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RESPONSABILIDADECOMPARTILHADA

Cada vez mais a sociedade civil échamada para atuar em prol da preservaçãoambiental, em função da crescente pressãopor parte de mineradoras, construtoras,prefeituras e governantes, que insistemnuma visão mercantilista, nada sustentável,visando em primeiro lugar o lucro imediato.Essa visão fragmentada gera a destruiçãoambiental. Como resultado, temos osacrifício do bem-estar e da qualidade devida de milhares de homens, mulheres ecrianças, e de nossas futuras gerações.

Cada vez mais as pessoas se encon-tram descrentes, ao se aproximarem dasurnas, com a escolha de nossos represen-tantes. Mas, mais do que nunca, precisamos

ter consciência da urgência de uma mudançade paradigmas, para escolher pessoas quetenham uma visão mais holística, comconsciência de que nenhum crescimentoeconômico se sustentará se não houver umaampliação dessa visão limitada e egoísta.Nossos recursos são escassos, e já não cabemais pensar somente no enriquecimento deuma minoria, visão que tem gerado cada vezmais pobreza.

Vamos checar com atenção redo-brada nossas ações e escolhas, para que pos-samos mudar o rumo de nossa história, paraque ela não tenha um triste fim, pelo descasoe cegueira daqueles que deveriam governarcom responsabilidade e pelo bem comum.

Evelyn A. Zajdenwerg

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Nova Lima/MG, setembro de 2010 Ano 2 No 10

Folha da

Editorial

Na representação do artistaMário Vale, sentimos que um

grande pássaro abraça as serrase cria uma sombra fresca e

protetora. Não há dúvida de queum "Pássaro" sobrevoa a Serra

da Calçada, é Ele, este SerSuperior, criador da consciênciacoletiva, que a mantém bela e

resguardada.

Simone BottrelPresidente da

ARCA AMASERRA

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NOSSA HISTÓRIA PASSA POR AQUI

A paisagem singular que cerca as ruínas do "Forte deBrumadinho" deixa ainda mais misteriosa a história dessasmajestosas paredes de pedra. Consta ter sido parte de umcomplexo montado nas primeiras décadas do século XVIII paramineração do ouro ilegal, que não pagava o quinto, desco-nhecido da administração portuguesa por muitos anos -apesar de sempre suspeitado.

É possível verificar que existe na região um conjuntomontado para esse fim: galerias escavadas na rocha,mundéus, extensas canalizações de água, muros de arrimo,além de vestígios de um vasto complexo minerário atestandoatividade bastante produtiva.

Essa organização conseguiu escapar do controle daCoroa Portuguesa por muitos anos e produziu uma arquiteturade tipologia original em Minas Gerais, o "Forte deBrumadinho", que apresenta características militares,provavelmente pela finalidade de vigilância que a atividade eo local exigiam. Possui uma única entrada para uma área de60 X 40 metros, cercada por altos muros de pedra. Dentro,uma edificação principal, também em pedra, e restos de outrasconstruções menores, todas merecedoras de estudos maisapurados. Chama a atenção o trabalho cuidadoso de cantaria,que demonstra elevado grau de conhecimento técnico dosexecutores.

Esse fantástico monumento e seu contexto é, possivel-mente, a única memória física que temos para demonstrar astécnicas de extração do ouro em Minas Gerais no século XVIII- o século que produziu todo nosso legado artístico,

arquitetônico e urbano. É interessante observar que, na suaformação, o Brasil passou por alguns importantes cicloseconômicos como o da cana de açúcar, do café e do ouro.Dos dois primeiros temos a memória técnica preservada, nosantigos engenhos do nordeste e nas ricas fazendas de café doséculo XIX no sudeste. Mas no caso do ciclo do ouro, quedeixou valiosa herança construída nas nossas cidades histó-ricas, não é possível sentir e ver no próprio local a memóriatécnica da produção do ouro.

Por sua originalidade e significado o "Forte deBrumadinho" e seu entorno já deveria estar incluído no roldos bens tombados não só em nível estadual como tambémfederal. É um dever do Estado para com a sociedade.

Livia Romanelli d'AssumpçãoArquiteta e Urbanista

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EXPEDIENTE:

Diretoria Executiva: Simone A. Borja Bottrel, Jeanine Barillon, Evelyn A. Zajdenwerg, Angeles BalbuenaConselho Editorial: Lívia Romanelli d’Assumpção, Pablo Burkowski MeyerJornalista Responsável: Luciana Tanure Blanton NR: 9035/MGDiagramação: Míriam Gomes Tel: (0XX31) 9208-6539Contato: [email protected] Tel: 55 (0XX31) 3542-6029 ou 8835-3845 BBlloogg: www.arcaamaserra.blogspot.comImpressão: Gráfica Formato, Tiragem: 3 mil

Foto: Heloisa A. Oliveira

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FLORA E FAUNAAlcaçuz-da-terra e Jataí

Popularmente é muitocomum associarem as

abelhas a insetosextremamente agres-sivos, com perigososferrões, sendo fre-quentemente aconse-

lhado manter distânciadas colmeias. É fato que

algumas espécies podemcausar sérios danos à saúde, no

caso de um ataque. No entanto, aexistência de abelhas "sem ferrão", conhecidas também pormeliponíneos, é raramente conhecida.

Na Serra da Calçada podem ser encontradas popu-lações de uma espécie denominada Paratrigona lineata(Lepeletier, 1836), popularmente conhecida por Jataí-da-Terra,ou simplesmente Jataí. Esta abelha tem ampla distribuição,sendo encontrada em vários estados brasileiros. Ela constróininhos subterrâneos com até 3 m de profundidade e seu melé mais liquido e claro que o mel comum comercializado. Paraa produção durante as estações, é necessário que a abelhaJataí visite várias espécies de plantas para recolhimento dosgrãos de pólen e neste processo ela termina por polinizar,tendo papel fundamental na reprodução das mesmas. Ouseja, para que esta abelha se perpetue em um local énecessário que neste ocorram uma variedade específica deespécies de plantas com floradas em períodos diferentes paraque a abelha possa visitar flores durante todo o ano.

Uma das plantas que necessitam exclusivamente deinsetos para a reprodução é a Periandra mediterranea, umaleguminosa popularmente conhecida por vários nomes, den-tre outros alcaçuz-da-terra, alcaçuz-do-Brasil, alcaçuz-do-cerrado,cipó-ema, vassoura-de-relógio, raiz doce e uruçakêe. Esta

espécie é facilmente encontrada nos campos rupestres daSerra da Calçada, pois geralmente se desenvolve sobre ter-renos pedregosos e campos de altitude, sendo representadapor arbustos pequenos, eretos, podendo atingir até de 2 metrosde altura. O caule é esbranquiçado e os ramos apresentam fo-lhas escuras, relativamente grossas, com viscosidade na faceinferior. As flores são lilases, com um tom azulado de intensi-dade variada, e o fruto é considerado uma vagem, podendomedir até 14 centímetros. Apresenta raiz com casca preta,com interior amarelado e agridoce. Da planta são produzidosedulcorantes em preparados farmacêuticos e de confeitaria. Aspropriedades desta planta são amplamente utilizadas na medicinapopular, sendo considerada expectorante, laxante, diurética,resolutiva, béquica, calmante contra afecções brônquicas epulmonares. Além disso, a raiz é muito apreciada para mascar,por aqueles que pretendem abandonar o cigarro.

Apesar das flores de alcaçuz-da-terra serem tambémvisitadas por beija-flores, sabe-se que estes não são capazesde contribuir para a polinização e consequente reproduçãodesta espécie de planta, pois somente a frequência de vibraçãodas asas da abelha é capaz de proporcionar a saída de pólendas anteras da flor. Este é somente umpequeno exemplo do quanto asrelações ecológicas são com-plexas, o que suscita cuidadose estudos aprofundadospara que possamos real-mente compreender e criarpropostas efetivas depreservação da biodiversi-dade, já que várias espéciesexistem condicionalmente àexistência de outras e aextinção de uma pode implicar naextinção de várias.

Pablo Burkowski MeyerFotos: flor - Pablo Burkowski Meyer e abelha - Luis A. Florit (http://luis.impa.br/foto)

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Projeto “Viva o Verde”A ARCA AMASERRA coordena um projeto-piloto de

revegetação do Jardim Canadá na maior creche de MinasGerais. O projeto VIVA O VERDE, nome escolhido pelas 500crianças atendidas, ensina e incentiva a plantar e cuidar domeio ambiente. Ele conta com a parceria de voluntários daempresa Microcity, da Prefeitura de Nova Lima e doSubcomitê de Bacia Hidrográfica de Macacos, e visa man-ter a permeabilidade do solo, contribuindo para conter asinundações no Ribeirão Macacos e no Rio das Velhas, além degerar alimento para o consumo na creche. As crianças fizeramdesenhos mostrando que desejam muito verde no local eganharam livros: o "Serra da Calçada, Monumento Natural deMinas Gerais", que será usado na fase de educação ambientaldo projeto.

Simone Bottrel

Buscamos parceiros para ampliar este projeto para todo o Jardim Canadá e Vale do Sol,bairros que guardam os principais aquíferos e rios

que abastem a metrópole mineiraParte do desenho de Gabriel P. da Silva, crianças na horta da creche e equipe de voluntários

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A GRANDE TRILHA DA SERRA DA MOEDA

A espetacular formação montanhosa que, de forma geral,denominamos Serra da Moeda, estende-se continuamente ao longo depelo menos 50 km, desde a região do Jardim Canadá - aonde ela searticula em forma de um "Y" com a Serra do Curral e a Serra do Rola-Moça - até o município de Congonhas. Seguindo na direção sul pelaBR-040, ou mesmo em casa, utilizando o programa Google Earth, éfácil observar essa formação.

Ao passear pela Serra penso como a desestruturação doSistema Nacional de Meio Ambiente, o atraso e os equívocos da PolíticaNacional de Meio Ambiente e a quase ausência de uma cultura de parquesno país vêm nos prejudicando. Patrimônio ambiental e cultural, a Serratem todas as condições para ser preservada, receber uma estrutura deproteção e visitação, e se transformar em um atrativo ecoturístico depeso. O carro-chefe desse projeto? Muito provavelmente, as trilhas quese desenvolvem ao longo de sua linha de cumeada.

Não teremos no Brasil, tão cedo, um Sistema Nacional deTrilhas, devidamente sinalizadas, com manutenção, serviços e equipa-mentos de apoio. Esse Sistema auxiliaria na preservação e divulgação denossas belezas naturais, e ainda seria uma chance de renda para muitascomunidades carentes.

Por outro lado, precisamos começar de alguma forma. Eporque não pela Serra da Moeda, com suas notáveis cristas? Pensandobem, as trilhas da Serra, ainda que sem qualquer estrutura, já são umarealidade para milhares de pessoas de Belo Horizonte e região, que asvisitam todos os meses. Existe a proposta de criação da Grande Trilhado Espinhaço, ligando Ouro Preto ao Caraça, depois à Serra do Cipó echegando a Diamantina. Mas a Grande Trilha da Serra da Moeda pedepassagem.

Termino com um aforismo, muito citado no Serviço Nacional deParques norte-americano: "Por meio da interpretação, o entendimento;por meio do entendimento, a apreciação; e por meio da apreciação, aproteção".

Paulo André Barros MendesGraduado em Comunicação Social (UFMG) e Mestre em Geografia (UnB)

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PRECISAMOS DE VOCÊ

A ARCA AMASERRA tem trabalhado pelaconservação de um patrimônio que pertence àhumanidade. Todos precisam sentir-se responsáveispelo sucesso desse objetivo, que é a preservaçãointegral e permanente da Serra da Calçada. Assim,estaremos protegendo não só a fauna e a flora,mas também um pedaço de nossa história, umlugar bonito de lazer, além de um bem impres-cindível, que é a nossa água. Quem vive sem ela?

COMO AJUDAR

ADOÇÃO DO LIVRO "Serra da Calçada:Patrimônio Cultural e Natural de

Minas Gerais"

Este ano a ARCA AMASERRA lançou olivro "Serra da Calçada: Patrimônio Cultural eNatural de Minas Gerais", escrito com base nodossiê que levou ao tombamento provisório daárea. Com belas ilustrações e fotos da região, olivro possui material riquíssimo e pode ser adotadonas escolas, nos níveis fundamental, médio ou emcursos superiores. Agora é o momento das esco-lhas do material didático que será usado em 2011e pedimos às pessoas que possuem acesso às insti-tuições de educação que nos ajudem nessa tarefa.Você também pode contribuir adquirindo o livro.

VOLUNTÁRIOS

Pessoas que desejam trabalhar nas diversasáreas do conhecimento podem entrar em contatopara agendar com os gerentes das seguintesáreas: Comunicação e Marketing, Eventos,Projetos e Relações Institucionais.

BANCO DE PROJETOS

Conheça nosso banco de projetos noendereço: www.arcaamaserra.blogspot.com ou entreem contato: e-mail: [email protected].

DOAÇÕES

Precisamos de doações mensais paramanutenção de nossas atividades. Os depósitospodem ser feitos no Banco do Brasil. Aqui vão osdados: Favorecido: Associação para aRecuperação e Conservação Ambiental (ARCAAMASERRA); Agência: 3387-1; Conta corrente:20653-9.

CONTATO

E-mail: [email protected].: 31-3542-6029

A CONSTRUÇÃO DOS CORREDORESECOLÓGICOS AVANÇA NO VETOR SUL

Participamos, no dia 21 de setembro, do evento de assinaturados decretos de criação das unidades de conservação no Vetor Sul daRMBH. Foram contemplados os Monumentos Naturais da Serra daMoeda e da Serra do Gambá.

Parabenizamos o Governo de Minas Gerais e o MinistérioPúblico pelo ato, que avançou com a implementação dos corredoresecológicos, mas esperamos que estes órgãos entendam a urgência emtornar Monumento também a Serra da Calçada, na região limítrofe dosmunicípios de Nova Lima e Brumadinho, para que a área fique defini-tiva e integralmente preservada. Ela formará o corredor ecológico queliga a Estação Ecológica de Fechos ao Parque Estadual da Serra do Rola-Moça. Esta ação é de extrema importância, para que se perpetuemespécies endêmicas como as do campos rupestres, seriamenteameaçadas de extinção.

ARCA AMASERRA

Este ano, um bbaannnneerr foi assinado por 56 deputados estaduais, apoiando a criação de uma unidade de

conservação na Serra da Calçada.

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