Download - Estrutura de Um Texto Narrativo
Ação
A ação é o conjunto de acontecimentos que acontecem num determinado espaço e tempo. Aristóteles, em
sua Poética, já afirmava que "sem acção não poderia haver tragédia". Sem dificuldade se estende o termo
tragédia à narração, e assim a presença de acção é o primeiro elemento essencial ao texto narrativo.
Estrutura da narração
É a palavra que expressa compreensão a ação da narrativa é constituída por três ações: Intriga, Ação principal e
Ação secundária.
Intriga: Ação considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio
de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma ação fechada.
Ação principal: Integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo.
Ação secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata
acontecimentos de menor relevo.
A narração consiste em arranjar uma sequência de fatos na qual os personagens se movimentam num
determinado espaço à medida que o tempo passa. O texto narrativo é baseado na ação que envolve personagens,
tempo, espaço e conflito. Seus elementos são: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo.
Sequência
A ação é constituída por um número variável de sequências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que
podem aparecer articuladas dos seguintes modos:
encadeamento ou organização por ordem cronológica
encaixe, em que uma ação é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma
alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente pela forma que foi
escrito. Esse eu lirico deve ser mais abrangente de forma que o leitor se familiarize com a leitura.
A ação pode dividir-se em: (momentos da ação)
situação inicial ― é o momento do texto em que o narrador apresenta as personagens, o cenário, o
tempo, etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimentos (fatos).
desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o conflito (a oposição entre duas forças ou dois
personagens). A paz inicial é quebrada através do conflito para que a ação, através dos fatos, se desenvolva.
clímax ― momento de maior intensidade dramática da narrativa. É nesse momento que o conflito fica
insustentável, algo tem de ser feito para que a situação se resolva.
desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem no final da narrativa. Pode ou não apresentar a
resolução do conflito.
Tempo
Tempo cronológico ou tempo da historia- é o tempo em que a ação acontece.
Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a ação se desenrola.
Tempo psicológico - é um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância
com o seu estado de espírito.
Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador. Este pode
escolher narrar os acontecimentos:
por ordem linear e neste caso poderá falar-se numa isocronia;
com alteração da ordem temporal (anisocronia), recorrendo à analepse (recuo a acontecimentos
passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros); Ex: acontecimento 3-1-5-2 ect...
a um ritmo temporal ( medido pela relação entre a duração da história, medida em minutos, horas,
dias, ect... e a duração do discurso medida em linha e páginas) igual ou semelhante, estamos de novo
perante uma isocronia;
a um ritmo temporal diferente (anisocronia), neste caso o narrador pode servir- se elipses
(omissão de acontecimentos), pausas (o tempo da história para para dar lugar a descrições, por exemplo)
e de resumos ou sumários ( resumo de acontecimentos pouco relevantes ou preparação para eventos
importantes).
Personagens
Roland Barthes, além de retomar a importância que os clássicos davam à acção, avança ao afirmar que “não
existe uma só narrativa no mundo sem personagens”. Aqui se entende personagem não como pessoas, seres
humanos. Um animal pode ser personagem (Revolução dos Bichos), a morte pode ser personagem (As
intermitências da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo podem ser personagens, desde que
estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária.
Relevo das personagens
Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua atuação é fundamental
parra o desenvolvimento da ação.
Antagonista: Que atua em sentido oposto; opositor; adversário. Personagem que é contra alguém ou algo.
Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante
para o desenrolar da acção.
Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar
um ambiente ou um espaço social de que é representante.
Composição
Personagem modelada, redonda ou esférica: dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar
o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa.
Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolução, sem grande vida interior; por outras palavras: a
personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a narrativa.
Personagem-tipo: representa um grupo profissional ou social.
Personagem colectiva: Representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só
vontade.Michel Kleyton
Caracterização
Direta
Autocaracterização: a própria personagem refere as suas características.
Heterocaracterização: a caracterização da personagem é-nos facultada pelo narrador ou por outra
personagem.
Indireta: O narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou
da sua fala, traçar o seu retrato.
Espaço ou ambiente
Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem.
Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambiente social, representando, por excelência, pelas
personagens figurantes.
Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus
pensamentos e sentimentos.
O espaço ou ambiente pode ser desde uma praia a um lago congelado. De acordo com espaço ou ambiente é que
os fatos da narração se desenrolam.
Narrador
Participação
Heterodiegético: Não participante.
Autodiegético: Participa como personagem principal.
Homodiegético: Participa como personagem secundária.1
Focalização: É a perspectiva adotada pelo narrador em relação ao universo narrado. Diz respeito ao
MODO como o narrador vê os factos da história.
Focalização omnisciente: colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra conhecer
toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.
Focalização interna: o narrador adopta o ponto de vista de uma ou mais personagens, daí
resultando uma diminuição de conhecimento.
Focalização externa: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior.
Focalização neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista( este modo não existe na prática,
apenas na teoria).
Focalização restritiva: A visão dos fatos dá -se através da ótica de algum personagem.
Focalização interventiva : O autor faz observações sobre os personagens( típica dos romances
modernos - Machado de Assis )
Sucessão e integração
Claude Bremond, ao definir narrativa, acrescentará a sucessão e a integração como essenciais para a
narratividade: "Toda narrativa consiste em um discurso integrando uma sucessão de acontecimento de interesse
humano na unidade de uma mesma ação. Onde não há sucessão não há narrativa, mas, por exemplo, descrição,
dedução, efusão lírica, etc. Onde não há integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas somente
cronologia, enunciação de uma sucessão de fatos não relacionados".
Totalidade de significação
A totalidade de significação é apontada por Greimas como outro elemento fundamental da narrativa. Ainda que
aparentemente o leitor não entenda um texto, há de ter nele uma significação para que se configure como história,
como narração.
Modos de expressão literária na narração
A narrativa pode-se apresentar através de diferentes formas de expressão literária, que condicionam a forma como o leitor reage à narrativa. Afinal, não é só o que se conta que define a qualidade de uma narrativa, mas também como se conta.
Narraçãoo Organiza e apresenta, verbalmente, os elementos que compõem a narrativa
(tempo, espaço, personagens...)
o Confere dinamismo à acção ao apresentar factos e acontecimentos.
o Permite o avanço da acção através de funções cardinais ou núcleos, que podem ser apresentados de forma cronológica ou não, e de forma alternada, encadeada ou encaixada (Cf. As Categorias da Narrativa - a Acção).
o Recorre frequentemente a verbos de movimento no presente e no pretérito perfeito.
o Embora seja uma forma de expressão literária essencial numa narrativa, requer a existência de outras formas de expressão que a complementem.
Descriçãoo Apresenta algo ou alguém de forma relativamente pormenorizada.
o Introduz pausas na narração, designadas segmentos descritivos, que podem ser compostas desde simples expressões a parágrafos mais ou menos extensos.
o Os segmentos descritivos podem incluir catálises, ou seja, acontecimentos que, embora não façam avançar a história, fornecem informações importantes para a composição do retrato de algo ou alguém.
o Podem-se definir dois tipos de descrição:
Descrição Técnica
apresentação objectiva, precisa e fiel de algo ou alguém
tem como principal objectivo informar de forma ordenada e imparcial
Descrição Literária
apresentação subjectiva de algo ou alguém
tem como principal objectivo imprimir uma imagem, ou visão, de acordo com um ângulo mais ou menos parcial
não é necessariamente imprecisa ou infiel à realidade, mas é frequentemente parcial, num grau mais ou menos elevado
o A descrição pode assumir a forma de uma exposição, quando apresenta algo ou alguém em grande pormenor e, geralmente, num único segmento descritivo.
o Elemento essencial da narrativa na medida em que, apesar de interromper a acção, permite a construção do contexto espácio-temporal e a caracterização das personagens.
o Recorre frequentemente a adjectivos e verbos no pretérito imperfeito, assim como a uma grande variedade de recursos estilísticos, com destaque para a comparação, a metáfora, a enumeração e a adjectivação, entre outros.
Diálogoo Reproduz a fala de dois ou mais interlocutores.
o Permite um rápido avanço da acção.
o Recorre ao discurso directo e, por vezes, a marcas de oralidade (sintaxe expressiva, transgredindo algumas normas gramaticais; registos populares presentes no vocabulário, etc).
Monólogoo Reproduz a fala de um interlocutor, que fala consigo próprio.
o O monólogo ocorre quando o interlocutor está na companhia de outras pessoas, que o podem estar a ouvir ou não.
o Quando o interlocutor está completamente sozinho, utiliza-se o termo solilóquio.
o Recorre à primeira pessoa do singular e, geralmente, implica um discurso desordenado, vergado aos pensamentos e reflexões do interlocutor.