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Você já foi tentado a olhar para o futuro? Desafiar previsões? Questionar
o destino?
É da natureza humana se perguntar sobre reviravoltas da vida. Mas o
futuro já está escrito, ou você tem o poder de alterar isso?
De profecias fantásticas para previsões de como o futuro vai acontecer,
Foretold é uma coleção de histórias sobre o nosso fascínio universal com
desconhecidos da vida e do que ainda está por vir, como interpretado por 14
das estrelas mais brilhantes de ficção infanto - juvenil.
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Eu não esperava voltar para a Rússia tão cedo. Com certeza não queria
isso.
Não que eu tivesse algo contra aquele lugar. Era um país muito
agradável, com uma arquitetura que parecia com arco-íris multicolorido e uma
vodka que poderia servir como combustível para foguetes. Eu gostava destas
coisas. Meu problema era que da última vez que estive aqui, fiquei muito
próxima da morte (em muitas ocasiões) e terminei sendo dopada e sequestrada
por vampiros. E isso é o suficiente para não se querer voltar para qualquer
lugar.
Mesmo assim, quando meu avião começou a sobrevoar Moscou, eu
soube que voltar aqui, definitivamente, tinha sido a coisa certa.
—Você está vendo aquilo, Rose?— Dimitri apontou pelo vidro da janela
e, embora eu não pudesse ver o seu rosto, pude perceber como ele estava
admirado. — St. Basil.
Eu me debrucei sobre ele, mas consegui ver apenas o vislumbre da
famosa catedral multicolorida que parecia mais com algo que você encontraria
no Mundo dos Doces, e não o Kremlin. Para mim, era mais um ponto turístico,
mas eu sabia que para ele, isso significava muito mais. Era o seu regresso para
casa, um lugar que ele não acreditava que veria novamente sob a luz do sol,
muito menos por meio de olhos vivos. Aqueles prédios, aquelas cidades não
eram apenas belos cartões postais. Não para ele. Eles representavam mais do
que isso. Era a sua segunda chance de vida.
Sorrindo, eu encostei em minha poltrona. Eu tinha pouco espaço, mas
não podia ser mais desconfortável para mim do que era para ele. Foi cruel
colocar um homem de quase dois metros de altura sentado perto de uma janela
de avião, mas ele não se queixou nenhuma vez. Nunca.
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—Pena que não ficaremos muito tempo aqui, — eu falei. Moscou era
apenas uma pequena parada para nós. —Vamos ter que nos limitar a ver as
coisas típicas da Sibéria. Você sabe, tundra1. Ursos polares.
Dimitri se voltou novamente para a janela, eu esperava castigá-lo com
mais uma piada sobre os estereótipos da sua terra, mas em vez disso, eu podia
dizer, pela sua expressão, que ele não ouviu mais nada do que eu disse depois
de — Sibéria. — A luz da manhã ressaltou os traços esculturais de seu rosto e
iluminou os seus lisos cabelos castanhos. Nada podia ser comparado ao brilho
que irradiava dele.
—Faz muito tempo, desde que eu estive em Baia, — ele murmurou seus
olhos escuros se perdendo em memórias. —Faz muito tempo desde que eu os
vi. Você acha... — Ele olhou para mim, pela primeira vez com um vislumbre de
nervosismo. Eu tinha o observado durante toda a viagem. —Você acha que eles
vão ficar felizes em me ver?
Eu apertei a sua mão e senti um pequeno aperto em meu peito. Não era
normal ver Dimitri inseguro sobre qualquer coisa. Eu poderia contar nos dedos
da minha mão as vezes que eu testemunhei ele realmente vulnerável. Desde
que nos conhecemos, ele se destacou como a pessoa mais decidida e confiante
que eu já vi. Ele sempre estava em movimento, nunca aparentando ter medo
diante de uma ameaça, mesmo que isso significasse arriscar a sua vida. Por
exemplo, se algum monstro sanguinário surgisse agora mesmo na cabine do
avião, Dimitri seria o primeiro a atacá-lo calmamente, armado apenas com o seu
cartão de embarque. Impossíveis combates não eram problema algum para ele.
Mas reencontrar sua família, depois de ser um vampiro morto-vivo? Sim, isso
lhe assustava.
—É claro que eles vão ficar felizes, — eu lhe assegurei, me maravilhando
com as mudanças que ocorreram em nosso relacionamento. No começo, eu era
apenas uma aluna, precisando conquistar a sua confiança. Então, eu me formei,
tornando sua companheira e sua semelhante. —Eles sabem que estamos
chegando. Inferno, você deveria ter visto a festa que eles fizeram quando 1 O termo Tundra deriva da palavra finlandesa Tunturia, que significa planície sem árvores. É o bioma
mais frio da Terra.
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pensaram que você estava morto, Camarada. Imagine como será quando
constatarem que você está mesmo vivo.
Ele deu um de seus raros sorrisos, aquele que me fazia aquecer por
dentro. —Vamos esperar por isso, — ele disse voltando a olhar para a janela. —
Vamos esperar por isso.
As únicas paisagens que vimos de Moscou foi quando estávamos dentro
do aeroporto, enquanto esperávamos para pegar nosso voo para Omsk, uma
cidade de porte médio da Sibéria. De lá, nós locamos um carro e seguimos a
viagem por terra – não havia voo para onde estávamos indo. Era um belo
caminho, uma terra cheia de vida e muito verde, provando que as minhas
piadas sobre tundra estavam erradas. O humor de Dimitri oscilou entre a
nostalgia e a ansiedade, enquanto viajávamos. Eu mesma me vi inquieta para
chegar logo ao nosso destino. Quanto mais cedo chegássemos, mais cedo ele
veria que não havia nada com que se preocupar.
A viagem entre Omsk e Baia durou menos de um dia. Baia parecia muito
mais bonita do que eu tinha visto na última vez que eu estive aqui. A cidade
tinha uma quantidade razoável de pessoas, o suficiente para não se esbarrar em
ninguém por acidente. Se você encontrar alguém em Baia, é porque realmente
havia um motivo. Talvez por isso, tinha um grande número de dhampirs
vivendo aqui. Como eu e Dimitri, estes dhampirs eram seres metade humanos e
metade vampiros. Mas, ao contrário de mim e de Dimitri, estes dhampirs
escolheram viver separados dos Morois – vampiros usuários da magia – em vez
disso, se misturando entre a sociedade humana. Eu e Dimitri éramos guardiões
comprometidos para guardar os Morois dos Strigois: perversos vampiros
mortos-vivos que os matam para manter a sua existência imortal.
Os dias eram mais longos nessa época do verão e a noite estava
começando a cair quando chegamos à casa da família de Dimitri. Strigois
raramente se aventuravam entrar em Baia, mas gostavam de ficar pelos
arredores da cidade, perseguindo quem passava pelas estradas. Os raios solares
fugazes garantiam a nossa segurança e davam a Dimitri uma boa visão da casa.
Desligando o carro, ele encostou-se por um tempo, contemplando a antiga
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construção de dois andares. Os raios vermelhos e dourados a banhavam dando-
lhe uma aparência de algo de outro planeta. Eu me inclinei e beijei a sua
bochecha.
—Hora do show, Camarada. Eles estão lhe aguardando.
Ele permaneceu sentado por alguns momentos, em silêncio. Então, deu
um firme aceno com a cabeça, colocando no rosto a mesma expressão que eu o
tinha visto usar quando estava em combate. Nós saímos do carro e, mal
havíamos chegado no meio do quintal, quando a porta da frente abriu com um
rompante. Uma luz clareou a escuridão e a silhueta de uma jovem mulher
surgiu.
—Dimka!
Se um Strigoi tivesse saltado para fora da casa e atacado, Dimitri teria
respondido imediatamente. Mas ao ver sua irmã caçula, seus incríveis reflexos
foram surpreendidos, e a ele só restou ficar parado enquanto Victoria lançava
os braços em volta dele e despejava palavras em russo, tão rápido que eu nem
ousei tentar acompanhar.
Dimitri levou alguns momentos para se recuperar do choque, mas logo
devolveu ferozmente o seu abraço, respondendo-lhe de volta em russo. Eu
fiquei ali, sem jeito, até Victoria me notar. Com um grito de alegria, ela correu e
meu deu um abraço tão forte quanto o que tinha dado em seu irmão. Eu
admito. Eu estava quase tão chocada quanto ele. No passado, quando eu e
Victoria nos separamos, não foi muito amigável. Eu tinha deixado claro que não
concordava com um envolvimento que ela tinha com um certo cara Moroi. Ela
se fez igualmente clara que não gostou da minha intromissão. Parecia que agora
estava tudo esquecido, e embora eu não conseguisse entender uma palavra do
que ela falava, eu tive a impressão que ela estava grata por eu ter trazido
Dimitri de volta para ela.
A chegada exuberante de Victoria foi seguida por toda família Belikov.
As outras duas irmãs de Dimitri, Karolina e Sonya, juntaram-se a Victoria
abraçando a mim e a ele. A mãe deles veio logo atrás. O russo soava rápido e
furioso. Normalmente, uma reunião como esta, na porta de casa, me faria rolar
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os olhos, mas eu terminei me rasgando em lágrimas. Aquilo tudo era demais
para Dimitri. Era demais para todos nós. Eu acho que nenhum de nós esperava
compartilhar um momento como este.
Depois disto, a mãe de Dimitri, Olena, tentava se recuperar, sorrindo,
enquanto enxugava as lágrimas dos olhos. —Entrem, entrem,— ela falou,
lembrando que eu não entendia russo muito bem. —Vamos sentar e conversar.
Entre mais sorrisos e lágrimas, nós entramos na casa, passando para a
acolhedora sala de estar. Ela permanecia a mesma que eu vi em minha última
visita, rodeada por painéis de madeira e prateleiras de livros encadernados em
couro e letras douradas. Lá encontramos mais um membro da família. Paul, o
filho de Karolina, olhava para o tio com fascínio. Ele ainda era muito pequeno
quando Dimitri saiu pelo mundo, e tudo que ele sabia sobre o tio vinha das
fantásticas histórias contadas. Próximo a Paul, havia um bebê dormindo em um
berço, enrolado em um cobertor. Era o bebê de Sonya, eu associei. Ela estava
grávida quando eu estive aqui, no último verão.
Eu fiquei o tempo inteiro perto de Dimitri, mas neste momento, eu soube
que deveria me afastar um pouco. Ele se sentou no sofá e, rapidamente,
Karolina e Sonya sentaram uma de cada lado, o cercando, como se tivessem
medo de que ele fosse embora logo. Victoria, parecendo irritada por ter perdido
um assento, sentou-se no chão, à frente dele, encostando a cabeça em seus
joelhos. Ela tinha dezessete anos, apenas um ano a menos que eu, mas vendo-a
olhar para o irmão com tanta adoração, tive a impressão que ela era muito mais
jovem que isso. Todos os irmãos tinham cabelos e olhos castanhos, formando
um belo retrato ali, sentados juntos.
Olena finalmente se aproximou, parecendo um pouco nervosa, os
observou, puxou uma cadeira e sentou-se em frente à Dimitri, segurando as
mãos no colo, de forma apreensiva.
—Isto é um milagre, — ela falou em inglês, com um forte sotaque russo.
—Não posso acreditar nisso. Quando eu recebi a notícia, pensei que fosse um
engano ou uma mentira. — Ela deu um suspiro feliz. —Mas aqui está você.
Vivo. O mesmo.
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—O mesmo, — Dimitri confirmou.
—Então, foi a primeira possibilidade, — Karolina fez uma pausa, com o
cenho franzido carregando em suas belas feições. Ela parecia escolher
cuidadosamente as palavras. —Então, foi tudo um engano? Você não era
realmente... verdadeiramente um Strigoi?
Esta última palavra pairou no ar por um momento, fazendo uma brisa
fria soprar naquela noite de verão. Minha respiração ficou suspensa, durante o
tempo de uma batida de coração. De repente, meus pensamentos foram para
outro lugar, não muito longe dali, eu estava presa em uma casa diferente, com
um Dimitri muito diferente. Sua pele era branca como giz e seus olhos tinham
anéis vermelhos em volta da íris. Sua força e velocidade superavam e muito a
que ele tinha agora, e ele usavas essa habilidades para caçar vitimas e beber o
seu sangue. Ele era terrível – e quase me matou também.
Poucos segundos depois, comecei a respirar novamente. Aquele terrível
Dimitri tinha ido embora. E este – quente, amoroso, vivo, estava diante de mim
agora. No entanto, antes de responder, os olhos escuros dele encontram os
meus. Naquele momento, eu soube que ele havia pensado as mesmas coisas que
eu. O passado era uma coisa terrível, difícil de ser esquecido.
—Não, — ele disse. —Eu fui um Strigoi. Eu fui um deles. Eu fiz... Coisas
terríveis. — As suas palavras eram leves, mas seu tom era carregado tormento.
As expressões felizes dos membros da sua família se tornaram sóbrias. —Eu
estava perdido. Não havia esperança para mim. Exceto... Por Rose. Ela
acreditou em mim e nunca desistiu.
—Como eu previ.
Uma voz ecoou pela sala, e todos nós olhamos para a mulher que
apareceu de repente na porta. Ela era bem mais baixa do que eu, mas sua
personalidade era tão grande que podia encher todo ambiente. Ela era Yeva, a
avó de Dimitri. Pequena e frágil, com cabelos totalmente brancos, era
considerada por todos como uma espécie de uma sábia ou bruxa. Tentei pensar
em uma palavra diferente para definir Yeva, mas somente —bruxa— me vinha
à mente.
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—Não, você não previu isso, — eu falei, sem conseguir me conter. —
Tudo que você disse foi que eu precisava ir embora daqui, para fazer ‘uma outra
coisa’.
—Exatamente, — ela respondeu, com um sorriso de satisfação
enrugando seu rosto. —Você precisava ir restaurar o meu Dimka.— Ela
começou a andar até a sala de estar, mas Dimitri foi até ela, a encontrando no
meio do caminho. Ele cuidadosamente a abraçou, murmurando algo, que eu
acho que era em russo, pois eu só consegui entender a palavra “vovó“. A
diferença de altura entre eles era quase insana e deixou a cena bem engraçada.
—Mas você nunca disse o que eu ia fazer, — eu argumentei, quando ela
se sentou comodamente na cadeira de balanço. Eu sabia que não deveria insistir
nesse assunto, mas algo em Yeva sempre me levava para o lado oposto. —Você
não pode levar o crédito por isso.
—Eu sabia, — ela disse com firmeza. Seus olhos escuros pareciam
enxergar além de mim.
—Então, porque você não me disse o que eu iria fazer?— Eu exigi.
Yeva pareceu considerar a resposta por alguns momentos. —Simples.
Você precisava descobrir sozinha.
Senti meu queixo começando a cair. Do outro lado da sala, Dimitri atraiu
a minha atenção, com um olhar que parecia dizer ‘Não faça isso, Rose. Esqueça
isso’. Havia um brilho de diversão em seu rosto, que me fez lembrar os nossos
tempos de aluna-professor. Ele me conhecia muito bem. Ele sabia que se eu
tivesse a menor chance, eu iria entrar em um embate com a sua velha avó. E,
provavelmente, eu iria perder. Com um rápido aceno, eu calei a boca. Ok, sua
bruxa, pensei. Você venceu, por hora. Yeva me lançou um sorriso, com dentes
faltando.
—Mas como isso aconteceu?— Sonya perguntou, com muito cuidado,
como se navegasse em águas perigosas. —Quero dizer, como você voltou a ser
um dhampir?
Eu e Dimitri nos olhamos novamente, mas as sua alegria tinha ido
embora.
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—O espírito, — ele disse calmamente.
Isso fez com que a respiração das suas irmãs se alterasse. Os Morois eram
usuários da magia, mas sua maioria utilizava apenas os quatro elementos: terra,
fogo, água e ar. No entanto, um elemento muito raro foi descoberto
recentemente: o espírito. Ele está relacionado a habilidades metais de curas, mas
era algo que muitos Morois e dhampirs ainda tinham dificuldade em aceitar.
—Minha amiga, Lissa, sendo uma usuária do espírito, o golpeou com
uma estaca de prata encantada.
Ao mesmo tempo em que eu me sentia feliz por relembrar aquilo, a
imagem dele sendo acertado no coração por uma estaca ainda era um problema
para mim. Até o último momento, nenhum de nós sabia se aquilo o mataria ou
não.
Paul arregalou os olhos. —Lissa? Você quer dizer, a Rainha Vasilisa?
—Oh, sim, — respondi. —Ela mesma. — Ainda era difícil lembrar que a
minha melhor amiga, desde o jardim da infância, agora era a rainha que
governava todo o mundo Moroi. Pensar nela me fez sentir um frio no estômago.
Sua eleição para ocupar o trono, algumas semanas atrás, tinha sido controversa
aos olhos de muitos. Alguns de seus inimigos não estavam longe de ser
violentos, por isso me afastar dela para vir aqui me deixava nervosa. Foi apenas
a garantia de que ela estaria cercada por guardiões, juntando-se a necessidade
de Dimitri mostrar à sua família de que ele não era mais um morto-vivo, que
me fez consentir com essa viagem.
Eu e os Belikovs ficamos até tarde conversando. Tinham muitas
perguntas para serem respondidas, até mesmo de antes de ele ter sido
transformado à força em um Strigoi. Dimitri esteve longe de casa por um bom
tempo. Ele continuou tentando saber o que tinha acontecido à sua família nestes
últimos anos, mas eles ignoravam suas perguntas, considerando as experiências
dele mais importante. Ele era o milagre. E eles não conseguiam obter o
suficiente dele.
Eu sabia bem o que era isso.
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Quando Paul e sua irmã pegaram no sono, percebi que já era hora de
irmos para a cama também. Amanhã seria um grande dia. Eu tinha sugerido a
Dimitri que a sua família iria refazer a festa feita antes em memória da morte
dele, e acabou que eu estava certa.
—Todo mundo que ver você, — Olena explicou, enquanto nos mostrava
o nosso quarto. Eu entendi que por —todo— ela se referia a toda comunidade
dhampir de Baia. —Se tudo é incrível para nós, ainda mais para os outros.
Então... Acabamos chamando eles para virem aqui amanhã. Todos eles.
Eu lancei um olhar curioso para Dimitri, para saber como ele reagiria. Ele
não era o tipo de pessoa que gostava de ser o centro das atenções,
principalmente quando envolvia o mais terrível e traumatizante evento da sua
vida. Por um segundo, seu rosto teve aquele olhar calmo e sem emoção. Mas
logo se desfez. Então, ele se relaxou em um sorriso.
—É claro, — ele disse a sua mãe. —Eu já esperava por isso.
Olena devolveu o sorriso, parecendo aliviada, e nos desejou boa noite.
Depois que ela saiu, Dimitri sentou-se à beira da cama, colocou a cabeça entre
as mãos e murmurou algo em russo. Eu não conseguia entender exatamente o
que ele falava, mas podia dizer que era algo do tipo —no que eu fui me meter?
Fui até ele, sentei em seu colo e passei os braços pelo seu pescoço, para
que pudesse encará-lo. —Por que tanta tristeza, Camarada?
—Você sabe por que,— ele respondeu, brincando um uma mecha do
meu cabelo. —Eu vou ter que continuar falando sobre... Aquele período.
Eu senti uma ternura queimando em mim. Eu sabia que ele se sentia
culpado pelo que tinha feito quando era um Strigoi, e que apenas recentemente
conseguiu admitir que não podia ser responsabilizado por aqueles seus atos.
Ele tinha sido transformado contra a sua vontade por outro Strigoi, e não podia
controlar a si mesmo. Ainda assim, ainda era difícil ele aceitar isso.
—É verdade, — eu disse. —Mas eles só vão falar sobre isso para
desvendar o restante da história. Ninguém vai se concentrar nos seus atos como
Strigoi. Eles vão querer saber como você voltou. Sobre o milagre. Eu vi estas
pessoas no início do ano. Eles lamentaram por você estar morto. Agora eles vão
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querer comemorar por você estar vivo. O foco deve estar aí. — Eu beijei seus
lábios com força. —Esta é, com certeza, minha parte favorita da história.
Ele me puxou para mais perto dele. —A minha parte preferida da
história foi quando você me golpeou, chamando o meu bom senso de volta, me
fazendo parar de sentir pena de mim mesmo.
—Golpeei? Não é exatamente disso que eu me lembro. — Para ser
honesta, eu e Dimitri tínhamos nos batido e nos chutado muitas vezes, no
passado. Isso era inevitável devido ao rigoroso treinamento que os guardiões
recebiam. Mas com ele tentando superar seus dias como Strigoi... Bem, eu tive
que abrir mão dessa brigas e da minha maneira de argumentar, deixando que
ele curasse a si mesmo. Ou bem, também tivemos incidentes envolvendo
quartos de hotel e remoções de roupas, mas eu não acho que tenha sido tão
fundamental para esse processo de cura.
Mesmo assim, quando Dimitri caiu para trás e me fez deitar na cama com
ele, eu tive a sensação de que aquela memória, em especial, também estava
fresca em sua mente. —Talvez você possa me ajudar a lembrar, — ele disse
diplomaticamente.
—Lembrar, hum?— Envolvida em seus braços, eu lancei um olhar
preocupado para a porta. —Eu me sinto estranha por estarmos em um quarto
dentro da casa da sua mãe! É como se estivéssemos escondendo algo.
Ele segurou meu rosto entre suas mãos. —Eles são muito mente aberta,—
disse ele. —Além disso, depois de tudo pelo que passamos, é meio como se já
estivéssemos casados. A maioria deles já pensa assim.
—Eu também tenho essa impressão, — eu admiti. —Quando eu estava
no serviço do seu memorial, a maioria dos dhampirs me tratou como se eu fosse
a sua viúva. Os relacionamentos dos dhampirs não se prendem a convenções.
—Não é uma má ideia,— ele brincou.
Eu tentei lhe dar uma cotovelada, mas era difícil, considerando o quão
entrelaçados nós estávamos.
—Não. Não comece, Camarada. — Eu amava Dimitri mais do que a
qualquer outra coisa, mas eu já tinha deixado bem claro de que não queria me
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casar com ele antes que existisse um “2” no início da minha idade. Ele era sete
anos mais velho do que eu, então a ideia de casamento soava razoável para ele.
Para mim, mesmo que não houvesse mais ninguém que eu quisesse, dezoito
anos ainda era muito jovem para me tornar uma mulher casada.
—Você diz isso agora,— ele falou, tentando não sorrir. —Mas qualquer
hora dessas, você vai ceder.
—De jeito nenhum, — eu disse. Seus dedos correram pelo contorno do
meu pescoço, fazendo minha pele aquecer. —Você já deu alguns argumentos
bastante convincentes, mas ainda precisa percorrer um longo caminho para
poder me fazer mudar de ideia.
—Eu nem sequer realmente tentei, — ele respondeu com uma rara
arrogância. —Quando eu quero, eu posso ser muito persuasivo.
—Pode? Então, prove isso.
Seus lábios se moveram na direção dos meus. —Eu estava esperando que
você falasse isso.
Os convidados começaram a chegar cedo. É claro, as mulheres Belikovs
tinham acordado muito mais cedo do que eu e Dimitri, já que nós dois ainda
estávamos nos acostumando com o fuso horário. A cozinha funcionava a todo
vapor, enchendo a casa com deliciosos aromas. Confesso que a culinária russa
não era a minha preferida, mas não teve pratos – especialmente os preparados
por Olena – que eu não tivesse aprendido a gostar. Ela e suas filhas cozinhavam
enormes quantidades de tudo, e quase todas as pessoas convidadas também
trouxeram um prato de comida para ajudar. Aquilo tudo era idêntico ao que
aconteceu durante o serviço memorial de Dimitri, tirando que o clima agora era
bem melhor.
No começo, todos ainda tinham um certo constrangimento. Apesar ter
tomado a decisão de focar no lado positivo, Dimitri ainda demonstrou uma
dificuldade enquanto seu tempo com o Strigoi foi o assunto central. Alguns
convidados também pareciam nervosos, como se nós tivéssemos nos enganado
terrivelmente e ele ainda fosse um morto-vivo sanguinário. Claro que só bastou
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cinco minutos para constatarem que não era verdade e toda a tensão se
dissipou. Dimitri conhecia quase todos eles, desde criança, e pareceu cada vez
mais encantado em reencontrar rostos familiares. Eles, por sua vez, se
alegravam por ele esta a salvo.
Do lado de fora, eu fiquei feliz em ver como tinha vindo muita gente. Eu
reconheci vários deles, que me cumprimentaram, mas Dimitri era o centro das
atenções. A maior parte das conversas era em russo, mas eu conseguia entender
o sentido pelas suas expressões. Uma vez que ele se sentiu à vontade entre os
seus velhos amigos e familiares, vi uma alegria tranquila se espalhar por ele. A
tensão que sempre parecia estalar em seu corpo, tinha se aliviado agora, e meu
coração se desmanchou ao vê-lo tão bem.
—Rose?
Eu estava assistindo a tudo com diversão, enquanto algumas crianças o
interrogavam seriamente. Ouvindo alguém chamar o meu nome, fiquei
surpresa ao me deparar com dos rostos conhecidos e bem vindos.
—Mark, Oksana!— Exclamei, abraçando o casal. —Eu não sabia que
estariam aqui.
—Como não estaríamos?— Perguntou Oksana. Ela era uma Moroi, quase
trinta anos mais velha do que eu, mas ainda era muito bonita. Ela também era
uma das poucas usuárias do espírito que eu conhecia. Ao seu lado, Mark, seu
marido, também sorriu para mim. Ele era um dhampir e, para não provocar um
escândalo por causa do seu relacionamento, preferiam manter tudo reservado.
Oksana tinha usado seus poderes do espírito para trazer Mark de volta, depois
que ele foi morto durante uma luta, feito este tão grande quanto ter restaurado
Dimitri de ser um Strigoi. Isso era chamado de shadow-kissed.
—Nós queríamos lhe ver novamente, — Mark disse, então inclinou a
cabeça na direção de Dimitri. —E, claro, queríamos ver o milagre com os nossos
próprios olhos.
—Você fez isso, — Disse Oksana, com o rosto cheio de uma suave
admiração. —Você o salvou, depois de tudo.
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—Essa não era a minha ideia original, — comentei. Quando eu decidi vir
à Rússia, meu principal objetivo era caçar e matar Dimitri, a fim de libertar sua
alma do estado obscuro em que estava. Até então, eu não sabia que existia outra
alternativa.
Oksana estava compreensivamente curiosa sobre o papel do espírito na
salvação de Dimitri, e eu lhe dei todas as informações que pude. O tempo voou.
O dia deu lugar a noite e as pessoas começaram a beber aquela vodka letal que
me arruinou da última vez. Mark e Oksana me provocavam para que eu
tentasse beber novamente, quando uma voz, de repente, chamou minha
atenção. O dono da voz não estava falando comigo, mas imediatamente
consegui distinguir voz entre o barulho das pessoas da casa – porque era
alguém falando em inglês.
—Olena? Olena? Onde está você? Precisamos conversar sobre o Blood
King.
Seguindo a voz, logo pude avistar um rapaz, cerca de cinco anos mais
velho do que eu, que se espremia tentando passar pela multidão até onde
estava Olena, perto do seu filho. A maioria das pessoas não lhe deu atenção,
mas alguns o olharam com a mesma surpresa que eu. Ele era um humano. O
único humano entre nós, até onde eu podia dizer. Os humanos e os dhampir
pareciam indistinguíveis um dos outros, mas era uma habilidade da minha raça
conseguir dizer quem era quem.
—Olena,— quase em fôlego, o cara humano chegou em Olena, me dando
o primeiro vislumbre de sua aparência. Ele tinha o cabelo preto e bem cortado, e
usava um terno cinza que parecia ter sido feito sob medida para seu corpo
desengonçado. Quando ele virou o rosto, de uma certa maneira, a luz iluminou
sua bochecha revelando a tatuagem de um lírio dourado. Isso explicou a sua
presença ali. Ele era um Alquimista.
Olena estava conversando com uma vizinha e finalmente virou, depois
do Alquimista chamar seu nome mais umas três vezes. A mãe de Dimitri
permaneceu sorridente e simpática, mas eu consegui pegar um traço de
desespero em seus olhos.
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—Henry, — disse ela. —Que bom lhe ver.—[
Ele ajeitou seus óculos com armação metálica. —Precisamos conversar
sobre o Blood King.— Quanto mais ele falava mais eu reconhecia o seu leve
sotaque. Ele era britânico e não americano como eu.
—Esta não é uma boa hora, — Olena disse. Ela fez um gesto para Dimitri
que observava Henry minuciosamente. —Meu filho está nos visitando. Ele não
vinha aqui há anos.
Henry deu a Dimitri um aceno educado e uma curta saudação, em
seguida, tornou a voltar-se para Olena. —Isso nunca terá uma boa hora. Quanto
mais tempo isso ficar de lado, mais pessoas irão se machucar. Como você sabe,
outro humano foi morto ontem à noite.
Aquelas palavras trouxe o silêncio de quem estava por perto. Isso
também fez com que eu caminhasse para perto de Olena e Dimitri. —Quem foi
morto?— Eu exigi saber. —Quem está fazendo uma matança?
Henry me examinou rapidamente. No entanto, não era uma rápida-
verificação-se-eu-era-quente. Era como se ele buscasse descobrir se valia a pena
responder à minha pergunta ou não. Aparentemente não. Ele voltou-se para
Olena.
—Você tem que fazer alguma coisa.
Olena levantou as mãos. —Por que você pensa que eu posso fazer isso?
—Por que você, bem, é uma espécie de líder aqui. Quem mais poderia
organizar os dhampirs para combater essa ameaça?
—Eu não posso liderar ninguém,— Olena disse, balançando a cabeça. —
As pessoas aqui... Elas certamente não podem ser ordenadas a entrar em uma
batalha, seja quando for.
—Mas eles sabem lutar,— rebateu Henry. —Vocês todos são treinados,
mesmo que não se tornem guardiões.
—Nós somos treinados para nos defender, — ela o corrigiu. —Com
certeza, todos reagiriam se os Strigois invadissem a cidade, mas ninguém sai
procurando encrenca. Bem, exceto os Desmarcados. Mas todos ele se foram
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agora. Assim que estiverem de volta no outono, ficarão felizes em fazer isso
para você.
Henry suspirou frustrado. —Nós não podemos esperar até o outono!
Seres humanos estão morrendo agora.
—Seres humanos muito idiotas que não conseguem se manter longe de
problemas,— disse uma mulher dhampir de cabelos grisalhos.
—Este tal de Blood King é apenas um Strigoi comum, — acrescentou
outro homem que estava ouvindo a conversa. —Os humanos precisam apenas
ficar distantes, que ele os deixa em paz.
Eu não sabia dizer exatamente o que estava acontecendo, mas as peças
foram se encaixando. Os Alquimistas estavam entre os poucos humanos que
sabiam da existência de vampiros e dhampirs. Embora geralmente vivessem e
interagissem com humanos, a minha raça fazia um belo trabalho em esconder a
sua real natureza. Os Alquimistas acreditavam que todos os vampiros e
dhampirs eram criaturas obscuras e não naturais, que não deviam manter
contato com a humanidade. Da mesma forma, os Alquimistas temiam que a
nossa existência se tornasse pública, certos que a fraqueza dos humanos iria se
sobressaltar diante da possibilidade de se tornar um Strigoi imortal, mesmo que
isso corrompesse suas almas. Por causa disso, os Alquimistas nos ajudavam a
nos manter ocultos, encobrindo os ataques de Strigois, assim como outros
transtornos causados por estes monstros. No entanto, os Alquimistas deixavam
claro que tudo isso era primeiramente para ajudar os humanos, nos deixando
em segundo plano. Portanto, se algo lá fora estava ameaçando a sua espécie,
não era estranho que Henry estivesse tão preocupado.
—Comece do início, — Dimitri deu um passo à frente. Ele tinha ouvido a
tudo pacientemente até o momento, mas até ele tinha limites quando se tratava
de alguém tentando, bem na sua frente, persuadir sua mãe a fazer algo. —
Alguém pode explicar quem é este Blood King e o porquê dele estar matando os
humanos?
Henry olhou Dimitri de forma semelhante como tinha feito comigo.
Exceto que Dimitri passou em sua avaliação. —O Blood King é um Strigoi que
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vive à noroeste daqui. Há uns lugares com várias cavernas e trilhas tortuosas,
onde ele reside. Nós não sabemos em qual caverna, mas as evidências sugerem
que ele é muito antigo e muito poderoso.
—E, então... Ele está acabando com os humanos que vagam por perto?—
Eu perguntei.
Hanry parecia surpreso por me ouvir falar, mas pelo menos desta vez,
ele me respondeu. —Não. Ele não está atacando quem está vagando. Os
humanos estão procurando por ele. As pessoas das aldeias são supersticiosas e
se iludem. Criaram estórias lendárias sobre sua reputação e lhe deram o nome
de Blood King. É claro que eles não sabem exatamente o que ele é. Em fim, tudo
que ele tem a fazer é esperar, pois de vez em quando, alguém mete na cabeça
que pode ser o único a derrotar oBlood King. Eles se precipitam montanhas
adentro, para nunca mais voltarem.
—Idiotas, — disse a mulher que tinha se pronunciado antes. Eu estava
inclinada a concordar com ela.
—Você tem que fazer alguma coisa, — repetiu Henry. Desta vez, ele
olhava em volta para todos que o ouviam, desesperado que alguém o ajudasse.
—As pessoas da minha raça não podem matar este Strigoi. Mas vocês podem.
Eu já falei com guardiões de outras cidades maiores, mas eles se recusam a
deixar os seus protegidos Morois. Isso significa que resta a vocês fazer isso.
—Uma hora os humanos irão se convencer que devem ficar longe,—
Olena disse de forma razoável.
—Sempre esperamos que isso vai acontecer, mas não acontece,— disse
Hanry. Algo no tom dele me fez pensar que ele já havia falado isso diversas
vezes. Se ele não fosse um completo arrogante, eu teria sentido pena dele. —E,
antes que alguém sugira, também não acho que algum humano terá sorte
contra o Blood King.
—Claro que não.
A sala tinha se silenciado até este ponto, mas a chegada de Yeva fez com
que isso acabasse. Como ela sempre conseguia aparecer assim, do nada? Ela
andou até nós, se apoiando em uma bengala retorcia, que eu podia apostar que
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ela só usava para bater nas pessoas. Ela se concentrou em Henry, mas parecia
satisfeita por atrair as atenções de todos.
—Somente uma pessoa que já cruzou o caminho da morte poderá matar
o Blood King. — Ela fez uma pausa dramática. —Eu já previ isso.
Considerando as expressões assombradas que isso provocou, ficou óbvio
que ninguém iria questioná-la. Como de costume, sobrou para mim. —Ah, pelo
amor de Deus,— eu disse, —isso pode significar uma centena de coisas
diferentes.
Henry estava franzindo a testa. —Eu tenho que concordar. Cruzar o
caminho da morte pode significar várias coisas. Alguém que já esteve perto de
morrer, alguém que já matou, qualquer guerreiro ou lutador que...
—Dimka,— falou Victoria. Eu nem sequer a tinha notado atrás de nós.
Algumas pessoas estavam na sua frente, mas ela abriu caminho, enquanto
falava. —A vovó se refere ao Dimka. Ele trilhou o caminho da morte e retornou.
Vários murmúrios tomaram conta da sala, com todos os olhos voltados
para Dimitri. Muitos estavam concordando com a declaração de Victoria. Eu
ouvi quando um homem disse — Dimitri é o cara. Ele está destinado a matar
o Blood King.— Eu tinha certeza que tinha sido o mesmo homem que havia
falado que o Blood King não tinha nada de especial, que era apenas mais um
Strigoi. Os outros pareciam concordar. —Se Yeva Belikov disse, assim será, —
alguém falou. —Ela nunca erra.
—Isso é o que ela diz a todos, — eu resmunguei.
—Eu vou fazer isso, — Dimitri disse decidido. —Eu vou acabar com este
Strigoi.
O levante de felicidade das pessoas pode ser ouvido até do lado de fora,
de forma que ninguém escutou quando eu disse —Mas você não precisa fazer
isso, ela não disse que era para você fazer isso.
Corrigindo – uma pessoa me ouviu. Dimitri. —Roza, — ele falou, sua voz
se destacando entre o grande barulho. Foi apenas uma palavra, mas como
sempre acontecia, conseguiu transmitir milhares de mensagens, que podiam ser
resumidas na frase—conversaremos sobre isso mais tarde.
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—Eu quero ir com você, — Mark disse. Ele se ajeitou em toda a sua
altura. —Se você quiser. — Apesar dos seus cabelos grisalhos, Mark ainda era
magro e musculoso. Um olhar mais atento nele me disse que ele podia fazer
muito mais do que chutar a bunda de um Strigoi.
—Claro, eu ficaria honrado, — Dimitri disse gravemente. —Mas só você.
— Ele adicionou essa ultima parte porque, de repente, mais da metade da sala
também queria ir com ele. Todos tinham revirado os olhos diante do pedido de
Henry, mas agora com Dimitri no comando, todos queriam participar desta
odisseia heroica.
—E quanto a mim?— Eu perguntei secamente.
Os lábios de Dimitri se contraíram em um sorriso. —Eu pensei que a sua
ida já fosse um fato certo.
Eu não conseguiria falar em particular com Dimitri tão cedo. Afinal, as
pessoas ainda estavam celebrando o seu retorno à vida, e agora também tinha
essa caçada para aplaudir. O único mais impaciente do que eu, eu acho, era
Henry. Ele estava satisfeito por finalmente ter conseguido ajuda, mas ficou claro
que ele queira começar a traçar os planos com Dimitri imediatamente. Isso,
obviamente, não iria acontecer, então finalmente, Henry saiu dizendo que
voltaria amanhã.
Era quase meia noite quando o restante dos convidados se despediu e eu
e Dimitri fomos para o quarto. Eu me sentia exausta, mas ainda tinha energia
suficiente para provocá-lo um pouco.
—Você sabe que Yeva não disse especificamente que você mataria esse tal
de Blood King. — Eu disse, cruzando os meus braços, lhe lançando um olhar
imponente. —Victoria, e somente ela, tirou essa conclusão.
—Eu sei, — disse Dimitri, abafando um bocejo. —Mas alguém tem que
fazer isso. Ele mesmo disse que os humanos estão tentando fazer, então essa
ameaça precisa ser removida. Minha mãe estava certa quando disse que os
dhampirs da redondeza estão focados apenas em se defender. Você e eu somos
os únicos que concluímos todo o treinamento dos guardiões. E Mark também.
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Eu balancei lentamente a cabeça. —Por isso que você disse que ele
poderia vir conosco. Eu pensei que tinha sido porque ele foi o primeiro a se
oferecer que não tentava somente se vangloriar.
Dimitri sorriu e sentou-se na cama. —Aquelas pessoas podem lutar. Elas
lutariam até a morte se seus lares fossem atacados. Mas para entrar em uma
batalha? Mark é o único em quem eu confiaria. Mesmo assim, ele ainda não é
páreo para você.
—Bem,— eu disse, sentando ao seu lado. —Esta foi a coisa mais
inteligente que eu ouvi durante toda a noite. Mas algo me veio de repente. —
Mark também pode senti os Strigois.— Esse era um efeito colateral por ter sido
trazido de volta do mundo dos mortos. —Hum, eu acho que isso já é loucura
suficiente para se lidar.
Dimitri beijou o topo da minha cabeça. —Admita. Você não está se
preocupando em ir atrás deste Strigoi, mesmo sendo a coisa certa a ser feita.
Nem mesmo com eles o buscando, que inocentes estejam morrendo por causa
dele.
—Sim, sim, esta é a coisa certa. Eu deveria ter me oferecido como
voluntária, no final das contas, — eu suspirei. —Eu odeio dar a Yeva mais uma
razão para ela pensar que controla o destino do universo.
Ele sorriu. —Se você planeja fazer parte desta família, então acho melhor
ir se acostumando com isso.
Dimitri e eu não tínhamos nenhuma ressaca para curar, felizmente, mas
nenhum de nós ficou feliz quando Hanry apareceu ainda de madrugada para
— tratar de negócios. — Como os outros Alquimistas que eu conhecia, Henry
não era do tipo que sujava as suas mãos. Ele não tinha a menor intenção de ir
com a gente caçar o Blood King. Também, como os outros Alquimistas, Henry
estava mergulhado em papéis cheios de planos.
Ele nos trouxe toneladas de mapas das áreas montanhosas, onde o Blood
King vivia, assim como os diversos relatórios dos Alquimistas sobre os ataques.
Alquimistas adoravam relatórios. Olena nos trouxe um café extremamente
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forte, o mais forte que já provei, quase tão tóxico quanto a vodka regional, mas
a cafeína foi a única maneira de acordarmos e traçar as estratégias.
—Essa não é uma região muito grande,— Hanry comentou, batendo em
um dos mapas. —Eu não entendo como ninguém consegue encontrá-lo durante
o dia. Essa área é muito pequena, qualquer pessoa pode percorrer todas as
cavernas em apenas um dia. No entanto, todos eles acabam presos lá até a noite
e são mortos.
Minha mente girou em volta do conjunto de cavernas, de um lado a
outro do mapa. —As cavernas estão conectadas, — eu falei lentamente,
traçando os pontos dos mapas, marcando as entradas. —Você irá procurar
todos os dias por ele e nunca irá encontrá-lo, por que ele se move por passagens
subterrâneas.
—Brilhante, Roza, — Dimitri murmurou em aprovação.
Henry parecia assustado. —Como você sabe?
Eu dei de ombros. —É a única coisa que faz sentido. — Eu folheei os
papeis. —Você tem algum mapa do subsolo? Alguém já fez um... Sei lá... Estudo
geográfico, ou algo assim?
Parece que toda representação que havia da área estava ali. Imagens de
satélite, desenhos topográficos, análises minerais... Tudo, menos um vislumbre
do que estava acontecendo abaixo da superfície. Henry confirmou tudo.
—Não, — ele admitiu timidamente. —Eu não tenho nada disso. — Então,
como se quisesse livrar o lado dos Alquimistas e seus estilos meticulosos, ele
acrescentou —Provavelmente ninguém nunca fez uma análise dessas. Se
existisse, nós teríamos.
—Isso vai ser uma desvantagem, — eu ponderei.
—Não tanto,— Dimitri falou, terminando seu café. —Eu tenho uma
ideia, eu não acho que vamos precisar descer até o subsolo para isso.
Principalmente com Mark.
Eu conhecia bem aquele olhar que ele tinha e senti a eletricidade correr
entre nós. Uma das coisas que nos atraiu foi o nosso mútuo amor pela emoção e
pelo perigo. Não que buscássemos isso constantemente, mas quando havia
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necessidade, sempre estávamos prontos para responder. Eu senti que a faísca
entre nós havia sido acendida, agora que a tarefa se tornava mais próxima, e, de
repente, tive uma boa noção de qual era o seu plano.
—Manobra ousada, Camarada, — provoquei.
—Não para os seus padrões, — ele retrucou.
Henry olhou entre nós, totalmente perdido. —Do que é que vocês estão
falando?
Dimitri e eu apenas sorrimos.
É claro que não havia muitos sorrisos quando saímos no amanhecer do
dia seguinte. A família de Dimitri tinha uma conflitante mistura de confiança e
nervosismo. Aparentemente, a premonição de Yeva dizia que a vitória de
Dimitri estava garantida. No entanto, nem suas irmãs e nem sua mãe estavam
despreocupadas por mandá-lo enfrentar um Strigoi velho e poderoso, com um
longo histórico de mortes. As mulheres o cobriram de abraços e desejos de boa
sorte. Em todo tempo, Yeva manteve seu comportamento e seu
olhar presunçoso de sabe tudo.
Mark estava conosco, parecendo firme e pronto para a batalha. Hanry
havia dito que cabia aos dhampirs —locais— combater o Blood King, mas isso
era relativo, já que as cavernas estavam a cerca de seis horas de carro dali. Nós
éramos os mais próximos, já que as cavernas ficavam em uma área remota e
obscura, com pouca civilização em volta. De fato, parte do caminho que
corremos foi feito em uma estrada em péssimas condições.
Chegamos às cavernas perto do meio-dia, conforme tínhamos planejado.
Era um lugar desolado, realmente apenas um pequeno ponto, diante da
elevação próxima dali. Era difícil de competir com as grandes montanhas que se
erguiam para o leste. Mesmo assim, ainda era mais elevado e mais íngreme do
que as terras ao redor, com lados rochosos e uns penhascos, que iria exigir que
passássemos a pé. Nenhuma das cavernas era visível de onde paramos o carro,
mas uma trilha pequena e gasta serpenteava por entre alguns dos desfiladeiros.
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Pelo que eu tinha visto nos mapas de Henry, estávamos no coração do
complexo.
—Nada como uma escalada em rocha, — eu disse alegremente,
colocando minha mochila nas costas. —Isso bem que podia ser uma excursão de
férias, se não houvesse, vocês sabem, o risco potencial de morrermos.
Mark levou a mão acima dos olhos, evitando o sol, enquanto ele
considerava a mim e a Dimitri. —Algo me diz que vocês são o tipo de pessoa
cujas férias sempre acabam desta maneira.
—É verdade,— Dimitri disse, seguindo pelo caminho. —Além do mais,
estamos seguros hoje. Temos a garantia da minha avó, lembra?
Eu revirei meus olhos, percebendo a brincadeira em sua voz. Dimitri
podia amar e venerar a sua avó, mas eu sabia que ele não estava contando com
uma vaga profecia para dar esta tarefa como cumprida. Sua fé estava na estaca
de prata que ele carregava no cinto.
O caminho começou fácil, mas logo se tornou um desafio, se tornando
íngreme, com vários obstáculos no percurso. Subimos, evitando as pedras,
enfrentando várias partes muito difíceis de passar, nos forçando a nos segurar
nos lados rochosos. Quando chegamos onde, aparentemente, era o centro do
complexo, eu fiquei surpresa ao constatar o quão elevado era. Falésias se
erguiam à nossa volta, formando uma espécie de fortaleza. Mas tudo me trouxe
um sorriso misturado com tranquilidade. Eu não me sentia cansada – dhampirs
eram mais resistentes que os demais – mas eu estava feliz por termos chegado
ao nosso destino.
E foi aí que nós paramos.
Nós sentamos no chão, espalhando o conteúdo das nossas mochilas, tudo
que nós precisávamos para passar bem o resto do dia. Apesar do vento que
soprava ali em cima, a temperatura era de um verão quente, fazendo a cena
quase prefeita para um piquenique. Era verdade que tinha muitas rochas
irregulares e vegetações dispersas, quase idílicas, mas nós abrimos um cobertor
e almoçamos uma fabulosa comida preparada por Olena. Quando terminamos,
eu me deitei ao lado de Dimitri, enquanto Mark talhava um pedaço de madeira.
26
Nós mantivemos uma conversa fiada. Isso também era parte do plano.
Depois que Henry falou que humanos aventureiros foram à caça e acabaram
mortos, percebemos que esse foi o erro: entrar e ficar preso dentro das cavernas
que o tal do Blood King obviamente conhecia bem mais que nós. Nós não
iríamos fazer isso. Iríamos ficar a céu aberto, sem fazer qualquer esforço para
esconder a nossa presença. Se Strigois adoravam o sangue humano, adoravam
ainda mais o sangue Moroi e dhampir. Não tinha como um Strigoi ser capaz de
nos ignorar em seu próprio território. Se a nossa invasão não o trouxesse para
fora, a atração pelo nosso sangue certamente o faria. Ele viria até nós assim que
a noite caísse, e nós lutaríamos contra ele da nossa maneira.
—Mark, você e Oksana deveriam vir para os Estados Unidos, — eu disse.
—Lissa iria adorar conhecer vocês e conversar sobre o espírito. Muita gente
gostaria.
Mark não tirou os olhos de sua escultura. —Esse é o problema, — disse
ele, bem humorado. —Estamos preocupados com o que as pessoas fariam,
agora que muitos estão se interessando pelo espírito. Nós não queremos nos
tornar experiências científicas.
—Lissa não iria deixar que isso acontecesse, — eu disse com firmeza. —E
pensar nas coisas incríveis que poderíamos aprender. O espírito parece ser
capaz de fazer coisas novas todos os dias. — Antes que eu falasse isso, minha
mão encontrou a de Dimitri. Ao salvá-lo, o espírito tinha feito a coisa mais
maravilhosa que podia, bem diante dos meus olhos.
—Vamos ver, — disse Mark. —Oksana gosta de privacidade, mas eu sei
que ela também tem curiosidade sobre...
Dimitri saltou de sua posição de descanso, instantaneamente tenso e
focado, daquele jeito que dele. Mark havia ficado em silêncio assim que Dimitri
se contraiu, e eu também tinha me levantando. Minha mão agarrou
instintivamente a estaca e vi os dois fazerem o mesmo. Apesar disso, meu lado
lógico sabia que não era necessário – não enquanto estivéssemos sob a luz do
dia. O olhar de Dimitri caiu em uma pilha de pedregulhos, perto do penhasco.
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Ele fez um sinal, apontando o seu ouvido. Mark e eu acenamos em
compreensão.
Olhando para o chão, em um dos mapas de Henry que eu havia deixado
aberto, imediatamente reconheci a formação rochosa que Dimitri mostrava. Ela
era grande e ampla, com algo que parecia ser uma pequena falha entre a rocha e
o penhasco. Se havia alguém escondido ali e nos espionando, seria possível
esgueirar-se por trás e pegar o espião de surpresa. Eu fiz um gesto indicativo
para mim e apontei para a formação de cavernas do mapa. Dimitri balançou a
cabeça negativamente e apontou para ele mesmo. Eu olhei para ele, começando
a protestar, mas Dimitri gesticulou para mim e Mark. Daquela forma estranha
que tínhamos de, às vezes, pensar nas mesmas coisas, imediatamente soube o
que ele estava dizendo. Eu e Mark estávamos conversando quando Dimitri
ouviu o som que o assustou. Era necessário continuar a conversa, a fim de
manter o disfarce diante daquela ameaça em potencial. Relutante, eu cedi a
Dimitri.
Ele se esquivou para longe, silencioso como um gato. Eu me virei para
Mark, tentando lembrar sobre o que nós estávamos conversando. Os Estados
Unidos – eu estava tentando convencê-lo a nos visitar por alguma razão. Falar.
Eu precisava falar e criar alguma distração. Então, soltei freneticamente a
primeira coisa que me veio à mente.
—Então, sim, Mark... Se você, hum, viesse nos visitar, poderíamos sair
para comer e você poderia conhecer a culinária americana. Sem repolho. — Eu
dei uma risada inquieta, tentando não olhar para Dimitri, que se esgueirava por
um canto rochoso. —Poderíamos, sabe, ir comer cachorro quente. Não se
preocupe. Não é um cachorro de verdade. Só no nome. É feito de um tipo de
bolo de carne com pão – então você cobre com um monte de outras coisa e...
—Eu sei o que é um cachorro quente, — Mark interrompeu, seu tom era
leve, para o bem do nosso observador, mas sua estaca tinha sido substituída por
uma faca withlling.
—Você sabe?— Eu perguntei, verdadeiramente surpresa. —Como?
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—Nós não somos tão isolados assim. Nós temos TV e filmes. Além do
mais, eu já sai da Sibéria, sabe. Eu já fui para os Estados Unidos.
—Sério?— Eu não tinha conhecimento disso e queria saber um pouco
mais sobre esta história. De verdade. —Você tentou uma carroça de cachorro
quente?
—Não.— Seus olhos estavam fixos onde Dimitri tinha desaparecido, mas
logo ele voltou-se para mim. —Me ofereceram um... Mas não parecia tão
apetitoso.
—O quê?— Eu exclamei. —Que blasfêmia. É delicioso.
—Eles não são feitos de carne de animal prensada?— Ele soltou.
—Bem, sim... Acho que sim, mas continua sendo salsicha.
Mark balançou a cabeça. —Eu não sei. Parece que tem algo de errado
com o cachorro quente.
—Algo errado? Eu acho que você quis dizer tudo certo. Eles são como...
Minha indignação foi interrompida por um grito, lembrando-me que o
meu propósito ali não era a defender um dos melhores alimentos do universo.
Mark e eu nos movemos como um, ambos correndo na direção das pedras,
fonte do ruído. Lá encontramos Dimitri pressionando contra o chão um cara se
contorcendo, usando jaqueta de couro e jeans desgastados. Eu não podia dizer
muito sobre ele, pois Dimitri estava apertando o rosto dele contra o chão sujo.
Vendo-nos, Dimitri relaxou um pouco, permitindo que o cara olhasse para
cima. Foi quando eu pude ver que ele tinha mais ou menos a minha idade – e
era humano.
Ele olhou para mim e para Mark, mais precisamente para as nossas
estacas de prata. Com os olhos cinza-azulados arregalados, o cativo começou a
balbuciar algumas palavras em russo. Mark franziu a testa e fez uma pergunta,
mas não abaixou sua estaca. O humano respondeu, soando quase em pânico.
Dimitri fez um ar de zombaria e o soltou completamente. O humano se
levantou, batendo a terra de sua bunda. Mark fez um comentário em russo e
Dimitri respondeu com uma risada.
29
—Por favor, será que alguém pode me dizer o que está acontecendo?—
Eu exigi. —Em inglês. — Para minha surpresa não foram meus amigos que
responderam.
—Você... Você é americana!— O garoto exclamou, olhando para mim
com admiração. Seu sotaque era bastante carregado. —Eu sabia que a fama
do Blood King tinha se espalhado, mas não sabia que já tinha ido tão longe.
—Bem, não foi. Não exatamente, — eu falei. Percebi que Dimitri e Mark
haviam guardado as suas estacas. —Coincidiu de eu estar pelas redondezas.
—Eu já lhe disse,— Dimitri se dirigiu ao humano. —Este não é um lugar
para você. Vá embora.
O garoto negou com a cabeça, fazendo seus cabelos loiros parecerem
ainda mais desarrumados. —Não! Nós podemos trabalhar juntos. Estamos
todos aqui pela mesma razão. Estamos aqui para matar o Blood King.
Eu olhei de forma questionadora para Dimitri, mas ele não demonstrou
nada. —Qual o seu nome?— Eu perguntei.
—Ivan. Ivan Grigorovitch.
—Ivan, eu sou Rose, nós apreciamos a sua oferta de ajuda, mas esse é um
assunto nosso. Não há necessidade de você ficar por aqui.
Ivan parecia cético. —Vocês não pareciam que tinham tudo sob controle.
Parecia mais que estavam fazendo um piquenique.
Eu reprimi uma careta. —Nós estávamos nos preparando para entrar em
ação.
O rosto dele se iluminou. —Então, eu cheguei na hora certa.
Mark suspirou, claramente sem paciência com isso. —Garoto, isso não é
uma brincadeira. Você tem alguma ideia do que seja isso?— Ele puxou a estaca
de prata novamente, fazendo com que ela refletisse a luz. Ivan ficou
boquiaberto. —Eu acho que não. Deixe-me adivinhar. Você tem uma estaca de
madeira, certo?
Ivan corou. —Bem, sim, mas eu sou muito bom.
—Muito bom em tentar se matar, — Mark declarou. —Você não tem
habilidades ou armas para isso.
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—Ensinem-me,— Ivan disse ansiosamente. —Eu já disse que estou
disposto a ajudar. Eu sempre sonhei com isso – estar com famosos caçadores de
vampiros.
—Essa não é uma excursão de campo, — Dimitri falou. Como Mark, ele
não se dirigiu a mais Ivan com diversão. —Se você não deixar essa área agora,
nós mesmos iremos lhe expulsar.
Ivan saltou aos seus pés. —Eu posso ficar... Eu posso ficar... Como você
pode saber que não precisará da minha ajuda? Eu conheço tudo sobre
vampiros. Ninguém da minha aldeia leu tanto sobre isso como eu.
—Vá. — Dimitri e Mark falaram ao mesmo tempo.
Ivan se foi. Nós três observamos quando ele passou pelos obstáculos
rochosos, a fim de voltar para a estrada principal.
—Idiota, — murmurou Mark, colocando sua estaca de volta na cintura e
caminhando para o lugar onde estava sentado antes. Depois de alguns
momentos, eu e Dimitri o seguimos.
—Eu me sinto mal por ele, — comentei. —Ele parecia tão... Eu não sei,
entusiasmado. Mas eu também começo a ver por que Henry está pirando tanto.
Se todos os humanos especialistas em vampiros que vem até aqui são como ele,
eu entendo o porquê deles estarem sendo mortos.
—Exatamente, — Dimitri falou, com seu olha fixo na figura de Ivan que
se distanciava. Estava quase impossível de vê-lo agora, através do afloramento
rochoso. —Esperamos que ele volte para a sua aldeia e invente uma história
fantástica de como ele matou sozinho o Blood King.
—É verdade, — eu disse. —O fato é que nós vamos ter feito isso, fazendo
com que todos acreditem nele, quando perceberem que o vampiro não existe
mais.
Ainda assim, acomodada no nosso acampamento improvisado, não
conseguia esquecer o olhar vidrado de Ivan e nem como que tinha falado a
respeito de matar o Blood King. Como tantas pessoas podiam ter uma atitude tão
ingênua? Isso era frustrante. Eu cresci com a ideia de que a luta contra Strigoi
31
era um dever, uma responsabilidade. Não era algo para ser tratado como uma
brincadeira.
Eu e Mark finalmente retomamos nosso debate sobre cachorros quentes,
para grande diversão de Dimitri. Ele tendia a concordar com Mark, o que eu
achei chocante. Só me restava culpar a culinária de onde eles tinham sido
criados por tais pontos de vistas equivocados. Apesar da conversa fluir fácil, eu
podia sentir a tensão em todos nós, à medida em que o sol começava a se mover
para o horizonte. Voltamos a segurar nossas estacas de prata, e mesmo antes da
escuridão cair, nossos olhos analisavam constantemente os arredores. As
sombras cobriram as paredes de pedra em volta de nós, transformando-as em
algo misterioso e ameaçador.
Nós tínhamos trazido duas lanternas elétricas e elas ajudaram a diminuir
a escuridão. Sendo dhampir, nós não precisávamos tanto de luz como os seres
humanos, mas ainda precisávamos. As lanternas apenas serviram para ajudar
nossos olhos, sem cegar a nossa visão periférica, como seria com uma fogueira.
Logo, o céu estava completamente escuro e nós sabíamos que era a hora na qual
os Strigois podiam andar livremente. Ninguém duvidava que ele viria até nós.
A questão era se ele iria esperar a nossa guarda baixar ou se ele atacaria de
repente. Com o passar do tempo, a primeira opção era a mais provável.
—Você sente alguma coisa?— Perguntei a Mark. Aqueles que eram
shadow-kissed sentiam náuseas quando Strigois se aproximavam.
—Ainda não, — ele murmurou de volta.
—Deveríamos ter trazidos marshmallows,— eu brinquei. —É claro, neste
caso teríamos que ter feito uma fogueira, com certeza...
Um grito ensurdecedor rasgou a noite.
Com um pulo, fiquei em pé, estremecendo. O problema em se ter uma
audição superior era que qualquer ruído se tornava realmente alto. Meus
companheiros também se levantaram, com suas estacas prontas. Mark franziu o
cenho.
—Algum truque do Strigoi?
32
—Não, — eu disse, indo na direção que tinha vindo o grito. —Isso foi
Ivan.
Mark xingou em russo, algo que eu tinha acostumado ouvir Dimitri falar.
—Ele nunca foi embora.
Dimitri segurou meu braço, me detendo. —Rose, ele está em uma das
cavernas.
—Eu sei,— eu já tinha percebido isso. Eu me voltei para Dimitri. —Mas
que escolha nós temos? Não podemos deixá-lo lá.
—É exatamente isso que nós deveríamos evitar,— Dimitri falou
severamente.
—E provavelmente isso é uma armadilha preparada pelo Blood King,—
acrescentou Mark, na mesma hora em que outro grito soou. —E nos quer, mas é
inteligente demais para vir nos pegar.
Eu fiz uma careta, sabendo que Mark estava certo. —Mas isso também
significa que ele não vai matar Ivan imediatamente. Ele só vai mexer com ele,
para nos atrais até lá dentro. Há uma chance de podermos salvar Ivan.— Eu
joguei minhas mãos para o alto, quando ninguém respondeu. —Vamos! Como
vocês podem deixar um garoto inapto morrer?
Não, claro que eles não podiam. Dimitri suspirou. —Este é o lugar que
nós vimos nos mapas das cavernas. É a melhor posição para uma emboscada.
—Não seja tão meticuloso, Camarada,— eu falei, voltando a caminhar
em direção á caverna. —Nós podemos ir para a frente da entrada. Pelo menos
até onde Mark nos der o alerta.
Uma discussão começou, entre nós, para decidir quem lideraria e quem
ficaria atrás, levando a lanterna. Dimitri e Mark vieram com argumentos do
porque deles irem à minha frente. Mark alegou que era por ele ser mais velho e
sua vida mais dispensável, o que era ridículo. Já o raciocínio de Dimitri era de
que ele estaria seguro, graças a profecia de Yeva. Isso tinha sido ainda mais
ridículo, e eu sabia que ele só havia falado isso para me proteger. No entanto,
no final das contas, eu acabei vencida, tendo que ir atrás deles.
33
A mais profunda escuridão da noite nos envolvia a cada passo que nós
dávamos caverna adentro. A lanterna ajudava um pouco, mas apenas
iluminava uma curta distância à nossa frente, nos orientando para o
desconhecido. Nenhum de nós falou, mas eu tinha a sensação de que todos
pensavam a mesma coisa. Os gritos tinham parado. Isso podia significar que
Ivan estivesse morto. Era certo que o Blood King queria que nós entrássemos o
máximo possível nas cavernas.
O problema se apresentou quando chegamos a uma bifurcação do túnel.
Ela não só significava que tínhamos que escolher um caminho, como também
significava que o Blood King tinha uma chance potencial de nos encurralar.
—Por qual caminho?— Murmurou Dimitri.
Eu olhei para as duas opções. Um lado era mais estrito, mas isso não
dizia nada. As linhas fortes do rosto de Mark marcavam seus pensamentos, e
então ele indicou o túnel mais largo. —Este. Ainda é fraco, mas posso sentir que
ele está lá.
Nós três corremos para o lado que ele indicou, que foi crescendo mais e
mais até terminar em um amplo ambiente, com outros três túneis que o
alimentavam. Antes que qualquer um de nós tivesse a oportunidade de
perguntar por onde seguiríamos, algo forte bateu em mim, me derrubando. A
lanterna voou da minha mão, rolando pelo chão, parando milagrosamente
intacta.
O instinto me fez seguir a lanterna. Eu não tinha ideia de onde meu
inimigo tinha vindo, mas eu rolei pelo chão da caverna. Esta tinha sido uma boa
escolha, pois meio segundo depois, eu tive o primeiro vislumbre do Blood King.
As histórias eram verdadeiras. Ele era bastante velho. É claro, a aparência dos
Strigois não mudavam com o tempo, mas de relance, este cara parecia alguém
em torno dos quarenta anos. Como todos os Strigois, ele tinha a pele
assustadoramente branca e o olhar mortal. Se a iluminação fosse melhor, eu
tinha certeza que também poderia ver o anel vermelho em seus olhos. Ele tinha
um longo bigode e seus cabelos pretos desciam até os ombros, com algumas
mechas grisalhas, parecendo alguém que você via na época imperial da Rússia.
34
Mas foi mais do que um corte de cabelo antiquado que marcou a sua idade.
Havia algo naquele Strigoi que você podia sentir, como se uma maldade antiga
estivesse incrustada em seus ossos. Além disso, quanto mais velho também era
maior sua velocidade e força.
E cara, como esse sujeito era rápido. Ele se lançou para o lugar onde eu
tinha caído, batendo com uma força suficiente para quebrar o meu pescoço.
Vendo que eu tinha escapado, ele não perdeu tempo em me perseguir
novamente, mas eu fugi correndo. Eu era rápida, mas não tão rápida quanto ele,
então, ele consegui agarrar a manga da minha blusa. Antes que ele conseguisse
me puxar para ele, Dimitri e Mark partiram atrás dele, forçando o Blood King a
me soltar. Meus companheiros eram muito bons – estavam entre os melhores –
mas exigiu cada pedaço das suas habilidades para se manterem no mesmo
ritmo dele. Ele se esquivava a cada golpe, sem esforço, com a facilidade de um
dançarino.
Eu pulei, ficando em pé, pronta para ajudar, quando ouvi um gemido
vindo de um dos túneis. Ivan. Eu queria entrar na luta, mas Dimitri e Mark
estavam apenas bloqueando os ataques do Blood King, forçando o grupo a
passar para o outro lado me colocando à margem deles e do Strigoi. Sem uma
clara abertura para mim, eu tomei a decisão de resgatar um inocente, confiando
nas habilidades de Mark e Dimitri. No entanto, antes de entrar em uma das
ramificações do túnel, não pude deixar de lançar um olhar inquieto para
Dimitri. Mais uma vez lembrei-me que um tempo atrás, tinha sido em uma
caverna assim que ele tinha sido mordido e forçosamente transformado em um
Strigoi. O pânico começou a tomar conta de mim, juntamente com uma
necessidade quase irracional de me atirar na frente de Dimitri.
Não, eu disse para mim mesma. Dimitri e Mark podem lidar com isso. Eles
são dois contra apenas um Strigoi. Não é como daquela vez. Outro gemido de Ivan
me incentivou a entrar em ação. Até onde eu sabia, ele podia bem estar
sangrando até a morte em algum lugar. Quanto mais cedo eu o ajudasse, mais
chance ele teria de sobreviver. Sair atrás de Ivan, significava que eu teria que
abandonar a lanterna, já que Dimitri e Mark precisavam mais dela do que eu.
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Além disso, o túnel era bastante estreito, de uma forma que eu podia tocar
ambos os lados com as mãos, e isso me daria um bom senso de direção.
—Ivan?— Eu chamei, com um pouco de medo de tropeçar nele.
—Aqui, — a voz respondeu. Era surpreendente como estava perto de
mim. Eu diminui meu ritmo, tateando à minha frente, na esperança de senti-lo.
Momentos depois, eu toquei em um cabelo e uma testa.
—Ivan, você está bem?— perguntei. —Você pode ficar em pé?
—...Eu acho que sim...
Eu esperava que sim. Incapaz de ver ele, eu não tinha ideia se havia
sangue jorrando bem na minha frente. Eu encontrei a sua mão e o ajudei. Ele se
apoiou em mim, mas parecia ter o controle de suas pernas, o que eu considerei
como um bom sinal. Devagar, fizemos o caminho de volta, com estranhas
manobras pelo túnel estreito, para onde a luta se travava. Quando chegamos,
me desanimei em ver que o Blood King ainda estava vivo.
—Descanse aqui,— eu disse a Ivan, o encostando em uma parede. A
condição dele não era tão crítica como eu temia. Ele parecia como se estivesse
sido – literalmente – atacado diversas vezes pelo Blood Kind, mas nenhum de
seus cortes ou contusões pareciam graves. Eu esperava que ele se sentasse para
que eu pudesse me focar na luta, mas em vez disso, os olhos de Ivan se
arregalaram quando ele viu a batalha. Com uma energia que eu não acreditava
que pudesse ter, ele se jogou para frente, com a sua estaca de madeira ridícula,
apontando para as costas do Blood King.
—Não!— Eu gritei, correndo atrás dele.
Sua estaca não conseguiu perfurar a pele, é claro. Ele nem sequer
conseguiu ferir o Blood King. O que resultou, no entanto, foi que o Strigoi deu
um segundo de pausa na luta, arremessando Ivan para longe. Ele atravessou a
caverna, batendo com força contra uma parede. Foi o tempo de uma batida de
coração. Dimitri e Mark agiram com uma eficiência impecável, indescritível.
Dimitri serpenteou um chute nas pernas do Blood King, enquanto Mark
avançava, afundando a estaca no coração do velho Strigoi. O Blood
King congelou. Nós prendemos coletivamente a nossa respiração, enquanto o
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choque cruzava o seu rosto. Então a morte o levou e o seu corpo caiu para
frente.
Eu respirei fundo e imediatamente olhei para Dimitri, querendo verificar
se ele estava bem. Mas é claro que ele estava. Ele era o meu bravo deus da
batalha. Seria preciso mais do que um Strigoi super resistente – ainda por cima
com um nome melodramático – para derrubá-lo. Mark aparentava igualmente
bem. Do outro lado da caverna, Ivan parecia atordoado, mas ileso. Ele nos
observava com admiração e os seus olhos brilharam quando encontrou o meu
olhar. Ele levantou a sua estaca de madeira, com uma espécie de saudação
simulada e sorriu.
—De nada, — ele falou.
Descobrimos mais tarde que uma das razões por Ivan não ter deixado a
área quando mandamos – além do seu idiota senso de heroísmo – foi que ele
não sabia por onde voltar. Alguns de seus amigos tinham o deixado ali,
prometendo voltar dentro de dois dias para ver se ele estava vivo ou morto.
Nós não podíamos deixá-lo lá naquele estado tão surrado, então tivemos que
fazer uma viagem de duas horas para levá-lo para casa. O tempo todo, Ivan
ficou se gloriando de ter salvado a Dimitri e a Mark bem na hora certa e que
eles teriam morrido se não fosse por ele.
Lembrá-lo de que era pura sorte estar vivo agora, parecia inútil. Nós
deixamos que ele falasse e ficamos aliviados ao chegar à sua vila, um lugar que
fazia Baia parecer a cidade de Nova Yorque.
—Às vezes eu ouço relatos de outros vampiros, — ele disse, enquanto
descia do carro. —Se vocês quiserem, eu deixo vocês se juntarem a mim, da
próxima vez.
—Impressionante, — eu falei.
A única pessoa mais irritante que Ivan era Yeva. Depois de cinco
minutos com ela, eu já estava desejando estar novamente no carro com Ivan.
—Então, — disse ela, sentada na sua cadeira de balanço na casa dos
Belikovs, como se fosse um trono. —Parece que eu estava certa.
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Eu desabei no sofá, ao lado de Dimitri, sentindo meus ossos cansados e
desejando poder dormir por umas doze horas. Mark já tinha ido para casa de
Oksana. Mesmo assim, eu ainda tinha bastante coragem para argumentar de
volta.
—Não, exatamente,— repliquei, tentando manter um sorriso de
satisfação em meu rosto. —Você disse que Dimitri mataria oBlood King. E não
foi ele. Foi Mark.
—Eu disse que uma pessoa que tinha trilhado o caminho da morte o
faria,— ela disse. —Mark também passou pela morte e reviveu.
Eu abri a minha boca, começando a negar, mas ela tinha um ponto. —
Tudo bem, mas quando Victoria disse que Dimitri faria, você não negou.
—Eu não confirmei que seria.
Eu gemi. —Isso é ridículo! Essa previsão não significou nada. Inferno, ela
poderia ter sido aplicada a Ivan, já que ele quase morreu por causa do Blood
King.
—Minhas profecias mostram muitas coisas,— respondeu Yeva, que era
exatamente o mesmo que não responder nada. —A minha próxima é
particularmente interessante.
—Um-huh,— eu disse. —Deixe-me adivinhar. ‘Uma jornada’. Isso
poderia significar eu e Dimitri voltando para casa. Ou Olena indo ao
supermercado.
—Na verdade,— disse Yeva. —Eu vejo um casamento, no futuro.
Victoria que estava ouvindo a conversa com diversão, bateu palmas. —
Oh! Rose e Dimka!— Suas irmãs acenaram com excitação.
Eu olhei incrédula. —Como você pode dizer isso? Pode significar
qualquer coisa também. Alguém na cidade pode estar casando agora. Ou talvez
pode ser Karolina – vocês não disseram que ela tem um namorado sério? Se for
eu e Dimitri, será somente daqui há alguns anos, o que você certamente irá
afirmar que previu, já que falou que seria no futuro.
Ninguém mais me ouvia, no entanto. As mulheres Belikovs já
conversavam animadamente, fazendo planos, especulando se o casamento seria
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aqui ou nos Estados Unidos, e como seria bom ver Dimitri —finalmente
sossegado.
Eu gemi novamente, me inclinando contra ele. —Inacreditável
Dimitri sorriu e passou o braço em volta de mim. —Você não acredita em
destino, Roza?
—Claro, — eu disse. —Só não nas previsões vagas da sua avó maluca.
—Não soa maluco para mim, — ele brincou.
—Você é tão maluco quanto ela.
Ele beijou o topo da minha cabeça. —Eu tinha a sensação que você diria
isso.
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