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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Dissertação de Mestrado

ESTUDO DAS TENSÕES RESIDUAIS E

CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES

MECÂNICAS E MICROESTRUTURAIS DE

JUNTAS SOLDADAS DE LIGA DE

ALUMÍNIO AA5086

MARCOS CAETANO MELADO

AGOSTO DE 2014

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MARCOS CAETANO MELADO

ESTUDO DAS TENSÕES RESIDUAIS E CARACTERIZAÇÃO

DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E MICROESTRUTURAIS

DE JUNTAS SOLDADAS DE LIGA DE ALUMÍNIO AA5086

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa Francisco Eduardo Mourão Saboya

de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica

da UFF como parte dos requisitos para a

obtenção do t ítulo de Mestre em Ciências em

Engenharia Mecânica

Orientadora: Profª . Maria da Penha Cindra Fonseca (PGMEC/UFF)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NITERÓI, 29 DE AGOSTO DE 2014.

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ESTUDO DAS TENSÕES RESIDUAIS E CARACTERIZAÇÃO

DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E MICROESTRUTURAIS

DE JUNTAS SOLDADAS DE LIGA DE ALUMÍNIO AA5086

Esta dissertação é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de

MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA

Área de concentração: Mecânica dos Sólidos

Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Profª Maria da Penha Cindra Fonseca (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense

(Orientadora)

Prof. Juan Manuel Pardal (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense

Prof. Ivan Napoleão Bastos (D.Sc.) Universidade do Estado do Rio de Janeiro – IPRJ/UERJ

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Agradeço à minha querida esposa Daiani e ao meu filho Pedro pelo apoio, paciência e

compreensão nos momentos de ausência.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por mais esta conquista. Que seja para Sua honra e

glória.

Agradeço a minha orientadora, Profª Maria Cindra Fonseca, pela atenção, paciência e

compreensão. Sua dedicação e comprometimento são imensuráveis e motivadores para

seus alunos. Agradeço pela ajuda e apoio incondicional em todos os momentos, os quais

tornaram possível a conclusão deste trabalho.

Agradeço, imensamente, ao Dr. Cássio Barbosa, por toda ajuda e pela grande

contribuição a esse trabalho, principalmente na análise microestrutural (MO e MEV) e

propriedades mecânicas (microdureza), contribuindo para o enriquecimento deste

trabalho.

Aos novos amigos do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), à Engª M.Sc. Tatiana Silva

Barros, pela realização dos ensaios de microdureza; ao técnico Wellington Gilbert

Fernandes, pela realização dos ensaios de tração; ao técnico Rafael de Abreu Vinhosa,

pela realização das análises por microscopia óptica; à técnica Olívia Cypreste Pereira,

pela ajuda na análise no MEV.

Ao Engº Jeferson Costa, da White Martins, pela soldagem das amostras.

Ao aluno iniciação científica, Mateus Campos Martins, pela ajuda nas medições de

tensões residuais.

Ao Capitão-de-Mar-e-Guerra Marcelo de Carvalho Elmôr, pelo fornecimento da liga de

alumínio AA5086, fundamental para realização deste trabalho.

Aos meus pais que, com amor e carinho, sempre me motivaram e apoiaram nos estudos.

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RESUMO

Amostras da liga alumínio AA5086 foram soldadas pelo processo GTAW com corrente

alternada, usando diferentes gases de proteção. Foi avaliada a influência da proteção

gasosa nas tensões residuais (geradas pelo processo de soldagem), nas propriedades

mecânicas (limite de resistência e microdureza) e microestruturais das juntas soldadas,

comparadas às do metal de base. O estudo revelou que as diferentes misturas gasosas

resultaram em diferentes níveis de tensões residuais superficiais heterogêneas. Uma

nova mistura gasosa foi testada (Ar + N2O + O2) e as tensões residuais geradas nestas

juntas se apresentaram mais homogêneas. As soldagens, tanto com proteção gasosa de

argônio puro, quanto com o uso de mistura gasosa de argônio com hélio ocasionaram

uma queda considerável nos valores da tensão limite de resistência mecânica das juntas,

sendo, entretanto, menos acentuada na junta soldada com mistura nova. Foi avaliada a

microdureza das juntas, sendo que as condições de soldagem com argônio puro e

argônio com hélio apresentaram valores de dureza inferiores ao do metal de base,

diferentemente da junta soldada com a mistura nova, que apresentou valores próximos ao

do metal de base. As análises metalográficas realizadas por microscopia ótica e eletrônica

de varredura complementaram os resultados, mostrando que a mistura nova gerou juntas

com menor porosidade.

Palavras-Chave: Liga de alumínio AA5086; soldagem TIG; tensões residuais; difração de

raios-X; propriedades mecânicas.

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ABSTRACT Samples of aluminum alloy AA5086 were welded by GTAW process with alternating

current, using different shielding gases. The influence of the shielding gas in residual

stress (generated by the welding process), mechanical properties (tensile strength and

hardness) and microstructure of the welded joints was evaluated, compared to the base

metal. The study revealed that the different gas mixtures resulted in different levels of

surface residual stresses heterogeneous. A new mixture was tested (Ar + N2O + O2) and

the residual stresses generated in these joints showed more homogeneous. The welding

both to the pure argon shielding gas, using as gaseous mixture of argon and helium

resulted in a considerable drop in the threshold voltage values of mechanical resistance of

the samples is, however, less pronounced in the welded joint with further mixing. Hardness

was measured on the joints, and the welding conditions with pure argon and argon with

helium showed lower hardness compared to the base metal, different from that presented

new mixture near the base metal values. The metallographic analyzes by optical and

scanning electron microscopy complemented the results, showing that the new mixture

generated welded joints with less porosity.

Key Words: Aluminum Alloy AA5086; TIG welding; residual stresses; X-ray diffraction;

mechanical properties.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................15

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................17

2.1. Alumínio e suas Ligas..........................................................................................17

2.1.1. Classificação das ligas de alumínio...........................................................18

2.1.2. Características das ligas de alumínio.........................................................22

2.1.2.1. Série 5xxx......................................................................................23

2.1.2.1.1. Liga de alumínio AA5086...............................................25

2.2. Processo de Soldagem TIG.................................................................................26

2.2.1. Gases de Proteção.....................................................................................30

2.2.2. Soldagem de alumínio e suas ligas............................................................33

2.3. Tensões Residuais...............................................................................................36

2.3.1. Tensões residuais devido ao processo de soldagem.................................41

2.3.2. Métodos de medição das tensões residuais...............................................44

2.3.2.1. Tensometria por difração de raio-X................................................45

3. MATERIAIS E MÉTODOS..............................................................................................48

3.1. Material.................................................................................................................48

3.2. Soldagem das Amostras.......................................................................................48

3.3. Medição das Tensões Residuais..........................................................................50

3.4. Análise Microestrutural..........................................................................................53

3.5. Ensaios Mecânicos...............................................................................................54

3.5.1. Ensaio de tração.........................................................................................54

3.5.2. Ensaio de microdureza...............................................................................56

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................58

4.1. Análise das tensões residuais após soldagem.....................................................58

4.2. Análise Metalográfica............................................................................................61

4.2.1. Microscopia Óptica (MO)............................................................................62

4.2.2. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)..............................................65

4.2.3. Análise das superfícies de fratura..............................................................69

4.3. Caracterização das Propriedades Mecânicas......................................................70

4.3.1. Resistência Mecânica................................................................................70

4.3.1. Microdureza...............................................................................................72

5. CONCLUSÕES.............................................................................................................74

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6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................................................75

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................76

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Subdivisão dos grupos das ligas de alumínio (ABAL, 2014)...........................19

Figura 2.2 - Diagrama binário da liga Al-Mg (Coelho, 2013)..............................................24

Figura 2.3 - Soldagem TIG (esquemático): (a) região do arco, (b) equipamento básico

(Marques et al., 2005).........................................................................................................27

Figura 2.4 – Soldagem TIG: A1) Área de atuação do arco voltaico na condição CC-; A2)

Área de atuação de arco voltaico na condição CC+ (Cirino, 2009)....................................29

Figura 2.5 - Formato de onda retangular balanceada: 50% eletrodo positivo 50% eletrodo

negativo (Cirino, 2009)........................................................................................................29

Figura 2.6 – Perfis de penetração na soldagem TIG de alumínio. Corrente de soldagem:

225A e velocidade de soldagem: 500mm/min (AGA).........................................................31

Figura 2.7 - Influência da atmosfera protetora na tensão do arco no processo TIG (White

Martins, 2002).....................................................................................................................32

Figura 2.8 - Solubilidade do hidrogênio no alumínio (Praveen & Yarlagadda, 2005).........34

Figura 2.9 - Influência relativa de alguns elementos de liga na sensibilidade à fissuração

na solidificação (Modenesi, 2011)......................................................................................35

Figura 2.10 - Efeito da solda na dureza em ligas 5xxx, não tratáveis termicamente,

trabalhada a frio e soldada a TIG (Mathers, 2002).............................................................36

Figura 2.11 - Superposição de tensões residuais e aplicadas (Pedrosa, 2007).................37

Figura 2.12 - Distribuição de tensões residuais do tipo I em uma seção de um eixo (Pitella,

2003)...................................................................................................................................38

Figura 2.13 – Representação das tensões residuais do tipo II (Ricardo, 2009).................38

Figura 2.14 - Diferentes fontes de tensões residuais do tipo III (Cindra Fonseca, 2000,

modificado).........................................................................................................................39

Figura 2.15 – Tensões residuais em um material bifásico (Macherauch & Kloos, 1987)...41

Figura 2.16 - Distribuição de tensões residuais devido à contração em uma junta de topo

(Cindra Fonseca, 2000)......................................................................................................42

Figura 2.17 – Superposição dos efeitos: a) Contração (C); b) Resfriamento superficial

intenso (R); e c) Transformação de Fase (T) (Cindra Fonseca, 2000)...............................43

Figura 2.18 – Sistema de coordenadas polares (Cindra Fonseca, 2000)..........................46

Figura 2.19 – Diferença de percursos dos raios incidentes em função da distância

interplanar (Cindra Fonseca, 2000)....................................................................................47

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Figura 3.1 – Desenho esquemático da chapa inicial, do chanfro e da junta soldada

[mm]....................................................................................................................................48

Figura 3.2 – a) Máquina de Solda KEMPPI, modelo Master TIG 3500W e b) sistema de

travamento das chapas para soldagem..............................................................................49

Figura 3.3 – Posições de medições das tensões residuais nas amostras soldadas..........51

Figura 3.4 – Analisador de tensões XStress 3000: Sistema de medição...........................51

Figura 3.5 – Representação do pico de difração................................................................52

Figura 3.6 – Representação gráfica 2θ vs. sen2ψ..............................................................52

Figura 3.7 – Microscópio FEI, modelo INSPECT................................................................53

Figura 3.8 – Microscópio Eletrônico de Varredura FEI, Modelo INSPECT 550..................54

Figura 3.9 - Corpo de prova para ensaio de tração, conforme ASTM B557M....................54

Figura 3.10 – Corpos de Provas de tração: a) Metal de Base; b) Amostra soldada com Ar

puro; c) amostra soldada com Ar + He; e d) amostra soldada com Ar + N2O + O2............55

Figura 3.11 - Máquina INSTRON 3382 utilizada nos ensaios de tração............................55

Figura 3.12 – Detalhe do corpo de prova no ensaio de tração: a) Estricção b) Ruptura....56

Figura 3.13 – a) Microdurômetro LECO AKASHI; b) Amostra em medição.......................56

Figura 3.14 – a) Angulação; b) Base Quadrada; e c) Impressão Vickers...........................57

Figura 3.15 – Esquema de medição de microdureza Vickers............................................57

Figura 4.1 – Tensões residuais longitudinais após a soldagem.........................................59

Figura 4.2 – Tensões residuais transversais após a soldagem..........................................60

Figura 4.3 – Macrografias das juntas soldadas: a) com gás de proteção de Argônio; b)

com a mistura gasosa de 25%He + 75%Ar; e c) mistura gasosa de Ar + N2O + O2..........61

Figura 4.4 – Microestrutura do metal de base (Aumento de 200x).....................................62

Figura 4.5 – Microscopia óptica do metal de solda nas condições: a) Ar puro; b) Ar+He; e

c) Ar+N2O+O2 (Aumento de 200X).....................................................................................63

Figura 4.6 – Microscopia óptica da zona termicamente afetada (ZTA) das amostras

soldada nas condições: a) Ar puro, b) Ar+He, c) Ar+N2O+O2 (Aumentos de 50X e

200X)..................................................................................................................................64

Figura 4.7 – MEV: Junta soldada com proteção de argônio puro – a) aumento 200X; b)

aumento de 400X; e c) aumento 1000X.............................................................................66

Figura 4.8 – MEV-EDS da junta soldada com proteção de argônio puro...........................66

Figura 4.9 – MEV: Junta soldada com mistura de argônio com hélio - a) aumento 200X; b)

aumento de 400X; e c) aumento 1000X.............................................................................67

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Figura 4.10 – MEV: Junta soldada com a mistura nova (Ar+N2O+O2) - a) aumento 200X;

b) aumento de 400X; e c) aumento 1000X.........................................................................68

Figura 4.11 – MEV das superfícies de fratura dos cps de tração soldados: (I) com argônio

puro e (II) com Ar+N2O+O2. Aumentos: a) 400X, b) 800X e c) 1600X..............................69

Figura 4.12 – Resistência mecânica das juntas soldadas..................................................70

Figura 4.13 – Pontos de medição de microdureza na junta soldada..................................72

Figura 4.14 – Perfil de microdureza Vickers nas juntas soldadas......................................72

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Principais elementos de liga e seus efeitos (Bradaschia, modificado)...........17

Tabela 2.2 - Nomenclatura para as ligas de alumínio (INFOMET, modificado).................19

Tabela 2.3 – Subdivisões básicas do endurecimento por deformação (Smith, 1993)........20

Tabela 2.4 - Subdivisões do grau de encruamento dos tratamentos HX (Smith, 1993).....21

Tabela 2.5 - Principais designações com três dígitos após o H do tratamento de

encruamento (Smith, 1993)................................................................................................21

Tabela 2.6 – Composição química da liga 5086, % em peso (Elfer, 2014)........................26

Tabela 2.7 – Propriedades Mecânicas da liga 5086 (Hatch, 1999 e EN 13195-1:)............26

Tabela 2.8 - Principais características dos gases de proteção usados na soldagem TIG de

alumínio e suas ligas (Moreira, 2008).................................................................................32

Tabela 2.9 – Processos de Fabricação geradores de tensões Residuais (Ogata, 2003)...39

Tabela 3.1 – Composição química da liga AA5086 (% em peso).......................................48

Tabela 3.2 – Propriedades Mecânicas da liga AA5086......................................................48

Tabela 3.3 – Composição química do consumível: Liga AA5083 (% em peso).................49

Tabela 3.4 – Resumo dos parâmetros utilizados na soldagem das amostras...................50

Tabela 4.1 – Tensões residuais geradas na soldagem TIG com diferentes misturas

gasosas...............................................................................................................................58

Tabela 4.2 – Resistência mecânica do metal de base e das juntas soldadas....................70

Tabela 4.3 – Resultados de resistência mecânica de todos os corpos de prova...............71

Tabela 4.4 – Microdureza Vickers para cada condição de soldagem................................72

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LISTA DE SÍMBOLOS

A Área

F Força

ℓ Comprimento

r Raio

t Espessura

v Velocidade

σL Tensão longitudinal

σT Tensão transversal

E Módulo de elasticidade

d Distância interplanar

θ Ângulo de incidência

ε Deformação

φ Ângulo polar

ψ Ângulo azimutal

σ Tensão

ʋ Coeficiente de Poisson

λ Comprimento de onda

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1. INTRODUÇÃO

As ligas de alumínio-magnésio constituem um importante grupo de ligas de alumínio

não tratáveis termicamente, ou seja, não são endurecíveis por tratamento térmico, mas

somente por solução sólida e encruamento (trabalho mecânico). Elas possuem o

magnésio (Mg) como principal elemento de liga, que além de melhorar a resistência

mecânica, permite que essas ligas mantenham um elevado nível de ductilidade, bem

como uma excelente resistência à corrosão e boa soldabilidade. A combinação destas

propriedades fez com que estas ligas estejam entre as preferidas para algumas

aplicações nas indústrias metal-mecânica e naval.

A liga de alumínio ASTM 5086 é amplamente utilizada na indústria metal-mecânica,

por combinar boa característica de soldagem e elevada resistência à corrosão em meios

marinhos, além de apresentar boa resistência mecânica e dureza. Ela é usada para

aplicações estruturais, tais como componentes aeroespaciais, na indústria

automobilística, cabeçotes e blocos de motores, na indústria naval e de petróleo e gás.

Devido ao aumento da exigência de melhor desempenho dos materiais e a crescente

competitividade entre as empresas, muitos foram os métodos desenvolvidos visando

garantir melhores propriedades aos componentes. Dentre esses processos pode-se

destacar a soldagem, que se tornou particularmente importante na indústria metal-

mecânica, pois as propriedades e características da junta soldada são largamente

modificadas durante esta etapa.

Sendo atualmente o método mais utilizado para a união de componentes metálicos, a

soldagem tornou-se parte indispensável da cadeia de produção, já que tubulações,

estruturas e componentes utilizam tal processo, pelo menos uma vez, até o produto final.

Dentre os processos de soldagem, o processo de soldagem GTAW (Gas Tungsten

Arc Welding) apresenta excelente qualidade e acabamento dos componentes soldados e

é particularmente indicado para a soldagem de ligas alumínio. Neste processo, os gases

de proteção têm importante papel, pois influenciam nas juntas, nas propriedades

mecânicas e microestruturais. O desenvolvimento de novas misturas gasosas, além

daquelas já convencionais, permite a obtenção de melhores propriedades das juntas

soldadas.

Entretanto, nos processos de soldagem a geração de tensões residuais e distorções é

um dos maiores problemas, que deve ser considerado e analisado, a fim de garantir uma

longa vida em serviço do componente soldado, pois podem se somar às tensões de

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serviço e provocar a ruptura prematura da estrutura ou do componente, dependendo da

natureza e magnitude das tensões. Estas tensões estão presentes em praticamente todas

as peças rígidas, metálicas ou não, e são o produto do histórico metalúrgico e mecânico

de cada ponto da peça ou da peça como um todo, durante o processo de fabricação.

O presente trabalho tem como objetivo o estudo das tensões residuais geradas na

soldagem de chapas de liga de alumínio AA5086 e a influência do uso de diferentes

misturas gasosas no processo de soldagem GTAW na microestrutura e nas propriedades

mecânicas da junta.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Alumínio e suas Ligas

A resistência mecânica de algumas ligas de alumínio, que pode ser semelhante à

de alguns aços com baixo teor de carbono, aliada à boa resistência à corrosão e a uma

massa específica de 2,7g/cm3 (equivalente a 1/3 da massa específica do aço), fazem com

que estas ligas sejam uma alternativa na substituição de componentes ou partes

estruturais com considerável redução de peso e o consequente aumento de carga útil.

No estado puro, o alumínio apresenta baixas dureza e resistência mecânica, não

servindo para determinadas aplicações, daí a necessidade de combiná-lo com outros

metais para aumentar sua aplicação industrial. As ligas apresentam características

diferentes daquelas apresentadas pelos seus metais constituintes, tais como dureza,

ductilidade, condutividade, entre outras; além disso, as suas propriedades dependem

fundamentalmente da composição, da microestrutura, do tratamento térmico ou mecânico

(Callister, 2002). Os principais elementos de liga das ligas de alumínio incluem

combinações dos seguintes elementos: Cobre, Magnésio, Silício e Zinco. Os efeitos

ocasionados pela sua introdução são encontrados na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Principais elementos de liga e seus efeitos (Bradaschia 1988, modificado).

Elemento Efeitos nas Ligas

Magnésio

Aumento do limite de resistência e dureza, além do aumento na

resistência à corrosão e excelente soldabilidade e usinabilidade.

Boa resistência ao impacto.

Cobre

Aumento progressivo da resistência e da dureza até adição de

12%Cu. Confere à liga boas propriedades mecânicas em

temperaturas elevadas, porém diminui a resistência à corrosão.

Silício

Teores crescentes de Si, até o ponto eutético, aumentam a

fluidez e a resistência mecânica da liga e diminuem a fragilidade

a quente e a contração do material.

Zinco

Confere ao alumínio excelente limite de resistência e ductilidade

à temperatura ambiente, por outro lado aumenta a

suscetibilidade à corrosão sob tensão.

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Como visto, o alumínio em estado puro é pouco resistente, assim, o principal

objetivo de adicionarem-se elementos de liga no alumínio é aumentar a resistência

mecânica, sem alterar as demais propriedades.

O alumínio, quando no estado líquido, dissolve bem o hidrogênio, o que constitui

um dos maiores problemas na soldagem deste material e reage com o oxigênio formando

uma camada protetora de óxido de alumínio (Al2O3) em sua superfície, que preserva o

metal em certos meios agressivos (Coutinho, 1980).

Quando o alumínio se solidifica, alguns dos constituintes da liga podem ser retidos

em solução sólida. Isso faz com que a microestrutura do metal se torne mais rígida. O

metal quente pode manter uma elevada quantidade de elementos de liga em solução

sólida do que quando frio. Assim sendo, quando ocorre o resfriamento, ele tende a

precipitar o excesso dos elementos de liga da solução. Essa precipitação pode advir em

forma de partículas duras, formadas de compostos intermetálicos, tais como CuAl2 ou

Mg2Si. Esses agregados de átomos metálicos podem tornar a rede cristalina ainda mais

rígida e, consequentemente, endurecem a liga (ABAL, 2014).

2.1.1. Classificação das ligas de alumínio

De acordo com a American Society for Metais (ASM), as ligas de alumínio podem

ser divididas em dois grupos:

• Ligas de Alumínio Trabalhadas (wrought aluminum alloys) – ligas destinadas à

fabricação de produtos semi-acabados, como laminados planos (placas, chapas e

folhas), laminados não planos (tarugos, barras e arames) perfis extrudados e

componentes forjados; e

• Ligas de Alumínio Fundidas (cast aluminum alloys) – ligas destinadas a fabricação

de componentes fundidos.

As ligas de alumínio trabalhadas, objeto de estudo neste trabalho, são

classificadas, segundo Aluminum Association (AA), em séries de quatro dígitos, de acordo

com o principal elemento de liga adicionado, conforme ilustra a Tabela 2.2 (INFOMET,

2014).

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Tabela 2.2 - Nomenclatura para as ligas de alumínio (INFOMET 2014, modificado).

Série Principais Elementos

de liga

Outros elementos

de liga

1xxx Alumínio Puro -

2xxx Cu Mg, Li

3xxx Mn Mg

4xxx Si -

5xxx Mg -

6xxx Mg, Si -

7xxx Zn Cu, Mg, Cr, Zr

8xxx Sn, Li, Fe, Cu, Mg -

O significado dos 4 dígitos difere-se entre a série 1xxx e as demais. Na série 1xxx,

o algarismo da centena, se igual a zero, indica que as impurezas presentes são as

naturais do processo de fabricação. Se diferente de zero, indica que há controle especial

na concentração de determinada impureza. Os algarismos da dezena e da unidade

indicam o percentual de alumínio além dos 99% existentes.

Estes dois grupos se subdividem em:

• Ligas Não Tratável Termicamente - São endurecidas por deformação. Ligas das

séries: 1xxx, 3xxx, 4xxx e 5xxx.

• Ligas Tratáveis Termicamente – São endurecidas por precipitação. Ligas das

séries: 2xxx, 6xxx e 7xxx.

Figura 2.1 - Subdivisão dos grupos das ligas de alumínio (ABAL, 2014).

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Em função do tipo de tratamento que sofrem, as ligas tem uma designação que a

caracteriza, por exemplo, a liga AA5083-O, refere-se à liga 5083 no estado recozido.

Assim temos como designações dos diferentes tratamentos as seguintes letras:

F - Ligas que não sofreram nenhum tratamento após o seu processo de

fabricação;

O - Ligas que foram recozidas com o objetivo de homogeneizar a sua

microestrutura e aliviar as tensões;

H – Ligas endurecidas por deformação plástica (encruamento). Elas podem ser

complementadas por tratamentos térmicos para o alívio de tensões. São sempre seguido

de dois ou mais dígitos numéricos para que caracterize melhor o tratamento. As

subdivisões estão apresentadas nas Tabelas 2.3 e 2.4;

T – Ligas Tratáveis termicamente para produzir um endurecimento estável. Pode

ser usado com ou sem encruamento complementar, sempre seguidos por um ou mais

dígitos; e

W - Solubilizada – Ligas sujeitas a envelhecimento natural. Esta designação só se

completa quando usados complementos informando o tempo para o envelhecimento

natural, por exemplo, W ½h (Pereira, 2010; Smith, 1988; e Brito & Gordo, 2004).

Tabela 2.3 – Subdivisões básicas do endurecimento por deformação (Smith, 1993).

Subdivisões de H Características

H1 Apenas endurecido por deformação plástica. Sem

tratamento térmico complementar.

H2 Endurecido por deformação e parcialmente recozido. A

dureza pode diminuir com o recozimento.

H3

Endurecido por deformação e estabilizado. É aplicado a

produtos que tenham sido encruados e depois

estabilizados, que, geralmente, melhora ductilidade.

H4

Endurecido por deformação e recobrido ou pintado. É

aplicado a produtos que foram encruados e que tenham

sido submetidos ao calor durante a pintura posterior ou

durante operações de recobrimentos.

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Tabela 2.4 - Subdivisões do grau de encruamento dos tratamentos HX (Smith, 1993).

Subdivisões de H Características

HX1 Aumento de 1/8 da dureza original

HX2 Aumento de 2/8 da dureza original

HX3 Aumento de 3/8 da dureza original

HX4 Aumento de 4/8 da dureza original

HX5 Aumento de 5/8 da dureza original

HX6 Aumento de 6/8 da dureza original

HX7 Aumento de 7/8 da dureza original

HX8 Aumento de 8/8 (100%) da dureza original (conseguido

com aproximadamente 75% de redução)

HX9 Extra duro (limitados a certas ligas e/ou geometria do

produto)

Um terceiro dígito é usado quando o grau de controle das propriedades mecânicas

é diferente (mas próximas) das designações de dois dígitos para o qual ele é adicionado,

ou ainda quando alguma outra característica é significativamente afetada (Aluminum

Association, 1991). As principais designações de três dígitos são apresentadas na Tabela

2.5.

Tabela 2.5 - Principais designações com três dígitos após o H do tratamento de encruamento (Smith, 1993).

Subdivisões de H Características

HX11 Designado a produtos que sofreram um determinado nível de

encruamento após o recozimento final.

H112

Designado a produtos que podem adquirir algum tratamento ao

se trabalhar a uma temperatura elevada ou a partir de uma

quantidade limitada de trabalho a frio, e para os quais há limites

de propriedades mecânicas.

H116

Designado a produtos, das ligas Al-Mg, contendo mais de 4% de

magnésio, os quais necessitam de uma determinada resistência

mecânica e uma boa resistência à corrosão por esfoliação.

Designação da liga utilizada neste trabalho.

22

2.1.2. Características das ligas de alumínio

Conforme a Tabela 2.2, que demonstra a designação das ligas de alumínio,

segundo Aluminum Association tem-se as características gerais de cada série como:

Série 1xxx: Teor de pureza igual ou superior a 99%. Esta série apresenta

excelente resistência à corrosão, elevada condutividade térmica e elétrica, elevada

ductilidade e baixa resistência mecânica. A série responde moderadamente a processos

de endurecimento por deformação devido ao alto teor de pureza. Aplicações nas áreas

elétricas e química.

Série 2xxx: O cobre é o principal elemento de liga. Séries largamente utilizadas

em aplicações estruturais. Apresentam boa usinabilidade, baixa soldabilidade e baixa

resistência à corrosão. A resistência à corrosão pode ser melhorada através de

recobrimento com alumínio de alta pureza ou por ligas da série 6xxx (Cladeamento ou

Alclad).

Série 3xxx: Tem como principal elemento de liga o manganês, com solubilidade

máxima de 1,5%. Esta série apresenta moderada resistência mecânica a qual a máxima é

obtida por meio de trabalho mecânico. Aplicações em diversos segmentos como:

utensílios domésticos, trocadores de calor, latas de bebidas, etc.

Série 4xxx: O silício é o principal elemento de liga desta série, com teores de até

12%, cuja função é baixar a temperatura de fusão destas ligas sem que ocorra

fragilização. São utilizadas principalmente como arames de solda e liga de brasagem.

Série 6xxx: Nesta série o magnésio e silício são adicionados em proporções

suficientes para formação de Silicato de Magnésio (Mg2Si). As ligas desta série

apresentam elevada resistência à corrosão, boa conformabilidade, boa soldabilidade e

são de fácil usinagem. Têm aplicações em uso arquitetônico, quadros de bicicletas e

estruturas soldadas.

23

Série 7xxx: Tem o zinco, em teores de 1 a 8%, como principal elemento de liga.

Apresentam alta resistência mecânica (combinado com o Magnésio) sendo utilizada em

aplicações estruturais, principalmente pela indústria aeronáutica.

Série 8xxx: O estanho é o principal elemento de liga. Estas ligas foram

desenvolvidas para mancais e buchas, onde suportam elevadas cargas e apresentam

elevada resistência a fadiga. Possui altíssima resistência a corrosão, quando comparados

com outros metais usados para mancais.

2.1.2.1. Série 5xxx

As ligas da série 5xxx, as ligas de Al-Mg, constituem um importante grupo de ligas

de alumínio não tratáveis termicamente, ou seja, não são endurecíveis por tratamento

térmico de solubilização e envelhecimento, mas sim por solução sólida e encruamento

(trabalho mecânico). O magnésio como principal elemento de liga, além de melhorar a

resistência mecânica, permite que essas ligas mantenham uma elevada ductilidade, bem

como excelente resistência à corrosão e boa soldabilidade. Tais características fizeram

com que elas estejam entre as ligas preferidas para algumas aplicações nas indústrias

metal-mecânica e naval (Barbosa, 2014).

A resistência mecânica da solda em ligas Al-Mg equivale às de outras ligas

recozidas, além de apresentar boa ductilidade. Ligas com teores de magnésio inferiores a

3,5 % apresentam menor soldabilidade do que ligas com teores de magnésio mais

elevados (Hatch, 1999).

Entretanto, estas ligas em particular, podem formar várias fases de precipitados

que são altamente dependentes da composição química da liga e das condições de

processamento térmico, sendo necessária certa atenção no que diz respeito a estes

precipitados, aos seus efeitos e aos seus mecanismos de precipitação.

No diagrama de fase Al-Mg (Figura 2.2) é possível prever as composições típicas

das fases em equilíbrios em função da temperatura. Assim sendo, podem-se descrever

cinco fases sólidas em equilíbrio ao longo de toda a gama de composições: i) Solução

sólida de Al-Mg (α); ii) O componente intermetálico β (Al2Mg3); iii) O composto de linha ε;

iv) O composto γ(Al12Mg17); e v) Solução sólida de Mg-Al (δ) (Kinga , 2008).

24

Figura 2.2 - Diagrama binário da liga Al-Mg (Coelho, 2013).

Analisando a Figura 2.2, nota-se que a solubilidade de Mg em solução sólida de

alumínio é relativamente alta (17,1 %pMg a 450 °C). O composto intermetálico β, cuja

composição é Al2Mg3, possui uma fase estreita de concentração (36,1 a 37,8 %pMg) que

é estável, entretanto esta estabilidade ocorre desde temperaturas por volta de 450 °C até

100 °C. O composto de linha ε (39 %pMg) é estável em temperaturas altas, por volta de

320-370 °C. A fase γ é estável dentro de uma composição de 42-59,8 %pMg a 450 °C,

mas declina consideravelmente com a queda de temperatura (sendo aproximadamente

53-57,5 %pMg a 300 °C). Por último, a solubilidade do alumínio em solução sólida de

magnésio é de 12,6 %pAl a 437 °C (Kinga, 2008).

O diagrama de fase é uma representação gráfica de um sistema de ligas, onde os

estados físicos e os constituintes estruturais são conhecidos em função das composições

e temperaturas, permitindo prever e simular os comportamentos de metais e ligas quanto

às suas transformações térmicas tais como: solidificação e fusão, transformação de fase

durante os processos de soldagem, tratamento térmico e precipitação de partículas de

segunda fase (Delboni, 2007).

25

2.1.2.1.1. Liga de Alumínio AA5086

O magnésio, na maioria das ligas alumínio-magnésio está presente em solução

sólida. Entretanto, quando a concentração de magnésio nas ligas de Al-Mg excede,

aproximadamente, 3,5%, Al3Mg2 pode precipitar a temperaturas baixas no tratamento

térmico ou no resfriamento lento a partir de elevadas temperaturas. Como exemplo, temos

a liga 5086 (4% Mg) que é trabalhada a frio e aquecida em torno de 120 a 180ºC. Nesta

liga uma contínua rede de Al3Mg2 pode precipitar nos contornos de grão. Esta estrutura é

indesejável uma vez que pode tornar a liga suscetível a trinca por corrosão sob tensão em

condições adversas (Van Horn, 1967).

Embora as ligas de alumínio-magnésio sejam classificadas em não tratáveis

termicamente, a quantidade de magnésio solúvel nas temperaturas de recozimento para

as ligas Al-Mg, com mais que 4% Mg (como a 5083, 5086, 5056 e 5456), é maior que a

retida em solução-sólida na temperatura ambiente. Como resultado, se estas ligas são

severamente encruadas e mantidas por um longo tempo a temperatura ambiente,

ocorrerá à precipitação de Al3Mg2 ao longo das bandas de deslizamento. Também, se

estas ligas são expostas a altas temperaturas em condições de recozimento, a

precipitação ocorrerá ao longo dos contornos de grãos. Esta precipitação torna essas

ligas suscetíveis à corrosão intergranular em ambiente corrosivo. Por esta razão, o

tratamento H3xx tem sido desenvolvido para eliminar ou minimizar esta instabilidade,

então essas ligas possuem alta resistência (Van Horn, 1967).

As ligas Al-Mg não são endurecíveis por precipitação, ou seja, não apresentam

ganho de dureza devido à precipitação. Entretanto, em ligas como a 5086 o teor de

magnésio supera o limite de solubilidade, fazendo com que, em condições

termodinamicamente favoráveis como temperaturas elevadas ou mesmo longos tempos à

temperatura ambiente, ocorram precipitação das fases Al3Mg2, Al3Mg5 ou Al8Mg5 nos

contornos de grão, que, em vez de proporcionar ganho de dureza, causa problemas como

aumento da suscetibilidade à corrosão nos contornos de grão e diminuição da resistência

à corrosão sob tensão. Esse problema resultou no desenvolvimento da têmpera (grau de

encruamento) H116, de modo a eliminar, ou minimizar, essa instabilidade, permitindo um

melhor aproveitamento das propriedades mecânicas dessas ligas.

A resistência mecânica da solda em ligas Al-Mg equivale às de outras ligas

recozidas, além de apresentar boa ductilidade. Ligas com teores de magnésio superiores

26

a 3,5 % apresentam menor soldabilidade do que ligas com teores de magnésio mais

elevados (Hatch, 1999).

A composição química e as propriedades mecânicas da liga de alumínio 5086 são

apresentadas nas Tabelas 2.6 e 2.7, respectivamente.

Tabela 2.6 – Composição química da liga 5086, % em peso (Elfer, 2014).

Liga Al Si Fe Cu Mn Mg Cr Zi Ti

5086 Base 0.40 0.50 0.10 0.70 3.50 - 4.50 0.25 0.25 0.15

Tabela 2.7 – Propriedades Mecânicas da liga 5086 (Hatch, 1999 e EN 13195-1).

Liga Têmpera σσσσLE

(MPa) σσσσLR

(MPa) Dureza

(HV)

5086 H116 205 335 88

2.2. Processo de Soldagem TIG

O processo de soldagem Gas Tungsten Arc Welding (GTAW) ou Tungsten Inert

Gas (TIG) foi desenvolvido para a soldagem de materiais de fácil oxidação como o

alumínio e o magnésio, particularmente para a indústria de aviação no início da Segunda

Guerra Mundial.

A soldagem TIG é um processo a arco elétrico que utiliza um arco entre um

eletrodo de tungstênio não consumível e a poça de soldagem. A poça de soldagem, o

eletrodo e parte do cordão são protegidos através do gás de proteção que é soprado pelo

bocal da tocha, geralmente argônio ou mistura de argônio e hélio. No processo, pode-se

utilizar metal de adição ou não (solda autógena). O arco elétrico é criado pela passagem

de corrente elétrica pelo gás de proteção ionizado, estabelecendo-se o arco entre a ponta

do eletrodo e a peça (Marques et al., 2005). A Figura 2.3 mostra uma representação

esquemática do processo e dos equipamentos usados.

27

Figura 2.3 - Soldagem TIG (esquemático): (a) região do arco, (b) equipamento básico (Marques et al., 2005).

As vantagens mais relevantes do processo constituem de: produção de juntas

soldadas de alta qualidade, geralmente livres de defeitos e livres dos respingos; soldagem

com ou sem metal de adição (soldas autógenas) quase todos os metais, inclusive metais

dissimilares; utilização de fontes de energia de baixo custo com controle preciso das

variáveis da soldagem; e permitir excelente controle na penetração em passes de raiz

(White Martins, 2002).

Como desvantagens do processo estão: a baixa taxa de deposição, que implica

numa operação mais demorada, se comparada a outros processos de soldagem;

necessidade de soldadores com maior destreza; inadequado para ambientes turbulentos,

com correntes de ar ventos, pois estes interferem na proteção gasosa; além do alto custo

em função o uso de gases nobres como argônio e hélio (Pritchard, 2001).

As principais variáveis do processo são a tensão do arco, a corrente de soldagem,

a velocidade de avanço e o gás de proteção. Deve-se considerar que as variáveis não

agem de forma independente, havendo forte interação entre elas.

A corrente de soldagem, de uma forma geral, está associada ao controle da

penetração da solda, numa relação de proporcionalidade direta. Adicionalmente, a

corrente afeta também a tensão do arco, sendo que, para um mesmo comprimento de

arco, um aumento na corrente implicará um aumento na tensão do arco. A tensão do arco

é fortemente influenciada por diversos fatores, a saber: Corrente do arco; Perfil da ponta

do eletrodo; Distância entre o eletrodo e a peça (comprimento do arco); e Composição do

gás de proteção. A tensão do arco está diretamente associada ao comprimento do arco, à

largura da poça e à energia de soldagem (White Martins, 2002). O comprimento de arco

28

elétrico deve ser o menor possível, pois se o comprimento for excessivo, este se

distribuirá sobre uma grande área da peça a ser soldada, o que dificulta a fusão devido a

queda na intensidade da corrente, além de permitir a entrada de ar atmosférico na poça

de fusão contaminando-a.

A velocidade de avanço é proporcional à corrente de soldagem. Maiores

velocidades de avanço requerem correntes de soldagem mais intensas e para correntes

baixas, a velocidade de avanço deve ser reduzida. Uma velocidade de avanço mais alta é

desejável, visto que essa medida reduz a ocorrência de distorções (Pritchard, 2001).

Outro importante aspecto é o fato de ela determinar a produtividade do processo e,

consequentemente, uma parcela significativa do seu custo.

A forma de alimentação do material de adição é outra condição importante na

soldagem TIG. Em processos manuais, a maneira como o material é adicionado influencia

no número de passes e na aparência da solda acabada (White Martins, 2002).

A soldagem TIG do alumínio com ou sem adição de material requer recursos

diferenciados, devido a uma camada microscópica de óxido do mesmo metal (Al2O3) que

se forma sobre sua superfície. Esta camada de óxidos garante ao alumínio boa

resistência à corrosão, porém se constitui na principal dificuldade da soldagem a arco

deste metal e de suas ligas. O ponto de fusão desta barreira de óxidos é alto, cerca de

2060 °C. A princípio isso não seria um problema, já que o arco atinge temperaturas muito

superiores a esta. Contudo, no processo TIG com polaridade negativa (CC-), isto não

acontece, pois a alta condutividade térmica do alumínio permite que o calor rapidamente

se difunda através da peça a ser soldada, fundindo-a, mas mantendo a camada de óxido

intacta. A remoção do óxido poderia ser efetuada com a utilização de corrente contínua

com polaridade positiva (CC+), entretanto não é usual, devido à instabilidade (mobilidade)

do arco e a acentuada deterioração do eletrodo de tungstênio pelo calor do arco (Lucas et

al., 2010).

A diferença entre a condição CC+ e CC- é demonstrada na Figura 2.4, onde é

caracterizado que a área de contato entre o arco e a superfície da peça de trabalho é

muito maior na mancha anódica (A1) do que na mancha catódica (A2). Sendo assim, para

uma dada corrente de soldagem, tem-se uma intensidade de energia muito maior em A2

(CC+) e suficientemente concentrada para que ocorra a fusão ou rompimento da camada

de Al2O3. Este fenômeno é comumente conhecido como limpeza catódica e tem grande

importância técnica na soldagem do alumínio (Cirino, 2009).

29

Figura 2.4 – Soldagem TIG: A1) Área de atuação do arco voltaico na condição CC-; A2) Área de atuação de arco voltaico na condição CC+ (Cirino, 2009).

Por estas razões, emprega-se uma condição intermediária, ou seja, a utilização de

corrente alternada no processo (TIG CA). Nesta configuração haverá dois momentos, ora

o arco estará na polaridade negativa (maior estabilidade do arco com um menor aporte de

calor no eletrodo) e ora estará na polaridade positiva (quebra da camada de óxido e

desgaste excessivo do eletrodo), como mostrado na Figura 2.5.

Figura 2.5 - Formato de onda retangular balanceada: 50% eletrodo positivo 50% eletrodo negativo (Cirino, 2009).

O ideal é usar um maior tempo de polaridade negativa em relação à positiva para

remover a camada de óxido local e prolongar a vida útil do eletrodo.

30

2.2.1. Gases de proteção

A proteção gasosa da poça de fusão no processo TIG é eficiente, o que ocorre

através de um fluxo de gás inerte como o argônio ou o hélio, que parte do bocal de

soldagem em direção a poça de fusão de modo a proteger o arco e a poça de fusão,

evitando a contaminação do material metálico fundido pela atmosfera. Pode ainda ser

utilizado para proteger a raiz da solda, como gás de purga, evitando a oxidação durante a

soldagem. Em alguns casos especiais, gases não inertes podem ser utilizados em

pequenas quantidades, misturados com o gás inerte (Kou, 2002).

Os gases de proteção têm importante papel, pois influenciam na qualidade das

juntas e, consequentemente nas propriedades mecânicas e microestruturais das mesmas

(Peasura & Watanapa, 2012). O gás de proteção impede também a oxidação do eletrodo

não consumível, pois apesar de o tungstênio fundir em alta temperatura, a sua oxidação

ocorre em temperaturas mais baixas. Durante a operação de soldagem, o eletrodo deve

se manter na cor prateada, do contrário, há fuga de gás do sistema, o gás é impuro ou o

restante do gás que permanece no bocal não se mantém ali até que o eletrodo resfrie

(Machado, 1996).

Os gases de proteção, segundo sua natureza, influenciam na estabilidade do arco

elétrico, na geometria do cordão de solda, nas propriedades mecânicas do cordão de

solda, na proteção da poça de fusão, na transferência de calor e na velocidade de

soldagem. Além disto, o gás também influencia nas perdas de elementos químicos, na

temperatura da poça de fusão, na sensibilidade a fissuração e porosidade (Kou, 2002 e

Kim et al., 1998).

A determinação de uma vazão de gás laminar depende do tipo de gás de

proteção, da distância do bocal a peça, do tipo de junta, da geometria do bocal, da

intensidade da corrente, da existência ou não de deslocamento de ar, da inclinação da

tocha, do comprimento do arco elétrico, do tipo de metal de base, da velocidade e posição

de soldagem (Machado, 1996).

As três principais características de um gás de proteção são:

• Potencial de Ionização – Diferença de potencial necessária para remover um

elétron de um átomo de gás, tornando este em um íon. A ignição e estabilidade

do arco são gradamente influenciadas pelo potencial de ionização dos gases de

proteção. Gases com baixo potencial de ionização, como o argônio, têm seus

31

átomos facilmente transformados em íons e isto ajuda a manter um arco suave

estável (Lyttle & Stapon, 1990).

• Condutividade Térmica – Está relacionada com a capacidade de transferência de

calor gerado com a abertura do arco para o metal de base. Maior condutividade

térmica maior calor transferido para o metal de base, influenciando assim tanto

nas características geométricas quanto microestruturais da junta soldada.

• Potencial de Oxidação – Está relacionado com o potencial que determinado gás

tem de promover a oxidação, afetando o desempenho e as propriedades do arco e

do depósito de solda resultante. A presença de um elemento oxidante suaviza o

perfil do cordão de solda, reduz seu ângulo de molhamento e a altura do reforço,

melhora a penetração e reduz a formação de mordeduras, tanto pela geração de

filmes que melhoram as condições de molhamento da poça de solda (diminuição

da tensão superficial na interface poça/metal de base) quanto pela estabilização

da posição da raiz do arco (Jonsson et al., 1995 e Lyttle & Stapon, 1990).

Na soldagem do alumínio são usados argônio, hélio e as misturas destes dois

gases. O argônio é mais utilizado que o hélio nesse processo devido às seguintes

características: Possibilita arco mais suave; penetração reduzida (útil na soldagem de

materiais com baixa espessura); ação de limpeza mais intensa; baixo custo e alta

disponibilidade; e maior resistência a deslocamentos de ar; melhor partida do arco.

O hélio transmite maior calor para uma mesma corrente e tensão que o argônio e,

portanto, é particularmente importante na soldagem de peças espessas, possibilitando

maiores penetrações do codão de solda (Figura 2.6).

Figura 2.6 – Perfis de penetração na soldagem TIG de alumínio. Corrente de soldagem:

225A e velocidade de soldagem: 500mm/min (AGA).

Como se pode avaliar pelas curvas da Figura 2.7, a tensão do arco obtido com

hélio é significativamente maior que a do obtido com o argônio. Assim sendo, o hélio

fornece mais calor ao processo, conforme discutido acima.

32

Figura 2.7 - Influência da atmosfera protetora na tensão do arco no processo TIG (White

Martins, 2002).

Características intermediárias podem ser obtidas através da mistura dos dois

gases. A Tabela 2.8 mostra os tipos de gases, normalmente utilizados no processo de

soldagem TIG de ligas de alumínio, bem como as principais características.

Tabela 2.8 - Principais características dos gases de proteção usados na soldagem TIG de

alumínio e suas ligas (Moreira, 2008).

Metal de base Proteção gasosa Características

Alumínio e suas

Ligas

Argônio Arco de fácil abertura e estável, baixo índice de respingos e Ideal para soldagem de chapas finas.

Argônio + Hélio

Mistura recomendada para soldagem de chapas grossas devido a elevada condutividade térmica do hélio. Maiores percentuais de argônio favorecem a abertura e estabilidade do arco.

O oxigênio é comumente empregado como parte integrante de misturas protetoras

que envolvem outros tipos de gases, como o argônio. Adições de O2 em argônio alteram a

geometria do cordão aumentando a largura e a penetração efetiva até cerca de 4%O2.

Adicionalmente, promovem um aumento do tamanho de grão pela exposição do metal de

solda a temperaturas mais elevadas que as conseguidas com argônio puro (Moreira,

2008).

33

Adições de 2% e 5% de O2 na mistura com argônio pode diminuir a quantidade de

respingos no processo de soldagem (Jonsson et al., 1995). O efeito de pequenos

percentuais de O2 em argônio (Ar + 2%O2) possibilita uma maior estabilidade do arco

quando comparada àquela com argônio puro (Costa et al., 2005). Adicionalmente,

pesquisas realizadas indicaram que a presença de O2 reduz a tensão superficial do

cordão de solda, promovendo melhor molhabilidade. Este fenômeno ocorre pela formação

de uma fina película de óxido de alta fluidez (Soltronic, 1980).

O nitrogênio, assim como o oxigênio, geralmente é utilizado como componente da

mistura gasosa para proteção do arco e da poça de fusão no processo de soldagem TIG.

Quantidades crescentes de N2 no gás de proteção promovem alterações na

microestrutura e a elevação da quantidade de nitrogênio no metal de solda (Barrada &

Enrique, 2005).

O uso de N2, como gás de proteção, no processo GTAW pode ser relativamente

problemático, pois pode causar erosão do eletrodo, respingos, porosidade e instabilidade

do arco. Durante a fusão, em atmosfera de nitrogênio, uma grande quantidade de gás N2

entra na poça de fusão, especialmente próximo à superfície. Na subsequente

solidificação, o excesso de N2 não reage com o metal fundido criando poros no metal de

solda. Assim sendo, prefere-se diminuir a quantidade de N2 nas composições de gases de

proteção (Hojjatzadeh et al., 2012).

2.2.2. Soldagem de alumínio e suas ligas

As propriedades de resistência mecânica das ligas de alumínio endurecidas por

envelhecimento ou deformação apresentam sensibilidade ao calor gerado nos processos

de soldagem (Capelari, 2006). No caso de ligas endurecíveis por trabalho mecânico, o

calor envolvido na soldagem remove parte ou todos os efeitos decorrentes das prévias

deformações. A resistência mecânica na zona termicamente afetada (ZTA) não será

maior do que aquela encontrada na liga de estado recozido. Entretanto, as ligas

endurecíveis por precipitação, apresentam resistência mecânica levemente inferior ao

metal de base (Davis, 2002).

O alumínio apresenta divergências de propriedades físicas e químicas que levam a

diferenças de sua soldagem em comparação com a dos aços:

� Elevada afinidade pelo oxigênio.

� Elevada condutividade térmica.

34

� Elevado coeficiente de expansão térmica.

� Baixo ponto de fusão (660ºC).

O alumínio reage prontamente com o oxigênio do ar formando uma camada

superficial de óxido cujo ponto de fusão (~2000ºC) é muito superior ao do alumínio e que,

durante a soldagem, pode formar uma barreira física impedindo o contato e mistura do

metal base fundido e do metal de adição e formando inclusões na solda. Adicionalmente,

à medida que se torna mais espessa, a camada de óxido absorve umidade do ar fazendo

com que, na soldagem, esta umidade, juntamente com outras contaminações superficiais,

seja uma fonte de hidrogênio capaz de gerar porosidade na zona fundida de alumínio

(Modenesi, 2011).

Os principais problemas metalúrgicos de soldabilidade do alumínio e suas ligas

são a formação de porosidade pelo H2, a formação de trincas a alta temperatura

(principalmente de solidificação) e a perda de resistência mecânica (para metal base

encruado ou endurecido por precipitação). A formação de porosidade está ligada à grande

variação da solubilidade do hidrogênio com a temperatura no alumínio líquido (Modenesi,

2011).

Em temperaturas elevadas, como as da poça de fusão, grandes quantidades de

hidrogênio podem ser absorvidas, como mostra a Figura 2.8.

Figura 2.8 - Solubilidade do hidrogênio no alumínio (Praveen & Yarlagadda, 2005).

Temperatura (ºC)

ml H

2/10

0g d

e m

etal

líqu

ido

35

Com a rápida solidificação da poça de fusão, a solubilidade do hidrogênio no

alumínio decai rapidamente. O hidrogênio que excede o limite de solubilidade forma então

bolhas de gás caso não consigam sair da poça em solidificação. Este é um dos principais

problemas na soldagem do alumínio, pois reduz a resistência à fadiga e à tração da junta

soldada. Geralmente, as principais fontes de hidrogênio na soldagem são umidades na

superfície a serem soldadas ou no metal de adição, condensação no interior de tochas

refrigeradas a água, metal de base ou metal de adição contaminados ou ainda impurezas

do gás de proteção (Praveen & Yarlagadda, 2005).

Grande parte das ligas de alumínio é sensível à formação de trincas na

solidificação e, eventualmente, por ligação e por perda de ductilidade a alta temperatura.

A fissuração na solidificação é favorecida pela presença de certos elementos de liga como

Si, Cu e Mg (Figura 2.9).

Figura 2.9 - Influência relativa de alguns elementos de liga na sensibilidade à fissuração

na solidificação (Modenesi, 2011).

36

A resistência mecânica de diversas ligas de alumínio é baseada no seu

encruamento ou em endurecimento por precipitação. Estes dois mecanismos são

sensíveis a uma elevação da temperatura e, portanto, na soldagem, a zona termicamente

afetada destas ligas pode ser amaciada. Quanto mais próximo da zona de fusão, maiores

são as temperaturas máximas atingidas e maior será o tempo de permanência do material

acima da temperatura de recristalização. Ou seja, a resistência mecânica, resistência ou

dureza de um material deformado a frio diminui com o aumento da temperatura e do

tempo de permanência. A Figura 2.10 mostra a variação da dureza no metal de solda, na

zona termicamente afetada (ZTA) e no metal de base, nas condições como soldadas, de

ligas de alumínio 5xxx (Kou, 2002).

Figura 2.10 - Efeito da solda na dureza em ligas 5xxx, não tratáveis termicamente, trabalhada a frio e soldada a TIG (Mathers, 2002).

2.3 – Tensões Residuais

Os modernos métodos analíticos e computacionais de modelamento de

componentes mecânicos podem prever, com grande precisão, os esforços e tensões que

estes sofrerão durante sua utilização. Contudo, isoladamente, esta análise não é

suficiente para prever o desempenho destes componentes. Em muitos casos onde falhas

levaram a um rompimento precoce da peça, existiam tensões residuais no componente

que se somaram aos esforços calculados inicialmente no projeto (Whiters & Bhadeshia,

2001). Por outro lado, dependendo da sua natureza e se são trativas ou compressivas,

podem retardar esse rompimento. Como por exemplo, tensões residuais de compressão

37

na superfície das peças podem aumentar a vida em fadiga de componentes automotivos

de ordem de 700% a 1000% (Ruy et al., 2002).

As tensões residuais são definidas com tensões existentes em um material sob

condições de temperaturas uniformes e sem a ação de carregamentos externos (Cindra

Fonseca, 2000). Elas aparecem como uma resposta elástica do material à distribuição

heterogenia das deformações elásticas ou plásticas não uniformes e permanentes

(Rosenfeld, 2002). As tensões residuais são auto-equilibradas, ou seja, a resultante das

forças e o momento resultante produzido por elas vão ser sempre vetores nulos (Cindra

Fonseca, 2000). Portanto, qualquer perturbação, como remoção de material, aplicação de

carregamentos térmicos ou mecânicos, altera o seu estado e causa sua redistribuição, de

modo que as tensões se reequilibrem. Assim sendo, a presença de tensões residuais

trativas no material será equilibrada por tensões residuais compressivas (Kandil et al.,

2001).

Tensões residuais trativas na superfície do material são, geralmente, indesejáveis,

uma vez que podem contribuir e, frequentemente, são a maior causa de fratura por fadiga,

trincas de têmpera e trincas de corrosão sob tensão. Assim, tensões residuais

compressivas na superfície do material são, usualmente, consideradas benéficas (Kandil

et al., 2001), conforme apresentado na Figura 2.11.

Figura 2.11 - Superposição de tensões residuais (σR) e aplicadas (σA) (Pedrosa, 2007).

38

As tensões residuais classificam em três grupos distintos (Cindra Fonseca, 2000):

1. Tensões residuais do tipo I ou macrotensões: São tensões residuais

macroscópicas consideradas quase homogêneas na escala de vários grãos e

equilibradas nos limites de todo o material (Figura 2.12);

Figura 2.12 - Distribuição de tensões residuais do tipo I em uma seção de um eixo (Pitella,

2003).

2. Tensões residuais do tipo II ou microtensões: Tensões residuais microscópicas

equilibradas nos limites dos contornos de um grão ou entre alguns grãos vizinhos

(Figura 2.13);

Figura 2.13 – Representação das tensões residuais do tipo II (Ricardo, 2009).

3. Tensões residuais do tipo III ou submicrotensões: São tensões residuais

submicroscópicas, heterogêneas na escala de algumas distâncias interatômicas e

equilibradas nos limites de algumas células unitárias. Resultam da presença de

defeitos cristalinos no material (Figura 2.14).

39

Figura 2.14 - Diferentes fontes de tensões residuais do tipo III (Cindra Fonseca, 2000,

modificado).

As tensões residuais tem origem em deformações plásticas não uniformes

causadas mecanicamente, termicamente, ou durante transformação de fases e alterações

microestruturais, de acordo com a Tabela 2.9.

Tabela 2.9 – Processos de fabricação geradores de tensões Residuais (Ogata, 2003).

Origem da Tensão

Residual

Processo de

Fabricação Observações

Tensões Originadas

Mecanicamente

Conformação Laminação, Forjamento,

Estampagem e Trefilação

Tratamentos Superficiais Jateamento, Esmerilhamento

e Lixamento

Processos de Usinagem

Torneamento, Fresamento,

Mandrilamento, Furação e

Retificação

Tensões Originadas em

Transformações de Fase

e Microestrutura

Homogênea

Tratamentos

Termoquímicos

Nitretação, Cementação e

Carbonitretação

Tratamentos Térmicos Têmpera, Revenimento e

Normalização

Deposição Superficial Galvanização, Metalização e

Eletrodeposição

Processos de Soldagem Todos

40

Tensões Originadas

Termicamente

Processos de Usinagem

Aquecimento por

Torneamento, Fresamento,

Mandrilhamento, Furação e

Retificação

Processos de Soldagem Todos

Tratamento Térmico Têmpera, Revenimento,

Normalização e Recozimento

Tratamentos

Termoquímicos

Nitretação, Cementação e

Carbonitretação

Processos de Fundição Resfriamento Heterogênio

dentro do molde.

As tensões residuais originadas termicamente são consequência de um

aquecimento ou resfriamento não homogêneo do material, criando diferenças de

contração e/ou dilatação no mesmo componente. As tensões originadas mecanicamente

são produzidas por deformações plásticas não uniformes, levando a uma distribuição da

deformação plástica de uma maneira irregular no mesmo componente. Já as tensões

residuais oriundas em transformação de fases e microestruturas heterogêneas estão

associadas às reações físicas e químicas que podem provocar alteração na

microestrutura ou precipitação de algum componente no material, alterando sua

distribuição interna de tensões (Wang & Gong, 2002).

A superposição das tensões residuais dos tipos I, II e III determina o estado de

tensões residuais resultante atuando num ponto particular do material (Cindra Fonseca,

2000).

A Figura 2.15 ilustra um material bifásico resfriado a partir de seu aquecimento a

600oC, estado livre de tensões, e as fases A e B com diferentes coeficientes de dilatação

térmica. Então, podemos identificar as tensões residuais: Tipo I - devido à deformação

plástica induzida pela variação volumétrica durante o resfriamento do material; Tipo II:

devido aos diferentes coeficientes de dilatação térmica dos grãos das fases A e B no

resfriamento; e Tipo III: devido às imperfeições do reticulado cristalino, tais como

discordâncias ou átomos de impurezas (Macherauch & Kloos, 1997).

41

Figura 2.15 – Tensões residuais em um material bifásico (Macherauch & Kloos, 1987).

2.3.1 – Tensões residuais devido ao processo de soldagem

O estado de tensão residual na soldagem será completamente determinado se,

em cada ponto da peça soldada, forem conhecidas as componentes da tensão residual

em grandeza e direção. A determinação completa de todas as componentes em vários

pontos da junta soldada é de difícil obtenção experimental. Quase sempre, por motivo de

ordem prática, a determinação das tensões residuais macroscópicas na soldagem limita-

se à determinação das componentes das tensões residuais paralelas e perpendiculares

ao cordão de solda, denominadas respectivamente por tensões residuais longitudinais e

tensões residuais transversais (Nguyen & Wahab, 1996).

O estado de tensões residuais presente nos componentes após a soldagem é

função dos parâmetros utilizados na execução dos mesmos, tais como: geometria da

junta, número de passes, corrente, velocidade, ocorrência de transformações de fases e

de outros fatores pertinentes ao processo. Sendo estabelecido que tensões residuais

trativas podem, mesmo no regime elástico, se somar às tensões de serviço levando ao

fim prematuro da vida do componente, é importante não apenas o conhecimento do

estado de tensões resultante dos diferentes processamentos térmicos, como também do

42

desenvolvimento de novas tecnologias de alívio e de introdução de tensões compressivas

benéficas nos componentes (Sinha 2008).

Basicamente, as três principais fontes de tensões residuais em soldagem são:

contração no resfriamento, de regiões diferentemente aquecidas e plastificadas durante a

operação de soldagem; resfriamento mais intenso das superfícies da peça soldada; e

transformações de fases metalúrgicas. Pode-se ainda destacar outra fonte, a restrição à

dilatação térmica pela presença de vínculos externos, que normalmente é creditada à

contração do material (Cindra Fonseca, 2000).

A contração no resfriamento de regiões diferentemente aquecidas e plastificadas

durante a operação representa a principal fonte de tensões residuais, pois as

temperaturas presentes no processo são de tal magnitude, que o módulo de elasticidade

e a resistência ao escoamento do metal são drasticamente reduzidos, facilitando o

escoamento do metal que se expande (Lin & Chen, 2003). Quando ocorre o

arrefecimento, o material recupera a sua rigidez e se contrai sob temperaturas ainda

elevadas e condições heterogêneas, impedindo que a contração seja igual e sem

restrições em todas as regiões. As tensões geradas podem ser da ordem do limite de

escoamento do material (Law et al, 2006). A distribuição das tensões na junta soldada,

considerando apenas as tensões de contração, é mostrada na Figura 2.16.

Figura 2.16 – Distribuição de tensões residuais devido à contração em uma junta de topo

(Cindra Fonseca, 2000).

43

Tensões residuais também surgem devido ao resfriamento mais rápido da

superfície, pois o processo de resfriamento não é homogêneo ao longo da espessura. A

superfície resfria-se mais rapidamente do que o interior. Desta forma, além do gradiente

de temperatura nas direções longitudinal e transversal ao cordão de solda, é também

estabelecido um gradiente de temperatura ao longo da espessura da peça. Este gradiente

de temperatura pode ocasionar deformação plástica localizada e, consequentemente,

tensões residuais ao longo da espessura. Se o resfriamento mais rápido da superfície

fosse a única fonte de tensões residuais, tensões compressivas seriam obtidas na

superfície e, em equilíbrio, tensões trativas seriam obtidas no interior (Cindra Fonseca,

2000).

Durante o resfriamento, a zona fundida (ZF) e a zona termicamente afetada (ZTA)

experimentam transformações de fases. Com essas transformações as regiões do cordão

de solda e da ZTA tendem a se expandir, enquanto que esta expansão é impedida pelas

regiões frias do material, submetendo a área transformada do material a um esforço de

compressão (Barbato, 2012).

A Figura 2.17 demonstra a superposição das tensões residuais transversais,

devido à contração, resfriamento mais rápido da superfície e transformação de fase numa

junta soldada.

Figura 2.17 – Superposição dos efeitos: a) Contração (C); b) Resfriamento superficial

intenso (R); e c) Transformação de Fase (T) (Cindra Fonseca, 2000).

44

2.3.2 – Métodos de medição das tensões residuais

Na prática, a tensão residual não é medida diretamente, em vez disso, é obtida

através da medição da deformação ou através de grandezas secundárias, tais como a

velocidade ultrassônica ou ruído magnético (Withers et al., 2008).

Os métodos de medição de tensões residuais podem ser físicos ou mecânicos.

Nos mecânicos, na técnica do furo cego, por exemplo, o material é furado e o estado de

tensão é comparado com o estado relaxado do componente. Assim, de modo geral, estes

métodos são destrutivos e possibilitam apenas a medição de tensões residuais do tipo I

(Cindra Fonseca, 2000). Os métodos físicos permitem medir as tensões sem relaxamento

do material e são, normalmente, não destrutivos, destacando-se as técnicas de difração

de raios-X e de nêutrons, a magnética e a ultrassônica (Raj & Jayakumar, 1997).

A técnica do furo cego consiste na usinagem de um pequeno furo no material,

cujas deformações na superfície são captadas por extensômetros elétricos. A partir de

diferentes formulações numéricas, as tensões residuais podem ser calculadas, dadas as

deformações medidas pelos extensômetros (Kandil et al, 2001).

A técnica magnética baseia-se no principio da anisotropia magnética causada por

um campo de tensões. Devido à ação das tensões, há uma alteração no campo

magnético induzido inicialmente sobre a peça. Esta alteração pode ser convertida em

valores de tensão por ação do efeito do ruído Barkhausen. Este método é utilizado em

materiais ferromagnéticos e na realização de varreduras em peças sob carregamento

para identificação dos locais mais tensionados, pois os sinais são fortemente

influenciados pela microestrutura e pela condição das tensões presentes (Raj &

Jayakumar, 1997).

A técnica ultrassônica mede o nível de tensões residuais pela variação da

velocidade da onda ultrassônica ao percorrer um dado material tensionado e pelo

estabelecimento da constante acusto-elástica do material inspecionado, com relação ao

material livre de tensão (Raj & Jayakumar, 1997). Este método também e bastante

sensível à microestrutura e a textura do material (Kandil et al, 2001).

Os métodos de difração, baseados na Lei de Bragg, envolvem a medição da

variação da distancia interplanar entre os planos atômicos paralelos dos materiais

cristalinos causada pelas tensões residuais. Assim sendo, pela incidência e difração de

um feixe de raios-X ou de nêutrons, é medida a variação das distâncias interplanares com

45

relação a um material de calibração isento de tensão, obtendo-se as magnitudes e a

natureza das tensões residuais presentes no material (Kandil et al, 2001).

2.3.2.1 – Tensometria por difração de raios-X

Este método, não destrutivo de medição de tensões residuais, tem como princípio

a Lei de Bragg, que estabelece que para um dado comprimento de onda (λ) existe apenas

um espaçamento (d) entre planos atômicos paralelos (chamada distância interplanar), e

um ângulo (θ), chamado de ângulo de interferência construtiva (Cindra Fonseca, 2000).

Os princípios básicos da técnica foram desenvolvidos há mais de cinquenta anos e

são baseados em duas teorias: a teoria da difração de raios-X em materiais cristalinos e a

teoria da elasticidade do material sólido, oriunda da mecânica dos sólidos. Esta teoria

prevê as seguintes relações:

a) Tensão: σ = ∆F / ∆A; (4)

b) Deformação: ε = ∆ℓ /ℓ; (5)

c) Lei de Hooke (relação entre tensão e deformação) para estado uniaxial: ε = σ/E, onde E

é o módulo de elasticidade do material;

Lei de Hooke para estado triaxial:

(6)

(7)

(8)

onde ε1, ε2 e ε3 são as deformações principais, σ1, σ2 e σ3 são as tensões principais, e µ é

o coeficiente de Poisson. Todavia, para efeitos de adequação ao estado real de tensões,

são utilizadas coordenadas polares, como mostra a Figura 2.18.

46

Figura 2.18 – Sistema de coordenadas polares (Cindra Fonseca, 2000).

Sabe-se que:

(9)

onde φ é o ângulo azimutal e ψ é o ângulo polar. Nesta equação, a componente da

tensão perpendicular à superfície σ3 é zero, e as componentes σ1 e σ2 se posicionam na

superfície.

Então a equação 6 pode ser escrita como:

(10)

onde σφ é a componente da tensão na direção que faz o ângulo φ com a tensão principal

σ1.

Baseado nas equações 9 e 10 foram desenvolvidas várias metodologias de

medição de tensões.

A Figura 2.19 mostra três planos de uma família de planos com espaçamento

interplanar d, que hipoteticamente refletem os raios incidentes. Os raios 1 e 2 se refletem,

respectivamente, no primeiro e no segundo planos. Em cada reflexão os ângulos de

incidência e de reflexão são representados por θ. Diferentemente do que são usados

normalmente em ótica, esses ângulos são medidos em relação à superfície do plano

refletor, e não em relação à normal do plano. Na situação da Figura 2.19, o espaçamento

interplanar d é análogo à aresta da célula unitária. As ondas dos raios 1 e 2 chegam em

47

fase ao cristal. Depois da reflexão, elas estão novamente em fase; diferentemente do que

ocorrem com os raios de luz, os raios X não se refratam ao entrar no cristal. Então, a fase

relativa entre as ondas dos raios 1 e 2 é determinada, exclusivamente, pela diferença de

percursos. Para que os raios estejam em fase, a diferença de percurso deve ser igual a

um múltiplo inteiro do comprimento de onda λ dos raios X (Cindra Fonseca, 2000).

Figura 2.19 – Diferença de percursos dos raios incidentes em função da distância

interplanar (Cindra Fonseca, 2000).

Pela Figura 2.19, é possível identificar que a diferença de percursos é 2.d.Senθ.

Este resultado é válido para qualquer par de planos adjacentes da família de planos

representada na figura 2.19. Temos, então:

(11)

onde n é o número de ordem do máximo de intensidade da suposta reflexão (ou seja, da

difração ou espalhamento) dos raios-X. A equação 11 é a Lei de Bragg, assim

denominada em homenagem ao físico britânico W. L. Bragg, que a deduziu pela primeira

vez (Cindra Fonseca, 2000).

A difração de raios-X pode ser considerada um método não destrutivo se não

houver polimento para remoção de camadas, caso contrário é considerado

semidestrutivo. A velocidade da medição depende de uma série de fatores, tais como: tipo

de material, a fonte dos raios-X e o grau de precisão requerido. Este método tem uma

resolução espacial de 1 - 2 mm até décimos de µm e uma profundidade de penetração em

torno de 10 - 50 µm, dependendo do material e da fonte.

48

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Material

O material utilizado no presente trabalho é a liga de alumínio ASTM B-928-04, liga

AA5086, têmpera H-116, na forma de chapa de 6,35 mm de espessura. A composição

química e as propriedades mecânicas do material estudado estão apresentadas nas

Tabelas 3.1 e 3.2, respectivamente.

Tabela 3.1 – Composição química da liga AA5086 (% em peso).

Al Si Fe Cu Mn Mg Cr Zn Ti

Balanço 0.40 0.50 0.10 0.45 4.0 0.15 0.25 0.15

Tabela 3.2 – Propriedades Mecânicas da liga AA5086.

Limite de Escoamento σLE (MPa)

Limite de Resistência σLR (MPa)

Dureza (HV)

205 335 88

3.2 – Soldagem das Amostras

As amostras destinadas à soldagem foram obtidas por corte mecânico com

dimensões aproximadas de 150 x 250 mm e soldadas longitudinalmente resultando em

juntas de 250 x 300mm, conforme a Figura 3.1.

Figura 3.1 - Desenho esquemático da chapa inicial, do chanfro e da junta soldada [mm].

49

As chapas foram soldadas no Centro de Tecnologia em Soldagem (CTS) da White

Martins, pelo processo TIG utilizando Corrente Alternada (CA) – TIG CA. Foi utilizada

máquina de solda KEMPPI, modelo Master TIG, 3500W, CA/DC (Figura 3.2a) com

eletrodo de tungstênio puro. O metal de adição utilizado foi vareta TIG-HARRIS, liga de

alumínio 5083, diâmetro de 3,2mm, cuja composição química é apresentada na Tabela

3.3.

Tabela 3.3 – Composição química do consumível: Liga AA5083 (% em peso).

Al Si Fe Cu Mn Mg Cr Zn Ti

Balanço 0.40 0.40 0.10 0.70 4.4 0.15 0.25 0.15

a) b)

Figura 3.2 – a) Máquina de Solda KEMPPI, modelo Master TIG 3500W e b) sistema de

travamento das chapas para soldagem.

As amostras foram soldadas na posição plana e de acordo com as seguintes

características:

A amostra 1 foi soldada com uso de argônio (Ar) puro como gás de proteção.

Foram feitos dois passes, sendo o primeiro (passe de raiz) com velocidade de 150

mm/min e o segundo (enchimento) de 80 mm/min. A vazão utilizada, do gás de proteção,

foi de 10L/min. A corrente de soldagem utilizada foi de 202A.

50

A amostra 2 foi soldada com uso de uma mistura de argônio (Ar) e hélio (He) como

gás de proteção. A proporção da mistura foi de 25%He e 75%Ar. A soldagem foi feita em

dois passes, sendo o primeiro (raiz) com velocidade de 150 mm/min e o segundo

(enchimento) de 100 mm/min, com vazão do gás de proteção de 10 L/min. A corrente de

soldagem utilizada foi de 202A. Considerando que a proteção com hélio gera um aporte

de calor mais intenso, foi usada uma velocidade de enchimento maior.

A amostra 3 foi soldada com uso de uma mistura nova desenvolvida e patenteada

pela White Martins composta de Ar + N2O + O2 como gás de proteção. A soldagem foi

feita em dois passes, sendo o primeiro (raiz) com velocidade de 150 mm/min e o segundo

(enchimento) de 80 mm/min, com vazão do gás de proteção de 10L/min. A corrente de

soldagem utilizada foi de 202A.

Em ambas as amostras foram utilizadas um back de cobre durante o 1º passe

(passe de raiz) e um sistema de travamento (Figura 3.2b). A tabela 3.4 apresenta o

resumo dos parâmetros de soldagem utilizados em cada amostra.

Tabela 3.4 – Resumo dos parâmetros utilizados na soldagem das amostras.

Amostra Mistura

Gasosa

Vazão

(L/min)

Corrente

(A)

Velocidade Soldagem

(mm/min)

1º Passe

(Raiz)

2º Passe

(Enchimento)

1 Ar 10 202 150 80

2 Ar + He 10 202 150 100

3 Ar + N2O + O2 10 202 150 80

3.3 – Medição das Tensões Residuais

As tensões residuais superficiais das amostras soldadas foram medidas nas

direções longitudinal (L) e transversal (T) ao cordão, na região do metal de solda (MS),

Zona Termicamente Afetada (ZTA) e no Metal de Base (MB), nos pontos indicados na

Figura 3.3 abaixo.

51

Figura 3.3 – Posições de medições das tensões residuais nas amostras soldadas.

A medição das tensões residuais foi realizada no Laboratório de Análise de

Tensões - LAT, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFF, utilizando o

analisador de tensões Xstress3000 (Figura 3.4), por difração de raios-X, pelo método do

sen²ψ, com incerteza de ±12MPa, usando radiação Crκα (λCrκα = 2,29092 Å), difratando

o plano (222) do alumínio e ângulo 2θ = 156,98º.

Figura 3.4 – Analisador de tensões XStress 3000: Sistema de medição.

52

O equipamento analisador de tensões determina os valores de pico de difração em

função do ângulo ψ, (ângulos que se pretende medir). É recomendável selecionar no

mínimo cinco ângulos, por exemplo, 0°, 10°, 25°, 30° e 45°. Após a determinação dos

valores de pico de difração relativos a cada um dos ângulos ψ escolhidos, o programa

determina o declive da curva que se ajusta a esses pontos (2θ vs. sen2ψ) e o valor da

tensão, bem como a incerteza subjacente.

O equipamento fornece, através do software, o valor da TR no ponto medido. A

Figura 3.5 ilustra a representação do pico de difração para um determinado ângulo ψ e a

Figura 3.6 apresenta o gráfico 2θ vs. sen2ψ com o ajuste linear entre os ângulos ψ

medidos.

Figura 3.5 – Representação do pico de difração.

Figura 3.6 – Representação gráfica 2θ vs. sen2ψ.

53

3.4 – Análise Microestrutural

Os ensaios metalográficos foram realizados no Laboratório de Metalografia,

integrante do Laboratório Caracterização de Propriedades Mecânicas e Microestruturais

(LACPM) do Instituto Nacional de Tecnologia (INT). Foram realizadas micrografias das

amostras de ambas as condições de soldagem.

As amostras foram lixadas com lixas de granulometria 100, 220, 320, 400, 600 e

1200 seguidas de polimento fino com pasta de diamante com granulometria de 6, 3 e 1

µm. O ataque foi realizado com uma solução na proporção de 2mL de ácido fluorídrico

(HF) para 100mL de água. O tempo de ataque foi de 90 segundos na região de solda e

ZTA e de 60 segundos no metal de base.

Após o ataque, as imagens metalográficas foram capturadas no Microscópio ótico

FEI, modelo INSPECT (Figura 3.7), utilizando três diferentes aumentos (50x, 100x e

200x).

Figura 3.7 – Microscópio FEI, modelo INSPECT.

As amostras ainda foram analisadas no Microscópio Eletrônico de Varredura

(MEV) quanto a porosidade das juntas soldadas e ao tipo de fratura. Foi utilizado o

microscópio FEI, modelo INSPECT 550, de filamento de tungstênio com voltagem de

operação de 30KV (Figura 3.8) do Centro de Nanotecnologia (CENANO) do Instituto

Nacional de Tecnologia (INT).

54

Figura 3.8 – Microscópio Eletrônico de Varredura FEI, Modelo INSPECT 550.

3.5 – Ensaios Mecânicos

3.5.1 – Ensaio de tração

Os corpos de provas (CPs) para o ensaio de tração foram cortados e usinados

conforme Figura 3.9, de acordo com a norma ASTM B557M. Foram confeccionados 16

CPs, sendo 4 do metal de base (MB), 4 da amostra soldada com argônio puro, 4 da

amostra soldada com argônio + hélio e 4 da amostra soldada com mistura nova (Ar + N2O

+ O2). Os CP’s foram numerados de 1 a 4, para cada amostra soldada (Figura 3.10).

Figura 3.9 – Corpo de prova para ensaio de tração, conforme ASTM B557M.

55

Figura 3.10 – Corpos de Provas de tração: a) Metal de Base; b) Amostra soldada com Ar

puro; c) amostra soldada com Ar + He; e d) amostra soldada com Ar + N2O + O2.

Os ensaios de tração foram realizados no laboratório de Ensaios Mecânicos de

Implantes, integrante do LACPM do INT. Foi utilizada a máquina INSTRON 3382, modelo

de chão com coluna dupla, com capacidade de 100 KN (Figura 3.11 e 3.12). A taxa de

deformação foi de 2 mm/s.

Figura 3.11 – Máquina INSTRON 3382 utilizada nos ensaios de tração.

56

Figura 3.12 – Detalhe do corpo de prova no ensaio de tração: a) Estricção b) Ruptura;

3.5.2 – Ensaio de microdureza

Os ensaios de microdureza Vickers foram realizados no laboratório de dureza,

integrante do LACPM do INT, utilizando o microdurômetro LECO AKASHI, modelo M-

400H, com uma carga de 25 g por 15 s, conforme mostrado na Figura 3.13.

Figura 3.13 – a) Microdurômetro LECO AKASHI; b) Amostra em medição.

57

O penetrador é uma pirâmide de diamante, de base quadrada, com um ângulo de

136º entre as faces opostas. A carga aplicada produz uma impressão microscópica em

forma de losango regular com a base quadrada (Figura 3.13). O software calcula a dureza

através da relação entre a força aplicada e a área de impressão (Figura 3.14).

Figura 3.14 – a) Angulação; b) Base Quadrada; e c) Impressão Vickers.

As amostras para ensaio de microdureza Vickers foram as mesmas utilizadas na

caracterização microestrutural em função de já apresentarem acabamento metalográfico,

necessário para o ensaio de microdureza. Foram realizadas medições nas regiões do

metal de base, ZTA e metal de solda nas camadas superficial, centro e raiz de cada

condição de soldagem, conforme desenho esquemático da Figura 3.15.

Figura 3.15 – Esquema de medição de microdureza Vickers.

58

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo os resultados experimentais obtidos são apresentados e discutidos.

Eles consistem da análise das tensões residuais geradas no processo de soldagem TIG

com diferentes misturas gasosas e da caracterização das propriedades mecânicas e

microestruturais das juntas obtidas.

4.1 – Análise das tensões residuais após soldagem.

As tensões residuais, longitudinais (L) e transversais (T), foram analisadas no

metal de solda (MS), na zona termicamente afetada (ZTA) e no metal de base (MB) em

cada amostra após a soldagem. Os resultados estão apresentados na Tabela 4.1 e

Figuras 4.1 e 4.2, respectivamente.

Tabela 4.1 – Tensões residuais geradas na soldagem TIG com diferentes misturas

gasosas.

Amostras

Tensão Residual (MPa)

MS ZTA MB

L T L T L T

Ar

1 160 133 -110 -71 100

-100

2 -158 -138 190 27 3 194 200 161 68

4 153 217 163 -47

Média 90 100 100 -10 100 -100

Ar+He

1 -72 -170 134 51 110

-150

2 100 48 84 92 3 89 -121 80 -143

4 -50 93 125 35

Média 15 -40 110 10 110 -150

Ar+N2O+O2

1 -46 174 103 -65 130

-150

2 165 -125 62 9 3 -165 -92 115 27 4 -170 -140 77 -140

Média -60 -45 90 40 130 -150

59

Figura 4.1 – Tensões residuais longitudinais após a soldagem.

Analisando os resultados apresentados na Figura 4.1 é possível perceber que as

tensões residuais longitudinais nas juntas, de cada condição de soldagem, tiveram um

comportamento homogêneo e trativo na ZTA e no MB, enquanto que no MS as tensões

foram compressivas na soldagem com a nova mistura e trativas com a mistura Ar+He e Ar

puro. Tensões trativas bastante homogêneas foram encontradas na soldagem com a

mistura convencional de argônio puro e as tensões mais heterogêneas ocorreram com o

emprego da nova mistura (Ar+N2O+O2), entretanto, nesta condição as tensões

compressivas do MS apresentaram maiores magnitudes e as tensões trativas da ZTA são

os menores de todas as amostras.

As elevadas tensões residuais longitudinais de tração presentes na ZTA podem ter

contribuído para a redução da resistência mecânica da junta, pois todos os corpos de

prova de tração romperam na ZTA.

60

Figura 4.2 – Tensões residuais transversais após a soldagem.

Na direção transversal (Figura 4.2), o comportamento das tensões residuais nas

amostras soldadas com proteção de Ar+He e com a nova mistura gasosa (Ar+N2O+O2) foi

bastante similar, sendo que as tensões no MS e na ZTA são de baixa magnitude e nestas

amostras o MB apresentou elevada nível de compressão. Entretanto, assim como ocorreu

no sentido longitudinal, na junta soldada com proteção de Ar puro o estado de tensões

residuais pode ser considerado o mais crítico, com tensões trativas da ordem de 50% do

limite de escoamento do material no MS e no metal de base.

O comportamento das tensões residuais transversais geradas na ZTA foi similar

ao das longitudinais, ou seja, trativas com exceção da junta soldada com argônio puro

que apresentou tensões residuais do tipo compressivas. Contudo, essas tensões

residuais transversais na ZTA são de menores magnitudes, quando comparadas às

tensões residuais longitudinais na ZTA.

O estado das tensões residuais geradas no metal de solda com a nova mistura

gasosa (Ar+N2O+O2) e com a proteção de Ar + He apresentaram do tipo compressivas, o

que é desejável para a junta soldada.

A mistura nova apresentou melhor estado de tensões residuais em relação às

demais juntas soldadas. Entretanto as tensões residuais (longitudinal e transversal)

trativas na ZTA tornaram essa região da junta crítica e com maior tendência de falha.

61

4.2 – Análise Metalográfica

Os cordões de solda resultantes apresentaram bom acabamento superficial e

isenção de defeitos detectáveis por inspeção visual. Não foram observadas

descontinuidades, como mordeduras na face ou na raiz, falta de fusão ou de penetração

em ambas as condições de soldagem das amostras (Figura 4.3), exceto na amostra

soldada com argônio puro, que apresentou uma trinca superficial (provavelmente do

resfriamento) localizada, conforme apresentada na Figura 4.3a. As amostras soldadas

com a mistura gasosa de argônio e hélio e a nova mistura apresentaram maior

penetração e reforço superficial (Figuras 4.3b e 4.3c). As juntas soldadas foram

analisadas, com relação à formação de poros e trincas, por microscopia óptica (MO).

(a)

(b)

(c)

Figura 4.3 – Macrografias das juntas soldadas: a) com gás de proteção de argônio; b)

com a mistura gasosa de 25%He + 75%Ar; e c) mistura gasosa de Ar + N2O + O2.

62

4.2.1 – Microscopia Óptica (MO)

Amostras da seção transversal de todas as juntas soldadas foram retiradas para

análise em microscópio óptico.

Na Figura 4.4 está apresentada a microestrutura do metal de base, ou seja, da liga

de alumínio AA5086, antes da soldagem. Nesta figura é possível observar a presença de

pites de corrosão no material devido à solução de HF usada no ataque metalográfico.

Figura 4.4 – Microestrutura do metal de base (Aumento de 200x).

A Figura 4.5 mostra o metal de solda nas condições: com argônio puro (4.5a),

mistura gasosa de argônio com hélio (4.5b) e mistura nova de Ar + N2O + O2 (4.5c). Em

todas as micrografias observa-se a presença de poros no metal de solda, principalmente

nas juntas soldadas com as proteções gasosas de argônio puro e argônio com hélio. É

possível observar, qualitativamente, que a junta soldada com proteção de argônio com

hélio gerou menor porosidade, quando comparada com a junta soldada com argônio puro.

Consegue-se perceber ainda alguns alinhamentos que sugerem precipitados e/ou

microporosidades intergranulares.

Na Figura 4.5(c), que representa a junta soldada utilizando a mistura nova (Ar +

N2O + O2), é possível notar, qualitativamente, que a formação de porosidade foi muito

inferior em relação às juntas soldadas com argônio puro e argônio com hélio, além de

apresentar grãos mais refinados em sua matriz.

63

(a)

(b)

(c)

Figura 4.5 – Microscopia óptica do metal de solda nas condições: a) Ar puro; b) Ar+He; e c) Ar+N2O+O2 (Aumento de 200X).

64

Ainda na Figura 4.5c nota-se a presença de uma trinca, que pode ter surgido em

função do alinhamento dos poros.

(a)

(b)

(c)

Figura 4.6 – Microscopia óptica da zona termicamente afetada (ZTA) das amostras

soldada nas condições: a) Ar puro, b) Ar+He, c) Ar+N2O+O2 (Aumentos de 50X e 200X).

65

Através da análise das micrografias obtidas (Figura 4.6) é possível perceber em

todas as juntas que a zona termicamente afetada (ZTA) é a região de grãos mais

grosseiros, principalmente, próximos à linha de fusão (interface com o metal de solda).

Entretanto, como no processo TIG a concentração de calor é mais pontual, é possível

observar que em todas as juntas soldadas as dimensões da ZTA são relativamente

pequenas, comparadas a outros processos de soldagem.

Na Figura 4.6 nota-se, mesmo sem medição do tamanho de grãos, que na ZTA da

amostra soldada com a mistura nova (Ar+N2O+O2) os grãos são menos grosseiros que na

ZTA das demais juntas soldadas (com proteção gasosa de argônio puro e argônio com

hélio), indicando que, de algum modo, a mistura nova reduziu o crescimento dos grãos,

principalmente quando comparada com a amostra soldada com proteção de argônio puro.

4.2.2 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

As análises de MEV foram realizadas nas secções transversais e polidas das

amostras retiradas de cada junta soldada, sem o uso de contraste. Estas observações

permitiram avaliar a porosidade para cada condição de soldagem e ainda destacar a

presença de partículas da fase Al(Fe)MnSi, os chamados dispersoides, que inibe o

crescimento de grão mas ligas de alumínio ao ancorar o movimento dos contornos de

grão.

Foram realizadas 3 observações distintas no metal de solda para cada condição

de soldagem. Nas Figuras 4.7, 4.9 e 4.10 são exibidas as imagens adquiridas para as

condições de soldagem com argônio puro, argônio com hélio e mistura nova (Ar + N2O +

O2), respectivamente.

Na Figura 4.7 é possível observar que a junta da amostra soldada com argônio

puro apresentou um perfil de porosidade mais crítico, apresentando poros mais profundos

comparados com as juntas das amostras soldadas nas demais condições.

Na junta soldada com proteção gasosa de argônio puro foi notada a presença de

dispersoides (Figura 4.7c). Nesta junta foi realizada análise por MEV-EDS, que permitiu

verificar precipitados intermetálicos claros, com composição química de Fe, Si, Mn, Mg e

Cr (Figura 4.8). Esses elementos são constituintes da composição química da liga de

alumínio AA5086.

66

Figura 4.7 – MEV: Junta soldada com proteção de argônio puro - a) aumento 200X; b)

aumento de 400X; e c) aumento 1000X.

Figura 4.8 – MEV-EDS da junta soldada com proteção de argônio puro.

Dispersoide

67

Figura 4.9 – MEV: Junta soldada com mistura de argônio com hélio - a) aumento 200X; b)

aumento de 400X; e c) aumento 1000X.

Na Figura 4.9 é possível observar que a junta soldada com proteção gasosa de

argônio com hélio apresentou uma condição de porosidade intermediária, comparadas

com as juntas soldadas com argônio puro e a mistura nova (Ar+N2O+O2), confirmando o

que foi percebido nas micrografias por microscopia óptica. Nota-se ainda, alinhamentos

de poros (Figura 4.9b) que podem tornar a junta suscetível à formação de trincas.

68

Figura 4.10 – MEV: Junta soldada com a mistura nova (Ar+N2O+O2) - a) aumento 200X;

b) aumento de 400X; e c) aumento 1000X.

A junta soldada com a mistura nova (Figura 4.10) apresentou, qualitativamente,

melhor perfil de porosidade, ou seja, com menor porosidade, principalmente quando

comparada com a junta soldada com proteção de argônio puro, confirmando também o

que foi observado por microscopia óptica.

69

4.2.3 – Análise das superfícies de fratura

Foi realizada por MEV uma análise das superfícies de fratura dos corpos de prova

de tração das juntas soldadas com argônio e a mistura nova.

Para ambas as condições de soldagem, as fraturas são dúcteis, mas a ductilidade

da fratura da amostra soldada com a mistura nova é maior, pois nesta é observado

somente o aspecto “rugoso” com microcavidades, dimples, enquanto que na amostra

soldada com argônio, embora predomine o mesmo aspecto, algumas microrregiões

apresentam aspecto facetado, mais “liso”, típico de fratura menos dúctil, embora este seja

minoritário (Figura 4.11).

(I)

(II)

Figura 4.11 – MEV das superfícies de fratura dos cps de tração soldados: (I) com argônio

puro e (II) com Ar+N2O+O2. Aumentos: a) 400X, b) 800X e c) 1600X.

70

4.3 – Caracterização das Propriedades Mecânicas 4.3.1 – Resistência Mecânica

As médias dos valores de limite de escoamento, limite de resistência e alongamento

máximo obtidos nos ensaios de tração realizados no metal de base e em cada condição

de soldagem estão apresentadas na Tabela 4.2 e Figura 4.12. Os valores de limite de

escoamento e limite de resistência do metal de base estão coerentes com o previsto pelo

fabricante.

Tabela 4.2 – Resistência mecânica do metal de base e das juntas soldadas.

Condição Limite de Escoamento

σσσσLE (MPa) Limite de Resistência

σσσσLR (MPa) %

alongamento

MB 215 325 17 Ar 132 278 16

Ar + He 136 285 17 Ar +N2O + O2 142 285 17

Figura 4.12 – Resistência mecânica das juntas soldadas.

Como pode ser observado na Figura 4.12, todas as juntas soldadas apresentaram,

de um modo geral, limite de resistência e limite de escoamento equivalente. Para todas as

condições de soldagem, o limite de resistência ficou cerca de 12% menor comparado ao

metal de base e o limite de escoamento teve uma redução de 38% (para as amostras

71

soldadas com argônio puro e argônio com hélio) e de 33% (para a amostra soldada com

a mistura nova). Sendo assim, a junta soldada com a mistura nova apresentou resistência

ao escoamento melhor em relação as demais juntas soldadas, principalmente quando

comparada à amostra soldada com argônio puro, onde a diferença foi de 10 MPa (Tabela

4.2). Tal resultado foi coerente com a análise microestrutural, onde a mistura nova

apresentou menor formação de poros e, consequentemente, menor concentração de

tensões, além de ter apresentado uma ZTA com grãos menos grosseiros. Adicionalmente,

as tensões residuais trativas nesta junta apresentaram magnitudes menores, comparadas

com as demais juntas, na direção longitudinal.

Em ambas as condições de soldagem, todos os corpos de prova romperam na

ZTA, o que é coerente com a análise microestrutural, pois nesta região da junta os grãos

se apresentarm mais grosseiros reduzindo a resistência do meterial. Pode ter ocorrido

ainda a influência das tesnsões residuias trativas que foram medidas nesta região.

Para permitir uma melhor visualização do comportamento dos ensaios

individualmente, a Tabela 4.3 mostra os valores obtidos em cada ensaio.

Tabela 4.3 – Resultados de resistência mecânica de todos os corpos de prova.

Amostra Corpo de Prova (CP)

Limite de Escoamento

σσσσLE (MPa)

Limite de Resistência

σσσσLR (MPa)

% Alongamento

Metal de Base (MB)

1 218 327 19 2 181 326 15 3 214 323 17 4 215 335 17

Ar

1 126 277 17 2 132 281 15 3 132 282 16 4 136 279 17

Ar + He

1 132 280 18 2 138 287 17 3 140 287 17 4 133 284 17

Ar + N2O +O2

1 137 280 18 2 146 290 16 3 166 305 17 4 142 285 17

72

4.3.2 – Microdureza

As análises de microdureza Vickers foram realizadas conforme mostrado na Figura

4.13, onde a partir do centro do cordão, foram medidos pontos equidistantes em ambos

os lados de todas as juntas soldadas. Os resultados estão apresentados na Tabela 4.4 e

Figura 4.14.

Figura 4.13 – Pontos de medição de microdureza na junta soldada.

Tabela 4.4 – Microdureza Vickers para cada condição de soldagem.

Gás de Proteção Camada Metal

Base E ZTA E MS ZTA D Metal Base D

Ar

Topo 66 56 62 59 69 Central 64 59 62 59 65

Raiz 64 61 63 61 68

Média 65 59 62 60 66

Ar + He

Topo 65 58 64 60 65 Central 67 58 63 60 66

Raiz 65 60 63 61 66 Média 66 58 63 60 65

Ar+N2O+O2

Topo 66 64 65 63 65 Central 66 63 66 64 66

Raiz 66 63 66 63 68 Média 66 63 66 63 66

Figura 4.14 – Perfil de microdureza Vickers nas juntas soldadas.

73

Ao observar a Tabela 4.4 e a Figura 4.14 nota-se que a zona termicamente

afetada apresenta menores valores de microdureza em relação ao metal de base e ao

metal de solda, o que está bastante coerente com os resultados da análise

microestrutural, devido aos grãos mais grosseiros da ZTA.

As amostras soldadas com proteção de argônio e argônio com hélio apresentaram

valores médios de microdureza similares e inferiores aos do MB, tanto na ZTA como no

metal de solda. Já a nova mistura (Ar + N2O + O2) proporcionou uma junta com valores

médios de microdureza, na ZTA e no MS, próximos ao do metal de base e com maior

magnitude em relação as demais juntas soldadas. Estes resultados da nova mistura estão

coerentes com as análises da microestrutura, que apresentou grãos refinados na matriz

do metal de solda e menos grosseiros na ZTA.

74

5. CONCLUSÕES

O presente trabalho, que teve como objetivo estudar as tensões residuais, bem como

as propriedades mecânicas (resistência mecânica e microdureza) de juntas soldadas pelo

processo TIG de liga de alumínio AA5086, usando diferentes proteções gasosas, permite

as seguintes conclusões:

1. As misturas gasosas de argônio com hélio e a nova mistura (Ar + N2O + O2)

proporcionaram juntas com melhor estado de tensões residuais em relação à

junta soldada com proteção de argônio. A nova mistura apresentou melhores

resultados de tensões residuais, comparados à mistura de argônio com hélio,

principalmente no metal de solda, onde as tensões longitudinais e transversais

foram compressivas e, portanto, benéficas.

2. As análises microestruturais, tanto por microscopia óptica (MO) como por

microscopia eletrônica de varredura (MEV) mostraram presença de porosidade

no metal de solda em todas as juntas. Entretanto, a nova mistura (Ar + N2O +

O2) proporcionou junta com menor porosidade, grãos mais refinados no metal

de solda e menos grosseiros na ZTA.

3. O processo de soldagem reduziu o limite de escoamento das juntas soldadas

com as proteções convencionais (Ar e Ar+He) em cerca de até 40% e com

relação à junta soldada com a nova mistura (Ar + N2O + O2), esta apresentou

melhor desempenho com redução de 33% no limite de escoamento.

4. A nova mistura (Ar + N2O + O2) proporcionou uma junta com valores de

microdureza na ZTA e no MS próximos ao do metal de base e com maior

magnitude, quando comparadas com as amostras soldadas com as proteções

convencionais (Ar e Ar + He).

75

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

1. Analisar a influência dos parâmetros de soldagem, com as proteções gasosas já

estudadas, nas tensões residuais, propriedades mecânicas e microestruturais das

juntas soldadas, da liga de alumínio AA5086.

2. Estudar a resistência à fadiga e à corrosão das juntas de soldadas com diferentes

proteções gasosas.

3. Avaliar as tensões residuais, propriedades mecânicas e microestruturais de juntas

de alumínio AA5086 soldadas a plasma e comparar os resultados obtidos com

processo TIG.

4. Analisar os perfis das tensões residuais nas camadas subsuperficiais do cordão de

solda.

76

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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