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universidade estadual de campinas

Reitor Fernando Ferreira costa

coordenador Geral da universidade edgar Salvadori De Decca

conselho editorial Presidente

Paulo Franchetti christiano Lyra Filho – José A. R. Gontijo

José Roberto Zan – Luiz MarquesMarcelo Knobel – Marco Antonio Zago

Sedi Hirano – Silvia Hunold Lara

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Carla Delgado de Souza

gilberto mendesEntre a vida e a arte

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Índices para catálogo sistemático:

1. Mendes, Gilberto, 1922- 780.92 2. Músicos – Brasil – Biografia 780.92 3. etnologia – Brasil 301.2981 4. Música brasileira 780.981

copyright © by carla Delgado de Souzacopyright © 2013 by editora da unicamp

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ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor.

Printed in BrazilFoi feito o depósito legal

isbn 978-85-268-1011-2

M522s Souza, carla Delgado de.Gilberto Mendes: entre a vida e a arte / carla Delgado de Souza. –

cam pinas, SP: editora da unicamp, 2013.

1. Mendes, Gilberto, 1922-. 2. Músicos – Brasil – Biografia. 3. etnologia – Brasil. 4. Música brasileira. I. Título.

cdd 780.92 301.2981 780.981

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Gilberto Mendes em visita à Unicamp em dezembro de 2011. Foto: Antoninho Perri.

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Para João Victor.

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agradecimentos

Este livro se originou de minha tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Unicamp. Agradeço à Fapesp e ao CNPq pelas bolsas concedidas, que permitiram a realização da pesquisa que originou este livro. Agradeço também aos professores que compuseram a banca de avaliação da tese: Denise Garcia, Suely Kofes, Rose Satiko Gitirana Hikiji e Samuel Melo Araújo Júnior pelas sugestões e críticas ao texto original, que muito contribuíram para a reescrita deste texto. Apro-veito a oportunidade para agradecer especialmente à professora Rita de Cássia Lahoz Morelli, que orientou minha pesquisa e que me incentivou a publicá-la na forma de livro, ao professor Paulo Franchetti, que acolheu a proposta desta publicação pela Editora da Unicamp, e a Lúcia H. L. Mo-relli, por sua revisão cuidadosa.

Muitas das análises presentes neste livro são devedoras da interlocução estabelecida no Grupo de Estudos de Antropologia e Arte. Ressalto o diá-logo com Ilana Goldstein, sempre instigador. Também sou grata aos ami-gos: Felipe D. Ferreira, Luísa Pessoa, Rachel Bakke, Helena Schiel, Jayne Colevatti Gajo, Marialba Maretti, Moacyr del Picchia e Miriam Helena Talavera, por terem me apoiado nessa jornada.

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Como não poderia ser diferente, sou extremamente grata pelo carinho, pela amizade e pelo interesse com que Gilberto e Eliane Mendes me receberam como pesquisadora. O casal não apenas abriu o arquivo pessoal do compositor para minhas pesquisas, mas sempre me recebeu para longas entrevistas e conversas, sem as quais este livro não existiria na forma como se apresenta. Também no que se refere ao círculo santista, sou grata às conversas que travei com Antonio Eduardo Santos e Heloísa de Araújo Duarte Valente. Agradeço ainda ao professor Olivier Toni, pela entrevista concedida sobre a criação do curso superior de música da USP.

Aos meus pais, Antonio Carlos e Gilda, sou profundamente grata pelo amor e pelo apoio incondicionais e pelo exemplo de luta e persistência na vida acadêmica. Agradeço ainda à minha irmã Tatiana e ao meu cunhado Regis pela amizade e pelo carinho de sempre. A Cláudio, Teresa, Cláudia, Cris, Paschoal, Cal e Giovanna, sou grata por terem me acolhido em sua família, participando eles também de todo esse processo.

Ao João Victor, agradeço por tudo o que conseguimos construir e por tudo o que ainda podemos sonhar juntos.

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A música, os estados de felicidade, a mitologia, os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos e certos lugares querem nos dizer algo, ou algo disseram que não deveríamos ter perdido, ou estão a ponto de dizer algo; essa iminência de uma revelação que não se produz é, quem sabe, o fato estético.

Jorge Luis Borges (2007, p. 12).

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sumário

prefácio ........................................................................................................................................................................... 15

introdução .............................................................................................................................................................. 21

preâmbulo: Em busca de uma estética e em busca de uma nação —

Os projetos para a música erudita no Brasil ........................................................................................ 39

1 o início de uma história ......................................................................................................... 61

Entre modernismos: (inter)nacionalismos, lutas estéticas e políticas para a arte ........ 74

Do universalismo ao brasileirismo — Um momento da trajetória........................................ 87

Novas alianças por uma outra estética........................................................................................................ 106

2 a vanguarda ganha corpo, voz e força — o movimento música nova e suas articulações políticas e estéticas ..................................................................................................................... 113

A radicalização da postura de vanguarda e seus embates ............................................................. 138

Música para ler, ouvir e ver — Os teatros musicais........................................................................... 168

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3 limites da vanguarda — (im)popularidade, (in)comunicação e o processo de abertura estética para gilberto mendes e willy corrêa de oliveira ................... 177

Música popular e impopular, mestres e inventores ............................................................................. 203

4 virando acadêmico — o lugar e as possibilidades do “artista herói” na atualidade ...................................................................................... 213

A música chega à Universidade de São Paulo ....................................................................................... 220

O Rio de Janeiro e a “outra” Academia ...................................................................................................... 235

notas finais sobre estética e política, arte e mercado ............ 241

referências bibliográficas ........................................................................................................ 251

Artigos de jornal e revista ..................................................................................................................................... 256

Partituras ........................................................................................................................................................................ 258

Filmes ................................................................................................................................................................................. 258

Compact Disc (e seu encarte) .......................................................................................................................... 258

Programa de concerto ............................................................................................................................................. 259

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prefácio

É sempre uma responsabilidade muito grande prefaciar um livro, sobretudo quando se trata de uma obra da envergadura de Gilberto Mendes: Entre a vida e a arte. Mas, para mim, escrever este Prefácio é também uma alegria muito grande, pois fui orientadora de Carla Delgado de Souza no douto-rado em antropologia social do IFCH–Unicamp, e este livro foi, original-mente, sua tese. Essa circunstância permitirá que eu revele aqui um pouco dos bastidores de sua pesquisa, em lugar de apenas apresentar seus resultados. Com isso creio que o leitor ficará mais bem inteirado do modo como, em nossa disciplina, o encontro com os sujeitos que tentamos fazer de objetos põe em xeque nossos pressupostos iniciais, obrigando-nos a trilhar caminhos abertos em parceria com eles. Só os melhores de nós, entretanto, têm coragem e talento para fazer esse percurso, e vale dizer de an temão que Carla os teve, e que o caminho que acabou trilhando nessa parceria deu muito certo.

De fato, quando ingressou no PPGAS do IFCH–Unicamp, Carla vinha disposta a estudar a trajetória de Gilberto Mendes de uma forma bastante tradicional, inspirada nos pressupostos teórico-metodológicos de Pierre Bourdieu e em suas afirmações categóricas sobre o campo artístico. Tinha

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escrito uma dissertação de mestrado sobre Villa-Lobos1 na qual não pudera aplicar tais pressupostos nem testar tais afirmações dado o próprio fato de haver priorizado o trabalho orfeônico do grande compositor, constituído de obras e de métodos de ensino, e desenvolvido sob a égide do governo ditatorial de Getúlio Vargas. Ou seja, dado o próprio fato de que focara um objeto por meio de cujo estudo tornava-se possível situar Villa-Lobos antes no campo político que no campo artístico.

Escolhendo outro grande compositor, só que contemporâneo, es-colhia-o não apenas por suas diferenças musicais em relação a Villa-Lobos, mas também porque Gilberto Mendes, por contraste, aparecia como o artista por excelência, cujas decisões ao longo da vida não tinham sofrido ingerências de outra ordem que não as do campo artístico, de tal modo que estudar sua trajetória permitiria iluminar a própria história do campo mu-sical no Brasil. Mas é curioso observar que desde o início Carla mostrava-se apreensiva com o fato de que, ao contrário do que fizera em seu mestrado, estudaria agora um compositor vivo, que tinha seu próprio ponto de vista sobre si mesmo e sobre sua trajetória artística, e com quem precisaria aprender a conversar, no mais puro estilo do interpretativismo.

Ora, essa apreensão era mais do que compreensível. Afinal, reconhecer o objeto de estudo como sujeito de conhecimento era condição sine qua non para conversar com ele, sendo ao mesmo tempo um pressuposto epis-temológico bastante complicado para quem pretendia inspirar-se em Bourdieu — que, como se sabe, em sua teoria da prática2 rejeita como subjetivistas todas as perspectivas analíticas fundadas no ponto de vista dos sujeitos sobre si mesmos. Para além desse problema epistemológico, entretanto, desconfio que havia algo de premonitório naquela apreensão, entendendo premonição como a percepção inconsciente de algo que já está dado na realidade mas que ainda não se apresenta aos sentidos e ao raciocínio. Gilberto Mendes estando vivo, tornava-se tanto viável quanto necessário conversar com ele, o que implicava vir a conhecê-lo também como pessoa. Depois disso, mesmo que de fato não tivesse sido agente ativo

1 Carla Delgado de Souza. “O Brasil em pauta: Heitor Villa-Lobos e o canto orfeônico”. Dissertação de mestrado em antropologia social. São Paulo, USP, 2006.

2 Pierre Bourdieu. “Esboço de uma teoria da prática”, in R. Ortiz (org.), Bourdieu, 2a ed. São Paulo, Ática, 1994. Coleção Grandes Cientistas Sociais.

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PREFÁCIO

do campo político, como Villa-Lobos, seria possível continuar pressupondo que suas decisões ao longo da vida não tinham sofrido ingerências de outra ordem que não as do campo artístico?

A resposta a essa pergunta já estava dada, e era não. Contudo, a pessoa de Gilberto Mendes tornaria ainda mais categórica essa negativa, sendo interessante observar que, paradoxalmente, isso aconteceria em razão de ele ter-se revelado de fato como o artista por excelência que o imaginávamos, ainda que conhecê-lo tenha-nos forçado a rever o que Bourdieu entendia por isso. O artista por excelência não é exatamente um estrategista que obedece incessantemente às regras do jogo do campo artístico para ascen-der cada vez mais dentro dele em termos de glória e de prestígio, sendo an-tes um ser criativo que consegue fazer de sua arte uma expressão autêntica de si mesmo, apesar desse jogo, dessas regras e das pressões desse campo. Para começar a compreendê-lo, portanto, é preciso reconhecer que sua própria trajetória no campo artístico se dá nos termos dessa sua experiência criativa.

Um dos grandes méritos deste livro está justamente no fato de que Carla Delgado de Souza tenha conseguido interpretar a trajetória de Gilberto Mendes no campo artístico muito mais em termos da experiência criativa dele do que em termos de cálculo e de estratégia, ainda que isso tenha lhe custado a corajosa decisão de relativizar seus pressupostos teóricos iniciais. Não sei dizer se acabaria fazendo isso em qualquer circunstância. Mas a circunstância de que o tenha feito em razão do caráter errático, contra-ditório e personalíssimo da trajetória de Gilberto Mendes, como de todo grande artista, é o que me permite falar em caminhos analíticos novos, abertos em parceria com o próprio sujeito-objeto da pesquisa.

Por outro lado, é interessante observar que Carla Delgado de Souza encontrou na bibliografia antropológica, sobretudo em Victor Turner3, os conceitos necessários para fazê-lo com rigor acadêmico. Ou seja, para além do experimento epistemológico aqui ressaltado, este livro contém impor-tante contribuição para a antropologia da música, área de estudos que tem tido destaque crescente em vários centros de pesquisa do Brasil e do mun-do, e à qual tenho me dedicado desde o início de minha própria trajetória

3 Victor Turner. The anthropology of experience. University of Illinois, 1986.

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como pesquisadora. Como militante absolutamente solitária da ins-titucionalização da pesquisa em antropologia da música no IFCH da Unicamp, louvo a publicação deste livro pela editora desta universidade, esperando que seu lançamento desperte o interesse de mais pesquisadores por essa área de estudos.

Da mesma forma, é preciso registrar que o foco na experiência artística de Gilberto Mendes não impediu que o estudo contido neste livro ilumi-nasse a própria história do campo musical no Brasil, como pretendia sua autora inicialmente.

De fato, a experiência artística inclui também a experiência que o próprio artista tem do campo e de cada uma das pressões que ao longo do tempo pesaram sobre seu trabalho criativo. Assim é que o leitor deste livro verá como Gilberto Mendes experimentou, por exemplo, as pressões nacionalistas que durante muitos anos foram a tônica do campo musical brasileiro, tanto em sua vertente erudita quanto em sua vertente popular, bem como, em outros momentos, pressões vanguardistas em sentido con-trário — e o fato de ter conseguido produzir uma obra sempre autoral, em qualquer uma dessas circunstâncias, não impede que, acompanhando sua história, acompanhemos também a história do campo no interior do qual essas e outras pressões se exerceram.

Por fazer o registro da experiência artística de um grande compositor brasileiro como Gilberto Mendes, este livro já representaria valiosa contribuição para a pesquisa histórica do fazer musical em nosso país. Termina, entretanto, por se revestir de importância histórica ainda maior, ao fazer o registro simultâneo do modo como o campo artístico pesou sobre esse fazer musical ao longo do tempo. E se consegue essa façanha, é justa-mente porque a autora, ao analisar os dados e construir sua narrativa, não se deixou aprisionar às tradicionais dicotomias entre indivíduo e sociedade e entre subjetivismo e objetivismo, assim como não se deixara aprisionar na relação sujeito e objeto ao realizar o trabalho de campo.

Se hoje em dia tais dicotomias parecem estar sendo questionadas por to-dos, o certo é que nunca foram adequadas quando se tratou de arte e de sua antropologia. A experiência criativa autêntica se reveste de inte gra lidade; tais dicotomias, ao contrário, resultam na segmentação do sujeito artístico em supostas esferas estanques de ação, motivação e inspiração. Por outro

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PREFÁCIO

lado, a interpretação antropológica de uma expe riência criativa não pode ser contraditória em relação à integralidade que a constitui, daí a antro po-logia da arte demandar de seus praticantes o mesmo envolvimento in tegral que é próprio do fazer artístico. Creio que Carla Delgado de Souza corres-pondeu muitíssimo bem a essa demanda. E que, por isso, acabou escre-vendo um livro que é, além de tudo, bonito. Por isso calo-me agora, para que o leitor possa iniciar sua prazerosa leitura.

Rita de Cássia Lahoz Morelli

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