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Informativo do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz

Entrevista: Pesquisadorafala sobre projeto deformação de técnicos desaúde na África

Cris promove debatecom Michael Marmotsobre DSS e desigualdadeem saúde

Parceria com CDC vaidesenvolver novo testediagnóstico para malária

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novembro

2013

Nº11

Fundação Bill & Melinda Gates querampliar parcerias com a Fiocruz

Ascom/Bio-Manguinhos, DanielleMonteiro – CCS, Vanessa Sol - IOC

or ocasião da parceria recen-temente selada com a Funda-ção Bill & Melinda Gates paraa produção de vacina duplaviral, a Fiocruz recebeu, em 31

de outubro, a visita de uma delegaçãoda instituição americana, liderada pelo

presidente do Programa de Saúde Glo-bal da Fundação, Trevor Mundel. “Esta-mos conhecendo as novas facilidades deprodução tanto no campus de Mangui-nhos como na fábrica de Santa Cruz quea Fiocruz está construindo. Isso nos aju-dará a pensar em quais serão os próxi-mos projetos que poderíamos desenvol-ver em conjunto, além da produção davacina”, contou ele.

PDurante encontro com gestores

da instituição, Mundel, que aproveitoua visita para conhecer os laboratóriosde Bio-Manguinhos/Fiocruz, destacou aqualidade do trabalho da Fundação emostrou interesse em estender as par-cerias na área de produção de vacinas.“Gostaríamos de ampliar a cooperaçãono campo, pois não há muitos fabri-cantes de alta qualidade no mercado

Em visita à Fundação, presidente da Bill & Melinda Gates declarou que vai estender parcerias com aFiocruz para além da produção de vacinas e falou sobre sua expectativa em relação a acordo firmadocom a instituição para produção de dupla viral

O presidente da Fundação Bill & Melinda Gates , Trevor Mundel,em visita a Bio-Manguinhos/Fiocruz. Foto Peter Ilicciev/CCS

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para as vacinas das quais realmenteprecisamos, como a para doenças diar-reicas”, explicou. Entre 2001 e 2011, aBill & Melinda Gates dobrou o númerode produtores de vacinas, levando àvacinação de mais de três milhões decrianças. Atualmente um pacote bási-co de imunizantes custa 20 dólares porcriança. Com a ampliação da parceriana área, a ideia é, segundo Mundel,reduzir o preço à metade dentro dospróximos cinco anos. “Isso nos permiti-ria introduzir novas vacinas, como a HPVe outras importantes”, explicou.

Mundel também disse que querampliar a cooperação com a Fundaçãono campo de financiamento de pesqui-sas inovadoras no âmbito do Grand Chal-lenges, família de programas da Funda-ção Bill & Melinda Gates criado para so-lucionar problemas mundiais de saúde edesenvolvimento. O projeto Plataformaautomatizada para triagem de fárma-cos contra helmintos, elaboradopelo Laboratório de Bioquímicade Proteínas e Peptídeos doIOC/Fiocruz, foi recente-mente premiado comrecursos da Bill & Me-linda Gates, tendosido selecionadoentre três mil pro-jetos avaliadospela Fundaçãono edital GrandChallenges Ex-ploration. “Gos-taríamos de termais projetosapoiados por estaplataforma”, disse.

Para o presi-dente da Fiocruz,Paulo Gadelha, o en-contro com Mundel re-presenta um marco naconsolidação de uma parce-ria com uma instituição que de-sempenha um papel importante nasaúde global. “A delegação da Bill &Melinda Gates se mostrou muito sa-tisfeita com nossos resultados e proje-to da nova fábrica em Santa Cruz, quevai elevar em quatro vezes nossa ca-pacidade de produção. Esse encontrotransformou o que, antes, eram con-tatos para questões pontuais, em umacooperação abrangente e estratégica,em um segmento central da saúde glo-bal”, declarou.

Vacina será aprimeira a serproduzidaexclusivamentepara exportação

O acordo entre a Fiocruz e a Fun-dação Bill & Melinda Gates para a pro-dução da vacina dupla viral (sarampo erubéola) foi anunciado pelo Ministro daSaúde, Alexandre Padilha, em 28 de ou-tubro, durante o 9º Encontro Grand Chal-lenges, que foi promovido pela Bill & Me-linda Gates entre 27 e 30 de outubro, noRio de Janeiro. Com a assinatura da par-ceria, serão produzidas 30 milhões de do-

ses por ano, para as ações da AliançaGlobal pelas Vacinas e Imunização (GAVI,na sigla em inglês) nos países em desen-volvimento. Será a primeira vez em queo Brasil vai produzir vacina exclusivamentepara exportação. “Essa parceria é muitoimportante para nós, pois atualmente te-mos somente um fabricante que produzessa vacina para o mercado global. E paraa segurança dos esforços de vacinação,

nós precisávamos de um segundo pro-dutor”, explicou Mundel.

A Fiocruz, por meio de Bio-Man-guinhos, receberá US$ 1,15 milhãopara a primeira fase de estudos clíni-cos ao desenvolvimento da vacina. Aconcessão do recurso acelera a formu-lação do imunizante e os estágios inici-ais de desenvolvimento clínico, previs-tos para começar em 2014. Por sua vez,Bio-Manguinhos cobrirá os custos de fa-bricação dos lotes iniciais da vacina eos custos de produção em curso. O pro-duto será desenvolvido na nova fábricaem Santa Cruz – prevista para ser inau-gurada em 2016 - e deverá chegar aomercado a partir de 2017.

Bio-Manguinhos foi escolhida parareceber o aporte por já ter experiênciaacumulada desde 2003 na produção datríplice viral (caxumba, sarampo e rubé-ola), que é usada no Programa Nacio-nal de Imunizações (PNI) e nas campa-nhas de vacinação brasileiras. O Institu-to também tem experiência na exporta-

ção de algumas vacinas para paísesem desenvolvimento. A nova vaci-

na será voltada para países ondea caxumba não é um problema

prioritário. “A Fiocruz tem ex-periência com alta qualidadede produção no mercadobrasileiro e tem vacinas pré-qualificadas pela Organiza-ção Mundial da Saúde.Sendo assim, é um parcei-ro natural para nós no Bra-sil”, afirmou Mundel.

Projetodo IOC é

premiadopela Fundação

Bill & MelindaGates

Os estudos para triagem de novosfármacos contra helmintos são realizadospredominantemente por meio da inspe-ção visual do parasito. Essa avaliação cos-tuma demandar tempo e comporta o ris-co da subjetividade do observador – ca-racterísticas como o padrão de movimen-tação e o formato do parasito precisam

O projeto do IOC/Fiocruz, financiado pelaFundação Bill & Melinda Gates, vai ajudar nabusca por novos fármacos contra parasitoscausadores de doenças como a esquistossomose.Foto: arquivo CCS

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ser consideradas para que se tenha cer-teza sobre o funcionamento do fármacoem teste. Este tipo de análise, emboramuito utilizada, é sujeita a erros. Com oobjetivo de minimizar este desafio cientí-fico, o Laboratório de Bioquímica de Pro-teínas e Peptídeos do IOC/Fiocruz, chefi-ado pelo pesquisador Floriano Paes SilvaJunior, elaborou o projeto Plataforma au-tomatizada para triagem de fármacoscontra helmintos, que foi recentementecontemplado com recursos da FundaçãoBill & Melinda Gates. O projeto, que re-ceberá recursos da ordem de US$ 100mil, foi escolhido por apresentar grandepotencial de inovação no âmbito dosgrandes desafios de saúde. Esta é a pri-

meira em vez que a Fiocruz é contem-plada com o financiamento.

O pesquisador conta que o projetoirá desenvolver uma metodologia auto-matizada inovadora para identificaçãode moléculas ativas contra o Schistoso-ma mansoni, parasito causador da es-quistossomose. Com esta metodologia,será possível capturar imagens em lar-ga escala por meio de microscópio au-tomatizado, sem que seja necessáriorealizar qualquer tipo de marcação quí-mica no parasito – um procedimentonormalmente necessário em métodos delarga escala atuais usando formas lar-vais do parasito. “O equipamento po-derá coletar de forma automática da-

dos de imagens de mais de noventaamostras de uma única vez”, explica.

A análise será realizada por meiode um algoritmo a ser desenvolvido pelaequipe do projeto, capaz de interpretaras alterações morfológicas e de mobili-dade que os fármacos podem causar noshelmintos. Assim, serão gerados dadosque vão quantificar a ação dos fárma-cos em teste. Segundo o pesquisador, anova metodologia é menos suscetível aerros quando comparada às técnicasatuais. “Além de analisar se e como ofármaco funciona, esse método vaiapontar a dose necessária para mataros parasitos na fase adulta, a mais noci-va ao organismo humano”, ressalta.

Danielle Monteiro – CCS

s Determinantes Sociais daSaúde (DSS) e a desigualda-de em saúde no mundo fo-ram tema de debate promo-vido pelo Cris, em 14 de ou-

tubro, no salão internacional da Ensp/Fiocruz. A palestra foi conferida peloepidemiologista inglês Michael Mar-mot, do UCL Institute of Health Equi-ty, que foi coordenador da Comissãode DSS da Organização Mundial daSaúde (OMS) e criador do MarmotReview - um conjunto de planos deação para o enfrentamento das ini-quidades em saúde no mundo. Aoabrir o encontro, Marmot ressaltouque a desigualdade em saúde é umaquestão de injustiça social e destacouo Brasil como um dos países que têmlevado a sério a questão das DSS. “Adesigualdade em saúde não é um fe-nômeno natural, mas sim o resultadode uma combinação tóxica de políti-cas sociais pobres e ruins”, alertou.

Em seguida, ele citou exemplosde desigualdades em saúde que per-

Asistem nos países. Na Argentina, porexemplo, quanto menor o nível edu-cacional e a renda mensal, maior é aincidência de diabetes. Em Porto Ale-gre, no Brasil, óbitos por morte cardi-ovascular entre pessoas de 45 a 64anos estão estritamente associados aonível socioeconômico dos distritos.“Na América Latina, as desigualda-des em saúde não se restringem aproblemas de saúde, mas a uma de-gradação social. Quanto menor a ren-da, pior a saúde”, advertiu.

Ele também citou as experiênci-as de países que tem promovidoações de combate às desigualdadesem saúde. A Índia, por exemplo, se-gundo ele, tem adotado medidas efi-cazes como a adoção de esquema degarantia de emprego rural e de segu-rança alimentar, a extensão do direi-to à educação, a implantação demoradia e infraestrutura básica parapessoas de baixa renda e a extensãoda proteção social para trabalhado-res informais. Já Londres, segundoMarmot, adotou estratégias como o

empoderamento da população e dascomunidades para o desenvolvimen-to da saúde e do bem-estar, a redu-ção de iniquidades em saúde conse-quentes da pobreza, o aumento doacesso aos serviços de saúde e de cui-dado aos indivíduos de baixa renda,a melhoria da qualidade de vida nacidade e o crescimento de oportuni-dades de emprego. “Desde a implan-tação desse plano de trabalho, tudomudou: tivemos redução de diversasiniquidades em saúde e o plano pas-sou a fazer parte também de políti-cas locais”, contou.

Marmot disse que a crise eco-nômica mundial provavelmente vaiprovocar um forte impacto na desi-gualdade em saúde da população eu-ropeia, já que pode ocasionar o au-mento de problemas como suicídios,homicídios, violência doméstica, de-pressão, ansiedade e doenças infec-ciosas. “Na Espanha, por exemplo,52% dos jovens entre 18 e 24 anosestão desempregados. Isso é umaimportante DSS, que vai gerar impac-

Cris promove debate sobreDSS e desigualdade em saúdeO evento teve como palestrante o epidemiologista inglês Michael Marmot, criador de plano de açãoimplantado em diversos países do mundo para o enfrentamento das iniquidades em saúde

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to no futuro da saúde da população”,alertou. Ele ainda frisou a importân-cia do papel desempenhado por pro-fissionais de saúde no combate às ini-quidades. “É preciso que eles traba-lhem com indivíduos e comunidadese que atuem em parceria e como de-fensores da redução das desigualda-des em saúde”, defendeu.

Para Marmot, a adoção de pro-gramas de transferência de renda de-sempenha papel relevante para o en-frentamento das DSS. “Após a trans-

CRIS INFORMA #11 | NOVEMBRO DE 2013 - ExpedienteCoordenadoria de Comunicação Social (CCS) | Edição e redação: Danielle Monteiro com colaboração de Thiago

Oliveira | Projeto gráfico e edição de arte: Rodrigo Carvalho | Fotografia: Peter Ilicciev e Arquivo CCS

Contato: Danielle Monteiro - Tel: (21) 3885-1065 - E-mail: [email protected]

ferência de renda, a pobreza infantilfoi drasticamente reduzida em paísescomo Noruega, Suécia, Áustria e Es-lovênia. Isso mostra que essa estraté-gia pode fazer uma grande diferen-ça”, disse. Para o combate às iniqui-dades em saúde, é preciso, ainda,segundo ele, apoio de todos os seto-res políticos, inclusive o de políticaslocais. “Todo setor é um setor de saú-de”, concluiu.

Também presente ao encontro,o coordenador do Cris, Paulo Buss,

chamou atenção para a amplitude eo alcance das Determinantes Sociaisda Saúde. “Vimos, durante a pales-tra, que algumas determinantes sãoglobais, outras são nacionais e, fazen-do um recorte maior, encontramosainda determinantes locais, que po-dem ser alcançadas, elevando os ní-veis de saúde”, destacou. Ele aindaanunciou que a Fiocruz está buscan-do parcerias com o Institute of Heal-th Equity voltada ao intercâmbio deconhecimentos e experiências.

A Villa 31, em Buenos Aires, um dos bairros mais pobres da capital argentina. No país, quanto menor o nível educacionale a renda mensal, maior é a incidência de diabetes. Foto Operamundi

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Graça Portela – Icict eRebert Lima - Cris

ais uma etapa da Coopera-ção Tripartite Brasil-Cuba-Haiti foi realizada: os pes-quisadores do Laboratório deComunicação e Saúde do

Icict/Fiocruz, Adriana Kelly Santos e Wil-son Couto Borges, além do doutoran-do do Programa de Pós-Graduação emInformação e Comunicação em Saúde(PPGICS), Luiz Marcelo Robalinho, mi-nistraram o curso Comunicação e Saú-de para 25 profissionais que trabalhamno Ministério da Saúde do Haiti.

Promovido em setembro, o cursolevou a proposta teórico-metodológica daProdução Social dos Sentidos, com téc-nicas de aprendizagem participativas econtextualizadas com a experiência lo-cal. Segundo Wilson Borges, concomitan-temente foi demandada a elaboração deum plano de comunicação e saúde, quecontemplasse a proposta teórico-meto-dológica. Para Adriana Kelly, o diferenci-

M

Cooperação Tripartite realiza cursode comunicação e saúde e oficina deeducação permanente no HaitiIniciativas vão gerar um Plano de Comunicação e Saúde e contribuir para a reestruturaçãodos sistemas locais de saúde no Haiti

al do curso foi a utilização da comunica-ção como um elemento estratégico departicipação social e produção da saúdeem nível local. Mas, outro aspecto foi le-vantado, conforme explica Borges: “hou-ve a provocação de uma reflexão sobrea comunicação e a saúde na direção dapercepção do quanto os sentidos interfe-rem nas práticas”, explica.

Os participantes – jornalistas, en-fermeiros, assistentes sociais e um psi-cólogo – foram escolhidos pelo próprioMinistério da Saúde Pública e da Popu-lação do Haiti e tinham como caracte-rística a atuação na interface comuni-cação e saúde junto à população, o quepotencializou as atividades propostas daformação. “Houve um aumento de ade-são conforme o curso ia seguindo”, ex-plica Adriana. “Fazíamos problematiza-ções da realidade local, dialogávamoscom a nossa, mostrando os pontos emcomum entre o sistema de saúde haiti-ano e o SUS”, completa.

Para Borges, um dos pontos positi-vos do curso foi a ampliação de uma for-

ma de pensar o campo da comunicaçãoe saúde para além das estratégias demaior oferta de informação, como res-posta a um ‘atraso’ da população local.“Tanto na avaliação diária quanto na fi-nal que fizemos, os relatos foram de quehouve uma ‘mudança de olhar’ para coma realidade local no que diz respeito àcomunicação e saúde”, explica Borges.Não só de aulas teóricas foi o curso: aprática foi testada em várias tarefas pro-duzidas pelos participantes durante acapacitação. Como avaliação final, elesforam desafiados a produzir um Plano deComunicação que, partindo dos proble-mas locais, incorporassem os modelos te-óricos na direção da construção de solu-ções que pudessem ser traduzidas emações cotidianas.

Oficina deEducaçãoPermanenteem Saúde

Com o objetivo de ampliar a ca-pacidade dos atores do sistema de saú-de do Haiti em constituir estratégias deEducação Permanente em Saúde (EPS),uma equipe brasileira da Fiocruz espe-cializada no assunto realizou uma ofi-cina entre 30 de setembro a 04 de ou-tubro para consolidar a estrutura degestão do programa.

O público alvo da oficina eram osprofissionais do médio e alto escalãodo Ministério da Saúde Pública e daPopulação do Haiti (MSPP). O motedessa atividade foi concentrado na com-preensão do potencial de transforma-ção da EPS e de sua aplicabilidade àscondições haitianas. O coordenador dosubprojeto, Inácio Motta, ressalta aimportância de uma estrutura eficiente

O haitiano Jules Ricardo com o coordenador acadêmico do IOC/Fiocruz,Rubens Pinto de Mello. Foto Pedro Linger

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capaz de gerenciar essa rede informa-cional de saúde do Haiti. “A gestão daEPS deve operar enquanto um disposi-tivo de produção e circulação de co-nhecimentos no âmbito das relações dotrabalho em saúde, bem como fortale-cer os espaços de gestão do trabalho ede organização dos serviços de saúde”,frisou Inácio Motta.

De acordo com ele, os processoseducacionais em saúde podem ser es-tratégias potentes de mudanças naspróprias práticas e nos modelos de aten-ção e cuidado em saúde. “Acreditamosque a EPS possa contribuir para a rees-

truturação dos sistemas locais de saú-de no Haiti”, completa.

A atividade consistiu primordial-mente no reconhecimento da base con-ceitual estruturante à formação no tra-balho em saúde. Entretanto, para au-xiliar no acompanhamento do trabalhojunto aos profissionais haitianos, alémde gerar discussões dos desdobramen-tos desse programa, a equipe brasilei-ra vai lançar em breve uma comunida-de virtual de Educação a Distância. Estaplataforma será complementar às duasoutras oficinas presenciais já pré-agen-dadas para o ano de 2014.

Além do curso de comunicação e saúdee da oficina de educação permanente, a par-ticipação da Fiocruz na cooperação inclui tam-bém a promoção de um curso de epidemiolo-gia, um curso de aperfeiçoamento e gestãode recursos físicos e tecnológicos em saúde, acriação de um sistema de vigilância epidemi-ológica para o Haiti e ainda uma oficina pararadialistas – que recentemente criou uma Redede Jornalistas em Saúde no Haiti (escute aentrevista com coordenadora do projeto aqui).

Haitiano participade curso deespecialização naFundação

À Convite da Cooperação Tripartite Bra-sil-Cuba-Haiti, o haitiano Jules Ricardo partici-pa do programa de pós-graduação do IOC/Fiocruz. Ele veio se especializar em Entomo-logia Médica, ciência que estuda os insetostransmissores de doenças. Ricardo vem ao Bra-sil pela segunda vez no âmbito da coopera-ção. Na primeira estada, ele fez um estágiode seis meses na mesma instituição, tambémna área de entomologia, entretanto, focadona técnica e prática.

O simpático jovem de 26 anos se desta-ca pelo empenho no curso, responsabilidade,inteligência e rapidez de como aprendeu alíngua portuguesa. Durante as aulas, o estu-dante fica atento e anota tudo que pode. Par-ticipa ativamente com perguntas e apresen-tações de trabalho em grupo ou individual. Oelogio também vem do Coordenador Acadê-mico, Rubens Mello Pinto. “A gente percebeque ele tem uma vontade imensa de conhe-cer, de aprender. Nós temos muito orgulho detê-lo aqui estudando conosco”, afirmou.

Ricardo tem a consciência da formaçãoque está recebendo e o que isso representapara o seu país. “Eu vou ser o primeiro ento-mologista no Haiti. E o país precisa disso. Amalária está matando muita gente lá”, con-tou. Por esta razão, ele escolheu como objetode estudo o Anopheles, um tipo de mosquitoresponsável pela transmissão da doença. Oestudante afirmou ainda que está tão empol-gado que já pensa em transmitir esse conhe-cimento a outros haitianos e formar mais en-tomologistas no país. “Eu estou muito agra-decido por essa oportunidade que a Coopera-ção Tripartite está me dando. Eu vou voltar,transmitir esse conhecimento e formar discí-pulos”, declarou.

A proposta da Cooperação Tripartite, que tem a Fiocruz como um dosparceiros, é fortalecer o sistema de saúde haitiano, fortemente abaladopor um terremoto em 2010.Foto: Arquivo Globomidia

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Nova tecnologia será capaz de identificar as quatro espécies de agentes causadores da malária e poderáser utilizada no programa nacional de erradicação do parasita mais perigoso da doença

Danielle Monteiro – CCS

ma cooperação entre o Insti-tuto Carlos Chagas (ICC/Fio-cruz Paraná), o Centers for Di-sease Control and Prevention– CDC (Centros de Controle

e Prevenção de Doenças) e o Instituto deBiologia Molecular do Paraná (IBMP) vaicriar uma nova alternativa para o diag-nóstico da malária. As três instituiçõesestão trabalhando para, juntas, desen-volver um teste molecular confirmatórioda doença. “A ideia é aproveitarmos umteste in house utilizado pelo CDC e pro-mover melhoras nele, transformando estaprova em um produto certificado capazde ser utilizado em outros laboratórios”,explica o vice-diretor do ICC/Fiocruz Pa-raná e coordenador da parceria no Bra-sil, Marco Krieger. Serão produzidos de100 a 300 mil testes por ano, que serãodistribuídos no Brasil e levados tambéma Moçambique, na África.

Segundo Krieger, o teste servirácomo uma importante ferramenta parao Programa Nacional de Erradicação doPlasmodium falciparum - agente res-

Uponsável pelas formas mais graves dadoença – conduzido pelo Ministério daSaúde. Na África, o impacto da elabo-ração do novo produto também seráforte, segundo ele. “O diagnóstico e aidentificação das espécies e possíveismarcadores de resistência são essenci-ais para o apoio e acompanhamentode políticas de controle da doença.Sem dúvida, um melhor diagnósticopode auxiliar no manejo da malária, queé muito grave na região”, salienta.

Ele conta que já foram obtidos avan-ços significativos para a melhoria da per-formance e execução do produto. “Emprimeiro lugar, transformamos o teste, queera feito em quatro reações independen-tes, em um teste duplex capaz de dife-renciar as quatro espécies do parasitaPlasmodium, que provoca a malária”,revela. Outra vantagem da nova ferra-menta, segundo Krieger, é a capacidadeque ela tem de validar os resultados ne-gativos e de se manter funcional por ummês, à temperatura ambiente, e um ano,a quatro graus celsius; ao contrário dasreações tradicionais, que devem ser es-tocadas a menos vinte graus. “A produ-

Parceria com CDC vai desenvolvernovo teste diagnóstico para malária

ção está sendo feita com insumos produ-zidos na Fiocruz Paraná em um conceitode Boas Práticas de Fabricação, o quegarante uma melhor qualidade e rastre-abilidade do produto”, conta.

Em julho e agosto desse ano, tec-nologistas do Instituto Nacional de Saú-de de Moçambique, juntamente com aequipe do CDC e da Fiocruz Paraná, fo-ram treinados para a execução do testecom todas as melhorias introduzidas. Aexpectativa é de que, ainda esse ano,os primeiros testes sejam levados a Mo-çambique, com possibilidade de ampli-ação a outros países africanos, e distri-buídos no Brasil, em colaboração com aFiocruz Rondônia e apoio da coordena-ção do programa de malária da Secre-taria de Vigilância em Saúde. As trêsinstituições também estão buscando odesenvolvimento de um teste para apli-cação no campo, em um conceito pointof care, ou seja, que pode ser feita forade um laboratório tradicional, como umteste rápido. “O teste já teve resultadospreliminares muito satisfatórios e espe-ramos, já em 2014, começar sua vali-dação”, adianta Krieger.

A transmissão damalária ocorreatravés da picadada fêmea domosquitoAnopheles,infectada peloparasitaPlasmodium.Foto: Wikimedia

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Relações entre a Fiocruz e aAlemanha são tema de artigo darevista História, Ciências, SaúdeArtigo narra como as relações com o mundo germânico contribuíram para importantes conquistas daFundação, como a transformação do Instituto Soroterápico de Manguinhos em um centro de pesquisasmédicas e a criação da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

Danielle Monteiro - CCS

s relações entre a Fiocruz ea Alemanha, por meio dafigura de Henrique da Ro-cha Lima, um dos primeirosmédicos a compor o grupo

de jovens pesquisadores do Instituto So-roterápico de Manguinhos - atual Insti-tuto Oswaldo Cruz - foram tema deartigo publicado na Revista História,Ciências, Saúde, da COC/Fiocruz. As-sinado pelo historiador André FelipeCândido, o estudo, que analisa os pri-meiros momentos da trajetória profissi-onal do médico, lança luz sobre a im-portância das relações com o mundogermânico para a medicina experimen-tal, liderada no Brasil por Oswaldo Cruz,em um momento onde a Alemanha fi-

Agurava como principal centro científicono campo da pesquisa biomédica.

Nascido no Rio de Janeiro em 1879,Rocha Lima, ainda jovem, já demonstra-va interesse pelo mundo germânico. For-mou-se no colégio Brasil-Alemão, emPetrópolis, e, em 1901, recém-formadoem medicina, muda-se para Berlim coma intenção de seguir os passos do pai –Carlos Henrique da Rocha Lima, um dosfundadores da Policlínica do Rio de Ja-neiro – e especializar-se em clínica. Lá,frequenta o curso de clínica cirúrgica dorenomado professor e médico internistaCarl Jakob Adolf Christian Gerhard e temaulas com o higienista Phillip Martin Fi-cker, do Instituto de Higiene de Berlim.Após concluir os estudos na capital ale-mã, em 1903, retorna ao Brasil, para tra-balhar ao lado de Oswaldo Cruz no Insti-

tuto Soroterápico de Manguinhos, ondepassa a monitorar os trabalhos científicose instruir jovens médicos nas ciências demicróbios e vetores. “Ele trouxe na ba-gagem coleção de culturas bacterianase preparados histológicos, que constituí-ram o ‘núcleo original de Manguinhos’”,conta Cândido.

Na época, Oswaldo Cruz lidera-va a campanha contra a febre amare-la. As medidas por ele implantadas,que levaram ao rápido controle dadoença, atraem ao Instituto de Man-guinhos os especialistas do Instituto deDoenças Marítimas e Tropicais deHamburgo, Hans Erich Moritz Otto eRudolf Otto Neumann. Ao ser regis-trada pelos dois pesquisadores, a es-tratégia de combate à doença é, pos-teriormente, aplicada na colônia ale-

Rocha Lima e Adolfo Lutz com Oswaldo Cruz e grupo de cientistas na Casa de Chá, no campus de Manguinhos. Riode Janeiro, 1908. Foto Arquivo Casa de Oswaldo Cruz

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mã do Togo, na África. “A expediçãode Otto e Neumann ao Brasil pode serconsiderada o primeiro capítulo expres-sivo da aproximação científica teuto-brasileira no campo da medicina tro-pical e entre os dois institutos, ligaçãoque, desde então, se mantém bastan-te forte”, destaca o historiador.

Para complementar seus estudos,Rocha Lima parte novamente para a Ale-manha em 1906. Lá, faz um circuito devisitas a instituições de pesquisa biomé-dica, estudando sua estrutura, modo deorganização, além de técnicas empre-gadas nas pesquisas e rotinas de produ-ção. Mas, o motivo da segunda viagemdo jovem médico a Alemanha foi alémdo desejo de aprofundar seus conheci-mentos: “em carta escrita a OswaldoCruz, Rocha Lima apresentou a tônicado que seria aquela estada no país – oreclame de Manguinhos, ou seja, o es-forço em divulgar a instituição brasileirae as atividades ali desenvolvidas”, ob-serva Cândido. Foi com esse intuito queo jovem médico passa a centrar seusesforços na tentativa de viabilizar a par-ticipação brasileira na Exposição e Con-gresso Internacional de Higiene, previs-

to para ocorrer em 1907, em Berlim.“Rocha Lima tinha consciência da im-portância da Exposição como vitrina doque vinha sendo feito em Manguinhose como porta de acesso à ciência inter-nacional”, conta o historiador.

O esforço de Rocha Lima rendebons frutos: a delegação brasileira, queexpôs nas seções de Bacteriologia Ge-ral; Doenças Contagiosas e VacinaçãoProfilática; Construção de Hospitais e De-sinfecção; e Estatísticas de Higiene, deDoenças e de Mortalidade, foi premia-da com medalha de ouro entregue pelaimperatriz alemã. E o sucesso em Ber-lim levaria a uma grande conquista parao Instituto Soroterápico de Manguinhos:em retribuição ao êxito obtido no VelhoMundo, o Congresso nacional finalmenteaprova o projeto que previa a transfor-mação do instituto em um centro depesquisas médicas. “O instituto, rebati-zado Instituto Oswaldo Cruz no ano se-guinte, ficava diretamente subordinadoao Ministério da Justiça, assumindo es-tatuto equivalente ao da Diretoria-Ge-ral de Saúde Pública. Além da autono-mia administrativa, o novo estatuto ga-rantia autonomia financeira, ao liberar

a comercialização dos produtos desen-volvidos na instituição”, explica Cândi-do. Além da criação da revista científi-ca Memórias do Instituto Oswaldo Cruz,o novo regulamento permitiu a vinda deimportantes nomes da medicina, comoAdolpho Lutz, Astrogildo Machado e opatologista Gaspar Vianna.

Rocha Lima retorna ao Brasil so-mente em 1928, para atuar no Institu-to de Defesa Agrícola e Animal funda-do por Arthur Neiva, onde ficaria até1949. Faleceu sete anos depois, insa-tisfeito com o pouco reconhecimentodas suas contribuições científicas emarcado pela associação com a Ale-manha, que, na época, tinha a identi-dade vinculada às barbáries do nazis-mo. “Fosse no Brasil ou na Alemanha,sua atividade como cientista envolve-ria, desde o início, a capacidade denegociar e acomodar interesses e lógi-cas referentes a universos culturais esociais distantes. Foi o talento em lidarcom os desafios que isso impunha quefizeram de Rocha Lima o mais ativo pro-motor das relações científicas entre Bra-sil e Alemanha na primeira metade doséculo XX”, conclui o historiador.

Danielle Monteiro - CCS

história da vida de profissio-nais e ativistas americanosque dedicaram suas vidas aointernacionalismo na saúdeé tema do livro Camaradas

na Saúde: A história dos Internaciona-listas americanos e a luta pela justiçasocial e igualdade, da historiadora e pro-fessora da Universidade de TorontoAnne-Emanuelle Birn. A publicação foiapresentada no último dia 30, durantepalestra da historiada na Fundação,como parte do Programa de Pós-Gradu-

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A história dos internacionalistasamericanos e a luta porjustiça social e igualdadeLivro mostra a trajetória de profissionais que atuaram a favor da equi-dade e do direito à saúde em diálogo com movimentos sociais e apolítica de saúde global

ação em História das Ciências e da Saú-de (PPGHCS/COC/Fiocruz). A coleçãode ensaios chama atenção para as ati-vidades internacionais da esquerda sa-nitarista americana, desde a década de1930 até tempos atuais, e as lições queesses profissionais levaram de volta parasua terra, em diálogo com os movimen-tos sociais e a política da saúde global.Foram médicos, enfermeiros, entre ou-tros profissionais, engajados na luta porjustiça social, equidade e direito à saú-de em diversos países do mundo. “Olivro não retrata a vida dos internacio-nalistas de saúde mais famosos do sé-

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culo XX, mas sim daquelesque morreram lutando porsuas crenças políticas e quelutaram como verdadeirossolidários internacionais”,destacou a autora.

O livro é inspirado emfiguras que foram símbolode mobilização do interna-cionalismo na saúde: a ca-nadense Norman Bethune -uma cirurgiã comunista quelutou por um sistema de as-sistência médica estatal noCanadá, inovou o esquemade transfusões de sanguedurante a guerra civil espa-nhola e participou da Revo-lução Chinesa - e o revolu-cionário médico argentinoChe Guevara, que deixouCuba para dar apoio à lutacomunista no Congo e naBolívia. “Escolhemos umgrupo de personagens, nãosó médicos, ligados ao campo da saúdeque adquiriram aprendizado fora de seuspaíses e tentaram implantar essas refle-xões em um país de política conserva-dora”, explicou Anne-Emanuelle.

A obra divide os profissionais emquatro gerações. Na primeira, é narradaa trajetória dos internacionalistas da saú-de que viveram nos momentos turbulen-tos da Grande Depressão. Personagenscomo os médicos Edward Barsky e Mil-ton Roemer, pioneiro dos estudos com-parativos entre sistemas universais e po-líticas de saúde. “Roemer foi perseguidonos EUA, mudou-se para o Canadá, ondefundou o Sistema Nacional de Saúdecanadense, tornando-se figura-chavepara o sistema de saúde do país”, con-tou Anne-Emanuelle. Outro personagemda época foi John Kingsbury, fundadorda Fundação Milbank Memorial, que,após visitar a União Soviética, escreveuo livro Medicina Vermelha, defendendouma reforma na saúde norte-americanasimilar à da URSS. “Kingsburry foi o iní-cio de uma tentativa de instauração deuma força esquerdista nos EUA”, disse ahistoriadora. Nesse momento turbulen-to, também viveu Walter Lear, ativistaem saúde pública e direitos civis e orga-nizador dos movimentos de esquerda nasaúde juntamente com movimentos so-ciais externos. Assim como Lears, ou-tros ativistas pagaram um preço por lu-

Lanny Smith treinando agentes comunitários de saúde usando a Declaração deDireitos Humanos em 1994, no departamento de Morazán, em El Salvador.Foto Arquivo Doutores da Saúde Global

tarem por esse ideal. “Eles foram acu-sados de atividades subversivas pelogoverno americano e punidos pessoal eprofissionalmente durante a GuerraFria”, narrou Anne- Emanuelle.

Já a segunda geração vivenciou oMacartismo e as lutas pelos direitos civis,sexuais, das mulheres e do trabalho, du-rante a década de 1960; movimentos quedesafiaram a hegemonia norte-america-na e abriram os olhos de uma geraçãode esquerdistas da saúde para as possi-bilidades da medicina social. Entram emcena, então, personagens como o estu-dante de medicina e ativista Jack Gei-ger, que participava de um movimentoantirracista e levou experimentos de aten-ção primária à saúde adquiridos na Áfri-ca do Sul a Mississipi, nos EUA, durantea luta por direitos civis no país. E Victor eRuth Sidel, médico e assistente social res-pectivamente, que adaptaram o concei-to chinês de barefoot doctor – profissio-nal de cuidado à saúde treinado paraatender às necessidades médicas bási-cas de zonas rurais – a um programa desaúde comunitária no bairro do Bronx,em Nova York, Estados Unidos.

A terceira geração foi constituídapor médicos como Paula Braveman que,após anos de atividades médicas solidá-rias na Nicarágua nos anos 1980, levouas lições sobre saúde e igualdade socialque lá aprendeu para a Organização

Mundial da Saúde, onde ajudou a im-plantar uma Iniciativa Global de Equida-de em Saúde e Cuidado à Saúde. Já osmédicos Stephen Gloyd, James Pfeiffer eWendy Johnson mostraram como cons-truir uma comunidade voltada à atençãoprimária à saúde na África.

Nascida nos anos 1960 e 1970,a quarta geração traz um grupo de ati-vistas que, por meio do trabalho juntoa grupos políticos de oposição locais,traz uma voz transnacional aos maisvulneráveis, na tentativa de implantarmovimentos de esquerda da saúde nosEstados Unidos. Integram essa parteda história, entre outros profissionais,os paramédicos Michael Terry e LauraTurriano; a advogada de direitos civisAlicia Ely, que fez pesquisas sobre di-reitos humanos e saúde no México ePeru; e ainda Lenny Smith, que de-sempenhou forte papel na promoçãoda Medicina da Libertação na Améri-ca Central e na organização de esfor-ços da solidariedade em saúde nosEUA. “Smith tentou instaurar a Me-dicina da Libertação com o conceitode cooperação estruturante”, contoua historiadora.

Anne-Emanuelle é também auto-ra dos livros Casamento por conveni-ência: a saúde internacional de Rocke-feller e o México revolucionário, e oLivro-texto da Saúde Internacional.

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O papel da pesquisa sobreDeterminantes Sociais da Saúdeé tema de evento internacional

Jaqueline Pimentel e Elis Borde - Ensp

o último dia 24, foi realizadano Salão Internacional daEnsp/Fiocruz a plenária “Rio+ 2: O papel da pesquisa so-bre Determinantes Sociais da

saúde na implementação da Declaraçãodo Rio (2011) – Insights da África, da Eu-ropa e da América Latina”. O encontrofez parte da terceira reunião do projetoSDH-Net. Trata-se de um projeto financi-ado pela União Europeia com o objetivode fortalecer a capacidade de pesquisaem DSS através do estabelecimento deuma rede de colaboração entre 11 insti-tuições da América Latina, África e Eu-ropa, entre as quais está o Centro de Es-tudos Políticas e Informação sobre Deter-minantes Sociais da Saúde (CEPI-DSS/Ensp/Fiocruz). Na abertura da sessão ple-nária, a professora Sheila Maria Ferrazde Souza, vice diretora de Pesquisa e De-senvolvimento Tecnológico da Ensp, fezuma apresentação da escola, destacan-do seu papel no ensino e pesquisa em

Nsaúde e sua atuação na área de coope-ração internacional.

Paulo Buss, diretor do Cris/Fiocruz,ressaltou os esforços da Fundação para aimplementação da Declaração do Rio.“Estamos empenhados em não deixarmorrer a ideia de enfrentar os Determi-nantes Sociais da Saúde”, disse. Ele tam-bém ressaltou a necessidade de esforçosmais abrangentes para reduzir as iniqui-dades sociais em saúde. “Não basta umacobertura universal. É necessária umacobertura e um sistema de saúde equita-tivo”, apontou. Buss ainda destacou quea assistência é apenas um dos passos parapromover boas condições de saúde eapontou: “Temos que defender a garan-tia de vidas saudáveis e abordar a cober-tura universal como uma parte do todo”.

Através de videoconferência, Rüdi-ger Krech, da Organização Mundial daSaúde, lembrou a importância da saúdena agenda política e o comprometimen-to do Brasil com os objetivos firmados naDeclaração do Rio. “Os DeterminantesSociais da Saúde são essenciais na saú-

de pública, assim como a interconectivi-dade das políticas públicas. A Declara-ção do Rio mostra a necessidade de umanova governança das políticas públicas edo aumento da participação da comuni-dade para promover mudanças”, disse.

Rüdiger citou que é necessárioavançar no diálogo intersetorial e avaliarde forma sistemática o impacto de deci-sões políticas sobre a saúde, bem comocompreender a economia e sua interfe-rência no setor saúde. Ele defendeu aimportância de líderes com habilidadescomo a construção de alianças e da con-fiança, para a promoção e gestão demudanças na sociedade. Questionadosobre o conceito de universalização nasaúde, Rüdger defendeu a ideia de queo trabalho de promoção da equidadedeve começar pelas camadas sociais maiscarentes e as comunidades mais pobres,com ações que produzam uma espéciede “efeito dominó para cima”.

Brasil lideraranking deartigos publicadossobre DSS

Magdalena Rossenmöller da Uni-versidade de Navarra, na Espanha, des-tacou o trabalho do SDH Net no que serefere à pesquisa sobre DSS. “Salienta-mos a importância de uma capacidadelocal de pesquisa. Trabalhar localmenteajuda na formulação de políticas efica-zes”, frisou. Nelly Salgado, do InstitutoNacional de Salud Pública (INSP), doMéxico, apresentou resultados da primei-ra fase do projeto SDH-Net, unindo osresultados dos mapeamentos de capaci-dades e sistema nacionais para a pesqui-sa sobre DSS do Brasil, México e Colôm-bia. “Na América Latina, existem aindaimportantes desafios para o posiciona-mento da perspectiva dos DSS. Na Co-lômbia e no México, falta espaço para

Magdalena Rossenmöller, da Universidade de Navarra, na Espanha,destacou o trabalho do SDH-Net no que se refere à pesquisa sobre DSS:“Trabalhar localmente ajuda na formulação de políticas eficazes”.Foto Guilherme Kanno/Ensp

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os DSS nas agendas nacionais”, disse.Na análise comparativa entre os trêspaíses, o Brasil liderou o ranking de ar-tigos publicados, registrando 51% dos434 encontrados. “O Brasil foi o únicopaís onde encontramos uma política devinculação intersetorial, financiamentoe investigação sobre DSS”, disse ela,destacando o trabalho da Fiocruz coma BVS DSS, o portal DSS Brasil e o CEPIDSS/Ensp/Fiocruz.

Masuma Mamdani, do IfakaraHealth Institute (IHI), da Tânzânia, tam-bém ressaltou a importância da ação so-bre os DSS com base nos resultados domapeamento realizado na Tanzânia. Elaretomou as críticas de Paulo Buss quan-to ao alcance da cobertura universal e,com referência à situação na Tanzânia,também ressaltou a importância de sis-temas universais de saúde. Mário Her-nandez, da Universidad Nacional daColômbia (UNAL), em Bogotá, afirmou

que as ações e propostas de transfor-mação mudam de acordo com as for-mas como se compreendem e abordamos DSS na ciência. Referiu-se principal-mente à abordagem dos Determinan-tes Sociais da Saúde e a abordagem dosprocessos de determinação social. “Oque estamos vendo em relação às desi-gualdades em saúde é reflexo da orga-nização social. É necessário melhorar-mos as condições de vida de todos du-rante o curso da vida, modificando aque-las condições que produzem e reprodu-zem as iniquidades”, disse.

Coordenador do CEPI DSS/Ensp/Fiocruz, Alberto Pellegrini Filho apre-sentou as atividades da Fundação quecontribuem para a definição e aplica-ção de políticas que atuem sobre osDSS. Ele apresentou os indicadores doObservatório sobre Iniquidades emSaúde e atividades do portal DSS Bra-sil e comentou a 1ª Conferência Re-

gional sobre DSS, realizada recente-mente em Recife. Sobre a atuaçãosobre os DSS e a pesquisa em tornodo tema, Pellegrini destacou a impor-tância das relações entre os que pro-duzem o conhecimento e os que im-plementam as políticas. Pellegrini res-saltou ainda a importância de ampli-ar a participação social nas ações so-bre os DSS. “É preciso aprofundar oprocesso democrático para dar espa-ço aos que estão excluídos”, concluiu.

A sessão plenária foi aberta aopúblico e os debates do Projeto SDH-Net seguiram até o dia 26, com reuni-ões restritas aos pesquisadores das ins-tituições participantes, realizadas nohotel Windsor Guanabara, no centro doRio de Janeiro. As apresentações dospalestrantes encontram-se disponíveisem: http://dssbr.org/site/2013/10/deter-minantes-sociais-da-saude-em-debate-em-evento-internacional-na-fiocruz/

destaques

Tatiane Vargas - Ensp

aúde e Vigilância Sanitáriana Agenda do Desenvolvi-mento foi o tema da confe-rência de abertura do VI Sim-pósio Brasileiro de Vigilância

Sanitária/II Simpósio Pan-Americano deVigilância Sanitária, que teve início em27 de outubro, em Porto Alegre. Parafalar sobre o tema, o coordenador geraldo Cris/Fiocruz, Paulo Buss, recordoucomo surgiu o conceito na Fundação esua evolução até os dias atuais. Na oca-sião, Buss frisou que a vigilância sanitá-ria não é apenas uma função da saúde,ela é saúde pública. Ele dividiu sua apre-sentação em alguns tópicos, nos quaislevantou a situação política e econômi-ca global, a determinação social da saú-de, a agenda de desenvolvimento pós-

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‘Vigilância sanitária é saúdepública’, afirma BussEm Simpósio Pan-Americano de Vigilância Sanitária, o coordenador geraldo Cris/Fiocruz alerta para a necessidade de redução das desigualdadessociais para melhorias na saúde e destaca papel das ações de vigilânciasanitária no confronto de interesses entre capital e sociedade

2015, o lugar da saúde na agenda e opapel da vigilância sanitária e seus de-safios globais e nacionais.

No contexto da crise econômica,Paulo Buss citou algumas das múltiplasdimensões da crise como a amplifica-ção da pobreza e do desemprego, queatinge cerca de 200 milhões de jovensno mundo. Além de cerca de 925 mi-lhões de pessoas com fome crônica, 885milhões sem acesso à água potável eaproximadamente 2,6 bilhões semacesso ao saneamento básico. O dire-tor do Cris/Fiocruz apontou também asenormes desigualdades entre os paísese em seu interior. Sobre a conjunturapolítica global, ele citou o surgimentodas economias emergentes.

Na temática dos determinantessociais da saúde, Buss explicou que otermo é definido como fatores sociais,

Foto: Arquivo CCS

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global favorável e catalisar recursos fi-nanceiros de longo prazo.

Por fim, Buss entrou na questãodo papel da vigilância sanitária. Segun-do ele, o modelo de desenvolvimentobaseado no modo de produção capita-lista se sustenta aumentando a veloci-dade e intensidade de produção denovas tecnologias. Diante desse modeloe do quadro socioeconômico e políti-co, torna-se evidente o permanente con-fronto de interesses entre capital e so-ciedade. “A Visa (ações de vigilânciasanitária) é o espaço prioritário da saú-de pública que está no front das rela-ções Estado-capital-trabalho-sociedade.São frequentes as contradições entregovernos e vigilâncias sanitárias nacio-nais; por isso é fundamental que, naregulação de produtos, bens e serviçoscom impacto sobre a saúde, a Visa seposicione sempre na defesa da saúdeda população”, finalizou.

O VI Simpósio Brasileiro de Vigi-lância Sanitária/II Simpósio Pan-Ameri-cano de Vigilância Sanitária, que ter-minou em 30 de outubro, teve também,entre os palestrantes, a coordenadora

políticos, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e de comportamen-to, que, distribuídos de forma desiguais,influenciam a ocorrência de problemasde saúde e seus fatores de risco na po-pulação. “Sem reduções significativasnas desigualdades e iniquidades soci-ais e econômicas, será impossível di-minuir iniquidades sanitárias e melho-rar a saúde”, destacou.

Buss apontou também o processode definição dos Objetivos de Desenvol-vimento Sustentável (ODS) pós-2015,baseados na Agenda 21 e no Plano deImplementação de Joanesburgo, compleno respeito aos princípios da Rio 92 eda Rio+20, entre eles: acabar com apobreza; aumentar a autonomia demeninas e mulheres e alcançar igualda-de de gênero; assegurar vidas saudáveis;assegurar segurança alimentar e boa nu-trição; universalizar acesso à água e sa-neamento; gerar empregos e modos devida sustentáveis e crescimento equita-tivo; gerir recursos naturais de formasaudável; garantir boa governança e ins-tituições eficazes; garantir sociedadesestáveis e pacíficas; e criar ambiente

da Divisão de Desenvolvimento Socialda Comissão Econômica para AméricaLatina e Caribe (Cepal), Ana Sojo, quefalou sobre os modelos de desenvolvi-mento e desigualdade na América La-tina com ênfase na proteção social; apesquisadora da Ensp/Fiocruz, Maris-mary Horst de Seta, e a professora daUFBA, Ediná Alves Costa, que aborda-ram a evolução obtida com a imple-mentação do Sistema Nacional de Vi-gilância Sanitária; e o professor do Ins-tituto de Saúde Coletiva da Universi-dade Federal da Bahia (ISC/UFBA), Ja-irnilson Paim, que falou sobre o desen-volvimento das políticas sociais no Bra-sil pós-constituinte.

Presente à mesa Desafios e pers-pectivas para a vigilância sanitária naAmérica do Sul, os ex-ministros da Saú-de do Brasil e Uruguai, José GomesTemporão e Jorge Venegas, comenta-ram sobre a situação de saúde de seuspaíses e suas interfaces com a vigilân-cia sanitária. Já o pesquisador da Ensp/Fiocruz, Luis Davi Castiel, trouxe paraas discussões o tema Riscofobia. Leia aíntegra da matéria no Portal Ensp.

Durante o encontro, o coordenador geral do Cris/Fiocruz citou algumas das múltiplas dimensões da crise comoa amplificação da pobreza: são 885 milhões de pessoas sem acesso à água potável e aproximadamente 2,6bilhões sem acesso ao saneamento básico. Arquivo CircuitoMatogrosso

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Norte e Sul diferem naprodução do conhecimentoSeminário internacional sobre direito e saúde traz debates sobre hierarquização entre países do Sul,direitos humanos indígenas, a luta antimanicomial e o paradigma da favela

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relação hierárquica estabe-lecida entre os países doHemisfério Norte e os doSul, no que tange à produ-ção do conhecimento, aca-

ba sendo reproduzida entre os própri-os países abaixo da linha do Equador.A dinâmica é a mesma quando envol-ve a academia e os movimentos soci-ais nos países dessa região. A conclu-são é do professor da Universidad delos Andes, de Bogotá, na Colômbia,Daniel Eduardo Bonilla Maldonado,durante a conferência de abertura doVIII Seminário Internacional e XII Se-minário Nacional Direito e Saúde, re-alizado em 8 de outubro, na Ensp. Naopinião do professor, a hierarquizaçãoentre os próprios países do Sul e a “su-premacia” da academia nesses locaiscriam diversos obstáculos para garan-tia da justiça social.

Especialista em direito, o pales-trante analisou os aspectos relaciona-dos à produção do conhecimento nocampo jurídico. Desse modo, a rela-ção vertical que se estabelece entre

Ao Norte e o Sul foi classificada porBonilla como uma “divisão internaci-onal da produção de conhecimentojurídico”. O resultado, segundo ele,leva a um questionamento sobre aprodução, a legitimação e o uso doconhecimento entre os operadores doSul. “A política de conhecimentoconstitucional jurídico e político temuma hierarquia não escrita, mas fir-memente arraigada, na qual as ins-tituições acadêmicas, os movimen-tos sociais e as organizações sociaisdo Sul ocupam uma posição poucosólida na divisão da produção do co-nhecimento. As instituições sulistasestão às margens do diálogo da cons-trução do conhecimento”, admitiu opalestrante.

Na perspectiva de Bonilla, cincoquestões podem explicar a ausênciado Sul no processo de construção doconhecimento: a baixa efetividade dossistemas jurídicos sulistas; a reprodu-ção das comunidades jurídicas anglo-americanas e europeias por parte doSul; um suposto formalismo dos siste-mas de direito desse hemisfério. Aquarta explicação se deve à estabili-

dade das comunidades acadêmicas doNorte. “A quantidade, a qualidade,o rigor e a crítica dos produtos aca-dêmicos são maiores nas faculdadesde direito, entre os movimentos e or-ganizações sociais do Norte. As dinâ-micas que regulam os espaços de dis-cussão para avaliar o conhecimentotambém são maiores”, admitiu. Porúltimo, citou o caráter fechado e pro-vincial do mundo acadêmico dos Es-tados Unidos e a abertura seletiva domundo acadêmico europeu. “Essascaracterísticas reduzem qualquer dis-cussão com os movimentos do Sul.”

Na última parte da sua apresen-tação, Bonilla afirmou que a dinâmi-ca internacional entre Norte e Sul sereproduz entre os países abaixo da li-nha do Equador e, também, entre osmovimentos sociais e a academia nospaíses desse hemisfério. “Há uma hi-erarquia problemática que pode serexplicada, mas não justificada”, apon-tou. Em relação aos movimentos so-ciais e a academia, ele disse que háuma hierarquização problemática deacordo com os ciclos de produção decada instância.

O seminário internacional sobre direito e saúde discutiu a relação hierárquica estabelecida entre os países doHemisfério Norte e os do Sul, no que tange à produção do conhecimento. Foto: Wikimedia.org

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A experiênciada lutaantimanicomial

Sob a mediação do professor Ja-iro da Matta, pesquisador do Grupo deDireitos Humanos e Saúde Helena Bes-serman (Dihs/Ensp/Fiocruz), a segun-da mesa do primeiro dia (8/10) do VIIISeminário Internacional Direito e Saú-de e XII Seminário Nacional Direito eSaúde continuou a discussão da pro-dução de conhecimento na academiae os saberes práticos que respondemàs demandas dos movimentos sociais.Na abertura do debate sobre o Conhe-cimento emancipatório na luta pelosdireitos humanos, Paulo Amarante,coordenador do Laboratório de Estu-dos e Pesquisas em Saúde Mental eAtenção Psicossocial (Laps/Enp/Fio-cruz) e presidente da Associação Bra-sileira de Saúde Mental (Abrasme),tratou da experiência da luta antima-nicomial. Com base nas ideias refor-mistas desenvolvidas pelo psiquiatrae militante italiano Franco Basaglia,Amarante adotou um discurso de crí-tica à ciência e à forma pela qual elaproduz conhecimento sobre a “loucu-ra”. A construção de uma verdadecientífica, legítima e hegemônica foiposta em xeque. “Muito do que apsiquiatria diz ser efeito da doença éresultado do isolamento. Produz-se asegregação”, disse o pesquisador doLaps, ao criticar a internação.

“A relação hierárquicaestabelecida entre os paísesdo Hemisfério Norte e os doSul, no que tange à produçãodo conhecimento, acabasendo reproduzida entre ospróprios países abaixo dalinha do Equador”, alertou oprofessor da Universidad delos Andes, Daniel EduardoBonilla.FotoGuilherme Kanno/Ensp

Ele afirmou que um dos objeti-vos de quem defende a reforma psi-quiátrica deve ser a construção deum novo lugar social para a loucurae a doença mental. “Deve-se rom-per com a ideia da medicalização epatologização. Uma saída é questio-nar a própria denominação ‘transtor-no mental’ e reconhecer a diversi-dade do outro em várias perspecti-vas: do trabalho, da cultura, da saú-de”, disse o pesquisador.

A favelatambém tempotência

A segunda exposição da tardeficou por conta de Jaílson de Souza eSilva, coordenador do Observatóriodas Favelas. Autodenominado “fave-lado intelectual”, Jaílson propôs umareflexão sobre o paradigma de favelausualmente utilizado e pensado nãosó pelo senso comum, mas tambémpor intelectuais mais progressistas. “Afavela é sempre vista a partir da óti-ca da ausência, da carência, da pre-cariedade. É fundamental reconcei-tuar essa ideia. Também temos po-tência”, afirmou.

Para ele, a noção de favelado“carente” é fruto do paradigma soci-ocêntrico. “A partir do meu ponto dereferência, construo um conjunto devalores para o outro”, explicou. As-sim, acredita ele, pode-se pensar que

todo projeto social executado na fa-vela é para evitar que o jovem entreno tráfico. “‘Se ele não for salvo, vaise tornar um criminoso’, é o que afir-ma o discurso corrente. Não se faladisso em relação aos jovens de ou-tros lugares.” Por fim, destacou doisdesafios contemporâneos a seremenfrentados: a luta pela igualdade –do ponto de vista da dignidade hu-mana –, sob uma perspectiva maisampla (acesso à cultura, saúde, infor-mação e internet), e a garantia dodireito à diferença.

O primeiro dia de debate foi en-cerrado com a palestra de GersemJosé dos Santos Luciano. Professor daUniversidade Federal do Amazonas ediretor do Centro Indígena de Estu-dos e Pesquisas (Cinep), Gersem afir-mou que, para os índios, a ideia dedireitos humanos é nova. “Até a Cons-tituição de 1988, não tínhamos cer-teza de que éramos humanos. Mashá muita gente que continua duvidan-do, inclusive intelectuais”, queixou-se.Para ele, a academia não leva emconta a visão de mundo nativa quan-do tenta criar políticas públicas desaúde para essa população. “Não setrata de compreender nossos aspec-tos culturais apenas, mas de enten-der que nem todos os direitos huma-nos universais são interessantes paraos indígenas”. A saúde, por exemplo,é vista por eles como uma “questãode espírito”. “Não há como igualaressas duas racionalidades distintas.Então, o mínimo que se pode esperaré respeito”, finalizou.

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em o Sistema Único de Saú-de, viveríamos atualmenteuma barbárie social.” As-sim afirmou o coordenadordo Instituto Sul-Americano

de Governo em Saúde (Isags/Unasul)e ex-ministro da Saúde, José GomesTemporão, no painel Construindo sis-temas universais de saúde – relato deexperiências, realizado pelo CentroBrasileiro de Estudos em Saúde (Ce-bes), em parceria com a AssociaçãoLatino-Americana de Medicina Social(Alames), durante o 2° Congresso Bra-sileiro de Política, Planejamento eGestão em Saúde, iniciado em 1° deoutubro, em Belo Horizonte. O painel,coordenado pelo ex-diretor da Associ-ação Brasileira de Saúde Coletiva(Abrasco) José Noronha, apresentou,na prática, o que vem ocorrendo nossistemas de saúdemundiais, pormeio de exemplosdo Brasil, Colôm-bia, Venezuela eEuropa.

Para falarsobre a crise finan-ceira europeia e ossistemas de saúde,a pesquisadora daEnsp/Fiocruz, LígiaGiovanella, trouxea experiência detrês países – Espanha, Reino Unido (In-glaterra) e Alemanha. Contextualizan-do a crise, ela explicou que os paísesda União Europeia se defrontaram comuma importante crise econômica, com-parável à crise de 1930, na qual osgovernos europeus socorreram seu sis-tema financeiro com fundos públicos.No setor da saúde, de acordo com Lí-gia, só houve o alcance da universali-dade a partir da constituição de siste-mas nacionais de saúde financiados

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Experiências mundiais desaúde abrem pré-congressoAvanços e desafios do SUS e de sistemas universais de saúde do Reino Unido, Espanha, Alemanha,Colômbia e Venezuela foram discutidos durante Congresso Brasileiro de Política, Planejamentoe Gestão em Saúde

publicamente como um dos pilares dosdiversos regimes de welfare dos paíseseuropeus.

Alemanha, Reino Unido (Inglater-ra) e Espanha foram apontados pelapesquisadora como três casos exempla-res de países europeus com sistemas desaúde universais que estão submetidosa constrangimentos econômicos de di-ferentes intensidades e apresentam dis-tintas conformações da proteção socialem saúde e do sistema de saúde. Porfim, Lígia apresentou tendências da re-forma de saúde dos três países e suascaracterísticas. Atenção primária tradi-cionalmente forte foi apontada comotendência na Inglaterra. O Serviço Naci-onal de Saúde do país tem acesso uni-versal e gratuito para todos os cidadãose residentes, com financiamento predo-minantemente público (83%).

Na Espanha, o Sistema Nacio-nal de Saúde (SNS) foi criado em

1986, após o período ditatorial, e pos-sui acesso universal e gratuito paratodos os cidadãos e residentes, comcusteio em grande parte público(74%). Na Alemanha, o Seguro Soci-al de Doença, como é chamado, co-bre 89% da população e é financia-do solidária e paritariamente por tra-balhadores e empregados, mediantetaxas de contribuições sociais propor-cionais aos salários, com sustento ma-joritariamente público (77%).

Brasil: 70% dapopulaçãodependeexclusivamentedo SUS

Apresentando a experiência bra-sileira do Sistema Único de Saúde(SUS), o coordenador do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isa-gs/Unasul) e ex-ministro da Saúde, JoséGomes Temporão, contextualizou a re-forma sanitária brasileira e a criação doSUS em um momento de luta política,mobilização e ideário claro e objetivo:unificação, democratização, universa-lização e mudanças estruturais na soci-edade, vinculadas diretamente com a

determinação social da saúde.”Sem o SUS, viveríamos

atualmente uma barbárie social”,afirmou o ex-ministro sobre a re-forma sanitária. Em seguida, Tem-porão citou que 70% da popula-ção brasileira depende exclusiva-mente do SUS – cerca de 150 mi-lhões de pessoas – para seus cui-dados de saúde. Os outros 30%possuem cobertura privada, mastambém utilizam o SUS em ser-viços como transplantes, medica-ção de alto custo, atendimentos

de emergência, vacinas, tratamentopara Aids, entre outros serviços. Cercade 50% dos transplantes de órgãos noBrasil são feitos pelo SUS.

Como conquistas dos 25 anosde existência do SUS, Temporão men-cionou a construção da Política Naci-onal de Imunização – o Brasil é omaior produtor no mundo de imuno-biológicos; o Programa de Saúde daFamília, que hoje cobre mais de 100milhões de pessoas; o Programa Na-

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cional de DST/Aids; a Política Nacio-nal de Controle do Tabagismo – o paístem a menor população de fumantesno mundo, e os índices de tabagismocaíram de 34% para 15% nos últi-mos anos; a reforma psiquiátrica e aPolítica Nacional de Humanização; aqueda da mortalidade por doençascrônicas, que diminuiu 10% nos últi-mos anos; entre muitas outras con-quistas. “Os percalços enfrentados aolongo dessa caminhada tornaram pos-sível o SUS que temos hoje”, consi-derou Temporão.

Por fim o ex-ministro disse que,apesar das conquistas, ainda há mui-tos desafios. Entre eles, um SUS quenão seja apenas para pobres, e simpara todos, como foi pensado em suacriação. “O SUS é um sucesso comomacroestratégia para impactar os in-dicadores sanitários, mas, apesar dosincontestes e importantes avanços naatenção individual, a avaliação da po-pulação só piora: acesso, qualidade,tempo de espera, desumanização,descoordenação, essas são algumasdas críticas ao SUS. Um reflexo dissoé que, em dez anos, a cobertura dosetor suplementar aumentou de 20%para 30% da população.

Experiênciaslatinas de saúde:os casos daColômbia eVenezuela

Apresentando experiências lati-no-americanas de sistemas de saúde,o painel contou com a presença docoordenador da Associação Latino-Americana de Medicina Social (Ala-mes), Oscar Feo, e da professora daUniversidade Pontifícia Javeriana, deCali (Colômbia), Yadira Eugenia Bor-rero, também membro da Alames. Aprofessora debateu alguns pontosprincipais: os antecedentes da refor-ma de saúde na Colômbia, a exigibi-lidade jurídica e a importância deações coletivas e da participação demovimentos sociais.

Como antecedentes, Yadiraapontou os processos de reforma do

Estado e da política social, a imple-mentação da reforma em saúde e asevidências empíricas de mal-estar so-cial. Ela comentou alguns efeitos dareforma da saúde para a Colômbia eressaltou que “não basta apenas umareforma estrutural dos sistemas de saú-de para que haja processos sociais for-tes de organização e movimentação”.

Encerrando o painel, Oscar Feoapresentou a experiência da Venezue-la. Após um breve comentário sobre aconstrução do sistema de saúde dopaís, ele mencionou que a história re-cente venezuelana está dividida emantes e depois de 1998. “Antes desseano, o quadro era um sistema de saú-

de fragmentado, centrado na doença,que caminhava a passos largos para aprivatização da saúde”, admitiu. Após1998, segundo o palestrante, entrouem cena a gratuidade dos serviços einiciou-se o processo de construção co-letiva de uma nova Constituição, pormeio da Assembleia Nacional Consti-tuinte. Nesse momento, a saúde foiincorporada à Constituição como di-reito universal, com intuito de satisfa-zer as necessidades de saúde dos ve-nezuelanos. Por fim, o coordenador daAlames destacou que “a Venezuelaconstruiu seu sistema de saúde com asolidariedade brasileira e, hoje, éexemplo para todo o continente”.

O Congresso debateu o que vem ocorrendo nos sistemas mundiais desaúde, e avanços como programas de imunização, combate àmortalidade infantil e saúde da família. Fotos Peter Ilicciev/CCS

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Acordo entre Brasil e Colômbia celebranovo projeto na área de humanizaçãoConvênio visa o desenvolvimento conjunto de propostas no campo de humanização daatenção às crianças e adolescentes hospitalizados

Suely Amarante - IFF

IFF/Fiocruz está desenvolven-do mais um projeto em coo-peração com a Secretaria deSaúde de Cundinamarca,um distrito de Bogotá, na

Colômbia. O projeto de humanização daatenção às crianças e adolescentes hos-pitalizados faz parte de um acordo decooperação firmado entre os dois paí-ses. O convênio, que visa desenvolverpropostas e missões na área da criança,da mulher e do adolescente, tem comoobjetivo a troca de experiências entre aspartes no desenvolvimento de estratégi-as que gerem bons resultados nos im-pactos de doenças e na melhoria da qua-lidade de vida dos pacientes.

A iniciativa para o desenvolvi-mento do projeto surgiu a partir do in-teresse das autoridades da Colômbiade conhecer as práticas de humaniza-ção do IFF e, com isso, qualificar o tra-balho existente em suas unidades desaúde. Para apresentação dessas ex-periências no instituto, a coordenado-ra do Núcleo de Apoio a Projetos Edu-cacionais e Culturais (Napec), Magda-

Olena Quaresemin de Oliveira, e a pes-quisadora e terapeuta ocupacional doprograma Saúde e Brincar, Rosa Mariade Araújo Mitre, visitaram os hospitaisSan Rafael de Facatativa e San Rafaelde Fusagasugá, com a finalidade de co-nhecer as especificidades dos hospitaiscolombianos e apresentarem as propos-tas do Napec e do Saúde e Brincar.

Elas destacaram a importância dautilização dos espaços comuns para arealização de brincadeiras e a possibili-dade de transformar essa dinâmica emambientes para montagem de atividadeslúdicas. Na oportunidade, sinalizaram arelevância do brincar para os profissio-nais de saúde como meio de interagircom as crianças e diminuírem o seu pró-prio desgaste a partir da convivência in-tensa com o adoecimento infantil. Tam-bém foi apresentado o papel do voluntá-rio, o seu recrutamento, capacitação einserção no contexto hospitalar.

De acordo com Rosa Mitre, en-tender as necessidades práticas dos hos-pitais colombianos envolvidos nesseacordo e conhecer as suas rotinas e de-mandas possibilitou o mapeamento dasações de humanização a serem imple-

mentadas como uma ferramenta de tra-tamento e intervenção. “A visita aopaís foi muito importante, conhecemoso perfil do grupo que será responsávelpor multiplicar as estratégias de huma-nização nas unidades de saúde e issocontribuiu para o fortalecimento dasdemandas bilaterais”, afirma.

Cooperaçãovai gerarnovos projetos

O diretor do IFF/Fiocruz, CarlosMaciel, e a assessora do Núcleo de Coo-peração Internacional do instituto, LuciaMonteiro, estiveram na Colômbia paradiscutir as atividades implementadas noAcordo de Cooperação Internacional comCundinamarca/Colômbia. Além de apre-sentar a proposta do projeto de humani-zação da atenção às crianças e adoles-centes ao secretário de saúde de Cundi-namarca, o diretor participou de encon-tros de gestores para a discussão de es-tratégias de redução da mortalidade in-fantil na região do atlântico colombiano.

Na oportunidade, ele mostroua experiência do IFF no marcoda produção do conhecimen-to, políticas públicas e coope-ração internacional em saúde.

“O encontro foi muitoprodutivo, gerando a apresen-tação oficial do projeto, a apro-vação da implementação dedois novos bancos de leite naregião e a demanda de novosacordos de cooperação regio-nais na área da saúde da mu-lher, da criança e do adoles-cente”, enfatiza Maciel. “Ti-vemos algumas novas deman-das que possivelmente resul-tarão em projetos, entre elas,o desenvolvimento de estra-tégias para redução da retino-patia do prematuro e para aredução da mortalidade ma-terna”, relata Lucia.

O espaço Saúde e Brincar, no IFF/Fiocruz, propõe a realização de atividades lúdicas paraa interação entre os pequenos pacientes e profissionais de saúde. Foto IFF/Fiocruz

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O Ipec/Fiocruz recebeu a visita deRainer Jonas, Chefe do Departamentopara Informação Científica e para Inter-nacionalização do Centro Helmholtz paraPesquisa em Doenças Infecciosas (HZI,em alemão). O propósito do encontro,ocorrido em setembro, foi dar início a umafutura cooperação entre as partes, comfoco nas similaridades de suas áreas deatuação: assim como o Ipec, o HZI pre-coniza pesquisas que visam gerar diag-nósticos, terapias, medicamentos e vaci-nas para o combate de doenças causa-das por parasitas, fungos, vírus e bactéri-as. O centro é um segmento da Hel-mholtz Association, a maior organizaçãode pesquisa científica da Alemanha, queenfatiza a aplicação de métodos da bio-tecnologia no campo da saúde.

Na ocasião, o assessor de coopera-ção internacional do Ipec, Roberto Reis,apresentou dados sobre a pesquisa, o en-sino, a assistência, os serviços de referên-cia da unidade técnico-científica, e ainda

sobre as atividades de cooperação esta-belecidas com diversas instituições estran-geiras. Em seguida, o representante doHZI evidenciou o cenário atual de pesqui-sa e desenvolvimento (P&D) na Alema-nha, setor responsável por 3 % do PIB dopaís. Destacou também o crescimento dasempresas de biotecnologia na Europa, nosúltimos anos – só o centro emprega cercade 600 trabalhadores, sendo 100 pesqui-sadores visitantes, e tem orçamento atualestimado em 50 milhões de euros.

Além do Centro para Doenças In-fecciosas, a Helmholtz Association man-tém outras unidades voltadas à pesqui-sa científica, tendo em vista diversosagravos e doenças: câncer, doenças car-diovasculares, doenças neurológicas ecausadas por fatores ambientais. “As in-terações com a indústria farmacêuticae com centros de pesquisa de renomeinternacional possibilita que, juntos, nos-sos pesquisadores sejam incentivados aparticipar de novos projetos de pesquisa

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Centro de pesquisa alemão quer firmarparceria em doenças infecciosas

e possam ter acesso a novos financia-mentos que impulsionam a geração deP&D. Os parceiros, por outro lado, têmacesso a especialistas e coortes de paci-entes de grande valor para o desenvol-vimento de novos produtos, sejam elesmedicamentos, kits diagnósticos ou no-vas técnicas”, comentou Reis.

Carolina Landi - Ipec

O HZI é um segmento da HelmholtzAssociation, maior organização de pesquisacientífica da Alemanha, que enfatiza aaplicação de métodos da biotecnologia nocampo da saúde. Foto: arquivoHelmholtz

A Fiocruz e a Universidade de Bonn,da Alemanha, vão firmar parceria noscampos de ciências sociais, gestão institu-cional e desenvolvimento de produtos. Aideia foi discutida durante visita de dele-gação da instituição acadêmica à Funda-ção, em 24 de setembro. Na ocasião, oreitor da universidade, Jürgen Fohrmann,reforçou a importância da participação daFiocruz na parceria e destacou que a coo-peração será muito valiosa para o sistemade saúde alemão. “O sistema de saúdeda Alemanha é bem diferente do brasilei-ro. Essa parceria vai possibilitar que apren-damos um com o outro. Como temos umimportante centro de pesquisas em nossauniversidade, acredito que possamos com-binar essas três linhas de cooperação muitobem”, disse.

O coordenador do Programa deDesenvolvimento Tecnológico de Insumospara a Saúde (PDTIS/VPPLR/Fiocruz),Wim Degrave, explica que a parceria vaiajudar a Fundação a suprir o que atual-mente é sua maior necessidade em ter-mos de pesquisa biomédica: a aquisiçãode novas tecnologias. “A cooperação vai

nos auxiliar no desenvolvimento de me-dicamentos, diagnósticos, vacinas e no-vas formulações para medicamentos. Édifícil termos acesso a isso, pois o proces-so é demorado. Em uma colaboração,podemos aprender técnicas básicas eadquirir expertise”, disse. “Em termos degestão institucional, temos necessidadede inovação. Eles vão nos mostrar as fer-ramentas que usam para esse fim e a

Cooperação à vista com Universidade de Bonn

A Universidade de Bonn é considerada uma das melhores na Alemanha,ocupando o quinto lugar em ciências humanas e sociais, e o sexto embiomédicas. Foto: arquivo Universität Bonn

experiência que têm na interação de ins-tituições públicas com empresas”, expli-cou. Para a definição de mais detalhessobre a cooperação, serão realizados doisworkshops com pesquisadores dos doispaíses no Brasil ou na Alemanha, aindaem data a definir.

Danielle Monteiro - CCS

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O Cris recebeu, em 24 de outubro,a visita da diretora da fábrica de medica-mentos de Moçambique, Noémia Muis-sa. A Sociedade Moçambicana de Me-dicamentos (SMM), como é chamada afábrica, foi instalada pela Fiocruz, pormeio de Farmanguinhos. Na sua exposi-

ção, a diretora informou que a planta jádispõe de capacidade instalada para aprodução de mais de 1.5 bilhões de cáp-sulas anuais. Dois tipos de medicamen-tos estão em fase de testes, e a produ-ção comercial está prevista para iniciarno final deste ano ou no início de 2014.

“Essa produção deverá con-tribuir significativamentepara o maior acesso da po-pulação aos remédios epara a redução da depen-dência externa de medica-mentos”, explicou Noémia.

A fábrica conta atu-almente com 57 funcioná-rios, onde 12 possuem ní-vel superior, boa parte de-les treinados em Farman-guinhos/Fiocruz. A Fiocruzrealizou um investimentoestimado em U$ 8.5 mi-lhões no projeto para aqui-sição de equipamentos,além da transferência detecnologia e recursos hu-

manos necessários a sua implantação.O projeto tem muito a comemorar esteano: entre julho e setembro, a fábricajá produziu lotes experimentais dos me-

dicamentos captopril e hidroclorotiazi-da - usados no tratamento da hiperten-são arterial - e do antirretroviral nevira-pina, que fazem parte da lista de trans-ferência de tecnologia para Moçambi-que. O processo foi todo realizado pormoçambicanos treinados em Farman-guinhos/Fiocruz.

Ainda este ano, a SMM vai en-tregar o antibiótico amoxicilina 500mge realizar a rotulagem e embalagemfinal do antiviral lamivudina 150mg,fabricados em Farmanguinhos/Fiocruze com marca SMM para o Ministérioda Saúde de Moçambique. No ano quevem, a fábrica deverá submeter pedi-do de obtenção de certificação juntoà Organização Mundial da Saúde. ASMM é a primeira empresa de capital100% público do segmento no conti-nente africano e vai facilitar o acessoda população moçambicana ao trata-mento da Aids. Moçambique é um dosdez países mais afetados pelo vírus doHIV no mundo, tendo 1,7 milhão deinfectados em uma população de 21,4milhões de pessoas.

Danielle Monteiro - CCS

Diretora da fábrica de medicamentos deMoçambique traz novidades em visita à Fundação

A SMM é a primeira empresa de capital 100%público do segmento na África e vai facilitar oacesso da população moçambicana aotratamento da Aids. Foto Peter Ilicciev/CCS

Parcerias entre Fiocruz e IHMT serão capa de boletimA Fiocruz e o Instituto de Higiene

e Medicina Tropical (IHMT) da Univer-sidade Nova de Lisboa vão produzir umboletim especial sobre a parceria entreas duas instituições, no âmbito das jor-nadas científicas do IHMT, que serãorealizadas em 13 de dezembro. O con-teúdo abordará o histórico de toda acooperação entre as duas instituições.

A responsável de Comunicação eMarketing do IHMT, Isa Alves, esteve emvisita à Fiocruz no mês de setembro. Ajornalista conheceu e estabeleceu conta-tos com os principais centros de comuni-cação e informação da Fundação, pararealizar um balanço das principais ativida-des conjuntas nos últimos anos. “Impres-sionou-me o profissionalismo das equipesda Fiocruz e toda sua estrutura de comu-nicação”, elogiou Isa. “Tenho certeza de

que nosso esforço conjunto será maisum sucesso”, disse.

A parceria entre a Fiocruz e oIHMT é antiga. Os laços institucio-nais têm sido reforçados desde 2007,quando foi realizada uma reunião dosinstitutos nacionais de saúde dos pa-íses da CPLP (Comunidade dos Paí-ses de Língua Portuguesa). A partirdaí, a Fundação e o IHMT passarama ter parcerias no âmbito da CPLPem diversos projetos, dentre eles anegociação de um doutorado em Ci-ências da Saúde e Saúde Pública, emMoçambique, e o lançamento do li-vro “Segurança Alimentar e Nutricionalna CPLP: perspectivas e desafios”, em vir-tude do aniversário do IHMT.

Thiago Oliveira – Cris

Instituição centenária, o IHMT temforte empenho na resolução deproblemas de saúde que, em todosos continentes, afligem os maispobres e excluídos.Foto plus.google.com

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Cooperação Brasil – Venezuelaé tema de artigo

Com base na experiência desen-volvida entre a Ensp/Fiocruz e o Institutode Altos Estudos em Saúde Doutor Ar-naldo Gabaldón da Venezuela (IAE), Éri-ca Kastrup e Luisa Regina Pessôa, pes-quisadoras da Ensp, apresentaram o arti-go de sua autoria “Desafios da Coopera-ção Internacional Sul-Sul: Brasil e Vene-zuela, um processo horizontal, sustentá-vel e estruturante” na revista Saúde emDebate, do Centro Brasileiro de Estudosde Saúde (Cebes). O texto teve comofoco a estruturação de uma Escola deGoverno e de uma Rede Colaborativa deinstituições formadoras no âmbito da saú-

Gestores da Fiocruz se reuniram,em 29 de outubro, com o diretor de Saú-de Mental da Organização Mundial daSaúde (OMS), Shekhar Saxena, para dis-cutir a agenda do seminário de Determi-nantes Sociais da Saúde e Saúde Men-tal que será realizado ano que vem, noBrasil. Na ocasião, Saxena apresentou oplano de ação de saúde mental da OMSe alertou para a necessidade de treina-mento dos agentes comunitários de saú-de direcionado não somente a usuáriosde drogas, mas também a indivíduos comtranstornos mentais. “Políticas voltadasa drogas, álcool e saúde mental devemestar conectadas, caso contrário, levare-mos um longo tempo para avançarmoscom elas”, destacou. A visita de Saxenaà Fundação se deu por ocasião do 9º En-contro Grand Challenges, promovido pelaFundação Bill & Melinda Gates, entre 27e 30 de outubro, no Rio de Janeiro.

Entre as temáticas que devem es-tar presentes no seminário, foi propostaa necessidade de integração entre as clí-nicas de psiquiatria e a Reforma Sanitá-ria brasileira, o foco em problemas soci-ais e o uso de drogas, a discussão sobreo acesso ao tratamento de indivíduos comtranstornos mentais, a necessidade decompilação de documentos que tratamda Reforma Sanitária no Brasil, entreoutros. Para a definição da agenda doevento, serão realizados, nos próximosmeses, dois encontros preparatórios en-tre pesquisadores da Fundação envolvi-dos com a temática.

Danielle Monteiro - CCS

Semináriosobre DSS eSaúde Mental

O diretor de Saúde Mental da OMS,Shekhar Saxena, em reunião com gestoresda Fiocruz. Foto Peter Ilicciev/CCS

de, visando à formação de trabalhado-res venezuelanos. Segundo o artigo, nosúltimos cinco anos, a presença do Brasiltem se mostrado cada vez mais forte nacooperação internacional do eixo Sul-Sul,e é importante a avaliação dessas inicia-tivas, cujas categorias principais de aná-lise são a relevância, a horizontalidade eo caráter sustentável e estruturante dacooperação, na qual ambos os paísesganham com o processo. Leia a íntegrado artigo aqui.

Fonte: Informe Ensp

Livro sobre sistemas de saúdetem versão em inglês

O Instituto Sul-Americano de Go-verno em Saúde (Isags) lançou a ver-são em inglês do livro Sistemas de saú-de na América do Sul: desafios para auniversalidade, a integralidade e aequidade, publicação que apresentaum amplo panorama dos sistemas daregião. A tradução, intitulada Healthsystems in South America: challengesto the universality, integrality and equi-ty, visa aumentar o alcance da publi-cação lançada em novembro de 2012em sua versão em espanhol.

A publicação está organizadaem uma introdução do diretor execu-tivo do Isags, o ex-ministro da Saúdedo Brasil José Gomes Temporão, e 14capítulos. No capítulo 1, é feita umaanálise transversal dos Sistemas de

Saúde dos países da América do Sule dos desafios à universalização dacobertura sanitária na região. Os 12capítulos seguintes, referentes a cadaum dos países da Unasul, foram redi-gidos com base nas contribuições fei-tas pelos próprios governos a partirde um guia metodológico compostode 11 dimensões, elaborado em con-junto pelos países. Por fim, é feita umaanálise a respeito da cooperação re-gional com vistas à universalizaçãoda cobertura em saúde e das vanta-gens e debilidades da Unasul paraesse processo.

Confira o livro na biblioteca do Isags.

Fonte: Isags

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O médico e pesquisador do Ipec/Fiocruz, André Curi, foi convidadopara fazer parte do Grupo de EstudoInternacional de Uveítes (Internatio-nal Uveitis Study Group/IUSG). Curitambém é vice diretor de PesquisaClínica do Ipec. Formado em 1978, oGrupo reúne mais de 100 especialis-tas de todo o mundo, que buscamestimular, incentivar e intensificar apesquisa em uveíte, com o objetivode desenvolver novos métodos parao diagnóstico, tratamento e preven-ção das complicações da doença. OIUSG é membro da Federação Inter-nacional das Sociedades Oftalmoló-gicas, cujo órgão executivo é o Con-selho Internacional de Oftalmologia.

Já a médica infectologista e pes-

Fundação marca presença emgrupos de estudo internacionaisde uveíte e Aids

ONU defineprioridadespara odesenvolvimentosustentávelpós-2015

quisadora do Ipec, Beatriz Grinsztejn, faráparte do Painel de Cientistas Especializa-dos em Aids do Programa Conjunto dasNações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS).Criado em junho deste ano, o novo cen-tro ajudará o UNAIDS a identificar novaspesquisas e descobertas, para que elaspossam ser implementadas rapidamen-te com o objetivo de desenvolver melho-res estratégias na prevenção de novasinfecções pelo HIV, e ajudar na qualida-de de vida das pessoas que vivem com ovírus. As lacunas e necessidades estraté-gicas em pesquisa também serão temado painel, que poderá recomendar políti-cas para atendê-las.

Fonte: Ipec/Fiocruz

O presidente da Assembleia Geralda ONU, John Ashe, e o vice-secretário-geral da organização, Jan Eliasson, dis-cutiram, com mais de 1.100 represen-tantes da sociedade civil, as prioridadespara o desenvolvimento sustentável glo-bal, nos anos seguintes ao término dociclo de desenvolvimento atual, em 2015.“Entrar na agenda de desenvolvimentopós-2015 vai exigir níveis de colaboraçãoentre todos os parceiros de uma formainédita”, disse Ashe a milhares de parti-cipantes reunidos na sede das NaçõesUnidas, em Nova York, e aos que partici-param via webcast. Pedindo mudançacoletiva nos “negócios usuais”, Ashe so-licitou a inclusão da sustentabilidade naforma como “nós planejamos, vivemos,fazemos negócios e buscamos o lazer”.

Durante o encontro, Jan Eliassonressaltou que as pessoas querem viversem medo da violência ou do conflito,exigindo que as autoridades protejamo meio ambiente.

“O Sistema da ONU vai continuara fazer o seu melhor para garantir queas vozes e ideias de pessoas de todo omundo sejam trazidas para o debate,tornando-se um processo real ‘Nós ospovos’”, disse Eliasson, em referência aopreâmbulo da Carta das Nações Unidas.

A reunião antecedeu o eventoespecial da Assembleia Geral, em 25de setembro, para fazer um balançodo progresso e renova o compromissopara alcançar até 2015 as oito metasde combate à pobreza, conhecidascomo os Objetivos de Desenvolvimen-to do Milênio (ODM). Além disso, oencontro lança as bases para uma agen-da sustentável pós-ODM.

Fonte: ONU

A Fiocruz e a Universidade deToronto devem selar, ainda esse ano,parceria nas áreas de História da Saú-de Pública e Internacional e Saúde Glo-bal. A ideia é facilitar a ida e vinda deestudantes do Brasil e Canadá. As duasinstituições mantêm ações de coope-ração há quase 20 anos. Uma delasprevê a elaboração do livro História daSaúde Internacional/Global: uma pers-pectiva das Américas, que será escritopelo pesquisador da COC/Fiocruz, Gil-

Intercâmbio de estudantesbrasileiros e canadenses

berto Hochman, e a pesquisadora, pro-fessora e historiadora canadense Anne-Emanuelle Birn, com previsão de lan-çamento para 2015. O anúncio daparceria foi feito durante palestra deAnne-Emanuelle, no último dia 30,como parte do Programa de Pós-Gra-duação em História das Ciências e daSaúde (PPGHCS/COC/Fiocruz).

Danielle Monteiro - CCS

A Universidade deToronto, Canadá.Foto en.wikipedia.org

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De 8 a 13 de outubro, a EditoraFiocruz participou da Feira do Livro deFrankfurt, um dos mais importanteseventos mundiais do mercado edito-rial. Anualmente, livros da Editora Fi-ocruz vêm ocupando um espaço co-letivo na Feira de Frankfurt, ao ladode títulos de outras integrantes da As-sociação Brasileira das Editoras Uni-versitárias (Abeu). Em 2013, porém,pela primeira vez, além dos livros, aEditora Fiocruz esteve representadatambém por seu editor executivo,João Canossa, atual presidente daAbeu. “Frankfurt é essencialmenteuma feira de negócios. É um espaçoprivilegiado, por exemplo, para nego-ciar traduções. Uma presença cons-tante no evento dá visibilidade aonosso produto - o livro - e pode con-tribuir para a almejada internaciona-lização da nossa produção editorialacadêmica”, afirma Canossa.

Durante todos os dias do even-to, no espaço coletivo da Abeu - den-tro do estande do Brasil, organizadopela Câmara Brasileira do Livro (CBL)-, Canossa recepcionou agentes lite-rários, editores, bibliotecários e pú-blico interessado na cultura, na ci-ência e na literatura em língua por-tuguesa. No mesmo estande, no pe-núltimo dia da feira, junto com a di-retora da Editora da Universidade Fe-deral da Bahia (EDUFBA), FláviaRosa, Canossa fez uma apresenta-ção sobre os avanços e os desafiosda edição universitária brasileira. OBrasil foi o país homenageado nesteano em Frankfurt, cuja programa-ção deu lugar a um rico intercâmbiode outras experiências de ediçãouniversitária, como as da Argentina,Canadá, China e Estados Unidos.

Fernanda MarquesEditora Fiocruz

Editora Fiocruzparticipa daFeira do Livrode Frankfurt

O Complexo Tecnológico de Medi-camentos (CTM) de Farmanguinhos/Fio-cruz recebeu 12 profissionais de saúdeafricanos para uma visita guiada na áreade produção da unidade, localizada emCuricica, na Zona Oeste do Rio de Janei-ro. A visita contou com a presença demédicos, enfermeiros e biólogos que vie-ram de Moçambique, Angola, Cabo Ver-de e São Tomé e Príncipe para participardo 4º Curso Internacional do Manejo deTuberculose. O objetivo é atualizar e ca-pacitar profissionais multidisciplinares nomanejo da doença, com ênfase no forta-

Farmanguinhos recebe visitade profissionais de saúde depaíses africanos

lecimento de es-tratégias de pre-venção e controleda enfermidadeno Brasil e em Pa-íses Africanos deLíngua Oficial Por-tuguesa (Palops).

Médica pe-diátrica de Mo-çambique, ElsaTaiba demons-

trou empolgação em sua primeira visitaa uma indústria farmacêutica. “Enten-der como funciona e conhecer a em-presa que fornece medicamentos aomeu país é uma grande oportunidade”,disse. O curso, que é oferecido pelo Ipec/Fiocruz, seguiu até 26 de setembro. Osgovernos brasileiro e japonês, por meioda Agência Brasileira de Cooperação(ABC) e da Agência de Cooperação In-ternacional do Japão (Jica, na sigla eminglês), respectivamente, são os respon-sáveis pelo financiamento da iniciativa.

Aline Souza - Farmanguinhos

As revistas científicas de paísesemergentes, como China, Coreia do Sul,Rússia e Brasil, têm intensificado seu pro-cesso de internacionalização – que podeser medido pelo número de artigos pu-blicados em inglês, citação por outrospaíses e pela publicação de artigos deautoria de pesquisadores estrangeiros,entre outros indicadores. Os periódicosbrasileiros, contudo, estão atrás das co-leções desses outros países na corridapela internacionalização, uma vez queainda publicam menos artigos em inglêse em colaboração com o exterior.

Revistas científicas de paísesemergentes aumentam processode internacionalização

A avaliação foi feita por partici-pantes de um painel sobre medição daqualidade das pesquisas e dos periódi-cos internacionais, realizado no dia 24de outubro, durante a conferência decomemoração dos 15 anos da Rede Sci-ELO – Scientific Eletronic Library Onli-ne – um programa da FAPESP e doCentro Latino-Americano e do Caribede Informação em Ciências da Saúde(Bireme). Leia mais na Agência Fapesp.

Fonte: Agência Fapesp

Foto: Farmanguinhos/Fiocruz

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Em uma iniciativa inédita, a Fio-cruz levou virtualmente um de seuspesquisadores para participar da 2ª Jor-nada Internacional de Saúde Ocupa-cional e Ambiental, congresso reali-zado de 18 a 20 de setembro, noPeru. O pesquisador da Ensp/Fiocruz,William Waissmann, e a médica Fáti-ma Viegas, da Fundacentro, grava-ram, em uma sala de aula do Ces-teh/Ensp, os vídeos de suas exposi-ções exibidas durante o evento. Fáti-ma explicou o que é a nanotecnolo-gia, e Waissmann concentrou sua falana relação entre nanomateriais, toxi-cidade e trabalho. Ambas as apresen-tações podem ser conferidas no ca-nal da Ensp, no Youtube.

Fonte: Informe Ensp

Desafios dananotecnologia

O IOC/Fiocruz sediou, entre osdias 16 e 20 de setembro, o primeiro‘Workshop on Proteases in MedicalParasitology’. Promovido pelo Labora-tório de Toxicologia do IOC, o eventoreuniu cerca de 140 pessoas de 12 ins-tituições de ensino e pesquisa do Bra-sil. Referência mundial em bioquímicade protozoários e helmintos, o pesqui-sador convidado James McKerrow, di-retor do Center for Discovery and Inno-vation in Parasitic Diseases da Univer-sidade da Califórnia, em São Francis-co, nos Estados Unidos, foi responsávelpor quatro palestras e se mostrou satis-feito com o resultado. “Testemunhei osurgimento de novas colaborações eparcerias, além de uma intensa partici-pação de alunos e professores que nãotiveram medo de fazer perguntas. Emum workshop, isso é ouro”, afirmou.

De acordo com McKerrow, uma

Workshop internacionalsobre parasitologia

próxima edição do evento, prevista para2014, vem sendo negociada com oCDTS/Fiocruz. “O Brasil precisa ser o lu-gar onde ocorrem as descobertas de no-vos medicamentos específicos para osproblemas de sua população, principal-mente a mais pobre. A Fiocruz, assimcomo muitas universidades federais bra-sileiras, já conta com grupos de cientis-tas extremamente competentes para tal,portanto, nossa ideia é realizar umworkshop em 2014 sobre como transfor-mar Pesquisa em produtos”, pontuou. Avisita de McKerrow foi viabilizada peloPrograma Ciência Sem Fronteiras da Co-ordenação de Aperfeiçoamento de NívelSuperior (CSF/Capes), por meio do Pro-grama de Pós-graduação Stricto sensu emBiologia Celular e Molecular do IOC.

Isadora Marinho - IOC

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Oportunidades de treinamento

As inscrições para o Curso de Especialização emInfectologia para médicos estrangeiros estão abertasaté 29 de novembro. Duas vagas estão disponíveis.Promovido pelo Ipec/Fiocruz, o curso será realizadoentre os dias 01 de abril de 2014 e 31 de março de2017, no campus Manguinhos e em instituições con-veniadas.

A preferência será por candidatos oriundos depaíses integrantes da Comunidade dos Países de Lín-gua Portuguesa e da União de Nações Sul-america-nas. Médicos brasileiros com diplomas emitidos emoutros países poderão participar.

Para mais informações, acesse o edital.

Fonte: Ipec

Curso de Especializaçãoem Infectologia paramédicos estrangeiros A Rede de Desenvolvimento Sustentável e

Meio Ambiente (Redesma) e o Centro Boliviano deEstudos Multidisciplinares (Cebem) promovem o cur-so online Saneamento Ecológico: uma alternativaaos sistemas de saneamento convencionais. O obje-tivo é gerar uma reflexão sobre a atual crise do sa-neamento e desenvolver uma atitude proativa paraenfrentar as limitações dos sistemas convencionais,além de conhecer, valorizar e visualizar as vanta-gens do saneamento ecológico.

O curso virtual tem duração de sete semanas eé direcionado a profissionais, técnicos e estudantesrelacionados com temas de “água e saneamento”,seja no setor acadêmico, público ou privado. O ho-rário será flexível e adaptado às características indi-viduais de cada participante.

Para inscrições e mais informações, clique aqui.

Curso online desaneamento ecológico

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MARIA DE FÁTIMA MARTINSentrevista

Danielle Monteiro - CCS

A Fundação desenvolveuma série de ações colaborativasna África. Uma delas, conduzidapelo Icict, atua na formação deprofissionais de informação quetrabalham em bibliotecas e emcentros de documentação e uni-dades de informação em saúdeem Angola, Moçambique, Gui-né-Bissau, Cabo Verde e São

Fiocruz forma técnicosde saúde na África

Abertura do Programa de Formação Técnica em Informação em Saúde (FTIS) para osPaíses Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste, promovido pelo Icict/Fiocruz.

Tomé e Príncipe. O projeto visa ofortalecimento dessas instituiçõespara que sirvam de instrumentosde cooperação e conta com oapoio da Agência Brasileira deCooperação do Ministério das Re-lações Exteriores angolano, o Ins-tituto Nacional de Saúde de Mo-çambique, a Associação Interna-cional dos Institutos de Saúde Pú-blica (IANPHI, na sigla em inglês)e o Instituto de Higiene e Medi-

cina Tropical (IHMT) da Universi-dade Nova de Lisboa.

Em entrevista ao Crisinfor-ma, a coordenadora do proje-to, Maria de Fátima Martins, con-tou como ele tem sido conduzi-do e revelou as novidades des-ta iniciativa que, além da forma-ção de profissionais africanos,prevê ainda a criação de umaRede de Bibliotecas em Saúdeem Moçambique.

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Qual o papel do Icict/Fiocruzno projeto?

Maria de Fátima: Formar recur-sos humanos para atuar no campo dagestão e desenvolvimento de bibliote-cas, centros de documentação e/ouunidades de informação, redes, servi-ços, processos e produtos de informa-ção em saúde. Nosso trabalho é feitosegundo novos paradigmas de qualida-de, tendo como foco central os proble-mas e questões comuns ao grupo departicipantes, de forma que os profissi-onais formados, compondo uma “mas-sa crítica” qualificada, possam contri-buir de maneira mais efetiva e realistapara intervir, no âmbito loco-regional,nos processos de formação e gestão.

Com os Centros Colaboradorestemos três tipos de relações fundamen-tais. Uma é saber o que a instituiçãofaz no país e promover uma relação decooperação e de fortalecimento da ins-tituição. A segunda relação fundamen-tal é descobrir como essa instituiçãopode servir como referência e capaci-tar os profissionais de informação emsaúde. E a terceira relação fundamen-tal é saber como essas instituições po-dem participar como multiplicadores emoutras regiões e com outros países.

A falta de médicos é um gran-de problema na África, uma vezque os profissionais são atraídospara outros continentes que ofe-recem melhores salários. Qual aimportância da formação de téc-nicos de saúde para o sistema desaúde desses países?

Maria de Fátima: Os recursoshumanos em saúde tem importância es-tratégica para o alcance da coberturauniversal de saúde fundamentada nodesenvolvimento de sistemas de saú-de, colaborando, assim, para a suatransformação e, consequentemente,para torná-los melhores. Uma das ra-zões dessa aguda escassez de profissi-onais de saúde é o número insuficientede programas de treinamento. Muitasvezes, os trabalhadores de saúde nãotêm formação ou acesso à educaçãomédica continuada apropriada. Dessaforma, acredito que a formação de téc-nicos de saúde, assim como o financia-mento ao combate dos principais pro-blemas de saúde no continente, irá al-cançar níveis sem precedentes.

Em que consiste o programa deensino voltado a esses profissionais?

Maria de Fátima: Foram diver-sos cursos e oficinas. Em Angola, mi-nistrei aulas e oficinas de metodolo-gia da pesquisa e revisão bibliográfi-ca para os alunos do Mestrado emSaúde Pública. Em Moçambique, co-ordenei três oficinas de trabalho emMaputo, assim como ministrei duasdelas, para os profissionais que atu-am na Biblioteca Nacional de Moçam-bique, na Biblioteca Central BrazãoMazula da Universidade EduardoMondlane e nas bibliotecas do Insti-tuto Superior de Ciências de Saúde(ISCISA) e da Faculdade de Ciênciasda Saúde da Universidade Católica deMoçambique (Beira) e Direção de Re-cursos Humanos.

Já em Cabo Verde, coordenei,em colaboração com a chefe de di-visão do Centro de Documentação eInformação da Escola Nacional deSaúde Pública (Ensp/IHMT/Universi-dade Nova Lisboa), o Programa deFormação Técnica em Informação emSaúde (FTIS) para os Países Africa-nos de Língua Oficial Portuguesa eTimor-Leste, no âmbito do Projeto deApoio aos Recursos Humanos de Saú-de, financiado pela União Europeiaatravés do Fundo Europeu de Desen-volvimento.

Há um diferencial na metodo-logia utilizada?

Maria de Fátima: Os cursos fo-ram realizados com base em uma co-operação estruturante, sendo orga-nizados com o objetivo de qualificaro profissional com competências ne-cessárias para a política de fortaleci-mento de bibliotecas médicas africa-nas, cada um deles procurando res-ponder a um conjunto particular denecessidades. Não há, como na mo-dalidade de capacitação tradicional,a repetição sequencial de um progra-ma pré-estabelecido. A realizaçãodos cursos foi idealizada consideran-do o nível de conhecimento dos pro-fissionais e necessidades de cadapaís, sendo assim, a formação pre-tendeu promover a apropriação téc-nica e a sustentabilidade dos conhe-cimentos pelos países, através demetodologias mais práticas e próxi-mas dos participantes.

Quando será realizada a pró-xima edição do programa de ensi-no nesses países? E há outrasações de colaboração previstas noprojeto?

Maria de Fátima: Em 2015, emMoçambique e Angola. No caso deMoçambique, o Icict tem apoiado acriação da Revista Médica do Institu-to Nacional de Saúde (INS) e do Por-tal do instituto.

O Icict ainda atua na criaçãode uma Rede de Bibliotecas em Mo-çambique. Como foi prestado esseauxílio e qual a importância da ins-talação dessa Rede para o país?

Maria de Fátima: A Rede estásendo instalada progressivamente. Pro-movemos um conjunto de atividadese oficinas para transferir, absorver edesenvolver conhecimentos específi-cos. Dessa forma, as atividades repre-sentaram um esforço de integração eaproximação dos participantes, paraque fossem fomentadas soluções fren-te aos problemas enfrentados; e a cri-ação de uma rede de colaboração etroca de informações entre profissio-nais de informação em saúde, promo-vendo, consequentemente, o acúmu-lo das relações entre as diversas insti-tuições e a transferência de conheci-mentos e técnicas em Moçambique.A democratização do acesso equitati-vo à informação impulsiona o desen-volvimento, melhora a qualidade devida e contribui para salvar milhões devidas e reduzir a pobreza.

Quais foram os resultadosaté agora obtidos com a criaçãoda Rede?

Maria de Fátima: A criação darede fomentou a interação e articu-lação de ações entre os participan-tes, a importância do apoio à disse-minação de conteúdos e habilidadesno tratamento e recuperação da in-formação em saúde e, ainda, umareflexão sobre o acompanhamentodo projeto de reestruturação de bi-bliotecas e/ou unidades de informa-ção em Moçambique. Em Moçam-bique, já temos seis instituições tra-balhando em rede e ações de multi-plicação no norte e sul do país, rea-lizadas com recursos próprios.


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