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  • 2 FIBRA

    2.1. Classificao

    s podem ididas grupos , fibr is e

    fibras o home n et a

    Fibras

    Origem

    vegetal

    -Fibras de mad

    e bambu.

    -Sementes

    -Fibras de fruta

    -Fibras de folh

    W

    Fibras

    naturais

    Origem

    animal

    eira

    s

    a

    -Fibras de pelo

    -Seda

    Polme

    natura

    Origem

    mineral

    Amianto

    ollastonita As fibra

    feitas pel em dois

    l., 1984):S NATURAIS principaisFibras

    pelo h

    ro

    l as natura ser div

    m (Persso feitas

    omem

    Polmero

    sinttico

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  • Fibras Naturais 32 32

    A utilizao das fibras vegetais e minerais como reforo foi escolhida como

    objeto de estudo neste trabalho. Estas apresentam uma srie de vantagens sobre as

    fibras sintticas justificando assim o seu uso como reforo em matrizes tanto

    cimentcias como polimricas. Alm disso, estas fibras servem como um

    substituto natural para o amianto. Algumas vantagens e desvantagens da fibra

    vegetal em relao sinttica podem ser observadas:

    Vantagens:

    Conservao de energia. Grande abundncia. Baixo custo. No prejudicial sade. Possibilidade de incremento na economia agrcola. Preveno de eroso. Baixa densidade. Biodegradveis.

    Desvantagens:

    Baixa durabilidade quando usada como reforo em matriz cimentcia. Variabilidade de propriedades. Fraca adeso em seu estado natural a inmeras matrizes.

    Antes de se estudar o comportamento das fibras vegetais como reforo em

    uma matriz, seja ela frgil ou dctil, se faz necessrio o estudo e a anlise das

    propriedades destas fibras.

    2.2. Fibra de bambu

    O bambu ocorre em reas tropicais, subtropicais e at em reas temperadas

    onde fatores ecolgicos necessrios ao seu desenvolvimento esto presentes. O

    bambu, pertence classe das gramneas, que subdividida em quatro famlias e

    aproximadamente cinqenta gneros. Dentre todos os gneros apenas alguns

    podem ser usados para fins estruturais. So estes: Arundinaria, Bambusa,

    Cephalostachyum, Dendrocalamus, Gigantocloa, Melocanna, Phyllostachys,

    Schizostachyum, Guadua e Chusquea.

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  • Fibras Naturais 33 33

    O uso do bambu como material estrutural talvez to antigo quanto a

    civilizao humana, entretanto o uso de suas fibras e polpas (figura 2.1) como

    reforo em matrizes cimentcias data de 1910 (Subrahmanyam, 1984). A

    vantagem do uso das fibras do bambu como reforo devido ao seu baixo custo,

    boa resistncia trao, rapidez no crescimento do bambu e baixo custo e baixo

    consumo de energia na produo das fibras. Alguns estudos tm sido feitos sobre

    o reforo por fibra de bambu em matrizes cimentcias nos ltimos anos

    (Subrahmanyam, 1984; Pakotiprapha et al., 1983a; Pakotiprapha et al., 1983b;

    Coutts et al., 1995). As caractersticas principais das fibras de bambu esto

    listadas na tabela 2.1.

    Figura 2.1 Aspecto macroscpico da polpa de bambu.

    A polpa do bambu obtida da mesma forma que se obtm as polpas de

    madeira para fabricao de papel. Sendo as principais formas de obteno a

    polpao mecnica e a polpao Kraft. Tabela 2.1 - Propriedades mecnicas e fsicas da polpa e fibra de bambu.

    Ref.

    Comprimento

    (mm)

    Dimetro

    (m) Mdulo de

    elasiticade

    (GPa)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Along.

    na

    ruptura

    (%)

    Densidade

    (kg/m3)

    Obs.

    Smook

    (1989)

    2,8 15 - - - - polpa

    Guimare

    s (1987)

    - - 28,2 564 3,22 - fibra

    Sinha

    (1975)

    3,06 7 - - - 1600 fibra

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  • Fibras Naturais 34 34

    Estes processos esto alm do escopo desta dissertao podendo ser

    melhor compreendido atravs de bibliografias especficas (Smook, 1989). A

    vantagem destes processos est na eliminao da lignina, a qual pode ser atacada

    pela alcalinidade da matriz cimentcia.

    A estrutura de uma fibra de madeira, a qual muito semelhante a do bambu,

    pois ambas so fibras celulsicas, pode ser melhor compreendida atravs da

    figura 2.2. Esta estrutura est subdividida em:

    Lamela intermediria (LI): Ligao entre fibras, em sua maior parte composta de lignina.

    Parede primria (P): Camada fina, relativamente impermevel, de aproximadamente 0,05 m de espessura.

    Parede secundria (S): Composta por trs camadas distintas, caracterizadas por diferentes alinhamentos de fibrilas. S1: a camada externa da parede

    secundria (0,1-0,2 m de espessura). S2: forma o corpo principal da clula possuindo espessura entre 2 e 10 m. S3: a parte interna da parede secundria (aproximadamente 0,1 m de espessura).

    Parede terciria (T): Igual a S3. Lmen (L): O canal central da fibra.

    Lmen (L)

    Parede secundria (S) Lamela intermediria (LI)

    Parede primria (P)

    Figura 2.2 Estrutura de uma fibra de madeira (Coutts,1992).

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  • Fibras Naturais 35 35

    2.3. Fibra de sisal

    O nome sisal oriundo de uma cidade costeira em Yucatan, Mxico,

    tendo como significado, gua fria (Persson et al., 1984). O sisal (figura 2.3) uma

    das fibras vegetais que possui maior resistncia trao e uma das mais indicadas

    para o uso como reforo em argamassas.

    (a) (b) Figura 2.3 O sisal (a) e sua fibra (b).

    Como se pode ver atravs da tabela 2.2, as propriedades mecnicas e fsicas

    apresentam grande variabilidade, assim como ocorre para outras fibras vegetais.

    Isto pode ser explicado pela espcie da planta, local de plantio e metodologia de

    ensaios. No Brasil a espcie cultivada a Agave Sisalana, sendo que o Estado da

    Bahia contribui com 85 % do total da produo. A cultura do sisal existe no Brasil

    desde a dcada de 40, quando foi trazida da regio de Yucatan - Mxico, para ser

    cultivado nos Estados da Bahia, Paraba e Rio Grande do Norte, tendo em vista

    que essas regies apresentam um clima propcio para o desenvolvimento da

    cultura sisaleira. Desde sua implantao no Brasil, o processo de extrao da fibra

    exatamente o mesmo. No houve nenhum avano tecnolgico nesta rea e, em

    funo disso, a produtividade brasileira muito baixa, em detrimento de outros

    pases produtores, que desenvolveram tecnologias mais avanadas e, atualmente,

    possuem uma produtividade 4 vezes maior do que a produtividade brasileira

    (CNA, 2003) .

    A figura 2.4 mostra a seo transversal de uma planta de sisal, onde pode ser

    visto a localizao de fibras mecnicas e fibras arco, assim como a estrutura da

    ltima. A estrutura do tecido das fibras arco d a elas uma considervel resistncia

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  • Fibras Naturais 36 36

    mecnica (Li et al., 2000). Essas so as fibras mais longas e em comparao com

    as fibras mecnicas elas se separam facilmente durante o processamento.

    (a) (b) Figura 2.4 Localizao das fibras mecnicas e arco (a) e seo transversal da fibra

    arco (b). (Li et al., 2000)

    As fibras xilema possuem formato irregular, sendo compostas de clulas

    de paredes finas as quais so fceis de quebrar e de se perder durante o processo

    de extrao. Estas fibras esto situadas no lado oposto s fibras arco atravs da

    coneco com o canal vascular. Tabela 2.2 Propriedades mecnicas e fsicas da fibra de sisal.

    Ref. Mdulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Alongamento

    na ruptura

    (%)

    Densidade

    (kg/m3)

    Dimetro

    (m)

    Guimares

    (1987)

    14,9 176 29,2 - -

    Chand et al

    (1988)

    9,4-22 530-640 3-7 1450 50-300

    Toldo

    Filho

    (1997)

    10,94-26,70 227,8-230 2,08-4,18 750-1070 80-300

    Beaudoin

    (1990)

    13-26 1000-2000 3-5 - -

    Fibras mecnicasFibras arco

    xilema

    Canal

    vascular

    Lmen

    Parede celularParede exterior

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  • Fibras Naturais 37 37

    2.4. Wollastonita

    Wollastonita um metasilicato de clcio (CaOSiO2). Este mineral possui

    uma composio de 48,3 % de xido de clcio (CaO) e 51,7% de dixido de

    silcio (SiO2), podendo apresentar pequenas quantidades de alumnio, ferro,

    magnsio, potssio e sdio (Virta, 1997). A wollastonita (figura 2.5) apresenta

    morfologia acicular e foi reconhecida em 1822 pelo qumico ingls Sir Willian

    Wollaston. Esta resulta da transformao metamrfica de rochas carbonceas com

    o quartzo. A principal utilizao da wollastonita se d como substituto para o

    amianto, na produo de cermica, tintas e plsticos. Tambm usado em

    adesivos, produtos sujeitos frico e refratrios entre outros.

    A produo de wollastonita foi estimada entre 500.000 e 550.000 toneladas

    em 1996, sendo que alguns dos maiores produtores em 1996 foram (Virta, 1997):

    China 250.000 toneladas Estados Unidos 150.000 toneladas. ndia 90.000 toneladas Mxico 29.000 toneladas Finlndia 22.300 toneladas

    No Brasil existe uma reserva em Itaoca So Paulo de 800.000 toneladas. A

    reserva nos Estados Unidos de 5 milhes de toneladas e no Mxico, de 90

    milhes de toneladas.

    Figura 2.5 Fibra de wollastonita fraturada em uma matriz cimentcia observada atravs

    do MEV.

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  • Fibras Naturais 38 38

    A dimenso transversal de uma partcula individual pode variar de cerca

    de 5 m a 100 m e a longitudinal pode variar de 50 m a 200 m . Devido a essa pouca uniformidade de dimenses, so geralmente comercializadas em faixas de

    medidas (grades) conforme as necessidades de utilizao. As propriedades fsicas

    e mecnicas da wollastonita NYAD 325 da Nyco Minerals pode ser verificada na

    tabela abaixo, assim como sua composio qumica.

    Tabela 2.3 Propriedades fsicas e mecnicas e composio qumica da wollastonita

    NYAD 325. ( NYCO TECHNICAL DATA IN-82-88-4, 1988).

    Propriedades fsicas e Mecnicas Composio qumica (%)

    Massa Especfica

    (kg/m3)

    2900

    CaO 47,5

    Mdulo de

    Elasticidade

    (GPa)

    120

    SiO2 51

    Resistncia

    trao

    - Fe2O3 0,40

    pH (10% diluda) 9,90 Al2O3 0,20

    Solubilidade na

    gua

    (g/100cm3)

    0,0095

    MnO

    0,10

    Coef. exp. Term.

    (mm/mm/0C)

    6,5 x 10-6 MgO 0,10

    Ponto de fuso

    (0C)

    1540

    TiO2 0,02

    Razo de aspecto

    (L/d)

    5:1

    - -

    Peso molecular 116 - -

    Dureza Mohs 4,5 - -

    Perda ao fogo

    (1000 oC)

    0,68 - -

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  • Fibras Naturais 39 39

    2.5. Fibra de eucalipto

    O eucalipto (Eucalyptus regnans) classificado como uma madeira dura

    sendo que suas fibras apresentam grandes diferenas em relao a madeiras

    moles:

    suas fibras so muito mais curtas. Parede celular mais espessa Maior quantidade de vasos de parede fina. Menor diferena entre madeiras mais jovens e velhas.

    Poucos trabalhos sobre a fibra de eucalipto so encontrados na literatura assim

    como dados de suas propriedades fsicas e mecnicas. Coutts et al. (1987) fizeram

    um estudo mostrando a superioridade das fibras do Pinus Radiata em relao as

    fibras de eucalipto, quando usadas como reforo em matriz cimentcia; fibras estas

    provenientes de uma madeira mole em relao ao eucalipto. Na tabela 2.4 so

    mostradas as propriedades fsicas e mecnicas da fibra de eucalipto. Pode-se

    notar que sua resistncia trao bem varivel. Deve-se levar em conta que as

    diferentes espcies de eucalipto devem influenciar nestes resultados. O mdulo de

    elasticidade bastante elevado chegando a ser maior do que o do sisal.

    Tabela 2.4 Propriedades mecnicas e fsicas da fibra de eucalipto.

    Ref. Comp.

    (mm)

    Dimetro

    (m) Mdulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Hillis et al. apud

    Coutts

    (1984)

    1,0 20 - -

    Fordos et al.

    (1986)

    0,9-1,2 12-30 45 200-1300

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  • Fibras Naturais 40 40

    2.6. Fibra de juta

    A juta uma fibra vegetal tradicionalmente usada para se fazer cordas e

    sacos. Esta fibra obtida da haste da planta (Corchorus capsularis), tendo seu

    comprimento uma variao de 200 a 1500 mm (dAlmeida, 1987) e sendo

    composta de 58-63 % de - celulose, 21-24 % de hemicelulose, 12-14 % de lignina. As propriedades mecnicas da juta esto listadas na tabela 2.5. Pode-se

    observar que os valores mostrados, embora baixos quando comparados aos das

    fibras industriais, so adequados para aplicaes sujeitas a baixas solicitaes

    mecnicas. Tabela 2.5 Propriedades mecnicas e fsicas da fibra de juta.

    Ref. Mdulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Deformao

    na ruptura

    (%)

    Dimetro

    (m) Densidade

    (kg/m3)

    Comp.

    (mm)

    Chawla

    (1979)

    21,78 270,5 - - - -

    dAlmeida

    (1987)

    21,1 270,5 1,28 - - -

    Chand

    (1988)

    17,42 239,46 1,16 200 - -

    Aziz

    (1987)

    26-32 250-350 2-3 100-400 120-140 180-

    800

    Beaudoin

    (1990)

    26-32 250-350 1,5-1,9 - - -

    2.7. Fibra de coco

    A fibra do coco obtida da fruta proveniente do coqueiro (Cocos

    nucifera). Sua fibra extrada da parte mais externa, chamada exocarpo, e do

    endocarpo, conforme mostrado na figura 2.6. O cultivo do coco esta concentrado

    principalmente nas reas tropicais da sia e do leste da frica (Azis et al., 1984).

    Suas fibras apresentam comprimento entre 150 e 300 mm consistindo

    principalmente de lignina, tanina, celulose, pectinina e outras substncias solveis

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  • Fibras Naturais 41 41

    em gua. Existem trs tipos principais de fibras: a mais longa e fina, conhecida

    como fibra branca a qual usada para fabricao de cordas e esteiras. Uma fibra

    mais grossa, a qual usada para fazer capachos e uma fibra mais curta utilizada

    como enchimento em colches.

    Exocarpo

    Mesocarpo

    Endocarpo

    Ncleo

    Figura 2.6 Estrutura da fruta do Coco (Persson et al., 1984).

    A produo mundial de coco no ano de 1981 foi de 30 a 35 milhes de

    cocos. Sendo que pelo menos 2 milhes de toneladas de fibras so jogadas fora

    por ano (Persson et al., 1984). Na figura 2.7 apresentado um grfico da produo

    anual de coco entre o ano de 1992 e 2001. O preo da fibra bastante baixo, a

    partir de 20 dlares americanos por tonelada dependendo da qualidade da fibra.

    (Persson et al., 1984).

    1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 20010

    500

    1000

    1500

    2000

    Prod

    uo

    anu

    al (1

    .000

    t)

    Ano

    Figura 2.7 Produo anual de coco.

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  • Fibras Naturais 42 42

    Observando as propriedades mecnicas atravs da tabela 2.6 nota-se que

    a fibra de coco possui uma resistncia trao variando de 69 a 200 MPa

    possuindo mdulo de elasticidade baixo, quando comparadas com as fibras

    vegetais supra citadas.

    Tabela 2.6 Propriedades mecnicas e fsicas da fibra de coco.

    Ref. Mdulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Alongamento

    na ruptura

    (%)

    Dimetro

    (m) Densidade

    (kg/m3)

    Guimares

    (1987)

    2,74 176 29,2 - -

    Chand et al.

    (1988)

    6,2 131-175 - 100-450 1150

    Azis et al.

    (1987)

    1,9-2,6 100-200 10-25 100-400 -

    Paramasivam

    et al.

    (1984)

    2 69,3 - 300 1140

    Kulkarni et

    al.

    (1981)

    - 163-226 30-42 200-300 -

    Beaudoin

    (1990)

    2 71 - - -

    2.8. Fibra de banana

    A banana uma planta tropical muito cultivada em razo dos seus frutos.

    Seu gnero classificado como Musa, da famlia Musaceal, a qual engloba mais

    de 30 espcies distintas e pelo menos 100 subespcies. O seu gnero dividido

    em dois grupos principais chamados samusa e physicals. Fibras de banana so

    brancas, finas, moles e lustrosas podendo ser usadas como matria prima para

    produo de sacolas, cordas e jogos de mesa entre outros. Esta uma fibra

    multicelular sendo a falta de dados cientficos uma das razes para a sua pouca

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  • Fibras Naturais 43 43

    utilizao. As propriedades mecnicas e fsicas da fibra de banana esto mostradas

    na tabela 2.7. Sua resistncia trao e mdulo de elasticidade so bem prximos

    aos da fibra de sisal, considerada uma das mais resistentes entre as fibras naturais.

    Tabela 2.7 Propriedades mecnicas e fsicas da fibra de banana.

    Ref. Comprimento

    (mm)

    Dimetro

    da fibra

    (m)

    Densidade

    (kg/m3)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Mdulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Alongamento

    na ruptura

    (%)

    Zhu et al.

    (1994)

    2,0 3,0 1500 700-800 - -

    Kulkarni

    et al.

    (1983)

    10-300 50-250 - 468-1055 27-32 -

    Chand et

    al.

    (1988)

    - 80-250 1350 529-754 7,7-20 1-3

    Beaudoin

    (1990)

    - - - 1100-1300 - -

    2.9. Matrizes cimentcias reforadas por fibras naturais

    A maior parte das pesquisas nos ltimos anos sobre o uso de fibras

    naturais como reforo em matrizes cimentcias foi motivada pela grande

    quantidade de fibras disponveis e pelo fato delas possurem alta resistncia

    mecnica (Bentur et al., 1990). Combinado com o processo de fabricao

    simples, o qual permite a produo de compsitos de vrias formas, esses se

    tornam ideais para a utilizao em residncias de baixo custo. O papel das fibras

    naturais na resistncia ao impacto, melhorando assim a ductilidade e a absoro de

    energia, de considervel importncia prtica. Entretanto, a durabilidade a longo

    prazo destas fibras na matriz cimentcia tem ainda que ser estabelecida. O

    hidrxido de clcio presente na matriz cimentcia ataca a lignina e a hemicelulose

    localizadas na lamela central das fibras, enfraquecendo assim a ligao entre as

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  • Fibras Naturais 44 44

    clulas individuais (Toldo Filho, 2000). Outro mecanismo de degradao,

    relatado por Gram (1983), a hidrlise alcalina das molculas de celulose. Esta

    causa a degradao de cadeias de molculas levando a uma reduo do grau de

    polimerizao e a uma menor resistncia trao.

    Inmeros trabalhos sobre propriedades mecnicas de compsitos

    cimentcios reforados por fibras naturais tem sido feito nos ltimos anos. Os

    principais pontos estudados so a sua resistncia flexo e a tenacidade esttica,

    sendo que estudos sobre a resistncia ao impacto no so encontrados na literatura

    disponvel.

    2.9.1. Modelo para anlise de compsitos reforados por fibras descontnuas

    Neste trabalho os compsitos foram reforados por fibras curtas

    distribudas aleatoriamente na matriz. Compsitos reforados por fibras longas,

    contnuas, so muito mais rgidos e resistentes. Entretanto algumas vantagens

    importantes podem ser observadas nos compsitos reforados por fibras curtas e

    aleatoriamente distribudas. Por exemplo, o processo de fabricao se torna muito

    mais rpido e fcil resultando em um baixo custo. Alm disso, o compsito

    apresenta um comportamento isotrpico o qual muito mais fcil de ser

    analisado. Os compsitos podem apenas ser considerados verdadeiramente

    isotrpicos se isto ocorrer nas trs dimenses. Esta situao suscetvel de

    acontecer quando o comprimento da fibra for muito menor que a espessura do

    compsito. Caso contrrio o compsito apresenta isotropia plana ou bi-

    dimensional

    Frmulas empricas foram criadas por Cox (1952) para o clculo das

    constantes elsticas do papel e outros materiais fibrosos, estas porm no so

    consideradas precisas o suficiente para o dimensionamento de materiais

    compsitos (Gibson, 1994):

    Para o caso de isotropia bi-dimensional:

    3ff VEE = ;

    8ff VE=G ;

    31=v (2.1)

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  • Fibras Naturais 45 45

    Para o caso de isotropia tri-dimensional:

    6ff VEE = ;

    15ff VE=G ;

    41=v (2.2)

    E = mdulo de elasticidade longitudinal mdio.

    G = Mdulo de Cisalhamento mdio.

    v = Coeficiente de Poisson mdio.

    A modelagem de materiais compsitos normalmente baseada na regra

    das misturas. Entretanto a regra das misturas para propriedades mecnicas s

    vlida se os componentes so lineares elsticos e a adeso entre eles perfeita.

    Sendo assim a regra das misturas s pode ser aplicada ao regime elstico, pr-

    fratura, levando em conta ainda fatores de eficincia.

    A eficincia do reforo por fibras pode ser julgada com base em dois

    critrios: a melhoria da resistncia e da tenacidade do compsito, quando

    comparado com a matriz sem reforo. Esses efeitos dependem do comprimento da

    fibra, da sua orientao e da adeso interfacial fibra-matriz. Em aplicaes de

    engenharia estes fatores de eficincia variam entre 0 e 1.

    Para possibilitar o uso da regra das misturas em compsitos reforados por

    fibras curtas dispostas aleatoriamente, Cox (1952) e Krenchel (1964)

    desenvolveram fatores de eficincia - 1 relativo orientao das fibras e 2 relativo ao tamanho das fibras - transformando assim a equao da regra das

    misturas, por exemplo, em (Jones, 1975):

    mmtfft21ct VV += (2.3)

    A maior influncia das fibras no perodo de ps-fissurao, onde a

    influncia da matriz pequena, podendo at mesmo ser desprezada devido s

    mltiplas fissuras existentes. Pode-se assim eliminar o 2o termo da equao 2.3

    para o clculo da resistncia a trao:

    fft21ct V= (2.4)

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  • Fibras Naturais 46 46

    A tabela 2.8 mostra os valores de 1 para compsitos no fissurados: Tabela 2.8 Valores dos fatores de eficincia 1 dados por Cox e Krenchel. Orientao das fibras Deformao ocorre nas

    duas direes

    (Cox, 1952)

    Deformao ocorre

    apenas na direo da fora

    aplicada

    (Krenchel, 1964)

    Alinhadas 1 1

    Aleatoriamente no plano

    (isotropia bi-dimensional)

    1/3 3/8

    Aleatoriamente no

    volume

    (isotropia tri-dimensional)

    1/6 1/5

    De acordo com Krenchel (1964) para fibras curtas deve ser usado um fator

    de eficincia 2 :

    LL

    21 s2 = (2.5)

    onde ,

    d4

    L fs =

    d = dimetro da fibra.

    = tenso de adeso interfacial fibra-matriz. f = resistncia trao da fibra. L = comprimento da fibra

    Sendo assim de acordo com Krenchel (1964) o fator de eficincia total seria o produto de 1 e 2.

    Laws (1971) em seu trabalho concluiu que para a zona elstica, definida

    como a zona anterior falha da matriz, o fator de eficincia do comprimento, 2, para um compsito com fibras curtas alinhadas deve ser bem prximo a 1. O fator

    de orientao nesta regio para compsitos com fibras distribudas aleatoriamente

    no plano 1/3 (deformao ocorre nas duas direes) e 3/8 (deformao ocorre

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  • Fibras Naturais 47 47

    apenas na direo da fora aplicada). Para compsitos com fibras distribudas

    aleatoriamente em 3 dimenses o valor de 1 1/6 (deformao ocorre nas duas direes) e 1/8 (deformao ocorre apenas na direo da fora aplicada).

    J Romualdi e Mandel (1964) propuseram que em um compsito

    reforado por fibras curtas dispostas aleatoriamente, apenas 41% destas fibras

    contribuem para o controle das fissuras. Este valor foi obtido considerando-se que

    se N fibras so orientadas uniformemente (distribuio uniforme de e - figura 2.8), o comprimento mdio das fibras na direo x dado pela equao 2.6.

    LN

    ddLN410

    2 2

    2

    0

    2

    0 ,)/(

    coscos/ /

    =

    (2.6)

    L = comprimento da fibra.

    N = nmero de fibras.

    L coscos = projeo na direao x.

    Dessa forma apenas 41% da quantidade total de fibras contribui como reforo na

    matriz.

    Figura 2.8- Fibra de comprimento L orientada aleatoriamente.

    Alguns pesquisadores desenvolveram equaes que podem ser utilizadas

    para se calcular a resistncia flexo, trao, ruptura das fibras e tenacidade entre

    outros parmetros, a saber:

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  • Fibras Naturais 48 48

    - Swamy e Mangat (1974) , Swamy, Mangat e Rao (1974):

    Para deformaes elsticas iguais na fibra e na matriz a resistncia trao

    em um compsito dada pela regra das misturas como:

    ffmmtct vv += (2.7)

    O mdulo de ruptura da matriz pode ser relacionado a sua resistncia

    trao:

    mtmf = (2.8)

    Multiplicando a equao 2.7 por tem-se:

    ffmmfct vv += (2.9)

    Para concreto reforado por fibras, o mdulo de ruptura pode ser

    relacionado ao mdulo de resistncia flexo Z:

    ZM mf= (2.10)

    onde M o momento aplicado e cIZ = .

    Entretanto notrio que a linearidade no pode ser aplicada para concreto

    fibroso e a distribuio no linear da tenso de flexo relacionada a tenso de

    trao:

    )( ZM ct = (2.11)

    onde, um fator que correlaciona a tenso na fibra, o modulo da resistncia flexo da seo e o momento aplicado.

    Das equaes 2.10 e 2.11 tem-se:

    ctmf = (2.12)

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  • Fibras Naturais 49 49

    E pelas equaes 2.9 e 2.12 tem-se:

    ffmmfct vv += (2.13)

    ou

    ffmmfcf vv += (2.14)

    Para compsitos que falhem por arrancamento pode-se substituir f na equao 2.14 por:

    2dL fc = (2.15)

    Substituindo a equao 2.15 em 2.14 tem-se:

    d/Lv82,0v fmmfcf += (2.16)

    Como na equao 2.16 a constante relaciona a tenso na fibra do compsito ao momento aplicado e a tenso na fibra depende da tenso de adeso

    interfacial, , pode-se reescrever a equao 2.16 como:

    d/Lv82,0vA fmmfcf += (2.17)

    onde, o valor de inclui a influncia de .

    -Aveston, Mercer e Sillwood (1974):

    Para fibras curtas Aveston et al.(1974) desenvolveram um modelo para se

    avaliar o limite de resistncia do compsito. Foi assumido que L < Lc e que a

    resistncia ao arrancamento das fibras suficiente para suportar o carregamento

    no compsito. Dessa forma a resistncia seria simplesmente igual a fora

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  • Fibras Naturais 50 50

    friccional necessria para o arrancamento das fibras com comprimento mdio de

    L/4 multiplicado pelo nmero de fibras por rea . 2f r/vN =

    dLv

    rv

    4Lr2 f2

    fc

    =

    = (2.18)

    Se for assumido que o decrscimo na tenso de adeso interfacial proporcional a

    tenso da fibra tem-se que:

    20 rKF= (2.19)

    e

    rKL21

    Lr2Lr2F 0

    +== (2.20)

    onde,

    F = fora de arrancamento mdia.

    A resistncia do compsito seria ento o produto da fora de arrancamento mdia

    por fibra, entre L = 0 e L = l/2 e pelo nmero de fibras por unidade de rea

    : 2f r/vN =

    +=+

    = rKL1logKLr1Kv

    rKL21

    Lr2L2

    rv 0f

    2/l

    0

    02

    fu (2.21)

    - Aveston, Cooper e Kelly (1971):

    Neste trabalho foi deduzido um modelo para a tenso de ruptura das fibras a qual

    dada pela equao 2.22:

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  • Fibras Naturais 51 51

    31212/

    =

    fc

    mfmsfuc vrE

    vEEU (2.22)

    onde,

    ='x

    fs vdxrr

    vU

    02

    2

    v = deslocamento na fibra deslocamento na matriz. r = raio da fibra.

    x = comprimento necessrio para fibras contnuas transferirem o carregamento

    por rea unitria do compsito.

    =2

    rvv

    x mf

    m'

    - Marston, Atkins e Felbeck (1974):

    Marston et al. (1974) desenvolveram um modelo para o clculo da

    tenacidade total em um compsito. Este modelo baseado na soma das

    tenacidades de arrancamento das fibras, formao de novas superfcies e

    redistribuio de tenses.

    A energia liberada na criao de novas superfcies durante a fratura do

    material foi a novidade no modelo de Marston. Para se determinar a tenacidade

    gerada pela formao de novas superfcies necessrio levar em conta a rea

    criada pela fratura das fibras, matriz e interface fibra-matriz.

    A seo transversal da nova rea criada pela fratura das fibras pode ser

    aproximada por:

    4dNA

    2

    f= (2.23)

    onde, N igual ao nmero total de fibras fraturadas e d o dimetro da fibra.

    Rf pode ser ento definido como a tenacidade superficial da fibra.

    O segundo tipo de superfcie formada a rea da seo transversal da

    matriz a qual pode ser aproximada pela equao

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  • Fibras Naturais 52 52

    fnomm AAA = (2.24)

    onde, Anom a rea da seo transversal.

    A tenacidade da matriz Rm determinada experimentalmente.

    O terceiro tipo de superfcie formada aquela criada entre a fibra e a

    matriz como o resultado de fraturas interfaciais. A rea criada por essa fratura :

    dLNAif = (2.25)

    onde, L o comprimento mdio exposto da fibra nas metades da superfcie

    fraturada. Se as fibras fraturam de forma aleatria, o comprimento mdio das

    fibras expostas ser do seu comprimento total. Dessa forma

    4dLN

    A cif= (2.26)

    Sendo Rif a energia associada a interface, a energia total consumida igual a

    ifc

    m

    2

    nomf

    2

    total R4dLN

    R4dNAR

    4dNU

    +

    += (2.27)

    A tenacidade definida como a razo da energia total dissipada pela rea

    de dissipao.

    nom

    total

    AU (2.28)

    A rea nominal pode ser relacionada a frao volumtrica das fibras:

    nom

    2

    f A4dNv = (2.29)

    Dessa forma tem-se:

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  • Fibras Naturais 53 53

    f

    2

    nom v4dNA = (2.30)

    A substituio das equaes 2.27 e 2.30 em 2.28 resulta em:

    dRLv

    R)v1(RvR ifcfmfffs ++= (2.31)

    Utilizando =2

    dL fc

    obtm-se de forma equivalente,

    ++=2

    RvR)v1(RvR ifffmfffs (2.32)

    Se vfRf for muito pequeno tem-se

    +=2

    RvRvR ifffmms (2.33)

    A frmula geral seria ento:

    ifc

    fmmf

    3ff

    2ff

    total RdL

    vRvE6

    dv24

    dvR ++

    += (2.34)

    onde, a tenacidade devido ao arrancamento das fibras, Rpo corresponde primeira

    parcela da equao 2.34 e a tenacidade devido a redistribuio das tenses,

    segunda.

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  • Fibras Naturais 54 54

    - Mai (1979)

    Mai utilizou a mesma metodologia para o clculo da tenacidade daquela

    usada por Marston, ou seja, a tenacidade total do compsito aquela proveniente

    das contribuies das diferentes tenacidades: formao de novas superfcies,

    redistribuio de tenses e arrancamento de fibras.

    Mai sugeriu que a parcela de distribuio de tenses, Rre pode ser

    desprezada para compsitos cujo comprimento das fibras seja inferior ao

    comprimento crtico. Desta forma a nica parcela da equao seria a tenacidade

    correspondente ao arrancamento das fibras, Rpo:

    d6Lv

    R2

    fpo

    = (2.35)

    A parcela resultante da formao de novas superfcies dada pela equao

    2.36:

    dRL4

    )v(RvR iffmms += (2.36)

    onde,

    L o comprimento mdio de arrancamento das fibras e foi definido como

    sendo igual a L/4.

    Rif = tenacidade resultante da interface fibra-matriz.

    d = dimetro da fibra

    = fator de eficincia.

    Mai tambm sugere uma simplificao de Rif por Rm quando no se tiver

    dados para calcular o primeiro. Com as simplificaes sugeridas por Mai a

    equao 2.36 fica da seguinte forma:

    dLR

    )v(RvR mfmms += (2.37)

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  • Fibras Naturais 55 55

    E a equao para o clculo da tenacidade total:

    mf

    m

    2f

    total RdLv

    vd6Lv

    R

    ++= (2.38)

    - Mai, Foote e Cotterell (1980):

    Em seu trabalho Mai et al. (1980) sugeriram uma equao para o clculo

    da tenacidade em compsitos hbridos (asbesto + fibra celulsica). Estes

    compsitos possuam suas fibras dispostas aleatoriamente e falharam por

    arrancamento. A equao proposta a seguinte:

    mc

    cc

    a

    aacaoc

    c

    2c

    caa

    2a

    a RdL

    vdL

    v)vv1)(v1(dL

    vdL

    v6

    R

    +

    ++

    +

    =

    (2.39)

    onde, os subscritos o, a, c denotam vazios, fibras de asbesto e fibras de

    celulose respectivamente.

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  • Fibras Naturais 56 56

    2.10. O cimento amianto

    Asbesto ou amianto o nome geral que se d a diversos tipos de silicatos

    minerais fibrosos cristalinos os quais possuem propriedades fsicas e qumicas

    nicas (Hannant, 1978; Coutts, 1988). Os nomes latino e grego, respectivamente,

    amianto e asbesto, tm relao com suas principais caractersticas fsico-qumicas,

    incorruptvel e incombustvel. Os dois grupos principais so as serpentinas e os

    anfiblios. De longe o mineral mais abundante a crisolita (3MgO.2SiO2.2H2O)

    ou asbesto branco, sendo este o principal componente do grupo das serpentinas. A

    crisolita constitui mais de 90 % das reservas mundiais de amianto e usada em

    larga escala na produo do cimento amianto (Hannant, 1978). De acordo com

    Coutts (1992) 3 tipos de amianto so usados significativamente na indstria do

    cimento amianto. So estes a crisolita (asbesto branco) visto na figura 2.9, a

    amosita (asbesto cinza-marrom) e a crocidolita (asbesto azul).

    (a) (b) Figura 2.9 Crisolita em seu estado bruto (a) e vista ao microscpio (b).

    A crisolita apresenta uma resistncia qumica a meios alcalinos fortes,

    refletindo assim na durabilidade observada nos produtos de cimento amianto.

    Entretanto, as fibras so susceptveis a perdas de resistncia quando submetidas a

    elevadas temperaturas e acima de 400 0C sua resistncia decai bastante (Hannant,

    1978). O tipo de fibra mais forte do grupo dos anfiblios a crocidolita ou asbesto

    azul (Na2O.Fe2O3.3FeO.8SiO2.H2O). A crocidolita considerada como a mais

    perigosa forma do asbesto no ponto de vista de risco sade. Outras formas de

    asbesto pertencentes ao grupo dos anfiblios so a amosita, a antofilita, a

    tremolita e a actinolita.

    Desde 1900 o tipo mais importante de compsito cimentcio produzido

    comercialmente tem sido o cimento amianto. A proporo em relao a massa de

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  • Fibras Naturais 57 57

    fibras de amianto normalmente entre 9 a 12 % para placas corrugadas, 11 a 14 %

    para tubos de presso e o aglomerante utilizado normalmente o cimento Portland

    (Hannant, 1978). O sucesso do cimento amianto pode ser explicado pela

    compatibilidade entre as fibras e a matriz cimentcia. Isto devido ao alto mdulo

    de elasticidade e resistncia das fibras e a sua afinidade com o cimento Portland, o

    que permite uma disperso efetiva em porcentagens relativamente altas de fibras

    (10% ou mais) e garante boa aderncia fibra-matriz no compsito endurecido

    (Bentur et al., 1990). Algumas propriedades mecnicas e fsicas dos tipos de

    asbesto e do seu compsito podem ser verificadas na tabela 2.9.

    Tabela 2.9 Propriedades mecnicas e fsicas do amianto.

    Autores

    Tipo

    Resistncia

    flexo

    (MPa)

    Resistncia

    trao

    (MPa)

    Mdulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Densidade

    (kg/m3)

    Comp.

    (mm)

    Pasta de

    Cimento

    pura

    7-8 5-6 15 - -

    Cimento

    Amianto

    30-40 17-20 28-35 - -

    Studinka

    (1989)

    Crisolita - 3600 150 - -

    Sinha

    (1975)

    Crisolita - 300-1250 - 2500 22,2

    Crisolita - 3100 164 2550 - Rilem

    19FRc

    (1982) Crocidolita - 3500 196 3370 -

    Crisolita - 3100 164 - - Beaudoin

    (1990) Crocidolita - 3500 190 - -

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  • Fibras Naturais 58 58

    No quadro 2.1 feita uma comparao entre as caractersticas do amianto

    e das fibras vegetais. Quadro 2.1 Principais diferenas entre amianto e fibras vegetais.

    Amianto Fibras vegetais

    No combustvel Combustvel

    Apresenta risco sade No apresenta risco sade

    Melhor disperso das fibras Pior disperso das fibras

    Alto custo Baixo custo

    Maior consumo de energia Menor consumo de energia

    2.10.1. Resistncia ao impacto

    A resistncia ao impacto do cimento amianto notoriamente baixa e isso

    pode ser explicado em parte pela rigidez do material na zona de ps-fissuramento

    da matriz. Outro fator que contribui que as fibras curtas possuem pouca

    capacidade de absorver energia atravs do arrancamento. De acordo com

    Agopyan (1983) a resistncia ao impacto do cimento amianto de 2 kJ/m2.

    Entretanto este trabalho no relata o tipo de ensaio nem a geometria do corpo de

    prova. Krenchel (1964), em seu trabalho, obteve para o ensaio de impacto Charpy

    com velocidade de 3,4 m/s e geometria de 30 x 70 mm o valor de 2,71 kJ/m2.

    2.10.2. Tecnologia de produo

    O cimento amianto foi inventado por L. Hatschek, um austraco que em

    1900 patenteou o processo de fabricao do cimento amianto sob o ttulo de

    Verfahren zur Herstellung von Kunststeinplatten aus Faserstoffen und

    Hydraulischen Bindemitteln (Processo de manufatura para folhas de pedras

    sintticas e agentes de ligao hidrulica) (Studinka, 1989). As tcnicas de

    manufatura do processo Hatschek permanecem basicamente as mesmas at hoje

    sendo bem parecidas com a produo de papel pesado (Coutts,1988). No

    processo Hatschek uma soluo aquosa de asbesto e cimento, na proporo de 7 a

    10 % de slidos, colocada em um tanque contendo cilindros rotativos. Os

    cilindros retm a matria slida, removendo um pouco da gua. Uma banda

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  • Fibras Naturais 59 59

    rotativa movimenta-se sobre a superfcie dos cilindros retendo uma fina camada

    da mistura de cada cilindro como pode ser visto na figura 2.10.

    Figura 2.10 Esquema de produo atravs do processo Hatschek.(Coutts, 1992).

    A mistura ento movimentada sobre uma regio onde aplicado vcuo o

    qual remove a maior parte da gua ainda restante. A frmula passa sob um

    cilindro vrias vezes at que um produto de espessura desejada seja obtido. O

    material depois comprimido por rolos de presso.

    Outros Processos de fabricao:

    a) Processo Mazza

    Este processo utilizado para a fabricao de tubos de presso feitos de

    cimento amianto sendo uma modificao do processo Hatschek.

    b) Processo Magnani

    Neste processo a taxa slidos/gua est prxima a 0,5 e a mistura

    aquecida e bombeada em um cinto onde a mesma prensada e nivelada por

    rolamentos. Tanto os cintos quanto os rolamentos podem ser feitos de forma a se

    poder fabricar tanto folhas corrugadas quanto lisas.

    c) Processo de extruso de Manville

    As fibras de asbesto, o cimento, a slica fina e plastificantes como o xido

    de polietileno so inseridas em um misturador com gua suficiente apenas para

    produzir uma mistura rgida. A mistura ento forada atravs de uma prensa de

    ao com aquecimento, para produzir sees extrudadas de perfil desejado.

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  • Fibras Naturais 60 60

    2.10.3. Riscos sade

    As fibras constituintes do mineral asbesto so muito finas e podem

    facilmente ficar em suspenso no ar. Sob essas circunstncias, a forma fsica e a

    inrcia qumica destas fibras combinam-se para criar um grande problema sade

    dos trabalhadores de indstrias que manuseiam tal mineral ou outros expostos de

    forma similar.

    De acordo com a ABREA as seguintes doenas podem ser causadas por

    exposio prolongada ao asbesto (ABREA, 2004):

    Asbestose: endurecimento lento do pulmo o qual causa a falta de ar progressiva, cansao, emagrecimento, dores nas pernas e costas. No tem

    cura e progride mesmo que nunca mais se exponha poeira do amianto. O

    tratamento empregado para diminuir os sintomas da falta de ar. Em geral

    os sintomas levam de 15 a 25 anos para se manifestar, porm pode ocorrer

    antes, caso se tenha tido uma exposio a grandes quantidades de poeira.

    Cncer de pulmo

    Mesotelioma de Pleura (tecido que reveste o pulmo) e Pleritnio (tecido que reveste a cavidade abdominal): tumor maligno que mata em at dois

    anos aps confirmado o diagnstico. O mesotelioma uma doena que

    pode apresentar-se at 35 anos aps a contaminao.

    Doenas Pleurais (placas, derrames, espessamentos, distrbios ventilatrios): embora alguns mdicos digam que sejam benignas, elas

    trazem uma srie de incmodos como falta de ar e cansao. Ningum

    nasce com essa doena, esta adquirida no trabalho e pelas condies que

    o trabalho se desenvolve. As empresas em geral, recusam vagas para

    trabalhadores portadores dessas doenas alegando que no esto aptos para

    o trabalho.

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  • Fibras Naturais 61 61

    Cnceres de Faringe e do aparelho digestivo: j existem muitas evidncias de que estas doenas se manifestam em quem esteve exposto ao amianto.

    Hoje em dia a produo e o processamento de produtos a base de amianto

    esto sujeitos a medidas e controles de segurana bastante rgidos sendo sua

    proibio j sancionada em diversos pases, principalmente nos mais

    desenvolvidos. O tempo mdio de incubao de doenas causadas pelo asbesto

    est entre 10 e 40 anos. Devido a este fato possvel que a longo prazo um

    grande nmero de doenas relacionadas ao asbesto se desenvolva. interessante

    notar que o risco de se desenvolver cncer de pulmo para fumantes expostos ao

    asbesto muito maior em comparao a no fumantes (Studinka, 1989).

    Na literatura mdica, vrios artigos sobre doenas causadas pela exposio

    ao asbesto podem ser encontrados (Acheson et al., 1984; Albin et al., 1990; Berry

    et al.,1985; Hodgson et al. , 2000; Smith et al. 1996). Por uma anlise destes

    artigos pode-se concluir que realmente a exposio ao asbesto prejudicial

    sade causando as doenas enumeradas acima. Entretanto existem divergncias

    sobre a potencialidade de risco de cada tipo de asbesto. Sendo que, de acordo com

    Hodgson et al. (2000) a crisolita em seu estado puro (sem tremolita) pode

    apresentar nenhum risco ou baixo risco ao cncer. Entretanto de acordo com

    Smith e Wright (1996) no existem diferenas entre os diferentes tipos de asbesto

    no que diz respeito aos riscos sade.

    Motivado pela divergncia na comunidade cientfica da rea tecnolgica

    sobre o risco da exposio ao asbesto e a ttulo de curiosidade apresentado no

    quatro 2.2 o risco quantitativo gerado pela exposio ao asbesto. Estes riscos esto

    relacionados a duas doenas, Mesotelioma e cncer de pulmo e foram extrados

    do trabalho de Hodgson et al. (2000).

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  • Fibras Naturais 62 62

    Quadro 2.2 Sumrios de riscos quantitativos relativo a exposio ao asbesto para

    diferentes nveis de exposio.

    Fibras Mesotelioma Cncer de pulmo

    Exposio acumulada entre 10 e 100 f/ml.yr

    Crocidolita 400 mortes por 100.000

    expostos.

    100 a 150 mortes por

    100.000 expostos

    Amosita 65 mortes por 100.000

    expostos.

    -

    Crisolita 2 mortes por 100.000

    expostos.

    5 mortes por 100.000

    expostos.

    Exposio acumulada de 1 f/ml.yr

    Crocidolita 650 mortes por 100.000

    expostos.

    85 mortes por 100.000

    exposies.

    Amosita 90 mortes por 100.000

    expostos.

    -

    Crisolita 5 mortes por 100.000

    expostos.

    2 mortes por 100.000

    exposies.

    Exposio acumulada de 0,1 f/ml.yr

    Crocidolita 100 mortes por 100.000

    exposies.

    4 mortes por 100.000

    exposices.

    Amosita 15 mortes por 100.000

    exposies.

    -

    Crisolita Risco provavelmente

    insignificante. Estimativa

    mais elevada de 4 mortes

    por 100.000 exposies.

    Provavelmente no

    significativa. Porm

    argumentado que uma

    estimativa de 10 mortes

    por 100.000 exposies

    possa ser justificvel.

    Onde: f = fibra, ml = 1/28316,8 ps cbicos e yr = ano.

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