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FICHA PARA CATÁLOGOPRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Título: Computador: Instrumento Alternativo na Aprendizagem da Leitura e da Escrita dos Alunos da Sala de Recursos
Autora Maria de Lourdes Carvalho Heinzen
Escola de Atuação Escola Estadual “Anastácio Cerezine” – Ensino Fundamental
Município da escola Alvorada do Sul
Núcleo Regional de Educação Londrina
Orientadora Luciane Guimarães Batistella Bianchini
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina
Disciplina/Área Educação Especial
Produção Didático-pedagógica Caderno Temático
Relação Interdisciplinar -
Público Alvo Alunos da sala de recursos das séries finais do Ensino Fundamental
Localização Escola Estadual “Anastácio Cerezine” – Ensino Fundamental
Rua Natal Bufalo de Moraes, 513 – Alvorada do Sul (PR)
Apresentação:
O capítulo terceiro do Caderno Temático intitulado: Computador: Instrumento Alternativo na Aprendizagem da Leitura e da Escrita dos Alunos da Sala de Recursos, tem como objetivo destacar, com base em fundamentos sócio-históricos, a intervenção pelo uso de instrumentos mediadores externos (o computador) enquanto elemento essencial para o desenvolvimento humano, sobretudo no que se refere à construção do pensamento e da linguagem. Tal intervenção apresenta caminhos alternativos no campo da defectologia com relação às dificuldades de leitura e escrita dos alunos da sala de recursos e enfatiza o papel das interações sociais num contexto dialógico, no qual todos os envolvidos são agentes participativos, produtores de sua história e transformadores da realidade.
Palavras-chave: Sala de Recursos; Computador; Leitura e Escrita; Caminhos Alternativos
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3 COMPUTADOR: INSTRUMENTO ALTERNATIVO NA APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA DOS ALUNOS DA SALA DE RECURSOS
Maria de Lourdes Carvalho Heinzen
Com base em estudos realizados, fica-nos evidente que, a partir da
perspectiva sócio-histórica de Vygotsky, é possível um novo entendimento sobre o
processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Tais fundamentos fazem pensar
para além dos aspectos biológicos, levando-nos a compreender que a superação
das dificuldades apresentadas pelo deficiente intelectual depende do modo como
interagimos com ele e dos elementos mediadores que construímos na cultura para
intervir neste processo.
Para o autor, vivemos num mundo organizado para interagir com o
desenvolvimento típico e, sendo assim, os objetos da cultura, construídos pelo
homem, ao serem utilizados na efetivação de uma dada atividade, nem sempre
atendem a todos os envolvidos, sobretudo na escola, gerando, portanto, mais
dificuldades.
Vygotsky, por meio de suas pesquisas, destacou os elementos
mediadores para o processo de apropriação da leitura e da escrita. Atualmente,
sendo o computador um dos objetos em destaque pelo seu valor significativo de
interação, nós o apresentaremos como um instrumento alternativo na mediação do
professor no desenvolvimento da leitura e da escrita com os alunos da sala de
recursos.
3.1 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
Apesar de ter vivido num contexto distinto de hoje, Lev S. Vygotsky
trouxe grandes contribuições para a área educacional. Sua concepção teórica
destaca o ser humano em seus aspectos biológico, social, histórico e cultural, numa
abordagem integral. Explica o homem como resultado da conjugação de corpo e
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pensamento, biológico e social, humano e participante de um processo histórico. Em
seus estudos, o desenvolvimento humano e o aprendizado tiveram destaques
centrais, evidenciando suas relações (OLIVEIRA, 2001).
O desenvolvimento e o aprendizado, segundo Vygotsky (apud COLE
et al., 2007), são processos distintos, mas interagem mutuamente. Ele considera
que o aprendizado inclui interação social, destacando a relevância dos aspectos
socioculturais. Desenvolveu a tese de que o aprendizado propicia o desenvolvimento
e que: “é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das
funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”
(p.103).
Concordando com esta ideia, Oliveira (2001) lembra que, para
Vygostsky, o fato de aprender é que vai definir por qual via o desenvolvimento vai se
dar e, sendo assim: “a escola tem um papel essencial na construção do ser
psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas”
(OLIVEIRA, 2001, p. 61).
Neste contexto, convém ressaltar como se dá o desenvolvimento
cultural apontado por Vygotsky quando afirma que:
É a sociedade e não a natureza que deve figurar em primeiro lugar como fator determinante do comportamento do homem. Nisso consiste toda a idéia de desenvolvimento cultural. [...] Ao falar do desenvolvimento cultural da criança, nos referimos ao processo que corresponde ao desenvolvimento psíquico que se produz entrelaçado ao desenvolvimento histórico da humanidade (VYGOTSKY, 1995, apud SMOLKA; NOGUEIRA, 2002, p. 80).
Vygotsky (apud OLIVEIRA, 2001) considera a relação do homem
com o mundo fundamentalmente mediada, e diferencia dois tipos de mediadores: o
uso de instrumentos (do plano externo ao homem, colaborando nas ações
concretas) e de signos (orientados para o próprio indivíduo, auxiliando nos
processos psicológicos superiores).
Segundo o autor, o uso de instrumentos e de signos (como a
linguagem) possibilita ao ser humano passar de um ser biológico, que utiliza em
suas interações apenas processos psicológicos elementares – sensações,
percepções imediatas, memória direta, etc. –, para um ser cultural que utiliza
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processos psicológicos superiores – atenção, percepção, memória indireta,
imaginação, etc. (OLIVEIRA, 2001).
Postula Vygotsky que, quando o homem se apropria dos signos,
abre-se a possibilidade de pensar por meio do simbólico, devido ao desenvolvimento
dos processos psicológicos superiores, que formarão o pensamento. Ele ainda
explica que, no processo de construção do pensamento, o uso de marcas externas
pressupõe o processo de internalização e a utilização de sistemas simbólicos, que
organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. Ao longo do processo
de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externas e passa a
utilizar signos internos, isto é, representações mentais que substituem os objetos do
mundo real (OLIVEIRA, 2001).
Continuando esta reflexão, cabe relembrar que:
Instrumentos e símbolos constituem os dois meios de produção da cultura. [...] esses dois meios, de natureza tão diferente, têm em comum o fato, já apontado por Vigotski, de serem mediadores da ação humana – sobre a natureza, no caso do instrumento, e sobre as pessoas, no caso do símbolo –; [...] ambos são já produtos dessa mesma ação humana. Ora, o que define o produto da ação humana é que ele é a concretização da idéia que dirige a ação. [...] todas as produções humanas, ou seja, aquelas que reúnem as características que lhes conferem o sentido do humano, são produções culturais e se caracterizam por serem constituídas por dois componentes: um material e outro simbólico, um dado pela natureza e outro agregado
pelo homem (PINO, 2005, p. 90‐91, grifo do autor). No entanto, cabe destacar que é na relação com o outro, nas
práticas sociais que “[...] o homem produz instrumentos auxiliares – técnicos e
simbólicos – que constituem sua atividade prática, mental, possibilitando a ele
transformar o mundo enquanto ele próprio se constrói simbólica, histórica e
subjetivamente” (SMOLKA; NOGUEIRA, 2002, p. 82).
Oliveira (2001) lembra que, a partir da teoria de Vygotsky, passou-se
a entender que: “[...] o homem biológico transforma-se em social por meio de um
processo de internalização de atividades, comportamentos e signos culturalmente
desenvolvidos” (p. 102).
Salientando esta ideia, Mello (2004) expressa que:
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[...] as funções psíquicas humanas, como a linguagem oral, o pensamento, a memória, o controle da própria conduta, a linguagem escrita, o cálculo, antes de se tornarem internas ao indivíduo, precisam ser vivenciadas nas relações entre as pessoas: não se desenvolvem espontaneamente, não existem no indivíduo como uma potencialidade, mas são experimentadas inicialmente sob a forma de atividade interpsíquica (entre pessoas) antes de assumirem a forma de atividade intrapsíquica (dentro da pessoa) (p. 141).
Com base no pressuposto de mediação e de como esta pode ser
efetivada para o desenvolvimento humano, Vygotsky formula o conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal para explicar como ocorre a influência entre o processo
de aprendizado e de desenvolvimento.
Teoriza o autor que existem dois níveis de desenvolvimento: o real e
o potencial. O nível real se refere àquilo que é feito com autonomia, ou seja, às
conquistas consolidadas, indicando os processos mentais que já se estabeleceram,
e o nível potencial corresponde àquilo que se é capaz de fazer mediante a
intervenção de outra pessoa. Entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento
potencial, existe a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que define aquelas
funções que estão em processo de maturação, as quais devem ser estimuladas por
meio da mediação (OLIVEIRA, 2001).
Desta forma, Vygotsky destaca a Zona de Desenvolvimento
Proximal como:
[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, apud COLE et al., 2007, p. 97).
A Zona de Desenvolvimento Proximal deve ser considerada durante
o processo educativo, uma vez que, mesmo com intermediação, o estudante, por
não estar preparado para certas tarefas, pode errar ao lhe serem propostas
atividades com conceitos e exigências abstratas demais.
No campo da defectologia1, Vygotsky (1997) aponta para o fato de
que as leis gerais do desenvolvimento são iguais para todas as crianças, embora 1 De acordo com Vygotsky (1997), defectologia consiste em estudos de pessoas com deficiência ou transtornos de desenvolvimento.
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não desconsidere os prejuízos orgânicos de alguns indivíduos ao nascerem. No
entanto, destaca que a maioria dos casos de deficiência necessita de uma educação
adequada, na qual o mais importante para o desenvolvimento dessa pessoa é a
mediação dos fatores sociais e psicológicos, obtendo maior grau de sucesso quando
se interage diretamente na Zona de Desenvolvimento Proximal.
Neste contexto, refletir sobre a mediação relacionada à intervenção
promovida no espaço educacional é de extrema importância, uma vez que a escola
é um dos espaços onde o indivíduo constrói conhecimento e se desenvolve
(OLIVEIRA, 2001).
No caso de indivíduos com necessidades educacionais especiais
haverá maior exigência da participação do outro (da escola) ou de instrumentos
culturais, como mecanismos que possibilitem a aprendizagem e a superação da
dificuldade. Caso contrário, o autor aponta que a deficiência se tornará mais
relevante ainda (VYGOTSKY, 1997).
Góes (2002) reforça tal afirmação ao lembrar que, na condição de
deficiência, as formas culturais precisam ser criadas de modo singular, já que, de
acordo com Vygotsky, elas poderão mobilizar forças compensatórias e, nesta
exploração, caminhos alternativos para o desenvolvimento serão construídos.
Vygotsky chama de ações compensatórias aquelas que utilizam
instrumentos alternativos ou especiais para a mediação na aprendizagem do aluno
com deficiência, e estas devem ser efetivas, auxiliando os alunos em seu
desenvolvimento intelectual. Sob esta perspectiva, convém lembrar as palavras de
Góes (2002) quando afirma que “[...] caminhos alternativos e recursos especiais não
são peças conceituais secundárias na compreensão desse desenvolvimento” (p.
105-106).
É dessa forma que a autora destaca a concepção ampla dos
caminhos alternativos, enquanto recursos especiais e auxiliares, como procedimento
para promoção da interação social e do desenvolvimento potencial (GÓES, 2002).
Colaborando com esta ideia, pesquisas (BASSO, 2000; PINTO,
2010) apontam o computador como um dos instrumentos alternativos de mediação
da cultura, com excelente funcionalidade e inúmeras possibilidades nas ações
pedagógicas promotoras de aprendizagem, como veremos a seguir.
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3.2 O COMPUTADOR COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO
ALTERNATIVA
Nos dias atuais o computador vem tomando um lugar de destaque e
de uso significativo a todos os sujeitos. Além de sua funcionalidade e praticidade, o
computador é considerado por Valente (1997) um instrumento cultural que poderá
promover mudanças no desenvolvimento humano. Primeiro porque aquele que o
utiliza é visto como alguém que se sente participante de um grupo social e, segundo,
porque o seu uso facilita algumas ações, na medida em que pode realizar variações
de atividades para a aprendizagem.
Para Galvão Filho e Damasceno (2006), o computador é um dos
recursos tecnológicos disponíveis em alguns ambientes escolares, considerado
como Tecnologia Assistiva2, e que pode ser utilizado no processo de ensino e
aprendizagem por intermédio de programas específicos para alunos com
necessidades especiais. Os autores assim a caracterizam:
São consideradas Tecnologias Assistivas, portanto, desde artefatos simples, como uma colher adaptada ou um lápis com uma empunhadura mais grossa para facilitar a preensão, até sofisticados programas especiais de computador que visam à acessibilidade (GALVÃO FILHO; DAMASCENO, 2006, p. 26).
Góes (2002) esclarece que, no movimento da inclusão social, a
Tecnologia Assistiva vem facilitar a participação, enriquecer a comunicação e a
aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais, mediante as
várias possibilidades que oferece.
No entanto Valente (1993) considera que o uso do computador não
deve ser considerado uma máquina de ensinar, e sim uma “[...] ferramenta
educacional, uma ferramenta de complementação, de aperfeiçoamento e de
possível mudança na qualidade de ensino” (p. 5).
Nesta perspectiva, o computador é um dos instrumentos de
acessibilidade às pessoas com necessidades educacionais especiais nas diversas
áreas, por oferecer recursos físicos e tecnológicos, possibilitando-lhes a participação
2 “[...] uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (BRASIL, 2007, p. 28).
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em diferentes atividades escolares e sociais (GALVÃO FILHO; DAMASCENO,
2006).
Este instrumento possui inúmeros recursos de comunicação,
trabalho e entretenimento, que propõem ampla possibilidade em nível pedagógico,
os quais permitem compartilhar, interagir, construir conhecimentos de forma
prazerosa, dinâmica e inovadora, tornando-se excelente meio para aprimorar a
prática escolar e inovar o processo de ensino e aprendizagem em busca da
qualidade na educação. Sancho (2006) destaca que:
Os cenários de socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. O computador, assim como o cinema, a televisão e os videogames atraem de forma especial a atenção dos mais jovens que desenvolvem uma grande habilidade para captar suas mensagens (p. 19).
Por essa razão, Góes acredita que “projeções otimistas como essa,
apontam para o direito à igualdade, o respeito à diferença e a recusa da deficiência
como critério de caracterização social da pessoa” (GÓES, 2002, p. 106).
Baseados nestes conceitos, o computador pode ser apontado como
um instrumento do plano externo ao homem, facilitador da aprendizagem, que
oferece oportunidades inovadoras de promoção do desenvolvimento pessoal e
social. Diversos estudos no campo educacional e experiências já comprovadas
apontam para a relevância do uso do computador na promoção da aprendizagem.
Basso (2000) caracteriza o computador como um instrumento
mediador, que contribui para que o professor atue nesta mediação de forma
favorável ao desenvolvimento e aprimoramento das habilidades que envolvem a
observação, o pensamento, a comunicação, a criatividade. Concomitantemente,
promove a possibilidade de o aluno atuar e construir seu próprio conhecimento, refletindo,
analisando, revendo conceitos e refazendo, se for o caso, o que lhe está sendo proposto.
Esta dinâmica favorece a aprendizagem na perspectiva de Vygotsky,
por priorizar a importância do meio sócio-histórico-cultural na construção do
conhecimento, por meio da mediação, que neste caso, envolve aluno/computador,
aluno/professor e aluno/conhecimento. A sala de aula se transforma em ambiente
estimulante, criativo, favorável à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos
(BASSO, 2000).
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Acentuando esta proposição, Pinto (2010) ressalta, em sua
pesquisa, que alunos que tiveram acesso ao computador na exploração de
determinado conteúdo demonstraram persistência e qualidade de envolvimento na
atividade, revelando interesse e motivação intrínseca na realização, o que contribuiu
positivamente para a aprendizagem.
A utilização apropriada do computador na área educacional favorece
a diversificação de metodologias e estratégias pedagógicas, contribuindo para que
as aulas se tornem mais criativas, motivadoras e, consequentemente, para a
promoção da aprendizagem (NASCIMENTO, 2007).
Valente (2001, p. 29) acrescenta que: “[...] o computador pode ser
um recurso flexível, passível de ser adaptado às diferentes necessidades de cada
indivíduo” e ainda enfatiza que o computador: “[...] permite o desenvolvimento de
produtos que têm uma assinatura intelectual, porque são feitos com o conhecimento
de que o aprendiz dispõe, com seu estilo e criatividade” (p. 31).
Desta forma, o computador passa a ser mais um recurso alternativo
no processo de ensino e aprendizagem, inclusive dos alunos com necessidades
educacionais especiais, por intermédio de intervenções específicas e adequadas
para a construção do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades, de modo
a estimular a percepção, a atenção, a memória, a reflexão, a elevação da
autoestima, o trabalho colaborativo; aguçar a criatividade, o pensamento crítico; e
promover a autonomia.
3.3 O PROFESSOR E O DOMÍNIO NAS PRÁTICAS COM O
COMPUTADOR
É interessante relembrar que o processo de aprendizagem envolve
um processo compartilhado entre aquele que aprende e os mediadores, articulado a
aspectos sociais. Estes devem ocorrer de forma participativa e colaborativa, por
meio de atividades significativas, em que os alunos atuem ativamente para garantir a
apropriação do conhecimento (MELLO, 2004).
Nesta linha de pensamento, Mello (2004, p. 146) destaca que não se
pode deixar passar despercebido o que a teoria histórico-cultural denomina de
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períodos sensitivos e destacar que “[...] cada idade se distingue por uma
sensibilidade seletiva frente a diferentes tipos de ensino ou de influência de adultos”.
A autora reforça tal afirmação ao expor que, quando há um
envolvimento intenso nas situações propostas, estas garantem maior aprendizado,
porque os sujeitos “[...] não atuam mecanicamente, mas atuam com o corpo e o
intelecto [...]” (MELLO, 2004, p. 147). E ainda ressalta o conceito de atividade
apontado por Leontiev, um pesquisador que atuou com Vygotsky, como sendo tudo
o que traz sentido para quem a realiza (MELLO, 2004).
É neste sentido que o uso do computador pode transformar o ato de
ler e escrever em atividades significativas se observados e explorados temas de
interesse do aluno, para que atuem de forma apropriada a atender às necessidades
específicas e a superação das dificuldades encontradas.
Para atender a esta expectativa, o uso adequado do computador em
sala de aula precisa envolver um processo constante de formação do professor
numa perspectiva crítica e reflexiva, na qual se estabeleçam reflexões na ação e
sobre a ação, para que, em suas aplicações, possam criar novas possibilidades em
torno do que se propõe e espera alcançar (ALMEIDA, apud BRASIL, 2000).
Cabe destacar que o domínio deste recurso tecnológico e
pedagógico é responsável pela “[...] criação de ambientes de aprendizagem que
propiciem ao aluno a representação de elementos do mundo, em contínuo diálogo
com a realidade, e apóiem suas construções e o desenvolvimento de suas
estruturas mentais” (ALMEIDA, apud BRASIL, 2000, p. 40).
O professor bem preparado é componente fundamental para que a
tecnologia computacional possa promover “[...] a aquisição do conhecimento, o
desenvolvimento de diferentes modos de representação e de compreensão do
pensamento” (ALMEIDA apud BRASIL, 2000, p. 12).
Complementando esta proposição, Valente (1993) alerta que a
utilização do computador nas práticas educativas não deve estar relacionada apenas
ao modismo ou, ainda, à substituição do livro didático, mas sim a uma ferramenta
educacional que possa contemplar a participação ativa dos alunos, suas
necessidades educacionais e os diferentes conteúdos curriculares que venham
beneficiar a promoção da aprendizagem, o desenvolvimento intelectual e o
aprimoramento de habilidades específicas, contribuindo para o enfrentamento de
novos desafios.
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De acordo com Rosseto (2010), a professora Rosane Aragon de
Nevado intensifica essa perspectiva ao relacionar a contribuição da tecnologia para
a educação, vinculando-a a uma proposta pedagógica consistente e a uma
mediação competente, conforme defendida por Vygotsky (1997). Ela ainda ressalta
que: “O professor precisa conhecer as possibilidades das tecnologias para poder
conceber novas estratégias pedagógicas, que antes não se viabilizavam devido às
limitações das ferramentas disponíveis (quadro, giz, cadernos, retroprojetor)”
(ROSSETO, 2010, p. 3).
Vitaliano (2010) também remete a uma reflexão sobre a importância
da formação de professores voltada para a utilização das tecnologias
computacionais. Tais ferramentas atuam, inclusive, de forma favorável ao processo
de aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais.
Mediante estas afirmações, cabe destacar a seguinte proposição a
respeito da importância e do papel que se espera que o professor desempenhe:
[...] o educador é aquele orientado prospectivamente, atento à criança, às suas dificuldades e, sobretudo, às suas potencialidades, que se configuram na relação entre a plasticidade humana e as ações do grupo social. É aquele que é capaz de analisar e explorar recursos especiais e de promover caminhos alternativos; que considera o educando como participante de outros espaços do cotidiano, além do escolar; que lhe apresenta desafios na direção de novos objetivos; que o considera integralmente, sem se centrar no ‘não’ (grifo da autora), na deficiência (GÓES, 2002, p. 107).
Em sua experiência com alunos que apresentam necessidades
educacionais especiais, por meio do uso de ambientes computacionais, visando
favorecer o processo de leitura e escrita, Santarosa (1996) destaca pontos positivos
de desenvolvimento e crescimento pessoal:
Cognitivamente, observamos saltos qualitativos no que se refere à leitura/escrita, não somente por sujeitos pré-silábicos, mas também por alfabéticos nas dimensões ortográficas e semânticas. Observamos ainda ganhos do ponto de vista psicomotor relacionado à coordenação motora, memória e atenção, bem como do ponto de vista sócio-objetivo por aspectos referentes à auto-estima, valorização pessoal e disposição para o trabalho com o outro, decorrendo disso a cooperação mútua e o pensar ‘coletivo’ (p. 16, grifo da autora).
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Múltiplas são as opções para as práticas de leitura e escrita no
computador, oportunizando experiências enriquecedoras e envolventes no contexto
da tecnologia computacional.
A esfera digital compreende um conjunto de gêneros textuais e
algumas sugestões que podem contribuir no processo de ensino e aprendizagem da
leitura e da escrita, como: softwares educativos, recursos aplicativos (Word e Power
Point), blogs, fóruns e vários outros ambientes da internet, como os que dão acesso
a livros digitais e ambientes animados que interagem com o indivíduo (cartões
animados, músicas e poemas).
A Wikipédia (2009) define software educativo como um software cujo
principal propósito é o ensino ou o auto-aprendizado. O seu objetivo principal é
contribuir para que o aprendiz obtenha novos conhecimentos, fazendo uso do
software, tendo prazer em lidar com ele. E complementa que o uso do computador
como ferramenta educacional tem se mostrado útil e proveitoso no processo de
ensino-aprendizagem. Contudo, é importante frisar que o software educativo não
deve ser tomado como algo que independe da orientação de professores ou tutores
apesar de seu contexto educacional propício e inovador.
Alguns recursos aplicativos, como o Word e o PowerPoint, podem
contribuir para estimular a produção escrita de forma mais elaborada, criativa e
enriquecer a estrutura textual, inclusive em seus aspectos ortográficos e gramaticais,
atendendo a objetivos específicos.
Referindo-se à contribuição da internet, Marcuschi e Xavier (2010)
esclarecem que, se bem utilizada, é um meio qualificado nas práticas digitais, por
compreender diversas formas de expressão, envolvendo textos, imagens, sons,
animações que podem encantar e significar a ação pedagógica.
Portanto, estes meios, softwares educativos e demais recursos
pedagógicos computacionais, devem ser muito bem estudados, analisados e
planejados pelo professor antes de serem utilizados no contexto da sala de aula,
uma vez que, como mediador, ele deverá conhecer tais caminhos alternativos para
conseguir alcançar os objetivos propostos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Softwarehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Aprendizagemhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ensinohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Software
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