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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANASDEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Eventos climáticos extremos: Cartografia da ocorrência de
tornados no Centro-Sul do Brasil no período de 1980 a 2008
João Endrigo Alonso Rodrigues
Trabalho de Graduação Individual,apresentado ao Departamento deGeografia da Universidade de São Paulopara obtenção do título de Bacharel emGeografia.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Galvani
São Paulo
Junho de 2011
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Eventos Climáticos Extremos: Cartografia da
Ocorrência de Tornados no Centro-Sul do Brasil noPeríodo de 1980 a 2008.
João Endrigo Alonso Rodrigues
Universidade de São Paulo
São Paulo
Junho de 2011
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Dedico este trabalho a todos aqueles a quedevo meus conhecimentos, bem como a todas
as vítimas dos eventos naturais extremos.
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Agradecimentos
Quero agradecer primeiramente a todos os meus professores ao longo da vida, poisde nada me valeriam as asas se não tivesse tido quem me ensinasse a voar. Esse trabalho é
fruto da escalada passo a passo que fiz até chegar à Universidade e, neste momento,
concluí-la, e é a todos eles que devo isso.
O professor a quem agradeço especialmente neste momento é evidentemente meu
orientador, Professor Doutor Emerson Galvani, cuja paciência, dedicação e admirável
simplicidade foram as qualidades que permitiram o melhor aproveitamento possível dos
brilhantes conhecimentos que me transmitiu para a correta execução deste trabalho.
Não poderia deixar de fora a família e os amigos, maior suporte que uma pessoa
pode precisar na vida para realização de qualquer meta. A eles devo uma gratidão muito
maior do que um parágrafo jamais seria capaz de expressar.
Aos colegas de trabalho do excepcional Laboratório de Geoprocessamento da
Procuradoria do Patrimônio Imobiliário de São Paulo, que, além dos bons momentos com
quem dividi, muito me ensinaram acerca das ferramentas que possibilitaram a execução
deste trabalho. Um agradecimento especial ao Eduardo Dutenkefer, chefe e amigo que
cedeu seu tempo ao ensinamento de enorme parte das habilidades em Sistemas de
Informação Geográfica que possuo hoje. Outro enorme obrigado a quem primeiro me
introduziu esses conceitos ainda em meu primeiro estágio, a ex-chefe e amiga Patrícia
Santana.
Por fim, agradeço aos pesquisadores Rafael Marques e Ney Francalacci
Bittencourt Filho, da Universidade Federal de Santa Catarina, pela contribuição à minha
pesquisa com os contatos prontamente respondidos.
Espero não ter aqui deixado ninguém de lado, pois é com satisfação que redijoessas palavras de gratidão e dedico esse trabalho, que espero ser digno de todo o apoio que
recebi.
João Endrigo Alonso Rodrigues
Junho de 2011
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Vento que passasNos pinheirais
Quantas desgraçasLembram teus ais.
Quanta tristeza,Sem o perdão
De chorar pesaNo coração.
E ó vento vagoDas solidões
Traze um afagoAos corações.
À dor que ignoras
Presta os teus ais,Vento que choras
Nos pinheirais.
Fernando Pessoa, 1912
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Resumo
Este trabalho sintetiza e analisa as ocorrências de tornados no Centro-Sul do Brasilno período de 1980 a 2008, fazendo uso de ferramentas de geoprocessamento para tentar
identificar os padrões espaciais e temporais desses episódios. Através de análises temáticas,
tais ocorrências puderam ser divididas por estações do ano, discutindo os periodicidade e
espacialidade de sua formação.
Em um segundo momento, foi feita a análise da concentração demográfica nas
regiões onde ocorreram, de modo a discutir a idéia de que suas ocorrências têm aumentado,
onde se pode questionar se não foi o número de registros, e não precisamente de episódios
que aumentou.
A relação e espacialização desses fenômenos no País pode subsidiar outros
trabalhos na área de desastres naturais, bem como melhorar estratégias de planejamento,
prevenção e gestão, para mitigar os prejuízos decorrentes de sua ocorrência.
Palavras-chave: Climatologia, Desastres Naturais, Tornado, Sistema de Informações
Geográficas, Cartografia Temática, Análise Espacial.
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Índice
1. Introdução......................................................................... 10
2. Justificativa....................................................................... 11
3. Objetivos........................................................................... 13
3.1 Objetivos Gerais........................................................ 13
3.2 Objetivos Específicos................................................ 13
4. Referencial Teórico.......................................................... 14
4.1 Os Tornados.............................................................. 14
4.2 A ocorrência de tornados no mundo.......................... 18
4.3 A ocorrência de tornados no Brasil............................ 20
5. Materiais e Procedimentos............................................... 22
5.1 Revisão Bibliográfica................................................ 23
6. Resultados e Discussão................................................... 26
6.1 Ocorrências de tornados no Centro- Sul
do Brasil de 1980 a 2008...................................................... 26
6.2 Distribuição Sazonal das Ocorrências de Tornado..... 30
6.3 Análise populacional das regiões atingidas
por tornados..........................................................................36
7. Considerações Finais....................................................... 39
Referências Bibliográficas.................................................... 41
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Lista de Figuras
Figura 4.1 – Formação de um tornado na base de uma nuvem cumulunimbus.....15
Figura 4.2 - Comparação de antes e depois da passagem de um F1 em abril
de 2011, no estado de Missouri – EUA................................................................. 16
Figura 4.3 – Mapa de ocorrência de tornados no mundo...................................... 18
Figura 4.4 – Tornados em áreas agrícolas do mundo........................................... 19
Figura 4.5 - Tornado registrado em Indaiatuba – SP, em 2005............................. 21
Figura 4.6 – Destruição causada por tornado registrado em Criciúma em 2005.. 21
Figura 6.1 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil................................... 28
Figura 6.2 – Gráfico de distribuição temporal das ocorrências de tornado no Brasil
entre 1980 e 2008................................................................................................. 29
Figura 6.3 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil por estações do ano. 30
Figura 6.4 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil no inverno................. 31
Figura 6.5 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil na primavera............. 32
Figura 6.6 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil no outono.................. 33Figura 6.7 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil no verão.................... 34
Figura 6.8 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil x Densidade
Demográfica por Município.................................................................................... 37
Figura 6.9 – Gráfico de distribuição de episódios de tornado no Centro-Sul do
Brasil por densidade demográfica dos municípios................................................ 38
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Lista de Tabelas
Tabela 4.1 – Escala Fujita-Pearson de intensidade de tornados.......................... 15
Tabela 6.1 – Ocorrência de tornados no Centro-Sul do Brasil no período de
1980 a 2008........................................................................................................... 26
Tabela 6.2 – Distribuição temporal da ocorrência de tornados no Centro-Sul
do Brasil no período de 1980 a 2008..................................................................... 29
Tabela 6.3 – Tabela de distribuição de episódios de tornado no Centro-Sul do
Brasil por densidade demográfica dos municípios................................................ 38
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1. Introdução
Os tornados estão entre os mais destruidores eventos climáticos conhecidos, e secaracterizam por uma coluna de ar giratória, derivada de uma nuvem cumulunimbus, com
ventos em velocidade suficiente para causar danos na superfície (MARCELINO, 2003).
Seu grau de intensidade é medido mais comumente pela escala de Fujita, variando de F0 a
F5 de acordo com a magnitude de seus ventos e, decorrente deles, seu poder de destruição.
Seu mecanismo de formação ainda é pouco conhecido, de modo que diversos
pesquisadores têm se empenhado em verificar as correlações existentes entre a superfície e
a atmosfera na formação de tais episódios, havendo grandes probabilidades de correlação
entre relevo, hidrografia e mesmo elementos meteorológicos de escala sinótica
(MARCELINO, 2006; NUNES, 2009). São conhecidas e mapeadas as áreas do globo onde
ocorrem com maior freqüência, sendo essas freqüentemente áreas planas e em regiões
subtropicais, onde o encontro de massas de ar de naturezas distintas é favorecido (FUJITA,
1981).
O que o presente estudo realiza é uma reunião dos dados de ocorrência desse
fenômeno no Centro-Sul do País entre 1980 e 2008, onde está concentrada boa parte dos
episódios de tornados, contando ainda com a espacialização desses fenômenos e
tematização por estações do ano e concentração populacional, de modo a verificar padrões
predominantes e analisar a idéia corrente no meio científico de que esse fenômeno tem se
tornado cada vez mais comum no Brasil.
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2. Justificativa
O olhar geográfico sobre a Climatologia se dá através do estudo das interações dasdiversas escalas meteorológicas com os elementos da superfície terrestre, propiciando
assim melhor previsibilidade e planejamento de mitigação de impactos após a ocorrência de
fenômenos dessa natureza. Os estudos mais recentes têm demonstrado cada vez mais as
correlações existentes entre a superfície e a atmosfera na formação de eventos extremos,
havendo grandes probabilidades de correlação entre relevo, hidrografia e mesmo elementos
meteorológicos de escala sinótica (MARCELINO, 2006; NUNES, 2009).
A Região Centro-Sul do Brasil é uma das que mais têm sido atingidas por
desastres naturais, causadores de grandes prejuízos econômicos e sociais. Alguns dos
eventos extremos mais comuns nessa região do Brasil são as inundações, escorregamentos,
vendavais e tornados (SAUSEN, 2008), sendo este último o foco deste trabalho por, em
grande parte das vezes, resultar em todos os danos anteriores, graças à velocidade dos
ventos e volume de chuva associados. Além dos fatores sócio-econômicos, autores como
Nunes (2008) e Sausen (2008) associam este aumento no registro de número de desastres
naturais também às alterações climáticas globais.
Estudos indicam que, somente no estado de Santa Catarina, onde se concentram
50% das ocorrências de tornados no País, prejuízos da ordem de US$ 1.800.000 foram
estimados em algumas ocorrências, entre perdas de construções, plantações e estruturas de
transmissão elétrica, telefônica e hídrica (MARCELINO, 2003). Da parte social, já foram
registradas 11 mortes e 294 feridos (MARCELINO et al., 2002). Outro trabalho conjunto
de Marcelino, Marcelino e Sausen (2008) estimou um prejuízo próximo a R$ 3.000.000 em
um único evento no município de Muitos Capões-RS, além de 16 pessoas feridas e 80
famílias desalojadas.Dada a magnitude dos desastres decorrentes desse fenômeno, a presente pesquisa
vem reunir e espacializar os dados extraídos de trabalhos publicados na área, passando por
artigos, dissertações e teses em que são tratadas as ocorrências de tornado no país,
facilitando assim a consulta e identificação dos locais e datas de episódios deste fenômeno
que, conforme se revelará ao longo do trabalho, vem aumentando significativamente seus
registros de ocorrência no país.
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Através do uso de ferramentas de georreferenciamento, espera-se poder
verificar a existência de padrões espaciais de ocorrência dos tornados, correlacionando-os a
outros fatores físicos como a geomorfologia e a hidrografia - o que acompanha a atual linha
de pesquisa de estudiosos brasileiros no assunto, como Marcelino e Nunes, demonstrando
as diferentes interações entre atmosfera e superfície que podem resultar na formação dos
tornados.
Até o momento, não há trabalhos no meio científico reunindo dados de todas as
ocorrências de tornado no País, de modo que esta pesquisa visa reunir esses dados no
período de 28 anos em que se concentrou esse estudo; com o auxílio do mapeamento
realizado, fica clara a distribuição espacial e temporal desse fenômeno, bem como podesubsidiar outras análises para um melhor entendimento do porquê de sua ocorrência no País
e, inclusive, do aumento de episódios verificado nesse período.
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3. Objetivos
3.1 – Objetivos Gerais
A presente pesquisa vem reunir e espacializar os dados extraídos de trabalhos
publicados na área de ocorrência de tornados no Brasil, passando por artigos, dissertações e
teses em que são tratadas, facilitando assim a consulta e identificação dos locais de
episódios. Espera-se, com isso, subsidiar a compreensão acerca da distribuição espacial e
temporal desse fenômeno, bem como as diferentes formas através das quais a Climatologia
geográfica pode contribuir com proposições de planejamento e prevenção de danosocasionados por eventos extremos, sobretudo em áreas densamente povoadas.
A elaboração de mapas de ocorrência de episódios de tornado no centro-sul do
Brasil entre os anos de 1980 e 2008 visa permitir a visualização da ocorrência desses
fenômenos através dos dados coletados, subsidiando assim a análise de sua distribuição no
Centro-Sul do País.
3.1 – Objetivos Específicos
A tematização dos mapas de ocorrência dos episódios de tornado no País deve dar
um panorama de sua distribuição por estações do ano, e em que regiões isso se deu com
maior freqüência.
Em um segundo momento, uma análise combinada com a densidade demográfica
dos municípios onde ocorreram esses fenômenos visa lançar luz á idéia de que o número de
ocorrências de tornados no País tem aumentado; no entanto, como é preciso considerar que
a ocorrência de um tornado ocorre em escala local e só pode ser atestada no caso de haver
testemunhas – o fenômeno não é visível em imagens de satélite, como no caso dos ciclones,
por exemplo -, é possível que, no passado, outros episódios de tornado tenham ocorrido
sem que se soubesse disso. O maior espalhamento da população pode explicar o maior
número de flagrantes do fenômeno e, assim, permite o questionamento se o número de
episódios de tornado de fato tem aumentado, ou apenas o número de registros desses
episódios é que se tornou mais corrente.
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4. Referencial Teórico
Frequentemente associados a mudanças climáticas na atualidade, “os eventosclimáticos extremos têm sido reportados com cada vez mais frequência ao longo das
últimas décadas” (MARCELINO, 2004; MARCELINO, 2007).
Estudos recentes têm se empenhado em compreender melhor o mecanismo de
formação e dispersão de tornados e, assim, identificar as possíveis causas do aumento do
registro de ocorrências desse fenômeno no Brasil - sobretudo em sua região meridional -,
bem como prever sua trajetória e, assim, minimizar seus danos.
Desta forma, a pesquisa que se segue pretende reunir os principais estudos
relacionados às ocorrências de tornados no Brasil, proporcionando uma cartografia das
regiões onde houve registros de sua passagem e demonstrando sua trajetória e intensidade
de devastação sempre que os dados disponíveis tornarem possível a análise.
4.1– Os Tornados
Variadas definições de tornados podem ser encontradas na literatura: Hushcke
(1959) o define como uma violenta coluna de ar giratória, pendente de uma nuvem
cumulunimbus, visualizado como uma nuvem em forma de funil (figura 4.1). De acordo
com Fujita (1981), o tornado é um misociclone com rápida rotação, acompanhado por
ventos destruidores próximo ao solo, e normalmente observado como uma nuvem funil
pendente de uma nuvem mãe. Posteriormente, Doswell (2001) afirmou que o tornado é uma
nuvem em forma de funil que liga a base de um cumulunimbus à superfície, sendo o ventoe não a nuvem o fator constituinte do tornado. Acrescenta ainda que os ventos associados à
coluna giratória de ar devem ser suficientes para causar danos à superfície para que se
possa caracterizá-lo como um tornado. Quando o tornado toca uma superfície aquosa, passa
a ser denominado tromba d’água (MARCELINO, 2003).
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Figura 4.1 – Formação de um tornado na base de uma nuvem cumulunimbus.
Fonte: Marcelino, Marcelino e Sausen (2007)
A escala criada por Fujita em 1973 para a classificação da intensidade dos
tornados é até hoje consagrada como principal parâmetro para esse tipo de classificação
atualmente, classificando os tornados de F0 a F5 de acordo com parâmetros como a
velocidade dos ventos e os danos que podem ser provocados (tabela 4.1).
Tabela 4.1 – Escala Fujita-Pearson de intensidade de tornados
Classificação CategoriaVelocidadedos ventos
(km/h)
Comprimentoda trilha (km)
Largura datrilha (m)
Danosprovocados
F0 Fraco 65-116 0-1,6 0-16 LevesF1 Fraco 119-177 1,6-5 16-50 ModeradosF2 Forte 180-249 5,1-15,9 51-160 ConsideráveisF3 Forte 252-332 16-50 161-508 Severos
F4 Violento 335-418 51-159 540-1400 DevastadoresF5 Violento 421-512 161-507 1600-5000 Incríveis
Fonte: Adaptada de Fujita e Pearson (1973) in Marcelino (2003)
O tornado é, portanto, uma categoria de tempo severo ou evento climático
extremo, capaz de causar graves prejuízos sociais e econômicos por onde passa – ainda
mais perceptíveis em áreas povoadas como os centros urbanos – “sendo um dos principais
agentes responsáveis por desastres naturais” (MARCELINO, 2003).
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A figura 4.5 mostra fotos comparativas de uma região no estado do Missouri –
EUA, após a passagem de um tornado tipo F1, considerado um dos mais brandos segundo a
escala de Fujita. Nota-se que os danos materiais já são suficientemente severos para
derrubar árvores e construções.
Figura 4.2 - Comparação de antes e depois da passagem de um F1 em abril de 2011, no estado de Missouri –
EUA. Fonte: http://www.reddit.com/r/pics/comments/hj29r/beforeafter_pic_from_missouri_tornado/
(acessado em 03/06/2011)
A intensa energia acumulada no interior das nuvens convectivas dos quais derivam
fazem com que o episódio seja freqüentemente associado a ocorrências de forte
precipitação de chuva e/ou granizo; assim, mesmo quando não são diretamente atingidas
pelos tornados, diversas cidades sofrem com outros eventos extremos associados, também
freqüentemente causando grandes transtornos à população. Ferreira (2006) cita como
decorrências indiretas a elevação dos rios com conseqüentes enchentes, provocadas pelas
fortes chuvas, os destelhamentos das casas provocados pela intensidade dos ventos e,
eventualmente, do granizo, e a destruição parcial ou total de áreas de cultivo.
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Diversos são os fatores que podem desencadear a formação de um tornado,
ainda que seu mecanismo ainda não seja considerado perfeitamente conhecido e previsível.
Stull (2000 apud Marcelino, 2004, p. 32) propõe que a formação de um tornado está ligada
a características atmosféricas de vorticidade horizontal na baixa troposfera, que tendem a
passar à posição vertical com as inclinações provocadas pela intensificação dessas correntes
de ar.
Marcelino (2003) assinala a importância do estudo da formação desse tipo de
sistema, incorporando a análise sinótica e da interação com a superfície como fatores que
incrementam a convecção de ar e umidade.
Ferreira (2006), analisando episódio ocorrido em 2001 em SC e RS, assinala acombinação de fatores como contraste térmico entre massas de ar de origem polar e
tropical, áreas de baixa pressão próximas, forte convecção em baixos níveis, advecção em
altos níveis e presença de grande umidade próxima à superfície; tais fatores resultaram na
formação rápida de nuvens convectivas bastante profundas, capazes de desencadear o
episódio de tornado verificado.
Todos esses fatores tornam extremamente complexa a previsibilidade dos
tornados, de modo que ambos os autores focam seus trabalhos no sentido de incrementar os
métodos de análise meteorológica dos fenômenos, combinando informações dados
coletados em superfície com imagens de satélite. Nunes (2008) também ressalta a
importância do planejamento urbano e da percepção da população quanto aos riscos
inerentes aos eventos extremos.
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4.2– A ocorrência de tornados no mundo
Os locais de ocorrência de tornados no mundo são predominantemente a zona
subtropical e partes da tropical, onde são favorecidos os encontros de massas de ar de
naturezas distintas (figura 4.3). O potencial para formação de tempestades severas é
aumentado nesses locais, assim como as chances de que esses eventos evoluam para um
tornado.
Figura 4.3 – Mapa de ocorrência de tornados no mundo
Fonte: Lopes / Funenseg, (2007 - adaptado)
Em estudo realizado por Fujita (1983), foi demonstrado que a ocorrência de
tornados é bem maior em áreas agrícolas, o que se explica pelo autor devido à grande
presença de umidade e de áreas planas, geralmente com grandes variações de temperatura
(figura 4.4). Estudos de Marcelino (2004) e Nunes (2008) sugerem ainda que os tornados
tendem a acompanhar os cursos d’água, tais como rios, bem como demais parâmetros do
relevo, ainda que, até o momento, não se possa afirmar que os fatores desencadeadores de
tornados sejam completamente conhecidos.
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Figura 4.4 – Tornados em áreas agrícolas do mundo.
Fonte: Fujita apud Brown et al. (2010 - adaptado)
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4.3 – A ocorrência de tornados no Brasil
O tornado é um dos tipos de desastres naturais de que se tem relato no País.Entende-se um desastre natural como a conseqüência da combinação de riscos naturais (um
evento físico como uma erupção vulcânica, terremoto, deslizamento) e atividades humanas, que
expõem uma determinada população a menor ou maior vulnerabilidade (GUTJAHR, 2006).
Assim, apesar de não ser o exemplar de evento extremo mais freqüente no País, são visíveis os
estragos causados quando de sua ocorrência.
A região compreendida entre o sul do Brasil e o norte da Argentina é a segunda
com maior eventos de tornado no mundo, de acordo com Brooks, Lee e Craven (2002),
perdendo apenas para a região central dos Estados Unidos (figura 4.3). A Região Centro-
Sul do Brasil, onde se concentra o maior número de ocorrências desse fenômeno, conta
ainda com mais de 60% da população brasileira (IBGE, 2010).
Ainda assim, há um consenso popular de que se trata de um fenômeno raro no
Brasil. Apenas alguns episódios tiveram maior destaque na grande mídia por terem
ocorrido próximos a grandes centros urbanos, tais como os de Indaiatuba, em 2005, e Rio
de Janeiro, em 2009.
Uma reportagem do jornal G1 (2001) quando dessa ocorrência no Rio de Janeirocomenta também a surpresa dos cariocas, imaginando que o evento se tratasse de um
ciclone. Outros sites dedicados à questão do meio ambiente, a exemplo do SOS Rios Brasil,
chamam a atenção para o fato de que esse evento é conseqüência da degradação da natureza
e das mudanças climáticas daí decorrentes.
Um dos tornados com maior destaque na mídia dos últimos tempos foi o ocorrido
no município de Indaiatuba-SP, em 2005 (figura 4.5). Tal formação se deu próxima à área
urbana do município e pode ser visto pela população local, tendo causado transtornos comoa destruição parcial da rede elétrica e queda de árvores. Outro centro urbano afetado por
tornados no mesmo ano foi Criciúma, em que sobretudo a população das regiões
periféricas, com casas em estruturas mais precárias, foi prejudicada (figura 4.6).
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Figura 4.5 - Tornado registrado em Indaiatuba – SP, em 2005.
Fonte: http://www.videolog.tv/video.php?id=297010 (acessado em 12/05/2011)
Figura 4.6 – Destruição causada por tornado registrado em Criciúma-SC, em 2005.
Fonte : http://noticias.uol.com.br/ultnot/2005/01/03/ult23u132.jhtm (acessado em 13/05/2011)
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5. Materiais e Procedimentos
Para a elaboração e execução do trabalho, foi reunida a literatura disponível sobre
as ocorrências de tornados no país, presentes em dissertações de mestrado e teses de
doutorado – sobretudo do INPE e UFSC, duas instituições com grupos de pesquisa sobre o
assunto -, bem como artigos publicados nas edições mais recentes do Simpósio Brasileiro
de Geografia Física Aplicada (SBGFA), do Simpósio Brasileiro de Climatologia
Geográfica (SBCG), do Congresso Brasileiro de Meteorologia (CBM) e do Encontro de
Geógrafos da América Latina (Egal). Também foram utilizadas notícias veiculadas em
periódicos retratando alguns dos episódios, tais como jornais e telejornais.Nessas pesquisas extraíram-se não somente as datas e locais de ocorrência do
fenômeno no país, mas também muito sobre a natureza de formação dos tornados e sua
interação com os diversos estratos geográficos.
A pesquisa conta ainda com o georreferenciamento dos dados sobre mapas
disponíveis do Centro-Sul do Brasil, subsidiando no final a análise dos dados organizados,
de modo a verificar a existência ou não de padrões. Para tanto, foram utilizados:
- Tabelas do Excel 2003, reunindo os dados disponíveis sobre cada ocorrência nopaís. Foram tabelados a data e o local de ocorrência. Analisando-se esta parte, foi extraída
a estação do ano em que ocorreram os eventos de tornado.
- O software ArcGis 9.3, versão mais recente de um dos mais populares sistemas
de informação geográfica (SIG). Nele foram inseridas as imagens e mapas escolhidos para
representação dos locais e, sobre eles, foram georreferenciados os pontos correspondentes
às ocorrências de tornados no país, contendo ainda as informações disponíveis nas tabelas.
- Uso de dados e bases do IBGE de municípios e unidades federativas, usadas
também para o cálculo da densidade populacional de cada município, tomando como base
os dados recentemente divulgados do Censo Populacional 2010. Na geração do mapa
temático, foram criadas 5 classes usando o método estatístico Quantile.
- Para a padronização e correto emprego das normas técnicas empregadas na
elaboração de uma pesquisa científica, foram utilizados como referência o TGI apresentado
por Prado (2006) e texto elaborado especialmente pelo professor doutor Luís Venturi para
apoio a pesquisadores iniciantes.
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5.1 – Revisão Bibliográfica
As leituras realizas contribuíram para o entendimento dos controles atmosféricos e
superficiais envolvidos na ocorrência dos tornados, bem como análise pontual de episódios
– o que também contribuiu para a construção da tabela de ocorrências.
As definições de tornados estão presentes em Huschke (1959), Fujita (1981) e
Doswell (2001), detalhadas na parte introdutória deste trabalho. Apesar da definição mais
recente ser a de Doswell, a escala de Fujita é, ainda hoje, padrão para determinação da
intensidade desses eventos.
Os registros de ocorrência de tornados foram obtidos através de textos de Coutinho(2008), Lopes (2007), Oliveira (2000), Marcelino (2003, 2004 e 2007), Nunes (2008) e pelo
página de autoria de internet de Cruz, acessada em 07/08/2009. Cabe ressaltar que Oliveira
e Marcelino são a mesma pessoa, sendo o primeiro seu sobrenome de solteira.
Em dois artigos, Nunes (2008 e 2009) analisa episódios distintos de ocorrências de
tornado em Campinas e região. Suas análises foram de grande valia para o entendimento de
correlações entre as condições de superfície e as condições atmosféricas no
desencadeamento de tornados (muitas vezes acompanhando o curso de rios, vales e relevos
acidentados), em que tal relação pode ser verificada no episódio em questão. A autora
defende que a freqüência de eventos climáticos extremos no Brasil está aumentando, o que
a autora associa com a variabilidade climática (1995 e 2006). As mesmas idéias se
verificam em Marcelino (2003) e Sausen (2008).
Marcelino (2003) estuda os episódios de tornados em Santa Catarina e faz
importantes correlações das ocorrências de tornado com elementos da superfície, mas sua
análise abrange também aspectos sinóticos da atmosfera que facilitam e intensificam os
movimentos convectivos responsáveis pelas formações dos mesociclones de onde se
originam os tornados. O estudo verificou que boa parte das ocorrências de tornados no
verão foi notadamente sobre a forma de trombas d’água e estavam ligadas a sistemas
frontais sobre o oceano; nas demais estações, o envolvimento de outros fatores, tais como
cavado de baixos níveis sobre a Bacia do Prata e escoamento de noroeste. Quanto à
superfície, verificou o predomínio de episódios de tornado em regiões com grandes
diferenças de relevo, tais como planícies costeiras próximas a regiões de serra, sobretudo
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durante o verão, quando boa parte da atividade convectiva se dá pelos ventos úmidos
vindos do oceano em contraste com a barreira orográfica das serras. Os tornados em regiões
de planalto em Santa Catarina foram mais comuns nas outras estações, onde são mais
comuns as massas de ar polar continentais. Marcelino (2003) ainda comenta os prejuízos
materiais decorrentes de alguns eventos, onde foi possível realizar essa estimativa. Sendo
natural de Santa Catarina, onde atualmente faz parte do Grupo de Estudos de Desastres
Naturais (GEDN) da UFSC, Marcelino descreve também inúmeras ocorrências de eventos
extremos ocorridos no Estado – que, conforme já dito, é de longe aquele que apresenta
maior número de registros de desastres naturais.
Hermann (2005, org.) publicou ainda pelo GEDN um Atlas completo de desastresnaturais no Estado e de onde foi possível extrair dados como a variação de temperatura e
pluviosidade no Estado ao longo das estações e sistemas atmosféricos atuantes na região,
que podem ser a explicação do número de episódios de tornado tão superior aos demais
estados brasileiros, bem como sua espacialidade dentro do Estado.
Valiosas informações puderam ser extraídas dos textos de Fujita (1981), renomado
pesquisador na área. Não obstante a elaboração da escala de intensidade dos tornados que
leva seu nome e é referência até os nossos dias, diversos foram os estudos empreendidos
sobre os tornados nos Estados Unidos, onde viveu, que lhe permitiram verificar uma grande
correlação entre a ocorrência de tornados e as áreas agrícolas, bem como análises
detalhadas das condições atmosféricas que desencadearam os principais episódios ocorridos
no “tornado alley”, maior corredor de tornados do planeta, no interior dos EUA. Com base
em tais estudos, Brown et al. (2010) fez uma análise dessas ocorrências em áreas rurais,
demonstrando que a alta umidade e presença de amplos espaços abertos é fator de grande
importância na formação de tornados.
Ferreira (2006) e Sausen (2008) indicam a dificuldade de se identificar tornadosatravés de imagens de satélite e radares, devido à escala local do evento. Tal questão
dificulta sua previsibilidade e, conforme foi explorado ao longo do estudo, lança dúvida
quanto ao número exato de ocorrências de tornado no Brasil e no mundo: não há como
confirmar uma ocorrência sem que alguém esteja presente no momento para testemunhá-la;
mesmo a destruição causada após sua passagem possui padrão similar àquela conseqüente a
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outros eventos extremos, tais como vendavais e microbursts, tornando difícil precisar
qual deles poderia ter ocorrido.
Os demais textos pesquisados foram trabalhos apresentados em eventos como o
Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica (SBCG), a exemplo da contribuição de
Gutjahr (2006), analisando os desastres naturais no Brasil, os prejuízos decorrentes e sua
correlação com a ocupação desordenada do espaço.
O censo populacional de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) foi usado como base para a geração dos mapas temáticos de densidade
populacional, correlacionada aos episódios de tornado na parte de Resultados.
Por fim, foi usado o trabalho de conclusão de curso de Prado (2006) comoreferência para a formatação básica deste trabalho. Por também se tratar de pesquisa de
dados climáticos aliada ao uso de sistemas de informações geográficas, foi de grande valia
como modelo de evolução da pesquisa, desde sua introdução e modelagem dos dados, até
as conclusões. Tais modelos de análise estão presentes também em Lacruz e Pardí (2008),
autores de um caderno didático abordando os desastres naturais e sua representação nos
SIG, a exemplo do que se fez neste trabalho.
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6. Resultados e Discussão
6.1- Ocorrências de tornados no Centro-Sul do Brasil de 1980 a 2008
No período em que se centra o presente trabalho, de 1980 a 2008, foram
registradas 60 ocorrências de tornado somente no Centro-Sul do País, onde são mais
freqüentes.
A reunião dos dados de tornados no Brasil contou com diversos estudos e notícias
veiculadas pela mídia, não havendo anteriormente nenhum material que reunisse todos os
registros de ocorrência no país. Os estudos de Marcelino (2003) reúnem principalmente as
ocorrências no estado de Santa Catarina; Nunes (2008) dá maior enfoque à região de
Campinas, descrevendo os episódios de eventos extremos na região. Os demais dados
foram obtidos através de estudos de caso isolados, a exemplo de Marques e Bittencourt
Filho (2008), descrevendo um episódio recente em Navegantes-SC e Marcelino (2005)
descrevendo um outro episódio em Muitos Capões – RS, bem como notícias, muitas vezes
divulgadas apenas em jornais locais.
Tabela 6.1 – Ocorrência de tornados no Centro-Sul do Brasil
no período de 1980 a 2008.
Data UF Município Estação8/10/1984 SC Maravilha Primavera
13/5/1987 SC São Joaquim Outono
15/5/1987 PR Planalto Outono
15/5/1987 SP Piedade Outono
7/7/1987 SC Xanxerê Inverno
15/10/1987 SC Indaial* Primavera
31/8/1989 MS Ivinhema Inverno
11/11/1989 SC São Carlos* Primavera11/11/1989 SC Xanxerê* Primavera
24/11/1989 SC Correia Pinto* Primavera
24/11/1989 SC Garuva* Primavera
26/4/1991 SP São Bernardo do Campo Outono
30/9/1991 SP Itu Primavera
30/9/1991 SP Jundiaí Primavera
17/5/1992 PR Almirante Tamandaré Outono
10/3/1993 SP Cachoeira Paulista Verão
13/5/1994 SP Ribeirão Preto Outono
9/1/1995 SC Benedito Novo* Verão
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24/9/1995 SC Paraíso* Primavera
28/11/1995 SC Rio dos Cedros* Primavera
27/1/1996 SC São Francisco do Sul Verão
27/2/1996 SC Meleiro Verão2/1/1997 SC Itapoá Verão
7/2/1997 SC Florianópolis Verão
5/4/1997 SC Piçarras Outono
7/2/1998 SC Abdon Batista Verão
26/1/1999 SC Joinville Verão
26/10/1999 MS Ponta Porã Primavera
24/11/1999 SC Forquilhinha Primavera
23/2/2000 SC Florianópolis Verão
1/3/2000 SC Itapoá Verão
2/5/2001 RJ Campos dos Goytacazes Outono
4/5/2001SP Sumaré
Outono
24/5/2001 RJ Rio de Janeiro Outono
20/7/2001 RS Viamão Inverno
16/2/2002 SP São Sebastião Verão
8/7/2003 RS São Francisco de Paula Inverno
25/5/2004 SP Palmital Outono
3/1/2005 SC Criciúma Verão
24/5/2005 SP Indaiatuba Outono
29/8/2005 RS Muitos Capões Inverno
29/3/2006 SP Piracicaba Outono
29/3/2006 SP Santa Bárbara d'Oeste Outono
23/7/2007 SC Campos Novos Inverno
30/10/2007 SP Campinas* Primavera5/1/2008 RS Maquiné Verão
17/1/2008 SP Ilha Comprida Verão
16/2/2008 SC Tubarão Verão
2/3/2008 SC Tubarão Verão
24/3/2008 SC Florianópolis Outono
12/8/2008 SC Cerro Negro Inverno
12/8/2008 SC Zortéa Inverno
10/9/2008 RS Coxilha Velha (Triunfo) Inverno
10/9/2008 RS Pareci Novo Inverno
10/9/2008 RS Tabaí Inverno
11/9/2008RS Mato Leitão
Inverno
11/9/2008 RS Morro Reuter Inverno
25/10/2008 SC Abelardo Luz Primavera
25/12/2008 SP Lins Verão
31/12/2008 SC Urupema Verão
*Possíveis ocorrências
Fonte: Marcelino (2003), Nunes (2008), Lopes (2007), Coutinho (2008), Cruz (2008), Marques e Bittencourt
Filho (2008), IPMET - Unesp(2008)
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Devido à diversidade de fontes com informações sobre os tornados, a
intensidade com que eles ocorreram não foi considerada neste estudo, de modo evitar
controvérsias com relação a este ponto.
A espacialização das ocorrências de tornado no Brasil (figura 6.1) permitiu
verificar sem grande dificuldade que a maior parte das ocorrências de tornado foram
registradas no estado de Santa Catarina, totalizando 30 episódios (50% do apurado no
período), ao passo que no estado vizinho do Paraná, por exemplo, há registro de apenas
duas. As regiões metropolitanas e arredores de São Paulo e Porto Alegre também exibem
quantidade expressiva de registros, com destaque, em SP, para a região de Campinas.
Ademais, os estados de Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro tiveram apenas duasocorrências cada, a exemplo do Paraná.
Figura 6.1 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil.
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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Tais constatações confirmam os estudos de Dyer (1994), de que a maior
ocorrência de tornados no Brasil encontra-se nas regiões Sul e Sudeste. Os sistemas frontais
e áreas de instabilidades são elementos comuns ao clima de Santa Catarina, colocando o
Estado em primeiro lugar absoluto de ocorrências dessa natureza no país, característica já
observada por Marcelino (2003).
Na distribuição temporal, vemos que 11 episódios (18 % do total) ocorreram na
década de 1980, 18 episódios (30% do total) ocorreram na década de 1990 e 31 episódios
(52% do total) entre 2000 e 2008. Tal constatação reforça as afirmações de Marcelino
(2003) e Nunes (2008) de que o registro de ocorrências de tornado tem aumentado no País
(tabela 6.2 e figura 6.2).
Tabela 6.2 – Distribuição temporal da ocorrência de tornados no
Centro-Sul do Brasil no período de 1980 a 2008.
Período Episódios de Tornado % do Total1980 a 1989 11 18%
1990 a 1999 18 30%
2000 a 2008 31 52%
Total 60 100%Elaboração: João Rodrigues, 2011
Distribuição Temporal dos Episódios de
Tornado no Centro-Sul do Brasil entre 1980
e 2008
18%
30%
52%
1980 a 1989
1990 a 1999
2000 a 2008
Figura 6.2- Gráfico de distribuição temporal da ocorrência de tornados no Centro-Sul do País entre 1980 e
2008. Elaboração: João Rodrigues, 2011
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6.2 – Distribuição Sazonal da Ocorrência de Tornados
De modo a tentar detectar visualmente padrões sazonais para a ocorrência de
tornados, o mapa foi tematizado por estações do ano (figura 6.3).
Figura 6.3 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil por estações do ano.
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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Observam-se 13 ocorrências de tornados no inverno, a maior parte nos
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul - este último tendo tido apenas uma
manifestação do fenômeno em outra estação (verão). Houve ainda uma ocorrência no Mato
Grosso do Sul (figura 6.4).
Figura 6.4 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil no inverno
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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Na primavera, o número foi de 14 ocorrências, notadamente nos estados de Santa
Catarina e São Paulo. Houve ainda uma ocorrência no Mato Grosso do Sul (figura 6.5).
Figura 6.5 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil na primavera
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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No outono, foram registradas 15 ocorrências, 8 delas no estado de São Paulo, 3 em
Santa Catarina, 2 no Paraná e outras 2 no Rio de Janeiro (figura 6.6).
Figura 6.6 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil no outono
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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O maior número de ocorrências, 18, se deu no verão, sendo 13 em Santa
Catarina, 4 em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul (figura 6.7). Tal observação está em
desacordo com os estudos de Marcelino (2004), que afirma que 40% das ocorrências de
tornado em Santa Catarina se dá na primavera.
Figura 6.7 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil no verão
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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Alguns padrões temporais e espaciais podem ser encontrados na literatura sobre a
ocorrência de tornados no Brasil:
Santa Catarina é o único Estado brasileiro que registrou episódios de tornados nas
quatro estações do ano; no entanto, a espacialidade desses fenômenos foi diferente. Durante
o verão, verifica-se uma concentração maior desse fenômeno na a leste do Estado, e no
inverno, mais a oeste. Tal fenômeno encontra explicações em Marcelino (2003), que
analisa a ocorrência de tornados no leste do Estado como estando associada à umidade do
ar vindo do oceano, mais intensa no verão e, combinada com a barreira orográfica da Serra
do Mar, propicia a presença de nuvens convectivas profundas, potenciais desencadeadorasde tornados. Já a região oeste tem seus tornados mais associados às passagens de sistemas
frontais e da formação dos Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM), presentes com
maior frequência e intensidade nesta região nos meses de inverno.
As ocorrências no Rio Grande do Sul seguiram padrão similar: dos 9 episódios
ocorridos no Estado, 8 se deram no inverno, indicando a possibilidade de que sejam todos
derivados também de sistemas frontais presentes na região O episódio de 2005 foi
analisado por Marcelino (2007), onde foi uma frente fria associada a áreas de instabilidade
a causa de um F3 no município de Muitos Capões. Houve apenas um outro episódio, no
verão, também próximo ao litoral, possivelmente causado pela convecção característica na
região nesta época do ano.
A região Sudeste apresentou a maior parte de seus episódios nos meses de outono.
Ao analisar os episódios de março de 2006 nos municípios de Piracicaba e Santa Bárbara
d’Oeste, Nunes (2008) indica que tanto o outono quanto a primavera são épocas
particularmente propícias à formação de tornados nessa região devido aos distúrbios
baroclínicos. Adicionalmente, Nunes comenta a influência do choque entre massas de arpolares e tropicais, comum nessa região, fenômenos de mesoescala e jatos de baixos níveis
transportando umidade pela região. A Depressão Periférica é um tipo de relevo que
favorece essa formação também, ao formar um corredor com o relevo mais acidentado ao
redor, do Planalto Ocidental e Planalto Cristalino. Outro fator interessante do relevo é a
configuração dos rios que cortam o estado no sentido leste-oeste, fornecendo umidade à
atmosfera nessas situações de instabilidade.
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6.3 – Análise populacional das regiões atingidas por tornados
Diversos trabalhos de Nunes (1995, 2008 e 2009) e Marcelino (2006) apontam um
aumento das ocorrências de tornado, que pode estar ligado ao aquecimento global, o que,
como já discutido anteriormente, não é consenso no meio científico. No entanto, em
publicação de 2008, Nunes levanta a possibilidade de que a evolução do fenômeno esteja,
na realidade, ligada ao maior espalhamento da população e dos equipamentos fotográficos e
de filmagem (hoje presentes em boa parte dos celulares). Desta forma, o que estaria
ocorrendo seria um maior número de flagrantes dessa ocorrência, e não necessariamente
um aumento do número de casos. Cabe ressaltar aqui que tornados não são visíveis emimagens de satélite, sendo realmente necessárias testemunhas para que se ateste com
certeza a sua ocorrência.
De modo a verificar a teoria proposta por Nunes, foram gerados mapas
correlacionando a densidade populacional com as áreas em que os tornados foram
flagrados, de modo a verificar se os registros de sua ocorrência poderiam de fato ser
considerados menores em áreas menos densamente povoadas (Figura 6.8).
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Figura 6.8 – Episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil x Densidade Demográfica por Município.
Elaboração: João Rodrigues, 2011
O que se verifica visualmente é que, de fato, a maior parte das ocorrências de
tornado registradas (34 entre o total de 60) se deu próxima a áreas densamente povoadas. O
gráfico com a distribuição desse padrão permite uma melhor visualização dessa idéia, onde
se verifica que 57% dos registros de tornado se deram possui densidade demográfica
superior a 64 habitantes por km². Pode-se associar este índice à maior concentração da
população nesses municípios, assim como facilidade de acesso a aparelhos eletrônicos de
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registro, como máquinas fotográficas e filmadoras, frequentemente embutidas nos
aparelhos celulares. Tal idéia já foi anteriormente comentada por Nunes (2009), que
trabalha com a percepção da população em relação aos eventos extremos, bem como sua
repercussão na mídia.
Figura 6.9 – Gráfico de distribuição de episódios de tornado no Centro-Sul do Brasil por densidadedemográfica dos municípios.
Elaboração: João Rodrigues, 2011
Tabela 6.3 – Tabela de distribuição de episódios de tornado no Centro-Sul do
Brasil por densidade demográfica dos municípios
Hab/km² Nº de Ocorrências % do Total
Até 9 4 7%
Entre 9 e 18,7 8 13%Entre 18,7 e 31 5 8%
Entre 31 e 64 9 15%
Superior a 64 34 57%
TOTAL 60 100%
Elaboração: João Rodrigues, 2011
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7. Considerações Finais
Os tornados são fenômenos climáticos extremos e, ao contrário da percepção da
maior parte da população, são uma realidade freqüente no Brasil. A região compreendida
entre o sul do Brasil e o nordeste da Argentina ocupa nada menos que a segunda posição no
ranking mundial de ocorrência de tornados. Deste modo, estudos mais específicos a
respeito das causas e efeitos da passagem dos tornados se fazem necessários, uma vez que é
preciso planejar e gerir os locais de sua ocorrência, de modo a prevenir e minimizar os
danos decorrentes de seus violentos episódios.
A elaboração desse trabalho foi possível graças à junção de informações oriundas
de diversas fontes, não havendo, até o momento, nenhum trabalho que reunisse dados sobre
todas as ocorrências de tornados no País. Apesar de ainda não representar um retrato de
todos os episódios já registrados - uma vez que apresenta um limite temporal e espacial -,
espero que o trabalho possa subsidiar estudos diversos nesta área, por reunir esses dados e
oferecê-los também na forma de mapas temáticos, de modo a tentar tornar mais clara a
visualização das características inerentes ao fenômeno, tais como distribuição espacial e
temporal.A análise permitiu correlacionar idéias de autores brasileiros renomados no
assunto, uma vez que ficaram comprovadas sua distribuição espacial e temporal, como as
explicadas por Nunes, no caso de São Paulo, e Marcelino, no caso de Santa Catarina.
Divergiu quanto ao maior número de ocorrências na primavera para o estado de SC, uma
vez que se notou que a maior parte dos episódios se deu no período de verão.
Espero também poder subsidiar a reflexão sobre a questão do aumento ou não do
número de ocorrências do fenômeno no País. Em um contexto de ausência de consensoentre o polêmico termo da variabilidade climática, são comuns os comentários de que um
possível aquecimento global ao longo dos séculos 19 e 20 estaria tornando as condições
atmosféricas mais propícias à ocorrência de eventos extremos em áreas antes não atingidas
por eles; no entanto, há que se considerar que a idéia de desastre natural está intimamente
ligada à presença humana no local de ocorrência desses fenômenos, e não se pode ignorar
que a população do Brasil ainda é crescente e ocupa cada vez mais o território através da
expansão das atividades econômicas. A parte final do trabalho comprova que a maior parte
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das ocorrências de tornado ocorreu nos municípios mais densamente povoados do Centro-
Sul do País, o que pode sinalizar tão-somente uma maior possibilidade de flagrante desse
fenômeno, ainda que estudos mais específicos – como população por setor censitário, por
exemplo – pudessem esclarecer melhor essa hipótese.
Muitas áreas do Brasil são, ainda, vulneráveis a eventos extremos que, muitas
vezes, mesmo com intensidade menor que um tornado, já são capazes de acumular
prejuízos notáveis. O País, de um modo geral, acumula anos de políticas públicas
deficientes na área de planejamento, de modo que não é de se espantar que tão pouco seja
feito ou mesmo comentado sobre a ocorrência dos tornados no País.O uso de novos softwares de geoprocessamento tem subsidiado pesquisas nas mais
diversas áreas, muitas vezes nem ligadas à Geografia, que pode ainda explorar muito mais
esse potencial para subsidiar seus estudos. A espacialização de dados pode lançar uma luz a
questões de difícil solução no País, tais como planejamento e a gestão territorial,
permitindo assim a prevenção e mitigação de impactos decorrentes da ocorrência de
eventos climáticos extremos.
Espero, com este trabalho, poder somar a esses estudos a minha contribuição.
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