIADA. DENÚNCIA INEPTA. RECURSO PROVIDO.
1. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o trancamento da ac ̧ão penal por meio do habeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houver inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incide ̂ncia de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito. Precedentes.
2. A rejeição da denúncia e a absolvição sumária do agente, por colocarem termo à persecução penal antes mesmo da formação da culpa, exigem que o Julgador tenha convicção absoluta acerca da inexistência de justa causa para a ação penal. Em verdade, embora não se admita a instauração de processos temerários e levianos ou despidos de qualquer sustentáculo probatório, nessa fase processual deve ser privilegiado o princípio do in dubio pro societate.
3. Não se pode admitir que o Julgador, em juízo de admissibilidade da acusação, termine por cercear o jus accusationis do Estado, salvo se manifestamente demonstrada a
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ocorrência de uma das hipóteses elencadas no art. 395 do Código de Processo Penal. Porém, impende destacar que a deflagração de ação penal, de per si, caso seja despida de justa causa, importa grave constrangimento ilegal sanável em sede de habeas corpus, mesmo que não tenha sido imposta qualquer medida cautelar ao denunciado.
4. Nos termos do art. 133 da Constituição Federal, "o advogado e ́ indispensável a ̀ administração da Justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.” Sem embargo, a inviolabilidade do advogado não pode ser tida por absoluta, devendo ser limitada ao exercício regular de sua atividade profissional, não sendo admissível que sirva de salvaguarda para a prática de condutas abusivas ou atentatórias a ̀ lei e a ̀ moralidade que deve conduzir a prática da advocacia.
5. No julgamento do MS n. 24.631/DF, da relatoria do Exmo. Sr. Ministro Joaquim Barbosa, o Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu a impossibilidade de responsabilização dos advogados públicos pelo conteúdo de pareceres técnico-jurídicos meramente opinativos, salvo se evidenciada a presença de culpa ou erro grosseiro. 6. Conforme o consolidado no âmbito deste Superior Tribunal de Justiça, a imunidade do advogado público não obsta a sua responsabilização por possíveis condutas criminosas praticadas no exercício de sua atividade profissional, desde que demonstrado que agiu imbuído de dolo.
7. A manifestação do Procurador Geral de Justiça integra a formação do ato administrativo, sendo, portanto, de natureza obrigatória. Entretanto, por refletir um juízo de valor, o ponto de vista do parecerista sobre a matéria submetida ao seu exame, não vincula a autoridade que possui competência para o exame da conveniência do ato. Decerto, a concordância do Governador do Estado com o conteúdo do parecer não consiste em mera formalidade, não havendo delegação, ainda que velada, do poder decisório sobre o ato administrativo ao Procurador Geral do Estado. Na hipótese, forçoso destacar que o acordo foi homologado em juízo, após manifestação favorável do Ministério Público do Estado do Maranhão.
8. Nos dizeres de Jose ́ dos Santos Carvalho Filho, "o agente que emite o parecer não pode ser considerado solidariamente responsável com o agente que produziu o ato administrativo final, decidindo pela aprovação do parecer. A responsabilidade do parecerista pelo fato de ter sugerido mal somente lhe pode ser atribuída se houve comprovação indiscutível de que agiu dolosamente, vale dizer, com intuito predeterminado de cometer improbidade administrativa. Semelhante comprovação, entretanto, não dimana do parecer em si, mas, ao revés, constitui ônus daquele que impugna a validade de ato em função da conduta de seu autor" (CARVALHO FILHO, Jose ́ dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28a ed. Sa ̃o Paulo: Atlas, 2015, p. 139-140).
9. Ainda que a jurisprudência atual desta Corte reconheça não ser possível a compensação tributária na ausência de lei estadual
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disciplinadora, a teor do disposto no art. 170 do Código Tributário Nacional, a autorização baseada na aplicação imediata do artigo 78, § 2o, do ADCT, acrescentado pela Emenda Constitucional 30/2000, não pode ser tida por manifestamente ilegal, não evidenciando erro grosseiro e, muito menos, que o parecerista agiu dolosamente com intuito de causar prejuízo ao erário.
10. Embora o Procurador Geral do Estado anterior tenha se manifestado desfavoravelmente aos pedidos de compensação tributária, por entende ̂-los contrários aos interesses da Fazenda estadual, a adoção de posicionamento diverso, de per si, não indica que o animus da parecerista de beneficiar interesse particular no exercício de suas atribuições. Decerto, a divergência de opinião na atividade consultiva não acarreta responsabilização pessoal, salvo, repita-se, se demonstrado que o parecerista agiu dolosamente ou cometeu erro grosseiro.
11. O recorrente submeteu o seu entendimento a exame da então Procuradora Geral do Estado do Maranhão, a quem competia, em última análise, a prolação do parecer. Da mesma forma, os autos foram previamente encaminhados a ̀ Secretaria de Fazenda, que se manifestou favoravelmente ao acordo, bem como a ̀ Procuradoria de Justiça da aludida Unidade da Federação tendo a avença sido homologada judicialmente pelo Juízo da 1o Vara da Fazenda Pública da Comarca de São Luís nos autos dos Embargos a ̀ Execução n. 1593/2003. Outrossim, consta do parecer que a compensação pretendida somente poderia ser autorizada se o Ministério Público do Estado do Maranhão desistisse da ação rescisória por ele ajuizada contra o Precatório Judicial n. 20.161/2009-TJ, donde decorre, igualmente, a impossibilidade de responsabilização penal pelos fatos a ele atribuídos pela exordial acusatória.
12. Deve ser reconhecido que o fato descrito na peça acusatória não se subsume ao tipo penal previsto no art. 319 do Código Penal. O delito de prevaricação, na modalidade "praticar ato violando disposição expressa de lei", exige que o funcionário público tenha praticado conduta comissiva peremptoriamente vedada em lei, não restando caracterizado o elemento normativo do tipo se houver qualquer dúvida sobre a exegese do dispositivo legal alegadamente contrariado.
13. O art. 3o, III, da Lei n. 8.137/1990 versa sobre forma especial do crime de advocacia administrativa e pressupõe que os interesses de particular tenham sido intermediados por servidor fazendário, tratando-se, portanto, de crime próprio, o que afasta, em princípio, a possibilidade de incriminação da recorrente quanto a tal crime. Ainda que assim não fosse, em que pese tenham sido descritas condutas praticadas por agentes públicos no âmbito da administração fazendária, que podem, em tese, configurar a prática do referido delito contra a ordem tributária, nada de concreto foi descrito a demonstrar a participação da recorrente nos eventos que envolvem a Secretaria de Fazenda do Estado do Maranhão, o que denota a ausência de justa
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causa para a persecução penal do recorrente, ainda que nos moldes do art. 29 do CP.
14. Malgrado a denúncia tenha igualmente imputado ao agente a prática do crime capitulado no art. 2o, c/c o § 4o, II, da Lei n. 12.850/2013, por supostamente ter dado suporte jurídico ao pleitos da organização criminosa dentro da Procuradoria Geral do Estado do Maranhão, limitou-se o Parquet a afirmar que a agente elaborou o retrocitado parecer, sem que tenha sido descrita qualquer outra circunstância concreta a indicar a sua participação no grupo criminoso, não restando, decerto, evidenciado o seu vínculo com as supostas manobras praticadas para a antecipação de pagamentos de créditos de empresas favorecidas por agentes públicos.
15. A inicial acusatória não preenche os requisitos exigidos pelo art. 41 do CPP, porquanto o órgão acusatório olvidou-se de descrever as condutas atribuídas ao ora recorrente, com a devida acuidade, permitindo-lhe rechaçar os fundamentos acusatórios.
16. Conquanto inconteste a independência dos membros do Ministério Público, bem como a diferença de sua atuação como titular da ação penal e como fiscal da lei, deve ser ressaltado que a Procuradoria Geral de Justiça, da tribuna, apósa leitura do voto do Desembargador Relator, optou por modificar o posicionamento adotado no parecer encartado aos autos do writ originário, opinando pela concessão da ordem, a fim de que fosse trancado o processo-crime em relação ao recorrente. Adiado o julgamento após pedido de vista, uma segunda Procuradora de Justiça funcionou nos autos, tendo ela igualmente opinado pela exclusão do acusado do polo passivo da lide, conforme o voto vencido do Relator.
17. Evidenciada, de plano, a flagrante atipicidade das condutas e a inépcia da exordial no tocante ao recorrente, deve ser trancada a ação penal, ressaltando-se a possibilidade de oferta de nova denúncia, desde que atendidos os requisitos do art. 41 do CPP e com fundamento em fatos novos.
18. A manifesta atipicidade das condutas imputadas ao recorrente não conduz a ̀ conclusão de que os fatos reputadamente criminosos atribuídos aos corréus sejam igualmente atípicos, devendo, portanto, seja dado prosseguimento a ̀ persecução penal para que sejam esclarecidos os eventos descritos na peça acusatória.
19. Recurso provido para determinar o trancamento da Ac ̧ão Penal n. 19880-63.2016.8.10.0001, em curso na 7a Vara Criminal da Comarca de São Luís/MA, devendo, porém, ser mantida a persecuc ̧ão penal em relação ao demais réus.
ACO ́RDA ̃O
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justic ̧a, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
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Ministros Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer, Jorge Mussi e Reynaldo Soares da Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.
PRESENTE NA TRIBUNA: DR. RAVIK DE BARROS BELLO RIBEIRO (P/RECTE)
Brasi ́lia (DF), 10 de outubro de 2017 (data do julgamento)
MINISTRO RIBEIRO DANTAS Relator
O julgado acima se assemelha ao posicionamento da ora
Paciente nos autos desse mesmo processo. O Ministério Público não
descreveu as condutas delituosas supostamente praticadas pela paciente,
não apontou elementos probatórios mínimos que corroborem com suas
especulações, ou seja, não teve êxito no cumprimento das exigências
contidas no artigo 41, do CPP.
Outrossim, ao não provar nenhum ato de participação de
Roseana Sarney, termina por inverter o ônus da prova, sendo a defesa
impelida em produzir prova de fato negativo. Isto é, provar fatos que
definitivamente não ocorreram.
Por derradeiro, cumpre consignar que quanto ao acordo
firmado com MARDISBEL Marreca Distribuidora de Bebidas Ltda, este foi
celebrado pelo ex-governador do Maranhão Jackson Lago, em 29.08.2008
(vol. II, fls. 383), não havendo nenhuma relação com a Paciente. Assim, não
subsiste razão ao promotor ao alegar que “[...] de 2004 a 2009 não ocorreram
compensações [...]”, motivo pelo qual a denúncia merece detida análise para
não incorrer em graves equívocos.
2º Fato
Gira a controvérsia em torno da responsabilização penal pelo
fato da ex-governadora ter nomeado 26 (vinte e seis) empregados da empresa
Linuxell Informática e Serviços Ltda para exercer cargos em comissão no
âmbito da SEFAZ, desempenhando a mesma função.
Questiona-se, na hipótese:
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a) se a Paciente cometeu o crime de peculato desvio por ter
nomeado 26 servidores para Secretaria de Fazenda.
Trata-se de imputação teratológica, porquanto os atos de
admissão dos empregados na empresa Linuxell ou ocorreram antes de
Roseana Sarney tomar posse como governadora e/ou as admissões se
deram na empresa quando já exerciam o cargo em comissão na Sefaz.
Para tanto, basta checar a tabela abaixo (Vol. 25/26):
1) Antes do governo Roseana Sarney, tendo sido nomeados pelo
Governador Jackson Lago:
Nome do
empregado
Nomeação na
SEFAZ
Admissão na
empresa
Exoneração da
SEFAZ
Alex Ribeiro Coelho 25 de setembro de
2008
14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Alfredo Fonseca Lima
filho
23 de abril de 2004 14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Marcelo Luis Lobato
Nogueira
Não consta nos autos 14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Ricardo Henrique B.
Azoubel
19 de março de 2008 14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
2)Nomeação anterior à admissão na empresa Linuxell Informática e
Serviços Ltda.
Nome do
empregado
Nomeação na
SEFAZ
Admissão na
empresa
Exoneração da
SEFAZ
Alessandro Castro
Lemos
25 de janeiro de
2010
14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Anderson Barbosa
Pires
11 de agosto de 2011 14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
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Armando Wodson de
Sousa Vieira
11 de agosto de 2011 06 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Felipe Bastos
Menegazzo
20 de maio de 2011 1º de novembro de
2013
13 de fevereiro de
2015
Giuliano Pablo Costa
Abreu
02 de junho de 2011 1º de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Guilherme Rian
Carvalho da Silva
27 de setembro de
2009
05 de junho de 2015 13 de fevereiro de
2015
Heracias Bezerra
Leite Neto
04 de outubro de
2012
14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Jacques Douglas
Ferreira Martins
16 de novembro de
2010
1º de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Jarbas de Jesus
Campos Garcia
27 de julho de 2012 07 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Joseana Amorim dos
Santos
03 de outubro de
2011
1º de novembro de
2013
13 de fevereiro de
2015
Kleuber Silva Ribeiro 11 de agosto de 2011 09 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Luis Roberto
Coimbra Nogueira
17 de agosto de 2011 07 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Manfrini Pereira
Freire
23 de agosto de 2011 1º de novembro de
2013
13 de fevereiro de
2015
Marcos Rogerio M. de
Freitas
11 de agosto de 2011 14 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Nilson Assunção
Pires
24 de dezembro de
2013
1º de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Nilson R. Da Silva
Vieira
11 de agosto de 2011 09 de dezembro de
2013
13 de fevereiro de
2015
Roneldes Nascimento
Cabral
16 de março de 2010 1º de abril de 2014 13 de fevereiro de 2015
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Saulo Goes
Bittencourt
30 de janeiro de
2012
03 de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Thales Lima de
Sousa Rocha
1º de agosto de 2010 1º de abril de 2014 13 de fevereiro de
2015
Thiago Rodrigues
Santos
10 de abril de 2013 1º de novembro de
2013
13 de fevereiro de
2015
3)Com pessoa que tinha sido exonerada da SEFAZ
Nome do
empregado
Admissão na
empresa
Nomeação na
SEFAZ
Exoneração da
SEFAZ
Edimilson Santos
Ahid Neto
14 de abril de 2014 02 de junho de 2011 10 de junho de 2011
Em tempo, reiterando a flagrante constatação de que a peça
acusatória é inepta, deixa-se claro que a denúncia, em nenhuma das suas
67 (sessenta e sete) páginas, declina o nome desses servidores. A defesa,
herculeamente, se viu obrigada ao analisar as quase 7.000 (sete mil páginas)
de documentos anexados para descobrir um documento relativo ao FGTS em
que tais nomes estão grafados com asteriscos. Pasmem!
Outra grave questão é o fato do Ministério Público ter
contabilizado 26 (vinte e seis) nomeações realizadas pelo governo Roseana,
sendo que, como se pode averiguar pelas datas acima, o governador Jackson
Lago, que a antecedeu, também nomeou funcionários para cargos em
comissão. Notório, portanto, o erro de cálculo cometido pelo Ministério
Público.
Destaque-se, ainda, que:
(i) todas as contratações realizadas pela empresa somente
ocorreram após as nomeações para os cargos em comissão no
órgão fazendário. Ou seja, no momento das nomeações para a
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SEFAZ, as pessoas acima listadas não tinham nenhum vínculo
direto ou indireto com a empresa Linuxell.
(ii) curiosamente, o atual governador Flávio Dino, na data de
21.01.2015, renomeou todos os 25 empregados da empresa
Linuxell para cargos em comissão na SEFAZ. Nesse caso sim,
no ato de nomeação do Governador Flávio Dino todos esses
servidores já eram funcionários da empresa Linuxell.
Desse modo, revela-se totalmente equivocada a denúncia
quando alega que “para garantir o sucesso da atuação da organização
criminosa, por meio da contratação da empresa Linuxell Informática e Serviços
Ltda., Roseana Sarney Murad, na qualidade de governadora do Estado do
Maranhão, nomeou 26 (vinte e seis) terceirizados que trabalhavam para
a empresa Linuxell Informática e Serviços Ltda., contratada para
prestar serviços de tecnologia da informação na SEFAZ [...]”. (grifamos)
Tal fato atesta a impossibilidade lógica da prática dos
crimes conforme narrados na exordial acusatória.
Em relação ao Sr. Edmilson Santos Ahid Neto, resta esclarecer
que, assim como os demais empregados, ele foi admitido na empresa em
14.04.2014, quando já não mais prestava serviço para a SEFAZ. Além disso,
a própria ex-governadora Roseana exonerou o Sr. Edimilson, conforme
publicado no Diário Oficial no dia 10.06.2011 (vol. 26).
Comprova-se, portanto, de forma muito clara, que as
nomeações ocorridas no governo Roseana Sarney não têm sequer conexão
com as imputações em análise. Ou seja, a denúncia, carente de lastro
probatório mínimo, além de imputar a odiosa responsabilidade de caráter
objetivo à ex-governadora – o que é vedado em direito penal –, não
demonstrou sequer, resumidamente, a presença do liame subjetivo
entre a Paciente e os demais réus, inexistindo a demonstração empírica
do nexo de causalidade da conduta.
O ministro Celso de Mello, sobre o assunto, quando do
julgamento do Inquérito 1978, cita entendimento do STF:
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“A imputação penal não pode ser o resultado da vontade pessoal e arbitraria do acusador. O Ministério Público, para validamente formular a denúncia penal, deve ter por suporte uma necessária base empírica, a fim de que o exercício desse grave poder-dever não se transforme em um instrumento de injusta persecução estatal. O ajuizamento da ação penal condenatória supõe a existência de justa causa, que se tem por inocorrente quando o comportamento atribuído ao réu nem mesmo em tese constitui crime, ou quando, configurando uma infração penal, resulta de pura criação mental da acusação. (RF 150/393, Rel. Min. Orozimbo Nonato)”26 (Grifamos)
Não é outro o caso dos autos. O Ministério Público, na
demanda, narra condutas indubitavelmente atípicas da Paciente e, ainda,
apresenta peça que, além de não preencher os requisitos do art. 41, do CPP,
é carente de elementos probatórios mínimos que possam incriminar suas
condutas. Conforme entendimento deste E. Tribunal, diante da falta de justa
causa, outra medida não se impõe senão seu trancamento. Ex vi:
PENAL. PROCESSO PENAL. POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ART. 102 DA LEI N.º 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO) E ART. 288 DO CÓDIGO PENAL. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. REJEIÇÃO. AUSÊNCIA DAS ELRES DO TIPO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. JUSTA CAUSA INEXISTENTE. ORDEM CONCEDIDA. 1. No que tange à preliminar de inépcia da denúncia, ao contrário do referido pela defesa, a peça incoativa narrou os fatos delituosos. E mais, embora não sendo de boa técnica, não é necessário que a inicial acusatória desça a minúcias, mas sim descreva o fato de molde a que deixem claras as imputações ao réu e viabilize o exercício pleno da garantia constitucional da mais ampla defesa, situação verificada in casu. Preliminar rejeitada. 2. O trancamento de ação penal através de Habeas Corpus é medida excepcional, merecendo ser utilizado quando houver evidente comprovação da atipicidade da conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade, ou a ausência de indícios de autoria ou prova sobre a materialidade do delito. 3. Os elementos constantes dos autos não trazem qualquer indício, mínimo que seja, de que os pacientes tenham praticado os crimes do art. 102 da Lei n.º 10.471/2003 e art. 288 do Código Penal. 4. Ordem concedida. Maioria. (TJ-MA - HC: 0419752015 MA 0007730-87.2015.8.10.0000, Relator: JOSÉ JOAQUIM FIGUEIREDO DOS ANJOS, Data de
26Inquérito1.978-RelatorMinistroCELSODEMELLO,Plenário,DJde17deagostode2007.
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Julgamento: 28/09/2015, TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 28/10/2015) (Grifamos) HABEAS CORPUS. ART. 129,§ 9º DO CÓDIGO PENAL C/C ART. 5º, II DA LEI Nº 11.340/2006. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. PROCEDÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. O trancamento da ação penal, em habeas corpus, por falta de justa causa, constitui medida excepcional que só deve ser aplicada nos casos de manifesta atipicidade da conduta, causa de extinção da punibilidade do paciente ou de ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas. 2. Ordem concedida. (TJ-MA - HC: 0491872014 MA 0009392-23.2014.8.10.0000, Relator: JOSÉ LUIZ OLIVEIRA DE ALMEIDA, Data de Julgamento: 27/11/2014, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 09/12/2014) (Grifamos) PENAL - PROCESSO PENAL - HABEAS CORPUS - POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL - ART. 90 DA LEI Nº 8.666/1993 - AUSÊNCIA DAS ELRES DO TIPO - DOLO NÃO DEMONSTRADO -- ATIPICIDADE DA CONDUTA - JUSTA CAUSA INEXISTENTE - ORDEM CONCEDIDA. 1. O trancamento de ação penal através de Habeas Corpus é medida excepcional, merecendo ser utilizado quando houver evidente comprovação da atipicidade da conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade, ou a ausência de indícios de autoria ou prova sobre a materialidade do delito. 2. O crime atribuído aos pacientes encontra-se previsto no art. 90 da Lei nº 8.666/93, cuja ação prevista consiste em frustrar ou fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório, e a sua configuração exige a comprovação do dolo específico do agente, consubstanciado no fim especial de agir com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação. 3. Os elementos constantes dos autos não trazem qualquer indício, mínimo que seja, de que os pacientes tenham frustrado e/ou fraudado o caráter competitivo do procedimento licitatório. 4. Em nenhum momento restou configurado qualquer elemento do tipo penal imputado aos pacientes. 5. Sem a comprovação dolo específico, consistente no "intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação", não se cogita a configuração do crime de frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório 6. Embora a Promotora de Justiça aponte diversas supostas irregularidades, em nenhum momento é demonstrada a existência do dolo específico, posto que não há qualquer relato no sentido de que os pacientes tenham auferido, ou mesmo
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vislumbrado a possibilidade de auferição, de vantagem decorrente do certame. Não há sequer demonstração de prejuízo advindo à municipalidade, eis que o procedimento licitatório na modalidade pregão busca o menor preço, e este foi conseguido. 7. Ordem concedida. Unanimemente. (TJ-MA - HC: 0248602015 MA 0004288-16.2015.8.10.0000, Relator: JOSE DE RIBAMAR FROZ SOBRINHO, Data de Julgamento: 03/08/2015, TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 06/08/2015)
É cediço que se a subsunção da conduta da Paciente ao tipo
legal demonstrar, de plano, a atipicidade da conduta e, via de consequência,
a ausência de justa causa para o prosseguimento, há de se impor o
trancamento da ação penal, o que ocorre no caso em tela.
Desta feita, atípicas as condutas praticadas pela Paciente,
imperioso se faz o trancamento da Ação Penal. E, apenas por amor ao
debate, caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência, o
trancamento se mostra imprescindível também pela inépcia da denúncia,
conforme demonstrado a seguir.
DA INÉPCIA DA DENÚNCIA.
Como se sabe, o oferecimento de denúncia genérica no
ordenamento processual brasileiro é vedado. A peça vestibular precisa
necessariamente conter a imputação formulada contra o investigado,
possibilitando o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Além disso, quando houver mais de um acusado é
fundamental que a acusação indique nos crimes de autoria coletiva, o que
cada um deles realizou, demonstrando, sobretudo, a presença do liame
subjetivo entre eles, seja para fins de configuração do concurso de agentes
(art. 29 do CP), ou de associação criminosa (art. 288 do CP) ou de
organização criminosa (art. 1º da Lei 12.850/2013). Sem a mínima
comprovação da formação do liame subjetivo entre os agentes, a descrição
resta imprecisa, vaga e genérica, tornando a denúncia inepta, conforme o
art. 395, inc. I do CPP.
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Em consequência disso, a exordial que padece dos vícios
mencionados impossibilita o exercício do contraditório no curso do processo,
impelindo a defesa a produção de prova de fato negativo, ou seja, de fatos
que não existiram, em nítida inversão do ônus da prova.
Retratando essa realidade, vale a leitura do precedente
firmado no HC 70763/DF de relatoria do Ministro Celso de Mello, ex vi:
- A imputação penal não pode ser o resultado da vontade pessoal e arbitrária do acusador. O Ministério Público, para validamente formular a denúncia penal, deve ter por suporte uma necessária base empírica, a fim de que o exercício desse grave dever-poder não se transforme em um instrumento de injusta persecução estatal. O ajuizamento da ação penal condenatória supõe a existência de justa causa, que se tem por inocorrente quando o comportamento atribuído ao réu "nem mesmo em tese constitui crime, ou quando, configurando uma infração penal, resulta de pura criação mental da acusação" (RF 150/393, rel. Min. OROZIMBO NONATO)
- O processo penal de tipo acusatório repele, por ofensivas a garantia da plenitude de defesa, quaisquer imputações que se mostrem indeterminadas, vagas, contraditórias, omissas ou ambíguas. Existe, na perspectiva dos princípios constitucionais que regem o processo penal, um nexo de indiscutível vinculação entre a obrigação estatal de oferecer acusação formalmente precisa e juridicamente apta e o direito individual de que dispõe o acusado a ampla defesa. A imputação penal omissa ou deficiente, além de constituir transgressão do dever jurídico que se impõe ao Estado, qualifica-se como causa de nulidade processual absoluta. A denúncia - enquanto instrumento formalmente consubstanciador da acusação penal - constitui peça processual de indiscutível relevo jurídico. Ela, ao delimitar o âmbito temático da imputação penal, define a própria res in judicio deducta. A peça acusatória deve conter a exposição do fato delituoso, em toda a sua essência e com todas as suas circunstâncias. Essa narração, ainda que sucinta, impõe-se ao acusador como exigência derivada do postulado constitucional que assegura ao réu o exercício, em plenitude, do direito de defesa. Denúncia que não
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descreve adequadamente o fato criminoso é denúncia inepta (RTJ 57/389). (Grifamos)
Com o devido respeito ao trabalho desenvolvido pelo
Ministério Público e à MM. Juíza que afirmou vislumbrar preenchidos os
requisitos do CPP na denúncia, não é difícil comprovar a inépcia da
acusatória no caso concreto. O art. 41 do CPP27 é claro em exigir a exposição
do fato em todas as suas circunstâncias.
Basta simples leitura da denúncia para certificar a omissão
de questões vitais à peça acusatória, senão vejamos:
1º Fato
a) omissão de descrição sobre a eventual unidade de desígnios entre a
Paciente e os demais coautores ou partícipes (servidores públicos) –
ausência do liame subjetivo. Não se sabe “como”, “onde” e “quando”
teria ocorrido uma suposta emissão de ordem por parte da ex-
governadora aos procuradores para “fabricarem” os pareceres ou o ajuste
entre eles;
b) omissão de descrição sobre a eventual unidade de desígnios entre a
Paciente e os demais coautores ou partícipes (empresários) – ausência do
liame subjetivo. Não se sabe “como”, “onde” e “quando” teria ocorrido
um suposto ajuste entre a ex-governadora e os empresários com o
propósito de beneficiá-los. Sobreleva anotar que os acusados
representantes das empresas sequer foram denunciados.
c) a ausência de prova sobre o suposto conluio entre os acusados com o
intuito de lesar o erário. Impende salientar que nem mesmo a prova
indiciária foi carreada aos autos com a finalidade de emprestar um
suporte probatório mínimo à denúncia. Inexistem interceptações
telefônicas, telemáticas (e-mails, SMS,), busca e apreensões (cartas, 27Art.41.Adenúnciaouqueixaconteráaexposiçãodofatocriminoso,comtodasassuascircunstâncias,aqualificaçãodoacusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol dastestemunhas.
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bilhetes), escuta ambiental, absolutamente nada que respalde as
alegações do parquet estadual que impute a participação da Paciente.
d) ausência de qualquer prova de que houve lesão ao erário;
e) a ausência do elemento subjetivo do tipo.
2º Fato
a) omissão de descrição sobre a eventual unidade de desígnios entre a
Paciente e o proprietário da empresa Linuxell – ausência do liame
subjetivo;
b) omissão de descrição sobre a eventual unidade de desígnios entre a
Paciente e os demais coautores ou partícipes (os 25 empregados
nomeados em cargo de comissão) – ausência do liame subjetivo;
c) ausência dos nomes do proprietário, dos empregados e data de
admissão na empresa, bem como há nítida omissão na exordial
acusatória sobre a nomeação e exoneração dos mesmo nos cargos em
comissão. Cumpre argumentar que esse encargo está sendo transferido
indevidamente para a defesa no processo;
d) os atos de admissão dos empregados na empresa Linuxell ou
ocorreram antes de Roseana Sarney tomar posse como governadora ou as
admissões se deram na empresa quando já exerciam o cargo em comissão
na SEFAZ.
e) ausência do elemento subjetivo do tipo;
Denota-se, desse modo, que o Ministério Público olvida-se em
prestar informações elementares para que a defesa possa exercer a contento o
contraditório e a ampla defesa no bojo da ação penal. Conforme já repisado,
é de se ver que a denúncia imputa a odiosa responsabilidade de caráter
objetivo a ex-governadora – o que é vedado em direito penal.
Em arguta observação, o ex-Ministro Carlos Ayres Britto, do
Supremo Tribunal Federal, destacou em caso semelhante:
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“A falha da peça acusatória está no deixar de fazer esse vínculo funcional subjetivo. Quanto à descrição objetiva dos fatos, está bem feito. Agora, esse vínculo, esse nexo de causalidade entre os fatos e o suposto autor não me convence”. (grifamos)
Nesse jaez, a ementa foi editada, ex vi:
INQUÉRITO. LEI Nº 8.137/90, ARTS. 1º E 2º. DENÚNCIA. REQUISITOS. CPP, ART. 41. CRIME SOCIETÁRIO. 1. O entendimento jurisprudencial, segundo o qual a peça acusatória, nos crimes societários, pode ser oferecida sem que haja descrição pormenorizada da conduta de cada sócio, não autoriza o oferecimento de denúncia genérica. 2. Denúncia que, ao narrar os fatos, deixa de demonstrar qualquer liame entre o acusado e a conduta a ele imputada, torna impossível o exercício do direito à ampla defesa. [...]. 3. O sistema jurídico penal brasileiro não admite imputação por responsabilidade penal objetiva. 4. Denúncia rejeitada. Inq nº 1578 – STF. Órgão Julgador: Tribunal Pleno (grifamos)
No mesmo sentido, é mansa e pacífica a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, ex vi:
7. Esta Corte Superior de Justiça tem reiteradamente decidido ser inepta a denúncia que, mesmo em crimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidade penal à pessoa física, levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa, deixando de demonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por configurar, além de ofensa à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penal objetiva, repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. HC 218594/MG – 6ª Turma. (grifamos)
Outro julgado da Suprema Corte, de extrema relevância, que
rechaça por completo responsabilidade objetiva pelo simples fato de ter
ocupado cargo de chefia do executivo, ex vi:
EMENTA. Questão de ordem na ação penal. Processual penal. Denúncia. Recebimento por outra instância antes da diplomação do réu como deputado federal. Posterior deslocamento da competência para o Supremo Tribunal Federal. Recebimento do processo no estado em que se encontra (art. 230-A do RISTF). Possibilidade de reexame, em questão de ordem, da justa causa para ação penal. Crimes de fraude a licitação (art. 90 da Lei nº
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8.666/93) e de peculato (art. 312, CP). Convênio firmado entre a Secretaria Estadual de Saúde e o Ministério da Saúde. Fraude em concorrência derivada desse convênio e desvio de recursos públicos em favor de terceiro. Imputação desses crimes a governador de estado pelo fato de o convênio ter sido celebrado em sua gestão. Inadmissibilidade. Acusado que, à época da abertura da concorrência, já havia renunciado a seu mandato. Inexistência de poder de mando sobre o curso do procedimento licitatório e a execução do contrato. Mera chefia do Poder Executivo que não atrai sua responsabilidade penal. Corrupção passiva (art. 312, CP). Recebimento de doações eleitorais da vencedora do certame. Atipicidade do fato. Réu que, na condição de ex-governador, não mais detinha a qualidade de funcionário público. Falta de justa causa para a ação penal (art. 395, III, CPP). Questão de ordem que se resolve pela concessão de habeas corpus, de ofício, para se rejeitar a denúncia, por falta de justa causa. 1. Nos termos do art. 230-A do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, havendo deslocamento de competência para o STF, a ação penal deve prosseguir no estado em que se encontra, preservada a validade dos atos já praticados na instância anterior, em homenagem ao princípio tempus regit actum. 2. De toda sorte, o Supremo Tribunal Federal não pode permitir que uma ação penal inviável prossiga, pelo só fato de recebê-la no estado em que se encontra, sob pena de manifesto constrangimento ilegal ao réu. Precedente. 3. Não bastasse isso, o prosseguimento do feito acarretaria a desnecessária prática de inúmeros atos de instrução, como a inquirição de testemunhas e a produção de perícias onerosas, relativamente a uma pretensão acusatória natimorta. 4. A justa causa para a ação penal consiste na exigência de suporte probatório mínimo a indicar a legitimidade da imputação e se traduz na existência, no inquérito policial ou nas peças de informação que instruem a denúncia, de elementos sérios e idôneos que demonstrem a materialidade do crime, bem como de indícios razoáveis de autoria. Precedentes. 5. O acusado, à época da concorrência, da assinatura do contrato e de seus aditivos, de sua execução, das medições de obra e dos pagamentos à contratada, não mais era o chefe do Poder Executivo, por haver renunciado a seu mandato. 6. Portanto, além de não subsistir relação de subordinação hierárquica com os responsáveis pela licitação, o acusado não mais detinha qualquer poder de mando sobre o curso do procedimento licitatório ou sobre a execução do contrato ora hostilizado. 7. O simples fato de ser governador à época em que a Secretária de Estado firmou o convênio em questão não atrai a sua responsabilidade penal pela fraude à licitação subsequente e pelo desvio de verbas na execução do contrato. 8. Mutatis mutandis, “a mera subordinação hierárquica dos secretários municipais não pode significar a automática
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responsabilização criminal do Prefeito” (AP nº 447/RS, Pleno, Relator o Ministro Ayres Britto, DJe de 29/5/09). 9. À míngua de elementos probatórios concretos, constitui mera criação mental da acusação a pretensa relação de causalidade entre as doações eleitorais feitas ao réu e seu suposto concurso para a fraude à licitação e o desvio de recursos públicos. 10. Questão de ordem que se resolve pela concessão de habeas corpus, de ofício, em favor do acusado, para rejeitar a denúncia, por falta de justa causa (art. 395, III, CPP). (AP 913 QO, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 17/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-251 DIVULG 14-12-2015 PUBLIC 15-12-2015)
Em resumo, a Paciente foi denunciada - nos fatos 1º e 2º -
tão somente por ter ostentado o cargo de governadora, em caso flagrante
de responsabilização objetiva. Imperioso que o Ministério Público comprove
a má-fé, entre a ex-governadora e os demais denunciados. Sem lastro
probatório mínimo que comprove o conluio e ausente a descrição da conduta
que permita o contraditório, outra providência não há senão o
reconhecimento da inépcia da exordial acusatória e o consequente
trancamento da Ação.
A jurisprudência do STJ, por sua vez, é firme em declarar a
inépcia ou falta de justa causa para a ação penal quando ausente um
suporte probatório mínimo que fundamente as afirmações do promotor de
justiça, ex vi:
HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA E FALTA DE JUSTA CAUSA PARCIAIS. OCORRÊNCIA. 1. A denúncia que, em parte, sobre desatender o artigo 41 do Código de Processo Penal, não descrevendo a conduta de cada qual dos denunciados, vem desacompanhada de um mínimo de prova que lhe assegure a viabilidade, autoriza e mesmo determina o julgamento de falta de justa causa para a ação penal. 2. Ordem parcialmente concedida. HC. 37.695/SP, Rel. Hamilton Carvalhido (Grifamos)
Verifica-se que a inicial padece de circunstâncias que
comprometem seriamente o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Inconcebível admitir uma denúncia que não descreva o vínculo subjetivo
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entre cada agente na consecução da prática delituosa e aponte a existência
do nexo de causalidade com o resultado danoso, de sorte que a peça
vestibular recebida compromete seriamente a produção de prova da defesa,
como, por exemplo, designar testemunhas para instruir o processo.
Ademais, é importantíssimo destacar o forte viés midiático que
catapultou o oferecimento da denúncia. Nessa vertente, acentuou o intrépido
ex-Ministro, do Superior Tribunal de Justiça, Assis Toledo:
“no voto que proferi na ocasião chamei a atenção para o vezo dos últimos tempos de denúncias vazias, fictícias na área penal, muitas delas coincidentemente elaboradas ao clamor público de uma certa mídia. É lamentável que isso aconteça. A denúncia que não especifica nem descreve os fatos é denúncia inepta. A denúncia, por outro lado, não pode ser criação mental do acusador”. (RHC 4.214-1-DF, voto, pág. 4, STJ) (Grifamos)
Como bem acentuou o ex-Ministro Assis Toledo, a denúncia
não pode e não deve ser uma “criação mental” por parte do Ministério
Público, sob pena de acusação arbitrária. Essa é a razão pela qual se exige
a comprovação mínima da formação subjetiva entre os agentes, porque
do contrário o que haverá é uma denúncia “em bloco”, pautada pela
responsabilidade objetiva, sistemática que não se coaduna com a ordem
processual penal brasileira.
Além do mais, é inquestionável, tanto do ponto de vista
doutrinário como jurisprudencial, que os crimes imputados em desfavor da
Paciente (1º fato - art. 312, § 1º e art. 319 ambos do CP, art. 3º, III, da Lei
8.137/90 e art. 2º, § 4º, II, da Lei 12. 850/2013; 2º fato - art. 312, § 1º) não
são puníveis a título de culpa, somente na forma dolosa.
Graças a teoria finalista da ação, adotada pelo nosso Código
com a reforma de 1984, um crime pode ser objetivamente típico, mas
subjetivamente atípico. Nesse laço, olvida-se o órgão ministerial que para
configuração típica dos delitos imputados é necessário demonstrar
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minimamente o elemento subjetivo dos tipos penais, sob pena de
inépcia da inicial.
Mormente em relação ao crime de prevaricação (art. 319 do
CP) a jurisprudência do STF não titubeia:
“Se a satisfação de sentimento pessoal integra o tipo do art. 319 do CP, por infração do qual foi o recorrente denunciado, esse requisito do tipo, que alguns caracterizam como elemento subjetivo do injusto, deve ser exposto com toda a clareza na denúncia, de forma a possibilitar o exercício da ampla defesa, sob pena de ser considerada inepta”.
Ementa oficial: Processual penal. Denúncia. No crime de prevaricação, inepta a denúncia que não especifica o sentimento pessoal que anima a atitude do autor. " (RT 589/436). (RHC 61.985-1/RJ) (Grifamos)
No mesmo sentido, solidificou-se a jurisprudência do STJ:
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PREVARICAÇÃO. DENÚNCIA. INÉPCIA. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. No crime de prevaricação (art. 319 do CP), é inepta a denúncia que não especifica o especial fim de agir do autor, limitando-se a reproduzir os termos da lei. (Precedentes do STF e do STJ). Recurso provido (RHC 9865 – STJ – 5ª Turma) (Grifamos)
A doutrina caminha no mesmo passo:
“É inepta e não deve ser recebida a denúncia que não especifica, nem descreve, ainda que sucintamente, o fato criminoso atribuído ao acusado, que seja vaga, imprecisa lacônica. Também é de ser rejeitada a denúncia em que não se descreve elemento essencial do tipo penal, como as expressões grosseiras no crime de desacato, o sentimento pessoal que moveu o agente no delito de prevaricação, a forma de inobservância do cuidado objetivo na infração culposa etc”.28 (Grifamos)
28Mirabete,JulioFabbrini:ProcessoPenal,Atlas,SãoPaulo,1991,p.122.
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Cabe, portanto, ao Ministério Público descrever
detalhadamente, na denúncia, qual o interesse ou sentimento pessoal que
levou o funcionário público a prevaricar. O mesmo se aplica ao crime de
peculato. Não revelado o elemento subjetivo do tipo, torna-se imperioso o
reconhecimento da inépcia acusatória. Essa é a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:
III – A incidência penal no crime de peculato, na modalidade desvio ou proveito alheio, art. 312, caput, do CP, tem a conduta de desviar como como objeto material do tipo recursos do fundo. Essa figura “desviar” em proveito alheio exige a configuração do elemento subjetivo do tipo, ou seja, a vontade de “desviar” de forma que o terceiro tenha proveito desse desvio do bem.
V – Denúncia rejeitada. Unânime (STJ – INQ 34/MT – Corte Especial) (Grifamos)
No caso em tela, é de se reconhecer que o promotor sequer
descreve o elemento subjetivo do tipo que impulsionou as supostas
condutas da Paciente – imputando responsabilidade objetiva por agir nos
exatos termos determinados pela LC 20/93, ou seja, autorizar o acordo,
conforme indicado pela PGE e pela SEPLAN ou por nomear os 25
funcionários em cargo de comissão.
Quanto ao 1º fato, repita-se, por fim, que os atos praticados
pela ex-governadora foram ancorados por pareceres da Procuradoria do
Estado, homologados judicialmente e com parecer favorável do Ministério
Público, o que dissipa qualquer ilegalidade ou conduta de má-fé por parte da
Paciente. Ademais, o próprio STJ, em julgado já transcrito acima, na análise
do RHC dos procuradores Helena e Ricardo, afirmaram que os pareceres
emitidos não estavam eivados de quaisquer ilegalidades. Desta feita, o mero
ato de autorização da Paciente, amparada no exato teor contido nesses
pareceres, jamais poderia ser qualificado como criminoso.
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No que tange às imputações de crime de organização
criminosa a conduta é absolutamente atípica por distintas razões, a começar
pela questão da temporalidade.
Para efeitos de tipicidade, deve-se recordar que o crime
analisado entrou em vigor no dia 19/9/2013 29 e os fatos imputados à
Paciente ocorreram antes da entrada em vigor do tipo penal organização
criminosa, razão pela qual deve-se aplicar o princípio da irretroatividade da
lei penal (art. 5º, XL, da CR, art. 9º, da CIDH, art. 1º, do CP).
Afinal, como aplicar uma lei que pune organizações
criminosas ao conjunto de fatos em tese praticados antes da existência da
lei? A própria denúncia, que delimita o caso penal, fixa as datas, não
deixando dúvida quanto ao aspecto temporal e a impossibilidade de
aplicação da lei a fatos anteriores.
Julgado recente do STF, em 13 de outubro de 2015, elucida a
temática.
AG.REG. NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 121.835 PERNAMBUCO
E M E N T A: RECURSO ORDINÁRIO EM “HABEAS CORPUS” – LAVAGEM DE DINHEIRO – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA – INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE – QUADRILHA (ATUALMENTE DESIGNADA “ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA”) – CONDUTAS PRATICADAS ENTRE 1998 E 1999, MOMENTO QUE PRECEDEU A EDIÇÃO DA LEI No 12.683/2012 E DA LEI No 12.850/2013 – IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE SUPRIR-SE A AUSÊNCIA DE TIPIFICAÇÃO DO DELITO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, COMO INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE, PELA INVOCAÇÃO DA CONVENÇÃO DE PALERMO – INCIDÊNCIA, NO CASO, DO POSTULADO DA RESERVA CONSTITUCIONAL ABSOLUTA DE LEI EM SENTIDO FORMAL (CF, art. 5o, inciso XXXIX) – DOUTRINA – PRECEDENTES – INADMISSIBILIDADE, DE OUTRO LADO, DE CONSIDERAR-SE O CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA COMO EQUIPARÁVEL AO DELITO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA PARA EFEITO DE REPRESSÃO ESTATAL AO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO COMETIDO ANTES DO ADVENTO DA LEI No 12.683/2012 E DA LEI No 12.850/2013 – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
29Art.27.EstaLeientraemvigorapósdecorridos45(quarentaecinco)diasdesuapublicaçãooficial”,oqueocorreunoDOUde5/8/2013
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– Em matéria penal, prevalece o dogma da reserva constitucional de lei em sentido formal, pois a Constituição da República somente admite a lei interna como única fonte formal e direta de regras de direito penal, a significar, portanto, que as cláusulas de tipificação e de cominação penais, para efeito de repressão estatal, subsumem-se ao âmbito das normas postulado da reserva de Parlamento. Doutrina. Precedentes (STF).
– As convenções internacionais, como a Convenção de Palermo, não se qualificam, constitucionalmente, como fonte formal direta legitimadora da regulação normativa concernente à tipificação de crimes e à cominação de sanções penais.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello (RISTF, art. 37, II), na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Senhores Ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Brasília, 13 de outubro de 2015.CELSO DE MELLO – RELATOR
No voto desse julgado afirma o Ministro Celso de Melo: “Com
efeito, tal como tive o ensejo de assinalar na decisão ora agravada, o
Supremo Tribunal Federal tem acolhido a tese de que o tipo penal do
crime de organização criminosa somente veio a surgir com o advento
da Lei no 12.850, de 02/08/2013 (art. 1o, § 1o, e art. 2o).
E continua:
Esse entendimento tem sido manifestado em precedentes desta Corte Suprema (AP 470/MG, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – ADI 4.414/AL, Rel. Min. LUIZ FUX – HC 96.007/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – HC 108.715/RJ, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, v.g.), valendo destacar, entre tais julgados, aquele proferido no exame do RHC 124.082/RJ, Rel. Min. DIAS TOFFOLI:
“Recurso ordinário em ‘habeas corpus’. Penal. Crimes de formação de quadrilha (CP, art. 288) e de lavagem de dinheiro (art. 1o, incisos V e VII, da Lei no 9.613/98). (...). Inviabilidade da denúncia quanto ao delito de lavagem de dinheiro fundado na participação em organização criminosa (art. 1o, inciso VII, da Lei no 9.613/98, com a redação anterior à Lei no 12.683/12). Ausência de definição jurídica na legislação pátria à época dos fatos. (...). Definição jurídica não suprida pela
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Convenção Internacional de Palermo, incorporada ao direito positivo brasileiro
4. (...) é atípica a conduta capitulada no art. 1o, inciso VII, da Lei no 9.613/98 – a qual foi imputada ao recorrente –, pois, à época dos fatos narrados na denúncia (1998 a 2005), não havia definição jurídica na legislação pátria para ‘organização criminosa’.
5. A Convenção Internacional de Palermo, incorporada ao direito positivo brasileiro pelo Decreto no 5.015/04, não supriu essa omissão, conforme assentado majoritariamente pela Corte no julgamento da AP no 470/MG.
6. Recurso ordinário parcialmente provido, concedendo-se a ordem de ‘habeas corpus’ para trancar a ação penal proposta contra o recorrente no tocante ao art. 1o, inciso VII, da Lei no 9.613/98. (...).” (grifei)
Constata-se, desse modo, que, analisada a imputação deduzida contra o paciente, ora agravado, sob a perspectiva da “organização criminosa” na condição de crime antecedente, mostra-se destituída de tipicidade penal essa conduta precisamente em razão de inexistir, à época dos fatos (entre 1998 e 1999), definição jurídica do delito de organização criminosa.
Com efeito, não é apenas a temporalidade que escracha a
atipicidade da conduta da Paciente. A peça acusatória não aponta a
estabilidade, a permanência ou a definição das atribuições de cada um dos
integrantes dessa suposta organização.
Outrossim, inviável sustentar a tipicidade formal objetiva e
subjetiva, tendo em vista as incongruências na denúncia alhures
demonstradas. Limita-se o Parquet a relatar que a Paciente era o suporte
político e não descreve qualquer outra circunstância concreta a indicar a sua
participação no suposto grupo criminoso, não demonstra ou mesmo cita seu
vínculo com as supostas manobras criminosas.
Quanto ao crime de advocacia administrativa fazendária,
trata-se de crime próprio, somente podendo ser praticado por quem exerce
funções na administração fazendária o que afasta, de logo, a possibilidade de
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incriminação da Paciente. Contudo, ainda que assim não fosse, a denúncia
não descreveu o dolo e nem qualquer ato concreto que demonstre a
participação da Paciente nos eventos que dizem respeito à Secretaria de
Estado da Fazenda, o que denota total ausência de justa causa para
persecução penal, ainda que nos moldes do artigo 29, do CP.
Portanto, por todo o exposto e forte nessas razões, a defesa
pede o reconhecimento da inépcia da denúncia ante à ausência de justa
causa para a inauguração da ação penal, devendo, assim, a Ação Penal ser
trancada.
O requerimento tem força, tendo em vista que “seja em sede
de competência originária (denúncias oferecidas contra réus eu gozam de
prerrogativa de foro), seja em sede de controle judicial regular (habeas
corpus), não se pode falar em preclusão caso o tema tenha sido arguido
antes da sentença”30, como é o caso.
Nesse sentido: HABEAS CORPUS. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA QUANTO AO CRIME DE ROUBO. 1 - A técnica da denúncia (art. 41 do Código de Processo Penal) tem merecido reflexão no plano da dogmática constitucional, associada especialmente ao direito de defesa. Precedentes. 2 - Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua devida conformação, não se coadunam com os postulados básicos do Estado de Direito. Violação também do princípio da dignidade da pessoa humana. 3 - A denúncia sob exame utiliza-se de um silogismo de feição fortemente artificial para indicar o paciente como autor intelectual do roubo. A decisão Superior Tribunal de Justiça pelo recebimento da denúncia nada acrescentou em relação ao crime de roubo. 4 - Deferimento da ordem para anular a denúncia quanto à atribuição ao paciente da conduta prevista no art. 157 do Código Penal, ressalvados os votos vencidos da Min. Ellen Gracie e do Min. Joaquim Barbosa. (HC 84768, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
30Mendes,GilmarFerreira;Coelho,MártiresInocêncio;Branco,PauloGustavoGonet:CursodeDireitoConstitucional,editoraSaraiva,SãoPaulo,2007,p.595
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08/03/2005, DJ 27-05-2005 PP-00030 EMENT VOL-02193-01 PP-00091 LEXSTF v. 27, n. 320, 2005, p. 430-440 RTJ VOL-00194-01 PP-00298) (Grifamos) 1. Habeas Corpus. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei no 7.492, de 1986). Crime societário. 2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de indicação da conduta individualizada dos acusados. 3. Mudança de orientação jurisprudencial, que, no caso de crimes societários, entendia ser apta a denúncia que não individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a indicação de que os acusados fossem de algum modo responsáveis pela condução da sociedade comercial sob a qual foram supostamente praticados os delitos. Precedentes: HC no 86.294-SP, 2a Turma, por maioria, de minha relatoria, DJ de 03.02.2006; HC no 85.579-MA, 2a Turma, unânime, de minha relatoria, DJ de 24.05.2005; HC no 80.812-PA, 2a Turma, por maioria, de minha relatoria p/ o acórdão, DJ de 05.03.2004; HC no 73.903-CE, 2a Turma, unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 25.04.1997; e HC no 74.791-RJ, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 09.05.1997. 4. Necessidade de individualização das respectivas condutas dos indiciados. 5. Observância dos princípios do devido processo legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla defesa, contraditório (CF, art. 5o, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1o, III). Precedentes: HC no 73.590-SP, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 13.12.1996; e HC no 70.763-DF, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.09.1994. 6. No caso concreto, a denúncia é inepta porque não pormenorizou, de modo adequado e suficiente, a conduta do paciente. 7. Habeas corpus deferido (HC 86879, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 21/02/2006, DJ 16-06-2006 PP-00028 EMENT VOL-02237-02 PP-00278 RTJ VOL-00199-01 PP-00352 LEXSTF v. 28, n. 332, 2006, p. 485-504) (Grifamos)
O próprio Ministro Celso de Mello, quando do julgamento do
HC 7359031 afirma:
O sistema jurídico vigente no Brasil - tendo presente a natureza dialógica do processo penal acusatório, hoje impregnado, em sua estrutura formal, de caráter essencialmente democrático - impõe ao Ministério Público a obrigação de expor, de maneira precisa, objetiva e individualizada, a participação das pessoas acusadas da suposta prática da
31HC73590,Relator(a):Min.CELSODEMELLO,PrimeiraTurma, julgadoem06/08/1996,DJ13-12-1996PP-50162EMENTVOL-01854-03PP-00591
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infração penal, a fim de que o Poder Judiciário, ao resolver a controvérsia penal, possa, em obséquio aos postulados essenciais do direito penal da culpa e do princípio constitucional do due process of law, ter em consideração, sem transgredir esses vetores condicionantes da atividade de persecução estatal, a conduta individual do réu, a ser analisada, em sua expressão concreta, em face dos elementos abstratos contidos no preceito primário de incriminação. O ordenamento positivo brasileiro repudia as acusações genéricas e repele as sentenças indeterminadas.
Ora, inexistente a justa causa tanto para a instauração,
quanto para o prosseguimento da ação, já que a denúncia, além de inepta,
deixa de individualizar as supostas condutas típicas da Paciente, se mostrou
desprovida de elementos probatórios mínimos que pudessem apontar, de
maneira satisfatória e consistente, a materialidade dos fatos delituosos
imputados a ela e a existência de indícios suficientes de sua autoria
criminosa.
Isso porque, apesar de apontar diversas supostas
irregularidades, a denúncia, além de vaga, não comprovou nenhuma delas e
sequer as relacionou diretamente com a Paciente, que fora incursa nos
crimes, basicamente, por ocupar o cargo de governadora à época.
Dessa feita, os Impetrantes requerem o trancamento da Ação
Penal 19880-63.2016.8.10.0001 em razão da falta de justa causa para seu
regular prosseguimento.
VI. DO PEDIDO
Pelo exposto, prestadas as devidas informações e ouvido o
Ministério Público, requer seja concedida a ordem de Habeas Corpus, a
fim de trancar, in totum, a Ação Penal nº 19880-63.2016.8.10.0001, a qual
tramita na 8ª Vara Criminal de São Luís/MA, tendo em vista que o ato
atacado fora proferido de maneira teratológica, porquanto é de se
reconhecer a atipicidade da conduta imputada. Subsidiariamente, também
resta manifesta a inépcia da denúncia em flagrante desacordo com os
requisitos previstos no art. 41 do CPP.
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Requer, por fim, que as futuras publicações sejam feitas em
nome dos patronos Luís Henrique Alves Sobreira Machado, inscrito na
OAB/DF sob o nº 28.512, Anna Graziella Santana Neiva Costa, inscrita na
OAB/MA sob o nº 6.870 e Bruno Araújo Duailibe Pinheiro, inscrito na
OAB/MA 6.026, para os devidos fins e direito.
Termos em que pede deferimento.
São Luís, 27 de outubro de 2017
ANNA GRAZIELLA SANTANA NEIVA COSTA
OAB/MA 6.870
LUÍS HENRIQUE A. S. MACHADO
OAB/DF 28.512
BRUNO ARAÚJO DUAILIBE PINHEIRO
OAB/MA 6.026