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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIAS E CONCORDATAS DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - PR
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,
através do Promotor de Justiça que ao final assina, com
fundamento no disposto nos artigos 127, 129, III da Constituição
Federal, Lei n.º 7.347/85, Lei n.º 8078/90 e demais dispositivos
legais, vem, perante Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de liminar, em
desfavor de
RODONORTE – CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS
INTEGRADAS S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ sob o nº 02.221.531/0001-30, com sede na rua Afonso Pena,
87, Ponta Grossa - Paraná, CEP: 84040-170;
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM DO
ESTADO DO PARANÁ – DER/PR, autarquia estadual, na pessoa
de seu representante legal, com endereço na Avenida Iguaçu, 420,
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Município de Curitiba – PR, pelos fatos e fundamento a seguir
aduzidos:
1 - DOS FATOS
A presente ação civil pública tem por escopo garantir o
trânsito seguro dos pedestres que circulam na BR 277, km 95
(Rodovia do Café), na trincheira de retorno do Parque Barigüi,
entre os bairros Mossunguê e Santo Inácio, nesta Capital, tendo
em vista a ausência de passarela no referido perímetro, que alberga
grande movimentação de veículos automotores.
Em dezembro de 2007 esta Promotoria de Justiça
promoveu a abertura do Termo de Representação nº 411/2007, em
decorrência da reclamação feita por moradores e transeuntes da
região. Do Requerimento (DOC. 1) dos cidadãos, encaminhado em
setembro de 2004 ao Departamento de Estradas e Rodagens do
Estado do Paraná infere-se:
“Os motivos que nos levam a fazer esta solicitação são:
1. intenso tráfego de automóveis em ambos os
sentidos da rodovia, principalmente no horário em que
compreende a chegada e saída de pessoas de seus
locais de trabalho ou estudo;
2. Constante número de acidentes de veículos neste
trecho da rodovia,
3. Ausência de uma passarela de pedestres, bem
como de redutor de velocidade, faixa de segurança,
semáforo, calçadas, etc,, para travessia dos pedestres
que trabalham ou estudam nas imediações;
3
4. Queda de pedestres em plena rodovia,
principalmente em dias de chuva.”
Elencam ainda os reclamantes os estabelecimentos
comerciais próximos ao local onde suplicam pela passarela,
enfatize-se, desde o ano de 2004. No referido ano os
estabelecimentos que mereceram destaque por proporcionarem
grande movimentação foram: 1. IBPEX – Instituto Brasileiro de Pós
Graduação; 2. Faculdades Integradas Espírita; 3. Park Shopping
Barigüi; 4. Carrefour Champagnat; 5. Universidade Tuiuti do
Paraná; 6. J. Malucelli Equipamentos; 7. Transportadora Radiante;
8. Sam´s Club.
Dessume-se, portanto, que tanto o tráfego de veículos
automotores quanto de pedestres na região ora sob análise é
intensa.
Os órgãos da Administração Pública assim como a
RODONORTE, foram instados a se manifestar através do envio de
ofícios, todos remetidos em dezembro de 2007.
A concessionária ré informou (DOC. 2) que no
Programa de Exploração (PER) inicial, previsto no contrato de
concessão do lote que abrange o trecho sob análise, foi-lhe
determinada a construção de uma passarela no km 15,22 da BR
277. Explica que para a alteração do PER deve haver autorização
prévia do DER, com antecipação e postergação de cronogramas.
Conta que se concluiu o programa de construção de passarelas em
2003, com a edificação de onze delas.
Finaliza informando que “(i) atualmente não existe
previsão financeira no contrato de concessão ou no Programa de
Exploração da Rodovia (PER) para a construção de passarela de
pedestres na rodovia BR 277, no trecho que passa pelo Município de
Curitiba (quilômetro 95), na região dos bairros Mossunguê e Santo
4
Inácio, nas proximidades do Parque Barigui; (ii) é possível a
construção de passarela desde que observadas as regras
estabelecidas na Cláusula LXII do Contrato de Concessão, tendo em
vista trata-se de acréscimo de obra não prevista no PER; (iii) A
Rodonorte já submeteu ao DER um orçamento estimativo para a
implantação de passarela naquela localidade, porém, não recebeu,
até a presente data, qualquer comunicado daquele departamento
quanto à continuidade do procedimento estabelecido na Cláusula
LXIII do Contrato de Concessão”.
O DER, por sua vez, informou1 (DOC. 3) que o IPPUC
executaria o Projeto, que seria encaminhado à concessionária
Rodonorte, para posteriormente serem definidas as
responsabilidades para sua implantação.
Já o IPPUC relatou2 (DOC. 4) que o projeto seria
finalizado em 1º de maio de 2008, sem a computação de qualquer
recurso que venha a existir durante o processo licitatório de
contratação dos projetos complementares. Em fevereiro o IPPUC
informou que o projeto sofreria atrasos.
Em julho de 2008 o Município de Curitiba (DOC. 5)
assim alude: “Muito embora o IPPUC venha desenvolvendo projetos
de passarelas no trecho mencionado, salientamos que tal área é
concessionada pela Concessionária RODONORTE, a qual é
responsável direta por sua manutenção e implantação de obras,
devendo, pois, manifestar-se a respeito do objeto solicitado
(Passarela). Assim sendo, por não ter gerência sobre o trecho em
questão, o Município está impossibilitado de proceder à previsão
orçamentária para execução de tal obra”.3
O DER informa (DOC. 6) que o IPPUC lançou Edital
para Licitação visando a contratação de empresa para elaborar o
1 Ofício DG – 355 – de 2 de janeiro de 2008. 2 Ofício – SAF/685/07 – em 7 de janeiro de 2008. 3 Ofício nº 1256/2008 – PGM – EA – de 6 de agosto de 2008.
5
Projeto Complementar, mas que não houve interessados, o que
ensejou o lançamento de um novo Edital. Quanto à data, o IPPUC
realizaria o segundo processo licitatório na primeira quinzena do
mês de novembro.
Até a presente data não houve qualquer movimentação
do Município de Curitiba, do DER (DOC. 7) ou da concessionária
Rodonorte. Aliás, quanto à competência no presente caso para a
edificação da passarela ora requerida, causa-nos estranheza o fato
do Município de Curitiba, através do IPPUC, ter assumido um ônus
que não lhe pertence, coincidentemente em período eleitoral. Isso
porque, é responsabilidade da concessionária RODONORTE o zelo
pelo trecho ora sob análise, sob a supervisão do Departamento de
Estradas de Rodagem do Estado do Paraná.
Assim sendo, por ser a questão de extrema urgência,
cujas medidas sanáveis vêm sendo rogadas ao DER desde o ano de
2004, pelos moradores e comerciantes da região, a presente
medida se faz necessária. A Concessionária é a responsável pela
construção das passarelas, e é ela, juntamente com o DER, que
deve proceder a edificação, e não aguardar a boa vontade do ente
municipal, que, quiçá, tem competência para tanto.
Tendo em vista a gravidade dos fatos acima expostos,
do risco de novos acidente e óbitos no local onde, ressalte-se,
poderiam ser evitados, e ainda, diante da inércia dos responsáveis
pelo trecho da BR 277, em tentar solucionar o caso, a procedência
da presente ação é medida que se impõe.
Por fim, cumpre destacar que nas rodovias onde
existem passarelas e medidas preventivas de acidentes, os índices
de mortes e acidentes diminuem significativamente, como é o caso
do local próximo ao Centro Politécnico, na saída Curitiba para o
litoral, em que as telas de contenção de passagem somadas às
passarelas, trouxeram benefícios inestimáveis à população.
6
2 – DO DIREITO
A Constituição Federal de 1988 instituiu ao Ministério
Público a incumbência do zelo pelo efetivo respeito dos Poderes
Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia.4
Também é função do Ministério Público, juntamente
com os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, garantir ao
indivíduo a fruição todos os seus status constitucionais. Essa idéia
foi consagrada pelo legislador constituinte de 1988, que entendeu
por fortalecer a Instituição, dando-lhe independência a autonomia,
bem como a causa social para defender e proteger. Um órgão, no
dizer de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “de promoção da defesa
social desses direitos” (Direitos humanos fundamentais. São Paulo:
Saraiva, 1995. p. 126).5
Por conseguinte, a presente ação visa resguardar a
vida, a segurança e o bem-estar dos cidadãos que transitam na BR
277, km 95, nesta Capital.
2.1 - DA CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO
Celso Antônio Bandeira de Mello leciona a significação
de concessão de serviço público, afirmando consistir em:
“...instituto através do qual o Estado atribui o
exercício de um serviço público a alguém que
4 Art. 129, II da CF/88. 5 MORAES, Alexandre. Direitos Humanos Fundamentais. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.
7
aceita prestá-lo em nome próprio, por sua conta e
risco, nas condições fixadas e alteráveis
unilateralmente pelo Poder Público, mas sob
garantia contratual de um equilíbrio econômico-
financeiro, remunerando-se pela própria exploração
do serviço, em geral e basicamente mediante tarifas
cobradas diretamente dos usuários do serviço.”
(MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito
Administrativo. 10ªed. Malheiros. São Paulo, 1998.
A concessão de serviços públicos recebeu atenção
especial na Constituição Federal, estatuindo o seu artigo 175 a
incumbência do Poder Publico na prestação de serviços públicos,
na forma da lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou
permissão e sempre através de licitação.
O parágrafo único deste dispositivo ainda estabelece
que a lei disporá sobre o regime das empresas permissionárias e
concessionárias de serviço público, o caráter especial de seu
contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de
caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão, os
direitos dos usuários, política tarifária e a obrigação de manter
serviço adequado.
É a Lei Federal nº 8987/95 que justamente dispõe
sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços
públicos previsto no artigo 175 da Constituição Federal.
Relevante ressaltar que, enquanto o artigo 3º desta lei
determina a obrigatoriedade de fiscalização do poder concedente
sobre as concessões e permissões, o artigo 4º versa sobre a
formalização da concessão mediante contrato.
O artigo 6° estatui as diretrizes gerais definidoras da
qualidade do serviço ou o que se denomina serviço adequado: “é o
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que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência,
segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade de tarifas.”
Além destes requisitos gerais necessários para a
existência de continuidade válida da concessão de serviço público,
indispensável o atendimento às condições específicas constantes
do Edital de Licitação e do Contrato de Concessão firmado.
O artigo 7º da Lei de Concessões prevê sem prejuízo do
disposto no Código de Defesa do Consumidor – lei n. 8.078/90, os
direitos e obrigações dos usuários. Portanto, os usuários que
tiverem sofrido danos causados por ação ou omissão de uma
concessionária, poderão se valer das mencionadas leis em defesa
de seus direitos.
Marçal Justen Filho6 enfatiza o objetivo do
concessionário, em resguardar o interesse público, nos seguintes
termos:
“Por tudo, impõe-se tutela muito mais intensa ao
usuário do serviço privado do que se passa perante o
público. No serviço privado, somente existem em jogo
interesses disponíveis, a tutela da parte
economicamente mais fraca não põe em jogo, questões
mais relevantes. No campo do serviço público, o
interesse do prestador do serviço é público; o usuário é
privado. Logo, é cabível evitar que o usuário, como parte
economicamente mais fraca, tenha seus interesses
indevidamente sacrificados. Mas não é admissível que o
interesse particular do usuário seja superposto ao
interesse público.
6 JUSTEN FILHO, Marçal. Concessões de serviços públicos: comentários às leis n. 8.987 e 9.074, de 1995. São Paulo: Dialética. 1997, p. 132
9
O artigo 18, II, estabelece que o edital deve descrever
as condições necessárias à prestação adequada do serviço, cujas
diretrizes devem estar arroladas em decreto regulamentador. Já no
contrato esses elementos devem estar mais concretizados, em
função da proposta vencedora. O nível de detalhe dessa descrição
vai depender da espécie de serviço a ser prestado, variando
conforme as circunstâncias.
A Administração Pública, ao promover o leilão para a
concessão do pedágio na praça ora sob análise, deveria ter previsto
a construção de passarelas, principalmente no local agora
pretendido, por ser albergar grande fluxo de veículos e pedestres,
evitando-se, desta feita, os acidentes que já ocorreram, assim como
os óbitos. Além disso, resguardar-se-ia a segurança dos moradores
e transeuntes da região, assim como dos próprios motoristas que
utilizam o citado trecho da BR 277.
A Lei de Concessões, assim como a Constituição
Federal também se preocupou com a responsabilidade dos
concessionários. Neste sentido é o teor do caput art. 25:
“Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do
serviço concedido, cabendo-lhe responder por todos os
prejuízos causados ao poder concedente, aos usuários
ou a terceiros, sem que a fiscalização exercida pelo
órgão competente exclua ou atenue essa
responsabilidade.
(...)”
Como bem salienta Marcas Justen Filho7:
7 JUSTEN FILHO, Marçal. Concessões de serviços públicos: comentários às leis n. 8.987 e 9.074, de 1995. São Paulo: Dialética. 1997.
10
“O concessionário assume responsabilidade pessoal
pelos eventos decorrentes da prestação do serviço
público. Tal como previsto no art. 37, §6 º, da CF/88, o
concessionário de serviço público responde
‘objetivamente’ pelos danos causados no desempenho
de seus encargos. (...) Isso significa, que a atuação do
concessionário sujeita-se a dois regimes jurídicos
distintos. No âmbito das atividades englobadas no
conceito de serviço público, aplica-se o regime de direito
público. Logo, a responsabilidade do concessionário
será objetivada. Fora desse plano, as relações jurídicas
de que participa o concessionário serão disciplinadas
pelo direito comum.”
Os artigos 29 e 32 da Lei Federal 8987/95 expressam
os encargos do poder concedente, assim como seu poder-dever de
promover a intervenção na concessão quando a empresa
concessionária não atende as exigências de interesse público, como
no caso em tela.
“Art. 29 – Incumbe ao poder concedente:
I – regulamentar o serviço concedido e fiscalizar
permanentemente a sua prestação;
(...)
VII – zelar pela boa qualidade do serviço, receber,
apurar e solucionar queixas e reclamações dos usuários,
que serão certificados, até trinta dias, das providências
tomadas;”.
Não se vislumbra até o momento qualquer iniciativa do
Poder Público Estadual, qual seja, o DER, uma vez que não exigiu
da concessionária a construção da passarela solicitada através dos
11
abaixo-assinados (em anexo), protocolados junto ao órgão em
2004. E ainda:
“Art. 32 – O poder concedente poderá intervir na
concessão, com o fim de assegurar a adequação na
prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das
normas contratuais, regulamentares e legais
pertinentes”.
Deve, portanto, o poder concedente intervir na
concessão porque há embate do projeto a ser implantado com as
normas constitucionais, pois desrespeita interesse público, ao não
garantir aos moradores a livre circulação de forma responsável e
segura.
2.2 – DAS CLÁSULAS CONTRATUAIS
No caso em apreço, há afronte às seguintes cláusulas
contratuais:
No caso sob análise tem-se também a figura do
cidadão consumidor dos serviços públicos, a quem a Constituição
Federal assegura nos artigos 5º, inciso XXXII e 170, inciso V:
“Art. 5º ...
(...)
XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
do consumidor;
(...)”
12
“Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
(...)
V – defesa do consumidor;”
Hely Lopes Meirelles8 preleciona:
“Os direitos do usuário são hoje reconhecidos em
qualquer serviço público como fundamento para a
exigibilidade de sua prestação nas condições
regulamentares e em igualdade com os demais
utentes. São direitos cívicos, de conteúdo positivo,
consistentes no poder de exigir da Administração
ou de seu delegado o serviço que um ou outro se
obrigou a protestar individualmente aos usuários.
São direitos públicos subjetivos de exercício
pessoal quando se tratar de serviço util singuli e o
usuário estiver na área de sua prestação. Tais
direitos rendem ensejo às ações correspondentes,
inclusive mandado de segurança, conforme seja a
prestação a exigir ou a lesão a reparar
judicialmente”.
Desta feita, cabe ao Poder Judiciário determinar à
concessionária a determinação de que construa às suas expensas
passarelas em números suficientes para salvaguardar a segurança
de pedestres e motoristas que transitam pela mencionada Rodovia,
nos termos das reclamações formuladas por populares em 2004 e
8 Direito Administrativo Brasileiro. 28ª ed. São Paulo: Malheiros. p. 376.
13
que se agravam com o passar do tempo, haja vista que o trafego na
região aumentou muito. Deve ainda, impelir o Poder Público a
obrigação de fiscalizar o cumprimento das medidas judiciais
impostas, posto que atribuiu a outro o dever de manter e equipar a
Rodovia pedagiada, nos termos do contrato de concessão.
E ainda, até que se construam as passarelas deverá a
concessionária implantar medidas acautelatórias, a fim de evitar
novos atropelamentos e acidentes no trecho explorado, posto que
em área urbana, com grande fluxo de pedestres e de veículos.
3 - DA RESPONSABILIDADE DOS RÉUS
Celso Antônio Bandeira de Mello ensina a
obrigatoriedade de atendimento ao interesse puramente público
pela administração pública; a exigência da finalidade,
razoabilidade e proporcionalidade nas ações da administração
pública como decorrentes do princípio da legalidade e a
necessidade do controle judicial quando desproporcional ou
inadequado o ato do administrador:
“(...) as prerrogativas inerentes à supremacia do
interesse público sobre o interesse privado só
podem ser manejadas legitimamente para o alcance
de interesses públicos; não para satisfazer apenas
interesses ou conveniências tão-só do aparelho
estatal, e muito menos dos agentes
governamentais.
(...)
Uma vez que a atividade administrativa é
subordinada à lei, e firmado que a Administração
assim como as pessoas administrativas não tem
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disponibilidade sobre os interesses públicos, mas
apenas o dever de curá-los nos termos das
finalidades predeterminadas legalmente,
compreende-se que estejam submetidas aos
seguintes princípios: a) da legalidade, com suas
implicações ou decorrências; a saber: princípios da
finalidade, da razoabilidade, da proporcionalidade,
da motivação e da responsabilidade do Estado;
(...)
(...) os ‘poderes’ administrativos - na realidade,
deveres poderes - só existirão e portanto só poderão
ser validamente exercidos na extensão e
intensidade proporcionais ao que seja
irrecusavelmente requerido para o atendimento do
escopo legal a que estão vinculados. Todo excesso,
em qualquer sentido, é extravasamento de sua
configuração jurídica. (...) É abuso, ou seja, uso
além do permitido, e, como tal, comportamento
inválido que o Judiciário deve fulminar a
requerimento do interessado.
(...)
Com efeito, o fato de a lei conferir ao administrador
certa liberdade (margem de discrição) significa que
lhe deferiu o encargo de adotar, ante a diversidade
de situações a serem enfrentadas, a providência
mais adequada a cada qual delas.
(...)
É óbvio que uma providência administrativa
desarrazoada, incapaz de passar com sucesso pelo
crivo da razoabilidade, não pode estar conforme à
finalidade da lei.
15
(...)” (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de
Direito Administrativo. 11ª ed. Editora Malheiros. São
Paulo, 1999. p 56-70)
É obrigação do Poder Público zelar e resguardar os
Direitos Constitucionais dos cidadãos. No caso em apreço, a
Administração Pública representada pelo DER não atendeu tal
premissa. Não exigiu da concessionária a construção da passarela
requestada em 2004.
4 – DA AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO IPPUC
Conforme os documentos que instruem a presente
petição, o DER, informou que o IPPUC executaria o Projeto de
instalação de passarelas, que seria encaminhado à concessionária
Rodonorte, para posteriormente serem definidas as
responsabilidades para sua implantação.
Por sua vez, o IPPUC relatou ter iniciado projeto para
construção das passarelas, o qual seria finalizado em 1º de maio
de 2008, sem a computação de qualquer recurso que venha a
existir durante o processo licitatório de contratação dos projetos
complementares. Em fevereiro o IPPUC informou que o projeto
sofreria atrasos. Em julho de 2008 o Município de Curitiba de
forma correta informou que: “Muito embora o IPPUC venha
desenvolvendo projetos de passarelas no trecho mencionado,
salientamos que tal área é concessionada pela Concessionária
RODONORTE, a qual é responsável direta por sua manutenção
e implantação de obras, devendo, pois, manifestar-se a
respeito do objeto solicitado (Passarela). Assim sendo, por não
ter gerência sobre o trecho em questão, o Município está
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impossibilitado de proceder à previsão orçamentária para execução
de tal obra”.
O DER informou que o IPPUC lançou Edital para
Licitação visando a contratação de empresa para elaborar o Projeto
Complementar, mas que não houve interessados, o que ensejou o
lançamento de um novo Edital. Quanto à data, o IPPUC realizaria o
segundo processo licitatório na primeira quinzena do mês de
novembro.
Até a presente data, não foi aberto edital de licitação
pelo IPPUC, contudo cabe destacar que não compete a ele a
realização da obra, posto que a obrigação legal é da concessionária
e na sua falta ao concedente, no caso o DER a realização das obras
mencionadas. A responsabilidade da concessionária decorre de lei
e dos dispositivos contratuais, os quais são claros em lhe impor a
obrigação.
Portanto, como já asseverado anteriormente, quanto à
competência no presente caso para a edificação da passarela ora
requerida, causa-nos estranheza o fato do Município de Curitiba,
através do IPPUC, ter assumido um ônus que não lhe pertence,
coincidentemente em período eleitoral. Isso porque, é
responsabilidade da concessionária RODONORTE o zelo pelo
trecho ora sob análise, sob a supervisão do Departamento de
Estradas de Rodagem do Estado do Paraná.
5 – DO PEDIDO
5.1 – DO PEDIDO LIMINAR
No caso em comento, vislumbra-se a presença dos
requisitos ensejadores do deferimento de medida liminar.
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O fumus boni iuris está expresso na EVIDENTE
OBRIGAÇÃO CONSTITUCIONAL, ALÉM DO ATENDIMENTO AOS
PRINCÍPIOS ATINENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, para o fim
de cumprir as clausulas que impõe deveres no Contrato de
Concessão de Rodovias no Estado do Paraná. O contrato celebrado
tem por objeto a recuperação, o melhoramento, a manutenção, a
conservação, a operação e a exploração das rodovias principais e a
recuperação, conservação e manutenção dos trechos rodoviários de
acesso. Além disso, a Concessionária se comprometeu, nos termos
do item 7 da cláusula XVI a prestar serviço adequado, sendo que
as obras de expansão de capacidade das rodovias principais,
previstos ou não no DER, devem ser executadas e financiadas
exclusivamente por conta da concessionária, sem qualquer
acréscimo tarifário, entendendo-se que as mesmas não se
caracterizam como novos encargos, para efeitos da revisão tarifária
prevista no contrato.
A instalação das passarelas é importante para garantir
a integridade física dos usuários do serviço prestado pela
concessionária, pois são pagadores de impostos, e devem ter seu
direito de locomoção seguro resguardado.
O periculum in mora está expresso, claramente, no
dever de impedir que novos atropelamentos e acidentes ocorram
sem as medidas acima requestadas, já que até mesmo as
informações estatísticas de ocorrências na Rodovia
Para o fim de evitar que o presente rogo dê-se com a
ocorrências de novas mortes e acidentes no local, o que acarretará
obviamente maiores prejuízos aos usuários no trecho explorado
pela concessionária, uma vez que nada há para fazer após o evento
morte é que a presente medida está sendo adotada. Além disso,
lembrando que com o início do ano letivo de 2009, haverá maior
fluxo de transeuntes na região, já que cercada por instituições de
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ensino que ladeiam a Rodovia do Café e encontram-se
mencionadas na cópia do requerimento protocolado no DER.
Assim sendo, o periculum in mora resta também
evidenciado no dever de impedir que o evento morte, lesões ou
prejuízos materiais para pedestres e motoristas que circulam pela
BR 277, Km 95.
Preleciona Celso Antônio Pacheco Fiorillo9:
“É POR VIA DA LIMINAR, ASSECUTÓRIA OU SATISFATIVA, QUE SE
ALCANÇARÁ, AINDA QUE PROVISORIAMENTE, A CERTEZA DE QUE
O PROCESSO NÃO SERÁ UM MAL MAIOR DO QUE JÁ SE
CONSTITUI, NA MEDIDA EM QUE A DEMORA DA ENTREGA DA
TUTELA JURISDICIONAL NÃO SE CONSTITUIRÁ UM MAL MAIOR OU
MAIS NEFASTA QUE A PRÓPRIA CARACTERIZAÇÃO DO DANO AO
MEIO AMBIENTE. POR ISSO, URGE COMO REGRA NECESSÁRIA E
POLÍTICA A UTILIZAÇÃO CADA VEZ MAIOR DA TUTELA LIMINAR
EM SEDE DE PROTEÇÃO EFETIVA DE DIREITO DIFUSOS COMO
UM TODO.”
Amparados nos dispositivos legais e contratuais e nos
princípios da administração pública de inarredável e obrigatória
observância por qualquer empresa concessionária de serviço
público, e, diante dos fatos narrados, que demonstram a eminente
lesão ao direito de ir e vir em segurança dos cidadãos pedestres e
motoristas que circulam pela BR 277, em especial pelo Km 95,
evidentes o periculum in mora e o fumus boni iuris, razão pela qual
requer-se a concessão da MEDIDA LIMINAR inaudita altera pars,
com fulcro no que estabelece o artigo 12 da Lei Federal 7347/85.,
com imposição de multa diária no caso de futuro descumprimento
da presente medida pela empresa concessionária, nos termos do
9 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco et al. Aspectos Polêmicos da Antecipação da Tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
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artigo 11 da já citada norma, sem necessidade de justificação
prévia, determinando:
I) A obrigação de fazer à concessionária RODONORTE –
CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS INTEGRADAS S/A, em
instalar passarelas para passagem de pedestres em
número suficiente, na BR 277, e especial na altura do
Km95;
II) A obrigação de fazer do Poder Público representado pelo
Estado do Paraná e DER, de fiscalizar e impor a
Concessionária de Serviço Público de fazer cumprir o
Contrato celebrado entre as partes e assim dispor aos
usuários da BR-277 de condições adequadas para
trafegar e aos pedestres atravessar a via pública em
segurança, sob pena de recair sobre o Poder Público tal
obrigação.
Colaciono nesse sentido a seguinte decisão da Egrégia
Corte do Estado:
“1) DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.
IMPRESCRITIBILIDADE. a) (...) 2) DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS.
OFENSA AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA.
NÃO OCORRÊNCIA. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO E
FISCAL. DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA NÃO
DEMONSTRADA. a) As medidas cautelares - tal como a
indisponibilidade de bens -, sujeitam-se ao regramento
próprio do processo cautelar, que não se confunde com
a normativa do processo de conhecimento, em que o
20
contraditório é regra. b) A concessão de medida
liminar "inaudita altera pars" não ofende ao
contraditório e a ampla defesa, pois é medida que
se encontra abarcada pelo devido processo legal,
sendo um contra-senso se exigir que o réu seja
previamente informado a respeito da medida
constritiva, frustrando, assim, a intenção de se
garantir o resultado útil do processo. c) (...) 4)
AGRAVO DE INSTRUMENTO A QUE SE DÁ PARCIAL
PROVIMENTO” (TJ/PR, Acórdão nº 22663, 5ª Câmara
Cível, rel. Des. Leonel Cunha, julgado em
28/10/2008).
5.2 - DOS DEMAIS PEDIDOS
Além da concessão da medida liminar pelas razões
acima expostas, requer-se:
I - a isenção de custas e emolumentos nos termos do
artigo 18 da Lei n.º 7.347, de 24.7.85 - Lei de Ação Civil Pública;
II - caso não haja o cumprimento da sentença por
parte dos requeridos, no prazo fixado por Vossa excelência, requer-
se a cominação de multa diária, como dispõe o artigo 11 da Lei
7347/85;
III - a citação dos requeridos para, querendo, contestar
a presente ação no prazo de 15 dias, sob pena de serem
considerados verdadeiros os fatos alegados; inclusive com a
expedição de carta precatória para a comarca de Ponta Grossa,
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haja vista que o Réu Rodonorte - Concessionária de Rodovias
Integradas S/A, tem sede naquela localidade;
IV - protesta-se, ainda, por todos os meios de prova
que se fizerem necessárias, inclusive depoimento pessoal dos
requeridos, prova pericial, documental e testemunhal;
V - a procedência da ação em todos os seus termos,
condenando-se os réus ao pagamento das despesas processuais e
verba honorária de sucumbência, cujo recolhimento deste último
deve ser feito ao Fundo Especial do Ministério Público do Estado do
Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998
(DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118,
inciso II, alínea “a”, parte final da Constituição do Estado do
Paraná;
VI - a procedência do pedido, confirmando por
sentença definitiva de mérito, os pedidos liminar anteriormente
expostos, para o fim de determinar à Concessionária RODONORTE
– CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS INTEGRADAS S/A, que
instale passarelas para passagem de pedestres
em número suficiente, na BR 277 até o
Município de Campo Largo, em especial na
altura do Km 95; e a obrigação de fazer ao Poder Público
representado pelo DER, de fiscalizar e impor a Concessionária de
Serviço Público o cumprimento do Contrato celebrado entre as
partes e assim dispor aos usuários da BR-277 de condições
adequadas para trafegar e aos pedestres atravessar a via pública
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em segurança, sob pena de recair sobre o Poder Público tal
obrigação, seguindo assim o exemplo das obras realizadas
próximas ao Centro Politécnico, na saída de Curitiba para o litoral,
em que as telas de contenção de passagem somadas às passarelas,
trouxeram benefícios inestimáveis à população.
VII – a condenação do réu – DER - em fiscalizar a
concessionária no que tange à Implantação das passarelas e
medidas assecuratórias da segurança dos usuários do serviço
prestado, sob pena de responder integralmente com a
responsabilidade das obras.
Termos em que, dando à causa o valor de R$ 100,00
(cem mil reais), pede deferimento.
Curitiba, 19 de dezembro de 2008.
Sérgio Luiz Cordoni
Promotor de Justiça