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Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição – Credos e Confissões – Prof. Rev. Heber Carlos de Campos Jr – 2º Semestre 2010

Estudo Dirigido

Justificação

Cânones de Trento / A Confissão de Augsburgo

Formula de Concórdia

Ao analisar os documentos sobre a justificação podemos ver as seguintes

comparações.

Trento diz que para a justificação é necessário receber o batismo ou ter o

desejo em recebê-lo:

Segundo Trento, para que o pecador seja justificado, é necessário que além dele

reconhecer que é um pecador, também deveria receber o batismo, sem o qual, não

há como passar da condição de pecador para a de justificado, Esta transladação,

depois da promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração

[cân. 5 sobre o batismo] ou sem o desejo do mesmo, segundo a palavra da

escritura...1, sendo assim, para que haja justificação é necessário que haja também

o batismo o que é chamado de “Causa Instrumental” que é o sacramento do batismo

e da fé, sem o qual jamais alguém alcançou a justificação (Sessão 6 Cap.7 do

Concilio de Trento).

No texto analisado da Formula de Concórdia, não há um artigo que fale

especificamente sobre o batismo, mas podemos encontrar diversos textos que tiram

dos atos do homem a condição de contribuir com a sua justificação, sendo este um

ato único e exclusivo de Cristo. (Pois nem tudo o que pertence à conversão,

simultaneamente pertence ao artigo da justificação, ao qual apenas pertencem e são

necessários a graça de Deus, o mérito de Cristo e a fé, que recebe isso na

promessa do evangelho...2).

O homem consente livremente na justificação podendo rejeitá-la:

Um segundo ponto que podemos ver em Trento é a condição de o homem poder

escolher em ser justificado ou não através do seu livre arbítrio. A justificação vem de

Deus, mas, o homem teria a liberdade de escolha, se queria ser justificado ou não.

“Assim se dispõem a alcançarem a conversão e a própria justificação,

consentindo livremente nesta graça e livremente cooperando com ela [cân. 4 e

1 Cânones de Trento – Sessão VI (13-1-1547) Cap.4

2 Formula de Concórdia – declaração sólida – III. Da justiça da fé – pp.583

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5]; de forma que, tocando Deus o coração do homem com a iluminação do

espirito Santo fica o homem por um lado não totalmente inativo, recebendo

aquela inspiração, que poderia também rejeitá-la3

A Confissão de Augsburgo, no entanto vem dizer que o livre arbítrio do homem é

para seus atos exteriores, não dando ao homem a condição de auxiliar o espirito

santo na justificação e nem de agradar a Deus.

O homem tem até certo ponto livre arbítrio para viver exteriormente de

maneira honesta e escolher entre aquelas coisas que a razão compreende.

Todavia, sem a graça, o auxilio e a operação do espirito santo o homem é

incapaz de ser agradável a Deus, teme-lo de coração, ou crer, ou expulsar do

coração as más concupiscências inatas.4

Já a Formula de Concórdia, vem dizer que na justificação não há nenhuma

participação do homem, sendo somente pela graça de Deus. Ou seja, o homem não

tem nenhum tipo de participação na justificação sendo este um ato, “exclusivo, da

morte e da ressureição de Cristo”.

Que o pobre pecador é justificado diante de Deus..., sem qualquer mérito ou

dignidade de nossa parte, também sem quaisquer obras antecedentes,

presentes ou subsequentes, tão só por graça, exclusivamente por causa do

mérito, da obediência integral, do amargo sofrimento, da morte e da

ressureição de Cristo nosso senhor, cuja obediência nos é atribuída como

justiça.5

A Justificação e a santificação são a mesma coisa:

Outro ponto de discórdia entre os textos analisados é sobre a justificação e

santidade onde Trento os coloca como um processo e que ambos são a mesma

coisa, ou seja, não há diferença entre justificação e santificação:

Se alguém disser que os homens são justificados ou só pela imputação da

justiça de Cristo, ou só pela remissão dos pecados, excluídas a graça e a

caridade que o Espirito Santo Infunde em seus corações e neles inerem; ou

também que a graça pela qual somos justificados e somente um favor de

Deus – seja excomungado – Cânones de Trento – 11 [cfr. nº 709 e 802]

Sobre este ponto a Formula de Concordia é clara em afirmar a distinção entre elas,

sendo a justificação um ato e a santificação um processo, após a justificação.

3 Trento – Cap.5

4 Confissão de Augsburgo – pp.36

5 Formula de Concórdia – Cap.3 – pp. 580

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Esta apreende a graça de Deus em cristo, pela qual a pessoa é justificada.

Depois, quando a pessoa está justificada, também é renovada e santificada

pelo Espirito Santo, renovação e santificação de que então se segue os frutos

das boas obras.

Isto não quer dizer que a justificação esteja desassociada a renovação e santificação, mas

que uma segue a outra.

Eles negam a certeza da justificação:

Segundo os teólogos de Trento, o homem não tem condição de ter a certeza da sua

justificação, sendo considerado anátema aquele pregar ou dizer crer na sua

salvação. Sendo presunção crer em tal coisa.

“Se alguém disser que o homem é absolvido dos seus pecados e justificado

porque crê indubitavelmente que é absolvido e justificado; ou, que ninguém é

verdadeiramente justificado, senão quem crer que é justificado; e que somente

com esta fé se efetua a absolvição e a justificação – seja excomungado.” 6]

Segundo a Formula de Concordia não há motivo para que não se creia na

justificação recebida de Deus, apesar dos nossos defeitos e fragilidades estarem

presentes em nossas vidas até a nossa morte. Podemos crer que somos justificados

por ser a justificação um ato de Cristo segundo a promessa de Deus.

““... não obstante o fato de muitas fragilidades e defeitos ainda se apegarem

aos crentes genuínos e verdadeiramente renascidos, até a sepultura, ainda

assim não devem por causa disso duvidar nem de sua justiça, que lhes foi

atribuída pela fé, nem da salvação de suas almas, porem deve considerar

coisa certa que por causa de Cristo, segundo a promessa e a palavra do

santo evangelho, tem um Deus gracioso.7

Aquele que pecar depois do batismo pode receber uma nova justificação

através da penitencia:

Segundo Trento aquele que for batizado, mas cair em pecado perderá a sua

justificação, sendo necessário que ele receba uma nova justificação através do

sacramento das penitencias. Ou seja, é necessário que se faça obras de caridade

para assim alcançar novamente graça diante de Deus e ser justificado novamente.

Uma nova justificação pelas obras:

“Aqueles que pelo pecado perderam a graça da justificação, que haviam

recebido, poderão novamente ser justificados [cân.29] se, excitados por Deus,

6 Cânones de Trento – 14 [cfr. nº 802]

7 Formula de Concórdia – pp 510

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procurarem recuperar a graça perdida por meio do sacramento da penitencia...

Pois, para os que depois do batismo caem em pecados, instituiu Jesus Cristo o

sacramento da Penitencia...”8

A vida eterna é recompensa pela obras e merecimentos:

Para Trento, o homem ao realizar suas obras recebe como recompensa a vida

eterna, sendo merecedor de alcançar tal graça por suas obras. Esta recompensa

pelos seus atos seria uma promessa de Deus, com isso eles deveriam ser fieis e

continuar a praticá-las.

E por isso aos que trabalham fielmente até o fim e esperam em deus, se há de

propor a vida eterna como graça, misericordiosamente prometida por Cristo aos

filhos de Deus, e (como recompensa) que, segundo a promessa do próprio

Deus, será fielmente concedida pelas suas obras e merecimentos”.9

Augsburgo vai refutar isso ao dizer que não é por obras que se alcança a remissão

dos pecados e nem nos torna justos diante de Deus, assim como a vida eterna é

graça de Deus mediante a fé.

“Em primeiro lugar, que nossas obras não nos podem reconciliar com Deus e

obter graça; isso, ao contrario, sucede apenas pela fé, quando cremos que os

pecados nos são perdoados por amor de Cristo, o qual, ele só, é o mediador que

pode reconciliar o Pai”. Agora, quem pensa realizar isso mediante obras e

imagina merecer a graça, esse despreza a Cristo e procura seu próprio caminho

a Deus, contrariamente ao evangelho.10

Concordia vai dizer que não são as obras, mas apenas o Espírito de Deus, mediante

a fé, podem nos dar a salvação e com isso a vida eterna. As obras são o

testemunho de que o Espírito Santo habita em nós.

“Também cremos, ensinamos e confessamos que não as obras, mas apenas

o espirito de Deus, por intermédio da fé, preserva a fé e a salvação em nós.

As obras são testemunho da presença e inabitação do espirito Santo.11

8 Trento – Cap.14

9 Idem – Cap.16

10 - Confissão de Augsburgo – pp. 36

11 - Formula de Concórdia – pp. 513


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