ESTUDO DOS FATORES
DETERMINANTES DO INCOMODO
CAUSADO PELA POLUIÇÃO DO AR
ATRAVÉS DE SURVEY
Milena Machado (IFES )
Jane Meri Santos (UFES )
Wharley Borges (UFES )
Além dos impactos tradicionalmente considerados sobre a saúde, a
poluição do ar pode gerar incômodos e ocasionar efeitos psicológicos
que afetam a qualidade de vida da população. Este estudo teve por
objetivo analisar dados de uma pesquisa de opinião sobre o incomodo
causado pela poluição do ar na região sul do estado do Espírito Santo
e identificar as inter-relações entre aos seus possíveis fatores
determinantes. Os resultados mostraram que mais de 80% da
população se sente pelo menos um pouco incomodada com a poluição
do ar especialmente pela presença de poeira sedimentada. Foi
identificado uma série de consequências dos efeitos da poluição na
qualidade de vida e na saúde da população. As análises de correlação
significativas entre as variáveis mostraram que os principais fatores
determinantes do incômodo são: Avaliação e importância da qualidade
do ar, percepção da poeira, percepção do risco, ocorrência de
problemas de saúde e gênero. A partir dos resultados foi possível
concluir que a percepção da população a cerca do problema da
poluição do ar deve ser considerada para considerado na definição de
políticas públicas que visem o controle da poluição e melhoria da
qualidade do ar nesta região.
Palavras-chaves: Poluição do ar; emissões industriais; Incomodo;
qualidade de vida
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1. Introdução
A degradação da qualidade ambiental nos centros urbanos como consequência da
industrialização, da concentração populacional e do crescimento desordenado é cada vez mais
visível e presente nas grandes cidades brasileiras (ARAÚJO, 2001). Segundo a Política
Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) poluição é definido como
“a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às
atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os
padrões ambientais estabelecidos”.
De acordo com a resolução CONAMA Nº 03/1990, que define os padrões para qualidade do
ar, poluente atmosférico é qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em
quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos,
e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao
bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora, prejudicial à segurança, ao uso e
gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de perfeito bem-
estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças ou enfermidades” (WHO,
2006). Assim, os efeitos adversos dos poluentes atmosféricos na saúde e qualidade de vida
têm sido uma preocupação dos órgãos regulamentadores do meio ambiente e da saúde
pública.
A confirmação sobre os efeitos da poluição do ar na saúde e qualidade de vida pode ser
observada em estudos populacionais através de investigações epidemiológicas (OSTRO et al.
1999; SALDIVA et al. 2004; ALMEIDA, 2006; SALDIVA et al. 2007) e análise da
exposição versus resposta ao incômodo causado por poluentes (OGLESBY et al., 2000;
ROTKO et al., 2002; JACQUEMIN et al., 2007; AMUNDSEN et al, 2008). Tais estudos são
importante pois fornecem informações para o desenvolvimento de práticas e legislação que
visem o controle das emissões e a garantia qualidade do ar.
Segundo Vallack e Shillito (1998), são poucos os países que possuem normas e legislação
sobre os níveis de poluição que não provocam incômodo à população. No Brasil, devido ao
crescente número de reclamações por parte da comunidade, que se sente atingida na sua
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qualidade de vida e apresenta sintomas de doenças, principalmente nos grandes centros
urbanos, o incômodo pela poluição do ar tem sido uma preocupação tanto do poder público e
órgãos regulamentadores quanto da comunidade científica. O objetivo desse trabalho é
estudar uma população urbana, residente em área industrial, sobre o impacto da poluição do ar
na saúde e qualidade de vida através de pesquisa de opinião e analisar correlações entre
variáveis determinantes do incômodo.
2. Materiais e Métodos
2.1. Região de estudo
Este trabalho é um estudo ecológico espacial realizado na região sul do estado do Espírito
Santo. O estudo foi orientado para esta região devido às atividades industriais potencialmente
poluidoras instaladas, tais como mineração, pelotização, construção civil além do tráfego de
veículos. Próximo às industrias dessa região encontram-se residências e comercio cujos
moradores e trabalhadores frequentemente reclamam da presença de poeira (material
particulado sedimentado).
2.2. Poluentes atmosféricos
As atividades industriais emitem vários tipos de poluentes atmosféricos, de acordo com
Almeida (1999) nas indústrias de base (mineração, siderurgia, pelotização) o material
particulado se destaca por apresentar grande potencial poluidor.
O material particulado (MP) pode ser classificado quanto ao diâmetro aerodinâmico:
Partículas ultrafinas (< 0,1 m), partículas finas (PM2,5), partículas grossas (PM10),
partículas totais em suspensão (PTS) e partículas sedimentáveis (PS) (SEINFELD, J. H.;
PANDIS, 2006; CONTI et al. 2009).
As partículas sedimentáveis popularmente conhecidas como “poeira” são consideradas fonte
de incômodo à população. De acordo com Trindade et al., (2006), o incômodo surge tanto do
acúmulo do material particulado nas edificações, que depreciam as pinturas, dando um
aspecto de envelhecimento, e nos móveis das casas causando aos moradores a sensação de
constante sujeira, quanto da associação das macropartículas não inaláveis a doenças
respiratórias. Hyslop (2009) relata que a percepção visual da sujidade tem efeitos fisiológicos
e psicológicos nos seres humanos.
2.3. Pesquisa de campo
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Os dados foram obtidos através de pesquisa de opinião também denominada como pesquisa
de levantamento ou survey (BARNETT, 1991). Tamanho da amostra foi calculado
considerando o número total de habitantes em dois municípios próximos do região industrial
através do dados do censo de 2010 (IBGE) a partir daí aplicou-se a técnica de amostragem
aleatória simples com alocação proporcional (COCHRAN, 1977). O instrumento de coleta de
dados é o questionário estruturado composto de 47 questões e aplicado para um total de 245
participantes com idade superior a 16 anos trabalhadores ou residentes na região no mês de
julho de 2012. Vale ressaltar que para este trabalho foi selecionado apenas as principais
questões para apresentar e discutir os resultados.
2.4. Organização e exploração dos dados
Para organização e tratamento dos dados foi utilizado o programa Excel 2007. De uma forma
geral, foram feitas análises simples a partir de distribuições de frequências, as quais também
foram gerados no Excel 2007 e são descritos a seguir. E análise de correlação a fim de
evidenciar variáveis que contribuem significativamente para o incômodo percebido.
3. Resultados
3.1. Perfil dos participantes da pesquisa de campo
A escolha das residências foi realizada de forma aleatória simples com o cuidado de garantir
distribuição espacial em toda a região de abrangência do estudo. A tabela 1 apresenta o perfil
dos participantes de acordo com gênero e faixa etária.
Tabela 1 - Perfil dos participantes da pesquisa de opinião de acordo com gênero e faixa etária RESPOSTA TOTAL SEXO FAIXA ETÁRIA
Masc Fem 16-18 19-24 25-34 35-44 45-54 55-64 Acima 65
anos
NS/NR
BASE 242 98 144 22 35 46 45 43 32 17 2
% DA
AMOSTRA
100% 40,49 59,50 9,09 14,46 19 18,59 17,76 13,22 7,02 0,82
NS/NR= não sabe/não respondeu
O percentual de mulheres entrevistadas foi superior ao percentual de homens, 59,50% e
40,49%, respectivamente. A pesquisa foi realizada em 7 (sete) dias seguidos com a finalidade
de considerar um final de semana e dar oportunidade de resposta aos que trabalham fora de
segunda à sexta-feira. Mas apesar desse cuidado, em decorrência desses 5 (cinco) dias da
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semana, nota-se que essa maior participação das mulheres é devido principalmente ao perfil
socioeconômico das regiões das entrevistas fruto das permanências da sociedade patriarcal no
Brasil.
A faixa etária com maior participação na pesquisa de opinião foi de 25 a 34 anos (19%),
seguida de 35 a 44 anos (18,59%) e a menor faixa de entrevistados com idade acima de 65
anos (7,02%), cerca de 0,82% dos entrevistados não responderam a idade (NS- não sabe/ NR-
não respondeu).
A Tabela 2 apresenta o perfil dos entrevistados de acordo com o nível de escolaridade e a
renda familiar. Observa-se que embora tenha diferentes proporções a amostra apresentou
abrangência em todos os níveis de escolaridade e em todas as faixas de renda familiar,
característica da amostragem aleatória puramente probabilística.
Tabela 2- Perfil dos participantes da pesquisa de opinião de acordo com renda familiar e nível
de escolaridade Nível de Escolaridade Base Percentual Renda Familiar Base Percentual
Não estudou 9 4% Até 3 Salários Mínimos (SM) 134 55%
Ensino fundamental incompleto 51 21% De 3 a 10 SM 81 34%
Ensino fundamental completo 24 10% De 10 a 20 SM 7 3%
Ensino médio incompleto 41 17% De 20 a 50 SM - -
Ensino médio complete 70 29% Acima de 50 SM - -
Superior incompleto 12 4% NS/NR 20 8%
Superior complete 35 14% - - -
Total 242 100% Total 242 100%
3.2. Avaliação da qualidade do ar
A Figura1(a) apresenta o resultado encontrado quando os entrevistados foram questionados
sobre o grau de importância que atribuem à qualidade do ar. Observa-se que a maioria dos
participantes respondeu que consideram a qualidade do ar é “muito” e “extremamente
importante”. Entretanto ao serem questionados sobre a qualidade do ar em sua região Figura
1(b) mais de 50% responderam que a qualidade do ar em sua região é “regular” e “ruim”.
Estes resultados refletem o que a população percebe especialmente pelo que está vendo na
região devido a presença das indústrias próximas às áreas residenciais.
Figura 1- Importância e avaliação da qualidade do ar
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(a) (b)
3.3. Percepção e intensidade do incômodo
Para avaliar se a população se sente incomodada com a poluição do ar foi feita a seguinte
pergunta “O Sr(a).se sente incomodado com a poluição?” com opções de resposta “sim”,
“não” e “NR/NS (não sabe ou não respondeu)”. Observa-se na Figura 2(a) que 86% por
entrevistados relataram “sim” ao incômodo causado pela poluição do ar. Para estes
participantes que responderam “sim” foi feita a segunda pergunta “ O quanto o sr.(a) se sente
incomodado com a poluição do ar?” as opções de resposta foram, nada, pouco, moderado,
muito, extremamente incomodado e NR/NS (não sabe ou não respondeu) como mostra na
Figura 2(b). Observa-se que a maioria relata se sentir pelo menos um pouco incomodado com
a poluição do ar, o que reforça a importância de estudar com profundidade este problema
nesta região.
Figura 2- Percepção e níveis de incômodo
(a) (b)
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Na Figura 3 apresenta-se situações através das quais a população percebe a poluição do ar.
Observa-se que conforme a frequência de ocorrência a poeira é a forma de poluição mais
frequentemente citada pelos participantes seguida de odor, danos na vegetação e opacidade do
ar. A poeira nada mais é do que o material particulado sedimentado vale observar que, quanto
maior o tamanho das partículas mais próximas das fontes emissoras elas se sedimentam,
enquanto as partículas menores tendem a dispersar pela atmosfera e sedimentam mais distante
da fonte emissora (CONTI et al., 2009).
Figura 3- Percepção e frequência da poluição do ar para diferentes situações
A fim de conhecer a opinião da população sobre a percepção das fontes emissoras apresenta-
se na Figura 4 o resultado das respostas da questão sobre a opinião dos respondentes a cerca
da principal fonte de poluição do ar na região. Observa-se que a fonte industrial é a fonte de
poluição do ar mais citada pelos participantes.
Figura 4- Percepção e frequência da poluição do ar para diferentes situações
3.4. Consequencias da poluição do ar
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Para identificar os efeitos da poluição causada pela presença de material particulado
perguntou-se sobre a frequência de limpeza da casa para retirada da poeira. Conforme
resultados na Figura 5 mais de 80% relataram que “sempre” e “frequentemente” limpam a
casa para retirada da poeira, o que por sua vez reforça que o incômodo percebido esta
relacionado com aquilo que as pessoas estão vendo, neste caso a presença de poeira em casa.
Figura 5- Frequencia de limpeza da casa para retirada da poeira
Outras perguntas foram feitas com o proposito de avaliar as consequências da poluição do ar
na qualidade de vida da população através do que eles não fazem ou deixam de fazer devido à
presença da poeira sedimentada. As opções de respostas e o percentual de entrevistados que
responderam as perguntas foram compilados na Tabela 3. De acordo com os percentuais de
respostas “sim” a maioria relata “não deixar a janela aberta por causa da poeira”, “limpar ou
renovar a fachada da casa por causa da poeira”, “ não deixar as roupar secar fora de casa por
causa da poeira” e “ir ao médico ou posto de saúde por causa da poeira”. Observa-se também
que a presença de poeira não é um impeditivo para as pessoas “evitar frequentar locais
públicos” ou “limitar brincadeiras de crianças fora de casa”.
Tabela 3 - Consequencias da poluição da qualidade de vida
Resposta
Não deixar
as janelas
abertas
Limpar/
Renovar a
fachada da
residência
Não deixar
roupas secar
fora da casa
Ir ao médico/
posto de
saúde/
hospital
Evitar
freqüentar
locais públicos
(praças)
Limitar
brincadeira de
criança fora de
casa
Sim 185 76,4% 189 78% 138 57% 156 64,4% 93 38,4% 86 35,5%
Não 57 23,5% 51 21% 102 42% 86 35,5% 146 60,3% 141 58,2%
NS/NR - - 2 1% 2 1% - - 3 1,2% 15 6,1%
TOTAL 242 100% 242 100% 242 100% 242 100% 242 100% 242 100%
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A fim de aprofundar sobre os efeitos da poluição do ar na saúde perguntou-se sobre a
frequência de ocorrência de problemas de saúde causados pela presença de poeira Figura 6 (a)
e os principais de tipos de problemas de saúde apresentados Figura 6 (b). Observa-se que 65%
dos participantes afirmam que já tiveram problema de saúde causados pela presença de poeira
e a maioria relata problema de rinite, sinusite e alergias.
Figura 6- Frequencia de ocorrência de problemas de saúde e tipos
(a) (b)
3.5. Monitoramento da qualidade do ar
Para entender o quanto as pessoas são informadas sobre a qualidade do ar na região a seguinte
pergunta foi formulada: “O(A) Sr(a) acha que a qualidade do ar na sua região é monitorada?”.
As respostas apresentadas na Figura 7 (a) comprovam que 50% dos participantes responderam
que o monitoramento da qualidade do ar nunca é realizado e apenas 6% afirmaram que a
qualidade do ar é sempre monitorada. Ainda sobre o mesmo assunto, a seguinte pergunta foi
aplicada: “O(A) sr(a) consegue identificar alguma organização ou órgão que cuida do
monitoramento da qualidade do ar?”. Na Figura 7(b) as respostas mostram que apenas 9% dos
participantes da pesquisa disseram “sim” mas 80% “não” identificam o órgão responsa´vel
pelo monitoramento da qualidade do ar na região do estudo e 11% não sabem ou não
responderam a questão.
Figura 7- Sobre o monitoramento da qualidade do ar e o órgão responsável
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(a) (b)
4. Análise de correlação
A proposta desta seção é apresentar um modelo de inter-relações entre a variável “incomodo”
e as demais variáveis obtidas através da pesquisa de opinião, por exemplo, avaliação da
qualidade do ar, percepção da poeira, consequências da poluição, gênero, idade, etc.
Assim, fez necessário quantificar a relação entre estas variáveis através de uma escala
quantitativas: nada (1), pouco (2) moderado (3), muito (4) e extremamente (5), da mesma
forma para a variável gênero, masculino (1) e feminino (2) e assim para as demais variáveis.
As inter-relações propostas neste estudo compreendem uma adaptação da metodologia
adotada por Stenlund et al. (2009). O nível de incômodo foi tomado como aspecto central ao
qual foram associados os seus fatores determinantes, como é apresentado na figura 8.
Figura 8 - Modelo das inter-relações entre incômodo e seus fatores determinantes
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A tabela 4 a seguir apresenta os coeficientes de correlação de spearman ao nível de 95% de
confiança para as variáveis determinantes do incômodo causado pela poluição do ar. Vale
ressaltar que as variáveis que não apresentaram correlação significativa foram excluídas dessa
tabela 4. Observa-se que apesar dos valores serem aparentemente pequenos tais são
correlações significativas para α=0,001 e α=0,005, em destaque observa-se forte correlação
negativa entre a avaliação da qualidade do ar e o incômodo, evidentemente de se esperar uma
vez que se a população relata extremamente incomodada irá também avaliar a qualidade do ar
como péssima. Também correlação significativa entre ao incômodo e a percepção da poeira
retratando mais uma evidencia de que a poluição causada pelas partículas sedimentadas causa
incomodo.
Tabela 4 – Coeficientes de correlação entre as varáveis: Incomodo (I), Importância da
qualidade do ar (IM), Percepçao do risco (PR), Avaliação da qualidade do ar (AV), Percepção
da poeira (PP), Ocorrência de problema de saúde (OP), gênero (SEX) I IM AV PR PP OP
IM 0,12
AV -,218** -0,125
PR 0,153* 0,152* -0,43**
PP 0,205** 0,088 -,397** 0,333**
OP 0,103 0,055 -0,340** 0,329** 0,281**
SEX 0,168** 0,123 -0,068 0,142* 0,171** 0,181**
** Correlação significante α=0,001
* Correlação significante α=0,005
5. Conclusão
O objetivo deste artigo foi apresentar os resultados de uma pesquisa de opinião sobre o
incômodo causado pela poluição do ar e identificar variáveis determinantes do incômodo
através de análise de correlação. Para tanto foi conduzida uma pesquisa de opinião com
aplicação de questionário a 242 pessoas residentes em áreas próximas a indústrias
potencialmente poluidoras localizadas na região sul do estado do Espírito Santo.
Os resultados mostraram que esta população considera a qualidade do ar muito e
extremamente importante, no entanto avaliam a qualidade do ar na região como regular e ruim
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principalmente. Sobre a percepção do incômodo observou-se que mais de 80% dos
participantes se sentem incomodados com a poluição do ar. A intensidade do incômodo foi
medida por meio de uma escala de 1 a 5 sendo 1 – nada incomodado e 5 muito incomodado,
observou-se que a maioria dos participantes reporta muito e extremamente incomodados com
a poluição do ar.
Constatou-se que a poeira sedimentada é a principal causa de reclamação e ainda que as
indústrias foram identificadas como a principal fonte de poluição do ar na região. Sobre os
impactos e consequências da poluição da qualidade de vida verificou-se que a limpeza das
casas para retirada da poeira acontece sempre e frequentemente e ainda que as pessoas deixam
de fazer uma série de coisas por causa da presença de poeira, por exemplo não deixar as
janelas das casas abertas, não deixar as roupas secando fora de casa e ter que pintar a fachada
da casa por causa da poeira.
Sobre os efeitos na saúde foi possível perceber relatos de ir ao médico por causa de problemas
de saúde causados pela poeira e também que os principais problemas apresentados foram:
alergias, rinites e sinusites seguido de tosse, inflamação na garganta e ouvido.
A pesquisa de opinião permitiu ainda constatar que a população não tem informação sobre o
monitoramento e gestão da qualidade do ar. Cerca de 50% dos participantes afirmaram que a
qualidade do ar “nunca” é monitorada, e 80% responderam “não” conhecer o órgão que cuida
da qualidade do ar na região.
Por fim apresentou-se uma análise de correlação a fim de identificar inter-relações com as
variáveis descritas neste estudo, representados por aspectos pessoais, avaliação que a
população faz da qualidade do ar, percepção da poeira, percepção de risco à saúde e à
identificação das principais fontes de poluição atmosférica, dentre outras. Com base no
modelo empírico proposto verificou-se relação significativa entre o incômodo e gênero,
ocorrência de problemas na saúde, percepção da poeira, percepção do risco, avaliação e
importância da qualidade do ar.
Quanto aos casos em que não se verificou correlações é importante ressaltar que as inter-
relações obtidas neste estudo são baseadas apenas nas respostas dos participantes da pesquisa
sem verificar níveis de concentração de material particulado, taxas de poeira e fatores
meteorológicos medidos pelas estações de monitoramento presentes na região. Portanto, não
deve ser descartada a hipótese de que o incômodo pode advir de fatores combinados (níveis
de concentração de poluentes, aspectos meteorológicos, sociodemográficos e principalmente a
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percepção da população), o que deve ser considerado na definição de políticas públicas que
visem o controle da poluição e melhoria da qualidade do ar nesta região.
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