UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ESTATUTO DO DESARMAMENTO:
UMA ANÁLISE CRÍTICA
Por: Alexandre Monteiro de Almeida
Orientadora
Prof. Dra. Valesca Rodrigues
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ESTATUTO DO DESARMAMENTO:
UMA ANÁLISE CRÍTICA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Direito e
Processo Penal.
Por: Alexandre Monteiro de Almeida
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores do projeto A
Vez do Mestre, que sempre me
atenderam com extremo interesse e
dedicação, tornando possível a
superação de mais essa etapa de
minha trajetória acadêmica.
3
DEDICATÓRIA
Dedico o presente trabalho monográfico
aos meus pais que sempre me apoiaram
e deram suporte nas inúmeras
dificuldades que surgiram nesta longa
caminhada chamada vida.
4
RESUMO
A aprendizagem do tema relacionado ao controle de armas de fogo
exercido pelo Poder Público é extremamente complexa face à grande
quantidade de normas que versam sobre o assunto, fazendo com que diversos
estudantes de direito se formem sem dominar o assunto. Até profissionais
experimentados na área criminal usualmente incorrem em erro quando se
pronunciam sobre o tema. Tal dificuldade é justificada, tendo em vista a
técnica legislativa adotada por nossos congressistas que visa reagir à pressão
gerada pela opinião pública em períodos de comoção popular. Desta forma,
cada nova tragédia do cotidiano é utilizada como subterfúgio para a imposição
de um novo diploma legal repressivo, com vistas a angariar a simpatia daquela
parcela da população que se sente desassistida pela segurança pública
prestada pelos órgãos estatais. Neste sentido, o presente trabalho pretende
esmiuçar a legislação pertinente ao controle de armas de fogo pela população
civil, estabelecendo como critério de comparação as legislações passadas,
possibilitando ao leitor compreender o direcionamento político que é dado à
questão.
5
6
METODOLOGIA
Para atingir os objetivos propostos ao presente trabalho monográfico,
foram utilizados essencialmente os meios comuns à pesquisa bibliográfica,
direcionando o foco das pesquisas primordialmente a artigos encontrados na
rede mundial de dados internet e à análise da letra da lei, recorrendo apenas
de forma secundária a livros e periódicos propriamente ditos.
Embora a metodologia adotado seja divergente daquela proposta nos
manuais, por privilegiar o uso de artigos publicados na internet, esta pareceu
ser a mais adequada à abordagem do tema tratado, eis que, devido à grande
mutabilidade da legislação em estudo, raros são os livros atualizados que
tratam do assunto.
A dificuldade de obtenção de material bibliográfico, não causou
desestímulo à produção da presente monografia mas, ao contrário, provocou
maior empenho no decorrer de sua confecção eis que ficou asseverada a
lacuna de material acadêmico sobre o tema, conferindo maior relevância ao
material produzido.
Em um primeiro momento foi feita uma pesquisa histórica, através da
análise de legislações passadas, com vistas a compreender a lógica por trás
da lei, cristalizada nas políticas de segurança pública.
No segundo capítulo é realizada uma análise da legislação vigente, em
contraponto com a legislação ora revogada. Além de abordar aspectos
relevantes introduzidos pelo Estatuto do Desarmamento, a metodologia
adotada permite aos que ainda não tiveram contato com a nova norma, que se
familiarizem com os novos dispositivos amparando-se nos mecanismos já
conhecidos da norma antecedente.
7
Por fim é feita uma análise mais detida dos pontos contraditórios e
obscuros suscitados pela doutrina no que tange ao novo Estatuto do
Desarmamento, de forma a proporcionar maior aproximação e intimidade com
o assunto objeto do presente estudo.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Análise Histórica do Controle 10
de Armas de Fogo pelo Estado
CAPÍTULO II - Análise das Alterações Impostas 25
pelo Estatuto do Desarmamento
CAPÍTULO III – Aspectos Controversos do 47
Estatuto do Desarmamento
CONCLUSÃO 52
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 71
ANEXOS 54
ÍNDICE 72
FOLHA DE AVALIAÇÃO 74
9
INTRODUÇÃO
É consenso entre a sociedade de que o controle ao acesso de armas
de fogo pela população civil é assunto de suma importância, o qual demanda
atenção especial dos órgãos estatais responsáveis pela segurança pública,
tendo em vista as calamitosas conseqüências que o descontrole no comércio
de armas de fogo poderiam implicar.
O assunto, que fora tratado com desdém em períodos pretéritos,
atingiu relevância tal que pequenas alterações provocadas no texto legal do
Estatuto do Desarmamento tem o condão de gerar manifestações efusivas
tanto pela parte da população que advoga pela proibição total ao acesso às
armas, quanto pela parcela que defende uma maior liberalização dos citados
instrumentos.
A despeito da relevância que a matéria possui, nosso parlamento
patrocinou reiteradas alterações na legislação, obrigando os operadores do
direito que militam na área criminal a uma maratona periódica de pesquisas e
atualizações.
Até mesmo a produção doutrinária sobre o tema é escassa, tendo em
vista a enorme freqüência com que as leis são alteradas. Não há tempo hábil
para a produção de material didático, vez que, logo depois de sua publicação,
os livros já se tornam desatualizados, inviabilizando o investimento na
produção de novas obras, eis que o retorno financeiro fica comprometido.
Neste sentido, acreditamos que o presente trabalho monográfico
venha a facilitar o acesso de profissionais e estudantes de direito à temática do
controle de armas pelo Estado, principalmente no que tange à análise da Lei
10
10.826/03 e seu regulamento, estabelecendo-se um referencial comparativo
com a legislação antecedente.
11
CAPÍTULO I
ANÁLISE HISTÓRICA DO CONTROLE DE
ARMAS DE FOGO PELO ESTADO
Antes de passarmos a esquadrinhar o Estatuto do Desarmamento
propriamente dito, faz-se necessária uma análise histórica das leis e
regulamentos que o antecederam, de forma a contextualizar a política de
controle de armas com os diversos movimentos políticos brasileiros.
1.1 – A legislação na Era Vargas
O primeiro diploma legal que tratou sobre o assunto data de 6 de julho
de 1934 (decreto 24.602/341), se propunha a regular o funcionamento de
empresas de fabricação de armas de fogo e foi redigido sob a égide do
primeiro governo de Getúlio Vargas. Até então a fabricação, venda e porte de
armas não possuía nenhum regramento.
Com o advento do mencionado decreto, ficaria proibida a fabricação de
armas e munições de guerra por empresas particulares, sendo permitida
expressamente apenas a fabricação de armas e munições de caça,
silenciando-se quanto às armas de uso civil. Definia ainda que todos
fabricantes de armas existentes ou que estivessem em vias de se instalar no
território nacional precisariam se submeter a uma série de exigências no prazo
de 90 dias, sob o risco de terem suas atividades interrompidas pelo Poder
Público.
1 Disponível na íntegra no Anexo.
12
Dentre as exigências criadas pela nova legislação, constava a
necessidade de enviar uma infinidade de informações sobre a linha de
produção e estoques da empresa ao Ministério da Guerra que passaria a deter
a responsabilidade pela fiscalização do setor, responsabilidade esta que vigora
até os dias atuais (atualmente sob a nomenclatura de Ministério da Defesa).
Note-se que a legislação em análise foi promulgada em um período
extremamente conturbado da história brasileira, uma vez que Getúlio Vargas
derrubou a Constituição vigente até então em 1931, passando a gozar de
amplos poderes, vindo a combater uma tentativa de tomada do poder em 1932
(Revolução Constitucionalista).
Neste contexto, é perceptível que a nova legislação não tinha por fim
coibir o fabrico, comercialização ou porte de armas com vistas à repressão
criminal. Pretendia-se, ao contrário, utilizá-la como elemento de dominação
estatal com foco na segurança nacional, através de mecanismos que
dificultassem o acesso das armas a grupos políticos ou para-militares
contrários à ideologia defendida pelas classes dominantes.
1.2 – A Lei das Contravenções Penais
Em 3 de outubro de 19412 é publicada a Lei das Contravenções Penais
que tinha por foco delinear comportamentos socialmente reprováveis em
menor intensidade do que os já tipificados no Código Penal. É nesta lei que
encontramos as primeiras disposições repressivas que tratariam do comércio e
porte ilegal de armas, ainda que de forma tênue.
Note-se a que, apesar de tratar a questão da posse e porte de armas
de forma branda, esta legislação teve grande relevância, uma vez que era a
2 Disponível, na parte pertinente, no Anexo.
13
única a descrever condutas puníveis relacionadas ao uso e porte de armas até
o ano de 1997 (quando foi revogada nesta parte pela Lei 9.437/97).
Durante mais de 50 anos o porte/comércio de armas foi tratado como
mera contravenção legal. Apenas após o advento da Lei 9.437/99 tais
condutas passaram a ser reprimidas com o status de crime, com sanções mais
severas.
1.3 – A legislação no Regime Militar
Em 11 de dezembro de 1965 foi publicado o Decreto 55.649/653 que
revogava o decreto 24.602/34, vigente desde a Era Vargas. Foi “batizado” de
Regulamento para o Serviço de Fiscalização da Importação, Depósito e
Tráfego de Produtos controlados pelo Ministério da Guerra (SFIDT), ou
simplesmente R-105 — como é conhecido até os dias atuais o regulamento
expedido pelo Ministério da Defesa sobre o controle de armas.
Ao contrário da lei anterior que tratava do assunto de forma um tanto o
quanto superficial, o novo decreto se aprofundava em minúcias nunca antes
abordadas. Pela primeira vez a lei fazia distinção entre armas de uso permitido
e proibido (art. 160 e seguintes), bem como impunha alguns limites à aquisição
de armas e munições por cidadãos civis e militares (art. 220 e seguintes).
É importante notar que, assim como ocorreu na legislação anterior, o
controle e fiscalização da produção e comércio de armas continuavam nas
mãos do Exército (através do Ministério da Guerra).
Apesar da venda, fabricação e importação de armas e munição serem
controladas pelo Ministério da Guerra, o decreto mencionava que a
autorização para a posse e o porte de armas de fogo de calibre permitido
3 O extenso conteúdo do referido decreto inviabiliza sua transcrição na íntegra, todavia, o mesmo pode ser encontrado no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D55649.htm .
14
seriam concedidas pelas polícias civis dos Estados, todavia, não existia
previsão de critérios objetivos para a concessão dos referidos direitos. A lei
mencionava apenas que o porte de armas seria concedido a civis “idôneos”.
Diferentemente da norma anterior (Decreto 24.602/34) que
preconizava essencialmente o controle estatal sobre a produção de armas e
munições, o Decreto 55.649/65 revelava diversos outros objetivos, dentre os
quais o de aprimorar e fomentar o crescimento da indústria bélica nacional
(artigos 5 e 6).
Como o foco da norma era fortalecer a indústria bélica nacional, não
havia a preocupação de criar um sistema que viabilizasse o controle sobre a
compra/venda de armas e munições, por nacionais, de forma rígida. Existia
uma ressalva no artigo 229 do mencionado Decreto – a título de exceção –
que determinava que “no caso de particulares (civis), a venda na Seção
Comercial far-se-á mediante apresentação de autorização da polícia local e
registro na repartição policial competente”, entretanto, não se especificava
como o registro seria realizado, se anteriormente ou posteriormente à compra,
nem quais dados deveriam ser consignados.
Tem origem também neste momento histórico a reserva de mercado
no que tange à aquisição de armas e munições, prevista implicitamente no
artigo 112 do decreto 55.649/65. Apesar de qualquer cidadão “idôneo” poder
trazer até 3 armas de calibres diferentes e 300 munições de cada viagem ao
exterior que fizesse, as empresas só poderiam adquirir para uso ou revenda
armas e munições que não fossem fabricadas no Brasil ou que, caso o
fossem, não atingissem padrões mínimos de qualidade.
Neste sentido manifestou-se Carolina Iooty Dias ao afirmar que:
“... todo produto controlado que estiver sendo fabricado
ou vier a ser produzido no País, desde que alcance um
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nível de produção julgado ponderável pelo Ministério da
Guerra, será colocado na Categoria de Controle nº 1 ou
1-A e sua importação passará a ser negada ou
restringida, seja através de cotas anuais, seja através de
percentagens da quantidade adquirida na indústria
nacional ou outro qualquer critério de restrição”
(FERNANDES, 2005, p.43).
Tanto este Decreto quanto o que o antecedeu tiveram o início de sua
vigência em momentos de instabilidade política, quando as forças nacionais de
segurança (forças armadas e departamentos policiais) direcionavam seus
esforços no combate à “ameaça interna” (grupos organizados de ideologia
político-partidária distinta da dos governantes), e não no combate às ameaças
externas ou no controle da segurança pública.
No que tange às normas de cunho criminais, continuavam vigorando
exclusivamente as disposições tratadas na Lei das Contravenções Penais
afinal, como dito outrora, a questão do combate à criminalidade armada era
relegada a segundo plano. Os crimes cometidos por grupos politicamente
organizados eram capitulados com fulcro na Lei de Segurança Nacional, sendo
desnecessário tratamento mais rigoroso para o criminoso “comum”.
1.3.1 – Regulamentação do Registro de Armas
Apenas em 17 de outubro 1980, com a publicação da Portaria
Ministerial 1.261/1980 instituiu-se de forma obrigatória a criação de registros
de propriedade de armas de fogo.
Havia previsão também de uma limitação quantitativa para a
propriedade (vigente até os dias atuais), segundo a qual, cada cidadão poderia
ter até um total de seis armas, sendo duas curtas (revólveres ou pistolas),
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duas longas de alma lisa (espingardas) e duas longas de alma raiada
(carabinas).
A nova regulamentação estabelecia a obrigatoriedade do registro de
armas nas polícias civis dos Estados, todavia, não previa um cadastro geral de
armas ou mesmo intercâmbio de informações, possibilitando que uma mesma
pessoa atingisse o limite máximo de armas em diversos Estados
concomitantemente, burlando o que dispunha a legislação.
Dentre as inovações trazidas pela nova norma, destaca-se a limitação
da compra de armas por civis apenas para aqueles que tivessem completado
21 anos de idade, bem como a imposição de limites quantitativos menores
para aquisição de munições (em média 50 cartuchos para cada arma de
porte), com a previsão de uma série de formalidades tanto para o registro das
armas, quanto para a aquisição de munição.
1.4 – A legislação de armas no Brasil contemporâneo
O grande divisor de águas na legislação que trata de armas — tanto no
que concerne a questão da compra, venda, importação, quanto ao tratamento
dado aos crimes em espécie — foi a promulgação da Lei 9.437/97, que foi
revogada após seis anos de vigência pela Lei 10.826/03 que também
revolucionou o controle sobre armas de fogo ao propor um referendo para
ouvir a opinião da população sobre o tema. Dadas suas peculiaridades, ambas
serão analisadas de forma mais detalhada a seguir.
1.4.1 – A Lei 9.437/97
Pela primeira vez na história, ficava estabelecido que o cadastro de
proprietários civis de armas de fogo não seria mais de competência das
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policiais civis, mas do Ministério da Justiça, instituindo o Sistema Nacional de
Armas (SINARM) em seu artigo 1º.
Essa inovação inviabilizou que pessoas detivessem registros de armas
em Estados distintos, de forma a exceder a limitação quantitativa de
propriedade de armas, uma vez que, embora o processo de registro se
originasse junto às policiais civis dos Estados, a Autoridade Policial deveria,
antes de conceder o registro, pesquisar informações sobre o adquirente na
base SINARM, para só depois autorizar o registro, de forma a centralizar o
banco de dados com informações sobre os proprietários de armas
nacionalmente.
Até então a concessão de registro e porte de armas ficava adstrito aos
cidadãos considerados “idôneos”, submetidos a uma análise completamente
discricionária pelas autoridades policiais. A nova lei estabeleceu critérios
objetivos mínimos tanto para o registro quanto para o porte de arma.
É verdade que o porte de armas continuou condicionado a certa dose
de discrionaridade das autoridades policiais, uma vez que seu art. 7º dispunha
que para obter o porte da arma, o interessado deveria comprovar
“...idoneidade, comportamento social produtivo, efetiva necessidade,
capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo”.
A idoneidade era comprovada através da emissão de certidões
negativas das justiças criminais, cíveis, eleitorais e militares; o comportamento
social produtivo poderia ser comprovado através da emissão de uma
declaração expedida pelo empregador do interessado atestando que este
exercia atividade profissional remunerada; a capacidade técnica era
comprovada através de certificado de conclusão de curso de tiro e prova
prática de tiro realizado perante perito oficial; a aptidão psicológica era
comprovada através de laudo psicotécnico expedido por psicólogo habilitado;
todavia, mesmo preenchendo a todos os requisitos objetivos citados, o
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postulante ao porte de arma teria ainda de se submeter à análise discricionária
da efetiva necessidade do exercício do direito de portar arma, a ser realizado
pela autoridade policial.
Perceba-se que, apesar de ainda existir um critério subjetivo para a
concessão do direito do porte de armas, a lei prestigiou a eleição de aspectos
objetivos em sua maioria, tornando a análise do processo de concessão de
porte de armas mais técnica do que o previsto pela norma anterior que previa
apenas a idoneidade do postulante sem, contudo, delinear como esta seria
mensurada.
A Lei 9.437/97 também trouxe relevantes alterações no que tange ao
registro das armas de fogo. Além da mudança da competência pela
organização do banco de dados de proprietários de armas, já mencionada
anteriormente, foram estabelecidos também critérios objetivos para a
aquisição, importação e consequente registro de armas de fogo.
A única exceção ocorria por conta das armas pertencentes às forças
armadas e auxiliares e aos grupos de atiradores, colecionadores e caçadores
— devidamente registrados — que deveriam ter os registros de suas armas
consignados junto ao Ministério do Exército (atual Ministério da Defesa), e se
submeteriam a outros critérios (parágrafos únicos dos artigos 2 e 3).
O Regulamento para o Serviço de Fiscalização da Importação,
Depósito e Tráfego de Produtos Controlados pelo Ministério da Guerra
(expedido pelo Ministério do Exército que tratava com minúcias sobre armas,
munições, calibres e acessórios permitidos e proibidos) foi alterado pelo
Decreto 88.113/83, quando foi “rebatizado” de Regulamento para a
Fiscalização de Produtos Controlados, sendo reeditado novamente em 1999 e
2000. Apesar das sistemáticas alterações, seu conteúdo pouco foi modificado,
permanecendo preservado em sua maior parte até os dias atuais (sendo
conhecido pela denominação de R-105).
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Faz-se imperioso perceber que, pela primeira vez desde que as armas
de fogo passaram a ser regulamentadas pelo Estado, emergia a preocupação
com o porte e uso de armas pela população civil. Ao contrário das legislações
anteriores, esta não foi criada em períodos exceção, mas na plenitude de um
governo eleito democraticamente.
A preocupação, no que tange ao controle das armas de fogo, não era
mais dirigida à repressão a grupos políticos, mas ao comportamento criminoso
que aflorava naquele período com cada vez mais intensidade, consolidando-se
na figura do crime organizado e suas diversas facções.
Neste contexto, a política criminal adotada pelo Estado preconizava
registrar as armas já existentes — permitindo o controle do Estado sobre elas
— e dificultar o acesso ao cidadão comum a mais armas de fogo, norteando-se
pela lógica de que quanto menos armas disponíveis na sociedade, menos
crimes seriam cometidos.
Neste contexto, foi concedido um prazo de “anistia” de seis meses a
partir da promulgação da Lei 9.437/97 (art. 5), para que qualquer cidadão
fizesse o registro das armas de fogo particulares que possuísse, dispensando-
se documentação comprobatória de procedência e presumindo-se a boa-fé da
posse.
Perceba-se que com a concessão da anistia o Estado abre mão de
punir os detentores de armas ilegais com o propósito maior de conhecer o
paradeiro dessas armas e, desta forma, passar a ter um controle mais eficiente
sobre elas. Até mesmo as limitações legais quantitativas sobre à propriedade
de armas de fogo (2 armas curtas e 4 longas) são ignoradas neste momento,
permitindo-se o registro de múltiplas armas de fogo, uma vez que o interesse
estatal em dominar o controle sobre as armas na mãos de civis mostra-se
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estrategicamente mais relevante do que a mera imposição de limites
quantitativos à propriedade de armas de fogo.
Seguindo ainda por esta lógica, a Lei 9.437/97 relacionou em seu
artigo 10 e parágrafos seguintes uma série de comportamentos, com o fito de
majorar o tratamento destinado à compra, venda, posse e porte de armas de
fogo, condutas que até então eram tratadas como meras contravenções
penais.
1.4.2 – A Lei 10.826/03
O Projeto de Lei (PL) 292 que culminou no Estatuto do Desarmamento
foi apresentado no ano de 1997 pelo então senador Renan Calheiros. É
importante notar que o mencionado PL previa uma grande mudança na
relação do Estado com a questão das armas de fogo, e foi proposto no mesmo
ano em que foi promulgada a Lei 9.437/97, que versava sobre o mesmo tema.
Em outros termos, após um demorado processo legislativo que tem
custos altíssimos ao erário público, o nobre parlamentar propõe a mudança
total daquilo que acabara de ser aprovado na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal.
O projeto de lei propunha tratamento mais gravoso em uma série de
aspectos:
Normas mais rigorosas no que concerne a emissão de registros
(passariam a ser exigidos para a aquisição de armas por civis os
mesmos requisitos que na lei anterior eram impostos apenas para a
concessão do porte de arma, e esses requisitos deveriam ser
comprovados regularmente a cada 3 anos, sob risco de ter o direito à
posse da arma de fogo cassado);
21
A proibição quase total do porte de arma para civis (exceto para
aqueles que exercem funções públicas ou privadas relacionadas à
área de segurança e aqueles que comprovarem estar sofrendo grave
ameaça à sua integridade física ou exerçam profissão arriscada);
A majoração das penas relacionadas à posse e ao uso de armas de
fogo ilegal, desmembrando o artigo 10 da Lei 9.437/97 em diversos
crimes autônomos (todos com pena superior ao previsto na lei anterior)
e criando a figura do tráfico internacional de arma de fogo;
A proibição da compra de armas por menores de 25 anos;
A obrigatoriedade de que todas as embalagens de munição produzidas
no país saíssem das fábricas identificadas por código de barras, de
forma a possibilitar a identificação do fabricante e do adquirente;
A obrigatoriedade dos órgãos de segurança comprarem munições com
identificação do lote e do adquirente na base dos projéteis;
A obrigatoriedade dos fabricantes de armas de fogo gravarem-nas com
informações que permitam sua identificação;
A obrigatoriedade da destruição de armas apreendidas 48h após
serem liberadas pelo Juiz responsável pelo processo a elas pertinente;
A execução de um referendo popular no ano de 2005;
A ampliação das funções do SINARM, que deixa de ser apenas um
banco de dados de registro de proprietários de armas de fogo, para
armazenar também informações sobre armeiros cadastrados no Brasil;
empresas dirigidas ao comércio e/ou importação de armas, munições e
assessórios; concessões de portes de arma; e ocorrências decorrentes
de empresas de segurança privada;
Campanhas de anistia e recompra de armas pelo Estado.
22
Após acalorados debates o PL foi finalmente publicado em 23 de
dezembro de 2003, passando a vigorar imediatamente no que concerne aos
crimes em espécie. As demais partes só passaram a ter plena vigência depois
de passados seis meses com a promulgação do Decreto 5.124.
Apesar da rápida aprovação (seis meses depois de posto em votação)
do PL, ele foi reformado por nada menos que quatro Medidas Provisórias
(379/07, 390/07, 394/07 e 417/08), das quais uma foi julgada inconstitucional
por controle concentrado de constitucionalidade (ADI 3964-4, MP 394/07) e
duas foram convertidas em lei (390/07 e 417/08).
Pouco antes do término deste trabalho monográfico nossos ilustres
parlamentares nos brindaram com mais uma alteração, introduzida pela Lei
11.922/09 de 13 de abril de 2009 que prorrogou os prazos para renovação de
registros emitidos antes da Lei 10.826/03 e para registro de armas de uso
permitido ainda sem registro. Em ambas as hipóteses, o prazo foi alongado até
21 de dezembro de 2009.
Apenas a título do ilustração, para se ter uma idéia da confusão e
insegurança jurídica gerada pela técnica legislativa adotada, analisaremos a
trajetória cronológica do parágrafo 3º do artigo 5º da Lei 10.826/03 desde sua
primeira redação, até a que vigora atualmente.
O mencionado dispositivo determinava em seu texto originário que
“Os registros de propriedade, expedidos pelos órgãos
estaduais, realizados até a data da publicação desta Lei,
deverão ser renovados mediante o pertinente registro
federal no prazo máximo de 3 (três) anos”.
23
A redação adotada deixava bem claro que aqueles que já possuíam
registros de arma realizados sob a égide de legislação anterior, deveriam
refazê-lo no prazo de três anos contados a partir da publicação da
regulamentação do novo ordenamento (Decreto 5.124/04), estabelecendo-se o
prazo limite para julho de 2007.
Ocorre que em 23 de outubro de 2005 é realizado o primeiro referendo
popular brasileiro, questionando-se a proibição do comércio de armas e
munições em território nacional. O “Sim” que pedia a proibição do comércio de
armas sofreu uma derrota acachapante, com 36,06% dos votos válidos,
enquanto que o “Não”, que defendia a continuidade do comércio nacional de
armas obteve 63,94% dos votos.
Diante da nova realidade exposta nas urnas, o Governo alterou
novamente o direcionamento de sua política de controle de armas, afrouxando
um pouco o ritmo repressivo imposto pela Lei 10.826/03.
Tendo em vista o clamor popular gerado pelo referendo, em 28 de
junho de 2007 é publicada a MP 379/07 que, dois dias antes do término do
prazo para a renovação do registro de arma de fogo, prorroga-o com a
seguinte redação:
“Os registros de propriedade expedidos pelos órgãos
estaduais, realizados até a data da publicação desta Lei,
deverão ser renovados mediante o pertinente registro
federal até o dia 31 de dezembro de 2007”
Cria-se então uma sobrevida do prazo para renovação de registro de
arma por mais seis meses. Contudo, em 20 de setembro de 2007 o Poder
Executivo publica a MP 394/07 alterando novamente o prazo para registro:
24
“Os registros de propriedade expedidos pelos órgãos
estaduais, realizados até a data da publicação desta Lei,
deverão ser renovados mediante o pertinente registro
federal até o dia 2 de julho de 2008”
Em 2008 o Poder Executivo brindou-nos com a MP 417/08 (datada de
31 de janeiro) que, mais uma vez, prorroga o já mencionado prazo gerando
longas filas nas delegacias de Polícia Federal pelo país:
“Os registros de propriedade expedidos pelos órgãos
estaduais, realizados até a data da publicação desta Lei,
deverão ser renovados mediante o pertinente registro
federal até 31 de dezembro de 2008”.
Por fim, em 13 de abril de 2009 nossos congressistas prorrogam
novamente os prazos para registro até o dia 31 de dezembro de 2009, através
do artigo 20 da Lei 11.922/09, vejamos: “Ficam prorrogados para 31 de
dezembro de 2009 os prazos de que tratam o § 3o do art. 5o e o art. 30,
ambos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003”.
Como dito anteriormente, referi-me à questão da renovação do registro
com fins meramente didáticos e ilustrativos pois, diversas outras alterações
foram percebidas durante este trâmite legislativo com conseqüências jurídicas
gravíssimas. Parte significativa da doutrina entende que houve abolitio criminis
temporário no que tange ao crime de posse de arma de fogo durante as
seguidas alterações sofridas pela lei.
Esta última MP, convertida na Lei 11.706/08 marca a última alteração
efetiva à Lei 10.826/03 (até o presente momento), contudo, a trajetória do
processo legislativo que gerou o ovacionado “Estatuto do Desarmamento”
exterioriza a desordem e incoerência que impera no processo legislativo
brasileiro, o qual impõe aos operadores do direito uma rotina de constante
25
aprofundamento e atualização no tema, que é extremamente atual e
pertinente, mas desconhecido por grande parte dos defensores militantes na
justiça criminal.
É importante mencionar que, a despeito do trato mais rigoroso no que
concerne à aquisição, registro e porte de armas por civis, os militares das
Forças Armadas e Auxiliares (além de demais grupos que detivessem registros
próprios) não são atingidos por estas novas restrições, por força do dispoto no
parágrafo único do art. 2º da Lei 10.826/03: “As disposições deste artigo não
alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as
demais que constem dos seus registros próprios”.
Estas categorias submetem-se à fiscalização do Comando do Exército,
obedecendo a leis especiais, sendo as informações derivadas destas relações
consignados no banco de dados SIGMA (Sistema de Gerenciamento de Militar
de Armas).
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CAPÍTULO II
ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES
IMPOSTAS PELO ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Como já mencionado no capítulo anterior, a Lei 10.826/03 foi criada, a
princípio, com foco na imposição de impedimentos e obstáculos ao acesso às
armas de fogo pela população civil. Esta mens legis transparece a uma
análise, ainda que superficial do texto legal.
Entretanto, com o advento da derrota por esta ideologia registrado no
Referendo Popular de 2005, algumas novas alterações foram impostas para
flexibilizar todo aquele rigor inicialmente pretendido.
Analisaremos agora as alterações, em seu status quo final introduzidas
pelo Estatuto do Desarmamento, correlacionando-as com as legislações
vigentes anteriormente. Embora alguns pontos já tenham sido abordados no
capítulo antecedente, traremos agora uma decomposição mais esmiuçada dos
tópicos.
2.1 – Do Sistema Nacional de Armas (SINARM)
O Sistema Nacional de Armas foi criado através do artigo 2º da
revogada Lei 9.437/97. Este Sistema pretendia administrar o registro e
controle das armas de fogo nas mão de civis, a ser exercido pela Polícia
Federal.
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2.1.1 – Na vigência da Lei 9.437/97
Eram estabelecidas cinco atribuições ao recém criado SINARM, a
saber:
“I - identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro;
II - cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;
III - cadastrar as transferências de propriedade, o extravio, o furto, o roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais;
IV - identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo;
V - integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VI - cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais”.
Os incisos I e II criavam a obrigação do registro de armas de fogo com
base na identificação de suas características individuais: tipo (pistola, carabina,
revolver, etc), capacidade de munição, calibre (.380ACP, .38SPL, .357
Magnum, etc), marca (Taurus, Rossi, Glock, Boito, etc), país de origem,
raiamento e comprimento do cano, numero de série, sistema de funcionamento
(automática, semi-automática, etc), acabamento (oxidado, inox, etc) dentre
outras informações. Este registro seria nacionalizado, consolidando as
informações enviadas pelas Polícias Civis dos Estados em uma única base de
dados.
Com fulcro na necessidade de se manter a base de dados SINARM
atualizada, os incisos III e IV tratavam da exigência da averbação de
alterações relevantes no registro de armas: transferência de propriedade,
extravio, roubo, furto ou alterações nas características individuais.
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O inciso V buscava a integração das bases de dados estaduais pré-
existentes ao recém-criado SINARM, de forma a centralizar todos os dados
relevantes em um único banco de dados.
O inciso VI, tal qual os incisos III e IV, objetivava a manter a base de
dados atualizada, cadastrando-se no SINARM também as apreensões
realizadas pelas autoridades policiais e judiciárias, de modo a que se
consolidem também as estatísticas sobre a repressão às armas ilegais em
nível nacional.
Apenas referendando o que já foi mencionado, o art. 2º do Decreto 2.222/97
que regulamenta a Lei 9.437/97 enunciava que :
“O SINARM, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito
da Polícia Federal, com circunscrição em todo o território
nacional, tem por finalidade manter um cadastro geral,
integrado e permanentemente atualizado, das armas de
fogo produzidas, importadas e vendidas no País e o
controle dos registros de armas”.
2.1.2 – Na vigência da Lei 10.826/03
A Lei 10.826/03 repetiu, também em seu artigo 2º, ipsis litteris as
competências enunciadas anteriormente (incluindo uma pequena alteração no
texto do inciso III), acrescentando a elas mais cinco:
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia Federal;
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores;
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VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições;
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante;
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro atualizado para consulta.
A emissão do porte de arma que na vigência da lei anterior era
concedido prioritariamente pela autoridade policial estadual e,
excepcionalmente pela autoridade policial federal (art. 8º da Lei 9.437/97)
passa a ser atribuição exclusiva da Polícia Federal por força no disposto no
inciso III acima transcrito, criando-se também a obrigatoriedade de que os
dados referentes a esse direito deveriam ser consignados também na base de
dados do SINARM (a qual arma o porte estaria vinculado, validade, etc).
O inciso IV concedeu ao SINARM também a competência de zelar pelo
acervo de armas pertencente às empresas de segurança privada. Embora as
armas pertencentes a estas empresas já fossem registradas no SINARM
desde sua criação em 1997, a Lei 10.826/03 expandiu o controle sobre elas.
Agora, ao encerrar as atividades a empresa de transporte de valores e/ou
segurança privada deverá enviar todo o seu acervo à Polícia Federal para que
sejam apreendidas, eis que os sócios proprietários não poderão deter a posse
das armas registradas em nome da empresa inativa.
O inciso VIII aborda uma questão até então ignorada pela legislação: o
exercício da atividade de armeiro (profissional atuante na manutenção de
armas e acessórios), nunca antes regulamentada. Cria-se então um cadastro
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de profissionais, passando o Estado a exercer controle também sobre essa
atividade através da licença para exercício da função. Os armeiros
cadastrados ao SINARM ficam vinculados à obrigação de enviar relatório
mensal dos serviços executados à autoridade policial federal competente.
O inciso IX trata da nova atribuição do SINARM de controle sobre todo
o tipo de empresa destinada comércio (importação, exportação, fabricação,
revenda) de armas, munições e acessórios.
O inciso X torna obrigatório o cadastramento de informações sobre
raiamento do cano (frisos longitudinais existentes no cano das armas de fogo
que proporcionam ao projétil um movimento de translação (rotação sobre seu
eixo central), conferindo estabilidade na trajetória do disparo) e
microestriamento (marca destes frisos no projétil após o disparo) pelo
fabricante de armas de fogo antes da entrega da arma ao novo proprietário.
Estas marcas (raiamento do cano e microestriamento do projétil) são
tão particulares à arma como uma impressão digital é para um indivíduo. Elas
individualizam a arma de maneira única, muito mais precisa do que os outros
critérios elencados anteriormente que podem, na maioria das vezes serem
alterados (acabamento, tipo de empunhadura, etc).
É importante frisar, entretanto, que essas marcas de raiamento do
cano — e consequentemente do microestriamento do projétil, já que esta
depende daquela — podem ser desgastadas com o uso intenso da arma,
alterando-se com o tempo, fazendo com que aquelas marcas cadastradas
quando a arma era nova não sejam as mesmas depois de alguns anos. Esta
hipótese não foi contemplada pela nova legislação, que partiu do princípio de
que essas marcações seriam perpétuas, o que não condiz com a realidade.
Por fim, o inciso XI aborda a obrigação do Departamento de Polícia
Federal encaminhar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do DF
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relatórios periódicos com informações sobre os portes de armas concedidos
em cada Estado, para que as autoridades policiais estaduais possam realizar a
fiscalização nos seus limites territoriais.
2.2 – Do registro de armas
Ao mencionar o registro de arma de fogo nos remetemos à anotação
oficial (feita no Sistema Nacional de Armas), aonde é consignada a existência
de uma arma de fogo com características particulares que a tornam
individualizável e cuja propriedade pertence a uma pessoa identificada.
Cumpre ressaltar que o registro da arma permite ao seu proprietário
apenas a posse da arma no interior dos domínios de sua residência ou local de
trabalho (desde que seja o responsável legal por este). A posse da arma de
fogo, mesmo registrada, fora destes domínios sem autorização da autoridade
policial competente configura crime de porte ilegal de arma, como veremos em
momento futuro.
Para que o registro seja averbado junto aos assentamentos oficiais é
necessário que a arma que se pretende registrar tenha numeração de série
indelével marcada em seu corpo e que o seu proprietário seja adequadamente
qualificado. Não é possível o registro de arma sem numeração de série
(característica essencial para sua identificação individual) ou de proprietário
desconhecido.
Além da numeração de série, são consignadas também outras
informações secundárias, tais como comprimento do cano, acabamento, etc.
Essas informações consolidadas no registro permitiriam a identificação de
qualquer arma (desde que previamente registrada), com o fito de auxiliar em
procedimentos policiais ou processos judiciais.
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2.2.1 – Na vigência da Lei 9.437/97
A lei outrora revogada tratava do registro de armas em essencialmente
dois artigos (um terceiro artigo tratava do período de anistia concedido para a
regularização das armas até então não registradas), todavia, o tema era
esmiuçado em dez artigos distintos no Decreto 2.222/97
A obrigatoriedade do registro de armas foi imposto pelo artigo 3º da Lei
9.437/97, o qual proclamava expressamente que “é obrigatório o registro de
arma de fogo no órgão competente, excetuadas as consideradas obsoletas”. O
critério para definir armas obsoletas (isentas de serem registradas)
encontrava-se inscrito nos parágrafos do artigo 3º do Decreto 2.222:
“§ 1° Armas obsoletas, para fins desta regulamentação,
são as fabricadas há mais de cem anos, sem condições
de funcionamento eficaz e cuja munição não mais seja de
produção comercial.
§ 2° São também consideradas obsoletas as réplicas
históricas de comprovada ineficácia para o tiro,
decorrente da ação do tempo, de dano irreparável, ou de
qualquer outro fator que impossibilite seu funcionamento
eficaz, e usadas apenas em atividades folclóricas ou
como peças de coleção”.
A emissão do registro antecederia a entrega da arma ao novo
proprietário, de modo que, tendo interesse na aquisição de uma arma de fogo
o cidadão deveria requerer o registro junto à autoridade policial estadual que
verificaria a existência de antecedentes criminais contra o postulante.
Apenas após a constatação da inexistência de registros criminais nos
assentamentos pessoais do requerente seria consultado o SINARM para
verificar se os demais requisitos eram atendidos, sendo então finalmente
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emitido o registro da arma, momento em que o então proprietário poderia
tomar a posse do armamento, tal como fora fixado pelo artigo 5º do Decreto
2.222/97:
“O órgão especializado para o registro de arma de fogo,
antes da consulta ao SINARM com solicitação de
autorização para o registro, deverá averiguar se há contra
o interessado assentamento de ocorrência policial ou
antecedentes criminais, que o descredencie a possuir
arma de fogo, e, se houver, indeferir, de imediato, o
registro e comunicar o motivo ao SINARM.
Parágrafo único. A efetivação da compra da arma só
ocorrerá após a autorização para o registro”.
Por fim, o artigo 5º da Lei 9.437/97 criava um período de “anistia” de
seis meses para que os proprietários de armas até então sem registro os
fizessem junto ao SINARM de modo a proporcionar aos proprietários de armas
ilegais a possibilidade de as regularizarem, expandindo o controle estatal
também sobre este acervo até então fora do raio de vigilância do Poder
Público. À época foi concedido Certificado de Registro até àqueles que
requereram registro de arma já registrada em nome de terceiro.
Para que o registro fosse realizado neste período de anistia era exigido
apenas que a arma tivesse numeração de série gravada (para que pudesse
ser individualizada), havendo presunção absoluta de boa-fé do requerente por
imposição legal disposta no artigo 9º do Decreto 2.222/97:
“Durante o período a que se refere o art. 5° da Lei n°
9.437, de 1997, será concedido registro de arma de fogo
de uso permitido, ainda não registrada,
independentemente de limites de quantidade e
comprovação de origem”.
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Os limites quantitativos impostos pelo R-105 do Ministério do Exército,
como visto, também foram desconsiderados neste período por força do mesmo
dispositivo legal, sendo então permitido registrar um numeral ilimitado de
armas até então ilegais
Até mesmo as armas definidas como de uso restrito ou proibido pelo
R-105 seriam passíveis de registro, todavia, a propriedade da arma deveria ser
transferida através de doação ao Ministério do Exército, ou a outro órgão ou
pessoa que tivesse habilitação para o manuseio de referido equipamento
(atiradores, colecionadores, órgãos policiais, etc).
2.2.2 – Na vigência da Lei 10.826/03
O Estatuto do Desarmamento impôs critérios mais rigorosos para a
emissão do registro da arma de fogo e, por conseqüência, da compra/venda
de armas.
O artigo 4º passa a aborda os requisitos exigidos para a emissão do
registro de arma:
“Para adquirir arma de fogo de uso permitido o
interessado deverá, além de declarar a efetiva
necessidade, atender aos seguintes requisitos:
I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de
certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas
pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não
estar respondendo a inquérito policial ou a processo
criminal, que poderão ser fornecidas por meios
eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
II – apresentação de documento comprobatório de
ocupação lícita e de residência certa;
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III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas
na forma disposta no regulamento desta Lei”.
O Decreto 5.123/04 referendou as mesmas exigências acrescentando
ainda a necessidade do requerente possuir ao menos 25 anos de idade
(exigência inexistente na legislação anterior e na Lei 10.826/03). Há previsão
de exceção a esta limitação no artigo 28 da Lei 10.826/03, ou seja, quando o
cidadão for integrante das Forças Armadas, órgãos policiais, agente da ABIN
ou demais categorias poderá adquirir arma particular, mesmo tendo menos de
25 anos.
Como se percebe, a nova lei passou a exigir daquele que pretende
adquirir arma de fogo os mesmos requisitos que outrora eram exigidos para
quem pretendesse portar arma de fogo.
Além dos diversos critérios objetivos, o postulante à aquisição de arma
de fogo dependeria ainda da avaliação subjetiva da autoridade policial, no que
tange à exigência inserta no inciso I acima transcrito, como se depreende da
leitura do parágrafo 1º do artigo 12 do Decreto 5.123/04:
A declaração de que trata o inciso I do caput deverá
explicitar, no pedido de aquisição e em cada renovação
do registro, os fatos e circunstâncias justificadoras do
pedido, que serão examinados pelo órgão competente
segundo as orientações a serem expedidas em ato
próprio”.
Assim como ocorria na legislação antecedente, a posse da arma de
fogo só será concedida após o registro ser emitido, sendo indiferente se a
arma é nova ou usada, se adquirida de pessoa física ou jurídica.
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Ao contrário do previsto na legislação anterior, os registros não mais
são emitidos pelas Polícias Civis dos Estados, mas pela Polícia Federal após
autorização do SINARM.
Também houve alteração no prazo de validade do registro que, na
legislação antecedente, era válido por período indeterminado, passando a ter
validade de 3 anos, necessitando ser renovado em período não superior a
este, para que o proprietário da arma não incorra no crime de posse ilegal de
arma.
A cada renovação se fará necessário comprovar todos os requisitos
necessários para a obtenção do registro, inclusive a declaração de efetiva
necessidade.
Note-se que a exigência da apresentação da declaração de efetiva
necessidade está inserida no caput do artigo 4º da Lei 10.826/03 sendo,
portanto, dispensada quando da renovação do registro eis que o parágrafo 2º
do artigo 5º da Lei 10.826/03 da mesma lei se refere exclusivamente aos
incisos: “Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser
comprovados periodicamente (...) para a renovação do Certificado de Registro
de Arma de Fogo”.
Da mesma forma, o Decreto 5.123/04 dispõe no parágrafo 2º de seu
artigo 16 que a declaração de necessidade efetiva não será critério adotado
para a renovação do registro. Contudo, o parágrafo 1º do artigo 12 do
mencionado Decreto expõe expressamente que a referida declaração será
obrigatória também no momento da renovação do registro da arma:
“A declaração de que trata o inciso I do caput deverá
explicitar, no pedido de aquisição e em cada renovação
do registro, os fatos e circunstâncias justificadoras do
pedido, que serão examinados pelo órgão competente...”.
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Por fim, o Estatuto do Desarmamento dispõe que as armas cujo
registro fora emitido pelo Poder Publico Estadual — mesmo aquelas já
registradas no SINARM sob a vigência da lei antecedente — deverão ser
recadastradas junto à Polícia Federal até o prazo máximo de 31 de dezembro
de 2009 (prazo este que foi estendido por diversas vezes em uma via crucis já
explicada detalhadamente no Capítulo I, item 1.4.2 do presente trabalho
monográfico).
Foi aberto também prazo para regularização de armas ainda não
registradas que foi estendido por diversas vezes, tendo seu prazo final
definitivo no dia 31 de dezembro de 2008.
Ao contrário do que dispunha a legislação anterior, desta feita não se
concedeu anistia total, uma vez que tornou-se obrigatória inicialmente a
comprovação da procedência da arma por qualquer meio de prova admitido
em juízo, apesar de haver previsão expressa de presunção de boa-fé no artigo
69 do Decreto 5.123/04:
“Presumir-se-á a boa-fé dos possuidores e proprietários
de armas de fogo que se enquadrem na hipótese do art.
32 da Lei no 10.826, de 2003, se não constar do SINARM
qualquer registro que aponte a origem ilícita da arma”.
Posteriormente, com o advento da Lei 11.706/08 a redação do artigo
30 da Lei 10.826/03 foi alterada não sendo mais necessário fazer prova da
procedência da arma, podendo ser esta substituída por uma declaração
assinada pelo requerente do registro. Cumpre ressaltar que essa pequena
alteração influenciou sensivelmente para que mais pessoas ingressassem com
pedido de registro, pois a comprovação da propriedade ficaria muito menos
complicada.
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A tentativa de registrar arma que já possuísse registro pretérito sem o
consentimento daquele que figurava como proprietário da arma (ou seus
herdeiros) seria indeferida, eis que só foram contempladas pela hipótese deste
dispositivo as armas de uso permitido ainda não registradas. Igualmente,
armas de calibre restrito ou proibido não puderam ser registradas com o
advento do Estatuto do Desarmamento.
Embora o novo ordenamento jurídico não contemplasse uma norma de
conteúdo similar ao previsto no artigo 9º do Decreto 2.222/97, na prática o
Poder Público não considerou os limites quantitativos existentes no R-105,
permitindo o registro de tantas armas quanto requeridas, desde que não
tivessem registro prévio em nome de outrem e estivessem qualificadas como
de “uso permitido”.
Finalmente, a Lei 10.826/03 criou em seus artigos 31 e 32 a figura da
recompra de armamento nas mãos de civis pelo Estado, com vistas a oferecer
uma oportunidade para desarmar a população. Inicialmente foi concedido um
prazo de 180 dias para que as armas (legalizadas ou ilegais) fossem
entregues mediante pagamento de indenização que variava de R$100,00 a
R$300,00 (dependendo essencialmente do tipo de arma e calibre).
Depois de diversas alterações legislativas, o corpo do artigo 32 foi
retificado de forma a tornar a campanha de recompra de armas permanente.
Desta forma, mesmo após encerrado o prazo para registro de armas sem
registro ainda haverá a possibilidade de entrega a arma que se encontre na
ilegalidade para a Autoridade Policial, ficando extinta a punibilidade do crime
de posse ilegal de arma.
A questão que se impõe é: Qual o destino das armas entregues
voluntariamente no programa de recompra de armas? O parágrafo único do
artigo 32 abordava o assunto determinando que após a elaboração de laudo
pericial, seriam encaminhadas, no prazo de 48 horas ao Comando do Exército
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para destruição, sendo vedada a suta utilização ou reaproveitamento para
qualquer fim. Ocorre que este parágrafo foi revogado expressamente pela
Medida Provisória 417/08 que passou a estatuir que o procedimento de
entrega seria definido em regulamento próprio. Ocorre que o Decreto 5.123/04
que regulamenta o Estatuto do Desarmamento não contemplou esta questão.
Por fim a Lei 11.706/08 revogou expressamente o parágrafo único do artigo
32, ignorando por completo a questão da destinação das armas entregues
voluntariamente no programa de recompra mantido pelo Poder Público.
2.3 – Do porte de arma
Porte de arma é a nomenclatura técnica dado ao direito de portar arma
de fogo fora das limitações geográficas da residência ou local de trabalho do
seu proprietário. Essa autorização para portar arma de fogo é concedida pela
autoridade policial com prazo de tempo delimitado e a título precário, podendo
ser revogado a qualquer momento.
Cabe ressaltar que algumas categorias como policiais e bombeiros
possuem o chamado “porte de arma funcional” que decorreria da função
pública por eles exercida (e não por uma licença precária emitida pela
Autoridade Policial). Neste caso, o direito ao porte de arma não pode ser
cassado ou revogado, exceto em virtude da exoneração ou demissão do
servidor.
No Brasil o porte de arma é vinculado a uma arma específica, ou seja,
ao se requerer o direito de portar arma, deve ser especificada qual arma se
pretende portar e, caso concedido o direito, o cidadão poderá portar fora de
seus domínios apenas a arma cujo porte foi concedido, ainda que possua
diversas outras. Nova exceção se impõe também para os servidores públicos
que seja atribuído porte funcional, pois, nestes casos, o porte será irrestrito,
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permitindo portar diversas armas, desde que devidamente registradas em seu
nome ou da corporação a que pertença.
2.3.1 – Na vigência da Lei 9.437/97
A Lei 9.437/97 determinava que as permissões para portar arma de
fogo seriam concedidas essencialmente pela Autoridade Policial estadual e
teriam validade limitada à Unidade da Federação em que foi emitida, exceto se
houvesse convênio com Estados limítrofes (art. 7º, §1º da Lei 9.437/97).
Excepcionalmente poderia ser concedido o direito ao porte de arma
com abrangência nacional, que seria emitido pela Autoridade Policial federal
(art. 8º da Lei 9437/97) quando o requerente comprovasse a necessidade de
deslocar-se com regularidade por todo o território nacional (art. 14 do Decreto
2.222/97).
Neste mesmo sentido o Decreto 2.222/97 determinava no parágrafo 1º
do artigo 28 que o porte de arma dos policiais civis, militares e bombeiros
estaduais só teria abrangência no Estado da Federação em que exercessem
sua função pública (e nos Estados limítrofes que tivessem convênios).
O mesmo não ocorreria com os Policiais Federais, Rodoviários
Federais e Ferroviários Federais que detinham o direito de portar armas em
todo o território federal.
Para requerer o direito ao porte de arma o cidadão deveria “comprovar
idoneidade, comportamento social produtivo, efetiva necessidade, capacidade
técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo”, conforme já
explorado no item 1.4.1 do presente trabalho monográfico (art. 7º da Lei
9.437/97).
41
A condução da arma deveria ser feita de forma discreta, sendo
permitido o porte ostensivo do armamento apenas para servidores públicos da
área de segurança pública, militares ou funcionários de empresas de
transporte de valores ou segurança privada, desde que no exercício das
funções profissionais.
Havia ainda vedação expressa aos detentores do direito de portar
armas de ingressarem armados em “... clubes, casas de diversão,
estabelecimento educacionais e locais onde se realizem competições
esportivas ou reunião, ou haja aglomeração de pessoas” (art. 17 do Decreto
2.222/97).
Embora a legislação não aborde o assunto, a doutrina já pacificou que
esta limitação só se imporia para aqueles que detivessem a licença precária
para portar arma emitida pela Autoridade Policial, não abrangendo os
detentores de porte de arma funcional, tais como policiais que teriam o dever
de fiscalizar e/ou atuar também no interior destes locais podendo, portanto,
ingressar armados neles sem restrições, desde que no exercício da função
público. Desta forma manifestou-se o legislador ao mencionar no artigo 28 do
Decreto 2.222/97 que “O porte de arma de fogo é inerente aos policiais
federais, policiais civis, policiais militares e bombeiros militares”.
Por fim, o Decreto 2.222/97 enumerava as obrigações do portador de
autorização para o porte de arma de fogo em seu artigo 25 (esclarecendo que
o descumprimento destas implicaria na cassação do direito ao porte de arma):
I - informar ao órgão expedidor da respectiva autorização
sua mudança de domicílio;
II - comunicar imediatamente o extravio, furto ou roubo,
bem como a recuperação da arma, assim como do porte,
à Delegacia de Polícia mais próxima ao local do fato e,
posteriormente, ao órgão expedidor da autorização;
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III - conduzir a respectiva licença ao portar a arma a que
a mesma se refere.
2.3.2 – Na vigência da Lei 10.826/03
A Lei 10.826/03 restringiu expressamente o porte de arma por civis,
limitando o acesso a esse direito para as categorias relacionadas nos incisos
do artigo 6º e nas demais hipóteses abaixo descritas.
Abrem-se duas exceções, a primeira prevista no parágrafo 5º do
mesmo artigo 6º, que trata dos caçadores de subsistência (que foi
regulamentado pelo artigo 27 do Decreto 5.123/04) e a outra prevista no
parágrafo 1º do artigo 10, para pessoas que demonstrarem “efetiva
necessidade em virtude de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua
integridade física”.
É pertinente também mencionar que o rol de categorias contempladas
com o direito de portar armas de fogo no artigo 6º da Lei 10.826/03 não é
numerus clausus, uma vez que o próprio artigo prevê a hipótese de exceções
para “(...) casos previstos em legislação própria...”.
Não obstante a legislação anterior determinar que o porte de arma
seria concedido com abrangência regional (apenas excepcionalmente era
concedido o porte de armas com abrangência federal), o Estatuto do
Desarmamento federalizou o porte de armas (desde que o cidadão esteja
dentro das hipóteses previstas para obtenção do porte de armas).
O porte de armas funcional dos servidores públicos passa a ser
disciplinado pelo artigo 33 e seguintes do Decreto 5.123/04, o qual impõe uma
série de restrições não contempladas na legislação anterior:
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O porte de arma particular em serviço por policiais passa a ser
restringido expressamente (art. 35);
O ingresso de policiais armados, fora de serviço, em locais aonde haja
aglomeração de pessoas passa a ser condicionado à obediência de
regulamentos a serem criados próprio órgão em que são lotados;
Os integrantes das Forças Armadas e policiais transferidos para a
reserva remunerada ou aposentados precisarão submeter-se a testes
de avaliação psicológica a cada 3 anos para permanecerem com o
direito de portar armas.
O Estatuto do Desarmamento contempla a hipótese da concessão ao
direito de portar armas aos praticantes de atividades desportivas que
demandem o uso de armas de fogo no inciso IX do artigo 6º da Lei 10.826/03,
contudo, já se consolidou o entendimento de que o porte mencionado pelo
legislador restringe-se ao interior dos clubes de tiro e locais aonde se realizem
eventos desportivos.
Desta forma, os atiradores competidores continuariam obrigados a
requerer guia de tráfego para deslocarem-se de sua residência até o estande
de tiro ou local de competição.
A limitação ao porte de armas ostensivo e/ou em locais públicos,
reuniões e aglomerações já existente no ordenamento anterior foi reproduzido
pelo Decreto 5.123/04 em seu artigo 26, sendo pertinente ressaltar que as
mesmas ressalvas feitas anteriormente quando da análise do dispositivo
anterior também se aplicam aqui.
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2.4 – Dos crimes em espécie
2.4.1 – Na vigência da Lei 9.437/97
A Lei 9.437/97 criou algumas condutas típicas em seu artigo 10,
todavia, pecou pela razoabilidade ao atribuir a todas as condutas descritas a
mesma pena em abstrato: possuir, portar, vender, emprestar arma de fogo
bem como as demais condutas descritas na lei eram punidas com a mesma
pena, apesar da gravidade e o grau de reprovação das condutas variar
consideravelmente.
É notável que o traficante de armas oferece maior risco à sociedade do
que o aposentado que perdeu o prazo para renovar o registro da arma
herdada de um familiar, todavia, pela redação da Lei 9.437/97 ambos estariam
sujeitos à mesma pena (em abstrato).
A norma previa pena mais grave apenas para as hipóteses
relacionadas nos parágrafos 2º e 3º, e uma qualificadora no parágrafo 4º,
todos do mesmo artigo 10.
É possível discriminar as condutas puníveis pela Lei 9.437 em dois
grandes grupos. O primeiro, com pena em abstrato prevista de um a dois anos:
Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar,
expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar arma de
fogo, de uso permitido, sem a autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
Omitir as cautelas necessárias para impedir que menor
de dezoito anos ou deficiente mental se apodere de arma
de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua
45
propriedade, exceto para a prática do desporto quando o
menor estiver acompanhado do responsável ou instrutor;
Utilizar arma de brinquedo, simulacro de arma capaz de
atemorizar outrem, para o fim de cometer crimes;
Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar
habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em
direção a ela, desde que o fato não constitua crime mais
grave.
E o segundo grupo com previsão de pena em abstrato variando entre
dois a quatro anos:
Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal
de identificação de arma de fogo ou artefato;
Modificar as características da arma de fogo, de forma a
torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou
restrito;
Possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo
e/ou incendiário sem autorização;
Possuir condenação anterior por crime contra a pessoa,
contra o patrimônio e por tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins.
Note-se que o núcleo do tipo inserido no art. 10, §3º, I prevê a
criminalização da conduta de “suprimir ou alterar marca, numeração ou
qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato”, entretanto, não
havia previsão de agravamento da pena caso o crime fosse cometido com
arma com sinais de identificações alterados ou apagados.
46
O legislador previu apenas a conduta daquele que adultera a arma,
silenciando quanto àquele que porta arma com sinais de identificação
alterados. Desta forma, era impossível agravar a situação do cidadão preso
portando arma sem numeração de série (ou com este adulterado) eis que não
havia previsão legal e qualquer inovação neste sentido por parte do Ministério
Público ou da Autoridade Policial implicaria em violação ao princípio da
legalidade.
Por fim havia ainda uma qualificadora que aumentava a pena da
metade, caso o crime fosse cometido por servidor público.
2.4.2 – Na vigência da Lei 10.826/03
A nova Lei foi pródiga no tratamento dos crimes em espécie, o artigo
10 da Lei 9.437/97 que tratava do assunto de forma tímida foi substituído por
um corpo bem redigido de 10 artigos que passaram a esquadrinhar o tema
com o detalhamento que a sociedade exige.
O crime de posse ilegal de arma passou a ser diferenciado do crime de
porte ilegal de arma. Embora as condutas sejam notadamente diferentes
(enquanto naquele o cidadão mantém a arma em sua posse em sua residência
ou local de trabalho, neste a arma é transportada consigo para fora de seus
domínios), a lei anterior tratava-os da mesma forma. Agora a posse passa a
ser reprimida com pena de 1 a 3 anos de detenção e o porte com pena de 2 a
4 anos de reclusão.
Perceba que as penas mencionadas acima só se aplicam se a arma
qualificar-se como de uso permitido. Caso esteja no rol das armas de uso
restrito sofrerá reprimenda mais intensa do Poder Público, com penas variando
de 3 a 6 anos de reclusão. No caso de armas de uso restrito, a pena em
abstrato é comum a diversos núcleos do tipo: “Possuir, deter, portar, adquirir,
47
fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar ...” (art. 16 da
Lei 10.826/03).
Deve-se ressaltar que, enquanto na Lei 9.437/97, no caso de
adulteração nas características da arma, apenas a conduta do adulterador da
arma era reprimida, não existindo previsão legal para agravar a conduta
daquele que portava arma adulterada.
O mesmo deslize não se repetiu no Estatuto do Desarmamento que
previu expressamente tanto a tipificação do crime de adulteração de arma de
fogo, quanto a de portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer a arma com
numeração ou qualquer outro sinal de identificação adulterado, observe:
Art.16 (...)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma
de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal
de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
Para ambos os casos a pena cominada é a mesma aplicada ao porte
de arma de uso restrito (de 3 a 6 anos de reclusão), todavia, caso a arma
adulterada já seja de uso restrito, não haverá agravamento da pena em
abstrato.
Criou-se um fato típico na modalidade culposa, intitulado crime de
omissão de cautela, quando o possuidor ou proprietário não toma cautelas
necessárias (imprudência ou negligência) para evitar que inimputável tome
posse de arma de fogo. Atribui-se a mesma pena ao responsável de empresa
de transporte de valores ou segurança privada que não comunicar
48
imediatamente (prazo de 24h) a autoridade policial o roubo, furto ou extravio
de arma, acessório ou munição sob sua responsabilidade.
Aborda também a conduta de disparar arma “... em local habitado ou
em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa
conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime” (art. 15). Perceba-
se que, diferentemente do que fora previsto pela Lei 9.437/97, que reprimia a
conduta de disparar arma de fogo “... em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que o fato não
constitua crime mais grave”, na nova lei o crime fim não precisa ser
necessariamente mais grave (leia-se reprimido com mais intensidade) para
que a capitulação se dê sobre o crime fim e não sobre o disparo de arma
(crime meio).
Por fim, o legislador criou a figura do tráfico interno e externo
(internacional) de armas de fogo nos artigos 17 e 18, respectivamente,
atribuindo-lhes pena igual em abstrato, qual seja, de 4 a 8 anos de reclusão.
49
CAPÍTULO III
ASPECTOS CONTROVERSOS DO
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Desde o início de sua vigência o Estatuto do Desarmamento gerou
uma infinidade de polêmicas. Parte da doutrina contestava a legalidade e
constitucionalidade de diversos dispositivos introduzidos pelo novo
ordenamento legal.
3.1 – Da vacância da Lei 10.826/03
Vacância da lei é um termo jurídico que designa o tempo o lapso
temporal entre a publicação e a vigência da norma. No caso da Lei 10.826/03
o legislador fez questão de antecipar a vigência ao momento da publicação da
norma, como se depreende da leitura de seu artigo 37.
Alguns dispositivos ainda demoraram a serem dotados de eficácia, eis
que a regulamentação da lei só foi publicada no ano seguinte, pairando ainda
a dúvida sobre a vigência do artigo 35 que ficou condicionado à sua aprovação
em referendo popular, fato este que não veio a ocorrer.
Apesar do prazo legal de vacância estar previsto no corpo da própria
lei, um relevante questionamento foi suscitado por estudiosos do Direito, no
que diz respeito à vigência dos tipos penais incriminadores inscritos nos artigos
12 e 16 em detrimento do dispositivo descriminalizador previsto no artigo 30 da
Lei 10.826/03.
50
Afinal, contraria a noção elementar de razoabilidade o ato de punir
alguém por possuir arma não legalizada em seus domínios, se a própria lei
prevê um lapso de tempo em que esta arma poderá ser legalizada sem que
seu possuidor venha a sofrer sanções penais. Sempre se poderá alegar que a
arma seria regularizada no dia seguinte e que não o fez por falta de
oportunidades.
Neste mesmo sentido posicionou-se o Min. Arnaldo Esteves Lima,
quando do julgamento do HC 47706/SP em 09/08/2007:
“1. As condutas previstas nos arts. 12 (posse ilegal de
arma de fogo de uso permitido) e 16 (posse ilegal de
armas de fogo de uso restrito) da Lei 10.826/03
praticadas dentro do período de regularização ou entrega
de arma de fogo à Polícia Federal não são dotadas de
tipicidade.
2. Flagrado o paciente dentro do período chamado de
vacatio legis indireta , em que estava suspensa a eficácia
do preceito legal que dispõe sobre o delito que lhe foi
imputado, deve ser reconhecida a atipicidade da
conduta”.
De antemão é possível concluir que a eficácia do dispositivo expresso
no artigo 16 (posse/porte de arma de fogo de uso restrito) não será suspensa,
eis que o artigo 30 menciona taxativamente que apenas as armas de fogo de
uso permitido serão passíveis de regularização.
Em seu artigo, CARVALHO enumera duas justificativas coerentes na
defesa da suspensão da tipicidade do crime de posse de arma de fogo, sem
registro, de uso permitido:
51
“Primeiro: o tipo do art. 12 da Lei do Desarmamento
prevê o elemento normativo "em desacordo com
determinação legal ou regulamentar". Logo, se a lei prevê
um prazo para que o possuidor de arma de fogo solicite o
devido registro nos órgãos competentes, a posse do
armamento no interior das residências e locais de
trabalho torna-se uma conduta perfeitamente lícita, até o
advento do dies ad quem.
Segundo: do ponto de vista analítico do conceito tripartite
do crime, a questão deve ser tratada em sede de
tipicidade conglobante. Nessa lógica, a mesma norma
que impõe uma conduta a ser implementada pelos
possuidores e proprietários de armas de fogo (qual seja,
o dever de registro das armas de fogo de uso permitido
até o prazo máximo de 31 de dezembro de 2008), não
pode, a um só tempo, torná-la típica. Por corolário,
afastada a tipicidade conglobante, resta prejudicada a
tipicidade da conduta”.
É importante enfatizar que, para que a arma de fogo possa ser
beneficiada pela “anistia” prevista no artigo 30, ela deverá pertencer à
categoria de armas “de uso permitido”, além de ter numeração de série, para
que possa ser individualizada. Desta forma, a arma de fogo cuja numeração de
série esteja adulterada ou raspada não se beneficiaria da suspensão da
tipicidade aqui analisada.
Outro aspecto digno de atenção diz respeito ao processo de recompra
de armas mantido pelo Poder Público — agora de forma definitiva — que
provoca, em tese, as mesmas conseqüências do artigo 30 (extinção da
punibilidade).
52
Ministrando-se ao artigo 32 a mesma lógica aplicada ao artigo 30
conclui-se que, por terem conteúdo similar, deveriam provocar a mesma
conseqüência, qual seja a atipicidade definitiva da conduta descrita nos artigos
12 e 14 (no que tange à posse de arma de fogo), uma vez que, ao contrário do
disposto no artigo 30, o artigo 32 não impõe limite de tempo para que a
entrega das armas ocorra, nem restringe o tipo de arma a ser recomprada.
Nas pesquisas realizadas por ocasião do presente trabalho
monográfico nada foi encontrado sobre o assunto, porém, considerando as
graves conseqüências inerentes a esta interpretação (que acarretaria na
revogação dos tipos penais de posse de arma de fogo de uso permitido e
restrito sem registro), acreditamos fortemente que por questões de política de
segurança, não será reconhecida a atipicidade das condutas mencionadas em
virtude do conteúdo do artigo 32.
53
CONCLUSÃO
O controle da população civil ao acesso a armas de fogo, questão
minuciosamente tratada por leis federais nos dias atuais, só passou a ser
tratada com seriedade no final do século XX com a eclosão da “epidemia de
violência” vivenciada mormente nos idos de 1980.
Apesar do rigor evidenciado pelo Estatuto do Desarmamento na
imposição de duras penas às condutas criminosas por ele tratadas, sua
construção e aprovação se deram através de uma temerosa técnica legislativa
que culminou na aprovação de um texto legal com diversas incongruências e
que não espelhava os anseios da sociedade, haja vista a derrota sofrida no
referendo popular de 2005.
Algumas dessas incoerências foram abordadas no presente trabalho
monográfico, tendo-se como certo de que diversas outras lacunas não foram
abordadas, sendo motivo para debates doutrinários vindouros. Não há como
se esgotar o assunto em um único trabalho, por mais intensa que seja a
pesquisa realizada, eis que diversas posições divergentes se imporão ao longo
tempo.
Preconizou-se, todavia, o acesso facilitado ao conteúdo do Estatuto do
Desarmamento e sua regulamentação, estabelecendo-se um padrão
comparativo entre a legislação vigente e a antecedente, de forma a facilitar a
transição daqueles que detinham algum domínio sobre o assunto, mas que
foram surpreendidos com a imposição do novo Estatuto.
Apesar das diversas incoerências ilustradas no presente trabalho
monográfico, permanece a sensação de que, o Estatuto do Desarmamento é
uma importante ferramenta à disposição do Estado no controle da violência
urbana e, apesar das arestas ainda notadamente expostas, a qualidade da
produção jurisprudencial pátria se encarregará de delinear contornos sólidos
54
para a aplicação da lei dentro dos princípios constitucionais adotados por
nosso ordenamento.
55
ANEXOS
NORMAS LEGAIS ABORDADAS NA MONOGRAFIA
DECRETO Nº 24.602 DE 6 DE JULHO DE 1934.
Dispõem sobre instalação e fiscalização de fábricas e comércio de armas municções, explosivos, produtos quimicos agressivos e matérias correlatas.
O Chefe do Govêrno Provisório da Republica dos Estados Unidos do Brasil , usando da atribuição que lhe confere o art. 1º do decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930,
DECRETA:
Art. 1º Fica proibida a instalação, no país, de fábricas civis destinadas ao fabrico de armas e munições de guerra .
Parágrafo único. É, entretanto, facultativo ao Govêrno conceder autorização, sob as condições :
a) de ser aceita uma fiscalização permanente nas suas direções administrativas, técnica e industrial, por oficiais do Exército, nomeados pelo Ministro da Guerra, sem onus para a fabrica;
b) de submeter-se às restrições que o Govêrno Federal julgar conveniente determinar ao comércio de sua produção para o exterior ou interior;
c) de estabelecer preferência para o Govêrno Federal na aquisição dos seus produtos .
Art. 2º É absolutamente proibido qualquer fábrica civil fabricar munição de guerra, a não ser no caso previsto no parágrafo único do art.1º .
Art. 3º Nenhuma fábrica de produção de cartuchos, munições e armas de caça ou de explosivos poderá se instalar ou funcionar, se existe, sem que haja:
1º, satisfeito às exigências técnicas ditadas pelo Ministério da Guerra;
2º, assinado o compromisso de aceitar as restrições que o Govêrno Federal, através de seus órgãos julgar conveniente criar ao comércio de sua produção, tanto para o exterior como para o interior, bem como as referências ás importações de matérias primas.
Essas restrições se justificarão:
a) em de tratados com países estrangeiros ou solicitação dos mesmos, a juízo do Govêrno;
b) na previsão de acontecimentos anormais que atentem contra a ordem e segurança públicas;
c) quando razões superiores de ordem econômica, visando a utilização de recursos naturais do país, assim o imponham .
3º, registrado no mesmo Ministério as declarações seguintes:
56
a) nome da fábrica; b) firma comercial responsável e; c) situação da fábrica; d) linhas de comunicação e sua natureza, para a capital do Estado em que estiver instalada; e) área, coberta da fabrica; f) número de pavilhões das oficinas; g) natureza da produção; h) volume da produção anual; i) capacidade de produção em oito horas de trabalho; j) número de operários; l) marcas das máquinas das oficinas (fabricantes); m) distancias das máquinas, se por transmissão ou motor conjugado; n) distancias da fábrica com todos os seus pavilhões e depósitos; p) fórmulas de seus produtos com caráter "secreto"; q) stocks existentes das várias matérias primas, e, também do material produzido; r) sujeitar-se à fiscalização do Ministério da Gueerra, através os seus órgãos técnicos, seja durante a produção ou após sua distribuição ao comércio; s) provado a idoneidade da firma com atestados passados pelas polícias locais; t) provado sua quitação com as Prefeituras locais.
4º, recebido um título de registro expedido pelo Ministério da Guerra que terá o valor de licença dessa autoridade .
Art. 4º As declarações acima, obrigatórias no pedido de registro, que a fábrica deverá fazer, são de caráter – secreto – e para uso exclusivo da repartição competente do Ministério da Guerra .
Art. 5º Após êsse registro nenhum novo tipo de material poderá ser fabricado sem suas características ou fórmulas se achem devidamente aprovadas e registros no Ministério da Guerra .
Art. 6º A fabricação de pólvoras, explosivos e artigos pirotécnicos, atentas as necessidades de fiscalização e os sérios perigos de vida que oferecem, somente poderá ser realizada por fábricas devidamente licenciadas pelo Ministério da Guerra nos têrmos do art. 3º dêste decreto.
Art. 7º Os oficiais designados fiscais, conforme prescreve o art. 1º, letra a, serão substituídos anualmente, não podendo exceder êsse prazo, para urna mesma fábrica.
Art. 8º O atual Serviço de Fiscalisação da Importação e despacho de armas, munições, explosivos, etc., a cargo do Ministério da Guerra, passar-se-á a denominar "Serviço de Fiscalisação da Importação, Depósito e Trânsito de Armas Munições, Explosivos, Produtos químicos agressivos e matérias primas correlatas", e terá as atribuições consignada em suas instruções, com as modificações decorrentes dêste decreto.
Art. 9º Ficam obrigadas a um registro sumário no Ministério da Guerra tôdas as fábricas existentes ou a se constituírem não compreendidos nos artigos anteriores e todos quantos constituindo firmas comerciais ou não, como as primeiras, necessitem importar, manipular e negociar com os produtos sujeitos a fiscalisação e que serão discriminados nas respectivas instruções.
Art. 10 O Ministério da Guerra promoverá era caráter de regulamentação a revisão das instruções existentes de forma a permitir unia melhor fiscalisação e manterá as atribuições de "Controle" das importações de materiais, artefatos e produtos que julgar de necessidade conservar ou incluir em suas novas instruções.
Art. 11 As fábricas existentes terão o prazo do 90 dias para regularizarem sua situação pelos termos dêste decreto.
Art. 12 Serão estabelecidas nas respectivas regulamentações penalidades para os diversos casos de fraudes, penalidades essas que variarão entre a suspensão de funcionamento da fábrica ou do direito de comércio por tempo determinado, não excedendo de seis meses, e a perda definitiva de idoneidade e conseqüente proibição de funcionamento, sem indenisação de espécie alguma. Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo será assegurada ampla defesa à parte acusada de transgressão e tomadas por termo as suas justificações em inquérito sumário mandado abrir pelo diretor do Material Bélico, que imporá a penalidade.
57
A penalidade de perda definitiva de idoneidade somente será imposta pelo ministro da Guerra.
Art. 13 O ministro da Guerra regulamentará também as disposições do § do único do art.1º.
Art. 14 Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 6 de julho de 1934, 113º da Independência e 46º da República.
GETULIO VARGAS. P. Góes Monteiro.
DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941.
Lei das Contravenções Penais
O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o artigo 180 da Constituição,
DECRETA:
(...)
Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição:
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativamente, se o fato não constitue crime contra a ordem política ou social.
Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.
§ 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já foi condenado, em sentença irrecorrivel, por violência contra pessoa.
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis, quem, possuindo arma ou munição:
a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina;
b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de arma a tenha consigo;
c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la.
(...)
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Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela:
Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa deflagração perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso.
LEI Nº 9.437, DE 20 DE FEVEREIRO DE 1997.
Institui o Sistema Nacional de Armas - SINARM, estabelece condições para o registro e para o porte de arma de fogo, define crimes e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Capítulo I
DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS
Art. 1º Fica instituído o Sistema Nacional de Armas - SINARM no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, com circunscrição em todo o território nacional.
Art. 2° Ao SINARM compete:
I - identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro;
II - cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;
III - cadastrar as transferências de propriedade, o extravio, o furto, o roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais;
IV - identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo;
V - integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VI - cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais.
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios.
Capítulo II
DO REGISTRO
Art. 3° É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente, excetuadas as consideradas obsoletas.
Parágrafo único. Os proprietários de armas de fogo de uso restrito ou proibido deverão fazer seu cadastro como atiradores, colecionadores ou caçadores no Ministério do Exército.
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Art. 4° O Certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa.
Parágrafo único. A expedição do certificado de registro de arma de fogo será precedida de autorização do SINARM.
Art. 5° O proprietário, possuidor ou detentor de arma de fogo tem o prazo de seis meses, prorrogável por igual período, a critério do Poder Executivo, a partir da data da promulgação desta Lei, para promover o registro da arma ainda não registrada ou que teve a propriedade transferida, ficando dispensado de comprovar a sua origem, mediante requerimento, na conformidade do regulamento.
Parágrafo único. Presume-se de boa fé a pessoa que promover o registro de arma de fogo que tenha em sua posse.
Capítulo III
DO PORTE
Art. 6° O porte de arma de fogo fica condicionado à autorização da autoridade competente, ressalvados os casos expressamente previstos na legislação em vigor.
Art. 7° A autorização para portar arma de fogo terá eficácia temporal limitada, nos termos de atos regulamentares e dependerá de o requerente comprovar idoneidade, comportamento social produtivo, efetiva necessidade, capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo.
§ 1° O porte estadual de arma de fogo registrada restringir-se-á aos limites da unidade da federação na qual esteja domiciliado o requerente, exceto se houver convênio entre Estados limítrofes para recíproca validade nos respectivos territórios.
§ 2° (VETADO)
§ 3° (VETADO)
Art. 8° A autorização federal para o porte de arma de fogo, com validade em todo o território nacional, somente será expedida em condições especiais, a serem estabelecidas em regulamento.
Art. 9° Fica instituída a cobrança de taxa pela prestação de serviços relativos à expedição de Porte Federal de Arma de Fogo, nos valores constantes do Anexo a esta Lei.
Parágrafo único. Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e manutenção das atividades do Departamento de Polícia Federal.
Capítulo IV
DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 10. Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Pena - detenção de um a dois anos e multa.
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem:
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I - omitir as cautelas necessárias para impedir que menor de dezoito anos ou deficiente mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade, exceto para a prática do desporto quando o menor estiver acompanhado do responsável ou instrutor;
II - utilizar arma de brinquedo, simulacro de arma capaz de atemorizar outrem, para o fim de cometer crimes;
III - disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que o fato não constitua crime mais grave.
§ 2° A pena é de reclusão de dois anos a quatro anos e multa, na hipótese deste artigo, sem prejuízo da pena por eventual crime de contrabando ou descaminho, se a arma de fogo ou acessórios forem de uso proibido ou restrito.
§ 3° Nas mesmas penas do parágrafo anterior incorre quem:
I - suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
II - modificar as características da arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito;
III - possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo e/ou incendiário sem autorização;
IV - possuir condenação anterior por crime contra a pessoa, contra o patrimônio e por tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
§ 4° A pena é aumentada da metade se o crime é praticado por servidor público.
Capítulo V
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 11. A definição de armas, acessórios e artefatos de uso proibido ou restrito será disciplinada em ato do Chefe do Poder Executivo federal, mediante proposta do Ministério do Exército.
Art. 12. Armas, acessórios e artefatos de uso restrito e de uso permitido são os definidos na legislação pertinente.
Art. 13. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2° desta Lei, compete ao Ministério do Exército autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de armas de fogo e demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte de tráfego de arma de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores.
Art. 14. As armas de fogo encontradas sem registro e/ou sem autorização serão apreendidas e, após elaboração do laudo pericial, recolhidas ao Ministério do Exército, que se encarregará de sua destinação.
Art. 15. É vedada a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Ministério do Exército.
Art. 16. Caberá ao Ministério do Exército autorizar, excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso proibido ou restrito.
61
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às aquisições dos Ministérios Militares.
Art. 17. A classificação legal, técnica e geral das armas de fogo e demais produtos controlados, bem como a definição de armas de uso proibido ou restrito são de competência do Ministério do Exército.
Art. 18. É vedado ao menor de vinte e um anos adquirir arma de fogo.
Art. 19. O regulamento desta Lei será expedido pelo Poder Executivo no prazo de sessenta dias.
Parágrafo único. O regulamento poderá estabelecer o recadastramento geral ou parcial de todas as armas.
Art. 20. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, exceto o art. 10, que entra em vigor após o transcurso do prazo de que trata o art. 5° .
Art. 21. Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 20 de fevereiro de 1997; 176º da Independência e 109º da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSONelson A. JobimZenildo de Lucena
LEI No 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003.
Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS
Art. 1o O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.
Art. 2o Ao Sinarm compete:
I – identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro;
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia Federal;
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores;
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V – identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo;
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições;
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante;
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro atualizado para consulta.
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios.
CAPÍTULO II
DO REGISTRO
Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei.
Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:
I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa;
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo.
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§ 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem vendidas.
§ 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas somente será efetivada mediante autorização do Sinarm.
§ 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento do interessado.
§ 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo.
§ 8o Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas características daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004)
§ 1o O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.
§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo.
§ 3o O proprietário de arma de fogo com certificados de registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o
desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)
§ 4o Para fins do cumprimento do disposto no § 3o deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na rede mundial de computadores - internet, na forma do regulamento e obedecidos os procedimentos a seguir: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
I - emissão de certificado de registro provisório pela internet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
II - revalidação pela unidade do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro provisório pelo prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva do certificado de registro de propriedade. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
CAPÍTULO III
DO PORTE
Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para:
I – os integrantes das Forças Armadas;
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II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal;
III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei;
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004)
V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias;
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei;
IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1o-A (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 2o A autorização para o porte de arma de fogo aos integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está condicionada à comprovação do requisito a que se refere o inciso III do caput do art. 4o desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Comando do Exército. (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004)
§ 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei.
§ 5o Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco) anos que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou 2 (dois) canos, de
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alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes documentos: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
I - documento de identificação pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
II - comprovante de residência em área rural; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
III - atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 6o O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma de fogo, independentemente de outras tipificações penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 7o Aos integrantes das guardas municipais dos Municípios que integram regiões metropolitanas será autorizado porte de arma de fogo, quando em serviço. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 7o As armas de fogo utilizadas pelos empregados das empresas de segurança privada e de transporte de valores, constituídas na forma da lei, serão de propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da empresa.
§ 1o O proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança privada e de transporte de valores responderá pelo crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta Lei, sem prejuízo das demais sanções administrativas e civis, se deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato.
§ 2o A empresa de segurança e de transporte de valores deverá apresentar documentação comprobatória do preenchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei quanto aos empregados que portarão arma de fogo.
§ 3o A listagem dos empregados das empresas referidas neste artigo deverá ser atualizada semestralmente junto ao Sinarm.
Art. 8o As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas legalmente constituídas devem obedecer às condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei.
Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para os responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e de representantes estrangeiros em competição internacional oficial de tiro realizada no território nacional.
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm.
§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;
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II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente.
§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.
Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valores constantes do Anexo desta Lei, pela prestação de serviços relativos:
I – ao registro de arma de fogo;
II – à renovação de registro de arma de fogo;
III – à expedição de segunda via de registro de arma de fogo;
IV – à expedição de porte federal de arma de fogo;
V – à renovação de porte de arma de fogo;
VI – à expedição de segunda via de porte federal de arma de fogo.
§ 1o Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e à manutenção das atividades do Sinarm, da Polícia Federal e do Comando do Exército, no âmbito de suas respectivas responsabilidades.
§ 2o São isentas do pagamento das taxas previstas neste artigo as pessoas e as instituições a que se referem os incisos I a VII e X e o § 5o do art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma e as condições do credenciamento de profissionais pela Polícia Federal para comprovação da aptidão psicológica e da capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1o Na comprovação da aptidão psicológica, o valor cobrado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor médio dos honorários profissionais para realização de avaliação psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho Federal de Psicologia. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 2o Na comprovação da capacidade técnica, o valor cobrado pelo instrutor de armamento e tiro não poderá exceder R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da munição. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3o A cobrança de valores superiores aos previstos nos §§ 1o e 2o deste artigo implicará o descredenciamento do profissional pela Polícia Federal. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
CAPÍTULO IV
DOS CRIMES E DAS PENAS
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
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Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Omissão de cautela
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
Disparo de arma de fogo
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1)
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
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IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
Comércio ilegal de arma de fogo
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.
Tráfico internacional de arma de fogo
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei.
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1)
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convênios com os Estados e o Distrito Federal para o cumprimento do disposto nesta Lei.
Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como a definição das armas de fogo e demais produtos controlados, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1o Todas as munições comercializadas no País deverão estar acondicionadas em embalagens com sistema de código de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a identificação do fabricante e do adquirente, entre outras informações definidas pelo regulamento desta Lei.
§ 2o Para os órgãos referidos no art. 6o, somente serão expedidas autorizações de compra de munição com identificação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na forma do regulamento desta Lei.
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§ 3o As armas de fogo fabricadas a partir de 1 (um) ano da data de publicação desta Lei conterão dispositivo intrínseco de segurança e de identificação, gravado no corpo da arma, definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos previstos no art. 6o.
§ 4o As instituições de ensino policial e as guardas municipais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6o desta Lei e no seu § 7o poderão adquirir insumos e máquinas de recarga de munição para o fim exclusivo de suprimento de suas atividades, mediante autorização concedida nos termos definidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção, exportação, importação, desembaraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores.
Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1o As armas de fogo encaminhadas ao Comando do Exército que receberem parecer favorável à doação, obedecidos o padrão e a dotação de cada Força Armada ou órgão de segurança pública, atendidos os critérios de prioridade estabelecidos pelo Ministério da Justiça e ouvido o Comando do Exército, serão arroladas em relatório reservado trimestral a ser encaminhado àquelas instituições, abrindo-se-lhes prazo para manifestação de interesse. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 2o O Comando do Exército encaminhará a relação das armas a serem doadas ao juiz competente, que determinará o seu perdimento em favor da instituição beneficiada. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 3o O transporte das armas de fogo doadas será de responsabilidade da instituição beneficiada, que procederá ao seu cadastramento no Sinarm ou no Sigma. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 5o O Poder Judiciário instituirá instrumentos para o encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, conforme se trate de arma de uso permitido ou de uso restrito, semestralmente, da relação de armas acauteladas em juízo, mencionando suas características e o local onde se encontram. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército.
Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às aquisições dos Comandos Militares.
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
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Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação desta Lei. (Vide Lei nº 10.884, de 2004)
Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo de validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la, perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4o, 6o e 10 desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publicação, sem ônus para o requerente.
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4 o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)
Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na forma do § 4o do art. 5o desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei.
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme especificar o regulamento desta Lei:
I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou lacustre que deliberadamente, por qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o transporte de arma ou munição sem a devida autorização ou com inobservância das normas de segurança;
II – à empresa de produção ou comércio de armamentos que realize publicidade para venda, estimulando o uso indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações especializadas.
Art. 34. Os promotores de eventos em locais fechados, com aglomeração superior a 1000 (um mil) pessoas, adotarão, sob pena de responsabilidade, as providências necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição Federal.
Parágrafo único. As empresas responsáveis pela prestação dos serviços de transporte internacional e interestadual de passageiros adotarão as providências necessárias para evitar o embarque de passageiros armados.
CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei.
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§ 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.
§ 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Art. 36. É revogada a Lei n o 9.437, de 20 de fevereiro de 1997.
Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVAMárcio Thomaz BastosJosé Viegas FilhoMarina Silva
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Provisória nº 417/08. A ressurreição da "vacatio legis" indireta. Jus Navigandi,
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FERNANDES, Rubem César. Brasil: as armas e as vítimas. Rio de Janeiro: 7
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JESUS, Damásio E. de. Direito Penal do desarmamento: anotações à parte
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PIRES, Diego Bruno de Souza. Estudo comparativo do estatuto do
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SILVA, César Dario Mariano da. Estatuto do desarmamento: de caordo com a
lei 10.826. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
ANÁLISE HISTÓRICA DO CONTROLE DE ARMAS 10DE FOGO PELO ESTADO
1.1 – A legislação na Era Vargas 10
1.2 – A Lei das Contravenções Penais 11
1.3 – A legislação no Regime Militar 12
1.3.1 – Regulamentação do Registro de Armas 14
1.4 – A legislação no Brasil contemporâneo 15
1.4.1 – A Lei 9.437/97 15
1.4.2 – A Lei 10.826/03 19
CAPÍTULO II
ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES IMPOSTAS PELO 25ESTATUTO DO DESARMAMENTO
2.1 – Do Sistema Nacional de Armas (SINARM) 25
2.1.1 – Na vigência da Lei 9.437/97 26
2.1.2 – Na vigência da Lei 10.826/03 27
2.2 – Do registro de armas 30
2.2.1 – Na vigência da Lei 9.437/97 31
2.2.2 – Na vigência da Lei 10.826/03 33
74
2.3 – Do porte de arma 38
2.3.1 – Na vigência da Lei 9.437/97 38
2..3.2 – Na vigência da Lei 10.826/03 41
2.4 – Dos crimes em espécie 43
2.4.1 – Na vigência da Lei 9.437/97 43
2.4.2 – Na vigência da Lei 10.826/03 45
CAPÍTULO III
ASPECTOS CONTROVERSOS DO 47ESTATUTO DO DESARMAMENTO
3.1 – Da vacância da Lei 10.826/03 47
CONCLUSÃO 52
ANEXOS 54
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 71
ÍNDICE 72
75
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
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