Faculdade Meridional – IMED
Escola de Saúde
Curso de Psicologia
Relatório de Pesquisa
Trabalho de Conclusão de Curso
A INFLUÊNCIA DO FACEBOOK NA SATISFAÇÃO DAS RELAÇÕES
AMOROSAS
Jenifer Franciele Pinno
Passo Fundo
2016
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JENIFER FRANCIELE PINNO
A INFLUÊNCIA DO FACEBOOK NA SATISFAÇÃO DAS RELAÇÕES
AMOROSAS
Relatório de Pesquisa apresentado pela
Acadêmica de Psicologia Jenifer Franciele
Pinno da Faculdade Meridional – IMED,
como requisito para desenvolver o Trabalho
de Conclusão de Curso, indispensável para a
obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.
Orientadora: Prof.ª Susana König Luz
Passo Fundo
2016
3
JENIFER FRANCIELE PINNO
A INFLUÊNCIA DO FACEBOOK NA SATISFAÇÃO DAS RELAÇÕES
AMOROSAS
Relatório de Pesquisa apresentado pela
Acadêmica de Psicologia Jenifer Franciele
Pinno, da Faculdade Meridional – IMED,
como requisito para desenvolver o Trabalho
de Conclusão de Curso, indispensável para a
obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.
Aprovado em: ____ de _____ de 2016.
BANCA EXAMIDANORA
______________________________________________________
Prof. Luís Ronaldo de Oliveira
Faculdade Meridional – IMED, Brasil
______________________________________________________
Profa . Claudia Lampert
Faculdade Meridional – IMED, Brasil
______________________________________________________
Profa. Susana König Luz
Faculdade Meridional – IMED, Brasil
Passo Fundo
2016
4
Resumo
O Facebook é conhecido como a rede social com maior número de usuários no mundo,
dessa forma, estar em um relacionamento amoroso que seja mediado por essa rede tem
sido algo bastante desafiador para os relacionamentos amorosos na atualidade. Diante
disso, este estudo teve como principal objetivo o de investigar de que forma o Facebook
pode estar influenciando na satisfação das relações amorosas. O processo de coleta de
dados deu-se por um grupo focal com dez participantes, cinco homens e cinco mulheres. O
mesmo configurou-se a partir de perguntas semiestruturadas, as quais foram gravadas,
transcritas e após verificadas através de análise de conteúdo. O resultado deste estudo
mostra o quanto a exposição do relacionamento amoroso na rede social é considerada
importante pelos casais, assim como, também, expor o status do relacionamento na
mesma. No entanto, o que ficou fortemente evidenciado no estudo conduzido foram os
aspectos que se relacionam às curtidas e o quanto isso pode atrapalhar o relacionamento.
Portanto, concluiu-se com a pesquisa realizada que o Facebook quando utilizado de
maneira saudável pelo casal não atrapalha na satisfação dos mesmos, porém, a partir do
momento que surgir ameaças para este relacionamento, como sentimentos de ciúmes ou
discussões decorrentes dessa ferramenta, pode sim influenciar significativamente.
Palavras-chave: Facebook. Relações amorosas. Satisfação.
5
Abstract
Facebook is known as the social network with biggest number of users in the world,
therefore, being in a loving relationship that is mediated by this network has been
something enough challenging to loving relationships today. Faced with this, the present
had as main goal to investigate how Facebook can be influencing the satisfaction of
relationships. The data collection process was given by a focal group with ten participants,
five men and five women. The same set up from semi-structured questions, which were
recorded, transcribed and after verified through content analysis. The result of this study
shows how the love of exhibition at the Social Network is considered important for
couples, and also display the status of the relationship. However, what was strongly
evidenced in the study conducted were the aspects that relate to likes and how it can
disrupt the relationship. Therefore, it was concluded with the realized research that
Facebook when used in a healthy way by the couple does not hinder the satisfaction of
them, however, since the moment that arise threats to this relationship, as feelings of
jealousy or disputes arising from this tool, it can influence significantly.
Keywords: Facebook. Loving relationships. Satisfaction.
6
Sumário
1 Introdução .............................................................................................................................. 7
2 Método .................................................................................................................................. 12
2.1 Delineamento..................................................................................................................... 12
2.2 Participantes ..................................................................................................................... 13
2.3 Instrumentos ..................................................................................................................... 13
2.4 Procedimentos................................................................................................................... 14
2.5 Análise de dados ............................................................................................................... 16
3 Resultados ............................................................................................................................ 16
3.1 Satisfação diante de demonstrações de amor expostas no Facebook............................17
3.2 Mudança de status de relacionamento .............................................................................19
3.3 Expor a relação no Facebook é mais significativo para as mulheres ...........................21
3.4 Ciúmes da rede social, curtida e comentários, e o medo do parceiro ser infiel ...........23
4 Discussão .............................................................................................................................. 28
Referências .............................................................................................................................. 30
Apêndice A - Parecer consubstanciado de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa . 34
Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................................. 37
7
1 Introdução
Em tempos de relacionamentos permeados por uma maior exposição nas redes
sociais, relacionar-se exige que ambos os parceiros estejam satisfeitos com a relação e com
a referida exposição, e isso tem sido algo cada vez mais difícil de encontrar. Este artigo
discutirá exatamente sobre esse tema.
Satisfação é uma palavra que no século XX tornou-se fundamental quando se trata
de relações amorosas. Ter suas expectativas alcançadas e seus desejos correspondidos é
considerado como algo elementar para que exista uma boa relação. Isso quer dizer que,
para a sociedade contemporânea, viver um relacionamento está diretamente ligado a níveis
de felicidade e satisfação (Scorsolini-Comin & Santos, 2010).
Ao falar sobre satisfação não se pode deixar de pontuar que esse é um tema que
envolve um complexo muito grande de fatores, sendo um deles a história de vida de cada
parceiro, bem como as suas necessidade e expectativas diante da relação (Hernandez &
Oliveira, 2003). Dessa forma, a satisfação vai depender do olhar de cada um para a relação
e como ela irá se manter, funcional ou disfuncional.
Segundo Scorsolini-Comin e Santos (2010), o nível de satisfação de um
relacionamento está relacionado ao envolvimento emocional do casal, ou seja, às
demonstrações de amor e afeto que sentem um pelo outro. Também foi encontrado outro
elemento importante que podemos relacionar aos estudos da satisfação amorosa, que é a
empatia, já que essa é fundamental no ser humano para que se construa uma boa
convivência. Pesquisas na área comprovam que quanto maior a empatia de ambos os
membros do casal, melhor será a satisfação desse relacionamento, assim como, níveis
elevados de demonstrações de afeto também colaboram para uma relação de qualidade
(Sardinha, Falcone & Ferreira, 2009).
8
Na atualidade, o que tem se notado é um crescente aumento de relacionamentos
instáveis no campo do amor, isso quer dizer que os indivíduos estão mais focados em sua
vida profissional e passam a investir menos em seus relacionamentos amorosos. Sendo
assim, as exigências aumentaram significativamente em relação à satisfação do amor, uma
vez que se um dos parceiros não está satisfeito a relação passa a ser desinvestida, pois, as
pessoas não toleram mais frustrações e evitam sentirem-se tristes (Schimitt & Imbelloni,
2011).
O amor tem sido um dos sentimentos mais desejados pelo ser humano nos último
anos (Haacke & Falcke, 2014). Na antiguidade o amor não era considerado importante
para um relacionamento, uma vez que era visto como um pecado da carne, e quem escolhia
o parceiro era a família, diante de interesses políticos e econômicos. Foi a partir do século
XVIII que o amor e a sexualidade começaram a ser considerados fundamentais na escolha
de um parceiro e para o início de um relacionamento, criando-se, assim, vínculos afetivos
entre os casais (Scorsolini-Comin & Santos, 2010).
Vivemos em busca de alguém com quem possamos compartilhar nossas
experiências de vida. Em diversos estudos na área, o significado do amor aparece
relacionado ao sentimento por uma pessoa a qual nós somos fortemente atraídos e
apegados. Segundo Bauman (2005), amar é doar-se ao outro, expor todas as suas forças à
pessoa amada, é um desejo incontrolável de estar junto e de cuidar do outro.
De acordo com Hernandez e Oliveira (2003), são nas relações amorosas que os
seres humanos vivem suas maiores emoções e prazeres. Pensando assim, faz- se necessário
que as pessoas se esforcem muito mais para investir em seus relacionamentos amorosos,
uma vez que este é considerado responsável por gerar um nível de felicidade maior em
relação às pessoas que não o vivenciam. Mônego e Teodoro (2011) falam sobre a teoria
triangular do amor, onde existem três elementos essenciais para compreender o significado
9
do amor relacional: intimidade, paixão, e a decisão/compromisso. A intimidade é vista
como um sentimento de união, a paixão está ligada com desejos sexuais e a decisão e
compromisso relacionam-se com o desejo de mantê-lo.
Uma relação de amor romântico não está somente envolvida com dois sujeitos de
carne e osso, mas sim podem existir muitas imaginações e fantasias de ambos os parceiros,
e esse é o fator que pode vir a abalar a satisfação em um relacionamento (Mônego &
Teodoro, 2011). Colaborando com esses autores, a psicologia positiva traz que o amor é
um componente central de todas as sociedades humanas. O amor dá profundidade aos
relacionamentos humanos, especificamente, aproxima as pessoas, física e emocionalmente.
Quando vivenciado com intensidade, faz com que os sujeitos envolvidos pensem de forma
ampla sobre si mesmos e o mundo (Snyder & Shane, 2009).
No entanto, diversas mudanças nos relacionamentos ocorreram nos últimos anos no
mundo contemporâneo. Essas refletem e influenciam as práticas amorosas
significativamente. Não podemos negar que com a entrada da internet em nossas vidas,
surgiram novas formas de se relacionar e de manter vínculos. Diante disso, as redes
colocam em perigo as relações reais, pois, de certa forma, vem facilitando os
relacionamentos extraconjugais e elevando separações e divórcios (Bauman, 2005).
De acordo com estudos de Nascimento (2007), a internet também tem sido um
importante instrumento na busca de parceiros, mas, principalmente, para estabelecer laços
sociais, representando novas possibilidade de interação e comunicação. No contingente de
redes sociais toma-se, especialmente, o Facebook - que está entre as mais utilizadas da
internet para estabelecer vínculos e comunicação (Reis et al., 2012). Na visão de Canezin
e Almeida (2015), as redes sociais surgiram com o propósito de unir as pessoas que estão
distantes, e de aumentar a rede de relacionamentos dos indivíduos.
10
No ano 2007, o Facebook aprimorou suas páginas, possibilitando maiores
interações entre internautas, o que veio a expandir o número de usuários
significativamente, posterior a isso, propiciou um impacto na sociedade intensificando os
vínculos virtuais. Em vista disso não podemos negar o quanto o Facebook teve influência
na vida das pessoas, principalmente nos relacionamentos amorosos. Isso, em conseqüência
de que surgiram diversos sentimentos, como ciúme e inveja, que vem envolvendo essas
redes e as relações, já que a necessidade de expor a vida pessoal diante de pessoas que
você conhece, ou até mesmo não conhece, virou fundamental para satisfação pessoal (Reis
et al., 2012).
Segundo Nunes e Munhoz (2013), manter uma relação virou algo bastante
desafiador diante da realidade das redes sociais, pois, tudo pode se tornar mais
interessante. Dessa forma, estudos apontam que existem diversas ameaças aos casamentos
e namoros no Facebook, e que queixas como essas vem se intensificando nos consultórios.
Além do mais, ele pode estar entre as maiores causas de ciúmes nos relacionamentos, pois,
segundo Nunes e Munhoz (2013), quanto mais tempo se está conectado mais desconfiança
poderá surgir.
Autores como Haack e Falcke (2014), afirmam que essas novas formas de se
relacionar podem estar sendo prejudiciais aos indivíduos, já que os mesmos estão
apresentando dificuldades em construir relações afetivas cara a cara. Ainda, pelo fato de,
muitas vezes, estarem até evitando esses contatos, pois, sabem que a internet facilita até a
maneira das pessoas se expressarem. Com tais percepções, são, principalmente, as relações
de casais que têm sofrido maior impacto, uma vez que a maioria das pessoas sente medo
de expressarem seus sentimentos em um contato físico, mas nos contatos virtuais
experienciam maior facilidade em dizer o que pensam.
11
Segundo Canezin e Almeida (2015), as redes sociais têm sido objeto de estudos no
que tange às relações amorosas, principalmente pelo fato, como já exposto, de que vem
aumentando casos de e brigas constantes de casais em função dessa tecnologia. Afirmam
os referidos autores, que são os adolescentes os maiores prejudicados, pois quando
assumem uma relação amorosa, principalmente as meninas, assumem um papel de posse
do parceiro, investigando seu perfil profundamente e de forma exagerada. Tal conduta é
levada a termo, na maioria dos casos, muitas vezes ao dia, motivada por sentimentos de
insegurança que podem vir a prejudicar até a vida pessoal e escolar da adolescente.
Canezin e Almeida (2015) expõem, ainda, que as maiores queixas dos casais são em
relação ao medo de que o parceiro seja infiel na internet, mantendo contanto com ex-
namoradas, ou ex-esposas, o que tem causado uma angústia crescente nesses indivíduos.
Atualmente, o que mais está sendo considerado como audiência no Facebook são
os status de relacionamento, tanto para aqueles que já estão em um parceiro, como para os
que procuram algum tipo de relação na internet, uma vez que essa é a primeira informação
a qual se recorre. Além disso, para muitos casais, informar o status publicamente é
considerado como um sinal de segurança e confiança no parceiro (Orosz, Szekeres, Kiss,
Farkas & Roland- Lévy, 2015). Sobre a questão, Canezin e Almeida (2015) afirmam que a
publicação da mudança de status de relacionamento no Facebook pode ser uma forma
encontrada pelos casais de elevar a autoestima e, até, de considerarem como se fosse um
aviso de que essa pessoa já tem “dono”. Além disso, afirmam que, hoje, os casais estão
usando algumas regras para se portarem nas redes sociais, como as de curtir as fotos do
parceiro, comentar e compartilhar publicações, para que os outros vejam o quanto o casal
está feliz.
Diante de estudos de Orosz et al. (2015), o Facebook, e mais precisamente o status
de relacionamento, seria uma forma de segurança do casal perante outros admiradores,
12
uma vez que, destacam questões ligadas à exposição do casal na rede social como sendo de
maior importância para as mulheres do que para os homens, já que, para elas o status é
visto como um passo importante no relacionamento do casal. Muitas vezes, até como uma
prova de amor publicamente expressa. Nesse caso, o status é considerado como uma
aliança digital, inclusive pode estar substituindo alianças convencionais, já que nos dias de
hoje percebe-se que as pessoas estão apresentando maior importância ao que se expõem
virtualmente do que ao que se vive fora do ambiente virtual. Outro apontamento de Orosz
et al. (2015) refere-se ao fato de que se o status não é publicado em seu perfil, o casal pode
estar “fora de moda”.
Diante do apresentado, o presente estudo tem como objetivo investigar de que
forma o Facebook, usado para expor os relacionamentos amorosos, pode estar
influenciando na satisfação desses relacionamentos.
2 Método
2.1 Delineamento
O presente estudo baseia-se em uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório,
por meio da técnica de grupo focal, permitindo analisar de que forma um indivíduo ou
grupo pensa sobre determinado assunto (Trad, 2009). O método qualitativo, assim
conduzido, permite ao pesquisador uma análise mais aprofundada sobre o respectivo tema,
avaliando aspectos subjetivos das pessoas investigadas. Uma vez que, pelo fato de estarem
em um grupo, podem compartilhar suas experiências, o que possibilita uma facilidade
maior de terem insights e, assim, revelarem maiores informações (Creswell, 2010). O
grupo focal tem como objetivo o de trazer como discussão determinado assunto que será
13
abordado em tópicos pela pesquisadora. Como meio de pesquisa qualitativa, esse método
torna-se eficaz para auxiliar na produção de novas ideias a respeito de determinado
conteúdo (Gondim, 2003).
2.2 Participantes
Participaram do estudo dez sujeitos, de ambos os sexos, convidados por
conveniência da pesquisadora. A média de idade entre os participantes foi de 27 anos, a
média do tempo em que estavam em um relacionamento foi de cinco anos, a renda média
foi de R$ 2.500,00, sendo a mínima R$ 900,00 e a máxima R$ 4.000,00. Em relação ao
estado civil ou status de relacionamento, 30% deles apenas moram juntos, 30% são
casados e 60% estão namorando. No que tange à religião, 90% dos participantes são
católicos. Em relação à escolaridade, 40% possui ensino superior completo, 50% ainda são
estudantes de graduação e 10% possui pós-graduação. O critério de inclusão constituiu de
estar em um relacionamento amoroso há mais de um ano e compartilhar a relação no
Facebook. Nessa direção, o critério de exclusão foi o de não possuir Facebook.
2.3 Instrumentos
A pesquisa foi realizada através de um grupo focal. De acordo com Trad (2009),
essa técnica consiste em uma pesquisa qualitativa que tem como objetivo reunir um grupo
de sujeitos em um determinado local, a fim de fazer uma investigação sobre determinado
assunto, o qual, o grupo irá discutir entre si. Uma vez que possibilita uma maior interação
e diálogo entre os participantes, no grupo focal esses são estimulados a expor as suas
opiniões, visto que, para algumas pessoas, o fato de estarem em um grupo para a discussão
14
de determinado assunto facilita a forma como formulam os seus conceitos (Trad, 2009). A
pesquisadora interferiu o mínimo possível durante o encontro do grupo, pois estava
acompanhando apenas como moderadora para introduzir a discussão e estar atenta para
que os participantes não desviassem o assunto e, assim, manter o foco sobre os interesses
da pesquisa. A pesquisadora contou a ajuda de uma observadora, para auxiliar na
observação de reações dos participantes, pois, assim, facilita o trabalho do pesquisador.
Essa teve um papel passivo, e sua participação foi de suma importância para auxiliar a
pesquisadora a captar mensagens não verbais dos participantes, conforme direcionamento
dado por Creswell (2010).
2.4 Procedimentos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de São Francisco
(Apêndice A). A busca pelos participantes deu-se através do próprio Facebook, onde a
pesquisadora fez uma divulgação em sua rede social, conformatando uma amostra de dez
pessoas. Porém, surgiram alguns imprevistos, em função do horário do grupo focal, que
impossibilitou alguns integrantes da amostra original de participar. Tal fato exigiu uma
nova busca para manter o número de sujeitos, como programado.
O grupo focal estava agendado para as 19 horas do dia 28 de julho de 2016, na
Faculdade Meridional (IMED). No referido dia, a pesquisadora aguardava todos os
participantes recepcionando-os com um lanche e um café. As mesas estavam organizadas
em forma de círculo para que facilitasse o diálogo entre eles. Quando todos estavam
acomodados a pesquisadora apresentou-se, em seguida foi comentado sobre o tema da
pesquisa, após ocorreu a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice B), o qual já estava distribuído nas mesas. Todos os participantes assinaram
15
tomando ciência da utilização de gravadores no decorrer do grupo e, após, preencheram o
questionário sociodemográfico.
Posteriormente, foi apresentado ao grupo um vídeo que demonstra a situação de
receio de alguns parceiros em deixar o seu Facebook aberto, disponível para seu cônjuge
visualizar, considerando tal recurso como um estímulo para facilitar o início do debate. De
acordo com Gondim (2003), com o propósito de que a discussão do grupo focal flua de
maneira mais natural possível, é importante que se tenha um roteiro bem estruturado, pois,
isso evita que o moderador tenha que intervir diversas vezes durante o debate. Assim, após
o vídeo iniciou-se a discussão do tema, o qual foi organizado em seis tópicos embasados
por perguntas: todos compartilham o relacionamento no Facebook, com fotos e status de
relacionamento ?; Por que pra você é importante compartilhar o relacionamento amoroso
no Facebook?; Já ouve algum momento em que ocorreu algum conflito relacionado ao
Facebook no relacionamento amoroso?; O quanto é importante para você que seu
companheiro compartilhe o relacionamento de vocês no Facebook?; De 0 a 10, o quanto te
incomoda que o parceiro curta e comente publicações de outra pessoa?; Você ficaria mais
satisfeito se o seu parceiro não fosse usuário do Facebook?
No decorrer do grupo, na metade dos tópicos previamente elaborados, o segundo
vídeo foi apresentado para descontrair os participantes. O grupo teve duração de 1 hora e
20 minutos, todos os participantes demonstraram-se bastante envolvimento com a
temática, e a maioria fez colocações pertinentes. Muitas das quais geraram polêmicas, mas
que puderam ser discutidas entre eles e juntos acabavam concordando e entrando em um
consenso. Também teve aqueles que se expressaram mais facilmente, e outros que tiveram
um pouco mais de dificuldade de manifestar suas opiniões, mas que, ainda assim,
conseguiram fazer grandes contribuições para a pesquisa.
16
2.5 Análise de dados
O processo de análise de dados foi realizado a partir da transcrição do grupo focal e
análise de conteúdo. Diante das respostas dos participantes, notou-se a necessidade de
iniciar a separação das categorias a partir de questões que surgiram com maior ênfase
durante a discussão. Foram geradas, assim, quatro categorias: Satisfação diante de
demonstrações de amor expostas no Facebook; Mudança de status de relacionamento;
Expor a relação no Facebook é mais significativo para as mulheres; Ciúmes na rede social,
curtida e comentários, e o medo do parceiro ser infiel.
Após o processo de separação das categorias, todas as falas foram agrupadas de
acordo com as mesmas, visto que, o processo de análise dos dados deve conter dois
momentos importantes: a) análise específica do grupo; e, b) uma análise comparativa entre
as respostas (Trad, 2009). Assim procedendo, foi possível verificar as argumentações dos
participantes de forma criteriosa e sistemática, como se apresenta nos resultados e
discussões.
3 Resultado e Discussão
Optou-se em denominar os dez participantes como H1, H2, H3, H4, H5 e M1, M2,
M3, M4, M5, sendo que a letra H, indica participantes do sexo masculino e M, feminino.
Assim considerado, os resultados obtidos na pesquisa são expostos através dos dados
coletados no grupo focal e foram agrupados nas quatro categorias já identificadas, essas
formuladas conforme os objetivos do estudo e os conteúdos apresentados através das falas
dos participantes os quais foram transcritas e nesta etapa apresenta-se excertos.
17
3.1 Satisfação diante de demonstrações de amor expostas no Facebook
Perante a análise das falas transcritas a partir do grupo focal, pode-se concluir que
demonstrar o amor em público no Facebook vem sendo considerado como primordial nos
relacionamentos amorosos. Uma vez que a importância da exposição de demonstrações
afetivas na rede, independente do sexo, é vista como uma fonte de maior bem-estar,
expressão de autoestima e níveis elevados de felicidade (Scorsolini-Comin & Santos,
2010). Para os autores, viver um relacionamento que é compartilhado no Facebook, com
demonstrações de amor de ambos os membros do casal, está diretamente relacionado a
níveis elevados de felicidade e autoestima. Tais considerações foram ratificadas pela
amostra pesquisada, conforme relatado por M3:
“Eu gosto de postar, por que eu me sinto assim com a auto estima elevada. Eu acho que é bem
importante tu ter isso tipo, prova de amor ou surpresa”.
Assim como a questão da autoestima, níveis de satisfação de um relacionamento
pode estar associado ao envolvimento emocional do casal, ou seja, às demonstrações de
amor e afeto que sentem um pelo outro. Se formos considerar a individualidade de cada
parceiro podemos perceber que o bem–estar subjetivo é uma palavra que, atualmente,
encontra-se referida com grande frequência na literatura que se refere à felicidade. De
acordo com Scorsolini-Comin & Santos (2010), a maneira como cada parceiro compartilha
as questões amorosas e os sentimentos que sentem um pelo outro, e mostram que estão
juntos, pode ser uma fator relevante de satisfação não só amorosa, mas também um amplo
meio de satisfação com a própria vida. Tal condição também foi verificada na pesquisa
conduzida:
18
“As vezes o cara ta no dia a dia, e de repente entra no Facebook tem uma declaração, e isso pode
ajuda né, se tu ta em um dia carregado, aquilo vem e te anima, te coloca pra cima” (H5).
Uma relação amorosa necessita de trocas de afeto e carinho entre os companheiros
a fim de que seja satisfatória para o casal e, consequentemente, possam vivenciar o amor
romântico. Esse é o modo de como a maioria dos casais pauta suas relações, ou pelo
menos. como esperam que seja (Canezin & Almeida, 2015). Direcionamento semelhante
foi pontuado pelos pesquisados:
“Eu me sinto bem quando a minha esposa coloca uma declaração de amor”. (H2)
“É sinal que ele se importa. Assim como tu colocou algo espera que ele coloque também”. (M1)
No entanto, de forma contrária ao relatado por esses sujeitos, no que se refere ao
quanto gostam e sentem-se bem quando o parceiro demonstra seus sentimentos na rede
social, alguns homens que participaram deste estudo dizem que o fato de não divulgar
questões amorosas no Facebook não quer dizer que não sintam nada por suas parceiras:
“A verdade é que ali tu abre a tua vida [...] é por questão de não se expor mesmo, não preciso
mostrar pra todo mundo” (H4).
Dessa forma, a maioria dos participantes da pesquisa mostrou que se sente
intensamente importantes e potente diante das demonstrações de amor e da exposição do
relacionamento no Facebook.
19
3.2 Mudança de status de relacionamento
A segunda categoria estudada refere-se à exposição do status de relacionamento na
rede social, uma vez que a maioria dos casais muda-o quando estão em um relacionamento
sério. Tal ação é justificado pelo fato de que, ao mesmo tempo em que ficam mais seguros,
também podem evitar incômodos colocando um limite para quem está de fora da relação.
Compartilhar a união e deixar exposto o status do casal, é como se fosse uma
declaração de segurança na relação, já que, modernamente, os casais entendem essa
exposição como uma prova de amor. Alguns estudos na área revelam que mudar o status
no Facebook, atualmente, consiste em uma aliança digital, como se esse vínculo nas redes
fosse mais importante que o sentimento que estão vivenciando entre ambos (Orosz et al.,
2015). Tais constatações são sublinhadas por M1 e H5 ao dizerem que:
“Muitas vezes a gente acaba botando no perfil relacionamento sério para pessoas saberem que
você tem alguém e que tem um limite”.
“No Facebook tá lá né pra as pessoas ver que eu estou com alguém”.
De acordo com Orosz et al. (2015), a mudança do status de relacionamento é o
maior número de audiência no Faceebook, com maior quantidade de curtidas e
comentários, em razão de que as pessoas esperam por isso. É, segundo os autores, como se
você fosse mais importante que o outro e sente-se mais valorizado que o outro pelo
simples fato de estar em um relacionamento. Além disso, também existe a cobrança,
conforme foi relatado por H1, quando ele diz:
20
“No início do relacionamento ficávamos na dúvida se mudaria ou não o status de relacionamento,
mas em cogitar a hipótese de não expor no Facebook ela já brigou comigo”.
Essa fala mostra o quanto alterar o status torna-se fundamental ao iniciar um
relacionamento. No entanto, percebe-se que há controvérsias em relação a isso, já que
todos os homens que participaram deste estudo concordaram quando H1, H3 e H5 relatam
que
“As vezes tem mulheres que quando tu está solteiro não te notam, mas é só mudar o status no
Facebook que elas vem atrás do cara” (H1).
“Ai tu começou a namorar elas começam” (H3).
“Eu comecei a namora, comecei a receber mensagens de gurias” (H5).
Tais recortes mostram que a partir do momento em que o homem expõe a relação
no Facebook são mais notados do que quando eram solteiros. Na direção desse achado,
Reis et al. (2012) dizem que, atualmente, nota-se que quanto mais tempo o usuário gastar
para navegar na rede social e preocupar-se em controlar a vida alheia, mais importante ele
julgará a mudança de status de relacionamento. Isso, conforme os autores, em função de
que, hoje, o Facebook é considerado como um jornal eletrônico onde se tem acesso à vida
de diversas pessoas, acarretando, por conseqüência, sentimentos de inveja no outro. Esse
outro, por sua vez , pode tornar-se refém da sua própria rede social, sentindo-se na
obrigação de ter sempre uma novidade para compartilhar com os seus amigos virtuais. Tais
questões fazem com que a mudança de status torne-se tão importante para tais usuários.
A decisão de expor o status de relacionamento na rede social, surge diante de
sentimentos como ciúmes entre ambos os parceiros , pois, no início da relação ainda não se
21
estabeleceu uma r plena confiança com o outro, e dessa forma sentem a necessidade de
mostrar aos outros que estão com alguém. A vista disso, Oroz e et al. (2015), enfatiza que
o antes de expor a relação na rede social sentem mais ciúmes, mas após a exposição de
fotos ou até mesmo de status no Facebook, estudos apontam que esse sentimento tende a
diminuir, ressurgindo, no entanto, com o passar do tempo (Oroz et al., 2015). Neste estudo,
foram os homens os que mais expressaram sua opinião exclusivamente sobre o status,
inclusive afirmando a cobrança que receberam de suas companheiras.
3.3 Expor a relação no Facebook é mais significativo para as mulheres
De acordo com Oroz et al. (2015), a exposição do relacionamento no Facebook tem
maior importância para as mulheres, já que a grande maioria dos homens comentam sobre
as cobranças que sofrem por parte das parceiras, e as mulheres relatam o quanto gostam de
expor o relacionamento na rede social. De acordo com H4 e H1:
“Existe sempre uma cobrança, eu nunca posto, mas é questão de não se expor mesmo. Não preciso
ficar mostrando por outros enfim” (H4).
“Tem aquela cobrança tipo, Último que postou” (H1).
Assim como relatado pelos participantes acima identificados, em relação à
cobrança por parte das mulheres, não podemos deixar de pensar o quanto existe uma
diferença significativa entre o homem e a mulher nas questões sentimentais, e a maneira
como eles expõem seus sentimentos. Nesse sentido, Rodrigues (2010) destaca que o
cérebro do homem é programado de maneira mais sistemática, ou seja, sente mais
22
dificuldade em expor o que sente pelo outro, diferente da mulher, que é inteiramente ligada
por uma rede de emoções e sentimentos. Pode-se perceber essa tendência nas falas de M2
e M3:
“Eu acho bonito compartilhar o amor. Acho bonito eu compartilhar e acho bonito ver” (M2).
“Ah eu gosto de postar bastante. Não vejo problema quanto a isso” (M3).
De acordo com Oroz et al. (2015), expor a relação no Facebook tem maior
importância para as mulheres, assim como, também elas acreditam que mostrar o status do
relacionamento na rede social evita que terceiros queiram entrar na relação. Além do mais
elas mostram níveis mais elevados de ciúmes em relação ao Facebook, e sentem maior
necessidade de controlar a rede social do parceiro.
Assim posto, Nascimento (2007) complementa ao afirmar que o fato de a mulher
estar mais atenta à rede social de seu companheiro e a demonstrar ser mais insegura que os
homens, está ligado à nossa cultura, que nos remete sempre ao pensamento de que o
homem é infiel. Tal direcionamento faz com que mulheres sintam maior necessidade de ter
acesso livre às senhas de seu companheiro. Porém, nenhuma das participantes do estudo
relatou ter a senha do namorado, não comentaram sobre o assunto, já os homens relataram
que sim, suas mulheres tem acesso à sua rede de forma livre:
“Sempre acordo de madrugada tem alguém de olho no celular procurando alguma coisa [...] Já
entrei no Facebook e deu senha incorreta por que ela tinha mudado. Ela sabe a senha sabe tudo,
então não tem problema” (H4).
“Ah eu também não, minha mulher tem acesso ao celular, computador” (H2).
23
Diante do exposto percebe-se também o quanto existe uma cobrança por parte das
mulheres para que o parceiro poste fotos, ou curta suas publicações. Como se fossem
regras, elas sentem maior necessidade de mostrar o afeto que sentem pelo outro, e também,
que o outro demonstre o sentimento por elas no Facebook (Oroz et al., 2015). Tal relação
é ratificada pelo relato de H4 ao dizer que
“Eu não gosto muito de me expor, posto uma vez que outra, quando a minha namorada insiste
muito mas, nunca tenho a iniciativa para fazer isso”.
Conforme Mônego e Teodoro (2011), não há uma diferença entre a amplitude do
sentimento de amor do homem e da mulher, os dois vivenciam esse sentimento da mesma
maneira. O que muda é que as mulheres tendem, de certa forma, a demonstrar mais o que
sentem, e os homens tendem a ser mais reservados em relação a isso, talvez em função do
dita a nossa cultura de que a mulher ‘já nasce predestinada para ser romântica, carinhosa e
cuidadosa’.
Assim evidenciado, permite-se inferir, a partir da amostra analisada, que expor a
relação no Facebook é significativo para ambos os gêneros, mas as mulheres levam essa
exposição mais a sério do que os homens e, também, elas averiguam a rede social do
companheiro com maior frequência do que eles.
3.4 Ciúmes da rede social, curtida e comentários, e o medo do parceiro ser infiel
A terceira categoria refere-se ao sentimento de ciúmes que os usuários que estão
em um relacionamento amoroso vivenciam diante do Facebook. No entanto, deve-se
considerar que o ciúmes é um sentimento que sempre esteve presente em todas as relações
24
humanas. Segundo Almeida, Rodrigues e Silva (2008), o ciúme tem diferentes
entendimentos, mas é caracterizado por desenvolver-se a partir do momento que um
sujeito não sente que o outro está inteiramente conectado com ele. Dessa forma, vem gerar
sentimentos de angústia, desconfiança e muita insegurança, além disso, ao vivenciar essa
emoção/sentimento, o sujeito sente-se ameaçado como se um terceiro possa estar entrando
na relação.
Ao contrário do que é citado por Oroz et al. (2015) de que sentimentos como o
ciúmes tende a ser maior antes de o casal expor a relação na rede social, para Canezin e
Almeida (2015), sentimentos como o ciúmes são provocados e crescem gradativamente
diante dos avanços tecnológicos e do uso exagerado das redes sociais. Uma publicação,
uma curtida ou um comentário feito por alguém que está de fora da relação, pode ser
interpretados como uma ameaça e, consequentemente, trazer esse sentimento à tona,
ocasionando discussões e conflitos para o casal. Porém, por outro lado, os autores
mencionam que essa questão do ciúmes e dos conflitos vai depender da personalidade do
casal, pois, diante disso vem a vontade de controlar o outro, o que pode vir a tornar-se
patológico.
A maioria dos participantes da pesquisa relata que o ciúmes e a insegurança
relacionados às redes sociais, normalmente, acontecem com maior frequência no início do
relacionamento, já que, ainda não foi construído uma relação de plena confiança com o
parceiro e tendo em vista de que todos já tiveram um passado, conforme foi mencionado
por H1:
“No início do namoro o Facebook de certa forma incomodou um pouco, por que é visível que todos
já tiveram um passado, eu fui solteiro por muito tempo”.
25
Uma das decisões que podem acompanhar o sentimento de ciúmes e as reações que
advém dele, é a decisão de excluir mensagens para evitar conflitos e incômodos com os
parceiros, de acordo com a fala de H4:
“Eu apaguei mensagens antigas com outras mulheres [...] Mas eu não utilizo mais o Facebook já
por causa disso, não converso com ninguém, por que todos já tiveram um passado e eu já fui
solteiro também”.
Outro ponto mencionado pelos pesquisados foi o fato de que se deve aceitar o
passado do outro, conforme relatado por H5:
“Assim como muitos falaram todo mundo teve um passado né , e tu tem que aceitar o passado da
outra pessoa, e ela tem que aceitar o teu”.
Além disso, os participantes relatam que evitam curtir fotos ou realizar qualquer
posicionamento que possa incomodar o parceiro e que, na maior parte das vezes, o que
gera conflitos são as curtidas em fotos. Conforme mencionado por H1e H4:
“Meu problema maior às vezes é com as curtidas”[...] “Eu cuido muito pra não curtir fotos.
Justamente já pra eu não me incomodar” (H1).
“Tu pode fica 2,3 anos sem curtir nada, mas ai tu curtiu a foto de uma mulher, da problema”
(H4).
Além das curtidas das fotos, outro fato que foi mencionado por eles foram as
mensagens. De acordo com H1:
26
“Quem quer trair, não vai trair no Facebook”.
Canezin e Almeida (2015) descrevem que quando se está em um relacionamento
você já tem conhecimento do que o outro gosta ou não, e isso facilita a vida do casal, uma
vez que ele evita tomar certas atitudes que podem incomodar o companheiro (a),
principalmente se tratando de redes sociais. A par dessa concepção está o relatado por H3
e M1:
“Eu sempre procuro não curtir foto de outra mulher, por que eu sei que ela não vai gostar, então,
acredito que assim seja mais fácil de tu prolongar esse relacionamento” (H3).
“É me incomoda mais se ele curtir. Das curtidas delas eu também não me importo” (M1).
Em relação a curtidas ou mensagens, ainda, alguns pesquisados relataram que se
sentem incomodados quando o parceiro (a) curte ou comenta fotos de uma pessoa
desconhecida. Ou seja, nesse caso, depende muito do contexto da foto e de quem é a
pessoa, conforme mencionado por M5, H2 e M1:
“Na verdade eu acho que depende do contexto da foto” (M5).
“Mas se tu curte uma foto por exemplo de uma mulher com mais pessoas não há problema, mas se
for só a mulher dai não da” (H2).
“Eu acho que dependendo da foto, mas se curtisse foto de uma outra guria sozinha ficaria
chateada” (M1).
27
Observando-se esses recortes, pode-se depreender que há sempre a expectativa de
ser o único na vida do parceiro e, em função disso, também surgem esses sentimentos de
ciúmes quando se está exposto a uma rede social. Isso, pois, ela, de certa forma, pode ser
uma porta de entrada para quem está de fora desse relacionamento (Canezin & Almeida,
2015). É uma espécie de medo de pessoas com dado perfil, vistas como concorrentes,
inimigos na relação, assim pontua H2:
“Depende se é alguém sem camisa, ou bombadão, bonitão”.
Para além de perfis definidos, outro fato que incomoda muito nas relações
amorosas no Facebook é ter qualquer tipo de contato com alguém que o parceiro não
conheça. Isso aumenta o ciúmes , já que essa é uma pessoa fora da convivência do casal, e
é visto como uma ameaça (Canezin & Almeida, 2015). Essa conduta é pontuada por H1 e
H5:
“Por exemplo se esse alguém é estranho, incomoda bastante” (H1).
“A minha namorada tem alguns amigos de infância, se ela curtir uma foto deles, não vou me
incomodar muito mas se ela curtir fotos de outro homem que eu não conheça vou ficar
extremamente incomodado” (H5).
Diante dos fatos citados, acredita-se que as curtidas das fotos são realmente o que
mais ocasiona desconforto ao casal, pois se sentem ameaçados. As mensagens também
foram relatadas como ameaças, mas não com tanta intensidade como as curtidas, já que foi
relatado que quem quer trair, faz fora do Facebook. Ou seja, diante desses avanços
tecnológicos que estão cada vez mais envolvidos na vida dos casais, é importante que
28
possam estar sempre mantendo um bom diálogo e façam combinações, já que isso pode
ajudar a evitar grandes conflitos. Tais contratos são importantes, uma vez que a
infidelidade e o medo de perder o parceiro, é considerado a maior intimidação aos
relacionamentos mediados pela internet (Reis et al., 2012).
4 Discussão
A partir do momento em que o Facebook tornou-se a rede social com maior
número de usuários do mundo passou a ser alvo de investigação, desse modo, trouxe
grandes possibilidades e facilidades para manter contato com as pessoas. No entanto,
surgiram alguns desafios a serem enfrentados, e um deles e mais marcante são as ameaças
que surgiram diante das relações amorosas para os usuários.
A maneira como os participantes se apresentaram durante o grupo foi bastante
significativa, colocando suas opiniões e expressando o que pensam sobre o Facebook e o
impacto dele nos seus relacionamentos. Dessa forma, durante o grupo focal foi
identificado que não é tal rede social em si que vem atrapalhando as relações amorosas, e
sim a maneira como essa rede social está sendo manejada por seus usuários.
O que, de fato, ficou em evidência na pesquisa foi a questão do ciúmes vivenciado
tanto por homens como por mulheres. Esses deixam claro que se sentem incomodados
quando o parceiro curte ou comenta a foto de alguém de fora da relação. Já no que diz
respeito às demonstrações de amor, é importante para o outro que seja exposto essa relação
na rede social. Essa exposição justifica-se pois aumenta gradativamente a satisfação dos
envolvidos diante da relação amorosa, fato que todos os participantes concordaram, ao
relatar que se sentem felizes quando o parceiro publica alguma demonstração de amor no
Facebook.
29
Embora a grande parte dos participantes não tenha exposto grandes conflitos diante
do Facebook, deixaram claro que no início do relacionamento ele pode prejudicar, pois
como foi exposto, todos já tiveram um passado. Com isso, quando se inicia um
relacionamento amoroso, pode-se pensar o quanto é importante que o casal mantenha um
diálogo sobre o assunto, e que possam fazer combinações de como irão proceder diante
dessa ferramenta, para que ela não se torne um meio de conflitos entre o casal. Além disso,
foi mencionado o quanto, para as mulheres, a expor a relação na rede social a partir de
fotos, comentários, curtidas, e demonstrações de amor, tem um significado maior, porém,
em relação a mudanças de status de relacionamento foram os homens que expuseram suas
opiniões. Nesse sentido, pode-se considerar que, apesar de a mulher sentir uma maior
necessidade de mostrar aos outros o quanto é amada, são os homens que sentem maior
necessidade de mostrar que tem alguém.
Durante a elaboração da pesquisa notou-se que existem poucos estudos a respeito
do tema, em função da escassez de material científico sobre o assunto. Dessa forma,
sugere-se mais pesquisas nessa área, pois, ainda há muito o que investigar. Além de pouco
referencial teórico sobre Facebook, existem muitas pesquisas e notícias na internet que
tratam desse assunto, porém, sem nenhuma base científica, o que nos preocupa, já que as
redes sociais vem sendo alvo de discussões e demanda de atendimentos clínicos.
Em virtude dos fatos mencionados, pode-se concluir que o Facebook, quando
usado de maneira saudável, não interfere na relação, mas a partir do momento que ele
torna-se uma ameaça para os parceiros pode sim interferir significativamente na satisfação
da relação amorosa.
30
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37
Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (1a via)
A influência do Facebook na satisfação das relações amorosas
Eu,___________________________________________________, RG. _________, abaixo assinado dou meu consentimento livre esclarecido para participar como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade da pesquisadora Jenifer Franciele Pinno, supervisionado pela orientadora Susana König Luz, aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
Assinando o Termo de Consentimento estou ciente de que:
1 – O objetivo da pesquisa é investigar de que forma o Facebook quando usado para compartilhar os relacionamentos amorosos, pode influenciar na satisfação dos mesmos. 2 – Durante o estudo os participantes responderão ao Questionário Sociodemográfico, e participarão de um grupo focal, realizado na Instituição, sendo que o tempo estimado de aplicação é de 1h e 30m.
3 - Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa; 4- A resposta a este (s) instrumento (s) não causam riscos conhecidos à minha saúde física e mental, não sendo possível, também, que causem algum desconforto emocional; 5 - Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa, o que não me causará nenhum prejuízo; 6 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos na pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua publicação na literatura. 7 - Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa pelo telefone: 11 - 24548981; 8 - Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Profª. Mestre Susana König Luz sempre que julgar necessário pelo telefone: 54-3045-9070 9- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e outra com o pesquisador responsável. Local, ____________________________ data: __________________ Assinatura do participante: _______________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável_______________________