PATRÍCIA ISABEL DA SILVA MONTEIRO GERALDES
OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO E PROTECÇÃO DOS CENTROS
HISTÓRICOS PORTUGUESES PATRIMÓNIO MUNDIAL
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS DE ANGRA DO HEROÍSMO,
ÉVORA, SINTRA, PORTO E GUIMARÃES
- VOLUME I -
Relatório do Estágio Curricular da Licenciatura Bi-Etápica em Gestão do Património
elaborado sob a orientação
da Dra. Maria João Moreira (ESE)
e do Arq. Rui Ramos Loza (CRUARB)
INSTITUTO POLITÉCNICO DO PORTO
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
2002
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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AGRADECIMENTOS
Ao apresentar este relatório é indispensável exprimir o meu reconhecimento a todos que
ajudaram a realizá-lo.
Ao Arquitecto Rui Ramos Loza que me sugeriu a empreender este estudo e à Dra. Maria João
Moreira pelo seu incentivo e colaboração atenta e continuada. A ambos o meu obrigado pela
confiança e autonomia que me conferiram.
Aos muitos que desempenhando diversos cargos nos serviços técnicos das Câmaras
Municipais se disponibilizaram para me apoiar e me fazer chegar a vasta informação solicitada,
especialmente ás Arq.tas
Letícia Leitão e Magda Lourenço do Gabinete da Zona Classificada de
Angra do Heroísmo, à Arqt.ª Alexandra do Núcleo do Centro Histórico de Évora, ao Vereador
Miguel Lima do Pelouro de Évora e ao Eng.º Lemos Cardoso, director municipal do DMPEU de
Sintra.
Ainda o meu caloroso obrigado aos elementos da equipa do CRUARB – Projecto Municipal,
sempre inexcedíveis nos seus esforços e boa vontade, principalmente à Dra. Alexandra Santos, à
Dra. Isabel Ruth Carvalho e ao Sr. Nuno Nogueira.
Por fim, uma referência indispensável a todos os meus professores, principalmente os das
áreas de Direito, Património e Urbanismo pelos seus ensinamentos e referências e à minha família
pelo apoio.
Patrícia Geraldes
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ..........................................................................................................................................................................1
SIGLAS E ABREVIATURAS ..............................................................................................................................................................4
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................................................5
PARTE I
ENQUADRAMENTO LEGAL E CONCEPTUAL
1. OS CENTROS HISTÓRICOS – PATRIMÓNIO MUNDIAL E O DIREITO INTERNACIONAL ................................................. 11
2. OS INSTRUMENTOS LEGAIS PORTUGUESES DE GESTÃO E PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL ................. 19
PARTE II
OS CENTROS HISTÓRICOS PORTUGUESES INSCRITOS NA LISTA DO PATRIMÓNIO MUNDIAL
1. CENTRO HISTÓRICO DE ANGRA DO HEROÍSMO ................................................................................................................... 35
1.1. O GABINETE DA ZONA CLASSIFICADA DE ANGRA DO HEROÍSMO ............................................................................ 35
1.1.1. IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 35
1.1.2. ESTATUTO LEGAL ......................................................................................................................................................... 36
1.1.3. OBJECTIVOS E COMPETÊNCIAS ................................................................................................................................. 36
1.1.4. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO .................................................................................................................................. 37
1.2. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS ................................................................................................................................... 37
1.2.1. O PDM ............................................................................................................................................................................... 37
1.2.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 38
1.2.3. O PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO .................................................................................................... 38
1.2.4. OS REGULAMENTOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................................ 40
1.2.4.1. REGULAMENTO DE EXTERIORES DE EDIFICIOS ................................................................................................. 40
1.2.4.2. REGULAMENTO DE PROTECÇÃO DA ZONA CLASSIFICADA DA CIDADE ..................................................... 41
1.2.4.3. REGULAMENTO DAS ÁREAS DE PROTECÇÃO ..................................................................................................... 43
1.2.4.4. REGULAMENTO DE INCENTIVOS À RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO EDIFICADO
DA ZONA CLASSIFICADA .......................................................................................................................................... 43
1.2.4.5. REGULAMENTO DE PROTECÇÃO AOS IMÓVEIS CLASSIFICADOS .................................................................. 44
1.2.4.6. REGULAMENTO DE PUBLICIDADE ......................................................................................................................... 45
2. O CENTRO HISTÓRICO DE ÉVORA ............................................................................................................................................ 47
2.1 O NÚCLEO DO CENTRO HISTÓRICO .................................................................................................................................... 48
2.1.1. IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 48
2.1.2.OBJECTIVOS ..................................................................................................................................................................... 48
2.1.3. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO .................................................................................................................................. 48
2.2. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS ...................................................................................................................................... 52
2.2.1. OS PLANOS MUNICIPAIS ANTERIORES À CLASSIFICAÇÃO ................................................................................. 52
2.2.2. O PDM ............................................................................................................................................................................... 53
2.2.3. O PLANO DE URBANIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 54
2.2.4. PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO ........................................................................................................ 56
2.2.5. PROGRAMAS E REGULAMENTOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................... 56
2.2.5.1. PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO DE FOGOS ....................................................................................................... 56
2.2.5.2. REGULAMENTOS E PROGRAMAS DE EQUIPAMENTOS TÉCNICOS ................................................................. 57
2.2.5.3. REGULAMENTO DE OCUPAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS COM ESPLANADAS .................................................. 58
3. CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA ............................................................................................................................................... 59
3.1. O PROJECTO DO CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA .......................................................................................................... 59
3.1.1. IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 59
3.1.2. CONCEITO E OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS ............................................................................................................. 59
3.2. REGULAMENTOS MUNICIPAIS ............................................................................................................................................ 60
3.2.1. PDM ................................................................................................................................................................................... 60
3.2.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 61
3.2.3. O PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO .................................................................................................... 62
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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3.2.4. PROGRAMAS E REGULAMENTOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................... 62
3.2.4.1 PROGRAMA INTEGRADO DE REABILITAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA ... 62
3.2.4.2. REGULAMENTO DAS OBRAS EM CALÇADAS ...................................................................................................... 65
3.2.4.3. ELUCIDÁRIO ARQUITECTÓNICO-CONSTRUTIVO PARA O CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA .................... 65
3.2.4.4. REGULAMENTO DE OCUPAÇÃO DA VIA PÚBLICA, MOBILIÁRIO URBANO E DA PUBLICIDADE NO
MUNICÍPIO DE SINTRA ............................................................................................................................................... 67
3.2.4.5. PROGRAMAS DE APOIO ............................................................................................................................................. 68
4. O CENTRO HISTÓRICO DO PORTO ............................................................................................................................................ 70
4.1. O PROCESSO DE CANDIDATURA E A CLASSIFICAÇÃO.................................................................................................. 70
4.2. O PROJECTO MUNICIPAL PARA A RENOVAÇÃO URBANA DO CENTRO HISTÓRICO DO PORTO ......................... 71
4.2.1. IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 71
4.2.2. ESTATUTO LEGAL ......................................................................................................................................................... 71
4.2.3. SINOPSE HISTÓRICA ..................................................................................................................................................... 71
4.2.4. CONCEITO E OBJECTIVOS ........................................................................................................................................... 73
4.2.5. PREMISSAS DE ACTUAÇÃO ......................................................................................................................................... 73
4.2.6. A ÁREA DE INTERVENÇÃO .......................................................................................................................................... 74
4.2.7. O PLANEAMENTO E ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO .......................................................................................... 74
4.2.8. A METODOLOGIA DO PM-CRUARB............................................................................................................................ 76
4.2.9. RECURSOS HUMANOS .................................................................................................................................................. 81
4.2.10. RECURSOS FINANCEIROS .......................................................................................................................................... 82
4.3. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS ...................................................................................................................................... 83
4.3.1. O PDM, AS NORMAS PROVISÓRIAS E AS MEDIDAS PREVENTIVAS ................................................................... 83
4.3.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 85
4.3.3. O PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO .................................................................................................... 86
4.3.4. OS REGULAMENTOS ESPECIFICOS ............................................................................................................................ 86
4.3.4.1. REGULAMENTO ORIENTADOR PARA A CONSTRUÇÃO E/OU RENOVAÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DO
PORTO ............................................................................................................................................................................ 86
4.3.4.2. REGULAMENTO DE PUBLICIDADE ......................................................................................................................... 88
4.3.4.3. REGULAMENTO SOBRE TAPUMES E ESTALEIROS DE OBRAS NA ÁREA DO CENTRO HISTÓRICO ......... 88
5. O CENTRO HISTÓRICO DE GUIMARÃES .................................................................................................................................. 90
5.1. O GABINETE TÉCNICO LOCAL ............................................................................................................................................. 90
5.1.1. IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 90
5.1.2. OBJECTIVOS E COMPETÊNCIAS ................................................................................................................................. 90
5.1.3. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO .................................................................................................................................. 91
5.2. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS ...................................................................................................................................... 92
5.2.1. O PDM ............................................................................................................................................................................... 92
5.2.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 92
5.2.3. PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO ........................................................................................................ 93
5.2.4. REGULAMENTOS ESPECIFICOS .................................................................................................................................. 93
5.2.4.1. REGULAMENTO DE INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO E URBANO DE GUIMARÃES ...................... 93
PARTE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. A APLICABILIDADE DAS NORMAS JURIDICAS EM MATÉRIA DE PATRIMÓNIO, URBANISMO E ORDENAMENTO
DO TERRITÓRIO ............................................................................................................................................................................. 97
2. O DESAFIO DA GESTÃO E REABILITAÇÃO URBANA DOS CENTROS HISTÓRICOS ...................................................... 101
3. A DICOTOMIA PATRIMÓNIO HISTÓRICO– CRIAÇÃO CONTEMPORÂNEA ..................................................................... 106
4. O DIREITO DE PROPRIEDADE DO SOLO ................................................................................................................................. 106
APÊNDICES ...................................................................................................................................................................................... 108
APÊNDICE A - GLOSSÁRIO ......................................................................................................................................................... 109
APÊNDICE B - QUADROS ............................................................................................................................................................ 114
APÊNDICE C - PLANTAS...................................................................................................................... ..........................................125
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................................................... 142
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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SIGLAS E ABREVIATURAS
CRP: Constituição da República Portuguesa
CRUARB: Comissariado para a Renovação Urbana da Área Ribeira-Barredo
GTL: Gabinete Técnico Local
GZCAH: Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo
ICOMOS: International Council Of Monuments and Sites (Conselho Internacional de Monumentos
e Sítios)
IIP: Imóvel de Interesse Público
IUCN: International Union for the Conservation of Nature (União Internacional de Conservação da
Natureza e dos seus Recursos)
MN: Monumento Nacional
NCHE: Núcleo do Centro Histórico de Évora
NP: Normas Provisórias
PDM: Plano Director Municipal
PM – CRUARB: Projecto Municipal de Renovação do Centro Histórico do Porto
PROT: Plano Regional de Ordenamento do Território
RGEU: Regulamento Geral de Edificações Urbanas
UNESCO: United Nations Education, Science and Culture Organization (Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)
VC: Imóvel de Valor Concelhio
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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APRESENTAÇÃO
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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O presente Relatório é fruto do Estágio Curricular do curso de Gestão do Património realizado
no CRUARB – Projecto Municipal para a Renovação Urbana do Centro Histórico do Porto 1,
dirigido pelo Arq. Rui Ramos Loza, que também assumiu a orientação do estágio na instituição.
Uma das competências do Gestor do Património consiste na realização de actividades no
domínio do desenvolvimento e valorização desta área, entre elas a verificação do cumprimento da
legislação aplicada em matéria de património e a elaboração de diagnósticos que contribuam para a
implementação de estratégias e políticas culturais.
Assim sendo, e visto que o pensamento estratégico do Projecto Municipal, para além de
outros pressupostos, age de acordo com experiências anteriores e externas, considerou-se de
extrema importância conhecer o maior número de cenários e actuações face a situações similares,
mesmo que com características tão especificas como são os Centros Históricos.
Posto isto, a proposta de trabalho apresentada pelo CRUARB consistiu na realização de um
estudo assente nos Regulamentos dos Centros Históricos Portugueses inscritos na Lista do
Património Mundial que vai de encontro à actualização de conceitos, enriquecimento de
conhecimentos e ao confronto de experiências acerca da aplicabilidade dos diferentes instrumentos
de gestão urbanística.
Neste contexto de necessidade de verificar a adequabilidade e aplicabilidade dos diferentes
instrumentos legais, internacionais, nacionais e municipais, de gestão e protecção dos centros
históricos, considerou-se pertinente apresentar também as diferentes formas de planeamento e
estratégias desenvolvidos pelos gabinetes técnicos locais para a preservação e recuperação destes
conjuntos patrimoniais.
Como metodologia, para além da análise de documentos legais (Convenções Internacionais;
Lei de Bases do Património Cultural Português; Instrumentos de gestão territorial municipais; e,
Regulamentos dos Centros Históricos, incluindo planos de urbanização e de salvaguarda) e de
bibliografia diversa, revelou-se imprescindível o contacto pessoal com os directores dos organismos
responsáveis pelos Centros Históricos, de modo a adquirir a informação e documentação existente 2.
O desenvolvimento do estudo no tempo programou-se do seguinte modo:
1 A apresentação da instituição é feita de forma exaustiva na Parte II, nomeadamente no subcapítulo “Centro Histórico do Porto”. 2 Anexo A, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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DATAS ACTIVIDADES
15 de Janeiro Inicio do estágio
De 15 a 31 de Janeiro
Conhecimento e descrição do
CRUARB;
Contacto com os organismos
responsáveis pelos Centros Históricos
De 1 de Fevereiro a 31 de Maio
Deslocação aos centros históricos
(excepto Angra do Heroísmo)
Selecção do material adquirido;
Descrição dos organismos responsáveis
pelos Centros Históricos;
Análise dos Regulamentos dos Centros
Históricos;
Análise de bibliografia diversa
De 1 de Junho a 20 de Junho Redacção final do trabalho de investigação
20 de Junho Final de estágio
Ao nível das competências adquiridas no final do estágio, salienta-se:
Conhecimentos acerca das diferentes dinâmicas de actuação face à complexidade de
gestão dos Centros Históricos;
Modo de aplicação dos instrumentos de gestão territorial municipais nos planos de
urbanização e de salvaguarda
Aquisição de noções de reabilitação urbana, apoiada, essencialmente, na experiência do
CRUARB.
Os resultados a que foi possível chegar e que agora se apresentam, organizaram-se em dois
volumes: no primeiro é apresentado o trabalho de investigação e no segundo são apresentados os
anexos auxiliares ao estudo realizado.
O primeiro volume, por sua vez, encontra-se organizado em três grandes partes.
Na I Parte distinguem-se dois pontos: um, dedica-se à questão das políticas internacionais,
dando conta das suas diferentes orientações e instrumentos nesta matéria, normalizados em Cartas,
Convenções e Recomendações; o outro tem em vista dar a conhecer o que em Portugal se realiza
em matéria normativa relativa ao património cultural, gestão territorial e urbanismo. Esta
abordagem tornou-se imprescindível pelo enquadramento conceptual, onde são apresentados os
princípios e objectivos da política de protecção do património cultural e da política de ordenamento
do território e onde são fornecidas as bases legais onde assenta a existência dos gabinetes técnicos
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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locais, que coordenam a actuação nos centros históricos, e dos instrumentos que regulam essa
intervenção e a dos particulares.
Na II Parte desenvolve-se uma análise apoiada no planeamento estratégico dos gabinetes
técnicos locais e na legislação municipal referente a esta matéria. A sequência apresentada está
directamente relacionada com a data de inscrição dos centros históricos na Lista do Património
Mundial, ou seja, é meramente cronológica. Dá-se maior relevância ao PM-CRUARB, não por ser
mais importante do que os outros, mas por ter sido o local onde se realizou o estágio.
Na III Parte aborda-se uma série de questões transversais aos vários centros históricos e
aprofunda-se a vertente reflexiva e critica deste estudo. Apesar desta vertente não estar ausente ao
longo do trabalho, nas outras partes predomina a vertente descritiva. Trata-se, pois, de, em jeito de
conclusão, reflectir sobre questões que, podendo ser comuns, podem manifestar-se de forma
específica.
Em aberto, fica uma futura comparação de actuações com outros centros históricos
estrangeiros e portugueses não classificados, pela necessidade permanente de actualizar métodos e
confrontar experiências.
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PARTE I
ENQUADRAMENTO LEGAL E CONCEPTUAL
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“(...) Que uma lei salvadora aposente de vez os picões e
alviões e alavancas que tantas sepulturas têm roçado,
tantas campas profanado, tantas colunas quebrado e
tantas torres, muros, ameias, campanários, arcarias,
galilés derribado e desfeito. (...)”
Alexandre Herculano
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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1. OS CENTROS HISTÓRICOS – PATRIMÓNIO MUNDIAL E O DIREITO
INTERNACIONAL
O processo internacional tem como principal objectivo uniformizar os sistemas nacionais,
introduzindo conceitos de cooperação e desenvolvimento que possam assumir um factor de
sensibilização.
A defesa e a conservação dos bens culturais, hoje reconhecidas como tarefa fundamental do
Estado, apoiam-se na sua ampla conjuntura política, social, económica, cultural e ecológica.
O conceito abrangente de conservação do património é considerado, cada vez mais, como um
modelo de defesa global do ambiente que não se preocupa só com a protecção do espaço vital
natural mas também com o espaço vital colectivo, desenhado pelo Homem no decurso da sua
existência.
Não faltam, por isso, normas e directivas internacionais, elaboradas por organismos
vocacionados para a salvaguarda da identidade histórico-cultural, sobretudo pela UNESCO, pelo
Conselho da Europa e pelo ICOMOS, apelando para a preservação da herança cultural da
comunidade humana.
As bases doutrinárias sobre a conservação e o restauro do património cultural foram dadas por
dois textos internacionais fundamentais nesta matéria: a Carta de Atenas (1931) e a Carta de
Veneza (1964).
A Carta de Veneza é, ainda hoje, considerada actual e quase sempre adoptada para justificar
as opções de restauro. “Logo no seu artigo 1º define um novo conceito de monumento que passa a
integrar «não só a criação arquitectónica isolada, como os conjuntos urbanos ou rurais
representativos de uma civilização particular, de um movimento significativo ou de um
acontecimento histórico» ” 1. Além disso, estabelece princípios de restauro, conservação e
salvaguarda que ainda hoje são assumidos pela maioria dos técnicos: “a conservação (...) função
útil à sociedade (...) não pode nem deve alterar a disposição e a decoração dos edifícios (...)”
(artigo 5º); “o monumento é inseparável da História e também do meio em que está situado. A
deslocação do mesmo não é tolerada, excepto em casos em que a salvaguarda do monumento o
exija ou por razões de interesse nacional ou internacional.” (artigo 7º); “os sítios monumentais
devem ser objecto de cuidados especiais a fim de salvaguardar a sua integridade, sanidade,
organização e valorização” (artigo 14º).
1 Cf. LOPES, Flávio (coord.) _ Cartas e Convenções Internacionais_ IPPAR. Colecção Informar para Proteger
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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Em consequência da 2ª Guerra Mundial e da tomada de consciência das perdas
irrecuperáveis, não só humanas mas também patrimoniais, os organismos internacionais julgaram
necessária a adopção de medidas para salvaguardar o património cultural comum.
Assim sendo, realizou-se em 1954 na cidade de Paris a Convenção Cultural Europeia, na
tentativa de encorajar o conhecimento mútuo e consequente desenvolvimento da Europa através de
políticas de acção comuns que permitissem a salvaguarda e compreensão de ideais e princípios que
são um contributo nacional para a herança comum da Europa.
Um dos princípios da Convenção remete para o respeito pelos objectos de valor cultural e
para a necessidade de salvaguardá-los (artigo 5º).
No mesmo ano, a UNESCO promove a Convenção de Haia que tem como objectivo
assegurar a protecção internacional do património cultural em caso de conflito armado.
Este crescente interesse pela protecção do património cultural comum, teve o seu ponto alto
com a realização da Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural (1972), “que
estabelece um sistema eficaz de protecção colectiva” 1 do património cultural e natural de valor
excepcional.
Tendo em conta que as ameaças ao património, não são só naturais, mas também fruto da
evolução da vida social e económica; que a degradação ou desaparecimento de um bem, seja ele
cultural ou natural, constitui um empobrecimento do património mundial; e, que muitas vezes os
Estados não possuem recursos suficientes para os salvaguardar, torna-se necessário e urgente
adoptar um sistema de cooperação e assistência internacionais com vista a auxiliar os Estados
Membros da Convenção ao nível de esforços que necessitem para identificar e preservar o
património.
Assim sendo, na Convenção são definidas as classes de sítios naturais ou culturais que podem
ser inscritos na Lista do Património Mundial, são fixados os deveres de cada Estado Membro
relativamente à identificação, protecção e valorização dos ditos sítios, descreve-se a função do
Comité do Património Mundial, a forma de eleição dos membros e quais os orgãos assessores e, por
fim, explica-se como utilizar o Fundo do Património Mundial e quais as formas de administração e
condições para se obter assistência financeira internacional.
Para que um sítio ou conjunto seja incluído na Lista do Património Mundial terá que seguir o
seguinte procedimento:
1 Cf. LOPES, Flávio (coord.) _ Cartas e Convenções Internacionais_ IPPAR. Colecção Informar para Proteger
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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1. Os Estados Membros assinam a Convenção do Património Mundial e fazem um lista dos
bens culturais e naturais do seu território que consideram de valor universal excepcional.
2. Os Estados Membros seleccionam os bens a incluir na Lista do Património Mundial e
preparam o processo de candidatura.
3. O Comité do Património Mundial verifica se o processo de candidatura está completo.
4. Especialistas do ICOMOS e/ou do IUCN visitam os locais e avaliam a sua gestão e a sua
protecção, preparam o relatório técnico a verificam se os locais são de valor universal
excepcional.
5. O Bureau do Património Mundial examina a avaliação e realiza uma recomendação ou, por
outro lado, solicita mais informações ao Estado Membro.
6. O Comité do Património Mundial inscreve o sitio na Lista do Património Mundial; ou
defere, pedindo informações mais aprofundadas; ou recusa a inscrição.
Para ser incluído na Lista do Património Mundial, os sítios terão de satisfazer os critérios de
selecção.
CRITÉRIOS CULTURAIS
Um monumento, conjunto ou sítio (como definidos no artigo 1º da Convenção) será incluído
na Lista do Património Mundial se passar no teste da autenticidade e se corresponder a um ou mais
dos seguintes critérios:
Critério I: Representar um exemplo do génio criativo humano; ou
Critério II: Ser testemunho de uma troca considerável de influências durante um dado
período ou numa determinada área cultural, sobre o desenvolvimento da arquitectura ou das
tecnologias das artes monumentais, do ordenamento das cidades ou da formação das
paisagens; ou
Critério III: Ser testemunho único ou excepcional de uma tradição ou civilização viva ou já
desaparecida; ou
Critério IV: ser um excelente exemplo de um tipo de construção ou um conjunto
arquitectónico, paisagístico ou tecnológico, ilustrando um ou mais períodos significativos da
história da Humanidade; ou
Critério V: ser um excelente exemplo da criação humana ou da ocupação do território,
representativa de uma cultura tradicional (ou de culturas), principalmente quando se tornam
vulneráveis sob os efeitos de mutações irreversíveis; ou
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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Critério VI: estar directa ou tangivelmente relacionado com eventos ou tradições vivas,
com ideias ou crenças ou com trabalhos artísticos ou literários de importância universal (este
critério só justifica a inclusão na Lista do Património Mundial quando associado a outro
critério).
CRITÉRIOS NATURAIS
O património natural (como definido no artigo 2º da Convenção) será incluído na Lista do
Património Mundial se preencher as condições de integridade e se corresponder a um ou mais dos
seguintes critérios:
Critério I: ser um exemplar representativo de uma ou mais épocas da história da Terra,
incluindo processos geológicos de formação das paisagens ou características
geomorfológicas de grande importância; ou
Critério II: ser um exemplar representativo do processo de desenvolvimento, ecológico e
biológico, dos ecossistemas e comunidades de plantas ou animais terrestres, de água doce ou
marítimos; ou
Critério III: constitua um fenómeno ou uma área naturais de excepcional beleza e de
grande importância estética; ou
Critério IV: constitua o mais importante e significativo habitat para conservação da
diversidade biológica in sito, incluindo as mais ameaçadoras espécies de valor universal
excepcional do ponto de vista da ciência e da conservação da natureza.
O Estado português, sendo membro signatário desta Convenção (aprovada pelo Decreto do
Presidente da República n.º49/79, de 6 de Junho) e possuindo inúmeros bens e conjuntos
inscritos na Lista do Património Mundial, teve que tomar as medidas expressas na Convenção:
Adoptar uma política que integre a protecção do património cultural no plano nacional;
Assegurar a existência de instituições que garantam a protecção, conservação e
valorização do património, dotadas de uma equipa apropriada e de recursos suficientes;
Desenvolver estudos científicos e técnicos de modo a aperfeiçoar métodos de intervenção
no património;
Designar meios jurídicos, científicos, técnicos, administrativos e financeiros
adequados à identificação, protecção, conservação e valorização do património;
Incentivar a criação ou desenvolvimento de centros nacionais ou regionais de formação
no domínio da protecção, conservação e valorização do património.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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Com a Convenção do Património Mundial, surge um dos maiores avanços teóricos e
normativos em matéria de protecção do património: o abandono dos princípios de protecção isolada
para passar a abranger os conjuntos monumentais. Ocorre, então, um alargamento da noção de
património e a necessidade de olhar a cidade na sua globalidade, enquanto tecido urbano ou
paisagem rural que circunda o monumento.
Por outro lado, “o visível fracasso de grande parte das intervenções urbanísticas que
suportaram o crescimento acelerado das cidades despontou um novo sentido de exigência: a
revitalização dos centros urbanos antigos, com a reutilização do património edificado existente e a
manutenção da ambiência social dos bairros históricos” 1.
Perante isto, o Conselho da Europa e a UNESCO consideraram essencial clarificar conceitos
como património arquitectónico, gestão e conservação integradas, conjunto histórico e tradicional
ou salvaguarda.
Em 1975, é adoptada a Carta Europeia do Património Arquitectónico que define
património arquitectónico como sendo constituído “não só pelos monumentos mais importantes,
mas também pelos conjuntos que constituem os centros históricos e as aldeias tradicionais
integrados nos seus ambientes naturais e construídos”. O texto clarifica a necessidade de a
conservação integrada, um dos objectivos dos planeamentos urbanos ou regionais, ser o resultado
de uma acção conjugada das técnicas de restauro e da procura das funções apropriadas e que exige a
disponibilização de meios jurídicos, administrativos, financeiros e técnicos.
“Ao longo dos anos tem-se verificado que estes conceitos são cada vez mais actuais, pois para
além dos princípios de conservação integrada se manterem até hoje, confirma-se que sem a
concertação de esforços ao nível do processo de planeamento e ordenamento do território, não se
atingem os objectivos sociais de melhoria de qualidade de vida” 1.
Em 1976, surge a Recomendação para a Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e
Tradicionais e a sua Função na Vida Contemporânea ou, como é normalmente designada,
Recomendação de Nairobi.
“Reconhecendo a rapidez das transformações económicas e sociais e, constatando a
universalidade de técnicas de construção e das formas arquitectónicas, a Recomendação de Nairobi
conclui que, para evitar a descaracterização ambiental e desenvolver os valores culturais e sociais
de cada nação, é necessário promover a salvaguarda dos conjuntos históricos” 1.
1 Cf. LOPES, Flávio (coord.) _ Cartas e Convenções Internacionais_ IPPAR. Colecção Informar para Proteger
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 16 –
A Recomendação de Nairobi adverte, principalmente os poderes públicos, para a necessidade
urgente de políticas de protecção e dinamização dos conjuntos históricos, pois considera este
tipo de património um testemunho vivo da evolução da sociedade e detentor de valores culturais,
religiosos e económicos insubstituíveis, que adquirem um valor e dimensão humana suplementar e
fundamento de uma identidade comum.
Como objectivos gerais da Recomendação entendem-se:
Estabelecer uma relação legal dos conjuntos históricos com o seu tecido envolvente;
Promover a salvaguarda dos conjuntos históricos e a sua adaptação às exigências
contemporâneas;
Promover a adopção de políticas nacionais, regionais e locais em cada Estado Membro,
em matéria de distribuição de poderes que garantam a salvaguarda dos conjuntos
históricos;
Definir medidas jurídicas, administrativas, técnicas, económicas e sociais que
regulem, coordenem e analisem as intervenções urbanísticas e a protecção dos conjuntos
históricos;
Fomentar a investigação, o ensino e a informação acerca dos conjuntos históricos,
meios de salvaguarda, métodos, materiais e técnicas de conservação modernas e artesanais
e modos de actuação;
Fomentar a cooperação internacional a nível da colaboração e troca de informações no
domínio da salvaguarda dos conjuntos históricos;
Proibir qualquer acto que provoque a demolição ou alteração das características dos
conjuntos históricos.
Em 1985, é assinada a Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da
Europa, mais conhecida como Convenção de Granada.
Nesta Convenção, o Conselho da Europa, de acordo com a Convenção Cultural Europeia
(Paris, 1954) e com a Carta Europeia do Património Arquitectónico (Amsterdão, 1975), considerou
de grande importância deliberar acerca das orientações essenciais de uma política comum que
garantisse a salvaguarda e valorização do património arquitectónico.
Assim, no seu artigo 1º é apresentada a definição de património arquitectónico, enquadrando
os monumentos , os conjuntos arquitectónicos e os sítios (enquanto obras combinadas do Homem e
da Natureza). Portugal, enquanto Membro signatário ratificou a Convenção de Granada através do
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 17 –
Decreto do Presidente da República n.º 5/91, de 23 de Janeiro. Como tal, comprometeu-se a
proceder segundo as normas e procedimentos deliberados:
A identificação do património arquitectónico deve ser feita através de um inventário e, em
caso de ameaça, deve ser preparada com urgência a documentação adequada (art. 2º).
Os processos legais de protecção devem passar pela implementação de um regime legal
eficaz de protecção do património arquitectónico (art. 3º), pela aplicação de processos de
controlo e autorização adequados e pela introdução na legislação de disposições que
prevejam (art. 4º):
_ a submissão a uma autoridade competente de projectos de demolição, de alteração (que
prejudique o edifício ou o seu envolvente) ou de construção de novos edifícios
(art. 4º, al. a) e b);
_ a possibilidade de os poderes públicos intimarem o proprietário a realizar obras ou de se
lhe substituírem, caso este não o faça (art. 4º, al. c);
_ a possibilidade de expropriar um bem protegido (art. 4º, al. d) .
A adopção de políticas de conservação integrada que incluam a protecção do património
arquitectónico nos objectivos essenciais do ordenamento do território e do urbanismo,
promovendo sempre que possível a conservação e utilização de edifícios, de programas
de restauro e de manutenção do património arquitectónico e integração da conservação,
promoção e realização do património arquitectónico nas políticas culturais, ambientais
e do ordenamento do território, enquanto elementos fundamentais das mesmas
(art. 10º).
Dois anos mais tarde, a ICOMOS dá o seu contributo com a redacção da Carta para a
Salvaguarda das Cidades Históricas, que define princípios, objectivos, métodos e instrumentos de
acção de salvaguarda que garantem a qualidade das cidades históricas, favorecem a harmonia entre
o indivíduo e a sociedade e perpetuam os conjuntos de bens que constituem a memória colectiva.
Os princípios e objectivos definidos são:
Integrar a salvaguarda das cidades históricas numa política coerente de
desenvolvimento económico e social que seja tida em conta nos planos de ordenamento e
gestão do território a todos os níveis;
Os valores a preservar prendem-se com o carácter histórico da cidade juntamente com os
elementos materiais e imateriais que definem a sua autenticidade, em particular o traçado
urbano, os diferentes espaços urbanos (verdes, livres e edificados) e as relações entre eles,
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 18 –
a forma e o aspecto dos edifícios, definidos pela sua estrutura, volume, estilo, escala,
materiais, cores e decoração;
A participação e integração dos seus habitantes, factor indispensável ao sucesso do
processo de salvaguarda;
Realizar as intervenções nas cidades históricas com prudência, método e rigor, tendo em
atenção cada caso particular.
Os métodos e instrumentos apresentados são:
Realizar um plano de salvaguarda com a cooperação de arquitectos, arqueólogos,
historiadores, técnicos, sociólogos, economistas, atendendo a um processo
pluridisciplinar. Este plano deve definir os princípios orientadores e os modos de actuação
a nível jurídico, administrativo e financeiro, os meios de conservação e regular a
construção e intervenção. O plano deve beneficiar da adesão dos habitantes e atender aos
princípios e métodos expostos nesta Carta e na de Veneza;
Adaptar as novas funções e infraestruturas exigidas pela vida contemporânea à
especificidade das cidades históricas;
Favorecer as investigações arqueológicas de modo a contribuir para um aumento do
conhecimento acerca do passado das cidades;
Regulamentar a circulação de veículos no interior das cidades históricas e planear as
zonas de estacionamento sem descaracterizar a imagem da cidade histórica;
Adoptar medidas preventivas contra catástrofes e condicionantes naturais, como a
poluição.
Em suma, a análise das Cartas, Recomendações e Convenções adoptadas pelas organizações
internacionais em matéria de protecção, conservação, salvaguarda e valorização do património
cultural comum vem demonstrar a necessidade urgente de olhar o património, não como peças
isoladas de uma longa lista de bens imóveis e móveis de valor relevante, mas sim como partes
integrantes de um envolvente, natural ou construído. Posto isto, e se “por um lado assistimos a uma
rápida transformação urbana e a um crescimento das cidades e a profundas alterações na paisagem
rural, por outro lado, os meios técnicos, humanos e financeiros não surgem com a rapidez da
produção intelectual de abordagens e conceitos acerca desta matéria” 1.
1 Cf. LOPES, Flávio (coord.) _ Cartas e Convenções Internacionais_ IPPAR. Colecção Informar para Proteger
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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2. OS INSTRUMENTOS LEGAIS PORTUGUESES DE GESTÃO E
PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL
O interesse, inicialmente, centrado na preservação dos monumentos de maior significado
histórico, tem vindo a alargar-se ao seu meio envolvente e, como tal, às cidades históricas como um
todo e não apenas pelos monumentos isolados.
Como tal, também os organismos internacionais, de representação europeia ou universal, têm
vindo a abordar o assunto em diferentes documentos que veiculam ideias e conceitos com o
objectivo de identificar, preservar, divulgar e valorizar o património cultural dos centros históricos.
Portugal não foi excepção e a consciencialização face aos problemas e desafios inerentes à
salvaguarda do património, tem provocado uma infinidade de abordagens, interpretações e critérios
sobre os conjuntos históricos a preservar e a forma de o fazer.
No entanto, o regime jurídico português relativo a esta matéria sempre se revelou disperso e,
rapidamente, se tornou incompatível com as actuais concepções de protecção e fruição do
património cultural.
A necessidade de promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o
elemento vivificador da identidade cultural comum nacional e europeia e de revogar o regime
jurídico existente, originou a redacção da primeira Lei de Bases do Património Cultural Português:
Lei 13/85, de 6 de Julho.
Nesta lei encontramos reflectidos alguns dos princípios orientadores das Convenções
internacionais existentes até à data, incluindo o alargamento da noção de património cultural
(artigos 1º, 8ºe 9º) e das formas de protecção (artigos 7º, 19º), a descentralização de competências
de salvaguarda (artigos 3º, 4º, 5º, 6ºe 9º), a importância e condicionalismos das zonas de protecção
(artigos 18º, 22º e 23º), a conservação integrada em planos de gestão urbanística (artigo 44º) e a
formação e acção educativa (artigo 49º), entre outros.
Este instrumento legal vem clarificar as formas e regimes de protecção ao património cultural
material (móvel e imóvel) e imaterial. No entanto, torna-se primordial analisar apenas os princípios
relacionados com o património imóvel e o seu regime especifico.
Muitos artigos remetem para a necessidade de criação de instituições que tenham como
missão a conservação e defesa do património cultural, não deixando de realçar que esta tarefa
incumbe a todos os cidadãos, especialmente ao Estado e orgãos administrativos (artigos 2º a 6º),
conforme os artigos 9º e 66º da CRP.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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Reflexo da Convenção do Património Mundial (UNESCO, 1972), surgem as diferentes
classificações do património imóvel (monumentos, conjuntos e sítios: art.8º) e a necessidade de
definir a importância de cada bem, de modo a que seja realizado um “enquadramento orgânico,
natural ou construído” que não “afecte a percepção e leitura de elementos e conjuntos”
(artigo 7º, n.º3).
As normas constantes na Lei de Bases do Património Cultural Português apresentam um
conjunto de regras e princípios relativos à defesa e conservação do património:
o principio de integração no ordenamento do território e na planificação a nível nacional,
regional e local dos valores de protecção, conservação, valorização e revitalização do
património cultural;
o principio de afectação de fundos e outras verbas nos orçamentos da Administração
Central, Regional e Local com o objectivo de ocorrer à protecção, conservação,
valorização e revitalização do património cultural;
o principio da participação financeira das entidades públicas nos trabalhos realizados para
a defesa e conservação do património, seja ele público ou privado;
o principio da consagração legal de promoção de regimes fiscais específicos e próprios,
tendo em vista a defesa do património cultural que se encontra na posse de particulares;
o principio de apoio governamental a acções de formação e de fomento do interesse e
respeito público pelo património cultural.
Para além dos princípios enunciados subsistem ainda regras de índole genérica, mas de grande
relevância. Em primeiro lugar, a defesa e conservação do património cultural incumbe
obrigatoriamente a entidades públicas e é um dever de todos os cidadãos. Em segundo lugar, os
meios de defesa passam pelo inventário e classificação dos bens culturais, sujeitando o direito
fundamental da propriedade privada a determinadas e diversas restrições de ordem pública que são:
a proibição de demolição ou obras de restauro sem parecer favorável das entidades
competentes;
a execução, por parte dos particulares, de todas as obras que os orgãos competentes
considerem necessárias para assegurar a sua salvaguarda;
a expropriação dos bens quando, por responsabilidade do proprietário, se corra o risco de
degradação.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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Além disto, em função do valor do bem em termos de espaço territorial, compete ao Estado,
Regiões Autónomas, autarquias locais, pessoas singulares ou colectivas, a intervenção, fiscalização
e adopção dos meios indispensáveis à defesa e conservação do património. Assim:
os imóveis classificados ou em vias de classificação carecem de cuidados especiais por
parte dos seus proprietários ou detentores, tendo em conta os problemas específicos na
luta contra a poluição e os efeitos dela decorrentes;
os imóveis classificados ou em vias de classificação podem ser expropriados, como
consequência da omissão ou acção grave do seu proprietário;
poderão ainda ser expropriados bens imóveis situados em zonas de protecção dos bens
classificados, desde que prejudiquem a boa conservação destes ou ofendam e desvirtuem
as suas características;
no que diz respeito à alienação dos bens classificados, é atribuído o direito de preferência
ao Estado e autarquias;
o arrendamento dos imóveis classificados é sujeito a um regime especial, de modo a evitar
a sua degradação.
Sendo os centros históricos património mundial inseridos em zonas de protecção e sendo de
especial relevância a sua conservação e reabilitação, estes princípios e regras têm, obrigatoriamente,
de ser tidos em conta. E, como tal, a elaboração de regulamentos específicos e a existência de
regulamentos de planos urbanísticos que consagrem a intervenção nestes conjuntos é primordial.
Com a Lei de Bases do Património Cultural, a preocupação relativa à salvaguarda de valores
naturais e culturais estendeu-se aos decretos–lei que regulamentam a elaboração dos instrumentos
de gestão territorial, pondo-se, assim, em prática a conservação integrada regulamentada pelo artigo
44º n.º1 da Lei 13/85 e por diversas normas e directivas internacionais. Entre os elementos
constituintes desses instrumentos passaram a figurar as áreas protegidas classificadas ou em vias de
classificação, as áreas de interesse arqueológico, histórico ou cultural e os imóveis classificados e
respectivas zonas de protecção:
“Os PROT têm por objectivo: (...) estabelecer normas gerais de ocupação e utilização que
permitam fundamentar um correcto zonamento, utilização e gestão do território
abrangido, tendo em conta a salvaguarda de valores naturais e culturais.” (Decreto-Lei
n.º 176–A/88, de 18 de Maio, artigo 3º, al. c) e “o relatório do PROT incluirá peças
escritas e gráficas e terá em conta, necessariamente, os seguintes elementos: (...) áreas
protegidas classificadas ou a classificar (...), áreas de interesse arqueológico, histórico
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 22 –
ou cultural (...), imóveis classificados e zonas de protecção de bens
culturais (...) “ (Decreto-Lei n.º 176–A/88, de 18 de Maio, artigo 9º, n.º2, al. b), d) e i);
“Os planos de salvaguarda e valorização para as zonas de protecção de imóveis, ou
conjuntos classificados previstos na Lei 13/85, de 6 de Julho, serão objecto de
regulamentação especial” (Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março, artigo 2º, n.º2);
“A elaboração, aprovação e execução dos planos municipais são operadas por forma a
garantir os seguintes princípios: (...) a compatibilização da protecção e valorização das
áreas agrícolas e florestais e do património natural e edificado, com a previsão de zonas
destinadas a habitação, indústria e serviços (...)” (Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março,
artigo 5º, n.º1, al. c);
“(...) a planta actualizada de condicionantes assinala as servidões administrativas e
restrições de utilidade pública, incluindo as decorrentes da Reserva Agrícola Nacional e
da Reserva Ecológica Nacional, áreas classificadas, as áreas submetidas ao regime
florestal, as áreas de protecção a imóveis classificados (...)” (Decreto-Lei n.º 69/90, de 2
de Março, artigo 10º, n.º6)
Depois da revisão constitucional de 1997, surge Lei de Bases da Política de Ordenamento do
Território e do Urbanismo (Lei 48/98, de 11 de Agosto) e estabelece-se um novo regime jurídico
dos instrumentos de gestão territorial: Decreto-Lei 380/99, de 22 de Setembro.
Estes para além de definirem o regime de coordenação de âmbitos nacional, regional e
municipal do sistema de gestão territorial, o regime geral de uso e ocupação do solo e o regime de
elaboração, aprovação, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial, passam a
consagrar a participação de todos os interessados na elaboração desses instrumentos conforme
principio consagrado na Constituição. Este decreto-lei vem reafirmar, em artigos próprios, a
necessidade de identificar os recursos patrimoniais e naturais e promover a sua salvaguarda.
Como princípios da política de ordenamento do território e do urbanismo são apresentados:
o principio da sustentabilidade e solidariedade intergeracional, assegurando às gerações
futuras espaços correctamente organizados;
o principio da coordenação das políticas de ordenamento com as políticas económicas,
sociais e culturais;
o principio da equidade na repartição de encargos e benefícios decorrentes da aplicação
dos instrumentos de gestão territorial;
o principio da participação e discussão pública;
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 23 –
o principio da responsabilidade perante as intervenções efectuadas;
o principio da segurança jurídica.
Como objectivos específicos desta Lei encontramos:
a melhoria da qualidade de vida das populações e a distribuição equilibrada de valores
naturais, culturais, económicos e sociais;
a criação de oportunidades de trabalho como meio de fixação de populações em áreas
menos desenvolvidas;
a preservação e defesa dos solos;
a rentabilização das infraestruturas, racionalizando redes e perímetros urbanos;
a reabilitação e revitalização dos centros históricos e dos elementos de património cultural
classificados;
a recuperação de áreas degradadas e a reconversão de áreas urbanas de génese ilegal.
A par da adopção destes diplomas para regular a elaboração, aprovação, execução e avaliação
dos instrumentos de gestão territorial, surge nesse mesmo ano, a 16 de Dezembro, o Decreto-Lei
555/99 que vem fazer a revisão dos regimes jurídicos do licenciamento municipal de loteamentos
urbanos e obras de urbanização e de obras particulares, alterado recentemente pelo Decreto-Lei
n.º177/2001, de 4 de Junho.
As operações de loteamento urbano e obras de urbanização, tal como as obras particulares,
concretizam e materializam as opções contidas nos instrumentos de gestão territorial, não se
distinguindo tanto pela sua natureza quanto pelos seus fins.
A necessidade deste documento surge do facto de a legislação em vigor até então não
conseguir compatibilizar as exigências de salvaguarda do interesse público com a eficiência
administrativa a que aspiram os cidadãos. Os regimes jurídicos que regiam a realização destas
operações não eram coerentes entre si e o procedimento administrativo era muito moroso.
Relativamente às áreas classificadas e protegidas, os Municípios “no exercício do seu poder
regulamentar próprio, aprovam regulamentos municipais de urbanização” (artigo 3º, n.º1). As
operações urbanísticas de “reconstrução, ampliação, alteração ou demolição de edifícios
classificados ou em vias de classificação (...) e (...) em zonas de protecção de imóvel classificado ou
em vias de classificação ou em áreas sujeitas a servidão administrativa ou restrição de utilidade
pública” estão sujeitas a licença administrativa concedida pela Câmara Municipal (artigo 4º, n.º2,
al. d).
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 24 –
“Estão isentas de licença ou autorização as obras de conservação” (artigo 6º, n.º1, al. a), “as
obras de alteração de edifícios não classificados ou suas fracções que não impliquem modificações
da estrutura existente dos edifícios, das cérceas, das fachadas e da forma dos telhados” (artigo 6º ,
n.º1, al. b) e “as operações urbanísticas promovidas pelas câmaras municipais (...) em área
abrangida pelo plano municipal” (artigo 7º, n.º1 al. a).
A 8 de Setembro surge a Lei 107/2001, onde se estabelecem as bases da política e do regime
de protecção e valorização do património cultural, revogando-se a Lei 13/85 de 6 de Julho. No
entanto, a fundamentação para a existência de GTL’s e de regulamentos específicos de intervenção
nos centros históricos património mundial mantêm-se, sendo mesmo reforçados.
O conceito de património cultural é alargado e, entre os vários elementos que constituem o
património cultural português, são referidos pela primeira vez os “bens que como tal património
cultural sejam considerados por força de convenções internacionais que vinculam o Estado
português (...)” (artigo 2º, n.º5). Além disso, refere também como parte integrante do património
cultural “os respectivos contextos” dos bens materiais e imateriais de interesse cultural.
No artigo 13º são apresentadas as componentes especificas que devem integrar a política do
património cultural:
“a) definição de orientações estratégicas para todas as áreas do património cultural;
b) definição, através de planos, programas e directrizes, das prioridades de intervenção ao
nível da conservação, recuperação, acrescentamento, investigação e divulgação do
património cultural;
c) definição e mobilização dos recursos humanos, técnicos e financeiros necessários à
consecução dos objectivos e das prioridades estabelecidas;
d) definição das relações e aplicação dos instrumentos de cooperação entre os diversos
níveis da Administração Pública e desta com os principais detentores de bens culturais e
com as populações”, existindo mesmo um aumento dos benefícios de contrapartidas: para
além dos incentivos fiscais, passam a beneficiar de apoio técnico;
“e) definição dos modelos de articulação da política do património cultural com as demais
políticas sectoriais (...)”.
Nesta lei surgem novos princípios gerais que orientam a actuação das entidades competentes:
a necessidade de assegurar “que os instrumentos e recursos mobilizados e as medidas adoptadas
resultem de uma prévia e adequada planificação e programação”; a articulação e compatibilização
do “património cultural com as restantes políticas (...) em especial as políticas de ordenamento do
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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território (...)”; a eficiência no cumprimento de objectivos e imposições vigentes; a “inspecção e
prevenção, impedindo (...) a desfiguração, a degradação ou perda de elementos integrantes do
património cultural”, incluindo o condicionamento da “afixação ou instalação de toldos, de
tabuletas, de letreiros, de anúncios ou de cartazes, qualquer que seja a sua natureza e conteúdos
(...)” (art.º 41º); responsabilidade relativa às intervenções que possam afectar a integridade do
património (artigo 6º); e, a necessidade de os projectos, obras e intervenções serem “elaborados e
subscritos por técnicos de qualificação legalmente reconhecida ou sob a sua responsabilidade
directa” (artigo 45º, n.º1).
Em caso de venda ou dação o direito de preferência é alterado: se antes o Estado era
privilegiado, agora perde o seu lugar em detrimento dos comproprietários (art. 37º).
Nas zonas de protecção “não podem ser concedidas licenças para obras de construção e para
quaisquer trabalhos que alterem a topografia, os alinhamentos e as cérceas e, em geral, a
distribuição de volumes e coberturas ou revestimento exterior dos edifícios sem prévio parecer
favorável da administração do património cultural competente” (artigo 43º, n.º4), excluindo-se as
obras que alterem o interior dos imóveis (artigo 43º, n.º5), consagrando, deste modo, base legal para
a existência de regulamentos que orientem as construções e alterações nos centros históricos de
acordo com as suas características especificas.
A defesa da qualidade ambiental e paisagística consagrada nos planos directores municipais e
nos regulamentos específicos aplicáveis aos centros históricos vem regularizada no artigo 44º:
“para os efeitos deste artigo, o Estado, as Regiões Autónomas e as autarquias locais promoverão,
no âmbito das atribuições respectivas, a adopção de providências tendentes a recuperar e valorizar
zonas, centros históricos e outros conjuntos urbanos (...) integrados na paisagem” e “relativamente
aos sítios e conjuntos, a legislação de desenvolvimento estabelecerá especialmente (...) os
parâmetros a que devem obedecer os planos, os programas e os regulamentos aplicáveis”.
Em conformidade com o Decreto-Lei 380/99, de 22 de Setembro, referente aos instrumentos
de gestão territorial, o artigo 53º, nº3 da Lei 107/2001 estabelece, para além do disposto nesse
regime jurídico, o conteúdo dos planos de salvaguarda, que passam a ser obrigatórios a partir da
entrada em vigor desta nova Lei:
“a) ocupação e usos prioritários;
b) as áreas a reabilitar;
c) os critérios de intervenção nos elementos construídos e naturais;
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d) a cartografia e recenseamento de todas as partes integrantes do conjunto;
e) as normas especificas para a protecção do património arqueológico existente;
f) as linhas estratégicas de intervenção, nos planos económico, social e de requalificação
urbana e paisagística.”
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PARTE II
OS CENTROS HISTÓRICOS PORTUGUESES INSCRITOS
NA LISTA DO PATRIMÓNIO MUNDIAL
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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“(...) Entenda-se, enfim, que nenhum monumento histórico pertence
propriamente ao município em cujo âmbito jaz, mas sim à nação toda.
Por via de regra, nem a mão poderosa que o ergueu regia só esse
município, nem as somas que aí se despenderam saíram dele só, nem a
história que transforma o monumento em documento é a história de uma
vila ou cidade, mas sim de um povo inteiro. (...)”
Alexandre Herculano
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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O respeito pelos centros históricos é hoje muito diferente do que era há alguns anos.
Actualmente, é reconhecida a sua importância enquanto estrutura urbana e humana herdeira de um
passado, testemunho de uma história.
Este reconhecimento é notável nas operações de reabilitação urbana nos tecidos históricos
levadas a cabo pelos responsáveis pelas políticas sectoriais e locais, pela adaptação à especificidade
das intervenções em centros históricos degradados e pelos estudos centralizados em fenómenos
humanos que os caracterizam.
O urbanismo e a gestão urbana assumem, assim, cada vez mais, um papel primordial na
preservação e intervenção nos centros históricos. Este aspecto ganha maior relevância nos centros
históricos classificados como património mundial. Aqui, para além da necessidade de implementar
medidas políticas de preservação e recuperação nacionais e municipais, os gabinetes técnicos locais
definem a sua actuação segundo regulamentos e critérios próprios a que os particulares também
ficam sujeitos.
Deste modo, os centros históricos não correm o risco de despersonalização e
descaracterização e mantêm a sua autenticidade que os levou a serem considerados exemplos e
testemunhos da humanidade.
Um dos instrumentos de protecção dos centros históricos e dos imóveis classificados que os
integram, estabelecido pela Lei de bases do património cultural português são as zonas de
protecção e as zonas especiais de protecção.
Com a Lei 13/85, de 6 de Julho, as zonas gerais de protecção de 50 metros a contar a partir
dos limites exteriores do imóvel, só eram estabelecidas após a classificação do bem e as zonas
especiais de protecção apenas existiam nos casos em que as zonas de protecção não salvaguardavam
perfeitamente o enquadramento do mesmo.
No entanto, com a nova Lei de Bases (Lei 107/2001, de 8 de Setembro) os bens classificados
ou em vias de classificação beneficiam automaticamente de uma zona geral de protecção, com os
mesmos limites, e devem dispor também de uma zona especial de protecção, a fixar por portaria do
órgão competente da Administração Central ou da Região Autónoma.
As zonas especiais de protecção variam de caso para caso conforme as características
históricas, paisagísticas ou topográficas do local onde se encontram os imóveis. Nestas zonas
podem incluir-se zonas non aedificandi.
Outro instrumento que se tem revelado de grande importância e até mesmo indispensável para
a recuperação do património edificado são os regimes especiais e os programas comparticipados
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 30 –
por programas comunitários, pelo Governo ou pelos Municípios. Entre muitos os que existem
salientam-se os seguintes:
P.E.R. – Programa Especial de Realojamento para as áreas metropolitanas de Lisboa e
Porto que, como o nome indica, visa proporcionar aos municípios daquelas áreas
condições para proceder à erradicação de barracas existentes e ao consequente
realojamento dos seus ocupantes em habitações de custo controlado.
P.R.A.U.D. – Programa de Reabilitação das Áreas Urbanas Degradadas, com uma
participação que pode atingir os 25%.
P.R.O.C.O.M. – Programa de Apoio à Modernização do Comércio Tradicional, sob a
forma de subsidio a fundo perdido que pode atingir os 50%.
P.R.O.N.O.R.T.E. – Programa Operacional do Norte. A sua participação pode atingir os
75%.
P.R.U. – Programa de Reabilitação Urbana, que pode atingir os 48,7%.
R.E.C.R.I.A. – Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis
Arrendados que, como o próprio nome indica, é um sistema de financiamento de obras de
recuperação em imóveis arrendados, instituído pelo Governo com vista a recuperar o
património imobiliário degradado. O valor de comparticipação (a fundo perdido) pode
atingir no máximo 65% do valor total das obras, em função do montante das obras e do
valor das rendas. Este valor pode aumentar em 10% para as obras que visem a adequação
dos fogos ao abrigo das Medidas cautelares de segurança contra riscos de incêndios em
centros urbanos antigos.
REHABITA – programa de apoio à recuperação habitacional em áreas urbanas antigas,
mediante a concessão de uma comparticipação financeira (a fundo perdido) e de meios
complementares de financiamento bonificado, exclusivamente aplicáveis aos núcleos
históricos declarados como “áreas criticas de recuperação e reconversão urbanística”, que
possuam planos de urbanização, planos de pormenor ou regulamentos urbanísticos
aprovados. O REHABITA visa também apoiar a execução de obras de conservação, de
beneficiação ou de reconstrução de edifícios habitacionais e as acções de realojamento
provisório ou definitivo daí decorrentes, no âmbito de uma operação municipal de
reabilitação urbana. O valor da comparticipação pode atingir os 65% com
comparticipação adicional de 10%.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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No entanto, o objectivo deste estudo é analisar os objectivos e as acções estratégicas dos
gabinetes técnicos locais, enquadrando os regulamentos de planeamento urbanístico delineados para
cada Centro Histórico. Os restantes instrumentos de gestão e protecção poderão ser referidos mas
não analisados aprofundadamente.
OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
Em 1985, através do Despacho n.º4/SEHU/85, a Secretaria de Estado da Habitação e do
Urbanismo criou um programa de reabilitação urbana prevendo a possibilidade das autarquias se
candidatarem a apoio técnico e financeiro especifico para esse fim. O Despacho fazia ainda
referência a à particular gravidade que assumiam certas situações de elevada degradação do parque
habitacional nos núcleos históricos de Lisboa e Porto, levando à consideração da necessidade de
medidas especiais a elas aplicáveis, contempladas em novo despacho complementar do anterior:
Despacho 7/SEHU/85.
A Administração Central e os Municípios desenvolveram, assim, estruturas periódicas ou
permanentes de intervenção urbana nos quadros das autarquias, cuja actividade é hoje considerada
de maior eficiência: são os GTL’s, as Divisões dos Centros Históricos e as Direcções Municipais de
Reabilitação Urbana.
Foi no seio destas estruturas e quadros técnicos que se desenvolveram iniciativas inovadoras,
modelos de intervenção e experiências concretas de reabilitação, projecto e gestão urbana.
Desde que são criados e começam a intervir no espaço, e sobretudo desde que ali se instalam
fisicamente, os GTL’s passam a constituir actores decisivos, particularmente no que diz respeito ao
processo de reabilitação urbana, mas também noutros aspectos económicos e sociais.
A intenção da criação destes gabinetes era criar pequenas unidades organizacionais que
conduzissem as operações de reabilitação com autonomia e funcionamento integrado, assumindo
assim muitas das competências habitualmente dispersas por múltiplos serviços camarários. Deste
modo, os GTL’s vieram incluir no seu âmbito de intervenção atribuições que vão desde a
elaboração de projectos até à realização de vistorias, ao acompanhamento de obras e à gestão de
realojamentos.
A acção destes gabinetes nas operações de reabilitação urbana apoiou-se, desde o inicio, em
dois instrumentos fundamentais: o apoio técnico e financeiro da Administração Central e a
declaração das áreas críticas de reconversão e recuperação urbanística. Se o primeiro garantiu aos
gabinetes meios para começar a trabalhar, o segundo permitiu a expropriação e a tomada de posse
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 32 –
administrativa de alguns prédios com necessidade de intervenção urgente, em especial perante
estados de ruína iminente.
Mas, a mais-valia destes gabinetes é, sem dúvida, a sua localização física no interior dos
núcleos a recuperar, o que permite o desenvolvimento de laços não só com a sociedade que ali
reside e/ou trabalha mas também com o próprio local que passam a senti-lo também como seu,
estabelecendo relações de cooperação ou conflito, de amizade ou hostilidade, vendo-se, assim,
envolvidos em redes relacionais de base local.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS
Não menos importantes que as normas e as directivas internacionais e nacionais na garantia
da integridade da nossa memória nacional são outros preceitos legais complementares de
intervenção urbanística como os regulamentos dos planos de ordenamento do território e os
regulamentos de edificações urbanas, de zonas de protecção e de intervenção nos centros históricos.
Os regulamentos dos planos de ordenamento do território são elementos chave, pois fixam
regras jurídicas aplicáveis ao terreno abrangido pelo plano, sendo susceptíveis de aplicação directa e
imediata na propriedade do solo.
Os regulamentos específicos para os Centros Históricos classificados visam influenciar o
desenvolvimento para evitar aspectos negativos, potencializar os positivos e prevenir ou resolver
disputas perante interesses conflituosos. Estes regulamentos são elaborados pelas Câmaras
Municipais, cuja competência é conferida pelo art. 5º do RGEU, aprovado pelo Decreto n.º 38382,
de 7 de Agosto de 1951.
OBJECTIVOS DOS REGULAMENTOS
Os Regulamentos devem estar inseridos numa estratégia de gestão para que não se corra o
risco de se tornarem ineficazes. As Câmaras Municipais têm que definir a sua estratégia e, ao
adoptarem regulamentos, têm de prever impactos e efeitos laterais que daí possam resultar e
determinar os meios necessários para os implementar.
O planeamento urbanístico terá que partir sempre de dois pontos: a expansão do aglomerado
urbano e a conservação e/ou remodelação do aglomerado existente. Relativamente aos centros
históricos dá-se como é óbvio, maior importância à conservação e menos à expansão.
Outros objectivos que se prendem aos regulamentos dizem respeito:
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 33 –
ao estabelecimento de uma rede viária e de transportes eficiente, aliada a uma política de
estacionamento;
à defesa da imagem do tecido urbano e dos seus valores culturais;
à salvaguarda de valores e recursos económicos e socioculturais;
à integração de zonas verdes e consequente aumento qualitativo do centro;
à localização dos equipamentos sociais e urbanos.
No entanto, não se pode avançar sem os meios necessários para que o mecanismo dos planos
funcione. O PDM é apenas um plano de enquadramento, não servindo de muito se não houver uma
sequência de outros planos, nomeadamente os de Urbanização, os de Pormenor e os de
Salvaguarda.
CONTEÚDO DOS REGULAMENTOS 1
Os Regulamentos incidem sobre a localização, implementação e características dos elementos
físicos dos aglomerados urbanos, mas também dizem respeito a aspectos processuais conducentes à
obtenção de condições para efectivar iniciativas (aprovação, financiamento, isenções, licenças...).
Antes de mais, essa incidência dá-se sobre o uso e a localização, a implantação de volumes, os
seus recuos, a sua cércea e todas as características dos elementos físicos dos aglomerados urbanos.
Os Regulamentos podem ser genéricos ou mais pormenorizados, mais flexíveis ou mais
deterministicos.
Quanto à sua generalidade, podem fixar apenas o índice de utilização do terreno ou, por outro
lado, indicarem a percentagem de ocupação de solo, fixarem a cércea, a cor e a disciplina
arquitectónica.
Quanto à sua flexibilidade, podem fixar o índice, a cércea e as funções sem alternativa
possível ou, por outro lado, admitirem uma certa gama de funções ou paleta de cores...
Mas, tanto em uns casos como noutros, podem ser criticados: se forem generalistas podem ser
considerados vagos, sem enquadramento; se forem flexíveis podem dar aso a abusos; se forem
pormenorizados, tiram toda a flexibilidade conjuntural...
1 cf. AMARAL, Diogo Freitas de (coord.) _ Direito do Urbanismo. INA: Lisboa, 1990, págs. 81-83
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 34 –
NATUREZA JURÍDICA DOS REGULAMENTOS 1
Quanto à sua forma, os regulamentos dos planos têm natureza administrativa geral e
abstracta, porque se aplicam a todas as situações que as disposições regulamentam, sem excepção
de pessoas ou situações.
Quanto ao seu conteúdo, existem várias teses:
acto administrativo individual, pois têm uma disciplina diferenciada, particularizada e
detalhada do território, ou seja, um objecto bem determinado, e as suas atribuições dizem
respeito aos objectos em si e não directamente aos proprietários;
acto administrativo geral, pois a decisão administrativa aplica-se a uma situação
concreta, tendo como destinatários um conjunto indeterminado de pessoas;
acto administrativo geral e abstracto, porque as disposições aplicam-se a todas as
pessoas que sejam titulares de direitos sobre imóveis abrangidos no seu âmbito territorial
de aplicação (generalidade) e, porque disciplinam todas as hipóteses de uso,
transformação e destino do solo (abstracção);
acto misto, pois tem uma natureza concreta (acto administrativo) e uma disposição
abstracta (regulamento);
instituto “sui generis”, ou seja, não pode ser enquadrado nas formas típicas da
administração pública: não é uma norma porque não é abstracto, não é um acto
administrativo porque não regula situações individuais.
Conclui-se apenas que os planos urbanísticos têm conteúdo heterogéneo e variável, podendo
ser gerais e abstractos ou individuais e concretos. De salientar é o limite ao direito de propriedade.
Assim, para efeito de recurso contencioso os regulamentos dos planos urbanisticos devem ser
considerados verdadeiros actos administrativos.
1 cf. CORREIA, Fernando Alves _ O plano urbanístico e o principio da igualdade. Edições Almedina: Coimbra, 1989. págs. 241-246
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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1. CENTRO HISTÓRICO DE ANGRA DO HEROÍSMO
Em 1 de Janeiro de 1980, o maior sismo do século XX nos Açores, de grau 8 na escala de
Mercalli, afectou as ilhas da Terceira, Graciosa e S. Jorge. A metade sudoeste da Terceira foi a mais
atingida e Angra do heroísmo viu cerca de 50% do seu parque edificado afectado. É nesta altura que
a visita de alguns técnicos da UNESCO fez ressaltar pela primeira vez a importância real da cidade
no contexto histórico da evolução europeia e mundial.
A 7 de Dezembro de 1983, resultante da rápida reconstrução da cidade, a Zona Central de
Angra do Heroísmo foi inscrita na Lista do Património Mundial com base nos critérios
culturais IV e VI 1. Metade desta zona é constituída pelo Centro Histórico da cidade, enquanto a
outra é constituída pelo extinto vulcão do Monte Brasil, hoje um parque florestal da cidade 2.
Assim sendo, a UNESCO obriga, para que a classificação se mantenha, à adopção de medidas
que mantenham a autenticidade das características que deram origem a esta classificação.
Perante isto, o Governo Regional e o Município, através do Gabinete da Zona Classificada de
Angra do Heroísmo, levam a cabo medidas e implementam regulamentos específicos para a área
classificada e protegida.
A mesma zona está classificada como de Interesse Público – Monumento Regional (Decreto
Legislativo Regional 15/84-A, de 13 de Abril 3), facto que decorre de ser competência específica
da Região Autónoma a salvaguarda do património cultural e natural do arquipélago.
A preocupação com a salvaguarda da zona histórica é anterior à classificação e normalizada
por diversos decretos regionais, como se demonstrará adiante.
1.1. O GABINETE DA ZONA CLASSIFICADA DE ANGRA DO HEROÍSMO
1.1.1. IDENTIFICAÇÃO
Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo (GZCAH)
Direcção: Arq. Leticia Leitão
Rua do Galo, n.º 84-92
9700-091 Angra do Heroísmo - Terceira - Açores
Tel.: 295 214871 e-mail: [email protected]
Fax: 295 213626 Site internet: http://www.gzcah.pt
1 ver página 13 2 ver planta n.º1, apêndice C 3 anexo B3, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 36 –
1.1.2. ESTATUTO LEGAL
Este Gabinete foi criado pelo Decreto Regional n.º 15/84-A, de 13 de Abril 1 e estruturado
pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 26/87-A, de 26 de Agosto 2.
Através do Decreto Regulamentar Regional n.º 7/2000-A, de 10 de Fevereiro 3, a orgânica do
Gabinete foi reformulada, adequando-a às novas exigências resultantes da entrada em vigor do
Decreto Regional n.º 29/99-A, de 31 de Julho 4.
O Gabinete está sob a dependência directa do Secretário Regional da Educação e da Cultura.
1.1.3. OBJECTIVOS E COMPETÊNCIAS
O GZCAH é um serviço de apoio consultivo e técnico da Secretaria Regional com
competência em matéria do património cultural.
A missão deste gabinete prende-se com a coordenação de todas as actividades referentes à
identificação, protecção, valorização e divulgação dos valores patrimoniais da zona classificada da
cidade.
Os objectivos da instituição são:
Elaborar estudos técnicos necessários à reconstrução, reintegração ou restauro dos imóveis
situados na zona classificada;
Apoiar financeira ou tecnicamente, isoladamente ou em conjunto com a Câmara
Municipal, de modo a executar o regime de incentivos previstos no Decreto Legislativo
Regional n.º 29/99-A, artigo 49º;
Emitir parecer sobre todos os projectos de obras a efectuar na zona classificada;
Acompanhar e fiscalizar a execução das obras;
Elaborar e manter completo, actualizado e documentado o cadastro de todos os imóveis da
zona classificada, incluindo o registo dos seus elementos significativos e de todos os
aspectos relevantes para a elaboração e actualização do plano de salvaguarda e
valorização;
Dar parecer sobre os instrumentos que directa ou indirectamente afectem a zona
classificada;
Regulamentar a publicidade nos edifícios da zona classificada;
1 anexo B3, volume II 2 anexo B4, volume II 3 anexo B9, volume II 4 anexo B8, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 37 –
Organizar os processos de contra-ordenações e embargo de obras;
Representar perante a UNESCO e as organizações ou associações nacionais e
internacionais no que respeitar à zona classificada.
1.1.4. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO
Numa primeira fase, O GZCAH dedicou-se imperativamente à reconstrução de Angra do
Heroísmo e aos ajustes necessários ao estabelecimento de critérios de salvaguarda.
Actualmente, para além de manter estas actividades, o gabinete estabelece um relacionamento
mais estreito com a UNESCO, no sentido de se manter a par da evolução de conceitos e
procedimentos relativos à gestão dos bens inscritos na Lista do Património Mundial.
Após o estabelecimento de contactos, foi considerado de interesse a integração do GZCAH no
Forum UNESCO Universities and Heritage, uma rede criada pela UNESCO, utilizando o World
Wide Web, para promoção da atenção a dispensar à preservação e conservação do património
cultural junto da juventude universitária.
Um segundo aspecto desta nova estratégia diz respeito, em simultâneo, ao desenvolvimento
de conhecimentos sobre a história da cidade, com respectiva divulgação junto da população, e á
projecção de Angra na restante Europa. Assim sendo, a elaboração de um projecto de sensibilização
e humanização à população de Angra é uma das apostas fortes. Este projecto está dividido em duas
vertentes: a melhoria das relações com a população, assim como maior intervenção na cidade e o
contacto com técnicos de outros organismos de cidades património mundial.
Para além de todas estas acções, a grande estratégia em curso é a elaboração do Plano de
Salvaguarda e Valorização da Zona Classificada.
1.2. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS
A defesa e intervenção no património cultural açoriano distinguem-se de todos os outros
centros históricos referidos neste estudo pela especificidade da legislação que passa,
essencialmente, pela Assembleia Regional (direito consagrado na Lei de Bases do Património
Cultural).
1.2.1. O PDM
Não existe nenhum PDM aprovado nem se encontra em elaboração.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 38 –
1.2.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO
Não existe nenhum Plano de Urbanização aprovado nem se encontra em elaboração.
1.2.3. O PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
De acordo com a Lei de Bases do Património Cultural e a Lei de Bases da Política do
Ordenamento do Território e Urbanismo, o GZCAH encontra-se neste momento a elaborar o Plano
de Pormenor de Salvaguarda e Valorização da Zona Classificada. Este Plano é também
regulamentado pelo Decreto Legislativo Regional n.º29/99-A, de 31 de Julho 1 que estabelece:
“A zona classificada e a sua área especial de protecção serão objecto de um plano de
salvaguarda e valorização, que dará corpo às normas contidas no presente diploma, não
podendo nelas ser executadas quaisquer obras que contrariem o que naquele plano seja
estabelecido” (art. 6º n.º1)
“compete à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo a elaboração do plano de
salvaguarda e valorização, ouvida a Assembleia Municipal, o qual, obtido o parecer
prévio favorável do membro do Governo responsável pela cultura, será aprovado por
resolução do Conselho do Governo Regional.” (art.9º, n.º3) Este plano “será objecto de
revisões quinquenais, não podendo, em caso algum, ser alterado nos períodos
intercalares.” (art. 9º, n.º5)
“o plano de salvaguarda e valorização da zona classificada conterá, para os quarteirões
e arruamentos, os planos de alinhamentos, de canalizações da rede de esgotos, águas,
energia eléctrica e telecomunicações e as seguintes indicações:
a) a proibição de qualquer modificação das dimensões originais das aberturas nas
fachadas e dos níveis dos telhados e das suas inclinações;
b) as medidas antissismicas a adoptar para os edifícios;
c)uma lista de estruturas e edifícios históricos que pelas suas características
arquitectónicas exteriores e interiores devam ser reconstruídas ou restauradas com
reutilização dos materiais ainda existentes ou com materiais da mesma natureza;
d) uma lista dos edifícios que podem ser restaurados ou reconstruídos com materiais
semelhantes aos precedentes e indicar as técnicas apropriadas;
1 anexo B8, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 39 –
e) os materiais de revestimento das fachadas, a sua composição e o tipo de telhas a
empregar na cobertura dos telhados, tendo em consideração a razoabilidade e eficácia da
sua aplicação, bem como as tecnologias e materiais existentes;
f) as cores admitidas nas fachadas;
g) a afectação económica e social correspondente a cada edifício e a previsão dos meios
que permitam a previsão da vocação social existente dentro do Centro Histórico;
(...) i) as normas especificas de conservação, protecção e valorização ambiental dos
espaços públicos, parques e jardins.” (artigo 6º-A)
“o plano de salvaguarda e valorização poderá prever, para autorização, a colocação de
antenas parabólicas e outras coisas acessórias em locais não visíveis do espaço público.”
(art. 31º-B, n.º 3)
“o plano de salvaguarda e valorização da zona classificada de Angra do Heroísmo e
respectiva área de protecção será aprovado até 18 meses após a entrada em vigor do
presente diploma.” (art. 45º-C, n.º 1)
Relativamente a este último ponto verifica-se a não aplicabilidade do disposto, visto que o
diploma entrou em vigor a 30 de Agosto de 1999 e hoje, cerca de 30 meses depois o plano de
salvaguarda e valorização ainda se encontra em fase de elaboração.
Os objectivos deste Plano definidos pelo GZCAH são 1:
“Conservar e valorizar o património arquitectónico existente numa perspectiva de
valorização dinâmica;
criar condições para o reforço da identidade cultural;
promover a criação artística nomeadamente arquitectónica, como testemunho da cultura
actual;
promover o bem estar social, económico e ambiental e o desenvolvimento local e
regional;
melhorar as condições de utilização dos imóveis;
qualificar áreas urbanas funcionalmente desadequadas e/ou física e socialmente
degradadas;
criar condições para o desenvolvimento e qualificação das actividades económicas;
desenvolver e qualificar a oferta residencial;
contribuir para o desenvolvimento das actividades culturais e desportivas;
1 informação cedida pelas arquitectas Letícia Leitão e Magda Gonçalves do GZCAH
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 40 –
aumentar a atractividade e acolhimento turístico, principalmente a nível cultural.”
A realização deste plano de pormenor de salvaguarda e valorização torna-se ainda mais
urgente devido à falta de um PDM e de um Plano de Urbanização e às inúmeras referências à sua
elaboração, aprovação e ratificação nos regulamentos específicos já publicados. Estes remetem para
o Plano de Salvaguarda a garantia com eficácia da salvaguarda e valorização do património
construído nas suas características predominantes.
1.2.4. OS REGULAMENTOS ESPECÍFICOS
A legislação da Região Autónoma dos Açores estabeleceu, desde cedo, um corpo de normas
que permitiram proteger o património regional: Decreto Regional n.º 13/79-A, de 16 de Agosto1.
Durante 5 anos, até à inscrição da cidade na Lista do Património Mundial, foi com base neste
documento legal que se tentou proteger o património cultural, quando ainda não existia uma Lei de
Bases nacional.
Este documento vem consagrar muitos aspectos relevantes que só em 1985 viriam a ser
normalizados pelo Governo Português com a Lei 13/85, de 6 de Julho: as competências da
Assembleia Regional; os meios de protecção do património; as obrigações dos proprietários dos
imóveis classificados ou em vias de classificação; as normas a cumprir relativas a licenças e obras;
a alienação; a expropriação; as coimas e a regulamentação. Para a execução deste diploma, o
Governo Regional prosseguiu com a publicação de regulamentos específicos.
1.2.4.1. REGULAMENTO DE EXTERIORES DE EDIFICIOS
A 25 de Agosto é publicado o Decreto Regional n.º 20/79-A2 que disciplina o tratamento do
exterior dos edifícios que constituem os conjuntos arquitectónicos, tentando, deste modo,
reenquadrar os valores perdidos, racionalizar o emprego dos materiais da região e enquadrar as
características arquitectónicas e paisagísticas.
Assim sendo, passa a ser obrigatória a indicação nos projectos dos edifícios para a zona
classificada dos materiais de construção e decoração a aplicar no exterior, dependendo disso o
licenciamento das obras.
1 anexo B1, volume II 2 anexo B2, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 41 –
1.2.4.2. REGULAMENTO DE PROTECÇÃO DA ZONA CLASSIFICADA DA CIDADE
Após a classificação da zona central de Angra do Heroísmo como Património da Humanidade
em 1983, o Decreto Legislativo Regional n.º 15/84-A1 classificou-a como Monumento Regional.
Com os objectivos de conservar o aspecto característico da zona classificada e de corrigir as
anomalias resultantes da execução de obras impensadas, este decreto vem definir os parâmetros e
critérios de intervenção na área classificada e protegida, referentes às obras de construção,
conservação ou restauro e normalizar a constituição de incentivos à recuperação e manutenção dos
imóveis existentes na zona classificada da cidade (artigo 44º), sistema que só será estabelecido anos
mais tarde com o Decreto Regulamentar Regional n.º 20/95-A, de 10 de Outubro.
O Decreto Legislativo Regional n.º 15/84-A vem estabelecer princípios e regras que o PDM 2
da cidade também deve respeitar (artigo 6º), assim como os planos de pormenor:
os alinhamentos dos edifícios devem ser mantidos (art. 8º), excepto nos casos de
correcção de anomalias (art. 4º, n.º2) e nos casos em que não seja lesivo o equilíbrio
arquitectónico do imóvel e das características da zona envolvente (art. 10º, n.º2);
estabelece o tipo de pavimentos das ruas e passeios e proíbe a aplicação nestes de tintas
(art.9º) 3;
a implantação, altura, volume e configuração da cobertura das edificações em conjunto
devem ser respeitadas (art. 10º e 14º);
estabelece os limites das obras de ampliação (art. 11º);
proíbe as construções de andares recuados com vãos de acesso a terraços
(art. 13º);
apresenta as regras de intervenção e as características formais nas fachadas (art. 15º e 16º),
cantarias (art. 17º, 18º e 20º), cornijas (art. 17º e 20º), platibandas (art. 21º), caixilharias
(art. 22º e 27º), sacadas e varandas (art. 24º a 26º) e revestimentos (art. 29º) 4;
devem ser mantidas a configuração, a textura, a cor, a inclinação, a orientação dos planos
e as chaminés dos telhados (art. 32º a 36º).
todas as obras de construção, conservação ou restauro devem ter despacho favorável do
Secretário Regional da Educação e da Cultura (art. 5º).
1 anexo B3, volume II 2 relembro que este plano não existe nem se encontra em elaboração 3 ver quadro n.º 1, apêndice B 4 idem
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 42 –
Este decreto vem também criar o gabinete técnico local (art. 37º a 40º), só mais tarde
regulamentado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 7/2000-A, de 10 de Fevereiro 1.
Quinze anos depois da publicação deste diploma, que se assumiu como suporte normativo
básico para a protecção do bem cultural inscrito pela UNESCO na Lista do Património Mundial, as
acrescidas recomendações e orientações que forma sendo realizadas pela UNESCO, obrigaram a
proceder-se à reforma daquele diploma de forma a torná-lo mais actualizado, objectivo e funcional.
Assim, o Decreto Legislativo Regional n.º29/99-A, de 31 de Julho 2, para além dessas
características:
vem traçar as linhas mestras básicas a que deve obedecer o futuro plano de salvaguarda e
valorização previsto para a zona classificada e respectiva área de protecção;
vem criar uma zona especial de protecção que integra zonas condicionadas;
elimina a maior parte das competências discricionárias do Secretário Regional da
Educação e Assuntos Sociais, por recurso à remissão para a regulamentação especifica no
plano de salvaguarda e valorização;
elimina conceitos gerais e indeterminados por vezes equívocos, quer pelo recurso à sua
extinção, quer pela sua explicitação.
As grandes alterações nos diferentes artigos dizem respeito à inclusão da definição de
“aspecto característico” que diz respeito a: “a) a forma, cor e inclinação dos telhados; b) os
materiais tradicionais de revestimento das fachadas e o tipo de telha empregue nas coberturas; c) a
forma, cor, material e desenho das caixilharias; d) a forma, cor, desenho e dimensão das aberturas
das fachadas; e) os níveis dos pavimentos; f) a relação entre espaços construídos e não
construídos, jardins, arvoredos, logradouros, praças e arruamentos calcetados”. (art. 4º, n.º3)
Por exemplo o n.º2 do artigo 24º referia que “(...) as sacadas (...) serão sempre dispostas nas
fachadas por forma a conferirem aos edifícios a harmonia e o equilíbrio que caracterizam as
construções tradicionais existentes”. Na nova redacção deste artigo é acrescentado: “(...) as
sacadas (...) serão sempre dispostas nas fachadas por forma a conferirem aos edifícios a harmonia
e o equilíbrio que caracterizam as construções tradicionais existentes, não podendo ser colocadas
acima do piso mais alto das preexistentes nas fachadas do troço do arruamento correspondente ao
lado do quarteirão onde se situa o edifício”.
1 anexo B9, volume II 2 anexo B8, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 43 –
Os artigos aditados estabelecem as características das áreas condicionadas, do plano de
salvaguarda e dos planos de alinhamentos.
1.2.4.3. REGULAMENTO DAS ÁREAS DE PROTECÇÃO
De acordo com o n.º3 do artigo 5º e artigo 18º do Decreto Regional n.º13/79-A, o Governo
Regional, através do Decreto Regulamentar Regional n.º8/97-A, de 14 de Abril 1, vem
normalizar a fixação de áreas envolventes de protecção aos imóveis classificados ou, caso não
sejam fixadas, estabelecer uma área de 100 metros contados a partir dos limites exteriores dos
imóveis (art. 1º).
Além disto, institui que “nas áreas de protecção não podem os proprietários ou detentores de
imóveis efectuar quaisquer obras de demolição, instalação, construção, reconstrução, criação ou
transformação, não podem ser autorizadas pelas Câmaras Municipais ou por outras entidades sem
parecer prévio favorável da Secretaria Regional da Educação e Assuntos Sociais” (art. 2º).
1.2.4.4. REGULAMENTO DE INCENTIVOS À RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO EDIFICADO
DA ZONA CLASSIFICADA
De acordo com o artigo 44º do Decreto Legislativo Regional n.º 15/84-A, de 13 de Abril, o
Governo Regional apresentou, cerca de 10 anos mais tarde, o tipo de apoios a conceder aos imóveis
inseridos no conjunto classificado de Angra do Heroísmo e respectiva zona de protecção: Decreto
Regulamentar Regional n.º 20/95-A, de 10 de Outubro 2.
O objectivo deste decreto é incentivar os proprietários a colaborar na recuperação,
conservação e correcção de anomalias dos bens. O quadro n.º2 em apêndice resume as disposições
do decreto, incluindo as alterações introduzidas pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 4/96-A,
de 13 de Fevereiro 3.
Este decreto foi revogado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 14/2000–A, de 23 de
Maio4 que estabeleceu um novo critério de atribuição de incentivos, baseado na assinatura de
contratos entre a Administração Regional e os detentores dos bens.
Os apoios a conceder revestem a forma de comparticipação financeira a fundo perdido e de
apoio técnico, com o objectivo de fomentar a qualidade técnica e artística das intervenções (art. 1º).
1 anexo B7, volume II 2 anexo B5, volume II 3 anexo B6, volume II 4 anexo B11, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 44 –
O quadro n.º3 em apêndice apresenta os novos valores de apoio financeiro
(artigos 2º a 12º). O apoio técnico reflecte-se na fase de elaboração dos projectos, em casos de
especial valor arquitectónico do bem a preservar ou de carência económica do proprietário, o qual
poderá acrescer aos apoios financeiros (art. 13º). Para esse efeito, considera-se a seguinte ordem de
prioridades:
1º imóveis cujos proprietários demonstram carência económica
2º pequenas intervenções para a correcção de dissonâncias arquitectónicas
3º imóveis pertencentes a entidades sem fins lucrativos ou de utilidade pública
4º edifícios de especial valor histórico ou arquitectónico.
Este diploma apresenta também as fases do processo de comparticipação desde o pedido até à
realização das intervenções e processamento da comparticipação (artigos 16º a 27º).
1.2.4.5. REGULAMENTO DE PROTECÇÃO AOS IMÓVEIS CLASSIFICADOS
No ano 2000 em consequência do elevado número de imóveis classificados, distribuídos por
todo o território da Região Autónoma dos Açores, da criação das respectivas áreas de protecção e
pela desactualização e ineficácia demonstrada pela regulamentação em vigor relativa ao exterior de
edifícios (Decreto Regional n.º20/79-A, de 25 de Agosto), este é revogado pelo Decreto
Legislativo Regional n.º11/2000-A, de 19 de Maio 1. Este Regulamento cria regras genéricas que
permitem salvaguardar os aspectos característicos das áreas de protecção aos imóveis classificados
ou em vias de classificação, garantindo desta forma a clarificação de regras e princípios a que ficam
sujeitas as intervenções nestas áreas.
PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO:
Todos os projectos devem ser obrigatoriamente subscritos por arquitectos (art. 2º);
As obras de simples conservação que não alterem o aspecto exterior dos imóveis não
necessitam de licença prévia, apenas devem ser comunicadas às entidades responsáveis
(art. 3º);
Os aspectos formais do conjunto edificado devem ser mantidos e apresentar características
estéticas e arquitectónicas equilibradas e integradas na tipologia geral do conjunto (art.4º).
REGRAS DE INTERVENÇÃO:
As demolições só podem ser autorizadas pela Câmara Municipal após parecer vinculativo
da Direcção Regional da Cultura e após o licenciamento da nova construção (art. 5º);
1 anexo B10, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 45 –
Não são permitidos andares recuados, as águas furtadas só são permitidas se não
provocarem desequilíbrios estéticos no imóvel e os logradouros devem ser mantidos e
valorizados (art. 6º);
As fachadas e os seus elementos característicos devem ser mantidos e respeitados e, no
caso de novas construções, estas devem harmonizar-se com o envolvente (art.7º);
Definem-se as características dos rebocos e do restauro de fachadas, telhados, janelas,
portas, caixilharias ou cores 1. Todos os elementos devem enquadrar-se no conjunto e
serem semelhantes ao original (art. 8º e 9º).
O equipamento e mobiliário urbano devem reger-se por desenhos tradicionais ou, caso
contrário, devem ser aprovados pelo secretário regional competente (art. 10º);
A aplicação de publicidade deve ser licenciada pela Câmara Municipal, segundo os
regulamentos em vigor (art.11º);
A aplicação de elementos de electrificação, TV e telefones que prejudiquem a estética dos
edifícios deve ser evitada, procurando-se soluções compatíveis e não visíveis (art. 12º);
As alterações de uso devem ser compatíveis com as características dos edifícios (art. 13º).
1.2.4.6. REGULAMENTO DE PUBLICIDADE
O Decreto Legislativo Regional n.º 29/99-A, de 31 de Julho, prevê no seu artigo 34º que as
regras de aplicação e configuração de toldos e anúncios devem ser estabelecidos no plano de
salvaguarda. Mas, uma vez que este ainda não se encontra em vigor, a Secretaria Regional de
Educação e Assuntos Sociais, através do Despacho Normativo n.º 83/2000 de 18 de Maio 2,
estabeleceu os critérios a que a publicidade na zona classificada deve obedecer:
Os materiais publicitários não devem cobrir excessivamente as fachadas dos imóveis (art.
1º) e devem ser elementos decorativos de carácter estético, individual e enriquecedor do
ambiente urbano (art.2º);
Define as características formais (n.º, colocação (art. 3º), localização (art.4º), cores
(art.5º), projecção e dimensões permitidas (art. 5º e 8º), materiais (art. 6º e 7º) e
iluminação (art. 9º a 11º) e de conteúdo (tipo de produtos que podem ser publicitados (art.
13º) e as características da informação (art. 12º) 3;
1 ver quadro n.º 4, apêndice B 2 anexo B12, volume II 3 ver quadro n.º5, apêndice B
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 46 –
No caso das farmácias, caixas multibanco e outros equipamentos ou instalações que
devem ser assinalados para fácil localização, cada anúncio deve ser aprovado pelo
GZCAH (art. 14º).
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 47 –
2. O CENTRO HISTÓRICO DE ÉVORA
Considerada cidade-museu, Évora viu o seu Centro Histórico ser inscrito pela UNESCO na
Lista do Património Mundial em 1986 sob os critérios culturais II e IV 1. Actualmente, a C. M.
Évora é vice-presidente da Organização das Cidades Património Mundial.
Através do Núcleo do Centro Histórico de Evora (NCHE), criado em 1983, a C. M. Èvora
conseguiu melhorar as condições de habitação, inverter a tendência de degradação do património e
tecido urbano e revitalizar as actividades terciárias, atraindo o investimento público e privado para a
reabilitação de edifícios degradados.
Em 1986, com a inscrição do Centro Histórico na Lista do Património Mundial, este gabinete
sofreu um acréscimo de responsabilidades ao nível do património dado que, para além da
implementação dos planos de ordenamento, a sua estratégia teve de ser também direccionada para a
elaboração de projectos, programas e regulamentos que fomentassem a preservação e recuperação
do património municipal e para a conciliação desta atitude com as transformações sociais e
económicas que a cidade sofreu. Estas alterações caracterizaram-se, essencialmente, por um
acréscimo do turismo e de outros serviços ligados a este sector, acompanhados por um aumento da
população, principalmente universitária, e da taxa de motorização.
Este crescimento acelerado da cidade não foi acompanhado por um aumento das verbas
dirigidas ao Centro Histórico, pois as necessidades de infraestruturas e equipamentos absorviam
grande parte do orçamento municipal.
No entanto, outros factores favoreceram o Centro Histórico como: a reabilitação das
actividades terciárias e do património através da aquisição de imóveis degradados por parte da
Administração central e da banca que os recuperaram; a melhoria das condições de habitabilidade
pela saída de alguns moradores que viviam em casas sobrelotadas e pela recuperação de muitos
imóveis (sobretudo das condições de salubridade) com recurso a programas municipais; a
revitalização económico-social favorecida pelo crescimento da universidade; e, a vivificação da
cidade em geral e do comércio e hotelaria em particular devido ao turismo cultural.
Assim, a autarquia, através do NCHE, foi obrigada a conciliar as questões associadas ao
crescimento da cidade com os imperativos da preservação do património, redefinido as suas
estratégias de actuação. Além disso, em 1997, o Centro Histórico foi considerada área critica de
1 ver página 13
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 48 –
recuperação e reconversão urbanistica, passando a ter um olhar mais atento das entidades
interessadas nos seu processo de reabilitação 1.
2.1 O NÚCLEO DO CENTRO HISTÓRICO
2.1.1. IDENTIFICAÇÃO
Núcleo do Centro Histórico de Évora (NCHE)
Direcção do gabinete: Arq. Nuno Lopes
Câmara Municipal de Évora
Praça do Sertório
7004-506 Évora Codex
Tel.: 266 704101 Site internet: http://www.cm-evora.pt
Fax: 266 702950
2.1.2.OBJECTIVOS
O NCHE é um gabinete para toda a cidade e não apenas para o Centro Histórico, apesar de as
suas acções se direccionarem principalmente para esta área. Assim, os seus objectivos são:
Pôr em prática as orientações dos diversos planos de ordenamento e gestão do território,
orientar e fiscalizar a concretização das orientações dos regulamentos municipais e
elaborar programas de apoio social e de reabilitação patrimonial;
Valorizar o património através da revitalização do tecido urbano, da utilização dos
espaços históricos desaproveitados, da criação de novos elementos simbólicos e da
integração do património na vivência da cidade;
Valorizar e criar espaços públicos que facilitem o encontro, convívio e as realizações
colectivas;
Delinear planos de recuperação, de circulação2 e de interligação com a cidade extramuros.
2.1.3. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO
A cidade de Évora dispõe de um Plano Estratégico elaborado pelo NCHE e acompanhado por
elementos da Câmara Municipal de Évora, do Centro Dramático de Évora, da Comissão de
1 ver anexo C1, volume II 2 anexo C2, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 49 –
Coordenação da Região do Alentejo, do Núcleo Empresarial da Região de Évora, da União dos
Sindicatos do Distrito de Évora e da Universidade de Évora.
Este plano estrutura-se num objectivo geral e quatro estratégias de intervenção, baseadas em
seis ideias fortes:
Ideias fortes:
_ Évora cidade cultural património da humanidade
_ Évora cidade universitária
_ Évora cidade aberta à inovação
_ Évora cidade com qualidade ambiental
_ Évora cidade solidária
_Évora cidade internacional e de congressos
Objectivo: “criar um ambiente de cultura e inovação capaz de transformar Évora numa
cidade socialmente justa, organicamente integrada na região e com projecção
internacional”.
Estratégias de intervenção:
1. reforçar os valores da identidade e pertença territorial através: do fomento do espirito de
cidadania e da componente relacional da vivência urbana; da redescoberta da cidade, na
sua história e vocação universitária; da promoção da imagem e das potencialidades da
cidade.
2. melhorar e valorizar a qualidade ambiental e as condições de vida através: da
globalização da qualidade do ambiente urbano; da valorização e recriação do património
edificado; do reforço da vida cultural e cientifica e da criatividade artística; da promoção
da solidariedade e da integração social.
3. criar uma base económica sustentada através: da qualificação e diversificação do perfil
das actividades económicas; do reforço das capacidades no domínio da educação, da
formação profissional e da ciência e tecnologia; da consolidação de redes de
equipamentos e serviços de apoio à actividade económica; da promoção da economia de
Évora nos mercados internacionais.
4. intensificar e qualificar os processos de integração em espaços mais vastos através do
reforço: dos laços existentes com a área envolvente; da cooperação interurbana com
centros vizinhos; das ligações ao espaço ibérico; dos níveis de abertura de Évora ao
mundo.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 50 –
A nível cultural, o Plano Estratégico tem como objectivos o estudo, a preservação, a
divulgação e animação do património local. Neste campo retomam-se algumas das estratégias
enunciadas anteriormente no plano estratégico da cidade, nomeadamente “redescobrir a cidade, a
sua história e vocação universitária” e “valorizar e recriar o património edificado”.
Relativamente ao primeiro, o NCHE considera ser importante alargar este objectivo a todo o
concelho, valorizando uma envolvente rural, através de incentivos à preservação de formas
tradicionais de arquitectura, conservação e valorização dos valores monumentais rurais, sem
esquecer a componente ambiental, defendendo assim valores de identidade que não se esgotam no
Centro Histórico de Évora.
Quanto ao segundo, para além da recuperação e revitalização dos valores monumentais e do
tecido urbano em geral, o NCHE considera não ser menos importante a defesa do património
imaterial, tanto de características eruditas como populares.
No que diz respeito, especificamente, à política de recuperação do Centro Histórico, há que
assinalar que a inscrição na Lista do Património Mundial desenvolveu a consciência do valor
patrimonial do centro e a importância da sua defesa. No entanto, esta realidade tem vindo a
enfraquecer pelo que o NCHE sente necessidade de promover campanhas de formação cívica, assim
como fomentar a formação em áreas profissionais ligadas à recuperação patrimonial e promover o
aparecimento de empresas neste sector.
Para além da concretização dos objectivos da sua criação e do plano estratégico, o NCHE tem
tentado pôr em prática uma série de outras acções :
A reivindicação de legislação que permita um normal funcionamento do mercado de
arrendamento, que, por sua vez, dê condições aos proprietários, principalmente aos mais
carenciados, para a execução de obras de conservação e maior poder de intervenção do
Município na área da preservação da património habitacional;
Maior controlo da mudança de uso dos edifícios anteriormente destinados à habitação.
A título de exemplo: nos grandes edifícios, de aquisição e reabilitação dispendiosa, irá ser
promovida a realização das obras através dos particulares que fomentem o fraccionamento
em vários fogos destinados à habitação, em vez de serem adquiridos e restaurados pelos
serviços da Administração ou pela banca, como acontece mais frequentemente neste
momento;
Maior abertura ao nível das inovações arquitectónicas, permitindo, sem provocar
rupturas com o existente, o aparecimento de “património moderno” e contrariando a
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 51 –
tendência para a sua “mumificação” verificada após a inscrição na Lista do Património
Mundial;
A estratégia de Praças e Largos, atribuindo vocações especificas a cada um, de acordo
com necessidades culturais, económicas, de convívio ou de lazer. Só após esta definição,
se procederá à elaboração dos projectos de pavimentos e mobiliário urbano adequados
à respectiva função;
A estratégia para os equipamentos culturais municipais, numa lógica de funcionamento
em rede e de complementaridade com equipamentos da responsabilidade de outras
entidades. Da mesma forma, assume-se que a cada equipamento seja cometida uma
função clara que permita uma gestão mais rentável de cada um e do conjunto dos
equipamentos.
Para além destas acções estratégicas está a ser promovido um programa de apoio aos
comerciantes do Centro Histórico de Évora: Projecto Especial de Urbanismo Comercial
“Revitalização do Centro Histórico de Évora” – EVORACOM.
Este projecto resulta de um acordo de candidatura conjunta da Câmara Municipal e da
Associação de Comercial ao programa PROCOM e tem como finalidade contribuir para a
modernização urbanística e comercial do Centro Histórico eborense.
Este projecto juntamente com a estratégia de reanimação de Praças e Largos, constituem
factores essenciais para a melhoria da imagem e condições de conforto e acessibilidade ao espaço
público do Centro Histórico, pois apontam fundamentalmente para três níveis de intervenção: a
redefinição funcional das praças, a consolidação e alargamento do processo de pedonização e a
modernização de alguns equipamentos e mobiliário urbano mais consonante com as exigências
estéticas e funcionais dos nossos dias.
Para o sucesso destas estratégias, a Câmara Municipal desenvolveu e/ou melhorou também
uma série de acções complementares noutros domínios: sistema de recolha de lixo, melhoria da
iluminação geral e cénica, enterramento das infraestruturas, regulamentação das cargas e descargas,
regulamentação da publicidade, alteração dos horários de funcionamento do comércio, melhoria do
atendimento público, entre outros.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 52 –
2.2. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS
2.2.1. OS PLANOS MUNICIPAIS ANTERIORES À CLASSIFICAÇÃO
O primeiro grande instrumento de planeamento e gestão de Évora data da realização do PDM,
elaborado em 1979, que definia objectivos urbanísticos para toda a cidade e enquadrava as
necessidades de intervenção no Centro Histórico, cujos objectivos eram: proteger e valorizar o
Centro Histórico, manter as actividades terciárias no centro e intensificar o uso do centro da cidade
pela população. Este PDM apontava também para a necessidade de elaboração de um plano
específico para o Centro Histórico e de outro para a circulação e transportes.
O Plano de Recuperação do Centro Histórico data de 1981 e estabelecia os seguintes
objectivos de intervenção:
Recuperar o tecido urbano intramuros;
Melhorar as condições de habitabilidade;
Preservar o património histórico-cultural;
Evitar o desalojamento e substituição da respectiva população;
Criar, simultaneamente, condições de revitalização económica, social e cultural;
Manter Évora com as funções de pólo regional.
No primeiro Plano de Circulação e Transportes de 1980, apresentavam-se os seguintes
objectivos:
Favorecer o acesso ao centro, melhorando os transportes públicos e criando áreas de
estacionamento periféricas;
Eliminar e evitar conflitos de circulação entre automóveis e peões, definindo áreas
proibidas ou condicionadas ao acesso automóvel, estabelecendo sentidos únicos de
trânsito e zonas reservadas a peões;
Impedir a circulação desordenada de automóveis, condicionando os acessos à cidade
intramuros;
Favorecer o funcionamento dos serviços básicos da cidade: recolha de lixos, bombeiros e
ambulâncias, segurança pública e abastecimentos;
Assegurar a ligação directa de transportes públicos ao centro e aos estabelecimentos
escolares mais importantes.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 53 –
Ao mesmo tempo que se elaborava o pedido de classificação à UNESCO, já a Câmara
Municipal procedia à aprovação de um novo PDM e de um Plano de Urbanização, ratificados em
1985, mas que viriam a ser revogados.
2.2.2. O PDM 1
Ratificado em 1993, o PDM de Évora aprovado pela Assembleia Municipal em 18 de
Outubro de 1991, alterou o PDM de 1985.
O prazo de vigência deste PDM, conforme o seu artigo 2º é de 12 anos, o que não contraria o
Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março, pois este apenas afirma que os PDM’s devem ser revistos de
10 em 10 anos, mas não obriga à sua revisão naquele prazo.
Uma das grandes alterações surge com a apresentação de uma série de definições
indispensáveis a um melhor entendimento e aplicação do plano (art. 4º).
O seu conteúdo estabelece as condicionantes urbanísticas e de construção quanto à ocupação
do solo, (art. 5º a 25º) e divide a cidade em 4 áreas de ordenamento: área envolvente da área urbana
de Évora (zona de transição com tendência para a concentração de construção urbana); área urbana
dos aglomerados da área rural (destinados à habitação e a equipamento complementar e compatível
com a habitação); área urbana de Évora (caracterizada por uma concentração de funções urbanas); e
outras áreas, nomeadamente a área de equipamento de turismo e lazer junto à Albufeira de Monte
Novo.
Interessa-nos, no entanto, analisar apenas a área urbana de Évora que é dividida em sete zonas
diferenciadas consoante a sua função: zona de habitação, zona de indústria, zona verde, zona de
equipamentos, zonas especiais e zona de urbanização não programada.
O Centro Histórico é uma Zona Especial e, como tal, os princípios e regras que o conteúdo do
PDM define são:
Obrigatoriedade de uma inventariação das edificações que integram o conjunto consoante
as suas características (art. 54º);
Actividades ou funções permitidas: habitação, comércio, serviços e equipamentos,
indústria e artesanato (art.55º), sendo interdita a instalação de novos estabelecimentos
comerciais em vias com largura inferior a 5 metros e a instalação de quaisquer armazéns,
oficinas ou indústrias;
1 anexo C3 volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 54 –
Compatibiliza o tipo de obras permitidas com cada categoria de imóvel inventariado
(artigos 56º e 57º) 1. No caso dos edifícios não classificados nem inventariados todas as
obras são permitidas.
Fornece indicadores para o planeamento e elaboração do plano de urbanização para o
Centro Histórico: é proibida a alteração do volume exterior da construção e das fachadas,
excepto nos casos previstos nos planos de pormenor ou se resultar de uma uniformização
da cércea; é interdita a demolição total ou parcial dos elementos estruturais ou decorativos
a preservar; a cércea e alturas estabelecidas não podem ser ultrapassadas; os materiais,
cores, elementos decorativos, montras e publicidade com carácter permanente serão
definidos em regulamento próprio.
Pode-se, portanto, concluir que o PDM de Évora está em conformidade com a legislação
vigente, pois define e estabelece os princípios e regras da ocupação, uso e transformação do solo,
fornece indicadores para o planeamento e elaboração de outros planos municipais, distribuindo as
actividades económicas e funções e estabelecendo a estrutura espacial e condicionantes para o
território, e determina orientações e soluções adequadas no âmbito da política de habitação.
O único aspecto que não está em conformidade diz respeito ao conteúdo do n.º4 do artigo 54º
que admite excepções às regras e princípios já referidos se estiverem normalizados no Plano de
Valorização do Centro Histórico. Como este último não existe, não poderão ser admitidas quaisquer
excepções.
2.2.3. O PLANO DE URBANIZAÇÃO 2
O Plano de Urbanização de Évora (PUE), elaborado em 1985 em simultâneo com o PDM já
revogado, foi também alvo recente de uma revisão profunda de modo a cumprir a obrigatoriedade
da sua existência expressa no n.º2 do artigo 27º do PDM.
Publicado no Diário da República n.º 74, I Série-B, de 28 de Março de 2000, tem como
objectivo estabelecer as regras a que devem obedecer a ocupação, uso e transformação do solo da
cidade de Évora e do Espaço Agrícola Envolvente da cidade e tem um período máximo de vigência
de 10 anos após a sua entrada em vigor (art. 120º).
Os elementos que o compõem (art. 2º) estão em conformidade com o novo regime jurídico do
ordenamento do território e do urbanismo.
1 ver quadro n.º 6, apêndice B 2 anexo C4, volume III
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 55 –
Relativamente ao Centro Histórico de Évora, este é considerado como um “Grande Conjunto
de Valor Patrimonial” (art. 6º, nº2, al. a) e, como se encontra classificado, deve ser salvaguardado e
valorizado em todas as intervenções a efectuar na cidade, entendendo-se como tal, preservar o
carácter e os elementos que constituem a sua imagem, adaptando-os á vida contemporânea e ter em
conta o condicionamento das transformações do seu espaço envolvente (art. 7º).
O artigo 8º refere-se ao Centro Histórico como constituindo “o elemento primordial de
estruturação, caracterização e identificação da cidade de Évora”, que está sujeito a regras
específicas de urbanismo constantes de disposições legais próprias e em conformidade com o PDM
e que é objecto de programas específicos de salvaguarda e valorização. Estes serão objecto de
análise mais adiante.
REGRAS URBANISTICAS ESPECIFICAS
Manutenção obrigatória da plurifuncionalidade (habitação, serviços, comércio, hotelaria e
indústria artesanal) (art. 62º em conformidade com o art. 55º, n.º1 do PDM);
Alterações ao uso (art. 63º): não é permitida a alteração de uso de habitação para outros
fins, de modo a contrariar a regressão da função habitacional, excepto no r/c das ruas
comerciais e não será permitida a mudança de uso de locais de estacionamento privado,
excepto em áreas exclusivamente pedonais;
É interdita a instalação de comércio grossista e indústria incompatível com a habitação
(art. 64º em conformidade com o artigo 34º do PDM);
Realização de obras (secção 3, Cap. III):
_ deverão compatibilizar a salvaguarda e valorização do património com as boas condições
de habitabilidade (art. 66º);
_ as obras de conservação não estão sujeitas a qualquer condicionamento especial (art.67º);
_ as obras de alteração ou ampliação: deverão manter os alinhamentos, não aumentar o
volume total dos edifícios e não diminuir o espaço do logradouro, salvo se os edifícios
contíguos apresentarem características diferentes (art.68º); só serão permitidas demolições
parciais se o edifício prejudicar o conjunto ou impedir vistas que importa valorizar ou se
for necessário para o dotar de boas condições de habitabilidade (art.68º, n.º3); as fachadas
e edifícios classificados deverão ser preservados, excepto se as obras não puserem em
causa o traçado e o perfil do conjunto ou apresentem estado de ruína tal que obrigue à sua
reconstrução (artigos 14º, 15º e n.º5 do art. 68º), assim como os volumes preexistentes e os
elementos estruturais e decorativos de valor dos edifícios não classificados (art.68º, n.º6);
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 56 –
_ as obras de reconstrução deverão manter os alinhamentos e volume total dos edifícios;
prever os estacionamentos privados, salvo se for incompatível com a defesa do património;
e, dar cumprimento às leis e regulamentos de construção (art. 69º);
_ não serão permitidas obras novas fora dos locais definidos na planta de zonamento
referentes às áreas edificáveis. Estas não incluem o Centro Histórico. (art.70º).
Acabamentos exteriores (secção 4, cap. III): são definidos os materiais permitidos nas
coberturas (art. 73º), o tipo e cores de revestimento permitidos (art.74º), as cores e
materiais das caixilharias permitidas (art.75º) e os locais onde devem ser instalados
equipamentos técnicos como antenas, ar condicionado ou painéis de energia solar
(art.76º)1.
2.2.4. PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
Não existe nem está em fase de elaboração um Plano de Salvaguarda e Valorização para o
Centro Histórico de Évora. No entanto, como já foi referido e analisado, existe um Plano
Estratégico para a Cidade que inclui disposições especificas para a salvaguarda e valorização do
património cultural.
2.2.5. PROGRAMAS E REGULAMENTOS ESPECÍFICOS
Conforme o disposto no n.º 3 do artigo 8º do PUE, o “Centro Histórico deverá ser objecto de
programas específicos de salvaguarda e valorização” e, o artigo 67º do PDM e n.º 2 do artigo 3º do
PUE remetem para a necessidade da existência de regulamentos específicos de intervenção no
Centro Histórico.
Os Programas têm como objectivo incentivar os proprietários ou inquilinos a efectuar obras
de conservação e a respeitar as características do conjunto, não contribuindo deste modo para a
desvalorização ou descaracterização patrimonial.
2.2.5.1. PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO DE FOGOS
O regulamento do Programa de Recuperação de Fogos 2 estabelece as condições de
candidatura, privilegiando os mais carenciados e os edifícios mais degradados. Através deste
1 ver quadros n.º7 e n.º8, apêndice B 2 anexo C5, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 57 –
programa financiam-se apenas obras de conservação e de beneficiação 1, com prioridade para as
coberturas e instalações sanitárias.
As características das obras e dos materiais a utilizar são definidas em capítulo próprio e estão
em conformidade com o PDM e com o PUE.
Ainda relativamente a esta matéria, a C.M. Évora lançou mais dois programas: o Programa
da Casa Caiada que permite, em qualquer momento, através do apoio do Município que se
realizem caiações para conservação e embelezamento das fachadas e, o Programa de Reabilitação
de Caixilharias em Madeira 2, de modo a substituir materiais menos nobres e menos próprios por
madeira.
Estes programas têm mais uma vez em conta as carências habitacionais e económicas da
população, privilegiando mais ou menos consoante os salários dos candidatos e as rendas a pagar
nos casos dos candidatos inquilinos.
2.2.5.2. REGULAMENTOS E PROGRAMAS DE EQUIPAMENTOS TÉCNICOS
No Regulamento Municipal das Edificações Urbanas, no qual se dá um tratamento especial ao
Centro Histórico, definem-se outras normas urbanísticas a adoptar relativas aos meios e suportes
publicitários 3 e à instalação de aparelhos de ar condicionado e painéis de energia solar (de igual
forma regulamentados no PUE), estabelecendo-se as cores, modelos, dimensões, localização e
materiais permitidos.
Actualmente, a C. M. Évora, com o objectivo de eliminar as antenas de televisão que
descaracterizam os telhados do Centro Histórico e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de
recepção do sinal de televisão, lançou um sistema que financia a instalação de TV por cabo no
Centro Histórico.
Este sistema, pelo seu carácter inovador, obteve pareceres favoráveis ao seu desenvolvimento,
entre os quais o do ICOMOS e o da RTP.
1 ver quadro n.º9, apêndice B 2 ver quadro n.º10, apêndice B e anexo C6, volume II 3 ver quadro n.º11, apêndice B
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 58 –
2.2.5.3. REGULAMENTO DE OCUPAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS COM ESPLANADAS 1
Devido à intensa vida comunitária do Centro Histórico, a C.M. Évora aprovou este
regulamento com o intuito de disciplinar e melhorar as condições de uso e ocupação das vias
públicas.
O Regulamento de ocupação da via pública com esplanadas dispõe sobre as condições de
licenciamento, ocupação e utilização da via pública. A licença é obrigatória, é válida por 1 ano e
tem como critérios a salvaguarda dos equilíbrios ambiental, urbanístico, arquitectónico e estético, a
garantia de fluidez do tráfego de viaturas e peões e a garantia de defesa dos legítimos interesses de
terceiros.
O regulamento define também quais as características das esplanadas permitidas relativas à
sua localização, limites à instalação, tipo de mobiliário e suas características 2, deveres dos seus
detentores e contra-ordenações previstas.
1 anexo C7, volume II 2 ver quadro n.º12, apêndice B
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 59 –
3. CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA
Sintra é Património Cultural na categoria de Paisagem Cultural e a área classificada inclui o
Parque e palácio da Pena, o Parque e palácio de Monserrate, as manchas florestais da serra, o
Palácio Nacional de Sintra, o Chalet da condessa d’Edla, a Quinta da Penha Verde, o Palácio das
Ribafrias e a Vila Velha de Sintra 1.
Proposta em 1992, foi inscrita na Lista do Património Mundial em 1995, segundo os
critérios culturais II, IV e V 2.
3.1. O PROJECTO DO CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA
3.1.1. IDENTIFICAÇÃO
Projecto do Centro Histórico de Sintra (PCHS)
Direcção do Projecto: Arq.to
Nuno Serrano
Rua Dr. Almada Guerra, n.º3
2710 Sintra
Tel.: 21 9247161 e-mail: [email protected]
Fax: 21 9238563
3.1.2. CONCEITO E OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS
O PCHS tem subjacente um conceito integrado pluridisciplinar em que o social, o económico
e o cultural são indissociáveis do património construído e tem como objectivos preservar,
conservar, renovar, requalificar e valorizar a riqueza cultural e natural do Centro Histórico.
Para a sua concretização o PCHS prossegue uma política de recuperação física e ambiental,
valorizando e requalificando os espaços públicos urbanos, os edifícios, os pavimentos, a iluminação
urbana e ambiental, a circulação viária e pedonal e as actividades tradicionais e comerciais. Todas
estas acções encontram-se definidas no Programa de Reabilitação e Valorização do Centro
Histórico.
A estratégia do PCHS fundamenta-se.
na requalificação da imagem do Centro Histórico de uma forma integrada, viabilizando a
sua valorização, realçando a sua riqueza cultural, histórica e paisagística;
1 ver plantas n.º1 n.º2, apêndice C 2 ver página 13
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 60 –
em proporcionar uma melhoria das condições de vida da população, habitabilidade e
salubridade das edificações, e fruição dos espaços públicos;
melhoria da rede de transportes, acessibilidades e estacionamento;
revitalização das actividades económicas, sociais e culturais;
beneficiação e requalificação da oferta turística.
De modo a colmatar todas as lacunas existentes no centro histórico a nível social e
habitacional, o governo decretou em 1995 o centro histórico como área critica de recuperação e
reconversão urbanistica, concedendo à Câmara Municipal de Sintra o direito de preferência nas
transmissões entre particulares, a título oneroso, de terrenos ou edificios situados nesta área, durante
3 anos 1.
3.2. REGULAMENTOS MUNICIPAIS
3.2.1. PDM 2
O PDM de Sintra foi aprovado pela Assembleia Municipal em 1998 e foi iniciado o seu
processo de ratificação que terminou em 1999, tendo sido cumpridas todas as formalidades
dispostas no Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março. Como elementos constitutivos do PDM
encontramos o Regulamento, a planta de ordenamento e a planta de condicionantes, essencial para a
gestão e protecção do Centro Histórico.
Para além de incluir as definições indispensáveis a um melhor enquadramento e aplicação do
regulamento (art. 2º), o PDM define também uma série de objectivos gerais. Relativamente ao
Centro Histórico aplicam-se a salvaguarda e valorização do património cultural, a articulação com
outros planos de ordenamento, a promoção da reabilitação urbanística e a definição de princípios e
regras para a ocupação, uso e transformação do solo, entre outros (art. 3º).
Como disposições especificas referentes aos condicionamentos decorrentes do regime de
protecção ao património edificado, o PDM remete para a Lei de Bases do Património, para o RGEU
e para o Decreto-Lei n.º 205/88 a regulamentação dos MN, I.I.P., V.C. e estabelecimento das
respectivas zonas de protecção e zonas non aedificandi (art. 9º).
O regime de administração urbanistica dos espaços dispõe para o Centro Histórico:
1 anexo D1, volume II 2 anexo D2, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 61 –
enquanto espaço urbano (art. 25º): a recuperação, renovação ou reconversão das áreas
degradadas, a resolução de problemas habitacionais e o respeito pelas características e
especificidades que conferem identidade própria ao Centro Histórico são remetidas para “os
respectivos instrumentos de planeamento previstos no Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de
Março”;
enquanto espaço de protecção e enquadramento (art. 33º): é privilegiada a protecção dos
recursos naturais ou culturais e “(...) não podem ser autorizadas nem previstas acções que
destruam os elementos de valorização cénica ou alterem formas de relevo”.
Os princípios (artigos 56º a 59º) e regras (artigos 81º a 86º) delineados para a protecção do
património histórico são:
a imagem global do conjunto deve ser salvaguardada, incluindo as suas características
morfológicas (estrutura, tipologias, cores, materiais, ritmos e dimensões);
privilegia-se o seu uso habitacional compatibilizado com as actividades tradicionais;
obras permitidas: restauro, conservação, consolidação, adaptação, reconstrução (quando se
trate de edificios desaparecidos e esteja comprovada a sua preexistência), demolição
(quando se trate de acrescentos sem interesse para o faseamento histórico do edificio), de
reestruturação (não podendo alterar o envolvente da edificação original), de
infraestruturação, equipamento e mobiliário urbano, arborização e ajardinamento.
deve ser flexível, de modo “a manter vivo o tecido urbano e para atender às necessárias
evoluções quando assimiladamente correctas”;
devem ser realizados catálogos, programas, projectos e planos que especifiquem condições,
regras e principios que assegurem a protecção.
O PDM de Sintra prevê, no seu artigo 91º, incentivos aos “processos de reabilitação de
edificios patrimoniais considerados em inventário municipal, de edificios de interesse
arquitectónico singular e nas actuações de reabilitação de edificios degradados em meio urbano”,
traduzido em admitir um acréscimo até 20% aos parâmetros urbanisticos nas operações de
edificabilidade.
3.2.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO 1
O plano de urbanização de Sintra foi ratificado em 16 de Maio de 1996 e mantém-se em vigor
segundo o artigo 89º, n.º6 do PDM.
1 anexo D3, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 62 –
Este plano divide a área abrangida em oito zonas, sendo o Centro Histórico incluído na “zona
muito densa de construção antiga”. Para esta zona o regulamento dispõe o seguinte:
usos (art.4º e 5º): são permitidas habitações, serviços de restauração e comércio tradicional e
manual; é proibido instalar qualquer estabelecimento industrial, grandes depósitos ou
armazéns;
são proibidos aumentos de densidade quer em superficie quer em altura (art. 1º/B);
apenas são permitidas reconstruções ou alterações cujo fim seja o de melhorar ou sanear as
construções (art. 2º/B) e, no caso de reconstrução a altura do prédio não deve ultrapassar a
actual (art. 3º/B).
3.2.3. O PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
Não existe um plano de salvaguarda e valorização elaborado para o Centro Histórico de
Sintra. No entanto, o quadro de intervenção no Centro Histórico encontra-se definido no Programa
Integrado de Reabilitação e Valorização desta área e é complementado por instrumentos especificos
de regulamentação: PDM, Plano de Urbanização, Regulamento das Calçadas e Elucidário
Arquitectónico-Construtivo.
3.2.4. PROGRAMAS E REGULAMENTOS ESPECÍFICOS
3.2.4.1 PROGRAMA INTEGRADO DE REABILITAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE
SINTRA
Este Programa é composto por 12 capítulos referentes a cada área especifica e o seu quadro de
intervenção divide-se em:
A) PLANO DE SEGURANÇA DO CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA
Este plano apresenta as características das tipologias de construção e avalia o risco em zonas
de desenvolvimento diferenciado, analisando a rede viária, cartografia de incêndios e uma rede de
unidades fixas e móveis de intervenção.
B) PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE IMÓVEIS ARRENDADOS (RECRIA E REHABITA)
Com o objectivo de inverter a degradação do parque habitacional arrendado e proporcionar
melhores condições aos inquilinos, o Municipio aderiu como muitos outros ao Programa RECRIA.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 63 –
Em fase de estudo e lançamento encontra-se o Programa REHABITA, exclusivamente aplicável a
núcleos históricos declarados áreas criticas de recuperação e reconversão urbanistica.
C) PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO E CORRECÇÃO DE IMÓVEIS (CORESINTRA) 1
Um dos objectivos prioritários do Municipio é lançar programas de conservação, beneficiação
e correcção de edificios antigos, municipais e privados, que complementem os programas RECRIA
e REHABITA. Para os edificios não municipais a C.M. Sintra lançou o programa CORESINTRA
com o objectivo de intervir nos exteriores dos imóveis do Centro Histórico, restituindo-os à sua
linguagem arquitectónica original. Além disso, este programa visa beneficiar e corrigir os interiores
dos edifícios, melhorando a sua resposta às actuais exigências funcionais.
D) PROGRAMA PARA A REQUALIFICAÇÃO DO COMÉRCIO (PROCOM)
Este programa tem como objectivo incentivar e promover o comércio, dinamizando-o,
requalificando-o e articulando-o com as actividades patrimoniais e, ao mesmo tempo, atrair para o
Centro Histórico algumas actividades tradicionais da região, apostando na qualidade e
especialização das mesmas. Preconiza também a modernização do comércio, articulando as
iniciativas municipais com as intenções dos comerciantes.
E) PROGRAMA DE INTERVENÇÃO NOS ESPAÇOS PÚBLICOS
Com este programa o Municipio pretende conservar e valorizar os espaços exteriores da
cidade, facilitando o repouso e as actividades lúdicas e melhorando a funcionalidade dos espaço
públicos. Para tal, investe na sua recuperação, restauro e requalificação, dotando-os de mobiliário
urbano adequado. Ligado a este programa está a reformulação do sistema de recolha de lixo.
F) PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DOS PAVIMENTOS DE SINTRA
Este programa tem como objectivo a recuperação e reabilitação dos antigos pavimentos que
ajudam a referenciar o tecido urbano antigo do Centro Histórico. Para isso, foi elaborado o
Regulamento das obras nas calçadas (ponto 3.2.5.1.) e realizam-se várias acções de reposição e
conservação de calçadas no núcleo histórico e áreas envolventes.
1 anexo D4, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 64 –
G) PROGRAMA DE ILUMINAÇÃO URBANA E AMBIENTAL
Este programa define estratégias e intenções, ao nível do ordenamento visual, combatendo
soluções individuais e respeitando as características dos espaços e dos edificios.
H) PROGRAMA DE SINALÉCTICA E PUBLICIDADE
Pretende equacionar a publicidade, pública e privada, valorizando os espaços e combatendo
soluções individuais. Deste modo, foram definidas estratégias de ordenamento visual que valorizam
o peão e a progressiva pedonização do Centro Histórico. Além disso, visa a regulamentação da
publicidade, articulando-a com as exigências patrimoniais e com as especificidades do Centro
Histórico, nomeadamente com as linguagens arquitectónicas dos edificios.
I) PLANO INTEGRADO DE TRANSPORTES, CIRCULAÇÃO E ESTACIONAMENTO
Com este plano o Município pretende reestruturar a rede viária, privilegiando o peão e
condicionando a circulação viária no núcleo central da vila.
Para isso, propõe parques de estacionamento no interior e na periferia do Centro Histórico,
servidos por uma rede de transportes públicos, aliado a um sistema de estacionamento rotativo
servido por parcómetros. Pretende-se também incentivar o uso de transportes alternativos.
J) PLANO INTEGRADO DE REABILITAÇÃO DE INFRAESTRUTURAS
Os objectivos deste plano prendem-se com a remodelação das redes de abastecimento de água
e drenagem de esgotos, quer pluviais quer domésticos; com a reestruturação das redes de
telecomunicações e de abastecimento de energia eléctrica, passando-as de aéreas para subterrâneas,
assim como operar a distribuição de gás natural; e, incrementar a procura de soluções colectivas no
caso das antenas, dotando o Centro Histórico de TV por cabo.
K) PROGRAMA TURISTICO-CULTURAL
A implementação deste plano pretende criar, definir e desenvolver o chamado turismo
cultural. Para isso, procura-se intervir ao nível da animação de rua, com cortejos, feiras temáticas,
recriações históricas, circuitos, passeios e visitas guiadas ao Centro Histórico e aos seus
monumentos.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 65 –
L) PROGRAMA DE FORMAÇÃO, SENSIBILIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO
Com este programa pretende-se o incentivo à participação activa da população, assim como
um conhecimento mais eficaz e profundo das acções desenvolvidas pelo Municipio. Algumas das
acções a desenvolver prendem-se com a produção de vídeos promocionais sobre Sintra, edição e/ou
reedição de livros e publicações temáticas sobre o Centro Histórico, entre outros.
3.2.4.2. REGULAMENTO DAS OBRAS EM CALÇADAS 1
Aprovado em 1987 pela Assembleia Municipal, o Regulamento das Calçadas tem como
objectivo defender os revestimentos de pavimento em calçada de pedra local, cubos de calcário,
cubos de granito e valetas calçadas dos espaços públicos do Centro Histórico de Sintra e
regulamentar a intervenção tanto das entidades públicos como dos particulares.
O regulamento dispõe acerca de:
dos trabalhos em infraestruturas enterradas, obrigando ao levantamento da calçada, ao seu
armazenamento de forma classificada em depósito próprio ou municipal e à reposição
integral dos antigos materiais de revestimento superficial;
do restauro, conservação e impermeabilização dos pavimentos 2;
das alterações e ocupação dos pavimentos 3;
e das penalidades.
3.2.4.3. ELUCIDÁRIO ARQUITECTÓNICO-CONSTRUTIVO PARA O CENTRO HISTÓRICO DE SINTRA 4
Neste elucidário definem-se as linguagens arquitectónicas existentes em Sintra e localizam-se
geograficamente em planta a generalidade dos edifícios mais significativos dessas linguagens.
Além disso, apresenta uma regulamentação, aplicável à generalidade dos edifícios existentes
no Centro Histórico, que dispõe sobre o que não se deve fazer e o que se deve preservar.
a) o que não se deve fazer:
demolir ou alterar os edifícios, sem projecto devidamente aprovado pela Câmara Municipal;
realizar obras de conservação sem a devida isenção de licença;
substituir janelas, portas e gradeamentos;
fechar janelas com marquises,
1 anexo D5, volume II 2 ver quadro n.º13, apêndice B 3 ver quadro n.º14, apêndice B 4 anexo D6, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 66 –
colocar estores plásticos;
alterar a estrutura original do edificio, assim como a forma, volume, materiais e cores 1 das
coberturas e remates;
modificar o ritmo, as cores 1 e materiais dos vão e caixilharias;
pintar e limpar cantarias ou elementos de pedra com produtos corrosivos;
retirar elementos decorativos e de composição das fachadas;
colocar estendais ou aparelhos de ar condicionado no exterior do edificio;
rebocar exteriores e interiores com argamassa diferente do original;
utilizar revestimentos nas fachadas do tipo tirolês, mosaico, mármore, rocha ornamental,
chapa ondulada, azulejos e materiais reflectores;
alterar as cores originais dos edificios.
b) o que se deve preservar:
a cércea e os alinhamentos existentes;
o arranjo de espaços exteriores;
as características formais, volumétricas e altimétricas dos edificios;
a tipologia original do edificio;
caixas de correio, puxadores, números de porta, tabuletas e campainhas ,os materiais de
construção, cores e tipos de tinta, rebocos e argamassas originais;
cimalhas, beirados, duplo-beirado, platibandas, cunhais, pilastras, socos, molduras,
gradeamentos em ferro forjado e fundido, caixilharias e portadas interiores, algerozes e
tubos de queda em zinco.
No entanto, a variedade de tipos arquitectónicos e seus derivados existentes impedem que a
regulamentação genérica seja eficaz ao pormenor, arriscando-se a ser superficial ou inoperante. Por
isso, como já foi referido, o Elucidário vem identificar os tipos arquitectónicos dominantes e as suas
zonas e áreas de influência com os objectivos de:
conservar ou repor as linguagens arquitectónicas originais;
assumir e conservar a coexistência de tipos arquitectónicos;
possibilitar a classificação de valores notáveis do património cultural edificado do Centro
Histórico.
1 ver quadro n.º 15, apêndice B
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 67 –
3.2.4.4. REGULAMENTO DE OCUPAÇÃO DA VIA PÚBLICA, MOBILIÁRIO URBANO E DA PUBLICIDADE
NO MUNICÍPIO DE SINTRA 1
Este regulamento vem reunir num único documento a disciplina jurídica de todas as
actividades desenvolvidas na via pública, até ao momento dispersas em outros regulamentos
revogados no seu artigo 193º: o regulamento de publicidade e propaganda não política e sindical, o
regulamento de exploração e utilização de quiosques municipais, a postura municipal de ocupação
do espaço público e a postura municipal sobre toldos, alpendres, letreiros, cartazes e outros
reclamos e o ponto 4.1.4. do Elucidário Arquitectónico-Construtivo para o Centro Histórico de
Sintra..
Numa primeira parte são enumeradas as actividades permitidas e respectivos requisitos. A
segunda parte disciplina o procedimento apto à obtenção de autorização para desempenho das
actividades a desenvolver no espaço público, excluindo a sinalização viária e a propaganda política
e sindical (art. 4º).
Os princípios orientadores que definem os critérios de localização, instalação e adequação dos
diferentes tipos de mobiliário e publicidade dizem respeito a :
“a) salvaguarda da segurança e integridade das pessoas e bens, nomeadamente nas
condições de circulação e acessibilidade, pedonal e rodoviária;
b) preservação e valorização dos espaços públicos;
c) preservação e valorização dos imóveis classificados e em vias de classificação, dos
núcleos de interesse histórico, bem como de todas as áreas protegidas patrimonialmente;
d) salvaguarda do equilibrio ambiental e estético.” (art. 37º, n.º1)
É interdita a ocupação do espaço público com equipamento urbano, mobiliário urbano ou
suportes publicitários (art. 12º, n.6) sempre que:
prejudique ou contribua para a degradação da qualidade dos espaços públicos;
impeça, restrinja ou interfira negativamente no funcionamento das actividades urbanas ou
na fruição dessas actividades por parte dos utentes;
contribua para o mau estado de conservação e salubridade dos espaços públicos;
contribua para a descaracterização da imagem e da identidade dos valores urbanos, naturais
ou construídos (art. 39º);
prejudique a segurança de pessoas ou bens na circulação viária ou pedonal (art.38º);
1 anexo D7, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 68 –
prejudique ou possa contribuir para a degradação das áreas verdes (art. 40º);
afectem a estética e o ambiente dos lugares ou da paisagem, ou causem danos a terceiros
(art. 41º).
Em capítulos próprios são apresentadas as condições técnicas específicas e as formalidades
referentes ao licenciamento do mobiliário urbano (título V) e de suportes publicitários (título VI) 1.
Este Regulamento apresenta também, em capítulo próprio (Capítulo VII) as regras
especificas2 para a área abrangida pelo Plano de Urbanização de Sintra (a qual se encontra sobre
jurisdição do Municipio de Sintra, através do Projecto de Recuperação de Centros Históricos) e as
penalidades e coimas atribuídas às infracções (capítulo VIII).
3.2.4.5. PROGRAMAS DE APOIO
Para além de todos os programas de apoio referidos até ao momento (RECRIA, REHABITA
e CORESINTRA), a população de Sintra conta ainda com mais dois: o regime especial de
comparticipação na recuperação de imóveis de propriedade horizontal (RECRIPH) e o programa de
apoio financeiro para a realização de obras de conservação e de beneficiação em habitação própria
permanente (SOLARH).
O primeiro tem como objectivo apoiar a recuperação de prédios urbanos em regime de
propriedade horizontal, mediante a concessão de uma comparticipação financeira (20% do montante
das obras a realizar acrescido em 10% para obras de adequação dos fogos contra riscos de
incêndios), a fundo perdido, para obras de conservação nas partes comuns dos prédios, construídos
até à data da entrada em vigor do RGEU em 1951 ou, após essa data, cuja licença de utilização
tenha sido emitida até 1/1970.
Os condóminos só têm acesso a este regime se os edificios em propriedade horizontal
reunirem as seguintes condições: serem fracções autónomas do prédio destinadas a habitação
própria e permanente ou estarem arrendadas para fins habitacionais e o respectivo prédio ser
composto por, pelo menos, 4 fracções.
O segundo regime destina-se às famílias carenciadas que sejam proprietárias da sua habitação
há, pelo menos, 5 anos, que não sejam proprietárias de outra fracção ou prédio de habitação em
quota superior a 25% nem deles recebam rendimentos, que não tenham empréstimos em curso para
obras nem o rendimento ultrapasse os montantes definidos no regulamento. Podem também
1 ver quadros n.º 16 e n.º 17, apêndice B 2 ver quadro n.º 18, apêndice B
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 69 –
beneficiar do SOLARH os proprietários individuais (qualquer que seja o seu rendimento) de fogos
antigos desocupados e que careçam de obras para serem arrendados. Este apoio é extensível aos
fogos desocupados em prédios apoiados pelo RECRIA.
Este regime visa acima de tudo lutar contra a insalubridade e insegurança que os fogos
desocupados podem originar.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 70 –
4. O CENTRO HISTÓRICO DO PORTO
O Centro Histórico do Porto foi inscrito na Lista do Património Mundial em 1996 com
base no critério cultural IV 1.
Assim sendo, a UNESCO obriga, para que a classificação se mantenha, à adopção de medidas
que mantenham a autenticidade das características que deram origem a esta classificação.
Perante isto, a Câmara Municipal do Porto, através do PM-CRUARB, leva a cabo medidas e
implementa regulamentos específicos para a área classificada e protegida.
A preocupação de salvaguarda das características dominantes na cidade é anterior à
classificação. Este aspecto reflecte-se, não só no PDM’93 como também nos objectivos, estratégia e
regulamentos elaborados pelo PM-CRUARB, referentes à zona histórica da cidade. Todos os
regulamentos e critérios de intervenção visam, sobretudo, a manutenção das características
arquitectónicas e sociais e a percepção dos elementos visuais que valorizam o Centro Histórico e a
integração do contexto social no trabalho de recuperação.
4.1. O PROCESSO DE CANDIDATURA E A CLASSIFICAÇÃO
O processo de candidatura do Centro Histórico do Porto à inscrição na Lista do Património
Mundial foi elaborado e publicado em 1993.
No ano seguinte, o Centro Histórico recebe a visita do director do Comité do Património
Mundial, acompanhado por um grupo interministerial da UNESCO.
Em Abril de 1996, o Prof. Arq. Álvaro Ferrer Bayo do ICOMOS visita o Centro Histórico
para informar o processo de candidatura à UNESCO e, em Junho, o Bureau do Património Mundial
da UNESCO reúne e expressa, por unanimidade, parecer técnico favorável à classificação do
Centro Histórico do Porto como Património da Humanidade.
A 5 de Dezembro é deliberada a passagem do Centro Histórico a Património Mundial com
base, como já referi, no critério cultural IV.
Em 1998 é editado o II volume do Processo de Candidatura do Centro Histórico do Porto a
Património da Humanidade.
1 ver página 13 e planta n.º 4, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 71 –
4.2. O PROJECTO MUNICIPAL PARA A RENOVAÇÃO URBANA DO CENTRO
HISTÓRICO DO PORTO
4.2.1. IDENTIFICAÇÃO
Projecto Municipal para a Renovação Urbana do Centro Histórico do Porto (CRUARB)
Direcção do Projecto: Arq. Rui Ramos Loza
Rua da Fonte Taurina, n.º14-22
4050-029 Porto
Tel.: 22 3395500
Fax: 22 3395501
4.2.2. ESTATUTO LEGAL
O Comissariado para a Renovação Urbana da Área Ribeira-Barredo (CRUARB) foi criado
por Despacho conjunto dos Ministérios da Administração Interna e do Equipamento Social e do
Ambiente, de 28 de Setembro de 1974, nos termos do Decreto-Lei 315/74, de 9 de Julho.
Em 28 de Novembro de 1985, por deliberação do Executivo da Câmara Municipal do Porto e
de acordo com o disposto no artigo 3º, al. c) do Decreto-Lei 116/84, de 6 de Abril, passou o
Comissariado a constituir-se como Projecto Municipal para a Renovação do Centro Histórico do
Porto, deliberação que foi homologada pela Assembleia Municipal do Porto em 18 de Dezembro de
1985.
4.2.3. SINOPSE HISTÓRICA
A 28 de Setembro de 1974, por Despacho conjunto dos Ministérios da Administração Interna
e do Equipamento Social e do Ambiente é criado o Comissariado para a Renovação Urbana da Área
Ribeira-Barredo. A criação deste Comissariado surgiu da necessidade urgente de resolver o
problema de realojamento reivindicado pelas comissões e associações de moradores da Ribeira e do
Barredo, ou seja, no âmbito das políticas de habitação.
Até 13 de Fevereiro de 1975, a equipa do CRUARB, dirigida pelo Arq. Jorge de Guimarães
Gigante, ficou instalada no escritório particular do comissário, em condições de carência total.
Nesta data, a título de empréstimo por parte do Fundo de Fomento de Habitação, são obtidos os
equipamentos e instalações necessários ao funcionamento do Comissariado.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 72 –
A origem do CRUARB ligada aos problemas sociais de habitação marcou até hoje toda a
actuação do gabinete.
Entre 1976 e 1981 foram renovadas dezenas de habitações por ano e em 1982 estava
concluída a reabilitação dos quarteirões mais degradados.
A operação do CRUARB dependeu, neste período, directamente do Governo e todos os
técnicos envolvidos permaneceram numa situação indefinida.
Em 1982, em consequência da Lei das Finanças Locais, o Governo deixa de poder intervir de
forma irrestrita nos investimentos das autarquias. Nessa altura, o CRUARB ou se extinguia ou se
adaptava às novas circunstâncias. Sendo uma operação não terminada e querida pela população
local, a Câmara Municipal do Porto passou a ser o tomador do Gabinete e a equipa passou a integrar
os quadros do Município. É então que surge o Projecto Municipal de Renovação do Centro
Histórico do Porto.
A passagem da operação da Administração Central para o Município coincide com o
alargamento da área de intervenção, que passa a incluir as freguesias da Sé, Miragaia e Vitória.
Em 1989, o pelouro do PM-CRUARB é atribuído ao vereador do Pelouro do Urbanismo e
Reabilitação Urbana. Um ano mais tarde é nomeado para director do Projecto o Arq. Rui Ramos
Loza, que se mantém em funções até hoje.
Também em 1990 é criada a Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto e
um ano depois é assinado o Convénio de cooperação entre a C.M. Porto e o Laboratório de
Engenharia Civil, que tem como objecto a colaboração entre as 2 instituições na resolução de
problemas da cidade, relativamente aos quais essa colaboração se considere necessária.
Em 1993, o PM-CRUARB fica sob a alçada do vereador da Reabilitação Urbana e Apoio às
Actividades Económicas.
No ano seguinte, o gabinete passa a estar representado nas reuniões mensais da Comissão
Municipal de Defesa do Património e tem inicio o Projecto Piloto da Sé, que funciona na
dependência do PM-CRUARB, mas com instalações e recursos próprios.
Em 2001 o PM-CRUARB mudou de instalações para o edifício n.º 14-22 da Rua Fonte
Taurina, projecto de renovação do Arq. Manuel Furtado Mendonça.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 73 –
4.2.4. CONCEITO E OBJECTIVOS
O Projecto Municipal – CRUARB tem como objectivos preservar e valorizar a componente
urbanística e monumental do Centro Histórico do Porto, manter a sua população enraizada,
melhorando as suas condições de vida e, garantir o equilíbrio sócio-económico da zona.
Como pressupostos da sua acção, o Projecto Municipal considera que a recuperação
patrimonial é apenas uma das vertentes de um projecto mais vasto de desenvolvimento social e
urbano que deve ser centrado na população local e concretizado com a sua participação efectiva.
Assim sendo, a sua linha de acção é tentar fixar a população no Centro Histórico e promover a
mobilidade social nesta zona, através da melhoria das condições habitacionais, do fomento das
actividades económicas, da criação de espaços de lazer e de convívio, da realização de iniciativas
culturais, da promoção da qualidade ambiental e da dinamização das organizações locais.
O grande lema do Projecto Municipal não é transformar o Centro Histórico numa
“Cidade-Museu”, mas sim numa “Cidade Viva”, porque, “o conceito de reabilitação urbana,
procura integrar de forma mais abrangente possível as noções de cidade física, social, económica,
histórica, política, tangível e intangível” 1.
O CRUARB transforma-se, assim, num núcleo de gestão estratégica de toda a área de
intervenção, com tarefas nos domínios do planeamento urbanístico, da programação, da
investigação e teorização da experiência, do intercâmbio com outros centros históricos e de
articulação com as entidades e serviços envolvidos na reabilitação urbana, incluindo os gabinetes de
operações que realizarão, em cada área, os obras municipais, a gestão urbanística, a manutenção do
espaço público, os realojamentos, a administração dos equipamentos municipais dessa área e a
dinamização local nos planos social e económico.
4.2.5. PREMISSAS DE ACTUAÇÃO
O Projecto Municipal assenta a sua actuação nas seguintes premissas:
Manter o tecido urbano na sua composição original sempre que possível;
Entender como fazendo parte do património cultural do Porto, não só o conjunto de
construções mais antigas, como também os edifícios correntes, pois todos estão integrados
no seu conjunto e participam na complexidade do tecido urbano;
1 cf. CRUARB (coord.) _ Centro Histórico do Porto _ C. M. Porto, 1993
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 74 –
Tentar manter a linguagem arquitectónica dominante, reservando a obras modernas o papel
de excepções aceites apenas em situações pontuais;
Entender o carácter multifuncional do Centro Histórico do Porto como essencial à
manutenção da sua autenticidade;
Adequar a intervenção a cada tipo de situação de degradação;
Recuperar o património construído, integrando as populações locais como participantes
activos nas obras de reconstrução;
Assentar as alterações ao tecido actual apenas em critérios de ordem funcional e nunca de
ordem formal;
4.2.6. A ÁREA DE INTERVENÇÃO
Como já foi referido, inicialmente, a área de intervenção do CRUARB limitava-se à zona da
Ribeira e do Barredo.
Em 1985, com a passagem do Projecto para o Município, a área de intervenção é alargada às
freguesias da Sé, Miragaia e Vitória, mantendo-se a freguesia de S. Nicolau, coincidindo com a área
critica de recuperação e reconversão urbanística 1.
Em 1994, a área de intervenção do PM-CRUARB alarga-se e, desta vez é a área de
recuperação e reconversão urbanistica aumentada de forma a coincidir limites 2.
Desde a classificação da UNESCO até ao ano 2000, apenas existia coincidência parcial dos
limites da área de protecção aprovada como Património da Humanidade, pois mantinham-se fora da
intervenção do Projecto Municipal a Baixa, a Batalha e a Cordoaria. Na tentativa de coincidir
limites e, por consequência, coincidir critérios de gestão urbanística destas áreas, o Projecto
Municipal tem procurado redefinir a sua área de intervenção para que não existam consequências
negativas perante a UNESCO. Assim sendo, desde 2000 que a área de recuperação e reconversão
urbanistica foi alargada 3.
4.2.7. O PLANEAMENTO E ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
Apesar da experiência de reabilitação urbana do Porto ter tido o seu início, efectivamente, em
1974, a área da Ribeira e do Barredo era já tema de estudo e investigação e alvo de intervenção
1 ver anexo E1, volume II 2 ver anexo E2, volume II 3 ver anexo E3, volume II e ver planta n.º 4, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 75 –
social. No entanto, foi com o 25 de Abril que surgiram fortes movimentos de reivindicação de
soluções para os problemas de habitação.
O CRUARB surge, assim, como tentativa de resolução dos problemas de realojamento e a sua
intervenção nunca se afastou dos objectivos sociais. Para o sucesso da sua intervenção, o CRUARB
contou com medidas excepcionais das políticas de expropriação por utilidade pública, permitindo a
aquisição de vasto património imobiliário.
O CRUARB não elaborou para o Centro Histórico do Porto um plano de recuperação que
abrange todo o território de intervenção. A operação tem sido conduzida como resposta a um
conjunto de situações críticas, que não necessitam de um mecanismo de análise específico para se
verificar a sua prioridade.
Ao nível do planeamento, os programas de intervenção são feitos à escala de bairro-quarteirão
mais ou menos homogéneos e bem delimitados. Isto, porque sendo a área ocupada pelo Centro
Histórico de grandes dimensões, se se desenvolvesse uma operação de planeamento dirigida a toda
a área, na maioria das vezes, esta revelar-se-ía desactualizada até ao momento da sua
implementação. Deste modo, cada projecto de recuperação ou de ocupação de uma parcela livre é
parte integrante de uma estratégia de intervenção coerente no espaço e no tempo.
Com base neste método de planeamento das intervenções, a elaboração de um plano de
urbanização revelar-se-ía a melhor ferramenta de intervenção, capaz de assegurar coerência de
conjunto e a sua articulação com a cidade e com as directivas municipais.
Para alcançar os objectivos a que se pretende, o CRUARB tem adoptado uma estratégia que
possibilita a regulação de esforços, sejam eles técnicos, financeiros ou políticos, a despender na
operação, de modo a definir metas que possam ser atingidas.
A estratégia adoptada divide-se em três vertentes:
2. divisão de todo o território de intervenção num conjunto de 16 operações 1, semelhantes ao
Projecto Piloto Urbano do Bairro da Sé:
1. Massarelos 9. S. Nicolau
2. Alfândega 10. Frente de Miragaia
3. Ribeira-Barredo 11. Miragaia (Alta)
4. Guindais 12. Vitória
5. Fontaínhas 13. Mouzinho/Flores
6. Duque de Loulé 14. Cordoaria
7. Avenida da Ponte 15. Baixa
8. Sé 16. Batalha
1 ver planta n.º 5, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 76 –
Estas operações distinguem-se apenas pelas suas características: umas são de revitalização
comercial, outras de tratamento da margem do Douro e outras de restauro do parque habitacional
degradado. Para as delinear foram usados os seguintes critérios: dimensão, homogeneidade,
complexidade, condições operacionais já reunidas, grau de degradação e tipo de problemas
habitacionais ou de actividade.
2. elaboração de um plano de urbanização e de planos de pormenor para cada uma das
operações que definem, de forma mais rigorosa que o PDM, as regras de reabilitação urbana,
tornando-os assim instrumentos de gestão que permitirão ao Município eleger os projectos
estruturantes nos domínios das infraestruturas e das actividades, de modo a que as operações do
CRUARB não condicionem nem sejam condicionadas por outros projectos municipais;
3. incluir o envolvimento e o esforço privado no programa de reabilitação urbana.
4.2.8. A METODOLOGIA DO PM-CRUARB 1
A METODOLOGIA DA OPERAÇÃO
A metodologia do Projecto Municipal assenta na necessidade de desagregar em objectivos de
curto, médio e longo prazo a grande missão do CRUARB: reabilitação urbana e social da área
degradada. Deste modo, a complexidade do problema pode fraccionar-se em problemas mais
simples, mas com soluções articuladas de forma lógica.
A principal acção de intervenção começa pela aquisição das parcelas degradadas. Para isso, a
Câmara Municipal do Porto tem recorrido à compra ou à expropriação, consagradas nas sucessivas
Leis de Bases do Património Cultural (art. 16º n.º 2 da Lei 13/85, de 6 de Julho e art. 50º n.º 3 da
Lei 107/2001, de 8 de Setembro) e regulamentadas em estatuto jurídico próprio.
Adquirida uma parcela, iniciam-se duas frentes de trabalho: o realojamento dos ocupantes e a
elaboração de projectos.
Relativamente aos realojamentos habitacionais podem ocorrer 3 situações: existem habitações
disponíveis no Centro Histórico, recorre-se aos serviços municipais de habitação, ou se escora o
edifício para aguardar disponibilidade de solução.
Quanto aos realojamentos comerciais: ou se procede à transferência dos estabelecimentos para
espaços já renovados em zonas com valor comercial semelhante ao de origem a título definitivo, ou
se realojam, provisoriamente, reservando-lhes o direito de regresso ao local de origem ou a uma
1 cf. CRUARB _ Porto Património Mundial _ Porto: Câmara Municipal do Porto, 1998. Vol. II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 77 –
indemnização pecuniária. Caso não se obtenha um acordo, recorre-se ao mecanismo de
expropriação.
Para o sucesso da operação é essencial que os realojamentos efectuados agreguem prédios
inteiros.
Ao mesmo tempo que decorre o realojamento procede-se à elaboração de projectos.
Inicialmente, é necessário proceder ao levantamento do edifício, operação normalmente complicada
pelo avançado estado de degradação ou pela acumulação de lixo.
Na elaboração de projectos, o PM-CRUARB tem em conta diversos critérios de intervenção,
de modo a que o aspecto exterior dos edifícios mantenha as diversas linguagens pré-existentes e se
integre no ambiente urbano. Esses critérios são também aplicados em relação aos projectos de
particulares e estão consagrados no Regulamento do Centro Histórico que orienta a construção
e renovação de edifícios nesta área.
Depois da elaboração do projecto, inicia-se o processo de adjudicação da empreitada,
podendo este concurso ser público ou limitado, conforme o valor previsível da obra. Terminado este
processo, a obra começa, podendo demorar entre 1 e 2 anos.
Para que a mecânica da operação não pare é necessário prosseguir, continuamente, com a
aquisição de parcelas e passos seguintes. Caso contrário, a operação entraria num ciclo de
inoperacionalidade. Este processo é completado com o apoio a obras particulares e com projectos
de pequena manutenção.
A METODOLOGIA DE AQUISIÇÃO E EXPROPRIAÇÃO
A maior parte dos edifícios existentes no Centro Histórico do Porto encontravam-se em
estado muito degradado ou até em ruína. Assim sendo, a intervenção nestes imóveis teria de ser
realizada o mais rápido possível, tentando contrariar o risco de perda total e, foi esta a razão
essencial para a existência permanente de um estatuto jurídico que o permitisse.
O estatuto em vigor abrange hoje toda a área classificada como Centro Histórico e incide
também em algumas zonas de outras freguesias da cidade. Mas, desde a criação do CRUARB foi
sofrendo alterações.
Em 26 de Julho de 1975, através do Despacho da Secretaria de Estado da Habitação e
Urbanismo, a área Ribeira-Barredo é declarada a primeira zona degradada e em 28 de Agosto do
mesmo ano, por Despacho da mesma Secretaria de Estado é declarada a utilidade pública das
expropriações necessárias à execução do programa do plano daquela área.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 78 –
Dez anos mais tarde, a 12 de Agosto, a pedido da C. M. Porto, o Decreto Regulamentar
n.º54/85 declara 8 zonas do Centro Histórico do Porto como áreas criticas de recuperação e
reconversão urbanística. Isto porque, a falta ou insuficiência de infraestruturas urbanísticas
transformava-as em áreas com edifícios sem condições mínimas de habitabilidade e em estado de
ruína permanente.
Mais tarde, através do Decreto Regulamentar n.º 14/94, de 17 de Junho, toda a área de
intervenção do Centro Histórico do Porto é declarada como Área Critica de Recuperação e
Reconversão Urbanística.
Mais recentemente, através do Decreto Regulamentar 11/2000 de 24 de Agosto, a área critica
foi ampliada e abrange a zona da baixa portuense (freguesias de Santo Ildefonso, Bonfim, Cedofeita
e Massarelos), ultrapassando os limites do Centro Histórico com o objectivo de “acelerar e
operacionalizar processos de requalificação física e sócio-económica que invertam as situações de
degradação urbanística e desertificação populacional e residencial”.
A necessidade de estabelecer um regulamento de expropriação e aquisição para a área de
intervenção do PM-CRUARB sentiu-se desde os primeiros levantamentos efectuados no inicio da
operação, onde se concluiu que a maior parte dos proprietários abandonaram a gestão dos seus
imóveis e deslocaram os seus interesses imobiliários para outras áreas da cidade.
Por tudo isto, o conjunto arquitectónico do Centro Histórico degradou-se e as habitações
passaram a não reunir condições de habitabilidade e salubridade.
Mais recentemente, alguns proprietários começaram a sentir-se mais motivados para a
recuperação dos seus imóveis devido a incentivos financeiros, nomeadamente o RECRIA. No
entanto, muitos preferem aliená-los, ficando assim livres de encargos fiscais e dos custos de
manutenção.
O PM-CRUARB entende que a aquisição e expropriação dos edifícios particulares
degradados é uma medida fundamental para a recuperação da zona, pois permite resolver o
problema habitacional de forma eficaz e definitiva ao dar às famílias habitações adequadas a cada
agregado familiar, assegurar a recuperação física dos edifícios de uma forma mais aprofundada e
não apenas de fachada e garantir uma melhor rentabilidade da obra.
Para possibilitar e reproduzir este tipo de acção é essencial adquirir, continuamente, novas
parcelas. Nos casos em que seja detectada uma situação de emergência, inicia-se o processo de
aquisição pela via do direito privado, efectuando-se uma avaliação do prédio. Tenta-se o acordo
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 79 –
pela negociação, ultimado com a outorga da escritura, após a faculdade, por parte dos inquilinos, do
exercício do direito de preferência que a lei lhes concede.
Em muitos casos, o valor da indemnização é passível de acordo, mas a aquisição não se
concretiza por dificuldades várias como a falta de elementos registrais, a existência de ónus
hipotecários que imobilizam a via amigável, o desconhecimento ou ausência dos herdeiros, nas
situações em que é necessária a sua intervenção, entre outras.
Assim, cada vez mais, este procedimento tem sido menos utilizado em detrimento do
processo imediato da expropriação, com recurso à posse administrativa. Este processo vem definido
no Código de Expropriações (Decreto-Lei n.º 168/99, de 18 de Setembro).
O processo da posse administrativa, com vista à expropriação de um imóvel no Centro
Histórico, resulta dos seguintes passos:
1.vistoria prévia ao prédio pela Comissão de Vistorias da C. M. Porto;
2.proposta ao Executivo Camarário da homologação do auto de vistoria e aprovação da posse
administrativa, com vista à expropriação (ao abrigo do artigo 42º, n.º 1 do Decreto-Lei
794/76, de 5 de Novembro);
3.pedido ao Tribunal da Relação do Porto da nomeação dos árbitros que vão intervir no
processo de expropriação (ao abrigo do artigo 20º, n.º 6 e artigo 45º do Decreto-Lei 168/99,
de 18 de Setembro);
4.notificação do árbitro para elaboração da vistoria “ad perpetuam rei memoriam”,
documento que descreve o estado do prédio e que será o suporte de cálculo da
indemnização;
5.depois da comunicação aos interessados e efectuada a vistoria, a entidade expropriante pode
marcar a posse administrativa;
6.depois destas fases, a C. M. Porto pode intervir na obra;
7.em seguida, o prédio é avaliado, são determinados os encargos autónomos e tenta-se
negociar as indemnizações.
A METODOLOGIA DE AGREGAÇÃO DE LOTES
O padrão de loteamento de grande parte das ruas do Centro Histórico corresponde a
dimensões medievais, geralmente concebido por edifícios unifamiliares. Assim, o PM-CRUARB
depara-se sempre com edifícios com 10 a 15 metros de fundo por 4 a 5 metros de frente. Estas
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 80 –
dimensões eram satisfatórias para conter um programa constituído por uma loja no r/c, uma
sobreloja comercial e ainda 2 ou 3 pisos destinados a habitação dos proprietários.
Após a Revolução Industrial estes edifícios foram transformados em habitação colectiva, com
uma ou mais famílias por piso. As condições de habitação tornaram-se péssimas e as caixas de
escadas tornaram-se comprometedoras para o aproveitamento de espaço e para a privacidade e
segurança das famílias.
A intervenção do PM-CRUARB procura, com frequência, anexar parcelas vizinhas, de modo
a associar os compartimentos. Deste modo, economiza-se o número de caixas de escadas e
beneficia-se o comércio e as habitações.
Quando os prédios são suficientemente largos para conseguir uma habitação por piso evita-se
a anexação de parcelas. Quando uma parcela é muito pequena retoma-se o programa de prédio
unifamiliar.
Em qualquer dos casos, o aspecto exterior resulta diferenciado, pois mantêm-se as fachadas
existentes e, por consequência, as linhas arquitectónicas e cores pré-existentes, tenham sido
anexadas parcelas ou não.
A METODOLOGIA DE ELIMINAÇÃO DE ADIÇÕES
Muitos edifícios da época medieval ou dos Almadas sofreram acrescento de mais andares
durante a explosão demográfica da Revolução Industrial.
Em muitos casos esses acrescentos são constituídos por adições frágeis, mal construídas e
inestéticas. Nestes casos a intervenção do PM-CRUARB passa pela demolição e eliminação dessas
adições.
No entanto, em alguns casos os acrescentos são constituídos por andares bem integrados e
esteticamente positivos. Nestes casos o PM-CRUARB defende a sua preservação por constituírem
uma imagem integrada e absorvida pela paisagem urbana.
Existem também casos em que se criam situações de adição de novos materiais e novas
formas, por vezes contrastantes. Nestes casos, geralmente, o PM-CRUARB defende a sua
manutenção, por corresponderem a ganhos de edificabilidade já assumidos e necessários à
manutenção no local de um número maior de famílias e, sobretudo, por constituírem uma memória
de um importante período da história urbana da cidade.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 81 –
O PM-CRUARB aceita geralmente acrescentos em tijolo ou granito quando revestidos a
reboco, ardósia ou chapa metálica pintada. São imperativamente rejeitados todos os acrescentos em
alumínio.
A METODOLOGIA DA COR NAS FACHADAS
Geralmente, a cor pré-existente nas fachadas é reconhecível. No entanto, por vezes, os
edifícios passam por mais que uma fase de cor e a última reconhecida é quase sempre incomparável
às cores tradicionais.
Essas cores tradicionais têm que ver sobretudo com as disponíveis na região antes da
generalização da oferta industrial de tintas e assentam basicamente no branco na caiação, ocres nos
rebocos, que podem ser amarelos ou vermelhos, e, na chapa ondulada pintada que exprime a cor
avermelhada do óxido de ferro.
O branco é aplicado geralmente nos edifícios ornados de molduras de cantaria trabalhado com
recortes barrocos (ex.: Paço Episcopal ou Igreja dos Clérigos).
Os edifícios de habitação raramente são brancos e, quando o são, não formam conjuntos
extensos. Nestes edifícios as cores mais usadas são sobretudo os ocres, aparecendo, por vezes, o
verde ou o azul.
Além das cores pintadas nas superfícies rebocadas, muitos edifícios apresentam as cores dos
azulejos. Estes oferecem uma gama mais variada de motivos e policromias.
As caixilharias de madeira e as grades, geralmente de ferro, são também coloridas, sendo a
cor mais frequente o verde escuro.
4.2.9. RECURSOS HUMANOS
A equipa do Projecto Municipal desdobra-se entre o Gabinete do CRUARB e o Gabinete de
Articulação da Sé.
Sendo um projecto, o Projecto Municipal – CRUARB estrutura-se sob a forma de
organigrama horizontal, não compreendendo os vários níveis de coordenação. Toda a equipa,
coordenada por um director, é composta por 7 arquitectos, 4 engenheiros civis, 1 engenheiro
electrotécnico, 2 assistentes sociais, 1 historiadora, 1 jurista, 2 técnicos de contabilidade, 4
desenhadores, 3 funcionários administrativos, 1 fiscal de obras e 2 técnicos auxiliares.
As suas funções assentam em: Elaboração de planos e programas; Elaboração de projectos de
edifícios e espaços públicos; Gestão de projectos e obras; Realojamentos; Gestão do património
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 82 –
municipal; Aquisição de prédios; Apreciação de projectos particulares; Gestão financeira do
investimento municipal no Centro Histórico; e, Acolhimento de estagiários de arquitectura
nacionais e estrangeiros.
O CRUARB conta ainda com consultores na área da arquitectura, urbanismo e estruturas. O
papel dos consultores é essencial para garantir o equilíbrio e isenção na formulação de linhas de
acção e resolução de problemas.
4.2.10. RECURSOS FINANCEIROS
Desde 1985 que todo o esforço financeiro para a preservação do Centro Histórico do Porto
recai inteiramente sobre a Câmara Municipal do Porto. No entanto, muitos outros organismos
individuais ou colectivos têm contribuído financeiramente:
a Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto, cujo âmbito de
actuação abrange as freguesias da Sé e S. Nicolau, conta com a participação financeira do
Município e do Estado português, através do Comissariado do Norte para a Luta contra a
Pobreza, canalizando para estas freguesias verbas provenientes do Orçamento Geral do
Estado e da União Europeia;
a participação pontual da Fundação Calouste Gulbenkian na construção do Complexo da
Lada;
o gabinete de apoio aos munícipes que pretendem recorrer ao RECRIA, fundo
comparticipado pelo Estado e pelo Município para a recuperação e reparação de imóveis
arrendados;
o PROCOM, programa de apoio à modernização do comércio tradicional, da
responsabilidade da Secretaria de Estado do Comércio e Turismo;
entidades associativas, do tecido social mais representativo dos industriais e comerciantes
do Porto, que têm vindo a beneficiar os seus edifícios no Centro Histórico com verbas
próprias;
o IPPAR, que tem levado a cabo obras nos Monumentos Nacionais (ex. Cadeia da Relação).
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 83 –
4.3. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS
4.3.1. O PDM, AS NORMAS PROVISÓRIAS E AS MEDIDAS PREVENTIVAS
Após a aprovação do PDM pela Assembleia Municipal do Porto (conforme dispõe o art.º 3º,
n.º 2 do Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março), a Câmara Municipal solicitou à Direcção Geral do
Ordenamento do Território que promovesse a ratificação desse instrumento de planeamento
territorial conforme o disposto no art.º 16º, n.º 5 do Decreto 69/90.
Para além disto, todas as formalidades exigidas pelo decreto já referido relativas à comissão
de acompanhamento, à realização do inquérito público e aos pareceres favoráveis dos Ministros
competentes foram cumpridas.
Posto isto, o PDM do Porto foi ratificado em 2 de Outubro de 1992 e publicado na 2ª Série do
Diário da República a 2 de Fevereiro de 1993 1.
O PDM do Porto é constituído por um Regulamento, por uma Planta de Zonamento e de
Hierarquização do sistema viário fundamental, por uma Planta das disposições fundamentais sobre
edificação urbana e por uma Planta de referenciação de quarteirões.
Se confrontarmos estes elementos com os dispostos no Decreto Lei 69/90, verificamos que
não existe conformidade total: no PDM deveria ser incluída uma Planta de Ordenamento que
delimita categorias e não classes de espaços e estabelece apenas unidades operativas de
planeamento e gestão. Ora, a Planta de Zonamento delimita categorias de espaços, em função do
uso dominante, estabelece unidades e subunidades operativas que servem de base ao
desenvolvimento de planos de pormenor e indica os respectivos parâmetros urbanísticos, sendo por
isso obrigatória nos planos de urbanização e não nos PDM’s.
Quanto ao seu conteúdo, verificamos que o PDM do Porto organiza o planeamento
urbanístico da cidade em 19 unidades de ordenamento, uma das quais corresponde praticamente ao
Centro Histórico.
A intervenção nesta área vem regulamentada por várias disposições:
estabelecem-se índices volumétricos máximos inerentes à salvaguarda da imagem da
cidade (art.º 2º, 5º e n.º4 do 16º);
condicionam-se as demolições, totais e parciais, de edificações sem parecer das entidades
competentes (art.º 18º, n.º 1);
1 anexo E4, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 84 –
estabelecem-se critérios de licenciamento de loteamentos urbanos, de obras de construção
civil ou alterações de utilização, considerando as características da zona dominantes e os
valores ou enquadramentos arquitectónicos relevantes (art.º 5º e 18º);
Outros pontos fundamentais do conteúdo do PDM dizem respeito à rede viária e ao sistema de
transportes e estacionamentos (do art.º 8º ao 12º). Para cada uma das áreas deverão ser realizados
planos de urbanização e de pormenor. No entanto, para o Centro Histórico não existem ainda estes
planos de ordenamento, apenas está delineado um sistema de circulação e transportes, integrado na
rede geral da cidade, que privilegia a zona como sendo predominantemente de peões e transportes
públicos.
O PDM dá também relevância às zonas de protecção arquitectónica e paisagística (art.º 18º).
Assim sendo, teria sido pertinente anexar a este plano uma planta de condicionantes que assinalasse
as servidões administrativas e restrições de utilidade pública.
Como o PDM não preconizava formas de concretização das estratégias, a sua aplicação
revelou a necessidade de proceder ao aperfeiçoamento e clarificação das normas de ordenamento.
Aprovada a necessidade da sua revisão pela Assembleia Municipal, o Executivo decidiu substituir o
regime do PDM em vigor por Normas Provisórias, que resultassem não só da avaliação da gestão
urbana à luz do plano em vigor mas também das directrizes que o próprio plano foi apontando.
Aprovadas pela Assembleia Municipal, foram ratificadas a 9 de Junho de 2000 e estão em vigência
durante o prazo de 2 anos 1.
As NP, elaboradas ao abrigo do artigo 8º do Decreto-Lei 69/90 substituem as disposições
regulamentares do PDM do Porto mas, mantendo-se válidas, no essencial, as orientações de carácter
estrutural do PDM de 1993. Introduz, no entanto, uma série de conceitos com vista a uma maior
precisão na sua aplicação (artigo 2º).
Assim, relativamente ao Centro Histórico, para além de se conformarem com as disposições
do PDM (nomeadamente nos artigos 12º a 24º), vêm acrescentar:
a instituição da Carta Municipal do Património (art.º 13º);
a identificação na planta síntese não só dos perímetros de protecção urbanística, mas
também da área inscrita na Lista do Património Mundial (artigo 8º, n.º 2 al. b) e e) e das
servidões administrativas. Na planta de condicionantes, vêm assinalados no Centro
1 anexos E5, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 85 –
Histórico os imóveis classificados ou em vias de classificação, a zona especial de
protecção e as áreas non aedificandis 1;
simplifica o licenciamento nas áreas de protecção urbanística e arquitectónica (artigo 24º);
define as situações de colmatação das frentes urbanas, resolvendo-se os inconvenientes
que a aplicação dos índices têm na imagem das áreas consolidadas da cidade, assegurando
que, independentemente da área do prédio, as novas edificações respeitem a moda da
cércea e da tipologia da frente urbana onde se integram (art.º 15º, n.º3).
Actualmente, o novo PDM, que beneficiará do novo enquadramento legal que estabelece o
novo regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (Decreto-Lei 380/99) já se encontra
tecnicamente pronto, aguardando apenas os restantes pareceres e consultas oficiais obrigatórios. No
entanto, para que não se corra o risco de regressar ao antigo PDM, visto que a validade das NP
caduca em Setembro de 2002, o actual presidente da C. M. do Porto e o vereador do Pelouro do
Urbanismo e da Mobilidade apresentaram a 2 de Julho do corrente ano, as Medidas Preventivas que
vão presidir à gestão urbanística da cidade até à aprovação plena do PDM. Como objectivos
prioritários destas Medidas Preventivas foram apresentados os seguintes:
valorizar a identidade urbana do Porto, requalificando o espaço público e o ambiente
urbano;
melhorar o sistema de transportes colectivos e os novos modos de transporte (metro e
eléctrico), com especial reforço para a circulação pedonal;
reduzir as assimetrias urbanas e reforçar a coesão social e territorial em especial nos
bairros sociais;
promover o Centro Histórico do Porto e a área central da cidade como referências
insubstituíveis do desenvolvimento urbano;
disciplinar as obras, submetendo as de urbanização com áreas superiores a 4 hectares, as
de construção com áreas superiores a 12 mil metros quadrados ou número de fogos
superiores a 100 e todas as de ampliação que excedam esse parâmetros, a um parecer
vinculativo da Direcção Regional do Ambiente e do Ordenamento do Território.
4.3.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO
Não existe um Plano de Urbanização aprovado nem se encontra em elaboração. No entanto,
este plano de ordenamento é sentido pelos serviços técnicos como essencial para se proceder à
1 ver planta n.º6, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 86 –
elaboração de Planos de Pormenor para as diferentes operações em que se dividiu o Centro
Histórico, o que torna como certo a sua futura elaboração.
4.3.3. O PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
Apesar da sua obrigatoriedade, não está a ser elaborado um plano de salvaguarda para o
Centro Histórico do Porto. Este é substituído por Planos de Pormenor para cada uma das operações
que é elaborado conforme a sua necessidade. O PM-CRUARB considera que a elaboração de um
Plano de Salvaguarda para uma área tão grande como o Centro Histórico do Porto, tornar-se-ía
desactualizado aquando da sua aplicação. Assim, como já foi referido, apenas são elaborados planos
de pormenor quando se actua em cada uma das operações.
4.3.4. OS REGULAMENTOS ESPECIFICOS
O Projecto Municipal tem vindo a elaborar uma série de regulamentos, em conformidade com
a legislação vigente, que definem, orientam e controlam a intervenção no Centro Histórico, segundo
critérios de preservação e recuperação e de concessão de licenças a particulares.
4.3.4.1. REGULAMENTO ORIENTADOR PARA A CONSTRUÇÃO E/OU RENOVAÇÃO NO CENTRO
HISTÓRICO DO PORTO 1
Aprovado pela Assembleia Municipal a 11 de Abril de 1988 e enquadrado no art.º 121º do
RGEU, este Regulamento serve de base à apreciação dos projectos de obras particulares requeridas
à C. M. Porto para a área de intervenção do PM-CRUARB, tendo parecer vinculativo considerado
na informação final transmitida ao requerente pelos serviços de licenciamento do Município.
O objectivo deste Regulamento vai ao encontro do n.º 1 do art. 5º do PDM do Porto e da al. d)
do n.º 2 do art. 11º das NP que afirmam que não podem ser licenciados loteamentos urbanos, obras
de qualquer natureza, utilizações ou alterações de utilização das edificações que prejudiquem as
características dominantes da área em que se inserem ou que manifestamente possam causar
prejuízos a valores ou enquadramentos urbanísticos, arquitectónicos ou paisagísticos relevantes.
O art. 1º do regulamento reflecte o conteúdo do art. 14º da Lei 13/85 regulamentado pelo
Decreto-Lei n.º 205/88, de 16 de Junho que afirmam que os estudos e projectos para os trabalhos
de conservação, consolidação, modificação, reintegração, restauro, adaptação ou alteração de bens
imóveis classificados ou em vias de classificação e nas respectivas zonas de protecção devem ser
1 anexo E6, Volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 87 –
elaborados por arquitectos e subscritos por um técnico de qualificação legalmente reconhecida ou
sob a sua responsabilidade directa.
O art. 2 está em conformidade com os art. 2º e 16º do PDM e com a al. a) do n.º 3 do art. 15º
das NP que estabelecem a proibição de prolongamentos dos edifícios para o interior do quarteirão e
como volume máximo das construções existentes 1m3/m
2. No entanto, este artigo abre uma
excepção nos “(...) casos em que um estudo prévio demonstre claramente a melhoria do conjunto
das construções dessa área(...)”, não mencionando em que critérios ou regras de aplicação se
baseia.
O PM-CRUARB, conforme art. 18º do PDM e n.º 2 do art. 24º das NP tem legitimidade para
definir os materiais a utilizar nas caixilharias (art. 3º), nas paredes (art. 4º), nas coberturas (art. 5º),
nas varandas (art. 6º) 1 e respectivas cores (art. 8º)
2 conforme enunciadas no regulamento de modo
a garantir a preservação das características dominantes no local.
Apesar das proibições feitas no regulamento, muitos destes artigos podem gerar controvérsia
ou situações paradoxais. Vejamos: o art. 5º refere que “As coberturas dos edifícios deverão ser de
telha cerâmica ao tom natural do barro da região. Não serão permitidas coberturas de outro tipo.”
Que dizer então por exemplo da cobertura do Mercado Ferreira Borges situado em pleno Centro
Histórico? Outro exemplo é o art. 6º que afirma “as varandas em principio não deverão ser
envidraçadas (...)”, ou seja não devem mas podem... No entanto, o art. 9º vem prevenir a admissão
de excepções ao Regulamento, “desde que a unidade e grande qualidade arquitectónica do edifício
o justifique”.
Assim, e apesar de poder ser considerado uma “porta aberta” para situações não
regulamentadas e sem critérios de apreciação estabelecidos, este último artigo reflecte uma certa
flexibilidade necessária nos processos de reabilitação que podem admitir excepções ou adoptar
concepções arquitectónicas contemporâneas na composição de fachadas, na proporção das linhas
das cornijas, nos pormenores de carpintaria e na natureza de revestimentos entre outros, desde que a
salvaguarda da imagem da cidade seja tida em conta.
1 ver quadro n.º19, apêndice B 2 ver “Metodologia de cores”, pág. 74
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 88 –
4.3.4.2. REGULAMENTO DE PUBLICIDADE 1
O Regulamento de Publicidade foi aprovado em 1994, revogando o Regulamento para a
colocação de reclamos luminosos no Centro Histórico (1986) e o Regulamento sobre a instalação de
toldos na área do Centro Histórico (1991).
O objectivo deste regulamento visa condicionar a afixação ou instalação de todos os meios ou
suportes publicitários na cidade previstos na Lei 97/88, de 17 de Agosto e no art.º 41º da Lei
107/2001 para que não prejudiquem a perspectiva e imagem dos bens culturais que se inserem no
conjunto urbano, nem a segurança rodoviária nem a circulação de pessoas.
O licenciamento da C.M. Porto pressupõe que estes meios ou suportes publicitários não
provoquem a obstrução de perspectivas panorâmicas, não afectem a estética ou o ambiente de
lugares ou de paisagem e, não prejudiquem a beleza ou o enquadramento dos bens culturais.
O licenciamento da publicidade no Centro Histórico fica sujeito ao processo de licenciamento
e às disposições gerais apresentados no Regulamento para toda a cidade, incluindo que a afixação
ou inscrição de publicidade carece de licenciamento prévio, excepto a publicidade exposta dentro
dos estabelecimentos ou no interior das montras (art. 2º) e é proibida a inscrição ou pintura nos
monumentos nacionais e religiosos, nas sedes de administração nacional ou local, em sinais ou
placas de trânsito e em áreas protegidas (art. 3º).
As normas especificas para o Centro Histórico são apresentadas na Secção III do regulamento
e determinam as regras de colocação de tabuletas (art. 32º), anúncios, reclamos luminosos e outros
semelhantes (art.º34º) e de toldos, vitrinas e expositores (art. 35º) e a proibição de colocação de
bandeirolas (art. 33º), cartazes, dísticos e outros semelhantes (art. 36º) em toda a área. No
regulamento são privilegiados os meios e suportes de publicidade que iluminem todo o edifício e
incidam sobre os elementos arquitectónicos relevantes.
4.3.4.3. REGULAMENTO SOBRE TAPUMES E ESTALEIROS DE OBRAS NA ÁREA DO CENTRO
HISTÓRICO 2
Esta matéria, regulamentada no RGEU e no Regulamento Municipal de Obras Públicas,
visava apenas a segurança dos transeuntes. Em 1995, o PM-CRUARB propôs complementar a
legislação existente, acrescentando o carácter estético às vedações para protecção das obras. Surge
assim o Regulamento sobre tapumes e estaleiros na área do Centro Histórico.
1 anexo E7, volume II 2 anexo E8, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 89 –
Não é, portanto, de estranhar a existência do tapume alusivo ao Porto Património Mundial
aquando das obras de reabilitação do edifício ocupado actualmente pelo Porto Carlton Hotel na
Praça da Ribeira.
Este regulamento dispensa de pagamento de licença se, após a apresentação do projecto dos
tapumes de estaleiros se considerar a decoração de qualidade, definindo também as características
que devem ter os diferentes elementos constituintes.
Podemos, portanto, afirmar que este regulamento vem contribuir para a valorização do Centro
Histórico, mesmo durante o decorrer de obras, acção não só perigosa mas também inestética para
quem usufrui desta zona da cidade.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 90 –
5. O CENTRO HISTÓRICO DE GUIMARÃES
O Centro Histórico de Guimarães foi o último conjunto patrimonial, juntamente com o Vale
do Douro, a receber a classificação de Património da Humanidade pela UNESCO justificada pelos
critérios II, III e IV 1.
Apesar de só acontecer em 2001, a autarquia vimaranense tem vindo já há alguns anos a
desenvolver esforços e a processar uma intervenção cuidada para reabilitar a cidade. De tal modo
que, em 1985, o trabalho de reabilitação do Centro Histórico recebeu o prémio Europa Nostra, em
1993 recebeu 1º prémio da Associação dos Arquitectos Portugueses e em 1996 recebeu o prémio da
Real Fundação de Toledo.
5.1. O GABINETE TÉCNICO LOCAL
5.1.1. IDENTIFICAÇÃO
Gabinete Técnico Local
Direcção do gabinete: Arq. Alexandra Giesta
Rua Egas Moniz, n.º 115
4800 Guimarães
Tel.: 253 421200 e-mail: [email protected]
Fax: 253 515134
5.1.2. OBJECTIVOS E COMPETÊNCIAS
O GTL é um serviço de apoio consultivo e técnico com competências em matéria de
património cultural no Centro Histórico da cidade.
A missão deste gabinete prende-se com a gestão programada de todas as acções realizadas na
sua área de intervenção, que inclui as freguesias de Oliveira, S. Paio e S. Sebastião 2.
Os objectivos deste gabinete são:
reabilitar o Centro Histórico, visando a recuperação do património construído;
manter a população residente, oferecendo-lhe melhores condições de habitabilidade;
1 ver página 13 2 ver planta n.º 7, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 91 –
impedir lacunas relativas às actividades no Centro Histórico, através da coordenação e
gestão das iniciativas privadas ou públicas.
As suas competências especificas passam por:
atribuir licenças de construção aos particulares;
dar apoio técnico e financeiro aos particulares;
elaborar planos de trânsito;
executar planos e projectos municipais;
regulamentar a intervenção no Centro Histórico.
5.1.3. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO
Em 1998, o Centro Histórico de Guimarães foi declarado zona critica de recuperação e
reconversão urbanística através do Decreto n.º3/98 1. A delimitação desta zona critica implicou a
delineação de uma série de acções estratégicas:
a declaração da utilidade pública da expropriação urgente, com vista a executar trabalhos
de recuperação na zona;
a possibilidade de aquisição administrativa dos imóveis da zona;
a demolição dos edifícios considerados perigosos para os seus ocupantes ou transeuntes;
a realização de trabalhos de recuperação ou reparação de modo a diminuir as condições
insuficientes de habitabilidade.
Actualmente, a estratégia operacional do GTL privilegia três frentes de actuação
fundamentais:
1. o controlo, encorajamento e apoio técnico às iniciativas particulares;
2. a conservação, restauro e reabilitação do património da responsabilidade da município;
3. a reabilitação e adaptação a novas funções dos espaços públicos.
O pensamento estratégico prende-se com várias actividades, nomeadamente:
a articulação da reanimação funcional e financeira com a reabilitação urbanística;
a revitalização do núcleo histórico assegurado pela conservação dos valores patrimoniais e
da identidade cultural;
o contacto e discussão permanente de e com experiências externas;
a integração da população no processo de reabilitação;
1 Já em 1979, através do Decreto Regulamentar n.º 24/79, de 22 de Maio tinha sido declarado área critica de recuperação e
reconversão urbanística. Anexos F1 e F2, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 92 –
a revitalização de espaços públicos como motor do investimento privado.
5.2. OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS
5.2.1. O PDM 1
O PDM de Guimarães foi aprovado em 1994 pela Assembleia Municipal, cumprindo todas as
formalidades e sendo composto por todos os elementos fundamentais exigidos pelo Decreto-Lei
69/90.
Relativamente a disposições gerais aplicáveis também ao Centro Histórico, o PDM apenas
refere como essencial manter os alinhamentos e cérceas dominantes (art. 9º), destinar como pisos
comerciais o r/c ou cave (art. 10º) e a realização de obras condicionadas pela correcta integração
urbana e paisagística (art. 11º).
O Centro Histórico de Guimarães inclui-se na unidade operativa de planeamento e gestão das
Zonas Especiais, visto ser uma área de protecção especifica.
As disposições para estas zonas remetem para a legislação vigente referente aos imóveis e
conjuntos classificados a definição e aplicação dos princípios referentes às zonas de protecção (art.
50º a 53º).
A planta de condicionantes, essencial para a delimitação e definição de regras para estas
zonas, não é publicada mas existe. O artigo 57º dispõe sobre a possibilidade da Câmara manter uma
actualização permanente da mesma, em função de alterações à legislação em vigor ou à publicação
de novas servidões administrativas.
Ou seja, este PDM privilegia claramente uma politica de desenvolvimento económico e social
adequando soluções às carências habitacionais. Relativamente ao Centro Histórico, o PDM apenas
remete para a legislação em vigor a definição de princípios e regras especificas. No entanto, no
mesmo ano de aprovação do PDM, foi também aprovado o Regulamento de Intervenção no Centro
Urbano e Histórico de Guimarães, colmatando, assim, as deficiências sentidas ao nível do PDM
para esta zona.
5.2.2. O PLANO DE URBANIZAÇÃO
O PDM faz referência ao Plano de Urbanização no seu art. 51º, n.º2. No entanto, segundo
informações da Câmara Municipal de Guimarães até ao momento este plano “não foi publicado”.
1 Anexo F3, volume II
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 93 –
Vigoram, por isso, “os estudos de 1982 complementados com estudos de pormenor executados em
zonas de forte pressão urbanística” 1.
5.2.3. PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
Não existe nem se encontra em elaboração um plano de salvaguarda e valorização para o
Centro Histórico de Guimarães.
5.2.4. REGULAMENTOS ESPECIFICOS
5.2.4.1. REGULAMENTO DE INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO E URBANO DE GUIMARÃES 2
Com o objectivo de redefinir e formalizar os procedimentos e condicionantes que vinham
sendo impostos para a reabilitação dos imóveis da área, este Regulamento informa sobre o processo
de licenciamento de obras (capítulo III), sejam projectos habitacionais, comerciais ou publicitários,
quais carecem de licenciamento (art. 1º e 2º) e as características que devem apresentar e preservar.
Os arquitectos são responsáveis (art. 10 e 11º) perante os projectos apresentados (aspecto
comum a todos os centros históricos), mas neste regulamento surge uma novidade relativamente a
todos os centros históricos aqui estudados: são apresentadas as sanções aplicáveis às infracções
cometidas tanto pelos responsáveis dos projectos como pelos proprietários (art. 33º).
Relativamente ás áreas comerciais (capítulo II), o regulamento dispõe que todas as obras
“terão de ser alvo de cuidados especiais não indicando quais, tendo em vista o carácter
arquitectónico (...) dos edifícios em que se integrem ou venham a integrar” e define os materiais
interditos nas áreas comerciais e o tipo, os materiais, cores e localização da publicidade e toldos não
permitidos 3.
Esta função comercial só é permitida nos níveis térreos dos edifícios (art. 13º e 28º) assim
como todo o sector terciário. A restante área terá de ser destinada unicamente à habitação, excepto
quando se tratem de organismos públicos (art. 28º). Estas disposições estão em conformidade com o
PDM. Para além desta definição funcional, este regulamento faz também uma zonificação
funcional, proibindo a ocupação por talhos e peixarias na zona intramuros, exceptuando as já
existentes e que se encontrem licenciadas (art. 29º).
1 Ver Anexo A4, volume II 2 Anexo F4, volume II 3 ver quadro n.º 20, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 94 –
No capítulo IV do regulamento são definidos os materiais permitidos nos imóveis do Centro
Histórico 1. Nos restantes artigos são apresentadas informações relativas a taxas, licenças, garantias
e sanções várias.
1 ver quadro n.º21, apêndice C
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 95 –
PARTE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 96 –
“(...) amparar,(...), o que do antigo edifício social, nas
suas diversas manifestações materiais e morais, era
necessário salvar, porque representava a ideia de pátria
na sucessão dos tempos. (...)”
Alexandre Herculano
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 97 –
1. PANORAMA E BALANÇO DAS FORMAS DE PROTECÇÃO E GESTÃO DOS CENTROS
HISTÓRICOS PORTUGUESES INSCRITOS NA LISTA DO PATRIMÓNIO MUNDIAL
A protecção dos centros históricos inscritos na Lista do Património Mundial revela-se sob
três formas: a protecção jurídica, a defesa da sua integridade física e a sua utilização.
A protecção jurídica diz respeito à sua classificação enquanto conjunto histórico (por um
lado inscrito na Lista do património Mundial e, por outro, automaticamente classificado como Bem
de Interesse Nacional 1) e como tal, a intervenção nesses locais terá que seguir as disposições legais
em vigor.
A defesa da sua integridade física realiza-se através da conservação, designação que engloba
de uma série de conceitos: a manutenção (que, sendo eficaz, impede a ocorrência de anomalias nas
edificações), a reconstrução, o restauro e a consolidação.
Relativamente à sua utilização, os conjuntos classificados devem ser reabilitados ou
reutilizados. Estas dois modos de utilização pressupõem que as acções de protecção da integridade
física sejam efectuadas de forma periódica.
Ou seja, proteger os conjuntos históricos classificados não passa apenas pela sua
classificação, inventariação ou catalogação. Intervir para reabilitar, reutilizar ou conservar são
palavras de ordem no processo de protecção e gestão destas áreas. No entanto, os centros históricos
não são museus, são espaços vivos inseridos numa cidade em desenvolvimento e como tal o
processo de conservação tem de ser integrado nos planos delineados para toda a cidade.
A premissa de actuação nos centros históricos está directamente relacionada com a procura do
equilíbrio entre as pessoas em convivência com as ferramentas urbanas essenciais e as inovações
introduzidas ao longo dos anos com a finalidade de melhorar a qualidade de vida. Este reforço da
qualidade de vida não significa apenas garantir as exigências da modernidade, mas também
transmitir uma cultura de cidade histórica, pela identidade dos edifícios e espaços públicos e pela
autenticidade e integridade dos valores culturais. Daí que o património cultural, o urbanismo e
ordenamento do território se conectem.
Assim sendo, as práticas e metodologias têm de passar pela discussão das definições de
estratégias de desenvolvimento. Como introduzir elementos urbanos como a sinalização ou o
mobiliário urbano, no quadro de intervenções de qualificação cultural dos espaços públicos? E
como fazer com que a publicidade não prejudique a leitura dos elementos culturais? Que lugar têm
1 n.º 7 do artigo 15º da Lei 107/2001, de 8 de Setembro
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 98 –
os materiais de construção industriais na reconstrução das habitações tradicionais? Como afastar o
trânsito automóvel e devolver o espaço público aos peões?...
Os casos portugueses, em termos de planeamento e conservação, tornam-se, para muitos,
notoriamente deficientes quando comparados, por exemplo, com Santiago de Compostela, onde o
planeamento tem vários patamares de execução, entre os quais o Plano Especial de Protecção e
Reabilitação da Cidade Histórica, como resposta às situações criadas pela inscrição do Centro
Histórico na Lista do Património Mundial em 1985. De tal modo é exemplar, que o modelo e
práticas de reabilitação desenvolvidas nos últimos anos permitiram a atribuição do Prémio Europeu
de Urbanismo em 1998.
Vejamos, no nosso país, quais são as principais lacunas detectadas:
A especificidade do Centro Histórico de Angra do Heroísmo em matéria de património e de
gestão e ordenamento do território não se caracteriza apenas por uma realidade
sócio-económica diferente da do território continental, mas prende-se especialmente com a sua
localização geográfica e com as competências do Governo Regional, que acaba por substituir o
Governo Central em matéria de legislação e planeamento. Ao nível do património, a própria Lei de
Bases consagra e diferencia o estatuto das regiões autónomas.
Este contacto mais directo com a população e Municípios provocou uma mais rápida saída de
legislação de grande importância para a gestão e protecção do Centro Histórico inscrito na lista do
património mundial.
Angra do Heroísmo tem um método de planeamento e gestão, à primeira vista, descoordenado
e não coerente, pela inexistência de PDM ou de planos de urbanização. No entanto, a actuação do
GTL e dos particulares apoia-se juridicamente, não em planos de ordenamento do território, mas em
Decretos Legislativos e Regulamentares Regionais que por si só os substituem, não sendo sentida a
necessidade de elaboração de PDM’s ou outros planos.
Angra do Heroísmo necessita, no entanto, de elaborar um PDM, pela sua obrigatoriedade
legal (Decreto Lei n.º380/99, art. 84º, n.º3) e um Plano de Urbanização, por constituir um
instrumento que define a organização espacial da área classificada, identificando os valores a
proteger, definindo planos integrados de circulação e transporte, definindo o zonamento funcional,
entre outros aspectos essenciais a uma correcta gestão do espaço a proteger, integrando-o no
planeamento e desenvolvimento municipal.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 99 –
Além disso, é urgente acelerar a elaboração de programas de formação, sensibilização e
divulgação que já se encontram em curso, pela necessidade constante de integrar a população no
processo de reabilitação.
O Centro Histórico de Évora conta com todos os instrumentos de gestão e protecção
necessários à conservação e reabilitação da área classificada. O Plano Estratégico vem substituir de
alguma forma o Plano de Salvaguarda e Valorização, visto pelas organizações internacionais como
instrumento essencial.
No entanto, é necessária uma maior fiscalização e controle no que diz respeito à aplicação de
algumas das disposições dos planos, nomeadamente no âmbito da circulação no Centro Histórico.
Outra lacuna que importa referir é a excessiva burocratização, no que diz respeito ao acesso
aos regulamentos dos planos municipais.
O Centro Histórico de Sintra é, sem dúvida, o que mais condições reúne para manter a
classificação e para concretizar um ordenamento urbanístico pleno e eficaz.
Para além de dispor de planos de gestão e ordenamento ratificados, apresenta ainda um leque
vasto de soluções e de acções que fomentam não só o desenvolvimento urbanístico, integrando os
conceitos de conservação e reabilitação patrimonial, mas também a participação activa da
população no processo de recuperação e valorização do Centro Histórico.
O caso do Porto apresenta ainda muitas lacunas, apesar dos esforços que há muito vêm sendo
desenvolvidos, talvez devido à dimensão do Centro Histórico e aos graves problemas habitacionais
que apresenta. Tudo isso tem direccionado à actuação dos serviços técnicos para a resolução de
casos de emergência, fazendo esquecer um pouco o Centro Histórico como um todo.
Assim sendo, torna-se urgente:
a aprovação do novo PDM;
a elaboração de um plano de urbanização, de modo a disciplinar toda a área do Centro
Histórico aos mesmos princípios de intervenção, direccionando a delineação dos critérios
particulares de cada operação para os planos de pormenor;
a elaboração de planos sectoriais: um plano de circulação e transporte integrado no plano
geral da cidade, que privilegie os peões, condicione a circulação viária e o estacionamento e
garanta um aumento do número, frequência e cobertura dos transportes públicos; a
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 100 –
elaboração de um plano de segurança e intervenção no espaço público de modo a criar
estruturas fixas, cartografia de risco de incêndios, rede de unidades móveis de intervenção
(bombeiros, ambulâncias e policiamento), promover o mobiliário urbano adequado,
reformular o sistema de recolha de lixo e limpeza de ruas, alargar o sistema de iluminação
urbana a todas as ruas, reabilitar infra-estruturas, incrementando soluções colectivas (por
exemplo no caso das antenas);
a elaboração de uma estratégia de divulgação das acções de reabilitação em curso e
programadas e dos meios técnicos e financeiros à disposição da população local, através da
publicação de Posturas. Deste modo contribuía-se para o esclarecimento e sensibilização da
população para o processo de reabilitação.
Além disto, a área inscrita na Lista do Património Mundial não está inserida apenas no Porto,
mas também em Vila Nova de Gaia. Assim sendo, torna-se urgente aprovar um plano
intermunicipal de ordenamento do território para que seja assegurada a articulação entre os planos
de ordenamento do território e urbanismo das duas cidades para esta zona de modo integrado. Este
plano permitiria a definição de objectivos, programas, projectos e formas de protecção comuns e
coerentes.
A gestão e protecção do Centro Histórico de Guimarães não dá grande destaque, como
vimos, à existência de regulamentos. O PDM remete para a legislação em vigor a protecção do
Centro Histórico (não podendo, no entanto, deixar de ser enquadrado na definição que nos é
apresentada de zonas especiais de salvaguarda) e não existe um plano de urbanização ratificado.
Apesar disso, o Regulamento de Intervenção define princípios e regras específicos e apresenta
uma fiscalização mais adequada que todos os analisados até aqui.
Ou seja, o GTL de Guimarães aposta essencialmente no controlo das alterações urbanísticas e
funcionais ao nível urbano e na fiscalização e controlo das intervenções particulares, prestando, ao
mesmo tempo, assistência técnica aos particulares que poderá passar pela resolução de obras de
menor expressão mas passíveis de forte impacto na imagem do Centro Histórico até à produção de
projectos alternativos aos indeferidos.
Outro dos instrumentos de grande relevância na protecção e gestão do Centro Histórico de
Guimarães diz respeito aos fundos comparticipados cumulativamente pelo Governo Central e pelo
Município com o objectivo de recuperar o património edificado.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 101 –
Verificamos assim que o processo de protecção dos centros históricos classificados no
contexto de desenvolvimento de toda a cidade varia consoante as características e exigências do
local e dos recursos que dispõe, tornando o processo de gestão e reabilitação tão sensível e
complexo como apaixonante.
2. O DESAFIO DA GESTÃO E REABILITAÇÃO URBANA DOS CENTROS HISTÓRICOS
A administração municipal das cidades património mundial enfrenta uma realidade actual que
exerce pressões sobre os centros históricos: excesso de população, deterioração de infra-estruturas,
turismo, especulação de bens e transportes…
As políticas de conservação têm de ser geridas no contexto das mudanças que as cidades
sofrem actualmente, tendo em conta a administração da vida urbana ao mesmo tempo que se
preserva valores e características particulares. Este é o grande desafio das pessoas e instituições que
todos os dias gerem e administram os centros históricos inscritos na Lista do Património Mundial:
conjugar a natureza das cidades históricas e a sua conservação com o desenvolvimento natural da
vida contemporânea.
Em todo o mundo as cidades estão organizadas de modo similar, tentando responder às
necessidades dos seus cidadãos, com o apoio de entidades municipais encarregadas da gestão diária
dos assuntos que afectam a população: transporte, trânsito, estacionamentos, habitação, saneamento,
energia…
A capacidade de proporcionar esses serviços depende directa ou indirectamente de apoio
governamental e regional, apesar de já há algum tempo os municípios terem adquirido um carácter
cada vez mais intervencionista, assumindo a responsabilidade de um número maior de sectores. No
entanto, as comunidades que têm dificuldade em assegurar uma subsistência, habitação e serviços
de saúde adequados podem considerar uma extravagância consagrar tempo e recursos à preservação
do património.
Este aspecto provocou que em muitos centros históricos se tenha verificado uma transferência
da população para outras zonas da cidade e que, ao mesmo tempo, se registasse um aumento de
veículos motorizados e, consequentemente, um incremento da poluição atmosférica e de vibrações.
Ora, nos centros históricos classificados é tão importante conservar e preservar as suas
características físicas e formas exteriores como a sua vitalidade e valor enquanto cidade funcional e
dinâmica. Assim sendo, a gestão urbana dos centros históricos tem que ter em conta o
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 102 –
financiamento de programas de conservação monumental e de beneficiação das estruturas,
adaptando-as às necessidades contemporâneas.
Apesar de este processo parecer, à primeira vista, incompatível, o desenvolvimento
sustentável dos centros históricos é possível sem que se alterem as suas características
patrimoniais e sociais e sem que estes aspectos entrem em conflito. Para que isso aconteça é
necessário que exista respeito pelas:
natureza do Centro Histórico, concebendo medidas estratégicas de manutenção da forma
física e de revitalização da dimensão intangível do local;
participação pública, através da inserção dos cidadãos no processo de identificação e
protecção das características patrimoniais, de modo a que todo o processo seja tão seu como
a própria cidade;
necessidades contemporâneas, regulamentando a actuação nos centros históricos e gerindo
conflitos.
Ao analisarmos objectivos e métodos de planeamento dos diferentes GTL’s constatámos que
estes têm ideias base comuns quanto à melhor estratégia de reabilitação urbana, apesar da
especificidade e diferenças de cada Centro Histórico em que actuam.
A primeira ideia diz respeito ao facto de o processo de reabilitação urbana dever assegurar a
conservação dos valores patrimoniais, materiais e imateriais, e a autenticidade e identidade
culturais locais. Esta ideia prende-se com a articulação indispensável entre a revitalização urbana e
a manutenção da ambiência social local, pois as obras de recuperação habitacional devem assegurar
não só operações de estética dos edifícios que tenham em conta a aplicação de técnicas, produtos e
materiais tradicionais de modo a manter a autenticidade e harmonia do conjunto, mas também
operações de beneficiação que criem condições primárias de segurança, conforto, higiene e
saneamento, muitas vezes inexistentes ou insuficientes.
A segunda ideia base prende-se com a integração da população local no processo de
reabilitação urbana. Em todos os centros históricos predomina uma população pobre,
compreensivelmente sem preocupações patrimoniais. Urge sensibilizar a população para este
processo, ao mesmo tempo que lhe é dado apoio técnico e financeiro para que restituam uma
imagem favorável às suas habitações e criem melhores condições de habitabilidade.
A terceira ideia diz respeito a uma reabilitação urbana coerente e integrada no processo
de gestão territorial. Os Municípios elaboram planos de ordenamento territorial, nomeadamente o
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 103 –
PDM e os planos de urbanização para toda a cidade. Através dos GTL’s, elaboram os planos de
pormenor e os regulamentos de intervenção nos centros históricos.
O PDM é um instrumento coordenador e privilegiado da política de ordenamento do território
e gestão dos espaços componentes de um Município e o seu objectivo fundamental, para além de
definir regras de ocupação, uso e transformação do solo, é o de apoiar uma política de
desenvolvimento económico e social.
Como regulamento administrativo, o PDM significa um instrumento de emancipação
relativamente ao Governo Central. Como regulamento normativo, responsabiliza os orgãos
municipais e os munícipes na aplicação dos princípios e regras propostas.
O PDM não é mais que um plano global, resultado de um estudo acerca dos aspectos sociais,
económicos, de circulação e de infraestruturas, que fixa em regulamento próprio os objectivos a
alcançar.
Mas serão estes planos indispensáveis à gestão e reabilitação dos centros históricos
património mundial? Sem dúvida que sim, pois só deste modo se pode integrar a conservação numa
política global de ordenamento e de urbanismo, atendendo também às carências sociais e
económicas destas áreas.
No entanto, verifica-se, que nas cidades do nosso país com centros históricos Património
Mundial, onde o planeamento deveria funcionar ainda mais eficazmente, o sistema de planificação
tem um carácter excessivamente teórico, na medida em que atende apenas ao modelo previsto
pelo legislador sem olhar à realidade específica de cada local, como se todo o processo de
planeamento fosse perfeito. Na verdade, constata-se que a cascata de planos relativos ao mesmo
território nem sempre se verifica e muitas vezes existem planos de directivas mas não os executivos
ou o contrário.
Esta ausência de uma relação de necessidade, provoca que a existência de planos
urbanísticos superiores, como o PROT ou o PDM, não seja condição necessária para a existência
dos inferiores como os planos de urbanização ou de pormenor. Apesar dos agentes técnicos
considerarem ser necessária a sua elaboração surgem-nos situações como a de Angra que não possui
um PDM ou plano de urbanização mas já quase terminou a elaboração do plano de salvaguarda ou
do Porto onde existem Normas provisórias e que elabora planos de pormenor para as diferentes
operações no Centro Histórico, mas não possui um plano de urbanização.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 104 –
Este aspecto está directamente relacionado com a falta de controlo do Estado. O Governo
sujeita à ratificação os PDM’s, mas os planos de urbanização só carecem de ratificação se ainda não
forem cobertos por um PDM ou não se conformarem com o existente.
A não consagração do principio da necessidade e da conformidade torna a planificação mais
flexível e pode gerar soluções descoordenadas e contraditórias ao nível de todo o território
municipal. Nos centros históricos património mundial estes aspectos podem pôr em causa não só a
identidade e preservação cultural como também a própria classificação.
Intervir nos centros históricos implica, como vimos, objectivos e metodologias de
planeamento e gestão. No entanto, nos casos portugueses existe um défice de experiência de
planeamento e os instrumentos legais eram, até há pouco tempo, juridicamente deficientes, o que
atrasou todo o processo de reabilitação que só foi tendo “pernas para andar” devido à vontade de
agentes técnicos sensibilizados para esta situação, através da própria experiência ou de contactos
com organismos homónimos internacionais.
Os planos de ordenamento do território foram realizados para cumprir calendários da
Comunidade Europeia, com escassas directrizes de suporte intermunicipal e regional. Mesmo assim,
em muitos casos, como verificámos, ainda nem existem.
Esta omissão ou descoordenação, apoiada em soluções de maior escala de renovação urbana,
que marginaliza conceitos de manutenção, conservação e reabilitação, provocará a perca das
qualidades inerentes à rehumanização da cidade e à reintegração dos valores culturais dos
habitantes dos centros históricos.
Os responsáveis pela reabilitação a nível central, regional e local devem desenvolver de forma
mais integrada um modelo objectivo e eficiente de recuperação e qualificação urbana, assente numa
política de habitação e de recuperação patrimonial que devem ser os eixos estratégicos da
reabilitação.
Este modelo de intervenção deve envolver não só os técnicos que já possuem experiência
devido à sua actuação nos GTL’s, como também empresas, comerciantes, proprietários e inquilinos
num projecto que deve ser de todos.
É um facto que todos os centros históricos possuem regulamentos municipais de intervenção
que orientam a actuação tanto das entidades públicas como dos particulares, mas sem uma
fiscalização e controlo activos e permanentes, os seus princípios e regras correm o risco de ser
desrespeitados. Além disso, existem muitos programas de apoio à recuperação patrimonial, mas
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 105 –
estes não são precedidos de uma sensibilização patrimonial, dando apenas origem a uma utilização
com perspectivas económicas.
Este trabalho iniciado pelos GTL’s deveria ser precedido por um programa nacional e
multidisciplinar especialmente vocacionado para a valorização dos centros históricos, que desse
corpo às preocupações dos municípios e que potencializasse as especificidades de cada Centro
Histórico.
A quarta ideia diz respeito à motivação do investimento privado no processo de
reabilitação urbana dos centros históricos. Os Municípios não podem suportar sozinhos este
processo sem prejudicar as restantes áreas dos respectivos concelhos. O envolvimento generalizado
dos proprietários privados e das empresas é a principal saída para uma rápida aceleração do
processo devendo, para isso, serem criados incentivos e medidas capazes de os motivar.
No entanto, esse desafio à participação e envolvimento privado não pode chocar com
instituições públicas desorganizadas e demasiado burocráticas, sob pena de desmotivar o
empenhamento e interesse que possa existir. É necessário que o tempo de resposta e de aprovação
de projectos seja reduzido, que se requalifique o espaço público e que se discipline o trânsito e o
estacionamento.
O investimento privado não pode ser direccionado apenas para a recuperação dos edifícios,
mas também ser atraído para o comércio tradicional, de modo a reintroduzir o hábito de visitar o
Centro Histórico para outras actividades que não a restauração ou outras actividades ilícitas.
A última ideia prende-se com a gestão da qualidade urbana, de modo a garantir a
manutenção da qualidade do espaço público e, consequentemente, da qualidade de vida dos
moradores e visitantes. Há que ter em conta preocupações relativas a limpeza, manutenção e
segurança, como o ruído, o vandalismo, os sem-abrigo, o tráfico e consumo de drogas, a limpeza
das ruas, a conservação do mobiliário urbano e dos pavimentos, os abusos de trânsito e
estacionamento, o policiamento.
As metodologias técnicas e humanas adoptadas para resolver as questões referentes à
qualidade urbana terão de ser activas, rápidas e permanentes, pois muitos casos de reduzida
qualidade urbana, como por exemplo o Centro Histórico do Porto, devem-se essencialmente à
habituação ao estado caótico do trânsito, à limpeza pontual das ruas e à falta de policiamento.
O processo de reabilitação urbana não termina nunca, tem que ser coerente e permanente no
espaço e no tempo, tendo em conta a realidade actual e prevendo necessidades e questões futuras.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 106 –
Uma avaliação activa e constante permitirá reconhecer o êxito do processo e o intercâmbio de
experiências permitirá conhecer novos métodos de análise e novas técnicas de resposta.
3. A DICOTOMIA PATRIMÓNIO HISTÓRICO– CRIAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Outro aspecto de grande importância e que tem originado opiniões controversas diz respeito à
inserção de elementos modernos, mas de qualidade indiscutível nos centros históricos: por um
lado, verifica-se a tentação irresistível de proteger os locais, eliminando actividades consideradas
incompatíveis, irradiando alguns dos seus habitantes e transformando os centros históricos em
autênticas cidades-museus “para turista ver”; por outro lado, existe quem defenda a conservação
integrada num processo evolutivo que mantenha as características específicas do local ao mesmo
tempo que se criam condições de adaptabilidade às exigências actuais, transformando os centros
históricos em cidades vivas.
Não podemos esquecer que muitos centros históricos foram classificados por representarem
processos evolutivos da sociedade, seja em termos arquitectónicos ou vivenciais. Se os
transformarmos em museus perderão essa essência de evolução. Não se pode fechar os centros
históricos a novidades de qualidade irrepreensível, temos de dar possibilidade de os marcarmos com
algo do nosso tempo. É óbvio que não se podem destruir testemunhos patrimoniais, mas devem ser
elaboradas estratégias que insiram no meio, de modo coerente, características representativas da
nossa realidade actual.
Do mesmo modo que os regulamentos de intervenção nos centros históricos não permitem a
demolição total ou parcial, acção indispensável apenas nos casos de perigo para ocupantes e
transeuntes, sem parecer prévio das entidades competentes, também não fecham as portas à inserção
de novos elementos, com características modernas. As políticas de actuação não podem ser rígidas e
inflexíveis em nenhum dos casos. Devem analisar e ponderar cada caso antes de tomar qualquer
decisão.
4. O DIREITO DE PROPRIEDADE DO SOLO
A VINCULAÇÃO SOCIAL E SITUACIONAL
A propriedade do solo está sujeita na sua essência e no seu significado a uma vinculação
social, mais forte do que a propriedade que incide sobre outros bens, móveis e imóveis, devido à sua
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 107 –
importância fundamental para o desenvolvimento da sociedade no seu conjunto e para as
necessidades das instituições de utilidade pública.
Este aspecto legitima que a lei e a administração estabeleçam limitações e condicionantes às
faculdades de uso ou utilização do solo sem que se verifique uma obrigação de indemnização e
serve de base a medidas de carácter expropriativo que devem ser acompanhadas de indemnização.
O conceito de vinculação situacional diz respeito aos terrenos caracterizados tanto pela sua
situação e qualidade bem como pela sua inserção na natureza e na paisagem, como por exemplo a
sua localização numa área de protecção patrimonial. Este aspecto obriga o proprietário a não
realizar ou a renunciar determinadas utilizações, como por exemplo a edificação.
Estas ideias de vinculação social e situacional têm pleno cabimento no urbanismo e
ordenamento do território de zonas classificadas devido à necessidade de restrições à utilização em
áreas incluídas nas zonas de protecção e às servidões administrativas e restrições de utilidade
pública como as áreas non aedificandi ou conjuntos classificados...
Assim sendo, compete ao plano urbanístico definir o conteúdo e os limites do direito de
propriedade quanto à sua função e vinculação social.
O «JUS AEDIFICANDI»
O direito de propriedade é definido no artigo1305º do Código civil do seguinte modo: “o
proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas
que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas”.
Nas restrições legais inserem-se as restrições de direito público, nomeadamente as de natureza
urbanistica. O «Jus Aedificandi» está, assim, dependente das normas urbanisticas, pois o direito de
construir encontra-se nas prescrições dos planos respeitantes ao zonamento do espaço. Quando não
existem planos, o momento do «Jus Aedificandi» situa-se no acto de aprovação dos projectos de
obras pelas autarquias e na licença de construção.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 108 –
APÊNDICES
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 109 –
APÊNDICE A - GLOSSÁRIO
“ad perpetuam rei memoriam”: que fica registado
Cartas: definem princípios e conceitos sobre uma determinada matéria, de forma a
orientar a acção prática dos intervenientes.
Conservação (v. tb. Conservação integrada; consolidação; manutenção; reconstrução;
restauro): conjunto de acções destinadas a prolongar o tempo de vida de uma dada
edificação histórica. Trata-se de uma designação de espectro alargado que engloba vários
conceitos (manutenção; reparação; restauro; etc) seleccionados de acordo com o caso de
análise. Cada um desses conceitos corresponde a um tipo de intervenção progressivamente
maior, devendo ser tido em conta que do ponto de vista do património histórico edificado,
é sempre preferível recorrer a intervenções de maior envergadura possível que permitam
atingir os objectivos preconizados.
Conservação Integrada: é o resultado da acção conjugada das técnicas de restauro e da
pesquisa de funções apropriadas. A conservação integrada deve ser um dos pressupostos
da planificação urbana e regional. 1
Consolidação: conjunto de operações que tem em vista reforçar a estabilidade estrtural do
edificio.
Convenções: documentos jurídicos que comprometem os Estados aderentes.
Direito de construção (v. tb. Direito do Urbanismo): é o conjunto de regras técnicas e
jurídicas a que deve obedecer a construção de edifícios.
Direito dos Planos (v. tb. Direito do Urbanismo): é o conjunto de procedimentos de
elaboração de planos urbanísticos, seu regime jurídico e instrumentos de execução.
Direito dos Solos (v. tb. Direito do Urbanismo): é o conjunto de normas jurídicas que
dizem respeito à alteração do uso ou ocupação do solo para fins urbanisticos.
Direito do Urbanismo (v. tb. Urbanismo) : é o conjunto de preceitos jurídicos, normas e
institutos que disciplinam a expansão e renovação dos aglomerados populacionais, as
intervenções no solo e as formas da sua utilização, de modo a garantir o desenvolvimento
integrado das regiões e a melhoria da qualidade de vida das populações. O seu objecto
1 Segundo a Carta Europeia do Património Arquitectónico (Conselho da Europa, Granada, 1975)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 110 –
engloba três grandes sectores: o direito dos planos (v. tb.), o direito dos solos (v. tb.) e o
direito de construção (v. tb.).
Inquérito público: recolha de observações sobre as disposições dos planos municipais, na
sequência da exposição destas em locais acessíveis ao público, na sede do município e das
juntas de freguesia a que respeita.
Manutenção: conjunto de operações preventivas destinadas a manter o bom
funcionamento, quer da edificação como um todo, quer de uma das partes constituintes.
Incluem-se nesta designação um vasto conjunto de operações, como inspecções de rotina,
limpeza, e aplicação de pinturas novas.
Medidas Preventivas: regulamentos administrativos, de carácter transitório, constituídos
por medidas destinadas a evitar a alteração das circunstâncias e das condições de facto
existentes que possa limitar a liberdade de planeamento, comprometer ou tornar mais
onerosa a execução do plano. Estas medidas são estabelecidas em áreas para as quais
tenha sido decidida a elaboração, alteração, revisão ou suspensão de um plano municipal
de ordenamento do território.
Normas Provisórias: regulamentos administrativos, de carácter transitório, constituídos
por normas temporárias de planeamento, desde logo vinculativas para a administração e
para os administrados, que põem em vigor soluções de ordenamento definidas ao longo do
processo de elaboração do plano que de certo modo antecipam.
Ordenamento do território: “é simultaneamente disciplina científica, técnica
administrativa e política que se desenvolve numa perspectiva interdisciplinar e integrada
tendente ao desenvolvimento equilibrado das regiões e á organização física do espaço
segundo uma estratégia de conjunto”. Deve ser democrático (assegurar a participação da
população e dos seus representantes políticos), integrado (coordenar as diferentes políticas
sectoriais e a sua integração numa abordagem global), funcional (ter em conta as
especificidades regionais) e prospectivo (deve assinalar e ter em conta as tendências e o
desenvolvimento a longo prazo) 1 .
Plano Director Municipal (PDM): estabelece o modelo de estrutura do território
municipal, constituindo uma síntese da estratégia de desenvolvimento e ordenamento local
prosseguida, integrando as opções de âmbito nacional e regional com incidência na
1 Segundo a Carta Europeia de Ordenamento do Território
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 111 –
respectiva área de intervenção. Fixa a respectiva estrutura espacial, a classificação dos
solos e os índices urbanísticos.
Plano pormenor: plano que trata, em detalhe, cada área concelhia, estabelecendo a
concepção do espaço urbano, em especial no que se refere ao uso do solo e às condições
gerais das edificações, novas ou a transformar, a caracterização das fachadas dos edifícios
e o arranjo dos espaços livres.
Planos regionais de ordenamento do território (PROT): definem a estratégia regional
de desenvolvimento territorial, integrando as opções estabelecidas a nível nacional e
considerando as estratégias municipais de desenvolvimento local, constituindo o quadro
de referência para a elaboração dos planos municipais de ordenamento do território.
Planos sectoriais: são instrumentos de programação ou de concretização das diversas
políticas com incidência na organização do território, nomeadamente nos dominios dos
transportes, comunicações, da energia e dos recursos geológicos, da educação e da
formação, da saúde, da habitação, do turismo, da agricultura, da indústria, das florestas e
do ambiente.
Plano de urbanização: plano que abrange as áreas urbanas ou urbanizáveis e, se
necessário, áreas não urbanizáveis intermédias ou envolventes daquelas, definindo uma
organização para o meio urbano, designadamente, o perímetro urbano, a concepção geral
da forma urbana, os parâmetros urbanísticos, o destino das construções, os valores
patrimoniais a proteger, os locais destinados à instalação de equipamentos, os espaços
livres e o traçado esquemático da rede viária e das infraestruturas principais.
Planta de condicionantes: assinala as servidões administrativas (v. tb.) e restrições de
utilidade pública, incluindo as de Reserva Agrícola Nacional e da Reserva Ecológica
Nacional, áreas classificadas, áreas submetidas ao regime florestal, áreas de protecção a
imóveis classificados e as áreas integradas no domínio público hídrico. Tem apenas
carácter informativo (não vinculativo).
Planta de ordenamento: delimita classes de espaços, em função do uso dominante e
estabelece unidades operativas de planeamento e gestão.
Planta de zonamento: delimita categorias de espaços, em função do uso dominante,
estabelece unidades e subunidades operativas de planeamento e gestão que servem de base
ao desenvolvimento de planos de pormenor e indicam os respectivos parâmetros
urbanísticos.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 112 –
Ratificação: “acto administrativo pelo qual o órgão competente decide sanar remediar
um acto inválido anteriormente praticado, suprindo a ilegalidade que o vicia” 1
Reabilitação: recuperação dos edificios, através de grandes obras, tendo em vista a sua
adaptação a novas utilizações.
Recomendações: definem princípios capazes de orientar as politica de cada Estado.
Reconstrução: construir de novo, mas deixando a marca do tempo.
Restauro: conjunto de operações destinadas a restabelecer a unidade de edificação do
ponto de vista da sua concepção e legibilidade original, ou relativa a uma dada época ou
conjunto de épocas. Trata-se de um tipo de acção com algumas dificuldades éticas, que
deve ser baseada em investigações e análises históricas inquestionáveis e utilizar materiais
que permitam uma distinção clara, quando observadas de perto, entre o original e não
original.
Restrição de interesse público: atinge o direito de propriedade sobre prédios,
independentemente da vizinhança, em benefício de uma coisa para a realização de
interesses públicos abstractos, de utilidade pública ideal não corporizada na função de
uma coisa.
Reutilização: recuperação dos edifícios (não sendo necessárias grandes obras), tendo em
vista a mesma função.
Servidão administrativa: encargo imposto por disposição da lei sobre certo prédio em
proveito da utilidade pública de uma coisa (edificação, água, linhas telefónicas, transporte
de energia, etc.).
Servidão legal (op legis): é o direito de propriedade limitado pelo facto desta estar dentro
da zona de protecção ou ser o imóvel protegido.
Urbanismo (v. tb. Direito do Urbanismo): é a ciência que estuda o modo de tornar
compatível entre si os vários usos possíveis do território.
Zonas especiais de protecção: servidões administrativas, nas quais não podem ser
concedidas, nem pelo município nem por outra entidade, licenças para obras de
construção e para quaisquer trabalhos que alterem a topografia, os alinhamentos e as
cérceas e, em geral, a distribuição de volumes e coberturas ou o revestimento exterior dos
edifícios, sem prévio parecer favorável da administração do património cultural
competente.
1 Cf. CAETANO, Marcello _ Manual do Direito Administrativo. 10ª edição. Coimbra, 1973. pág. 557
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 113 –
Zonas non aedificandi: zonas onde não são permitidas construções novas nem instalação
de elementos, independentemente da sua qualidade estética, que desvirtuem, desvalorizem
ou destruam a harmonia do local.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 114 –
APÊNDICE B - QUADROS
QUADRO N.º 1: regras relativas aos materiais e cores permitidos na zona classificada de Angra do Heroísmo segundo
o Decreto Legislativo Regional n.º15/84-A
MATERIAIS CORES
Pavimentos das ruas, praças e passeios Paralelepípedos de basalto, podendo conter
motivos em paralelepípedos em calcário
É proibida a utilização de tintas nos pavimentos
Passagens de peões ou outros sinais de trânsito
Calcário. É proibida a utilização de tintas nos pavimentos
É proibida a utilização de tintas nos pavimentos
Cantarias Pedra da região É proibida a utilização de tintas texturadas ou
brilhantes
Rebocos Argamassa com acabamento liso e desempenado
É proibida a utilização de tintas texturadas ou brilhantes
Cornijas Cantaria ou material moldável que a imite
Caixilharias Madeira. Nos casos de estabelecimentos
comerciais com vitrines recuadas relativamente ao plano exterior da fachada as
caixilharias podem ser de ferro pintado ou
aluminio anodizado..
No caso dos estabelecimentos comerciais com vitrines
recuadas relativamente ao plano exterior da fachada com caixilharias de ferro, estas devem ser pintadas de
verde escuro, castanho ou negro. No caso de serem de
aluminio anodizado de bronze ou negro.
Sacadas e varandas Pedra. Guardas em madeira ou ferro (forjado
ou fundido)
As guardas devem ser pintadas de verde escuro.
Revestimentos das fachadas São proibidos: cerâmicas, mármores, rebocos
rugosos, metais, vidros, materiais sintéticos e
plásticos, fibrocimento e todos os materiais
polidos e brilhantes.
Beirados Telha de argila regional assente em argamassa A face inferior dos beirados deve ser sempre de cor de óxido de ferro e as argamassas de assentamento
pintadas de branco.
Telhados Revestimentos com telha de argila regional
QUADRO N.º 2: síntese dos apoios e incentivos apresentados no Decreto Regulamentar Regional n.º 20/95/A
IMÓVEIS E ELEMENTOS SUBSIDIÁVEIS TIPO DE OBRAS
SUBSIDIÁVEIS
VALOR DO
SUBSÍDIO
PARTES A
SUBSIDIAR
“imóveis que pelo seu valor histórico e arquitectónico exterior e
interior devam ser restaurados ou reconstruídos com a reutilização
dos materiais ainda existentes ou com materiais da mesma natureza.” – Zona Classificada
Obras de reconstrução ou
de restauro. Correcção de
dissonâncias.
75% dos materiais Cobertura dos vãos,
reboco e pintura
exterior.
“imóveis que podem ser restaurados ou reconstruídos com
materiais semelhantes aos originais.” – Zona Classificada
Obras de reconstrução ou
de restauro. Correcção de
dissonâncias.
75% dos materiais
Cobertura dos vãos,
reboco e pintura
exterior.
“imóveis cujos proprietários se propõem corrigir dissonâncias
arquitectónicas que prejudiquem o restante conjunto edificado” –
Zona Classificada
Obras de reconstrução ou
de restauro. Correcção de dissonâncias.
75% dos materiais Cobertura dos vãos,
reboco e pintura exterior.
“imóveis cujos proprietários se propõem corrigir dissonâncias
arquitectónicas que prejudiquem o restante conjunto edificado” –
Área de Protecção
Obras de reconstrução ou
de restauro. Correcção de
dissonâncias.
50% dos materiais Cobertura dos vãos,
reboco e pintura
exterior.
“elementos considerados de excepcional interesse arquitectónico,
histórico ou decorativo” – Zona Classificada
Obras de recuperação 50% do custo total da
mão de obra e materiais utilizados
Elementos exteriores
e interiores
Quaisquer – Zona Classificada Simples conservação 50% dos materiais exteriores
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 115 –
QUADRO N.º 3: síntese dos apoios e incentivos apresentados no Decreto Regulamentar Regional
n.º 14/2000/A
IMÓVEIS E ELEMENTOS
SUBSIDIÁVEIS
TIPO DE OBRAS
SUBSIDIÁVEIS
VALOR DO SUBSÍDIO
Imóveis que pelo seu valor histórico e
arquitectónico exterior e interior devam ser restaurados ou reconstruídos com a
reutilização dos materiais ainda existentes ou
com materiais da mesma natureza e imóveis que podem ser restaurados ou reconstruídos
com materiais semelhantes aos originais., quando tal resulte em considerável beneficio
para o conjunto onde se insere.
Obras de, recuperação,
restauro ou valorização.
50% do custo total da intervenção
Zona Classificada: Todos os
edifícios anteriores a 1900
Área de protecção: I.I.P. ou
valor concelhio
25% do custo total da intervenção
Zona classificada: todos os
edifícios posteriores a 1900
Área de protecção: imóveis de
especial interesse patrimonial ou
histórico
imóveis cujos proprietários se propõem
corrigir dissonâncias arquitectónicas que
prejudiquem o restante conjunto edificado
Correcção de dissonâncias e
anomalias
arquitectónicas.
50% do custo total das intervenções
Eliminação de dissonâncias ou
anomalias na zona
classificada
Imóvel anterior a 1900: 50% do custo total
Outras circunstâncias: 25% do custo total
elementos interiores e exteriores considerados de excepcional interesse arquitectónico,
histórico ou decorativo
Obras de recuperação, restauro ou conservação
75% do custo total da intervenção
Quaisquer – Zona Classificada Simples conservação e
manutenção
25% do custo total de intervenção
Telhas de coberturas e beirados Respectivamente,
substituição e modificação
50% do custo total
Anúncios e toldos existentes em imóvel inserido na zona classificada
Remoção definitiva 50% do custo total
Substituição segundo
regras do Plano de
salvaguarda
25% do custo total
Antenas parabólicas e outros acessórios
instaladas em imóvel sito na zona classificada
Substituição por TV por
Cabo
Pagamento da taxa de instalação do serviço e do valor de
12 mensalidades do serviço básico à data de assinatura do contracto
Remoção total 75% do custo total da remoção
QUADRO N.º 4: regras relativas aos materiais e cores permitidos nos imóveis e conjuntos classificados ou
em vias de classificação e respectivas áreas de protecção de Angra do Heroísmo segundo
o Decreto Legislativo Regional n.º11/2000-A
MATERIAIS CORES
Rebocos Argamassa de cimento, cal e areia Caiados ou pintados com cores tradicionais
Janelas, portas e caixilharias Madeira Cores tradicionais
Coberturas São proibidas coberturas planas em betão
armado
Telhados Telha regional ou, em alternativa, telha de
argila de qualquer proveniência
Cor idêntica á telha regional
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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QUADRO N.º 5: critérios formais e de conteúdo estabelecidos no Despacho Normativo n.º 83/2000
ELEMENTOS
FORMAIS
Número de elementos
permitido por estabelecimento
Um dos seguintes: toldo recto retráctil com sanefa na frente ou anúncio
paralelo e apenso à fachada ou anúncio em bandeira
Local de colocação Devem ser sempre colocados e fixados abaixo da cota do pavimento do 1º
andar e nunca fixos em elementos arquitectónicos significativos
Projecção e dimensão máximas
Projecção máxima de 1 metro quando totalmente estendidos, não podendo exceder os 3 metros medidos na sua dimensão máxima paralela à fachada
Materiais
Permitidos: materiais duradouros , resistentes e de boa qualidade estética
como madeira envernizada ou pintada ou aço inoxidável polido ou escovado ou ferro fundido, cobre ou latão
Proibidos: caixa de material plástico ou aluminio
Cor Branco
Iluminação
Não podem possuir luz própria em caixa ou semelhante, nem iluminação intermitente ou de cor ou intensidade variáveis. Os anúncios devem ser
iluminados por um ponto de luz exterior.
CONTEÚDO
Produtos e marcas permitidos
A publicidade exterior com referência a marcas ou produtos só é aceite
quando se trata de lojas em regime de franchising e exclusivamente para o
produto ou marca base.
Características Não são permitidas grandes manchas de informação com dimensões
exageradas
QUADRO N.º 6: tipo de obras permitidas em cada categoria de edificações catalogadas segundo o PDM
da cidade de Évora
CATEGORIAS DAS EDIFICAÇÕES TIPO DE OBRAS
“A1) MN” Conservação e restauro
“A2) I.I.P.”
“A3) V.C.”
Conservação, restauro e adaptação “B1) edifício, edifícios ou elementos
arquitectónicos interiores ou exteriores de qualidade”
“B2) edifício, edifícios ou elementos
arquitectónicos interiores de qualidade mas com
fachada adulterada”
Conservação, restauro e adaptação com alteração da fachada, desde que a
intervenção não altere o traçado anterior significativamente
“C1) edifícios com fachadas de interesse” Conservação, restauro, adaptação e
remodelação com preservação integral da fachada
Nestes casos se apresentarem
condições de ruína que recomendem a demolição deverão ser
reconstruídos depois de um
levantamento do edifício e da elaboração do projecto de
reconstrução que respeite as
características exteriores do edifício
“C2) edifícios com alguns elementos na fachada com interesse”
Conservação, restauro, adaptação e remodelação com possibilidade de
alteração controlada da fachada,
desde que a intervenção não altere o traçado anterior significativamente
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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QUADRO N.º 7: regras relativas aos materiais e cores permitidos no Centro Histórico de Évora segundo
o Plano de Urbanização da cidade.
MATERIAIS CORES
Coberturas Telha cerâmica de canudo, preferencialmente de
fabrico artesanal, ou romana em canal com cobrideira e beirado em canudo
Vermelha
Terraços É permitida a utilização de tijoleira
Revestimentos rebocos afagados de argamassa de cimento, cal e
areia. Não é permitida a utilização de imitação de tijolo ou cantaria, do tipo tirolês ou carapinha,
utilização de materiais cerâmicos vidrados ou
azulejados e de marmorites e ainda rebocos ou tintas areadas ou esponjadas
Preferencialmente recobertos com caiação de
cores tradicionais: branco, conjugado com cinzentos, ocres e verdes claros
Caixilharias Madeira. Não é permitido o aluminio anodizado Branco, conjugado com verde ou castanho
escuros e sangue de boi. Em estabelecimentos
comerciais admite-se o cinzento.
QUADRO N.º 8: regras relativas à instalação de equipamentos técnicos no Centro Histórico de Évora
segundo o Plano de Urbanização da cidade
TIPO LOCALIZAÇÃO CORES
Painéis de energia
solar
Encostados a telhados expostos ao quadrante sul com
os topos pintados, ou em terraços. Em qualquer caso
não poderão ser visíveis do espaço público.
Cor de telha ou cinza
Dispositivos de ar
condicionado
Em locais não visíveis do espaço publico.
QUADRO N.º 9: Programa Municipal de reabilitação de fogos (Évora)
IMÓVEIS ABRANGIDOS Prédios ou fracções de habitação própria ou arrendados;
Projectos de reutilização para fins habitacionais de edifícios ou fracções com outros usos;
Prédios em regime de propriedade horizontal;
TIPO DE OBRAS
FINANCIÁVEIS
Conservação ordinária;
Conservação extraordinária;
Beneficiação
MATERIAIS Deverão respeitar os regulamentos municipais
VALORES Valor máximo a financiar a fundo perdido: 3750 euros
O valor das obras não poderá ser inferior a 90 vexes o valor da renda
QUADRO N.º 10: Programa Municipal de reabilitação de caixilharia em madeira (Évora)
IMÓVEIS
ABRANGIDOS
CANDIDATOS VALOR DO SUBSIDIO TIPOS DE OBRAS
Prédios de habitação ou mistos, dos próprios ou
arrendados
Inquilinos, senhorios ou
proprietários
residentes
Rendimento em relação ao salário mínimo
nacional
Subsidio a atribuir
Pintura, reparação e
substituição
Até 1,5 x 75%
Entre 1,5 x e 2 x 50%
Entre 2 x e 3 x 25%
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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QUADRO N.º 11: regras relativas à instalação de toldos e anúncios no Centro Histórico de Évora
TIPO CARACTERÍSTICAS CORES
Toldos Com pala pendente, sem abas laterais e de modelo de tipo direito de enrolar
Branco e creme
Anúncios De chapa metálica ou títulos de letras soltas.
De bandeira, em chapa pintada ou vazada
QUADRO N.º 12: características do mobiliário de esplanadas permitido no Centro Histórico de Évora
MOBILIÁRIO MATERIAL CORES OUTRAS
CARACTERISTICAS
Mesas e cadeiras Preferencialmente metálicas Uma única cor e tonalidade Desenho simples
Guarda-sóis Lona Cor uniforme Admite-se publicidade nas
abas
Estrados Estrutura metálicos pintados a tinta de esmalte, revestidos de
tabuado de madeira
envernizada ou encerada
Cor natural de madeira Só se aceitam estrados regularizadores adaptados à
topografia do espaço público e
constituídos por módulos
QUADRO N.º 13: regulamento de obras nas calçadas do Centro Histórico de Sintra: processos de restauro,
conservação e impermeabilização
PROCESSO PROIBIÇÕES O QUE SE DEVE FAZER
Restauro e conservação
a colmatagem de faltas de calçada com argamassas, betuminosos ou
outro material de ligantes rigidos;
após as obras, a calçada deve manter as suas carcterísticas:
orientação, dimensão das juntas e
isenção de ondulações;
é autorizada a incorporação de
material novo, semelhante ao original, até 10% da área de
trabalho;
extravasar material betuminoso
sobre as valetas;
espalhar argamassas sobre as valetas ou calçadas
a limpeza dos pavimentos no final das obras, de modo a que não
apresentem vestigios dos trabalhos
Impermeabilização
o espalhamento de argamassas sobre
a calçada como solução de impermeabilização.
Pedir licenciamento à Câmara
Municipal para abertura de vala
o espalhamento de argamassas com o
fim de resolver a erosão das águas pluviais que caiem dos beirados
Instalar algerozes integrados na
cobertura
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 119 –
QUADRO N.º 14: alteração e ocupação dos pavimentos no Centro Histórico de Sintra
TIPO DE OCUPAÇÃO PROIBIÇÕES O QUE SE DEVE FAZER
Acesso de veículos
Revestir as calçadas com argamassa
para melhorar aderência
Requerer a beneficiação à Câmara Municipal Executar rampas de argamassa sobre
as valetas para resolver desníveis no
passeio
Executar rampas de acesso ao interior das propriedades privadas que
interrompam a continuidade das
valetas ou passeios
As rampas devem resolver-se no interior das propriedades tendo como
limite exterior o plano do alinhamento
da frente do terreno
É proibido transitar, parar ou
estacionar veículos nos passeios
unicamente concebidos para peões
Ocupação privada
Alterar as características dos
pavimentos da calçada para instalação
de esplanadas
Pedir autorização prévia à Câmara
Municipal
Alterações em calçadas de pedra local
Executar quaisquer simbolos de
identificação, personalização ou
publicidade nas calçadas
Pedir autorização prévia à Câmara
Municipal
Fabricar argamassas directamente nas calçadas
Sempre que seja necessário fazê-lo na via pública é obrigatória a sua
laboração sobre estância ou
amassadouro
QUADRO N.º 15: cores permitidas no Centro Histórico de Sintra
PARAMENTO CORNIJA E CUNHAL SOCO VÃOS AROS E FOLHAS
Marfim ou branco Marfim ou branco Branco, marfim ou cinza azul
Verde escuro, vermelho, grenat ou azul claro
Branco
Ocre Cinza, branco ou marfim Cinza azul ou marfim Grenat, azul claro ou
castanho
Branco
Rosa Branco Cinza azul Verde escuro Branco
Salmão Branco Cinza azul Verde escuro ou azul claro
Branco
QUADRO N.º 16: condições especificas para o mobiliário urbano em Sintra
A) QUIOSQUES
LOCALIZAÇÃO praças, largos, jardins e passeios com largura superior a 6 metros
COMPONENTES Permitidos Base, balcão, corpo e protecção. No ramo alimentar é permitida a esplanada
Interditos Caixotes, embalagens e qualquer
equipamento de apoio fora das instalações
PUBLICIDADE Permitida Inscrições na respectiva aba dos toldos,
quando existirem.
Interdita Autocolantes ou quaisquer dísticos no exterior
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 120 –
B) BANCAS
UTILIZAÇÃO PERMITIDA Venda de flores, artigos manufacturados ou não pelo vendedor, excepto produtos comestíveis preparados no local
PUBLICIDADE Permitida Inscrições na respectiva aba dos toldos, quando licenciados.
Interdita
Painéis superiores instalados sobre a
cobertura das bancas e afixação de autocolantes ou quaisquer outros dísticos no
exterior
C) ESPLANADAS
ESPLANADAS
ABERTAS
Localização Em frente dos estabelecimentos de restauração e bebidas, devidamente licenciados
Componentes Guarda-ventos amovíveis, mesas, cadeiras e chapéus de sol
Condições
Não podem exceder a fachada do respectivo edifício nem dificultar o acesso ao mesmo;
Todo o mobiliário deve ser de qualidade em termos de desenho, materiais (no Centro Histórico só são permitidos o metal ou a madeira)e
construção;
Todo o equipamento amovível deve ser retirado fora do horário do estabelecimento.
ESPLANADAS
FECHADAS
Dimensões
Largura: entre 2 e 3,50 metros
Comprimento: limites do estabelecimento
Altura: pé direito livre no interior. Não deve ser inferior a 2,70 metros
Interdições
Não são permitidas a uma distância inferior a 5 metros dos cunhais dos edifícios e de passadeiras;
Não é permitido a afixação de toldos ou sanefas, autocolantes ou outros dísticos;
Não são permitidas alterações nas fachadas.
Características formais e/ou de
construção
Estruturas metálicas; pavimento facilmente removível; estrutura principal
desmontável; garantia de conforto térmico; prever abertura de vãos no
mínimo em 50%, adoptando preferencialmente o sistema de fole.
D) TOLDOS, ALPENDRES E SANEFAS
CARCTERÍSTICAS FORMAIS E DE
CONSTRUÇÃO
Os toldos têm que ser rebatíveis;
A cor destes elementos deve integrar-se nas características cromáticas do edifício e do envolvente;
Estes elementos não podem sobrepor cunhais, pilastras, cornijas, emolduramentos de vãos de portas e janelas, gradeamentos ou outros elementos de interesse arquitectónico;
É proibido afixar ou pendurar objectos nestes elementos.
PUBLICIDADE Em estabelecimentos inseridos em imóveis classificados ou em vias de classificação ou
abrangidos por zonas de protecção as únicas referências publicitárias permitidas são as respeitantes ao nome do estabelecimento e à actividade do mesmo e devem ser inscritas
nas abas dos toldos.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 121 –
E) OUTRAS OCUPAÇÕES DE APOIO A ESTABELECIMENTOS
FLOREIRAS
Características formais Devem apresentar qualidade ao nível do desenho, materiais (em áreas de imóveis classificados ou em vias de classificação ou em zonas de protecção,
deve optar-se preferencialmente, por floreiras em cantaria) e estado de
manutenção das plantas.
Publicidade A publicidade, se existente, deve restringir-se ao nome/logotipo do estabelecimento.
EXPOSITORES, ARCAS
DE GELADOS,
BRINQUEDOS
MECÂNICOS OU
EQUIPAMENTOS
SIMILARES
Apenas é permitida a colocação de um único equipamento de apoio desta natureza por estabelecimento,
exceptuando os equipamentos de exposição de produtos horto-frutícolas, em que o número poderá ser superior;
Fora do horário de funcionamento do estabelecimento todos os equipamentos têm de ser retirados do espaço público.
F) OCUPAÇÕES TEMPORÁRIAS
OCUPAÇÕES
PERIÓDICAS
Noção Circos, carroceis e similares
Tempo de permanência permitido Máximo 30 dias por trimestre, acrescido o tempo necessário à montagem e
desmontagem das estruturas
Condições de instalação
Sujeição obrigatória à regulamentação sobre a emissão de ruídos, recolha de lixos, utilização de publicidade sonora e luminosa e limpeza do local ocupado;
É proibida a montagem de estendais de roupa no exterior das instalações;
As instalações devem apresentar-se em bom estado de conservação e limpeza;
Os animais devem ser alojados em local único e fora do alcance do público.
OCUPAÇÕES
CASUÍSTICAS
Noção
Actividades promocionais de natureza didáctica e/ou cultural, campanhas de
sensibilização ou qualquer outro evento de natureza expositiva que recorra a
estruturas como tendas, pavilhões ou estrados.
Tempo de permanência permitido Máximo 30 dias por semestre, acrescido o tempo necessário à montagem e
desmontagem das estruturas
Condições de instalação Este tipo de ocupação deve obedecer aos principios e restrições gerais do regulamento (art. 37º, 38º e 41º)
OCUPAÇÕES
POR MOTIVO
DE OBRAS
Noção Andaimes, tapumes, gruas, contentores de recolha de entulhos e outros similares
Tempo de permanência permitido Não pode ultrapassar o prazo fixado na licença de obra a que se reportam.
Caso o licenciamento não seja obrigatório, estas licenças serão emitidas pelo prazo solicitado pelo interessado.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 122 –
QUADRO N.º 17: condições especificas para suportes publicitários em Sintra
TIPO DE PUBLICIDADE CONDIÇÕES DE INSTALAÇÃO
Publicidade afecta a mobiliário urbano
Suportes publicitários autónomos
Painéis
É interdita a sua localização em áreas de imóveis classificados ou abrangidas por
zonas de protecção dos mesmos ou em
núcleos históricos
A estrutura deve ser metálica e na cor que melhor se integre na paisagem, não
devendo permanecer no local sem
mensagem
Dimensões: 2,40m x 1,70m ou 4m x 3m
ou 8m x 3m
Anúncios
electrónicos
Devem ser observados os critérios e
restrições gerais do Regulamento (art. 37º a 41º)
Mupis
Mastros-bandeira
Direccionadores
Colunas
publicitárias
Publicidade afecta a mobiliário
urbano ou a equipamentos municipais (sem suporte próprio
:bandeirolas e pendões)
Apenas é autorizado para divulgação de actividades do
Municipio, da Administração Central ou por estas apoiadas. Os
dispositivos devem permanecer oscilantes.
Publicidade afecta a mobiliário urbano ou a equipamento das
concessionárias de serviços
públicos (cabines telefónicas ou marcos do correio)
Devem ser observados os critérios e restrições gerais do Regulamento (art. 37º a 41º)
Publicidade instalada em edifícios
Instalada em telhados, coberturas
ou terraço
Não podem obstruir o campo visual envolvente
Não podem permanecer no local sem mensagem
Não prejudiquem a segurança
Instalada em fachadas Juntamente com o projecto tipo, deverá ser entregue a
autorização do condomínio
Instalada em pisos térreos e em
obras de construção
Chapas
Juntamente com o projecto tipo, deverá ser entregue a autorização do condomínio.
Em cada edifico as chapas devem ter o mesmo tamanho, cor e material e estar alinhadas, não devendo ser colocadas acima do tecto do piso
térreo
Dimensões: normalizadas, formato A4 (0,30m x 0,21m). Em obras de construção podem ter
uma dimensão até 0,80m x 1,20m
Palas
Não podem sobrepor cunhais, cornijas, pilastras, emolduramentos, gradeamentos ou
outros elementos arquitectónicos ou decorativos de interesse.
Dimensões: não podem exceder o limite lateral dos estabelecimentos, nem um balanço
de 0,50m em relação à fachada.
Letreiros
Não podem sobrepor cunhais, cornijas, pilastras, emolduramentos, gradeamentos ou
outros elementos arquitectónicos ou
decorativos de interesse.
Dimensões: não podem exceder o limite lateral dos estabelecimentos, nem um balanço
de 0,10m em relação à fachada
Tabuletas
Só é autorizada a instalação de uma tabuleta por
fracção autónoma. Em cada edifico todas as
tabuletas devem ter o mesmo tamanho e definirem um alinhamento.
(cont.)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 123 –
(cont.)
TIPO DE PUBLICIDADE CONDIÇÕES DE INSTALAÇÃO
Publicidade em veículos Publicidade inscrita em veículos
Veículos de
empresas
Apenas pode fazer referência à identificação
da empresa, actividade, produtos ou outros
elementos relacionados com o desempenho principal do proprietário.
Veículos particulares
Não pode fazer-se através de meios salientes
ou dispositivos salientes da carroçaria
original dos mesmos.
Transportes
públicos
Não pode, por razões de segurança,
sobrepor-se ou cobrir superfícies
transparentes dos veículos, com excepção do
veículo de retaguarda
Publicidade aérea Publicidade em transportes aéreos
Não pode ser utilizada em conjunto ou simultaneamente
publicidade sonora
Não é permitida a projecção
ou lançamento de panfletos ou quaisquer outros produtos
Não pode ser licenciada a
inscrição, afixação ou transporte
de dispositivos publicitários que invadam zonas sujeitas a
servidões militares ou
aeronáuticas, excepto se o pedido for acompanhado de
autorização da entidade com
jurisdição sobre esses espaços.
Publicidade sonora
Tem de respeitar os limites impostos pela legislação aplicável às actividades ruidosas
Não é permitida a sua difusão a 200 metros de hospitais e similares, organismos municipais, de Estado, nas zonas
históricas e respectivas áreas de protecção
Só é permitida a sua emissão entre as 9 e as 20 horas
Não é autorizada por períodos superiores a 5 dias úteis, não prorrogáveis, por trimestre e por entidade
QUADRO N.º 18: condições especificas para o mobiliário urbano na área circunscrita pelo Plano de Urbanização de
Sintra
A) ESPLANADAS
LOCALIZAÇÃO Em frente dos estabelecimentos de restauração e bebidas, devidamente licenciados ou noutros locais, caso
não perturbem a circulação pedonal
CONDIÇÕES
Não podem exceder a fachada do respectivo edifício nem dificultar o acesso ao mesmo;
Todo o mobiliário deve ser de qualidade em termos de desenho, materiais (no Centro Histórico só são permitidos o metal ou a madeira)e construção;
Todo o equipamento amovível deve ser retirado fora do horário do estabelecimento;
Não são permitidas esplanadas fechadas com envidraçados, guarda-ventos ou qualquer tipo de vedação, excepto como elementos separadores das esplanadas.
DIMENSÕES As esplanadas não podem ocupar mais de metade dos passeios e devem reservar sempre um espaço minimo de 1,20m contado a partir do rebordo exterior do passeio.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 124 –
B) GUARDA-VENTOS
CONDIÇÕES
Só é autorizada a sua utilização como elemento separador das esplanadas, não podendo ter um avanço superior ao da esplanada e sendo retirados depois do período de funcionamento;
Não podem exceder uma altura máxima de 0,20m contados a partir do solo;
Os materiais devem ser de fácil remoção e inquebráveis e os vidros devem ser lisos e transparentes.
C) QUIOSQUES
CONDIÇÕES
Compete ao Projecto de recuperação de centros históricos definir os locais de implantação e as regras e limites a serem observados;
Não podem ser instalados em passeios ou espaços públicos de largura inferior ou igual a 3m..
D) BANCAS
CONDIÇÕES Compete ao Projecto de recuperação de centros históricos definir os locais de implantação e as regras e limites a serem observados;
E) EXPOSIÇÕES
CONDIÇÕES
Têm de ter carácter temporário;
Não podem prejudicar a circulação pedonal nem o acesso a estabelecimentos ou edifícios adjacentes;
As estruturas devem ser amovíveis, não colidindo com a estética e envolvente ambiental.
F) VITRINES
CONDIÇÕES Não são permitidas vitrines para exposição de menus no ramo alimentar.
G) TOLDOS
CONDIÇÕES
Os toldos têm que ser rebatíveis e colocados nos pisos térreos;
A cor destes elementos deve integrar-se nas características cromáticas do edifício e do envolvente;
Os materiais a utilizar deverão ser em tela e impermeável e o modelo admitido é o toldo
direito de enrolar e sem abas laterais.
PUBLICIDADE A inscrição de publicidade deverá ser feita com as cores e tonalidades do toldo e restringida ao mínimo de letras. Os reclamos devem estar apenas presentes na pala do toldo.
INTERDIÇÕES Não são permitidos toldos em imóveis classificados e I.I.P.;
Não é permitido afixar ou pendurar quaisquer objectos nos toldos;
Os toldos não podem ocultar números de policia, iluminação pública, sinalização oficial,
árvores, elementos de interesse arquitectónico ou outros característicos das linguagens dos edificios.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 125 –
H) OUTRAS OCUPAÇÕES
ACESSÓRIOS
É interdita a colocação de peças de equipamentos salientes nas fachadas dos edifícios, tais como condutas exteriores, exaustores, aparelhos de ar condicionado, etc.
Só serão aprovados desde que dissimulados, dimensionados de acordo com a fachada onde se pretendem colocar e acautelando-se os ruídos e as vibrações de funcionamento.
ANTENAS Só será permitida uma antena de rádio e televisão em edifícios com mais de um fogo
São aconselhadas e desejáveis as soluções colectivas
PAINÉIS DE ENERGIA SOLAR Só serão permitidos se colocados de acordo com a inclinação e o pendente natural das coberturas.
Em varandas e terraços só serão permitidos se não forem visíveis da via pública e não
afectem a estética urbana.
QUADRO N.º 19: materiais permitidos no Centro Histórico do Porto
MATERIAIS
Caixilharias Madeira. No r/c, piso habitualmente de comércio, permite-se ferro pintado ou aluminio lacado
Ombreiras, padieiras, parapeitos e soleiras Granito, não rebocadas, recobertas com argamassa ou pintadas. As soleiras e parapeitos de
construções novas devem ser de madeira, ferro ou granito. È proibido o uso de mármore, mosaicos, tijoleiras ou perfilados de cimento. As persianas não são permitidas e devem ser
substituídas por portadas de madeira.
Paredes As fachadas devem ser rebocadas e revestidas com tinta do tipo granulado fino ou muito fino ou caiação. Não são permitidos revestimentos com material cerâmico. As empenas laterais,
quando forradas, devem ser de telha cerâmica, chapa pintada ou de soletos de ardósia.
Coberturas Telha cerâmica da região
Varandas Gradeamentos de ferro ou madeira
QUADRO N.º 20: características das áreas comerciais, publicidade e toldos interditos no Centro Histórico de
Guimarães
TIPO MATERIAIS E CORES
Áreas comerciais É interdita a utilização de vidro directamente adossado às paredes dos edifícios. Deverão ser utilizadas
caixilharias (não são indicados materiais nem cores)
Publicidade É interdito o uso de painéis em edifícios, cartazes
nas coberturas, publicidade saliente nas grades,
sacadas e cantarias e publicidade colocada perpendicularmente às fachadas.
É interdito o uso de armações de ferro e néons em
coberturas e de todos os dispositivos, formatos,
cores ou materiais susceptíveis de confundir ou ocultar a toponímia, a iluminação, a sinalização
oficial ou de prejudicar as árvores.
Toldos Só é permitido o modelo tipo direito, de enrolar,
sem abas laterais e não pode conter publicidade, excepto o nome do estabelecimento nas palas
pendentes. Só são permitidos ao nível do r/c.
Não são permitidos toldos em plástico. Terão que ser
em lona ou material semelhante.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 126 –
QUADRO N.º 21: cores e materiais permitidos no Centro Histórico de Guimarães
MATERIAIS CORES
Coberturas Estrutura de madeira, revestida a telha. O
tipo de telha varia conforme a data de
edificação. As áreas planas deverão ser revestidas a tijoleira de barro.
Paredes Têm que ser mantidos o traçado e
materiais originais. Quando existirem
juntas a tomar deve ser usada argamassa “podre” 1/3 ou ¼ (1 metro de cal
hidráulica e 3 ou 4 medidas de areia)
branco, branco-sujo e ocres
Caixilharias É proibida a utilização de aluminio ou
PVC, de gradeamentos em aluminio ou
ferro e de estores metálicos ou em PVC.
O sistema de obscurecimento deve ser conseguido através de portadas de
madeira.
Tintas de óleo
Cantarias Não é permitida a utilização de tintas nem de cimento ou betão a imitar
cantaria. Se for necessário “tomar” as
juntas terá de ser aplicada argamassa “podre” 1/3 ou ¼.
Soleiras e parapeitos É proibido a aplicação de mármore, de
granito polido e de cimento á vista.
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 127 –
APÊNDICE C - PLANTAS
Planta nº1
Zona Classificada e Zonas Condicionadas do
Centro Histórico de Angra do Heroísmo
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 128 –
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 129 –
Planta nº2
Área de Sintra inscrita na Lista do Património Mundial
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 131 –
Planta nº3
Centro Histórico de Sintra e localização dos principais valores patrimoniais e
percursos culturais
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 133 –
Planta nº4
Área classificada do Centro Histórico do Porto e área de intervenção do
PM-CRUARB
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 134 –
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 135 –
Planta nº5
Área das operações do PM-CRUARB
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 137 –
Planta nº6
Normas Provisórias (plantas síntese que abrangem o centro histórico)
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 138 –
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 139 –
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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Planta nº7
Área classificada, zona de protecção e área de intervenção do GTL de Guimarães
(página seguinte)
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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BIBLIOGRAFIA
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
– Pág. 143 –
ACÓRDÃO n.º 403/89, de 27 de Julho
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CAETANO, Marcello _ Manual do Direito Administrativo. 10ª edição. Coimbra, 1973
CAMPOS, João (org. e textos) _ Porto: reflectir (sobre) a cidade histórica. Porto: Câmara
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CAMPOS, João (org. e textos) _ Porto: património e paradigmas. Porto: Câmara Municipal
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CRUARB _ O Centro Histórico do Porto. Porto: Câmara Municipal do Porto, 1999
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CRUARB _ Porto Património Mundial: CRUARB 25 anos de Reabilitação Urbana. Porto:
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DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL n.º15/84/A, de 13 de Abril
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL n.º29/99/A, de 31 de Julho
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL n.º 11/2000/A, de 19 de Maio
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL n.º 14/2000/A, de 23 de Maio
DECRETO-LEI n.º 181/70, de 28 de Abril
DECRETO-LEI n.º 176-A/88, de 18 de Maio
DECRETO-LEI n.º 205/88, de 16 de Junho
DECRETO-LEI n.º 69/90, de 2 de Março
DECRETO-LEI n.º367/90, de 26 de Novembro
DECRETO-LEI n.º211/92, de 8 de Outubro
DECRETO-LEI n.º249/94, de 12 de Outubro
DECRETO-LEI n.º168/99, de 18 de Setembro
DECRETO-LEI n.º380/99, de 22 de Setembro
DECRETO-LEI n.º555/99, de 16 de Dezembro
DECRETO-LEI n.º177/2001, de 4 de Junho
DECRETO REGIONAL n.º 20/79/A, de 25 de Agosto
OS REGULAMENTOS MUNICIPAIS E OS GABINETES TÉCNICOS LOCAIS
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DECRETO REGIONAL n.º13/79/A, de 16 de Agosto
DECRETO REGULAMENTAR n.º 54/85, de 12 de Agosto
DECRETO REGULAMENTAR n.º11/94, de 17 de Julho
DECRETO REGULAMENTAR n.º11/2000, de 24 de Agosto
DECRETO REGULAMENTAR REGIONAL n.º 20/95/A, de 10 de Outubro
DECRETO REGULAMENTAR REGIONAL n.º4/96/A
DECRETO REGULAMENTAR REGIONAL n.º14/2000/A
DESPACHO NORMATIVO n.º 83/2000, de 18 de Maio
DISLIVRO _ RGEU: Regulamento Geral das Edificações Urbanas. s.l.: edições Dislivro,
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LEI n.º107/2001, de 8 de Setembro
MOURÃO-FERREIRA, David _ Alexandre Herculano e a valorização do património
cultural português. Lisboa: Secretaria-Geral da Secretaria de Estado da Cultura, 1977
NP PORTO – DR n.º 206, I Série-B, de 6/9/2000
OLIVEIRA, Luís Perestrelo de _ Planos Municipais de Ordenamento do Território:
Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março - Anotado. Coimbra: Livraria Almedina, 1991
PDM ÉVORA – DR n.º 86, II Série, de 13/4/1993
PDM GUIMARÃES – DR n.º 237, I Série-B, de 13/10/1994
PDM PORTO – DR n.º27, II Série, de 2/2/1993
PDM SINTRA – DR n.º232, I Série-B, de 4/10/1999
PLANO URBANIZAÇÃO ÉVORA – DR n.º 74, I Série-B, de 28/3/2000
PORTUGAL. Ministério da Cultura, IPPAR _ Cartas e Convenções Internacionais. (Colecção
Informar para Proteger)
SARDINHA, José Miguel _ Direito do Urbanismo e Legislação Complementar (colectânea
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Lisboa, 1992
Vários _ III Encontro Nacional de Municipios com Centro Histórico: actas. Viana do
Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1996. 2º volume