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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: O lúdico no ensino-aprendizagem de língua portuguesa

Autor Cleide Terezinha Amianti

Escola de Atuação Colégio Estadual Presidente Kennedy – Ensino Fundamental e

Médio

Município da escola Rolândia

Núcleo Regional de Educação Londrina

Orientador Profª Drª Maria Beatriz Pacca

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Produção Didático-pedagógica Unidade didática

Público Alvo Alunos do Ensino Fundamental – 6ª série/7º ano

Localização Colégio Est. Pres. Kennedy – Ensino Fundamental e Médio

Rua Santa Catarina, 1513

Apresentação:

Esta unidade didática visa oferecer sugestões teórico-práticas, que oportunizem a revisão de

conceitos e procedimentos metodológicos. Ela contempla os eixos leitura, produção e análise

linguística, privilegiando o desenvolvimento da competência escrita através do gênero textual

conto de terror e mistério, que é muito apreciado pelos alunos. É destinada a alunos de 6ª série7º/

ano do Ensino Fundamental, visto que muitos têm dificuldade em expor suas ideias, ler um livro

e compreendê-lo, e de atender às exigências formais de um texto escrito. É muito comum a

insatisfação dos alunos em frequentar a escola, em participar das aulas. Por este motivo, com a

abordagem através do lúdico, pretende-se envolver o aluno, oportunizando-lhe o

desenvolvimento de atividades que estimulem a reflexão, que lhe permitam o contato com a

oralidade e escrita tanto na linguagem formal quanto na informal, possibilitando a análise das

variações da língua, compreendendo sua formação e aplicação. O lúdico tem sido muito utilizado

como ferramenta auxiliar da aprendizagem, pois incentiva a exploração e construção do

conhecimento e, a partir dele, o aluno desenvolve a socialização e a escrita de forma prazerosa,

dinâmica e autônoma.

Palavras-chave Leitura; produção de texto; lúdico

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CLEIDE TEREZINHA AMIANTI

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

UNIDADE DIDÁTICA

O lúdico no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

LONDRINA

2011

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Título: O lúdico no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Professor PDE: Cleide Terezinha Amianti

Área: Língua Portuguesa

Professor Orientador: Profª Drª Maria Beatriz Pacca

IES vinculada: Universidade Estadual de Londrina

Escola de implementação: Colégio Estadual Pres. Kennedy – Ensino Fundamental e Médio

Público alvo da intervenção: Alunos da 6ª série/7º ano do Ensino Fundamental

Natureza da produção didático-pedagógica: Unidade didática

INTRODUÇÃO

Esta unidade didática tem como objetivo oferecer sugestões teórico-práticas, que

oportunizem a revisão de conceitos e procedimentos metodológicos, buscando desenvolver no

aluno, habilidades e comportamentos de escrita, que permitam fazer o maior, e mais eficiente

uso possível das capacidades técnicas de ler e escrever.

Ela contempla os eixos leitura, produção e análise linguística, privilegiando o

desenvolvimento da competência escrita através do gênero textual conto de terror e mistério,

que é muito apreciado pelos alunos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs de Língua Portuguesa para o Ensino

Fundamental propõem que o ensino seja estruturado a partir de textos pertencentes a

diferentes gêneros textuais, descentralizando o ensino voltado mais ao estudo da

nomenclatura gramatical que ao uso da língua.

Fundamentado em Bakhtin (2003), gênero é pensado como um evento recorrente de

comunicação em que uma determinada atividade humana, envolvendo papeis e relações

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sociais, é mediada pela linguagem. É responsabilidade central do ensino formal o

desenvolvimento da consciência sobre como a linguagem se articula em ação humana sobre o

mundo através do discurso ou, como preferimos chamar, em gêneros textuais.

Uma proposta de ensino/aprendizagem organizada a partir dos gêneros textuais

permite ao professor a observação e a avaliação das capacidades de linguagem dos alunos,

antes e durante sua realização, fornecendo-lhes orientações mais precisas para sua

intervenção. Para os alunos, o trabalho com gêneros constitui uma forma de vivenciar

situações de produção e leitura de textos e de dominá-los progressivamente.

É muito comum a insatisfação dos alunos em frequentar a escola, em participar das

aulas. Por este motivo, com a abordagem através do lúdico, pretende-se envolvê-los,

oportunizando-lhes o desenvolvimento de atividades que estimulem a reflexão, que lhes

permitam o contato com a oralidade e escrita tanto na linguagem formal quanto na informal,

possibilitando a análise das variações da língua, compreendendo sua formação e aplicação.

Atualmente, o jogo, como uma ferramenta auxiliar da aprendizagem, vem sendo mais

desenvolvido por teóricos e pedagogos, especialmente por se tratar de algo dinâmico, que

exige certo cuidado e conhecimento no planejamento e execução. O lúdico tem ocupado cada

vez mais espaço nos projetos pedagógicos e nas salas de aula. Grandes teóricos têm abordado

o assunto, evidenciando-se assim, a sua importância para o ensino-aprendizagem.

MOYLES (2002, p.41) declara: “Acima de tudo, o brincar motiva. É por isso que ele

proporciona um clima especial para a aprendizagem, sejam os aprendizes crianças ou

adultos.” Ele afirma ainda: “Em todas as idades, o brincar é realizado por puro prazer e

diversão e cria uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem. Isso certamente é uma

razão suficiente para valorizar o brincar.” (idem, p.21).

Assim, o jogo adquire grande importância como ferramenta para a aprendizagem na

medida em que estimula o interesse do aluno, pois “O jogo ajuda-o a construir suas novas

descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento

pedagógico que leva ao professor a condição de condutor, estimulador e avaliador da

aprendizagem.” (ANTUNES, 2003, p. 36). O lúdico incentiva a exploração e construção do

conhecimento e, a partir dele, o aluno desenvolve a socialização e a escrita de forma

prazerosa, dinâmica e autônoma.

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É importante destacar na avaliação a observação individual do aluno, suas dificuldades

e ressaltar seus avanços. Faz-se necessário verificar o nível de compreensão dos textos lidos, a

evolução das produções e suas refacções.

Baseado em Almeida (2003), após realizadas as leituras, as discussões, as produções

orais e escritas, parciais ou completas, reestruturação em grupo e individual, os alunos já

possuem argumentos suficientes para abordar o assunto, desenvolvendo assim, sua

competência escrita.

AULA 1

QUEM CONTA UM CONTO... EMBARCA NUMA GRANDE AVENTURA

Os PCNs de língua portuguesa (1998, p.67) destacam a importância que o domínio da

palavra pública tem no exercício da cidadania, que a escola deve possibilitar acesso a usos da

linguagem mais formalizados e convencionais.

O ato de ouvir e contar histórias auxilia no processo de aquisição da linguagem. É o

primeiro passo para estimular a competência da leitura e desenvolver a escrita através da

organização de ideias. Desperta o prazer e o interesse pela leitura, a imaginação e a

observação da linguagem oral e escrita.

Ao ouvir e contar histórias que envolvem perdas, solidão, morte entre outras, as

crianças enfrentam suas angústias e manifestam sentimentos importantes para o seu

desenvolvimento emocional, podendo extravasar raiva, tristeza, medo, insegurança e

descobrir formas de lidar com seus próprios problemas.

Para que a aprendizagem ocorra de forma significativa e dinâmica foi escolhido o jogo

“Magia negra” como motivação e abordagem porque, além do seu caráter lúdico, está

diretamente ligado ao gênero textual proposto.

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Para a familiarização com o gênero, faz-se necessário entrar no imaginário do grupo,

saber o que eles gostam de ler e escrever. Para tal, associou-se o gênero conto de terror e

mistério a filmes assistidos, partindo para a reprodução de histórias já conhecidas, que podem

ter sido contadas por familiares ou lidas em livros diversos.

ROTEIRO

1. Texto:

Relatos orais

2. Assunto:

Apresentação oral do gênero textual conto de terror e mistério

3. Objetivos:

Estabelecer um vínculo prazeroso com a leitura de contos.

Estimular o saber ouvir.

Ampliar a expressão oral.

4. Motivação:

Jogo – MAGIA NEGRA

Elege-se um aluno para ser o colaborador e a ele explica-se o funcionamento do jogo.

Os demais alunos selecionam um objeto sem que o líder saiba qual é.

A seguir o líder dirá acertadamente qual foi o objeto escolhido a partir da senha

combinada anteriormente com o colaborador.

Os alunos terão que prestar atenção para descobrir qual é a senha que faz com que o

líder acerte sempre.

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No caso, como o jogo foi denominado Magia Negra, a senha é: o colaborador deverá

mostrar um objeto de cor preta antes daquele que foi escolhido pelos alunos. Diante dessa

pista, o líder saberá que o objeto a seguir foi o selecionado.

5. Desenvolvimento:

Apresentação da proposta de trabalho.

Utilização da estratégia jogo Magia Negra como motivação.

Estabelecimento de conexão entre o jogo realizado e o gênero textual conto de terror e

mistério.

Conversa com os alunos sobre contos de terror e mistério em suas diferentes

linguagens, como por exemplo, relatando filmes de terror e mistério que tenham assistido,

com o intuito de familiarizá-los com o tema.

6. Atividade:

Reproduções orais de histórias de terror e mistério conhecidas pelos alunos.

AULA 2

A PRODUÇÃO INICIAL

Nesta aula foram selecionadas perguntas relacionadas ao gênero textual conto de terror

e mistério, que deverão ser respondidas pelos alunos. É importante que todos tenham suas

opiniões registradas no caderno, para que, no final do projeto, possam compará-las com seus

novos conhecimentos.

Este é o momento da realização da primeira produção escrita do gênero com a

finalidade de observar o que os alunos já conhecem a respeito do assunto.

Deixar claro para os alunos a finalidade do texto, a organização do gênero, conteúdo e

destinatário. Como atividade, pede-se a produção inicial, que não será o trabalho finalizado,

nem servirá como avaliação quantitativa para o aluno. Trata-se de um material importante

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para o professor observar o que não ficou claro na apresentação inicial, para detectar as

dificuldades.

ROTEIRO

1. Texto:

Perguntas sobre o gênero conto de terror e mistério

Produções dos alunos

2. Assunto:

Produção individual escrita sobre o gênero conto de terror e mistério

3. Objetivos:

Coletar material para a avaliação diagnóstica.

Levar o aluno a compreender a intencionalidade do texto.

4. Motivação:

Distribui-se tiras de papel com as perguntas:

. O que são contos de terror e mistério?

. Como é, em geral, o espaço destas histórias: clima frio? Castelos assustadores?

Quartos mal-assombrados? Floresta sombria? Mata fechada? Ambiente macabro?

. Como se desenvolve o enredo: criação de um clima de suspense?

. Como se dá a apresentação das personagens?

. Como se dá a apresentação de um fato bizarro que desencadeia a ação?

. Como se dá a criação de mistério que só se desvenda no final?

5. Desenvolvimento:

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Os alunos respondem às perguntas nos cadernos. Partindo das respostas escritas,

inicia-se um breve debate com toda a turma. Nesse momento, porém, o professor não opina

sobre as hipóteses levantadas pelos alunos.

6. Atividade:

Produção individual, escrita, de um conto de terror e mistério a partir do que foi

contado na aula anterior ou que seja criado pela fantasia do próprio aluno.

AULA 3

CARACTERIZAÇÃO

Nesta aula começam a surgir os primeiros desafios: quais seriam, de fato, as

características do gênero? O que poderíamos chamar de contos de terror e mistério? É preciso

ressaltar que a construção das descrições das personagens e do espaço tem grande importância

para a sugestão do clima de mistério e suspense.

Falar em descrição de pessoas ou lugares pode parecer complexo para alguns alunos.

No entanto, trabalhado de forma lúdica e concreta como a apresentada nesta aula, pode

propiciar maior interesse para o assunto em questão e levá-los a observar de forma mais

efetiva a caracterização de pessoas e lugares nos contos.

ROTEIRO

1. Texto:

O gato preto, Edgar Allan Poe

2. Assunto:

Características presentes no gênero conto de terror e mistério

3. Objetivos:

Destacar a importância das descrições no conto de terror e mistério.

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Discutir as descrições presentes no conto O gato preto.

4. Motivação:

Jogo das características

Colar no quadro figuras diversas: monstros, bruxa, homem, mulher, fada, criança...

Perguntar se é possível dizer algo sobre o caráter dessas pessoas por meio da aparência

física.

Distribuir tiras de papeis com características para a turma. Cada aluno escolhe uma

personagem que julga ser tal característica compatível e cola embaixo.

Proceder da mesma forma com figuras de lugares.

Se for necessário, utilizar o dicionário.

Concluir, perguntando: quais dessas personagens e lugares poderiam fazer parte de

histórias de terror? O que os levou a concluir isso?

5. Desenvolvimento:

Após a realização do jogo das características, proceder à leitura do texto O gato preto.

A leitura será realizada pela professora, criando suspense, mudando o tom de voz e

fazendo pausas para provocar tensão.

6. Atividade:

Oralidade: Quais características da atividade anterior aparecem no texto?

O que despertou medo? E suspense? Algum trecho frustrou e poderia ser diferente?

TEXTO

O GATO PRETO

Não espero que o leitor acredite nesta estranha e, ainda assim, simples história que vou contar. Seria um louco se esperasse, uma vez que até meus sentidos rejeitam a própria evidência. No

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entanto, não sou louco e posso garantir que não foi um sonho. Amanhã eu vou morrer, então desejo aliviar minha alma. Minha intenção imediata é expor ao mundo, de maneira sucinta, uma série de acontecimentos domésticos. As consequências desses eventos têm me torturado, têm me destruído. Mas eu não vou explicá-los. Se para mim foram horríveis, para outros parecerão menos terríveis do que esquisitos. No futuro, você poderá encontrar alguém cuja inteligência mais lógica e muito menos excitável do que a minha, capaz de ver, no que descrevo, nada mais que uma mera sucessão de causas e efeitos naturais.

Desde a infância me sobressaiu o temperamento dócil e caráter generoso, o que me fazia alvo de piadas de meus companheiros. Gostava muito de animais, então meus pais permitiam que eu tivesse muitos. Passava a maior parte do tempo com eles, nada me fazia mais feliz do que alimentá-los e acariciá-los. Essa característica de minha personalidade cresceu comigo e, já adulto, isso me dava muito prazer. Para aqueles que já se afeiçoaram a um cão sagaz e fiel, não preciso dar explicações da natureza ou da intensidade da gratificação que isso causa. Há algo no amor desinteressado de um animal, que contagia aquele que já provou uma falsa amizade.

Casei-me jovem e tive a felicidade de encontrar uma companheira que gostava de animais tanto quanto eu. Sabendo que eu gostava de animais domésticos, ela me trazia exemplares das espécies mais agradáveis. Tínhamos pássaros, peixes de aquário, um belo cão, coelhos, um macaquinho e um gato. Um gato grande e belo, completamente preto e inteligente. Minha mulher era um pouco supersticiosa e costumava me lembrar da lenda de que os gatos pretos são bruxas disfarçadas. Mas eu nunca dei atenção a ela. Plutão, era assim que se chamava nosso gato, tornou-se meu fiel companheiro. Só eu o alimentava e me seguia por toda parte.

Nossa amizade durou muitos anos, durante os quais meu temperamento e meu caráter (envergonho-me de confessar) sofreram uma mudança profunda. Dia após dia eu me tornava mais melancólico, mais irritável, indiferente aos sentimentos alheios. Era grosseiro com minha esposa. Cheguei até a usar de violência contra ela. Até mesmo meus animaizinhos de estimação sentiram a mudança. Deixei de cuidar deles e ainda os tratava mal. Maltratava os coelhos, o macaco e até o cão, mas por Plutão eu ainda conservava suficiente estima para não destratá-lo. Por fim, chegou a vez de Plutão, que agora estava ficando velho e impertinente. Até Plutão começou a sentir os efeitos de meu temperamento perverso devido à doença que tomou conta de mim – o alcoolismo.

Uma noite, cheguei em casa bêbado, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Agarrei-o com força pelo rabo, o bichinho reagiu: debateu-se e me feriu levemente a mão com os dentes. Isso me fez perder totalmente o controle. Foi como se a minha alma tivesse se separado do meu corpo e um mal diabólico, alimentado pelo gim, feito vibrar cada fibra do meu corpo. Tirei do bolso do colete um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e arranquei-lhe um olho. Fico envergonhado e tremo enquanto escrevo essa repreensível atrocidade.

Quando, na manhã seguinte, voltei à razão, depois que o sono havia apagado a maior parte da orgia da noite, eu senti o horror misturado com remorso pelo crime que havia cometido. Mas era um sentimento frágil, que não tocou a minha alma. Novamente mergulhei nos excessos, e rapidamente afoguei na bebida toda lembrança do que ocorrera.

O gato sarou lentamente. A imagem do olho perdido era horrível, mas ele não aparentava sofrimento. Andava pela casa, como sempre, mas fugia apavorado quando eu me aproximava dele. Um pouco da generosidade que me restava, fazia-me lamentar a antipatia aparente de um animal que havia me amado tanto. Mas esse sentimento logo deu lugar à irritação. Então veio a minha derrota final e irrevogável, a perversidade. A filosofia não cura esse espírito. No entanto, estou certo de que minha alma existe e que a perversidade é um dos impulsos primários do coração humano. Quem não se surpreendeu, uma centena de vezes, cometendo uma ação estúpida pela simples razão de que não deveria cometê-la? Há uma tendência permanente em nós, diante do senso comum, que é transgredir a Lei pelo simples fato de ser Lei. Esse espírito do mal apareceu, eu digo, para minha queda final. Foi o anseio de minha alma por praticar o mal só pelo mal que me impulsionou a consumar o que tinha infligido ao inocente animal. Certa manhã, a sangue frio, passei um laço pelo seu pescoço e pendurei-o no galho de uma árvore, enquanto as lágrimas escorriam e com o mais amargo remorso no meu coração. Enforquei-o porque sabia que ele me amava, e porque reconhecia que não tinha dado motivo para matá-lo; enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado,

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um pecado mortal, que iria manchar minha alma imortal até mesmo fora do alcance da infinita misericórdia de Deus – se isso fosse possível. O Deus mais Misericordioso e Severo.

Naquela mesma noite acordei com gritos de “Fogo!” As roupas da minha cama estavam em chamas. A casa toda estava em chamas. Com grande dificuldade minha esposa, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. Tudo foi destruído. Todos os meus bens materiais foram consumidos, e desde então, entrei em desespero.

Procuro não estabelecer uma relação de causa e efeito entre o desastre e a minha crueldade. Mas estou detalhando os fatos – e não quero deixar escapar nenhum pormenor. No dia seguinte visitei as ruínas do incêndio. Todas as paredes, com exceção de uma, tinham desmoronado. Essa exceção era uma parede interior, não muito grossa, na qual se achava a cabeceira de minha cama. O gesso da parede tinha resistido à ação do fogo – coisa que atribuí à recente reforma. Uma multidão se juntou em volta dessa parede e várias pessoas pareciam examinar um pedaço em especial. As palavras “estranho”, “curioso” e outras semelhantes despertaram minha curiosidade. Cheguei mais perto e vi esculpida em baixo-relevo, sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem estava desenhada de forma verdadeiramente extraordinária. Havia uma corda em volta do pescoço do animal.

Ao observar a aparição – não havia como dar outro nome para aquilo – o assombro e o terror me dominaram. Mas a reflexão veio em meu auxílio. Lembrei-me de que tinha enforcado o gato em um jardim junto a casa. Ao soar o alarme de incêndio, o jardim foi invadido e alguém deve ter tirado o animal da árvore e jogado para dentro do meu quarto para me acordar. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade contra o gesso recém-aplicado, que combinado com as chamas e o amoníaco do cadáver, produzira a imagem como eu a via.

Embora minha razão estivesse satisfeita com a explicação, minha consciência não deixou de causar profunda impressão em minha imaginação. Durante meses não consegui me livrar do fantasma do gato e cheguei a sentir algo parecido com remorso, mas não era. Eu até lamentei a perda do animal e procurei por outro da mesma espécie e aparência para preencher seu lugar.

Uma noite, eu estava sentado, bêbado, em uma taverna de má fama, quando notei uma coisa preta em cima de um dos grandes barris de gim, que eram a principal mobília do lugar. Durante alguns minutos olhei fixamente para o barril e fiquei surpreso de não ter percebido antes a presença daquela mancha preta em cima. Era um gato enorme, semelhante ao Plutão em todos os aspectos, com exceção de uma mancha larga e branca que lhe cobria o peito. Assim que o toquei, ele se levantou e começou a ronronar alto, esfregou-se em minha mão e parecia feliz por eu tê-lo notado. Era o animal que eu estava procurando e me propus imediatamente comprá-lo, mas o dono do lugar disse que não era dele, que nunca o tinha visto antes.

Continuei a acariciar o gato e quando fui para casa, o animal mostrou-se disposto a me acompanhar. Deixei-o vir comigo, parando de vez em quando, para acariciá-lo. Em casa, adaptou-se rapidamente e logo se tornou o favorito de minha esposa.

De minha parte, senti que, de repente, surgiu em mim uma antipatia pelo animal. Era exatamente o oposto do que eu esperava, mas, sem ser capaz de justificar como nem porquê, a sua afeição por mim me aborrecia. Lentamente esses sentimentos de desgosto e aborrecimento se tornaram para mim na amargura do ódio. Tentava evitar o animal, um resquício de vergonha e a lembrança do meu ato de crueldade impediam-me de maltratá-lo. Durante algumas semanas, não bati nem o maltratei violentamente, mas aos poucos, passei a encará-lo com uma repugnância inexprimível, e fugir silenciosamente de sua odiosa presença, como de um surto de peste.

O que provavelmente ajudou a aumentar o meu ódio pelo animal foi descobrir, na manhã seguinte ao dia em que o trouxe para casa, que, como Plutão, ele também não tinha um olho. No entanto, essa circunstância fez aumentar a estima de minha mulher pelo animal, pois, como já disse, ela era uma pessoa extremamente humana, sentimento que, em outros tempos, tinha sido minha principal característica.

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A minha aversão pelo gato parecia aumentar sua predileção por mim. Seguia meus passos com uma teimosia que eu acho difícil transmitir para o leitor. Onde quer que eu me sentasse, vinha se agachar debaixo da minha cadeira, ou saltava sobre meus joelhos, cobrindo-me com suas carícias repugnantes. Se me levantava para caminhar, colocava-se entre meus pés e quase me fazia cair, ou fixava suas unhas compridas e afiadas em minha roupa e subia até meu peito. Nesses momentos, embora tivesse vontade de fazê-lo desaparecer com um golpe, eu me sentia completamente paralisado pela lembrança do meu crime anterior e, acima de tudo - confesso – pelo medo terrível do animal.

Esse medo não era exatamente o medo de um mal físico, no entanto, eu não saberia como defini-lo de forma diferente. Tenho vergonha de admitir, sim, mesmo nesta cela criminal, sinto-me quase envergonhado de admitir que o terror, o horror que causou aquele animal foi alimentado por uma das mais tolas fantasias que é possível conceber. Mais de uma vez a minha mulher havia chamado a atenção para a mancha de pelo branco que já mencionei, e que era a única diferença entre o estranho animal e aquele que eu tinha matado. O leitor deve se lembrar dessa marca que, embora grande, era, inicialmente muito indefinida, mas gradualmente, quase imperceptivelmente, e que minha razão lutou para rejeitar como fantasiosa, a mancha foi adquirindo uma nitidez rigorosa em seus contornos. Era, agora, a representação de um objeto, cujo nome me faz tremer, e por isso eu o desprezava e temia acima de tudo e teria me livrado dele se tivesse coragem. Era a imagem terrível, sinistra, a imagem de uma forca! Oh, instrumento triste e terrível de horror e crime, de agonia e morte!

Então eu me senti a mais miserável do que todas as misérias combinadas. Um animal bruto, que destruíra um amigo com desprezo. Um bruto animal a dominar-me – homem feito à imagem e semelhança de Deus. Nunca mais, nem de dia, nem de noite, pude desfrutar a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava sozinho por um momento, e à noite, acordava assustado por sonhos terríveis para sentir o hálito quente da coisa sobre meu rosto, e seu peso enorme – encarnação de um pesadelo que não se separava de mim – pesando eternamente sobre meu coração!

Sob a opressão desses tormentos, o pouco do bem que havia em mim desapareceu. Os maus pensamentos eram meus companheiros – os mais sombrios e maldosos pensamentos. O meu mau humor usual acabou se transformando em ódio de tudo o que estava ao meu redor e por toda a humanidade, e minha mulher, que não reclamou de nada, se tornou a vítima mais comum e paciente.

Um dia, uma tarefa, me levou até o porão da velha casa onde a nossa pobreza nos obrigava a viver. O gato seguiu-me pelas escadas e quase me fez cair, o que me descontrolou a ponto de perder o juízo. Esquecendo o medo infantil que até então contivera minha mão, ergui o machado e desferi um golpe contra o animal que, certamente seria fatal. Mas a mão da minha mulher parou o golpe. Sua atitude me encheu de uma fúria demoníaca, arranquei meu braço de seu aperto e enterrei o machado em seu cérebro. Ela caiu morta a meus pés, sem um gemido.

Consumado esse hediondo assassinato, determinei-me a esconder o corpo. Eu sabia que não poderia tirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos. Imaginei diferentes formas de ação. Pensei em cortar o corpo em pedaços e queimá-los, em cavar-lhe uma cova no chão do porão. Em seguida, pensei em atirá-la ao poço que ficava no pátio – ou colocá-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria e contratar um carregador para retirá-lo da casa. Finalmente, encontrei o que eu achava ser o melhor recurso. Decidi emparedar o corpo no porão – como os monges da era medieval costumavam fazer com suas vítimas.

O porão serviria perfeitamente para esse fim. As paredes eram mal construídas e cobertas recentemente com um material que não endurecera. Além disso, uma das paredes escondia uma falsa lareira, que havia sido preenchida para se assemelhar ao restante do local. Sem dúvida, poderia facilmente remover os tijolos, introduzir o cadáver e depois cobrir a parede, de modo que não despertasse suspeita. E não estava errado em meus cálculos. Com uma alavanca, puxei os tijolos com facilidade e, depois de colocar com cuidado o corpo contra a parede interna, mantive-o nessa posição e, ao mesmo tempo, recoloquei os tijolos em sua forma original. Preparei um reboco que não se distinguia do antigo. Após a tarefa, eu estava convencido de que tudo tinha corrido bem. A parede não mostrou qualquer sinal de ter sido mexida. Recolhi os detritos no chão, cuidadosamente. Olhei ao redor e, triunfante, disse: “Pelo menos aqui meu trabalho não foi em vão”.

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O próximo passo foi procurar o animal que causou tanta miséria, pois eu tinha finalmente a firme decisão de matá-lo. Se naquele momento o gato tivesse aparecido diante de mim, seu destino era certo; mas aparentemente o animal astuto estava alarmado com a violência do meu primeiro acesso de raiva, evitando aparecer perto de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. É impossível imaginar o profundo sentimento de alívio que a ausência do animal odiado trouxe a mim. Não apareceu durante a noite – e assim, pela primeira vez, desde que chegou em casa, dormi profunda e pacificamente; sim, dormi mesmo com o peso do assassinato em minha alma.

Passou-se o segundo, depois o terceiro dia e o meu carrasco não retornou. Mais uma vez respirei como um homem livre. O monstro, aterrorizado, tinha fugido para sempre! Nunca mais o veria novamente! Grande foi minha alegria. A culpa por minha ação tão negra pouco me perturbava. Fui questionado, mas respondi prontamente. A casa foi revistada, mas naturalmente nada foi descoberto. Senti que havia assegurado a minha felicidade futura.

No quarto dia após o assassinato, um grupo de policiais entrou na casa e começou uma rigorosa investigação. Estava seguro, não senti quaquer perturbação. Os agentes me pediram para acompanhá-los na busca. Não deixaram um só canto sem verificar. No final, pela terceira ou quarta vez, desceram ao porão. Não me amedrontei. Meu coração batia calmamente como o de um inocente. Andei pelo porão,calmamente, com os braços cruzados. Os policiais estavam satisfeitos e prontos para partir. A alegria em meu coração era muito forte para ser suprimida. Desejava dizer, pelo menos, uma palavra como prova de sucesso e para garantir minha inocência.

“Senhores”, eu disse enquanto o grupo subia as escadas, “fico feliz por ter dissipado as suas suspeitas. Desejo-lhes felicidade e um pouco mais de cortesia. A propósito, senhores, esta é uma casa muito bem construída.” (No meu desejo ansioso de dizer alguma coisa, naturalmente, eu não estava ciente das minhas palavras.) _ “Posso até dizer que esta casa é muito bem construída. Estas paredes... Já estão indo, senhores? _ estas paredes são solidamente ligadas”; nesse ponto, por impaciência, bati fortemente com a bengala que tinha na mão, na parede atrás da qual estava o cadáver da minha querida esposa.

Que Deus me proteja e me livre das garras do demônio! Assim que o som dos golpes cessou, uma voz respondeu de dentro do túmulo. Um gemido abafado e instável como o choro de uma criança, e de repente se transformou em um grito, longo e contínuo, totalmente anormal e desumano, uma mistura de horror e triunfo, que só poderia vir das profundezas do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios que alegram-se na condenação.

Decrever meus pensamentos naquele momento é loucura. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até a parede. Por um momento, o grupo de policiais ficou paralisado de espanto e terror. Então, uma dúzia de braços fortes atacaram a parede, que caiu de um golpe. O cadáver, já em decomposição, e coberto de sangue coagulado estava ereto diante dos olhos dos espectadores. Sobre sua cabeça, com a boca vermelha e aberta e uma chama de fogo no único olho, estava a fera horrenda que me havia levado a cometer o assassinato e cuja voz me entregava agora ao meu carrasco. Eu tinha emparedado o monstro dentro do túmulo!

POE, Edgar Allan. Tradução de Cleide Terezinha Amianti.

AULA 4

ANÁLISE DE TEXTO

Esta aula foi embasada nas Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação

Básica do Estado do Paraná – DCE (2006, p.39), que sugerem que o professor privilegie, num

primeiro momento, a leitura fruição do texto literário como meio de desenvolver o gosto e o

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hábito pela leitura e, à medida que o aluno amplie seu repertório de conhecimento de obras, o

professor o incentive à capacidade crítica sobre as leituras, a partir da socialização destas em

sala de aula.

A análise de texto tem como meta levar o aluno a construir sentidos embasados não só

no que o texto diz, mas em como diz e para quem.

Partindo do lúdico como fator de motivação, o jogo apresentado leva a perceber a

importância de se enfrentar desafios e as atividades propostas visam à formação de um leitor

crítico e reflexivo, capaz de construir hipóteses e embasar-se em conhecimentos prévios.

ROTEIRO

1. Texto:

O gato preto, Edgar Allan Poe

2. Assunto:

Estudo do texto O gato preto

3. Objetivos:

Ressaltar a importância de enfrentar desafios.

Levar o aluno a entender e interpretar o texto lido.

Desenvolver o hábito de consulta ao dicionário.

4. Motivação:

JOGO – Vencendo desafios

Encher uma caixa com jornal para ninguém perceber o que tem dentro. Colar no fundo

um chocolate e um bilhete COMA O CHOCOLATE!

Fazer um círculo e explicar que dentro da caixa existe uma ordem a ser cumprida, que,

como no jogo “batata-quente”, aquele que ficar com a caixa terá que cumprir a tarefa sem

reclamar. Independente do que seja, ninguém vai poder ajudar (criar suspense para que

sintam medo).

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Começa a brincadeira e, com a música ligada, ir passando a caixa. Quando a música

for interrompida, aquele que ficou com a caixa terá que cumprir a tarefa. Fazer comentários

do tipo: Você está preparado? Se não tiver coragem...

5. Desenvolvimento

Realização da dinâmica.

Releitura do texto O gato preto.

Realização das atividades propostas.

Na correção das atividades, promover discussão e análises, para que tenham

oportunidade de justificar o ponto de vista assumido ou de alterar suas respostas quando

perceberem que estão inadequadas.

6. Atividade:

Responder às perguntas:

1 Quem é o narrador da história? A história é narrada em primeira ou terceira pessoa?

2 Releia o segundo e o terceiro parágrafos da narrativa.

a. Quais eram as características do protagonista no começo da história?

b. Como era seu relacionamento com sua esposa?

3 No quarto parágrafo houve uma mudança na vida do protagonista. Qual foi ela e

o que provocou tal mudança?

4 Por que o narrador arranca o olho de seu gato de estimação?

5 O que leva o protagonista a enforcar seu gato no jardim?

6 Logo após o assassinato do gato, a casa pega fogo. Do incêndio, resta apenas uma

parede de pé. O que é encontrado desenhado nessa parede? Na sua opinião, há relação entre

os três acontecimentos(morte do gato, incêndio na casa e desenho na parede)? Justifique.

7 O que leva o protagonista a assassinar sua mulher e como ele o faz?

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8 O que o narrador fez com o corpo de sua mulher após matá-la?

9 Como a polícia descobriu a localização exata do corpo da mulher?

10 Você sabe o que significa a palavra supersticioso? Procure no dicionário.

Perguntas extraídas de OLIVEIRA, Gabriela R.; RODRIGUES, Flávio N.; CAMPOS, João R.

Português: a arte da palavra. São Paulo: AJS Ltda, 2009.

Para discutir:

Muita gente acha que gato preto representa azar. Será que isso é verdade? Você faz

alguma coisa para se proteger do azar?

Formar pequenos grupos para discutir se vocês têm superstições, ou se conhecem

algumas. Listá-las e depois compará-las com as dos outros grupos.

Discutir ainda, se há alguma que vocês não conheciam, se acreditam em alguma delas.

Qual? Por quê?

No caderno, produzir uma breve narrativa de um parágrafo para o início:

Lúcia não acreditava em superstições, mas um dia sem querer ela quebrou o espelho de sua

casa. Então...

AULA 5

TRABALHANDO O ESPAÇO NAS HISTÓRIAS DE TERROR E MISTÉRIO.

Buscando tornar esta aula motivadora, foi incluído o trabalho com outra linguagem

que faz parte do cotidiano do aluno: a linguagem artística. A utilização de imagens facilita ao

aluno a visualização de elementos importantes na construção do espaço.

As atividades apresentadas pretendem não dissociar leitura e escrita, visto que são

práticas totalmente relacionadas. Tanto o ato de falar quanto o de escrever envolvem tomadas

de decisões em várias etapas e em vários níveis. Um escritor expressa-se com eficácia se

consegue causar efeito no leitor em consequência da compreensão, por isso optou-se por uma

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aula em que predominam recursos para que os alunos consigam esse efeito, que é tão

importante no conto de terror e mistério.

ROTEIRO

1. Texto:

Fragmentos de textos e exercícios sobre espaço

Textos não-verbais - imagens

2. Assunto:

O espaço nas histórias de terror e mistério

3. Objetivos:

Mostrar a importância da descrição do espaço na produção do conto de terror e

mistério.

Apresentar diferentes formas de enriquecer a construção do espaço.

Experimentar e explorar as possibilidades da linguagem artística como forma de

expressão.

4. Motivação:

Observação de diversas imagens de espaços, destacando suas características.

5. Desenvolvimento:

Explicar que, nas histórias de terror e mistério, o espaço em que ocorrem os fatos

narrados é muito importante e contribui de maneira significativa para sugerir ao leitor o

suspense e o mistério que o autor deseja criar. Observar o fragmento do conto Venha ver o

pôr-do-sol, de Lygia Fagundes Telles:

“Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando,

modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem

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calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil

cantiga era a única nota viva na quietude da tarde.

(...)

- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz. – E que é isso aí? Um

cemitério?

Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido

pela ferrugem.”

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 4. Ed. São Paulo: Ática,

1991, p. 27.

6. Atividade:

1 Observar como o narrador caracteriza: a ladeira, as casas, os terrenos, a rua, o mato,

a cantiga, o muro do cemitério, o portão de ferro.

2 Comparar a descrição apresentada com essa a seguir:

Ela caminhava tranquilamente pela avenida larga. À medida que avançava, as casas

iam ficando mais luxuosas. Nos meio das ruas asfaltadas e limpas, as crianças brincavam

alegremente naquele belo dia de sol. A animada cantiga fazia coro com o cantar dos pássaros

e com o rumor emitido pelas árvores que eram movimentadas levemente pelo vento brando e

ameno.

a) Desenhar o espaço a partir das duas descrições feitas.

b) O que se percebe comparando essas duas descrições? Qual delas sugere maior

mistério desde o início ao leitor? Por quê?

c) O que se conclui, então, sobre a descrição do espaço nas narrativas de terror e

mistério?

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Nos trechos abaixo, procure dar às descrições de espaço um tom de maior mistério,

completando as lacunas:

a) Em uma das ruas _________ que levavam até a _________ igreja, na ______

cidade de ________, havia uma casa ________________ sempre cheia de ____________. Os

moradores daquele povoado diziam que nela havia __________________ de pessoas que lá

viveram no século passado.

b) Nas noites de lua _______ os moradores do pequeno povoado evitavam passar

por perto daquela figueira ___________porque diz a lenda que lá foi enterrado um tesouro e

todos os que se aproximam________________________________________ que tentam

proteger tal tesouro.

c) Eram onze horas. Toda a família se recolheu porque as

luzes___________________. Após algum tempo, o cachorro da família começou a

__________. As portas ________violentamente. Era o início de um ________, que

amedrontava a todos devido a________________. As crianças acordaram assustadas, seus

pais não conseguiam dar explicações sobre o que todos estavam vendo: ________________

eram arrastadas e jogadas violentamente contra _______________.

d) O encontro estava marcado e ele não podia voltar atrás. Se não fosse, seus

amigos o chamariam de covarde. Então, lá ia ele em direção ao __________ naquela noite

________, poucas estrelas no céu. Qualquer animalzinho que aparecia era um susto enorme.

Sozinho naquelas ruas _____________ ouviu um grito aflito, suas

_______________________________.

e) A construção havia parado há bastante tempo, estava muito ____________,

mas não havia outro lugar para eles se abrigarem da chuva, que caía ________________. Ao

entrar, Magda sentiu ____________, o pavor começou a tomar conta dela. Suas mãos

___________ e Nestor ____________ assim que entraram naquele lugar _________. Um

cheiro ______________ exalava no ar. Ratos enormes corriam por todo lado. Ela queria sair

de lá, mas __________________________________________________.

Muitas vezes um simples ato de uma personagem pode suscitar muito mistério.

Transforme as seguintes situações em ações de mistério, a partir da descrição de espaço.

a) Uma garota volta da escola.

b) Uma velha senhora precisa ir comprar pão.

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Atividades baseadas em: CASTILHOS, Daiana C.; MULLER, Liane F. Ensino de gêneros

textuais: Uma proposta com o gênero “Contos de Terror e Mistério”.

AULA 6

ESTUDO DE TEXTO

O objetivo desta aula é estabelecer comparação entre os textos Vovó Maria e O gato

preto, que apresentam um tipo de linguagem diferente, embora ambos sejam no âmbito da

linguagem verbal e pertençam ao mesmo gênero. Através da comparação, se estabelecerão as

semelhanças e diferenças quanto ao tema e quanto aos aspectos estruturais e situacionais dos

textos.

Procurou-se proporcionar uma análise que forneça ao aluno oportunidade de pensar,

discutir, opinar e não somente reconstituir o texto e vocabulário, bem como organizar os

conhecimentos relacionados aos elementos presentes no conto de terror e mistério.

A leitura dramatizada visou propiciar a criação de contexto onde o aluno tivesse a

oportunidade de participar efetivamente.

ROTEIRO

1. Texto:

Vovó Maria (Heloísa Prieto, In: Rotas fantásticas, apud OLIVEIRA, Gabriela R.;

RODRIGUES, Flávio N.; CAMPOS, João R. Português: a arte da palavra. São Paulo: AJS Ltda,

2009. p.153 - 156).

2. Assunto:

Estudo de texto

3. Objetivos:

Levar o aluno a identificar narrador, foco narrativo, clímax.

Ampliar e aprofundar o conhecimento sobre o gênero textual conto de terror e

mistério.

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Comparar o texto O gato preto com Vovó Maria, observando as características

inerentes ao gênero presentes em ambos.

4. Motivação:

Leitura dramatizada do texto Vovó Maria.

5. Desenvolvimento:

Comentar como é importante que a história e as personagens pareçam verdadeiras, isto

é, que a história seja coerente. Para isso, seus elementos, como o espaço, o tempo, o narrador,

personagens e ações, precisam combinar entre si, mesmo que alguns elementos fujam do real,

do racional. Desse modo, eles passam a ser verossímeis, isto é, eles passam a parecer

verdadeiros.

6. Atividade:

1 Quem é o narrador da história? Ela é narrada em primeira ou terceira pessoa?

2 O que causa o acidente com o caminhão?

3 Os trechos “Que estranho”, pensei eu, “será que eu tinha dormido na estrada?” –

esclarecem um pensamento do narrador. Por que ele imagina que poderia ter dormido na

estrada?

4 Por que o motorista pede ao frentista do posto para verificar se havia algo na

caçamba do caminhão? Quem ele encontra lá?

5 Qual a reação do motorista e do menino? Eles acreditam ter salvado a velha?

6 Qual a intenção do narrador ao começar a história com”Juro de dedo cruzado. Pode

acreditar. Aconteceu de verdade”?

7 Você já leu ou ouviu falar de algum caso parecido? Como você reagiria no lugar do

caminhoneiro?

8 Qual é o ponto de maior tensão (clímax) de Vovó Maria?

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9 Como você reage quando contam uma história parecida com a que lemos? Você

acredita? Reconta para outras pessoas?

Observar e discutir como aparecem em cada texto:

. a descrição do espaço;

. a marcação do tempo;

. os elementos de coesão textual;

. as escolhas lexicais relativas ao sobrenatural/fantasia;

Observar também os aspectos relativos às hesitações ou ambiguidade que constroem a

trama: harmonia/desarmonia, racional/ irracional/sobrenatural/loucura, crença/descrença,

fatalidade/coincidência, vida/morte, sonho/realidade, humano/inumano...

AULA 7

O TEXTO EM PEDAÇOS

Esta aula procura sistematizar pontos que deverão ser aproveitados pelo aluno no

momento de sua produção final. Através da estruturação do texto, o aluno será estimulado à

compreensão de noções de textualidade e suas funções essenciais como coesão, coerência,

intencionalidade, situacionalidade.

A atividade lúdica selecionada, por envolver o desenvolvimento físico, emocional,

mental e social do aluno, pode proporcionar um contexto muito apropriado para a ampliação

da habilidade escrita.

Procura-se, ainda, nos momentos lúdicos, explorar a produção de textos orais e

sistematizar as diferenças entre fala e escrita.

ROTEIRO

1. Texto:

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A viagem, Cleide Terezinha Amianti; Morrendo de medo, [id.]; Monstros do

medo,[id.]

2. Assunto:

Estruturação e coerência textual

3. Objetivos:

Mostrar a estruturação e coerência nos textos.

Analisar oralmente os elementos presentes nos textos: espaço, tempo, narrador,

personagens e ações.

Estimular a prática da oralidade em situações concretas de comunicação.

4. Motivação:

Produção-surpresa de história.

Elege-se um aluno-voluntário, que se dirige à frente da sala.

O professor inicia oralmente uma história, a qual o aluno deverá dar continuidade.

À medida que o aluno for contando sua história, o professor vai mostrando objetos que

deverão ser incluídos nela.

5. Desenvolvimento:

Explicar que, assim como na brincadeira realizada, alguns fatores são necessários para

que haja coerência e sentido no texto.

Divisão da turma em grupos.

Distribuir tiras de papel com parágrafos do texto para cada aluno do grupo.

6. Atividade:

Estruturar o texto de forma coerente.

Fazer a leitura para a turma.

Ao final, analisar os elementos presentes nos textos: espaço, tempo, narrador,

personagens, ações e os elementos que asseguram a unidade do texto.

TEXTOS

A VIAGEM

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Começava a escurecer e tudo indicava que uma grande tempestade estava a caminho. A estradinha era bastante estreita e sinuosa.

Alcebíades, um empresário bem sucedido, cabelos brancos e pele enrugada, que indicavam o passar de muitos anos de existência, dirigia seu carro, preocupado com o temporal que se aproximava.

As árvores sacudiam violentamente e os primeiros pingos começavam a cair. A chuva tornando-se pesada, fortes trovões eram ouvidos estrondosamente. A única luz que clareava aquele horripilante cenário eram os relâmpagos e raios que riscavam o céu negro pela tempestade.

Diante de tal situação, Alcebíades não conseguia continuar a viagem. O medo começava a tomar conta dele. Dirigia vagarosamente pela estrada deserta. Poucas construções eram avistadas naquele lugar. Estava perdendo as esperanças de encontrar hospedagem quando avistou uma construção antiga, sombria, com um letreiro pouco iluminado. Era um hotel.

Dirigiu-se até lá, mas não conseguia sair do seu carro. A impaciência e a fome iam cada vez mais afastando seu bom humor, que já estava comprometido pela forte chuva. Resolveu, então, aventurar-se e enfrentar aquela torrente de água fria.

Adentrando pela grande e pesada porta de madeira, que rangia de forma irritante, avistou uma figura estranha, com cara de poucos amigos, que o recebeu sem nenhuma animosidade. Devido à aparência do ambiente, resolveu dispensar o jantar e foi diretamente para o quarto, sem deixar de observar o aspecto sombrio e sinistro do lugar: escadarias de madeira decadentes, teias de aranha, sujeira onde conseguia observar mesmo com a pouca iluminação. No entanto, sem condições de continuar a viagem, ficou.

O quarto era minimamente iluminado por uma vela, mas ainda assim, conseguia perceber a falta de higiene que pairava por ali. Deitou-se, mas não conseguia dormir, as horas se arrastavam.

Depois de algum tempo, que lhe pareceu uma eternidade, começou a ouvir gritos que vinham do fim do corredor. Alguém pedia socorro. Com a lentidão própria de pessoas de sua idade, dirigiu-se para lá. Não conseguia distinguir bem os vultos, mas era uma figura gigantesca, que emitia grunhidos, parecia um monstro atacando uma jovem. Ao aproximar-se, o assoalho rangeu e o espectro virou em sua direção. Era aterrorizante, suas pernas não conseguiam se mover, começou a tremer e suar frio. Queria gritar, mas sua voz não saía, o coração batia descompassado, sentiu que sua energia estava se esvaindo.

Repentinamente, tudo silenciou...

Quando acordou, estava em seu carro, naquela mesma estrada. Já não chovia mais. Tudo havia sido um sonho? E o hotel existia? Ele não conseguia recordar.

MORRENDO DE MEDO

Esta é uma história verdadeira. Eu ouvi de uma funcionária de uma escola de uma cidadezinha do interior.

Alguns adolescentes conversavam no intervalo das aulas. Contavam histórias de assombrações, fantasmas, e cada um queria parecer mais corajoso que o outro para impressionar as meninas.

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Bianca, a menina mais bonita e disputada do grupo, propôs que aquele que se mostrasse mais corajoso seria seu namorado. Os garotos, então, combinaram que demonstração de coragem seria passar uma noite dentro de um túmulo no único cemitério da cidade.

Na hora combinada, nem todos apareceram, o que já seria motivo de zombaria no dia seguinte na escola. Dirigiram-se ruidosamente ao cemitério e, como já era esperado, os portões altos e velhos estavam trancados. Usando isso como desculpa, mais dois garotos desistiram.

Os quatro que restaram mostravam-se decididos a ir em frente, não querendo admitir que estavam temerosos.

Ao pular os portões, porém, a coragem começou a dar lugar ao medo. O lugar era tenebroso. A escuridão, em contraste com a pouca luz da lua formava sombras, que iam crescendo, crescendo... Os sons ouvidos não eram identificados, poderiam ser das aves noturnas, mas não eram nada agradáveis. Para demonstrar coragem, tentavam assustar uns aos outros.

Entraram em um túmulo, procuravam acomodar-se para passar a noite. Os barulhos aumentavam à medida que os minutos iam passando. Para piorar, o assunto deles eram mais histórias de assombrações. O medo tomava conta deles, o coração parecia querer sair pela boca. Um som vai ficando mais definido, parece o agitar de asas de uma grande ave, que vai se aproximando cada vez mais. Eles já estavam apavorados, a vontade era de sair dali, correndo, mas o orgulho os impedia, até que um deles grita:

- Uma mão gelada está segurando meu pé! Socorro!

Os amigos pensavam ser mais uma das brincadeiras do Júlio, que gritava cada vez mais. Ele gritava com toda força, até que todos entraram em pânico. E correram. Cada um correu o quanto pode e, sem olhar para trás, pularam o muro de volta. Já do lado de fora perceberam que Júlio não estava com eles. No entanto, como o medo e orgulho eram demais, alegaram que ele estava novamente brincando e era o mais corajoso.

No dia seguinte a notícia chegou até eles. Júlio foi encontrado morto dentro de um túmulo no cemitério. Seu pé estava enroscado em uma grande e enferrujada argola de bronze.

MONSTROS DO MEDO

Eu nunca fui uma pessoa das mais corajosas, mas resolvi aceitar o convite para acampar e pescar em uma fazenda abandonada, pois na companhia de amigos me sentia mais seguro.

Saímos, conforme o combinado, às duas da tarde, quando todos já haviam concluído o expediente de trabalho, que por ser um sábado, era mais curto. O local escolhido para o encontro não poderia ser melhor: o casarão abandonado da beira da estrada.

Estava eu lá, faltava pouco para as duas quando chega o pessoal. O carro era velho demais, pensei que não iria aguentar todos nós. Seguimos. Algumas horas de viagem, com algumas paradas para consertar algo que teimava em quebrar no carro.

A chegada foi tranquila, o sol já começava a ser por. Resolvemos montar as barracas enquanto ainda restava algo da claridade natural. Preparamos o local para a pescaria, organizamos a tralha de pesca e já acendemos a churrasqueira.

A noite ia chegando e a minha ansiedade começava a surgir. Sempre tive medo da escuridão e conforme o tempo ia passando, minha angústia ia aumentando.

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A mata era muito fechada, o que não deixava penetrar nenhum raio de luar. Isso suscitava em mim pensamentos pavorosos.

Todos foram para a beira do rio, mas eu preferi ficar cuidando da churrasqueira, pois me sentia seguro pela claridade das brasas.

Passado algum tempo, ouvi gritos. Eram meus amigos. Minha vontade era fugir, correr para o lado oposto, mas, o que fazer?

A seguir ouvi gargalhadas, que me tranquilizaram um pouco, então fui até lá. A cena que presenciei foi horrível. As gargalhadas não eram dos meus amigos. Eles estavam sendo atacados por criaturas horrendas. Eram três seres enormes, parecidos com humanos, portadores de cabeça, tronco e membros, mas possuíam um único olho, bem no meio da testa, por onde emitiam faíscas. Eles seguravam meus amigos como se fossem bonecos e atiravam-nos uns aos outros. Pareciam se divertir com a situação.

O pavor tomou conta de mim, não adiantaria tentar salvá-los e eu nem teria coragem para isso, mas também não consegui mover-me. A mata cobria-me e com uma lentidão enorme fui me esgueirando por entre as árvores até conseguir chegar ao carro. Por sorte as chaves estavam no contato. Ao ligar o motor, o barulho despertou a atenção sobre mim e percebi que tentavam me alcançar.

Saí na velocidade que o carro velho me permitia, o pavor me impedia de olhar para trás mesmo sabendo que naquela escuridão eu não veria nada. Meu medo maior era que o carro parasse de funcionar, uma vez que naquela situação eu não teria coragem de sair de dentro para consertá-lo.

A distância me parecia cada vez maior, mas já me sentia mais seguro, parecia que ninguém me seguia mais. O cansaço era terrível. Talvez por estar menos pesado, o carro não apresentou nenhum problema.

Cheguei em minha cidade, que era a mais próxima do local, ao amanhecer. A primeira coisa que fiz foi procurar a polícia. Relatei o ocorrido, mas como era de se esperar, não me deram crédito. Eles se entreolhavam, riam e faziam sinais indicando que eu devia estar bêbado. Tive que insistir muito para que fossem até lá e junto com eles fui, imaginando o que iria encontrar: meus amigos estraçalhados, sangue por todo lado... Era horrível pensar nisso.

Meu coração dava saltos, minhas pernas tremiam, estava apavorado pelo que iria ver, mas ao chegar, fiquei estarrecido, perplexo! Lá estavam meus amigos, sãos, inteiros, perfeitos... Eu não conseguia acreditar no que via. E vinham furiosos comigo porque eu tinha ido embora com o carro, deixando-os a pé num local ermo, distante, totalmente abandonado.

AULA 8

PROPOSTA DE PRODUÇÕES PARCIAIS

Nesta aula o trabalho com as produções parciais foi pautado em LAJOLO,(apud DCE,

2006, p.35). A autora defende que as “atividades que visem à produção de texto sejam

(também) fundadas numa concepção que privilegiem não o texto redigido, mas o ato de

redigir.” As DCE (p.35) afirmam ainda que escrita é, antes de tudo, ação, experiência.

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A atividade lúdica teve como objetivo, além de motivar e descontrair, direcionar para

a intencionalidade e a coerência do texto, as quais, assim como a continuidade dos fragmentos

da figura, levam à formação do todo.

ROTEIRO

l. Texto:

O retrato oval, Edgar Allan Poe; Morta que mata, Artur Azevedo; o medo, Guy de

Maupassant

2. Assunto:

Proposta de produções parciais

3. Objetivos:

Levar o aluno a compreender a importância da formação de sentido na construção da

situação inicial, da situação problema e situação final.

Capacitar o aluno para a produção de textos mais complexos.

4. Motivação:

JOGO – Desenho compartilhado

Distribui-se para a sala folhas em branco e pede-se para que escrevam o nome no

verso. Sentados em círculo, os alunos devem pensar em uma imagem e começar a desenhá-la.

Ao sinal do professor todos param e passam a folha adiante, tentam imaginar o que o colega

ia desenhar, e continua o trabalho dele até que o professor sinalize novamente para que a folha

seja passada novamente. Depois de algumas trocas, pede-se que aquele que está com a folha

conclua o desenho, então volta a folha para o primeiro e este deverá verificar o que tem a ver

com sua pretensão inicial.

5. Desenvolvimento:

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Direcionar o jogo para a produção parcial.

Apresentar para a turma textos faltando partes. Fazer perguntas que levem o aluno a

criar a parte oculta dos textos: Em que lugar se encontrava o narrador? Como e por que ele

estava lá? O que levou a personagem à morte? Como será que o autor concluiria a história?

Qual seria o problema encontrado? Como tudo começou? O que aconteceu então?...

6. Atividade:

a Produzir a situação inicial.

O RETRATO OVAL

_____________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Meditando profundamente nestes pontos, permaneci, talvez uma hora, meio deitado, meio

reclinado, de olhar fito no retrato. Por fim, satisfeito por ter encontrado o verdadeiro segredo do seu efeito, deitei-me de costas na cama. Tinha encontrado o feitiço do quadro na sua expressão de absoluta semelhança com a vida, a qual, a princípio, me espantou e finalmente me prostrou e intimidou.

Com profundo e respeitoso temor, voltei a colocar o candelabro na sua posição anterior.

Ficando assim fora da vista, aquilo que me causava profunda agitação, analisei ansiosamente o livro que tratava daqueles quadros e das suas respectivas histórias. Procurando o número que designava o retrato oval, pude ler as vagas e singulares palavras que se seguem: «Era uma donzela de raríssima beleza e tão adorável quanto alegre. E maldita foi a hora em que viu, amou e casou com o pintor. Ele, apaixonado, estudioso, austero, tendo já na Arte a sua esposa. Ela, uma donzela de raríssima beleza e tão adorável quanto alegre, toda luz e sorrisos, e viva como uma jovem corça; amando e acarinhando a todas as coisas; apenas odiando a Arte que era a sua rival; temendo apenas a paleta e os pincéis e outros enfadonhos instrumentos que a privavam da presença do seu amado.

Era, pois coisa terrível para aquela senhora ouvir o pintor falar do seu desejo de retratar a sua jovem esposa. Mas ela era humilde e obediente e posou docilmente durante muitas semanas na sombria e alta câmara da torre, onde a luz apenas do alto incidia sobre a pálida tela. E o pintor apegou-se à sua obra que progredia hora após hora, dia após dia. Era um homem apaixonado e caprichoso, que se perdia em fantasias, de modo que não via que a luz que tão sinistramente se derramava naquela torre solitária dissipava a saúde e o ânimo da sua esposa, que se consumia aos olhos de todos menos aos dele. E ela continuava a sorrir, sorria sempre, sem um queixume, porque via que o pintor tirava do seu trabalho um fervoroso e ardente prazer e se empenhava dia e noite em pintá-la, a ela que tanto o amava e que dia a dia mais desanimada e mais fraca ia ficando.

E, verdade seja dita, aqueles que contemplaram o retrato falaram da sua semelhança com palavras ardentes, como de uma poderosa maravilha, - prova não só do talento do pintor como do seu profundo amor por aquela que tão maravilhosamente pintara. Mas por fim, à medida que o trabalho se aproximava da sua conclusão, ninguém mais foi autorizado na torre, porque o pintor enlouquecera com o ardor do seu trabalho e raramente desviava os olhos da tela, mesmo para contemplar o rosto da esposa. E não via que as tintas que espalhava na tela eram tiradas das faces

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daquela que posava junto a ele. E quando haviam passado muitas semanas e pouco já restava por fazer, salvo uma pincelada na boca e um retoque nos olhos, o espírito da senhora vacilou como a chama de uma lanterna.

Dada a última pincelada e feito o retoque, por um momento o pintor ficou extasiado perante a

obra que completara; mas de seguida, enquanto ainda a estava contemplando, começou a tremer e pôs-se muito pálido, e apavorado, gritando em voz alta 'Isto é na verdade a própria vida!', voltou-se de repente para contemplar a sua amada: - estava morta!

POE, Edgar Allan. Tradução de Cleide Terezinha Amianti.

b Produzir a situação problema.

MORTA QUE MATA

(CONTO MEIO PLAGIADO E MEIO ORIGINAL)

Um dia em que o Barreto, acabado o expediente, palestrava com alguns dos seus colegas de repartição, queixou-se da mesquinhez dos ordenados.

- Ora! Tu nada sofres! Acudiu um dos colegas, com um sorriso impertinente. - Nada sofro?! Ora esta! Por quê?! - Porque és rico! - Rico, eu?!... - Naturalmente. Se não fosses rico, tua mulher não poderia andar coberta de brilhantes! O Barreto soltou uma gargalhada. - Ah, meu amigo, os brilhantes de minha mulher são falsos, são baratinhos, não valem nada! - Não parece. - Não parece, mas são. Minha mulher é de uma economia feroz, e tudo quanto economiza

emprega em toilettes e jóias... Mas que jóias!... Falsas, falsas como Judas... Já lhe tenho dito um milhão de vezes que se deixe disso; que não use jóias uma vez que não pode usá-las verdadeiras; que ela somente a si mesma se ilude, tornando-se ridícula aos olhos do mundo; mas não há meio: aquilo é mania! Tirem tudo, tudo à Francina, mas deixem-lhe as suas jóias de pechisbeque!...

Realmente assim essa Francina, de vez em quando, mostrava ao marido um par de bichas de

brilhantes ou um colar de pérolas, que produziam o mais deslumbrante efeito, mas não passavam de jóias de teatro, compradas com os vinténs que ela poupava nas despesas da copa.

Barreto, que fora sempre um pobretão, nada entendia de pedras finas e por isso achava que

as de sua mulher, apesar de falsas, eram bonitas; mas, no íntimo, ele envergonhava-se daquela fulgurante exibição no pescoço, nos braços, nos dedos e nas orelhas de Francina.

- Os que sabem que essas jóias são falsas, pensava ele, hão de me achar ridículo; os que as

supõem verdadeiras poderão fazer de mim um juízo ainda mais desagradável. Toda a gente sabe quanto ganho: os meus vencimentos figuram na coleção de leis, na tabela anexa ao regulamento da minha repartição...

O Barreto pensava bem; mas a sua debilidade moral não permitia que ele contrariasse

Francina.

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- É muito simples. A falecida sua senhora tinha jóias. É natural que o senhor não precisando delas pretenda desfazer-se de algumas, senão de todas. Venho pedir-lhe que me dê a preferência.

- Preferência para quê? - Para comprá-las. - Mas, meu caro senhor, as jóias de minha mulher são falsas. - Falsas? Ora essa! E é a mim que o senhor diz isso, a mim que lhas vendi! A sua senhora

seria incapaz de pôr uma jóia falsa! - O senhor engana-se! - Tanto não me engano, que lhe ofereço por essas jóias, se se conservam todas em seu

poder, sessenta contos de réis!

O Barreto ficou petrificado; entretanto, disfarçou como pôde a comoção, e despediu o joalheiro, dizendo que o procuraria na loja.

Logo que ficou só, encaminhou-se para o quarto da morta, e abriu a cômoda onde se

achavam as jóias; mas ao vê-las sentiu uma onda de sangue subir-lhe à cabeça e caiu para trás. Quando lhe acudiram estava morto.

AZEVEDO, Artur. Morta que mata.

c Produzir o final.

O MEDO

[...]

Foi no inverno passado, numa floresta a nordeste da França. A noite chegou duas horas mais cedo, de tal modo o céu estava sombrio. Tinha por guia um camponês que caminhava ao meu lado por uma trilha muito estreita, sob uma abóbada de abetos através de cuja ramagem uivava um vento furioso. Por entre a copa das árvores, via nuvens correndo em desordem, nuvens enlouquecidas que pareciam fugir de algo aterrador. Às vezes, sob uma rajada violenta, toda a floresta se inclinava na mesma direção com um gemido de dor: e o frio me invadia, apesar do meu passo rápido e das minhas roupas pesadas.

Devíamos cear e dormir na casa de um guarda florestal da qual nos aproximávamos. Eu ia lá para caçar.

Às vezes, meu guia erguia os olhos e murmura: "Que tempo horrível!" Depois falou-me das pessoas da casa para onde íamos. Dois anos antes, o pai matara um caçador furtivo e desde então se tornara taciturno, como que perseguido por uma recordação. Tinha dois filhos casados que viviam em sua companhia.

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As trevas eram cerradas. Nada via à minha frente nem à minha volta, e a ramagem das árvores que se entrechocavam enchia a noite de um contínuo sussurro. Enfim, avistei uma luz e meu companheiro não tardou em bater a uma porta. Responderam-nos gritos agudos de mulheres. Depois, uma voz de homem, uma voz abafada, perguntou: "Quem vem lá?" Meu guia se identificou. Entramos. O que se viu, então, foi um quadro inesquecível.

Um velho de cabelos brancos, olhar de louco, com uma espingarda engatilhada na mão, esperava-nos de pé no meio da cozinha, enquanto dois robustos rapazes armados de machados guardavam a porta. Divisei duas mulheres ajoelhadas em cantos sombrios, o rosto voltado contra a parede.

Explicamo-nos. O velho tornou a encostar a arma na parede e mandou preparar o meu quarto; depois, como as mulheres não se movessem, disse-me bruscamente:

"Veja, senhor, matei um homem faz dois anos nesta noite. No ano passado ele voltou para chamar-me. Espero-o ainda esta noite".

E acrescentou num tom que me fez sorrir:

"Por causa disso não estamos tranqüilos".

Tranquilizei-o como pude, feliz por ter vindo justamente naquela noite e assim assistir ao espetáculo desse terror supersticioso. Contei algumas histórias e quase cheguei a acalmar todos eles.

Junto à lareira, um velho cão, bigodudo e quase cego, um desses cães que se parecem com conhecidos nossos, dormia com o focinho entre as patas.

Lá fora, a tempestade enfurecida sacudia a pequena casa e, através de uma estreita vidraça, colocada junto à porta, eu via, de repente, à luz de grandes relâmpagos, o arvoredo açoitado pelo vento.

Apesar dos meus esforços, percebia que um terror profundo dominava aquelas pessoas e, sempre que parava de falar, todos os ouvidos escutavam ao longe. Cansado de assistir a medos imbecis, ia pedir para me deitar quando, de súbito, o velho guarda saltou de sua cadeira, tornou a apanhar a espingarda, balbuciando com uma voz alucinada:

"Ele está aqui! Ele está aqui! Ouço-o". As duas mulheres tornaram a cair de joelhos em seus cantos, escondendo o rosto; e os filhos voltaram a pegar nos machados. Ia tentar novamente acalmá-los quando o cão adormecido despertou de repente, levantou a cabeça, esticou o pescoço e, fitando o fogo com seus olhos quase cegos, soltou um desses uivos lúgubres que fazem estremecer os viajantes quando passam à noite pelos campos. Todos os olhos voltaram-se para ele, que agora permanecia imóvel, erguido sobre as patas como que perseguido por uma visão, uivando para qualquer coisa invisível, desconhecida, medonha sem dúvida, pois tinha o pêlo todo eriçado. O guarda, lívido, gritou: "Ele o está sentindo! Ele o está sentindo! Ele estava lá quando o matei". E as duas mulheres, desvairadas, começaram a uivar junto com o cão.

Involuntariamente, um grande arrepio percorreu-me a espinha. A alucinação do animal, naquele lugar, àquela hora, no meio daquela gente alucinada, era um espetáculo medonho.

Então, durante uma hora, o cão uivou sem se mover; uivou como na angústia de um pesadelo; e o medo, o horrível medo, apoderou-se de mim. Medo de quê? Será que sei? Era o medo, eis tudo.

Permanecíamos imóveis, lívidos, na expectativa de algo pavoroso, o ouvido atento, o coração agitado, sobressaltando-nos ao menor ruído. E o cão começou a andar em torno da sala, farejando as paredes e continuando a ganir. Esse animal nos enlouquecia. De repente, o camponês que me trouxera, tomado por uma espécie de paroxismo de terror, jogou-se sobre ele e, abrindo a porta que dava para um pequeno pátio, enxotou-o.

Imediatamente o cão se calou: e nós ficamos mergulhados num silêncio ainda mais aterrador. Depois, todos nós estremecemos ao mesmo tempo: um ser deslizava contra a parede externa da casa, do lado da floresta; passou pela porta, que pareceu tatear com mãos hesitantes; depois não se ouviu mais nada durante dois minutos que quase nos enlouqueceram; em seguida, tornou a voltar, sempre roçando a parede; e arranhou-a ligeiramente como faria uma criança com a unha; e, subitamente, uma cabeça surgiu atrás da fresta de vidro, uma cabeça branca com olhos luminosos como os das feras. E um som saiu-lhe da boca, um som indistinto, um murmúrio de

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lamento.

Então, um estrondo formidável ressoou na cozinha. O velho guarda disparara.

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MAUPASSANT, Guy de. Contos Fantásticos.

Ler para a turma.

Observações da professora sobre os trechos produzidos pelos alunos, incentivando-os

a ler os originais na íntegra.

AULA 9

PROPOSTA DE PRODUÇÕES PARCIAIS

Esta aula é uma sequência da aula anterior, visto que a língua é um processo dinâmico

de interação, isto é, como um meio de realizar ações, de agir e atuar sobre o outro. Por isso foi

considerado o discurso, ou seja, o texto inserido em uma situação concreta. Espera-se que o

aluno passe a apropriar-se dos recursos de expressão, orais e escritos, e utilizá-los de forma

consciente por meio da observação, comparação, análise, inferências. Para isso foi utilizado o

lúdico como motivação para a produção oral de forma agradável e divertida e atividades de

criação, observando a construção de cenas de terror através de situações sugeridas.

ROTEIRO

1. Texto:

Textos não verbais: objetos, imagens; textos (orais e escritos) produzido pelos alunos

2. Assunto:

Proposta de produções parciais

3. Objetivos:

Despertar a criatividade dos alunos.

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Observar os princípios de seleção e de combinação de palavras na formação de

sentido.

Desenvolver habilidades de leitura de textos não verbais.

4. Motivação:

Jogo – Produção de histórias.

Sentados em círculo, de forma que todos possam se ver. O líder deve ter em mãos um

objeto, que mostra a todos e inicia a história: Isto é...(uma boneca, por exemplo). Em seguida

deve passar o objeto à pessoa ao seu lado, que acrescentará mais uma palavra à história,

sempre repetindo tudo o que já foi dito anteriormente. Ex: Isto é uma boneca de vestido rosa.

Isto é uma boneca de vestido rosa comprada em São Paulo... E assim sucessivamente, até que

alguém erre a ordem da história, pagando assim uma prenda que o grupo escolherá.

Como o trabalho é com conto de terror e mistério, o objeto inicial escolhido pode estar

relacionado a monstros, desenhos que remetam ao assunto.

5. Desenvolvimento

Produção de histórias na oralidade através do jogo.

Exposição oral dos princípios de seleção e de combinação de palavras na formação de

sentido.

Comentários gerais sobre a estrutura narrativa.

6. Atividade:

Produção de cenas de terror a partir das propostas sugeridas:

Situação: Um rapaz é morto por um monstro que se alimenta de sangue humano.

Atividade 1. Construa um parágrafo em que haja a descrição do momento em que o

rapaz é encontrado.

Atividade 2. Construa um parágrafo em que haja a descrição do momento em que o

protagonista encontra o rapaz morto.

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Atividade 3. Construa um parágrafo que descreva o momento em que o protagonista

encontra o monstro.

AULA 10

REESCRITA COLETIVA

Momento de levar o aluno a ouvir com atenção, participar, adquirir segurança na

exposição de seu pensamento e observar se a produção condiz com os tópicos anteriormente

trabalhados, com as atividades realizadas, com as leituras feitas. Esta aula é mais uma

oportunidade de promover a prática da oralidade e escrita de forma integrada, ressaltando as

semelhanças e diferenças entre elas.

A dinâmica das bexigas promove a união e ressalta a importância do trabalho coletivo,

além de ser um momento de descontração e estimulação das múltiplas inteligências.

Foi escolhido trabalhar a reestruturação coletiva por acreditar que a partir do coletivo

adquire-se maior facilidade para pensar individualmente.

A relevância desta aula está na oportunidade de discussão entre os alunos a respeito de

alternativas mais eficientes de elaboração de seus textos.

ROTEIRO

1. Texto:

Texto produzido pelos alunos

2. Assunto:

Reestruturação de texto

3. Objetivos:

Revisar um texto e avaliar se abrange os aspectos básicos de um conto de terror e

mistério.

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Capacitar à compreensão e à utilização dos elementos de coesão e coerência na

produção.

4. Motivação:

JOGO Dinâmica das bexigas

Uma bexiga e uma tira de papel para cada aluno, no qual escreve um problema

(inimizade, fofoca, ódio, intriga...), coloca dentro da bexiga e enche-a. O aluno começa a

brincar com sua bexiga sem deixá-la cair. Aos poucos, vai-se tirando um aluno de cada vez e

os outros têm que tentar manter todas as bexigas no ar.

Quando perceber que quem ficou no centro não está dando conta de segurar todos os

problemas, pedir que todos voltem aos seus lugares com uma bexiga e perguntar.

1 Quem ficou no centro, como se sentiu ao estar sobrecarregado?

2 Quem saiu, o que sentiu?

Levá-los à conclusão de que é mais fácil resolvermos os problemas quando estamos

em união. Pode-se, então, estourar a bexiga e juntos “dar um fim” nos problemas. Mostrar que

estes problemas podem ser trocados por amizade, solidariedade, confiança...

5. Desenvolvimento:

Entregar para cada aluno uma cópia do texto escolhido para a reestruturação.

Leitura do texto selecionado.

Análise detalhada do material.

Escolha e exposição dos aspectos a serem trabalhados no texto: paragrafação,

organização das frases, coerência etc.

6. Atividade:

Reestruturação coletiva do texto – cada passo vai sendo sugerido e discutido pelos

alunos, sob a supervisão da professora, que irá anotando no quadro as modificações

realizadas.

Leitura do texto após finalizado e análise do material antes e depois de reestruturado.

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AULA 11

ESCRITA INDIVIDUAL

Esta aula é o momento em que o aluno deverá realizar sua produção de texto final,

levando em consideração os elementos das discussões e de tudo o que foi estudado, do texto

produzido anteriormente, de situações criadas pela imaginação.

Ela permitirá verificar se houve a apropriação esperada do conteúdo, se o aluno

escreve utilizando os recursos próprios da linguagem escrita e de acordo com a estrutura

solicitada.

A leitura do texto, de forma dramatizada e revisando as características do gênero

textual conto de terror e mistério tornará o ambiente propício e auxiliará o aluno na sua

produção.

ROTEIRO

1. Texto:

Devolva minha aliança, Rosa Amanda Strausz, In Sete ossos e uma maldição, apud

OLIVEIRA, Gabriela R.; RODRIGUES, Flávio N.; CAMPOS, João R. Português: a arte da palavra.

São Paulo: AJS Ltda, 2009. p.158 – 162.

Textos dos próprios alunos.

2. Assunto:

Produção de texto

3. Objetivos:

Verificação da aprendizagem.

Observar se o aluno:

redige utilizando recursos próprios da linguagem escrita: paragrafação, pontuação,

ortografia...

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produz texto escrito de acordo com a estrutura: apresentação da situação inicial,

situação problemática e situação final.

apresenta no texto a descrição de personagens e lugares.

4. Motivação:

Leitura dramatizada do texto Devolva minha aliança, realizada pela professora.

Leitura do mesmo texto destacando as características do gênero textual conto de terror

e mistério.

5. Desenvolvimento:

Leitura do texto Devolva minha aliança realizada pela professora.

Revisão das características do gênero conto de terror e mistério.

Leitura dos textos produzidos no início do projeto.

6. Atividade:

Produção de texto.

AULA 12

REESCRITA INDIVIDUAL

O aluno vai avaliar seu texto, de modo que procure observar se aproximou-se ou

distanciou-se do que lhe foi proposto e assim possa reestruturá-lo de forma mais consciente e

eficaz.

A motivação apresentada servirá também como momento de descontração e formação

de duplas.

É necessário dar ao aluno a oportunidade de se fazer ouvir e ter seu trabalho

comentado, por isso a opção de se trabalhar inicialmente em duplas para que os colegas

apresentem comentários, ajudem a fazer correções, sugiram modificações, apontem

incoerências. Dessa forma, o aluno poderá perceber que suas falhas na produção de texto

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atrapalham a compreensão de qualquer leitor. Isso torna o ato de escrever em algo mais

significativo.

Finalmente, o aluno poderá comparar o presente texto com a sua produção inicial. O

texto, posteriormente, será reescrito de forma mais consciente.

ROTEIRO

1. Texto:

Texto escrito pelo próprio aluno.

2. Assunto:

Reestruturação de texto

3. Objetivos:

Oportunizar a discussão entre colegas para encontrar alternativas de aperfeiçoamento

do texto.

Solucionar alguns dos problemas específicos da escrita dos alunos.

Levar o aluno a revisar e reescrever o próprio texto, incorporando as sugestões feitas.

4. Motivação:

JOGO – Formando duplas

Divide-se a sala em dois grupos. Distribui-se uma folha em branco para cada aluno do

grupo A. Pede-se para que escrevam três características de si mesmos. A identificação deve

aparecer somente no verso. Cada aluno do grupo B vai ler as características, sem ver a quem

pertence, e escolher com que vai trabalhar.

5. Desenvolvimento:

Formadas as duplas, trocam-se os textos produzidos para que o colega leia e opine.

Após a discussão, cada aluno receberá a seguinte proposta com os critérios para análise do seu

texto:

. Usei letra legível?

. Marquei o início dos parágrafos e os discursos diretos com espaço maior?

. Mantive as margens do final da linha regulares?

. Empreguei as características próprias do gênero Conto de terror e mistério?

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. Empreguei as palavras adequadas ao gênero?

. Escrevi corretamente as palavras escritas com R/RR, S/SS/SC/Ç/Xc, E/I, X, Z, L/U,

G/J, CH...?

. Acentuei as palavras corretamente?

. Usei ponto final corretamente ao encerrar um parágrafo?

. Fiz a concordância do verbo com o sujeito da frase?

. Fiz a concordância do adjetivo e/ou artigo com o substantivo?

. Empreguei corretamente os pronomes?

. Usei corretamente os tempos e/ou modos verbais?

. Evitei repetir palavras desnecessariamente?

. Construí frases claras e completas?

. Evitei repetição de idéias?

. O título corresponde ao conteúdo do texto?

A professora fará os comentários necessários sobre os pontos destacados.

6. Atividade:

Reescrita do texto.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Joyce Eliane de et al. Textuais: roteiros para leitura e produção. Londrina:

Ed.Humanidades, 2003.

ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 12. Ed. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2003.

AZEVEDO, Artur. Morta que mata. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra

=7473>. Acesso em: 14 jun. 2011.

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BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In Estética da criação verbal. 4. Ed. São Paulo:

Martins Fontes, 2003, p. 261 -306.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CASTILHOS, Daiana C.; MULLER, Liane F. Ensino de gêneros textuais: Uma proposta

com o gênero “Contos de Terror e Mistério”. Disponível em:

<http://saga.faccat.br/p907/c_arquivo.php?chave=18&baixar=true>. Acesso em 11/02/2011.

LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo, Ática: 2001.

MAUPASSANT, Guy de. Contos Fantásticos. Trad. José Thomas Brum. Porto Alegre:

L&PM, 1997. Coleção L&PM Pochet, vol. 24.

MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre:

Artmed, 2002.

OLIVEIRA, Gabriela R.; RODRIGUES, Flávio N.; CAMPOS, João R. Português: a arte da

palavra. São Paulo: AJS Ltda, 2009.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de

Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba, 2006.

POE, Edgar Allan. El retrato ovalado. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bk000509.pdf>. Acesso em 20 jun.

2011.

______ Gato negro. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra

=6797>. Acesso em 14 jun. 20ll.

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 4. Ed. São Paulo: Ática,

1991.


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