Download - Gestao Financeira-sebenta Clotilde e Isabel
GESTO FINANCEIRA
GESTO FINANCEIRA
Professor Doutor Jos Almaa
Dr Clotilde Saraiva
Dr Isabel Vieira
NDICE
1. A Realidade Financeira da Empresa ____________________________3
2. O Equilbrio Financeiro ______________________________________6
2.1. Registos e Documentos Contabilsticos de Base _________________7
2.2. Equilbrios e Limitaes dos Documentos de Contabilidade ________16
2.3. Uma Pequena Aplicao para Melhor Compreenso dos Conceitos__18
3. A perspectiva financeira. Da Contabilidade Anlise e Gesto Financeira _________________________________________________19
3.1. O Balano Patrimonial _____________________________________19
3.2. O Balano Funcional ______________________________________20
3.3. Do Balano Contabilstico ao Funcional ________________________23
3.4. A Demonstrao dos Resultados numa perspectiva financeira e funcional ________________________________________________26
4. Indicadores de apoio anlise e gesto ou rcios______________28
5. O Risco e as Decises_______________________________________32
5.1. A utilizao de medidas estatsticas __________________________33
5.2. A anlise de risco com base em indicadores extrados dos documentos contabilsticos ____________________________________________35
5.3. Outras tcnicas de anlise de risco ___________________________38
6. Rendibilidade e Crescimento. O Investimento e a Estrutura
Financeira ________________________________________________38
7. Os Fluxos Monetrios ______________________________________41
7.1. O Mapa de Origens e Aplicaes de Fundos ___________________42
7.2. O Mapa de Fluxos ________________________________________44
8. A Empresa e o Valor ________________________________________50
9. O Controlo Financeiro de Gesto _____________________________52
9.1. A abordagem previsional _____________________________________52
9.2. O papel da Contabilidade Analtica _____________________________53
OBJECTIVOS A ATINGIR:
Pretende-se que o leitor perceba a integrao e o alcance global da gesto financeira.
No se prossegue com uma abordagem tradicional, de descrio pormenorizada de conceitos, apostando-se antes em fornecer uma perspectiva de anlise, num ambiente em que a funo contabilstica e de aconselhamento financeiro e fiscal frequentemente feita por elementos externos empresa (outsourcing), deixando ao empresrio pouca capacidade de interveno crtica. o reforo desta capacidade que se defende.
Trabalhou-se, assim, numa ptica dinmica em que interessa conhecer os verdadeiros fluxos da empresa, o risco e valor da mesma, em cada momento da sua vida.
Como tal, os objectivos que se pretende atingir so:
1. Facultar uma ordenao de conceitos e regras de base necessrias ao exerccio quotidiano da gesto e da anlise financeira de micro, pequenas e mdias empresas.
2. Clarificar noes e revelar tcnicas simples.
3. Dar a perceber a importncia de uma descodificao dos tradicionais elementos contabilsticos e fiscais, pondo em destaque a anlise de fluxos.
4. Reforar a importncia da informao atempada e fivel e da prtica de uma gesto previsional e de um controlo regular de desempenhos.
5. Introduzir a noo de risco como varivel de gesto.
A abordagem na empresa deve incidir sobre a aplicao dos conceitos, realizando-se uma anlise da situao actual e a projeco para os prximos trs anos.
1. A REALIDADE FINANCEIRA DA EMPRESA
Em termos financeiros, todas as actividades levadas a cabo numa organizao originam fluxos de entradas e sadas de fundos, que necessrio manter em permanente equilbrio.
A empresa , deste modo, vista como uma contnua corrente de fluxos monetrios, que importa garantir.
Numa frmula simples, a preocupao que em qualquer momento,
Saldo inicial + entradas previstas ( sadas previstas + saldo final desejado
Esta pequena regra de equilbrio conduz a outra fundamental, que se prende com a rendibilidade e que determina que, no mdio prazo, as entradas acumuladas excedam as sadas acumuladas
Entradas previstas ( sadas previstas
Para tal, levam-se a cabo um conjunto de tarefas, histricas e previsionais, num todo coeso e inserido nos objectivos e estratgia definidos.
Mas, nem sempre foi assim.
Numa primeira fase, a funo financeira identificava-se com a tesouraria, ou seja, receber e pagar. As preocupaes situavam-se ao nvel da manuteno de um saldo de disponibilidades que permitisse assegurar o normal funcionamento da empresa, cobrando com rapidez e escalonando os pagamentos aos fornecedores e outros credores. Tratava-se de efectuar uma gesto de disponibilidades.
Esta tarefa foi, entretanto, ampliada com a necessidade de obter atempadamente e ao menor custo os fundos necessrios ao funcionamento e desenvolvimento da empresa, bem como garantir uma adequada aplicao de excedentes de fundos, de forma a garantir a melhor rendibilidade possvel dos mesmos. O papel financeiro passou ento, a ser mais activo, em termos da gesto.
Com o andar dos tempos e o aumento da complexidade do ambiente em que a empresa opera, a funo financeira evoluiu para a gesto financeira:
H que ter tambm preocupaes de carcter econmico, cabendo rea financeira a anlise e o controlo da rendibilidade actual e previsional de todas as aplicaes de fundos.
A funo financeira passou a participar nas decises de investimento e na elaborao dos planos de mdio prazo.
Neste enquadramento, as tarefas de uma moderna gesto financeira so:
Poltica
A mdio/longo prazo
Investimento
(estratgia financeira)
Financiamento
Distribuio de resultados
A curto prazo
Gesto
(deciso operacional)
- do activo circulante
- dos dbitos de curto prazoO que que cada uma destas tarefas representa?
Poltica de investimento
anlise de rendibilidade e risco num
horizonte temporal alargado
Poltica de financiamento
garantia de fundos
Poltica distribuio resultados
garantia de retorno aos detentores do
capital
O documento de base o Plano FinanceiroGesto do activo circulante
disponibilidades, saldos de clientes, stocks e aplicaes de excedentes de tesouraria
Gesto de dbitos de curto prazo
crditos de fornecedores, credores
correntes e cobertura de dfices de
tesouraria
O documento de base o Oramento de Tesouraria.
A actual complexidade fez englobar preocupaes e controlos de mercados de capitais, financiamentos internacionais, exportaes, opes e futuros, criando necessidades de maior especializao tcnica.
Em todo este esforo tem de estar sempre presente o objectivo global:
maximizao do valor da empresaPara atingir este objectivo h que levar a cabo exames da repercusso das decises financeiras na empresa em duas vertentes rendibilidade e risco.
A rendibilidade mostra a capacidade de uma empresa para gerar lucros. O risco reflecte a variabilidade desses lucros ou fluxos.
As empresas actuais so organizaes abertas em permanente interaco com o meio envolvente, em que as decises de gesto so mais vastas que as meras decises financeiras, ainda que estas tenham um grande peso no curto e mdio prazo.
Note-se que a qualidade das anlises e decises financeiras esto em relao directa com a qualidade e a fiabilidade da informao utilizada, pelo que o sistema e as tecnologias de informao e respectivo controlo tm um peso cada vez mais determinante.
As finanas de uma empresa quando mal geridas so seguramente causa de insucesso. No entanto, uma gesto financeira de boa qualidade no implica, por si s, o sucesso.
Qualquer que seja a sua dimenso, a empresa um todo em que cada funo interdependente das restantes e que obriga a um esforo global e objectivo e um posicionamento estratgico.
Fazer uma correcta anlise financeira e gerir uma empresa em termos financeiros implica ver e analisar para alm dos meros fluxos desta natureza. Obriga a olhar a empresa na sua insero ambiental e no seu conjunto interno e perceber a sua capacidade evolutiva.
Isto implica estudar todas as variveis, externas e internas, relevantes para a definio estratgica:
A estrutura e atractividade do sector
A posio concorrencial e as a (s) vantagem (ens) competitiva (s)
A cadeia de valor
A carteira de negcios
O sistema de informao
Os recursos humanos e a massa cinzenta detida.
2. O EQUILBRIO FINANCEIRO
Uma necessidade que implica uma anlise e um controlo permanentes
Para tomar decises financeiras necessrio avaliar e interpretar a situao econmica e financeira da empresa. Por outras palavras, avaliar o equilbrio financeiro, a rendibilidade dos capitais, a capacidade de crescimento e o risco.
Os gestores tm necessidade de acompanhar a evoluo e controlar os planos, de molde a conhecer a situao actual e prever o futuro. Mas no so os nicos. Cada vez mais a situao de uma empresa interessa a outras entidades, com ela envolvidas fornecedores, credores, investidores, trabalhadores, Estado e clientes.
Tendo cada um interesses diversos, fazem anlises distintas da mesma realidade, embora socorrendo-se de instrumentos e tcnicas comuns. O gestor tem que estar consciente desta realidade e gerir de modo a garantir a salvaguarda de todos estes interesses e o bom nome da empresa.
Os mapas de base de qualquer anlise econmica e financeira so o Balano e a Demonstrao dos Resultados Lquidos.
2.1. Registos e documentos contabilsticos de base
O Balano
O Balano um documento de contabilidade que mostra a situao patrimonial da empresa numa determinada data. um elemento de visualizao esttico.
Agrega, num conjunto de rbricas, os bens, direitos e obrigaes da empresa no momento retratado.
Est dividido em trs grandes naturezas:
O Activo
Os Capitais Prprios
O Passivo
No Activo surgem todos os bens e direitos da empresa. Nos Capitais Prprios, o capital social, os resultados acumulados (lucros e prejuzos), as participaes e as reservas constitudas. No Passivo, as obrigaes assumidas para com terceiros, internos ou externos empresa (dvidas).
Numa ptica financeira, o Activo corresponde s Aplicaes de Fundos ou ao investimento feito na empresa. Estes bens e direitos so financiados por Capitais Prprios (capital social, reservas e resultados) e Capitais Alheios, cuja obrigatoriedade de pagamento aparece inscrita no Passivo.
A este segundo membro (Capitais Prprios e Passivo) tambm se chama Origens de Fundos.
De modo mais grfico temos
A
P
O
L
R
I
I
C
G
A
E
N
S
E
S
F
U
F
N
U
D
N
O
D
S
O
S
Olhando para as colunas da direita e da esquerda, podemos, desde j, estabelecer uma relao de equilbrio entre estes membros:
ACTIVO = CAPITAIS PRPRIOS + PASSIVO
ou
ACTIVO = CAPITAIS PRPRIOS + CAPITAIS ALHEIOS
ou ainda
APLICAES DE FUNDOS = ORIGENS DE FUNDOS
Esta a equao fundamental da contabilidade.
Na medida em que as empresas se financiam com capitais prprios e alheios normal (e saudvel) que o activo exceda os capitais alheios. Se tal no se verificar, a empresa est tecnicamente falida ou insolvente, isto :
o activo inferior ao passivo,
ou seja,
os capitais prprios so negativos.
Mas, detalhemos estes membros do Balano para percebermos a respectiva lgica e composio.
O 1 membro do balano
, como se referiu, o Activo. Na medida em que necessitamos de clareza fundamental que o activo esteja decomposto em rbricas homogneas e em determinada ordem que o Plano Oficial de Contabilidade POC consagra em ordenao por grau crescente de liquidez e de acordo com o destino das aplicaes.
Por grau de liquidez entende-se a capacidade para um activo se transformar em meios monetrios.
Assim, foram criadas duas grandes categorias:
Activo Fixo, de liquidez reduzida;
Activo Circulante, de maior liquidez.
O Activo Fixo agrupa:
Imobilizaes
Incorpreas aplicaes de carcter permanente (superior a 1 ano) em activos intangveis, cuja transformao em dinheiro no imediata e at algo duvidosa (despesas de constituio, trespasses, licenas, etc.);
Corpreas aplicaes com carcter permanente em activos tangveis, que a empresa no vai transformar em liquidez mas que utiliza para o exerccio da sua actividade ou de que frui para obter dinheiro (terrenos, edifcios, equipamento);
Investimentos Financeiros so aplicaes em activos de carcter permanente e de natureza financeira (aces, obrigaes, ttulos diversos, emprstimos concedidos a empresas de grupo ou a terceiros). bvio que o respectivo grau de liquidez superior aos dos grupos anteriores, mas, apenas se registam aqui as naturezas cuja estimativa de transformao em dinheiro seja superior a um ano.
Amortizaes e reintegraes representam a perda observada pelas imobilizaes por via da respectiva utilizao e aparecem a deduzir.
O Activo Circulante decompe-se em:
Existncias so todos os bens armazenveis, quer adquiridos quer produzidos pela empresa e destinados venda (mercadorias, produtos acabados e intermdios, subprodutos, desperdcios, resduos e refugos, produtos e trabalhos em curso, matrias-primas, subsidirias e de consumo). Deduzem-se das respectivas provises para depreciao e contemplam as regularizaes, positivas ou negativas, e ainda os adiantamentos por conta de compras, cujo preo esteja previamente fixado.
Dvidas de Terceiros
a Mdio e Longo
Prazo dvidas com liquidao a mais de 1 ano da data do balano, deduzidas das respectivas provises. Respeitam a clientes, empresas do grupo, adiantamentos a fornecedores de imobilizado, Estado ou subscritores de capital.
Dvidas de Terceiros
a Curto Prazo a menos de 1 ano, data do balano e respeitantes s entidades anteriormente referidas, deduzidas igualmente das respectivas e aplicveis provises.
Ttulos
Negociveis aplicaes financeiras de curto prazo, ou tesouraria (aces, obrigaes, outros);
Depsitos
Bancrios
e Caixa so os meios lquidos, isto , dinheiro em caixa ou ordem em instituies de crdito, bem como os meios quase lquidos (depsitos a prazo).
Acrscimos e
Diferimentos despesas com custo diferido (feitas no exerccio mas que correspondem a custos dos exerccios seguintes) e antecipao de receitas (proveitos do exerccio cuja receita ocorre em exerccios subsequentes).
O 2 membro do balano
constitudo por:
Capitais Prprios
Passivo (Capitais Alheios)
Seguem-se tambm aqui os princpios de clareza e homogeneidade, apresentando-se as contas por ordem crescente de exigibilidade. O grau de exigibilidade definido pelo prazo de vencimento de uma dvida. Quanto menor o prazo, maior a exigibilidade. Por tal, os capitais prprios aparecem em primeiro lugar.
Mas, vejamos as componentes:
Capitais Prprios
Capital social o capital disponibilizado pelos scios ou accionistas
Prestaes suplementares reforos ao capital inicial
Prmios de emisso de aces
Dividendos antecipados
Reservas (de reavaliao e legais)
Resultados transitados de exerccios anteriores
Resultados lquidos do exerccio
Passivo
Provises para Riscos e Encargos integram custos que correspondem a despesas potenciais de exerccios posteriores. So espesas futuras, certas ou incertas, de montante incerto.
Dvidas a terceiros de mdio e longo prazo com liquidao a mais de 1 ano, a partir da data do balano (emprstimos por obrigaes convertveis e no convertveis, emprstimos por ttulos de participao, emprstimos bancrios, adiantamentos por conta de vendas, fornecedores, empresas do grupo ou interligadas, scios ou accionistas, Estado e todas as dvidas para com terceiros).
Dvidas a terceiros de curto prazo com liquidao a menos de 1 ano da data do balano, de composio idntica anterior.
Acrscimos e diferimentos despesas diferidas (custos do exerccio com realizao de despesa em exerccios seguintes) e receitas com proveito diferido (receitas do exerccio cujo proveito respeita a exerccios posteriores). Em termos prticos e para a anlise financeira, sempre que o diferimento seja de perodo superior a 1 ano, deve encarar-se como um passivo de longo prazo.
A Demonstrao dos Resultados Lquidos
Referiu-se o balano como sendo o documento que apresenta a situao financeira da empresa numa determinada data. A demonstrao de resultados lquidos mostra a formao dos resultados (lucros ou prejuzos) num determinado perodo, normalmente entre dois balanos.
Permite avaliar o desempenho econmico, ou seja a rendibilidade das vendas, dos capitais investidos, a eficincia global econmica.
Ao fazer a sntese dos custos e dos proveitos, homogeneamente agrupados, d-nos indicao da provenincia e composio do resultado apurado em cada exerccio.
De acordo com o POC, existem dois modos de elaborao da demonstrao de resultados:
Por natureza
Por funes
A Demonstrao de Resultados por Natureza
Agrega proveitos e custos em grupos de idntica natureza. O Resultado Lquido do Exerccio sempre inscrito a seguir aos custos, com sinal positivo ou negativo.
No final e separadamente, apuram-se em resumo as principais naturezas de resultados:
Resultados Operacionais(B-A)Vendas+Prestaes de Servios+Variao da Produo+Trabalhos para a Prpria Empresa+Proveitos Suplementares+Subsdios Explorao+Outros Proveitos e Ganhos Operacionais
MENOS
Custo das MVMC+FSE+CP+Amortizaes+Provises+Impostos Directos e Indirectos+Outros Custos e Perdas Operacionais
Resultados Financeiros(D-B) (C-A)
Proveitos e Ganhos Operacionais e Financeiros
MENOS
Custos e perdas Operacionais e Financeiros
Resultados Correntes(D-C)
Proveitos e Ganhos Aps Financeiros
MENOS
Custos e Perdas Aps Financeiros
Resultados Antes de Impostos
(F-E)
Proveitos e Ganhos Totais
MENOS
Custos e Perdas Totais
Resultado Lquido do Exerccio(F-G)
Proveitos e Ganhos Totais
MENOS
Custos e Perdas Totais adicionados do imposto sobre o Rendimento do Exerccio
Convm destacar e explicar a existncia destas diversas naturezas de resultados, para alm dos resultados lquidos:
O Resultado Operacional o que advm da diferena entre proveitos e custos operacionais.
O Resultado Financeiro obtm-se pela subtraco dos custos aos proveitos financeiros.
O Resultado Corrente , assim, a adio do resultado operacional com o financeiro.
A diferena entre proveitos (ganhos em alienao de imobilizaes, diferenas de cmbio extraordinrias e outras) e custos extraordinrios (dvidas incobrveis, perdas com alienao de imobilizaes, etc.) salda-se no Resultado Extraordinrio.
O Resultado Lquido do exerccio sempre considerado aps a aplicao do imposto sobre o rendimento.
A Demonstrao de Resultados por Funes
Neste caso, os custos e os proveitos so agrupados por funes, de acordo com a estrutura clssica das funes da empresa produo, distribuio administrativa e financeira, etc.
O facto de o POC no obrigar existncia de um esquema de contabilidade analtica dificulta a obteno deste mapa nas empresas que no disponham de contabilidade analtica, pelo que a demonstrao por natureza a mais utilizada, em termos de anlise e gesto financeira.
2.2. Equilbrios e Limitaes dos Documentos de Contabilidade
Sempre que temos necessidade de efectuar anlises ou controlos de cariz financeiro, temos como recurso os documentos contabilsticos, os quais so limitados para um correcto conhecimento da realidade e uma gesto eficaz da empresa.
A contabilidade tem por objectivo apurar e demonstrar o crescimento do capital da empresa resultado lquido em termos histricos, avaliando activos e contrapondo-lhe dvidas e compromissos, medindo o patrimnio lquido.
Na perspectiva de uma verdadeira anlise e gesto financeira, isto no basta, pois, h que identificar e estudar o modo de ajustamento dos principais fluxos financeiros, para conhecer e testar as condies de equilbrio e normal funcionamento da empresa, em cada momento.
A ttulo indicativo, podemos referir algumas das principais limitaes dos documentos contabilsticos e que so:
Nem sempre reflectem valores actuais, porque o princpio normalmente seguido o do registo pelo custo histrico.
Englobam no resultado lquido componentes que no so fluxos financeiros, como o caso das amortizaes.
Esto omitidas do balano muitas rubricas de cariz diverso e reflexo financeiro, como por exemplo, o activo humano, o valor da clientela fidelizada, o valor da imagem, etc..
claro que a normalizao contabilstica existe e que esto estabelecidas regras para a preparao de documentos e o registo de factos contabilsticos. No entanto, os princpios de base so de natureza jurdico-patrimonial e no financeira, pelo que impe que o responsvel financeiro adopte um conjunto de anlises complementares e ajuste essa informao s necessidades e aos objectivos da empresa.
Da os prximos captulos colocarem o enfoque num conjunto de indicadores e reordenaes a efectuar com base nas chamadas demonstraes oficiais.
2.3. Uma Pequena Aplicao Para Melhor Compreenso dos Conceitos
A empresa CONSOLIDAR, Lda. apresenta as seguintes realidades contabilsticas nos exerccios de 1998 e 1999:
RUBRICAS199819991999/1998
ORIGEMAPLICAO
ACTIVO
Imobilizaes Lquidas20.00016.0004.000
Existncias5.4007.5002.100
Dbitos de mdio e longo prazo
Clientes2.0002.000
Dbitos de curto prazo
Clientes26.00020.0006.000
Outros Devedores1.5001.800300
Disponibilidades
Caixa30035050
Bancos35.00032.0003000
TOTAL ACTIVO90.20079.65013.0002.450
CAPITAIS PRPRIOS
Capital Social5.0005.000
Reservas12.00012.000
Resultado Lquido3.5002.2001300
TOTAL CAPITAIS PRPRIOS20.50019.2001.300
PASSIVO
Emprstimos de curto Prazo24.70016.4508.250
Scios20.00020.000
Fornecedores22.00018.8003.200
Sector Pblico Estatal3.0005.2002.200
TOTAL PASSIVO69.70060.4502.20011.450
TOTAL C. PRPRIOS +PASSIVO90.20079.65015.20015.200
3. A Perspectiva Financeira
(Da contabilidade anlise e gesto financeira)
3.1. O Balano Patrimonial
O Balano contabilstico e fiscal, que todos conhecemos e tambm denominado denominado por patrimonial assenta na ptica jurdica da contabilidade.
Retomando em parte o que j foi anteriormente referido, este mapa encarado do seguinte modo:
Se enquadrarmos estas rubricas na lgica da ordenao por grau de liquidez (activo) e exigibilidade (capitais prprios e passivo), temos as j referidas:
APLICAES
ORIGENS
Estes conceitos constituem a base da anlise patrimonial tradicional, dando-nos uma informao comparativa entre perodos evolutivos e sequenciais e sendo obviamente limitadas no alcance.
3.2. O Balano Funcional
Actualmente, determinante conhecer o equilbrio funcional das origens e aplicaes da empresa.
Assim, o Balano Funcional visa reproduzir, em determinada data, a imagem da empresa, ou seja, as aplicaes e recursos relacionados com os ciclos financeiros da empresa, qualquer que seja a respectiva natureza jurdica. O ciclo financeiro o resultado financeiro das decises tomadas aos diferentes nveis estratgico, operacional e estritamente financeiro.
Encara-se normalmente a existncia de trs ciclos:
De investimento
De explorao
Das operaes financeiras
O que so?
Ciclo de Investimento
o conjunto das decises e actividades concernentes anlise e seleco de investimentos e desinvestimentos a efectuar. Todas as operaes deste ciclo afectam o volume das imobilizaes existentes.
Ciclo de Explorao
Este ciclo corresponde s actividades correntes geradoras de valor na empresa aprovisionamento, produo, comercializao. Todas as operaes efectuadas implicam consumos e compra de recursos, que se reflectem nos custos e proveitos operacionais, inscritos na demonstrao de resultados. A nvel do balano, gera necessidades de recursos para financiar clientes e existncias (scios, banca, fornecedores e outros credores).
Ciclo de Explorao
consumo de recursos
aquisio/utilizao
custo
gerao de proveitos
financiamento (forn.,banca, etc)
Demonstrao de Resultados Balano
Ciclo das Operaes Financeiras
Traduz-se na actividade de obteno de fundos para garantir os investimentos e fazer face s necessidades de financiamento do ciclo de explorao. Tem dois sub-ciclos:
Ciclo das operaes de capital
Ciclo das operaes de tesouraria
O primeiro prende-se com a obteno de fundos estveis para o financiamento dos activos mais permanentes. O segundo, com a gesto das disponibilidades, para assegurar a cobertura financeira de curto prazo.
Colocando esta lgica dos ciclos sob a forma de colunas e num modo grfico simples, teremos:
CICLO
APLICAESRECURSOS
CICLO
INVESTIMENTO
OPERAES DE CAPITAL
EXPLORAO
EXPLORAO
OPERAES DE
OPERAES DE
TESOURARIA
TESOURARIA
Em termos prticos, a apresentao mais comum a seguinte:
NRUBRICASANO 1ANO 2ANO N
1Capitais Prprios
2Capitais Alheios estveis
3Capitais Permanentes (1+2)
4Activo Fixo
5Fundo de Maneio (3-4)
6Clientes
7Existncias
8Estado e outros entes pblicos (a receber)
9Necessidades Cclicas (6+7+8)
10Fornecedores
11Estado e outros entes pblicos (a pagar)
12Recursos Cclicos (10+11)
13Necessidades em Fundo de Maneio (9-12)
14Tesouraria Lquida (5-13)
3.3. Do Balano Contabilstico ao Funcional
Partindo da contabilidade e para efeito de anlise mais dinmica, o nosso novo balano funcional sinttico deve enquadrar as rubricas, que a seguir se descriminam, para melhor compreenso.
ACTIVO FIXO
So, como j foi referido, os activos com permanncia superior a 1 ano. Compreende, como tal, as Imobilizaes Corpreas e Incorpreas, os Investimentos Financeiros e as Dvidas de mdio e longo prazo.
As contas de emprstimos de outras empresas do mesmo grupo ou de accionistas e scios podem considerar-se aqui, se houver garantia de permanncia do fluxo na empresa.
As dvidas de terceiros a considerar devem ser as que no resultem de meras decises ligadas explorao, mas, apenas as de carcter financeiro e estratgico.
As imobilizaes incorpreas, pela dificuldade de transformao imediata em liquidez, podem ser vistas numa ptica de custo e, como tal, abatidas aos capitais prprios, para efeitos de anlise.
Bruto (com as amortizaes acumuladas)
ACTIVO FIXO
Lquido (sem as amortizaes acumuladas)
NECESSIDADES CCLICAS
Abarca-se nesta denominao as contas que resultam das decises do ciclo de explorao e que implicam necessidades de financiamento. Decompem-se do seguinte modo:
As Existncias devem incluir todo o stock em armazm, expurgando-se eventuais aprovisionamentos estratgicos, que devem ser considerados activo fixo. Os critrios de valorizao devem ser salvaguardados para o perodo da anlise, de modo a permitir a comparabilidade. As existncias devem estar decompostas por naturezas, conforme o POC.
Os Adiantamentos por conta de compras no devem englobar os relativos a aprovisionamentos estratgicos (activo fixo).
As contas de Clientes devem igualmente estar subdivididas, conforme o POC. (clientes c/c, ttulos a receber, cobrana duvidosa). De notar que as letras descontadas no vencidas dizem igualmente respeito s necessidades de financiamento das operaes de explorao. Devem, deste modo, ser adicionadas s letras descontadas no vencidas, para que se possa apurar o valor total dos clientes no balano funcional.
TESOURARIA ACTIVA
So os activos lquidos e quase lquidos. Esto aqui os Depsitos Bancrios, Caixa, Ttulos Negociveis, Despesas de Custo Diferido, Diferimento de Receitas e Outros Devedores.
Se existir uma conta de Subscritores de Capital, que normalmente engloba capital subscrito ainda por realizar, deve ser considerada tesouraria activa, pois, constitui um valor a receber a curto prazo, salvo indicao contrria. No , contudo, uma origem real de fundos, pelo que, para efeitos de rendibilidade dever deduzir-se aos capitais prprios.
CAPITAIS PRPRIOS
Representam na ptica funcional os fundos disposio da empresa para aplicao no perodo em referncia. Devem ser, pelo menos, expurgados de:
Partes de capital por realizar
Resultados a ser distribudos
CAPITAL ALHEIO ESTVEL
Esto aqui todas as Dvidas de mdio e longo prazo ou que embora de curto prazo tm tendncia para se manterem estveis, excepo das resultantes do ciclo de explorao (emprstimos bancrios, por obrigaes, etc.).
RECURSOS CCLICOS
Agrupa as contas resultantes das decises ligadas ao ciclo de explorao e que implicam gerao de recursos financeiros. o caso de:
Adiantamentos por conta de vendas;
Fornecedores (fornecedores c/c, facturas em recepo e conferncia e ttulos a pagar);
Estado e outros entes pblicos, onde figuram as dvidas ao Estado, resultantes de impostos que no o relativo aos lucros. Consoante os casos, pode ser um financiamento que o Estado fornece por via dos prazos de pagamento legalmente fixados. Qualquer dvida em atraso ou mora deve ser reclassificada como Tesouraria Passiva;
Outros credores diversos de explorao (seguros, remuneraes, rendas, etc.).
TESOURARIA PASSIVA
o Passivo Imediato ou quase resultante de decises de financiamento (emprstimos bancrios, por obrigaes, outros emprstimos, diferimento de despesa, etc., que no sejam de explorao).
As rendas imediatas da locao financeira e as letras descontadas no vencidas so tesouraria passiva, porque so claramente uma forma de financiamento da actividade.
3.4. A Demonstrao dos Resultados Numa Perspectiva Financeira e Funcional
Conhecer os custos da empresa e a respectiva evoluo fundamental para um correcto controlo de gesto, em moldes financeiros. Requer um esforo de clara identificao dos fixos e dos variveis. Uma correcta classificao dos custos, dentro de cada actividade, permite uma melhor identificao dos custos directos e dos indirectos.
No primeiro caso fixos e variveis o mapa a elaborar deve andar em torno dos seguintes parmetros:
RUBRICASSEGMENTOS/GAMAS/...
AB...
Vendas
- Custos Variveis
= Margem de Contribuio Bruta
- Custos Fixos Directos
= Margem de Contribuio Lquida
- Custos Fixos Indirectos
= Resultados Operacionais
No caso de dificuldade de conhecimento dos custos directos e indirectos e sabendo-se que as tradicionais imputaes contabilsticas esto fortemente eivadas de subjectividade, podendo distorcer a realidade e subsequentes anlises, podemos construir uma demonstrao de trabalho, com a seguinte configurao:
RUBRICASVALORES
Vendas
- Custos Variveis
= Margem de Contribuio
- Custos Fixos
= Resultados Operacionais
+ Resultados Financeiros
= Resultados Correntes
+ Resultados Extraordinrios
= Resultados Antes de Impostos
- Imposto sobre o Rendimento
= Resultado Lquido
Mas, detalhemos um pouco estes conceitos.
CUSTOS VARIVEIS
So os que variam com a produo do bem ou a prestao do servio.
O custo das mercadorias vendidas e das matrias consumidas, alguns fornecimentos e servios externos, certos impostos e outros custos operacionais, so exemplos de custos variveis.
So de incluir todos os custos que tenham um comportamento varivel em relao actividade.
CUSTOS FIXOS
So os que se mantm estveis relativamente actividade, verificando-se independentemente do nvel que esta registe.
So o caso de grande parte das despesas com o pessoal, de alguns fornecimentos e servios externos, de impostos e outras despesas operacionais. As amortizaes do imobilizado corpreo e incorpreo so custos fixos. As provises lquidas de utilizao relacionadas com o ciclo de explorao (clientes e existncias) so igualmente custos fixos.
RESULTADOS FINANCEIROS
So constitudos pelo saldo das contas de despesas e receitas financeiras.
RESULTADOS EXTRAORDINRIOS
Derivam da diferena entre proveitos e ganhos extraordinrios e custos e perdas extraordinrias.
4. INDICADORES DE APOIO ANLISE E GESTO OU RCIOS
Em anlise e gesto financeira utiliza-se com frequncia uma tcnica que consiste em estabelecer relaes entre contas e agrupamentos de contas do Balano e da Demonstrao dos Resultados. Estas relaes tm muitas denominaes rcios, ndices, coeficientes, indicadores, etc.
O termo mais corrente o de rcio.
Os rcios no so um fim em si mesmos nem do respostas, so apenas um instrumento de apoio que permite sintetizar uma grande quantidade de dados e comparar o desempenho econmico e financeiro das empresas e a sua evoluo no tempo.
Recorrem a este mtodo todas as pessoas que tm responsabilidades de gesto, os analistas financeiros, os bancos, as sociedades financeiras e as empresas especializadas na venda de informao comercial e financeira.
Podem-se construir inmeros rcios ou relaes, conforme o objectivo e o campo de anlise e controlo.
As realidades e os fenmenos a acompanhar e estudar podem ser de natureza diversa financeira, econmica, econmico-financeira, tcnica, etc.
Assim, os rcios podem ser:
Rcios financeirosapreciam aspectos que tm a ver exclusivamente com aspectos financeiros
Estrutura Financeira
Capacidade de endividamento
Solvabilidade, etc.
Rcios econmicosevidenciam aspectos da situao econmica
Estrutura de custos
Estrutura de proveitos
Margens
Capacidade de autofinanciamento
Rcios econmico-financeirosrevelam aspectos mistos, econmicos e financeiros
rendibilidade de capitais
Rotao do activo
Rotao das vendas, etc.
Rcios de Funcionamentopermitem apreciar os impactos financeiros da gesto ao nvel do ciclo de explorao
Prazo mdio de recebimentos
Prazo mdio de pagamentos
Existncia mdia em armazm, etc.
Rcios Tcnicosincidem sobre aspectos conexos com a produo e a actividade da empresa
rendimento do equipamento
Produtividade da mo-de-obra, etc.Os rcios podem construir-se com base em diferentes fontes de informao:
Documentos contabilsticos histricos
Oramentos
Mdias do sector de actividade
Concorrentes mais importantes, etc.
Se so extrados de documentos financeiros histricos e de estatsticas realizadas, so rcios efectivos ou reais. Se so efectuados sobre oramentos e previses, so rcios oramentais.
As centrais de balanos e as bases de dados existentes e muito utilizadas hoje em dia permitem apurar rcios sectoriais.
Detenhamo-nos sobre alguns indicadores considerados como centrais, em termos de anlise e gesto. A respectiva classificao, por muito difcil, no homognea, adoptando-se com frequncia uma classificao com base em critrios pragmticos.
Definio de Alguns Rcios
Rcios de Alavanca Financeira
Endividamento
Determina a extenso da utilizao de capital alheio no financiamento das actividades da empresa. Vrias relaes se podem estabelecer.
Endividamento = Capitais Alheios
Capitais Totais
Peso do Endividamento
A Longo Prazo
= Capitais Alheios de longo prazo
Capitais Totais
Estrutura do endividamento = Capitais Alheio de curto prazo
Capitais Alheios
Cobertura dos Encargos Financeiros
Mede o grau de cobertura dos encargos financeiros pelos resultados antes desses encargos e das amortizaes.
Cobertura dos Encargos Financeiros = Res. Antes Enc. Financ. + Amortizaes
Encargos Financeiros
Perodo de Recuperao da dvida
Permite estimar a capacidade de cobertura da dvida, num perodo no histrico mas prospectivo.
Perodo de Recuperao da dvida = Emprstimos em dvida
Autofinanciamento
Autofinanciamento = Resultados Lquidos + Amortizaes + Provises
Liquidez
Liquidez Geral = Activo Circulante
Passivo Circulante
Sendo o Activo Circulante aquilo que a empresa transforma em dinheiro no prazo de 1 ano (disponibilidades, ttulos, dvidas de curto prazo, existncias) e o Passivo Circulante o que a empresa tem de pagar nesse perodo (dvidas a curto prazo).
Liquidez Reduzida = Activo Circulante - Existncias
Passivo circulante
Liquidez Reduzida = Disponibilidades + Ttulos negociveis
Passivo Circulante
Rendibilidade
Estabelecem relaes entre os resultados e as vendas ou grandezas dos capitais prprios.
Rendibilidade Operacional das Vendas (%) = Resultados Operacionais
Vendas
Rendibilidade Lquida das Vendas (%) = Resultado Lquido
Vendas
Rendibilidade dos Capitais Prprios (%) = Resultados Lquidos
Capitais Prprios
Rendibilidade do Activo (%) = Resultados antes de encargos financeiros
Activo Lquido
Funcionamento
Permitem analisar a eficincia da gesto dos recursos aplicados.
Rotao do Activo
Indica o grau de utilizao dos activos.
Rotao do Activo = Vendas
Activo mdio
Rotao das Existncias = Vendas
Existncias mdias
Prazo mdio de recebimentos = Saldo mdio de Clientes X 365 dias
Vendas
Prazo mdio de recebimentos = Saldo mdio de Fornecedores X 365 dias
Compras
5. O RISCO E A GESTO FINANCEIRAO Risco a possibilidade de perda. Nesta acepo, o risco directamente proporcional possibilidade de ocorrncia da perda.
Convm no confundir risco e incerteza. A incerteza existe quando a gesto no consegue estimar objectivamente as probabilidades dos acontecimentos. S existe risco se houver hiptese de estimativa.
Na teoria financeira podemos caracterizar o risco como a provvel variao dos fluxos monetrios futuros. Se pensarmos no mercado de capitais, para ilustrar esta matria, podemos dizer, por exemplo, que investir no ttulo X comporta mais risco que no Y, se mais precisa a estimativa do retorno, ou cash-flow, futuro do primeiro, relativamente ao segundo.
Conclusivamente, em cada negcio o risco tanto maior quanto maior a incerteza na previso de fluxos monetrios gerados.
Num enquadramento de mercado aberto em que existem diversas alternativas de aplicao e financiamento, a quantificao do risco assume relevncia. bvio que se trata de uma matria complexa que, de acordo com os objectivos do programa e do presente manual, dever ser tratada do modo mais simples e prtico possvel.
5.1. A Utilizao de Medidas Estatsticas
O uso da probabilidade estatstica frequente para a quantificao do risco de uma aplicao. Neste caso, recorre-se a variveis como:
Mdia ou valor esperado
rendibilidade potencial da aplicao
Desvio-Padro
desvio em relao mdia Varincia
coeficiente de variaoEis um exemplo de aplicao.
CENRIO DE ANLISEPROBABILIDADERENDIBILIDADEVALOR
Activo A
Pessimista0,2510%2,5
Provvel0,5015%7,5
Optimista0,2520%5,0
Valor Esperado (A)15%
Activo B
Pessimista0,258%2,0
Provvel0,5012%6,0
Optimista0,2528%7,0
Valor Esperado (B)15%
In Anlise Financeira, mtodos e tcnicas, NEVES, J.C. Texto Editora
Deste exemplo podemos concluir que ambos os activos tm uma rendibilidade esperada semelhante (15%), mas o activo B, ao variar de 8 a 28% na rendibilidade, origina maior incerteza nos resultados.
O risco no pode ser visto e analisado isoladamente, da realidade actual e futura da empresa. Tudo est interligado, nomeadamente os novos investimentos.
O risco decompe-se em:
Risco no sistemtico
Especfico,
Residual,
nico
Risco sistemtico
De mercado
Financeiro
O primeiro especfico da empresa e concorrentes directos. Pode ser reduzido mediante a diversificao. O segundo afecta todas as empresas e prende-se com incertezas globais como a inflao, polticas monetria e cambial, mutaes conjunturais, etc. Este ltimo risco conduz naturalmente exigncia de uma remunerao adicional para o investimento em questo, uma vez que para criar valor necessrio que se gerem rendibilidades superiores ao custo de oportunidade do capital.
O risco de mercado ou sistemtico reflecte-se no risco do capital prprio investido na empresa e decompe-se em:
Risco do negcio - surge ligado gesto da explorao da empresa, influenciando a variabilidade dos fluxos monetrios operacionais;
Risco financeiro - conexo estrutura financeira. Se a empresa se endivida, aumenta o risco sobre os capitais prprios, potencializando a diminuio da respectiva rendibilidade.
Analisar o risco significa, em anlise e gesto financeira, a utilizao de outras duas metodologias (para alm das variveis estatsticas), consoante aquilo a que se recorre uma, baseada apenas no Balano e na Demonstrao dos Resultados e outra, baseada em estatsticas e dados de mercado externos empresa.
5.2. A anlise de risco com base em indicadores extrados dos documentos contabilsticos
Para efectuar esta anlise, os documentos de base so o Balano e a Demonstrao de Resultados.
Relativamente ao Balano, procura identificar-se o risco financeiro assumindo que a estrutura tem que ser equilibrada para que a empresa possa funcionar com normalidade. O equilbrio financeiro surge como teste capacidade da empresa solver os compromissos para com terceiros, nas respectivas datas, com recurso ao estudo da liquidez, solvabilidade, estabilidade, capacidade de endividamento, etc.
Surge ainda como a necessidade de garantir um equilbrio funcional entre recursos e aplicaes. Falamos, ento de tesouraria lquida, fundo de maneio e necessidades em fundo de maneio.
Com base no referido, o risco operacional pode ser medido (sobre demonstraes contabilsticas sucessivas) com recurso a:
Desvio padro do resultado operacional;
Neste caso, trata-se de observar e medir o risco do negcio por via do resultado que, por sua vez, j reflecte os desvios observados nas vendas e nas vertentes dos custos
Grau de alavanca operacional;
O risco varia na proporo directa do peso dos custos fixos na estrutura dos custos. Se estes forem elevados (ex indstrias de capital intensivo), manter-se-o independentemente do nvel da actividade, revelando elevado risco operacional. precisamente esta relao entre o nvel dos custos fixos e o resultado operacional que se designa por alavanca operacional ou econmica.
Se as vendas aumentarem a alavanca favorvel, pois, vai demonstrar um impacto mais que proporcional nos resultados operacionais. Se as vendas evidenciarem tendncia para decrescerem, o fenmeno inverso, sendo a alavanca operacional desfavorvel.
O grau de alavanca operacional pode medir-se pelo rcio
Margem de Contribuio
Resultado Operacional
Ponto crtico das vendas;
Se considerarmos uma certa estrutura de custos, o respectivo grau de alavanca operacional tanto maior quanto o volume de vendas estiver prximo do seu ponto crtico. Da poder-se trabalhar numa perspectiva do ponto em que as vendas produzem resultado zero para a empresa.
Margem de segurana.
Decorrente do anterior importa agora saber qual o nvel de vendas que a empresa atinge normalmente e qual a diferena para o nvel crtico destas. A margem de segurana a que informa sobre o intervalo de queda das vendas que conduz a empresa ao limite, ou seja, ao ponto crtico.
Importa controlar e decidir no apenas ao nvel dos resultados operacionais mas igualmente sobre a forma de financiamento do activo (capitais prprios e alheios).
nesta fase que entra a necessidade de converter o Balano e a Demonstrao de Resultados contabilsticos em funcionais, detalhar o ciclo financeiro e os nveis de deciso (estratgica e operacional), conforme referido em pontos anteriores.
Entra aqui o conceito seguinte.
O Fundo de Maneio Funcional
Relembremos o redesenho do balano, em termos patrimoniais:
ACTIVO FIXOCAPITAL PERMANENTE
ACTIVO CIRCULANTECAPITAL CIRCULANTE
1 Membro 2 Membro
O Fundo de Maneio resulta da igualdade
Fundo de maneio = Activo Circulante Passivo Circulante
ou
Fundo de maneio = Capitais Permanentes - Activo Fixo
ou ainda, se no trabalharmos em valores absolutos
Activo Circulante
Capitais Permanentes Passivo circulante
Activo Fixo
Na perspectiva funcional, a situao um pouco diferente:
APLICAES DE INVESTIMENTORECURSOS
FUNDO DE MANEIO FUNCIONALESTVEIS
O Fundo de Maneio Funcional assim a parte de recursos estveis que financia o ciclo de explorao (existncias, clientes, disponibilidades, no balano contabilstico).
Nesta acepo as necessidades de fundo de maneio so dadas por:
NFM = (Exist.+ clientes) (Fornecedores+SPEstatal+Outros explorao)
Necessidades cclicas
Recursos Cclicos
Para que haja equilbrio financeiro, tem que se garantir que a tesouraria lquida seja igual diferena entre o Fundo de Maneio Funcional e as Necessidades de Fundo de Maneio.
5.3. Outras Tcnicas de Anlise de Risco
Existem outras tcnicas e mtodos de anlise de risco, cuja especializao cai, em nosso entender, fora do mbito deste manual, pelo que nos limitaremos respectiva enunciao. Temos, portanto:
A tcnica da notao ou rating Modelo e Avaliao de Activos Financeiros em equilbrio
Modelo de Avaliao por Arbitragem, etc.
6. Rendibilidade e Crescimento
O Investimento e a Estrutura Financeira
A empresa tem um potencial de gerao de vendas e de resultados que, por seu turno, so funo da potencialidade de crescimento do mercado e da posio concorrencial da prpria empresa. Na prtica, tudo depende da estratgia da empresa e da criao e utilizao das suas vantagens competitivas.
Tudo isto se traduz na capacidade de rendibilizar o investimento e os capitais investidos e de crescer de modo equilibrado e com os recursos financeiros adequados.
A rendibilidade do investimento um indicador importante, na medida em que mede o desempenho de todos os capitais investidos na empresa, qualquer que seja a sua forma de financiamento. Esta rendibilidade indica a sobrevivncia financeira a longo prazo e a capacidade de atrair capitais.
Podemos dizer que a rendibilidade nos d informao sobre a eficincia da gesto, a capacidade da empresa gerar resultados e o nvel de planeamento e controlo de gesto.
Como que se calcula?
De forma simples, isto :
Resultado (%) Investimento
Interessa saber e definir bem o que se entende por resultado e por investimento.
Como investimento podemos utilizar o activo total. Apresentando alguns inconvenientes, que no se detalham no mbito deste manual, pode utilizar-se o denominado activo econmico total que corresponde ao investimento em activo fixo e s necessidades em fundo de maneio. Ou ainda o activo de explorao, expurgando do total activos no afectos explorao, como sejam, terrenos, algumas naturezas de equipamentos, etc.
Seja qual for o denominador (ajustado anlise pontual que se pretenda) devemos sempre adequar-lhe o numerador para que a comparao seja vlida. Por exemplo se o denominador for o activo total ou o activo total econmico, deve ser utilizado o resultado operacional.
A rendibilidade dos capitais prprios aplica-se apenas parte de financiamento do investimento exclusivamente feita por capitais prprios.
No entrando tambm aqui em detalhe, mede-se pela seguinte relao:
Resultado Lquido
Capitais prprios
Se quisermos uma informao mais apurada acerca da qualidade da aplicao do capital na empresa, face a outras alternativas, calculamos o chamado ndice de alavanca financeira.
Este, nada mais que a medio do peso da rendibilidade dos capitais prprios sobre os capitais totais investidos (prprios e alheios). Para isso retenha-se o modo de clculo da rendibilidade do capital total que :
Resultado operacional
Capitais prprios+dvidas financeiras
Obtemos, ento o ndice:
ndice de alavanca financeiro = Rendibilidade dos capitais prprios
Rendibilidade do capital total
Sendo o resultado maior que a unidade, ento o financiamento favorvel criao de valor para o detentor do capital.
Quando se fala em crescimento, na abordagem tradicional e mais comum, fala-se de aumentos quantitativos, em absoluto ou por comparao com empresas concorrentes ou mdias de sector ou simples evoluo histrica da prpria empresa.
Devemos, numa perspectiva estratgica, ir mais alm e enquadrar a anlise na perspectiva de base que assistiu elaborao do respectivo plano estratgico. Ou seja, a empresa efectua um diagnstico da envolvente e uma anlise interna das suas capacidades e constrangimentos, apurando factores crticos, competncias distintivas e vantagens competitivas.
A estratgia vai atender necessidade de optimizao de recursos, operacionalizando-se nas suas reas vitais (produo, marketing, sistema de informao, etc.), promovendo reestruturaes e salvaguardando o permanente equilbrio.
Em moldes financeiros, este equilbrio pressupe uma actuao estratgica coerente de modo a garantir que os fluxos de explorao globais sejam bastantes para retribuir os capitais investidos, quer prprios quer alheios.
A empresa vai sustentar crescimentos com recurso a
Aumento do capital
Aumento dos emprstimos
Reduo da distribuio de dividendos
Combinaes destas formas
H que promover o crescimento sustentado, garantindo que ele feito com base em aumentos de rendibilidade ou com recurso a capitais, que no comprometam o futuro da empresa, isto , que no desequilibrem a sua estrutura financeira.
Claro est que este o grande desafio, pois, a complexidade dos ciclos econmicos, aliada incerteza e volatilidade do ambiente, tornam mais difcil o caminho do crescimento sustentado.
7. Os Fluxos Monetrios
A empresa tem de ter capacidade para cumprir com as obrigaes assumidas e garantir um crescimento sustentado, pelo que imperativo ter um nvel de liquidez adequado.
Como foi visto, existem diversos modos de definir a liquidez, sendo os mais utilizados o Fundo de Maneio, a Tesouraria Lquida e as Disponibilidades.
Tradicionalmente, tem-se utilizado o mapa de origens e aplicaes de fundos que nos fornece informao sobre a variao do fundo de maneio e que constitui pea obrigatria, segundo o POC.
No entanto, estes instrumentos tm limitaes e so menos dinmicos que o Mapa de Fluxos Monetrios, pelo qual podemos obter informao sobre a formao das disponibilidades, bem como, pela sua ligao com os ciclos financeiros e o tipo das decises tomadas, medir o impacto dessas mesmas decises e o valor dos fluxos gerados.
Esta abordagem implica, contudo, alguns conhecimentos da mecnica contabilstica e financeira.
Tentar-se- neste captulo especfico ser o mais explcito e ligeiro possvel, de modo a permitir uma compreenso rpida das vantagens de analisar a empresa pelos fluxos financeiros. No se substitui, contudo, a necessria descodificao e o correcto acompanhamento da formao em sala.
7.1. O Mapa de Origens e Aplicaes de Fundos
Elabora-se a partir da variao registada entre dois balanos (incio e final de perodo), conforme o exemplo utilizado em 2.3., cujo modelo se relembra:
RUBRICASAno 1Ano 2
ORIGEMAPLICAO
ACTIVO
TOTAL ACTIVO
CAPITAIS PRPRIOS
TOTAL CAPITAIS PRPRIOS
PASSIVO
TOTAL PASSIVO
TOTAL C. PRPRIOS +PASSIVO
Como se disse,
Aumento do activo ou reduo de passivo e capitais prprios
Aplicaes de Fundos
Reduo do activo ou aumento do passivo e capitais prprios
Origens de Fundos
H ainda que calcular:
as denominadas origens de fundos internas, o que , muito simplesmente,
Resultados Lquidos + Amortizaes + Variao de Provises
Os dividendos distribudos, ou seja,
Resultados Lquidos + Variao de resultados retidos
Os investimentos efectuados, que so dados por
Variao de investimento corpreo e Incorpreo (Amortizaes do exerccio variao das amortizaes acumuladas)Pode-se, ento elaborar o mapa de origens e aplicaes de fundos, que tem a seguinte forma:
ORIGENS DE FUNDOSAPLICAES DE FUNDOS
INTERNAS
Resultado Lquido do exerccio (+/-)Distribuies
Amortizaes Por aplicao de resultados
Variao de provises (+/-) Por aplicao de reservas
SubtotalSubtotal
Diminuies dos Capitais Prprios:
EXTERNAS Diminuies capital e prest. Suplem.
Aumento dos Capitais Prprios
De capital e prestaes suplementaresMovimentos Financeiros a m/l prazo:
De prmios emisso e reservas espec. Aumentos investimentos financeiros
Cobertura de prejuzos Diminuies dvidas a terc. M/l prazo
Subtotal Aumento dvidas de terc. M/l prazo
Movimentos Financeiros m/l prazoSubtotal
Diminuies investimentos financeirosAumentos de Imobilizaes:
Diminuio dvidas de terc. m/l prazo Trabalhos para prpria empresa
Aumento dvidas a terceiros m/l prazo Aquisio de imobilizaes
Subtotal
Diminuies de Imobilizaes
Cesso de imobilizaes
Diminuio dos Fundos CirculantesAumento dos Fundos Circulantes
TOTALTOTAL
7.2. O Mapa de Fluxos
O cash-flow o conceito financeiro central de todas as anlises e muito importante para a gesto.
Tem sido muito utilizado, de tal forma que a generalidade das pessoas lhe d um significado muito mais restritivo do que a sua realidade. um instrumento complementar dos outros j anteriormente referidos e no substitui nenhum deles.
Mas, o que o cash-flow?
Traduzido letra o fluxo de caixa.
Como qualquer fluxo fsico, pode e deve ser medido. Contudo, no apresenta um valor nico, dependendo da fase do ciclo em que medido e do momento em que calculado (lembremo-nos da sazonalidade de muitos negcios).
O modo mais simples considerar o cash-flow como a simples variao das disponibilidades (caixa, bancos e equivalentes). No entanto, fica de fora a informao acerca do modo como esse fluxo foi gerado. Foram emprstimos? Foi a gesto operacional? Foi a venda de imobilizaes?
precisamente aqui que radica a necessidade de um mapa de fluxos monetrios, que permita essa medio nas reas do ciclo financeiro mais significativas.
Como ficou dito, no incio deste ponto, no se vai aprofundar esta temtica, mas, transmitir alguns aspectos que diferenciam o mapa esttico do de fluxos.
Parte-se de balanos e demonstraes de resultados de anos sucessivos e vai medir-se os meios monetrios entrados e sados, em consequncia directa da actividade operacional de venda e produo ou de prestao de servios.
Apenas como notas e exemplo sobre o modo de determinao de fluxos reais, por naturezas, no caso do ciclo de explorao, devemos atender a:
Vendas
Fluxo real = Vendas variao do saldo de clientes + variao de adiantamentos.
O valor apresentado na Demonstrao dos Resultados no d informao completa.
Existncias
O aumento do nvel de existncias de matrias primas e mercadorias envolve sempre mais pagamentos, por aumentar o valor das compras. No entanto, a demonstrao de resultados considera s o custo dos produtos vendidos.
Compras
Se estas no exigirem pagamento imediato a fornecedores, o valor apenas potencial. Para calcular o fluxo real, deve-se entrar em linha de conta com a variao do saldo de fornecedores.
Amortizaes e Provises
Estas so um custo que funo da estimativa da vida til dos bens. No correspondem a sada de dinheiro. Esta sada verifica-se apenas no momento da aquisio do bem, ou seja, no ciclo de investimento.
A proviso tambm uma estimativa de custo, com base num no recebimento de clientes ou na perda de valor das existncias. No uma sada de dinheiro, mas, apenas uma previso de no entrada no futuro.
Sector Pblico Estatal
Convm entrar com a variao entre o incio e o fim do perodo considerado, que representa o fluxo real.
Depois de introduzidas as correces, de que as anteriores servem de exemplo, apuram-se os custos de explorao efectivamente desembolsveis,Custo dos Produtos vendidos + Despesas Administrativas
que, naturalmente adicionados das variaes de existncias e de adiantamentos a fornecedores (entradas e sadas reais), nos do o fluxo de despesas de explorao. Entrando em linha de conta com as variaes de saldos de fornecedores (que representam sada ou no de dinheiro) e dos pagamentos ao Sector Pblico Estatal (IVA, IRS, Segurana Social, etc.), temos ento o fluxo final real, ou seja,:
Pagamentos de Explorao
Depois deste processo de ajustamento e clarificao, chega-se ao momento de construo de nova Demonstrao dos Resultados e do Mapa de Tesouraria, mas com fluxos reais.
A metodologia diferente e os conceitos tambm, pois no esqueamos que se est agora a tratar de movimentos reais de entrada e sada.
Um modelo possvel , assim:
DEMONSTRAO DOS RESULTADOS
1. Vendas
- Consumos de matrias Primas
- Mo de Obra Produtiva
- Gastos Gerais de Fabrico
2. Custo de Produo
- Variao de Existncias de Produtos
3. Custo das Vendas
4. Margem Bruta (1-3)
- Despesas Administrativas
5. Excedente Bruto de Explorao (EBE)
- Amortizaes e Provises do Exerccio
6. Resultado Operacional _____________
_____________
_____________
_____________
MAPA DE TESOURARIA
1. Recebimentos de Explorao (Vendas-variao clientes+variao adiantamentos)
2. Pagamentos de Explorao (pgina anterior)
3. Meios Libertos de Explorao (1-2)______________
Os fluxos de explorao do-nos os meios gerados no ciclo de explorao, designados por Meios Libertos de Explorao (MLE).
Relembrando os ciclos existentes, teremos, aplicando a mesma metodologia, para o ciclo de Investimento os Meios Libertos pelo Negcio (MLN). Como normal, devem ponderar o modo de financiamento do investimento. Ento temos os Meios Lquidos Libertos (MLL).
Refrescando e sintetizando os conceitos recentes:
EBE Excedente Bruto de Explorao
MLE Meios Libertos de Explorao
MLN Meios Libertos pelo negcio
MLL Meios Lquidos libertos
Nesta ptica podem calcular-se igualmente os rcios, j descritos neste manual, variando a perspectiva da anlise e o resultado obtido (rendibilidade, liquidez, capacidade de endividamento, etc.).
No sentido de proporcionar uma visualizao, global e integradora, atente-se no esquema da pgina seguinte, onde, de modo condensado, se procurou vectorizar os relacionamentos e entendimentos definidos.
Concluindo todo este raciocnio, pretendeu-se transmitir que a anlise da situao da empresa pelo mtodo dos fluxos permite apurar e perceber como foi gerado e consumido todo o dinheiro no perodo em apreo. No sendo uma metodologia acessvel e eventualmente extravasando o mbito do Programa Consolidar, fica como um contributo para a sensibilizao de empresrios e gestores sobre o modo como podem controlar o dinheiro que investem e circula pelas suas empresas.
PROCESSO DE TRANSFORMAO DO BALANO E DA DEMONSTRAO DOS RESULTADOS A MAPA DE FLUXOS
DEMONSTAO DOS RESULTADOS
VARIAO DO BALANO
MAPA DE FLUXOS
1. Vendas(+)
Acrscimo de Clientes(-)
RECEBIMENTOS DE EXPLORAO (A)
+ Consumos de matrias(+)
+ Outros custos variveis(+)
2. CUSTOS VARIVEIS
Acrscimo de existncias(+)
Acrscimo de fornecedores(-)
3. MARGEM DE CONTRIBUIO (1-2)
- Despesas com Pessoal(+)
- Outras despesas fixas(+)
PAGAMENTOS DE EXPLORAO (B)
EXCEDENTE BRUTO DE EXPLORAO-VARIAO NECESSIDADES FUNDO MANEIO=MEIOS LIBERTOS EXPLORAO (C) = (A) (B)
- Amortizaes e Provises
= Resultados Antes Encargos Financeiros
- Encargos Financeiros(-)
= Resultado da Explorao
+ Resultados Extraordinrios(+)
= Resultados Antes de Impostos
- Imposto sobre Lucros
= Resultados Lquidos
MEIOS DISPONVEIS PARA DECISES ESTRATGICAS (D)
Investimentos Desinvestimentos(-)
Aumento Dbitos mdio prazo(+)
Aumento do capital (em dinheiro)(+)
- Dividendos(-)
= Resultados Retidos
+ VARIAO FUNDO DE MANEIO
= VARIAO DA TESOURARIA LQUIDA=MEIOS LIBERTOS LQUIDOS (F)
Aumento outros dbitos(+)
Aumento outros crditos(-)
VARIAO FINAL DE DISPONIBILIDADES (G)
8. A Empresa e o Valor
No nos vamos deter muito nesta matria, mas, convm referir o aspecto do valor da empresa por ser uma questo que, no dia a dia se coloca relativamente s empresas.
Deve referir-se que esta problemtica no nova e que desde os anos trinta que donos, gestores, investigadores e acadmicos tm procurado uma resposta, ou um mtodo capaz de reflectir com rigor o valor de uma empresa num determinado momento. Tal no fcil.
E isto porque o valor de qualquer bem sempre aquele que o comprador estiver disposto a pagar. E esta disponibilidade deriva de um conjunto de factores objectivos, subjectivos e contingenciais.
Assim sendo, quando procuramos estabelecer um parmetro adequado para a nossa empresa temos de conhecer o meio ambiente em que a operao se vai processar quem quer comprar, com que objectivos, pretendendo que vantagens, em que momento se faz a avaliao, etc.
Existe um grande nmero de tcnicas, que aqui sero agrupadas e apenas brevemente descritas, para fornecer uma iniciao ao tema.
Assim temos cinco abordagens:
Patrimonial
Econmica
Perspectivas
De mercado
Financeira
Regulamentar
A Perspectiva Patrimonial
A empresa tem como valor intrnseco a soma dos valores dos bens do seu patrimnio. Ento, o valor patrimonial o valor do total dos activos deduzido das correspondentes dvidas.
As principais tcnicas so:
Valor contabilstico que, na prtica igual aos capitais prprios registados no Balano.
Valor contabilstico corrigido pondera o preo actual do mercado para cada rubrica do Balano, sendo efectuadas as correspondentes correces.
Valor do activo a preos de mercado pode ser encontrado com base no valor de substituio, no valor venal ou no valor de liquidao.
A Perspectiva Econmica
Encara a empresa como um instrumento eminentemente produtivo. O valor , no fundo, a despesa que teramos no caso de pretendermos constituir uma empresa com o mesmo desempenho e perspectiva econmica da que estamos a avaliar.
Neste caso, para alm do valor dos activos fsicos, consideram-se ainda os activos imateriais imagem, localizao, clientela, fornecedores, etc. A este conjunto chama-se goodwill.
Podemos, neste caso, utilizar algum ou alguns dos mtodos que apenas se enunciam de seguida:
Valor substancial mede os activos afectos explorao;
Valor do activo extra-explorao mede os outros activos;
Valor de rendimento mede a capacidade de rendimentos futuros;
Goodwill mede os chamados imateriais.
A Perspectiva de Mercado
Faz a comparao da empresa com outra existentes no mercado e que tm um nvel de risco semelhante, o que permite aplicar indicadores e instrumentos de medida comuns (PER, Multiplicador de valor contabilstico, Multiplicador de vendas, etc.).
A Perspectiva Financeira
Limita o valor capacidade da empresa para gerar fluxos monetrios (dinheiro), no futuro.
a medio do cash-flow potencial, num conceito dinmico de realidade, em que a empresa vale precisamente pelo que podemos esperar que gere, em termos lquidos.
A Perspectiva Legal ou regulamentar
Repousa em regras no subjectivas, uma vez que est igualmente em causa o pagamento de impostos. So os servios fiscais que normalmente recorrem a este mtodo, por se tratar de um domnio de aplicao de impostos como o da sisa, mais valias, sucesses, entre outros.
9. O Controlo Financeiro de Gesto
9.1. A Abordagem Previsional
Mais uma vez se relembra que controlar aspectos financeiros de uma empresa no constitui um acto de gesto isolado, mas outrossim uma atitude global que envolve toda a actividade da empresa, cujos reflexos tm uma evidncia financeira.
Definida uma estratgia e fixados os objectivos, planos e polticas de mdio e longo prazo bem como as de curto prazo, h que detalhar os processos e os meios fundamentais para a respectiva execuo.
H agora que garantir recursos e equilbrios, implementar planos e aces e controlar a execuo, como forma de garantir uma permanente adequao do sistema, perceber desvios e garantir intervenes atempadas e consequentes.
Prever em termos financeiros significa antecipar quantificaes de:
Vendas
Produo
Compras
Investimentos em activos
Recursos humanos
Modos de afectao fontes de financiamento
Rendibilidades
Cash-flow
Etc.
Est, deste modo, em causa a medio da tesouraria lquida e dos fluxos gerados pela actividade em cada momento do desenvolvimento do plano estratgico.
Num universo de micro e pequenas empresas, a estrutura funcional normal e naturalmente restrita, o que aumenta a importncia de existir um mecanismo de controlo de desempenho integrado e em tempo real, que possibilite, em vez de estrangular, todo este trabalho de acompanhamento da execuo estratgica.
conhecida a actual tendncia de mutao do ambiente em que a empresa se insere, o que parece, por vezes, apontar no sentido de uma total flexibilizao e de uma gesto pontual e reactiva a acontecimentos. precisamente esta caracterstica que confere maior necessidade existncia de elementos previsionais, que embora alterveis, configurem o quadro de referncia fundamental da empresa e da gesto.
Os prazos para na prtica ser efectuado este controlo de gesto (real face ao previsto) varivel e deve ser ajustado dimenso e necessidades da empresa, no existindo nenhuma receita, para alm do bom senso e do bom desempenho, face ao mercado e concorrncia.
Porqu todo este esforo?
Basta relembrar duas ou trs alteraes que podem ocorrer e a resposta torna-se evidente:
Vendas em queda, pode significar menor rendibilidade global, custos fixos desajustados ou stocks que no saem;
Aumento inesperado desta rubrica pode arrastar aumento de custos fixos, pode representar margens menores, apesar do aumento do volume total;
Aumento do endividamento representa movimentos na solvabilidade, equilbrio financeiro, custos da explorao, etc.
Facilmente se percebe que toda a evoluo deve ser controlada e analisada, de modo a no redundar em surpresas ou situaes que comprometam seriamente o quotidiano e a sobrevivncia da empresa.
Por isso se utilizam os planos (previses para perodo superior a um ano) e os oramentos (previses at doze meses).
Estes, podem ser detalhados e efectuados com relao s principais reas e funes de desenvolvimento estratgico. Complementam-se com plano/oramento de financiamento, que permite elencar o modo de cobertura financeira e apurar um outro elemento final relativo tesouraria.
Naturalmente, todos os planos ou oramentos vo originar dois quadros-sntese finais e que so o Balano Previsional e a Demonstrao dos Resultados Previsionais.
O controlo do sistema significa uma verificao regular e sistemtica destes mapas (gerais e detalhados), dos principais rcios, das margens, do endividamento, da tesouraria lquida, dos fluxos gerados pela empresa.
Existiro sempre colunas relativas a:
Descrio/rubrica
Valores oramentados ou planeados
Desvios em valor e percentagem
Justificao
Deve ser igualmente feita a comparao dos valores de desempenho com outros que possam constituir referncia sector, histricos de modo a que a anlise seja exaustiva e no configure alguma debilidade.
9.2. O Papel da Contabilidade Analtica
Se foram referidas as limitaes da contabilidade oficial, convm tambm falar cerca das vantagens da adopo e implementao de um sistema de Contabilidade Interna ou Analtica, como ferramenta de apoio tomada de decises e previso.
Este modelo de contabilidade difere da geral ou oficial por permitir repartir por centros de resultados (proveitos/custos) todos os factos patrimoniais existentes num determinado perodo, permitindo uma noo detalhada do contributo de cada actividade para o resultado final.
Efectuando uma identificao entre estes centros e as actividades geradoras de valor, teremos ento o conhecimento detalhado do comportamento da empresa, numa ptica dinmica de contributo particular.
Podemos conhecer para uma actividade especfica, a fatia de custos que absorveu (mo de obra, prestaes de servios obtidas, impostos, amortizaes, etc.) e perceber o respectivo contributo para a actividade global.
Articulando o sistema previsional com esta arquitectura de apuramento de custos, proveitos e resultados por funo ou actividade mais fcil controlar desempenhos e analisar desvios. Em suma, apoiar a deciso de gesto.
ACTIVO
CAPITAIS
PRPRIOS
PASSIVO
CAPITAIS PRPRIOS
Patrimnio Lquido
CAPITAIS ALHEIOS
Obrigaes e Deveres para com Terceiros
ACTIVO
Direitos de Propriedade e de Crdito sobre Terceiros
CAPITAIS PRPRIOS
DVIDAS A MDIO E LONGO PRAZO
(+ 1 ano)
DVIDAS A CURTO PRAZO
( - 1 ano)
ACTIVO FIXO
Imobilizaes
ACTIVO CIRCULANTE
Existncias
Dvidas de Terceiros
Disponibilidades
Aplicaes de Investimento
ou
Activo Fixo
Recursos Prprios
Recursos Alheios Estveis
Necessidades Cclicas
Tesouraria Activa
Recursos Cclicos
Tesouraria Passiva
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