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Page 1: Eu sei que eu não consigo - Obra Social Paulo VI · “ Eu sei que eu não consigo ... nós aplaudimos o vencedor e ignoramos quem perde. ... Encoraje-a a desempenhar-se bem em todas

“ Eu sei que eu não consigo... “ Como construir a autoconfiança na criança Porque é que há crianças que acreditam que podem conquistar o mundo, enquanto outras duvidam das suas capacidades para encontrar a loja da esquina? Pomos nós muita tensão na competição e no sucesso? Como podemos ajudar a criança a construir a autoconfiança? Nos primeiros anos de vida a criança está muito ocupada a aprender coisas novas. E faz com que as outras pessoas reparem nela: “Olha para mim, olha para o que eu sou capaz de fazer.” As suas pequenas realizações precisam de atenção e elogios. Quando a criança vai para a escola, a competição está de repente à sua volta. Ela vê como nós idolatramos “vencer” no nosso trabalho, no desporto, nas nossas vidas. Não espanta que ela tenha essa preocupação.

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“ O meu pai é melhor que o teu porque ganha mais dinheiro.” “ A minha equipa é melhor do que a tua porque nós fomos a equipa vencedora.” “ Eu sou melhor do que tu porque eu tive 84% no teste.” Nós esquecemo-nos de que para alguém ganhar, alguém tem que perder – por vezes muitas pessoas têm que perder. E muito frequentemente nós pensamos que todas as pessoas que perdem são falhadas e frustradas.

O sucesso pode ser desencorajador

Frequentemente a criança trabalha muito para ser bem sucedida porque recebe elogios, mas ela pode perder totalmente a alegria e a satisfação que vem simplesmente do facto de participar.

Se ela não alcança o seu objectivo – ou o objectivo que os seus pais lhe determinaram – pode perder a confiança em si própria. Pode ficar com medo de falhar. O amor e os valores da família podem ajudar muito a reduzir este medo.

Quando a competição está à nossa volta, a autoconfiança prepara a criança para lidar com o mundo real.

Aqui estão algumas sugestões para ajudar a criança a ter estima por si própria e confiança nas suas capacidades:

1. O sucesso não é tão importante como estar envolvido e divertir-se. Tanto as crianças como os adultos têm dificuldade em assimilar esta ideia. Uma criança de oito anos, por exemplo, pode jogar futebol por diversão, e não para competir. As recompensas podem ser: aprender a trabalhar em equipa e em cooperação, desenvolver competências, testar limites.

Muito frequentemente, nós aplaudimos o vencedor e ignoramos quem perde. Mais cooperação entre os pais, os treinadores, os professores e os jovens lideres pode ajudar a reduzir a importância de ganhar e ajudar a construir a autoconfiança.

A questão chave depois do jogo não é “Ganhaste?”, mas “Divertiste-te?” 2. A criança precisa de objectivos que combinem os seus desejos com as suas competências. Pedir a um estudante médio para ficar satisfeito com uma nota que não seja abaixo dos 80% em todas as matérias é colocar muito stress no sucesso. Esperar que uma rapariga que não é grande nadadora “venha para casa com uma medalha” é também injusto. Deixem-na nadar por diversão...

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3. Evite comentários desencorajadores. Se a criança tem um fraco desempenho numa actividade, não se dirija a ela com: “Bem, tu hoje mais valia não teres saído de casa”. Procure antes encorajar. Todas as crianças têm uma ou duas áreas em que são melhores do que no resto. Elogie esses aspectos e encoraje os outros. Sublinhe que tudo o que ela tem que fazer é dar o seu melhor. Ensine-lhe estratégias para melhorar os seus hábitos de estudo, proporcione-lhe ajuda extra tanto em casa como na escola.

4. Nem por um minuto sugira que o seu amor está ligado ao desempenho da criança. Encoraje-a a desempenhar-se bem em todas as actividades. A confiança cresce num ambiente cheio de amor e afecto. Amor, segurança e aceitação são o coração da vida de família. Triunfos e derrotas devem ser esperados e aceites.

5. Quando a criança estiver desencorajada – “Eu sou mesmo um fracasso” – deixe-a expressar os seus sentimentos mas ajude-a a ver-se a si própria numa perspectiva mais positiva.

Sublinhe as suas realizações no passado. Relembre-a das suas competências especiais. Encoraje-a a divertir-se, a fazer aquilo que ela gosta, mesmo que ela não seja muito boa nisso. O objectivo não é ganhar a todo o momento.

6. A autoconfiança vem com encontros desafiantes. Há muitas maneiras de ajudar a sua criança a desenvolver o sentido de realização: jogos de família, desportos na vizinhança, tarefas domésticas como arrumar a sala ou lavar o carro, fazer alguma coisa fácil. Isso ajuda-a a ver que ela pode desempenhar-se bem e ser reconhecida. Toda a família deve tentar participar. Mas não “deixar” a criança ganhar. A sua pequena decepção pode apenas aumentar o seu sentimento de falha (“Eu sou tão desajeitada que o pai pensa que tem que me deixar ganhar”). 7. Não esconda as suas falhas. Teve dificuldades na matemática? Já alguma vez teve uma falha crucial contra a sua própria equipa desportiva? Isso ajuda a criança a perceber que a mãe e o pai também não são perfeitos, e que depois ficam bem.

8. Seja um exemplo. As suas atitudes competitivas são transmitidas para o seu filho? Se tem uma concepção saudável sobre o ganhar e o perder, a sua criança provavelmente seguirá o seu exemplo.

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Encoraje menos o alcançar dos resultados e mais alegria da satisfação. Nós não temos que ser bons a fazer alguma coisa que nos dá satisfação. Lembre-se que a autoconfiança da criança não vem do facto de ela ter sucesso. Vem de uma sólida fundação no amor da família. Vem de saber resolver e ultrapassar os problemas. A família pode ser uma grande ajuda!

Texto adaptado por Isabel Duarte de: FEELINGS AND YOUR CHILD

Canadian Mental Health Association. Ilustração: Kathy Silva


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