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Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total

responsabilidade de seu(s) autor(es).

TÍTULO: ESTÁGIOS DE PSICOLOGIA COM IDOSOS: PROPOSTA DE AÇÕES

NA SAÚDE

AUTORES: CARVALHO, ANDRÉIA GOBATO; GAIARSA, RAFAEL

BELINKY; LOPES, RUTH GELEHRTER DA COSTA; MANO, ANA LUIZA

MOREIRA; PAES, MARINA SALLES TAVARES.

Propomo-nos a compartilhar com a comunidade científica quatro estágios que

ocorreram no primeiro semestre de dois mil e nove, realizados por alunos do sétimo

período da Faculdade de Psicologia da PUC-SP.

O objetivo dos estágios é de ampliar a escuta clínica para além dos

consultórios, através de trabalho grupal, em locais frequentados por idosos. Pensar

nesta proposta de promoção de saúde incita-nos a considerar como conceito chave a

ideia de saúde, como um fenômeno multideterminado construído a partir do social.

No momento em que atuamos em prol da conquista de maior autonomia por parte das

próprias pessoas nos aspectos relativos à saúde em seu processo de envelhecimento,

focamos ações objetivando a promoção de saúde.

Desta forma, nosso estágio não se foca na prevenção, pois não nos

restringimos às formas concretas de intervenção, orientadas a evitar o surgimento de

doenças específicas, mas nos focamos em ações que mobilizem outras questões além

da doença no sentido biológico, tentando promover uma leitura sintetizadora e

organizativa do bio-psico e social.

1.1 A VELHICE:

Estima-se que o Brasil será um dos países que possuirão uma das maiores

populações idosas do mundo, segundo dados referidos pelo IBGE. As famílias

diminuíram e hoje em dia os casais optam por ter entre um e dois filhos em média. A

taxa de fecundidade é o fator que mais influencia a taxa de crescimento populacional

de um país, juntamente com a taxa de mortalidade e a migração. Estima-se que em

2050 seremos 290 milhões de habitantes e uma grande parcela da população estará

concentrada entre 45 e 70 anos. Com o aumento da expectativa de vida também será

observada uma expansão da população entre 70 e 85 anos.

Será que estamos preparados para lidar com esta imensa população idosa de

forma adequada? É possível perceber alguns avanços, mesmo que ainda tímidos,

frente aos desafios futuros na direção de fomentar a criação de políticas públicas

concentradas nas necessidades de inclusão dos idosos na sociedade e do

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desenvolvimento de estudos científicos em áreas como a gerontologia e a

psicogerontologia.

Desta forma, fica evidente como o discurso de desvalorização do idoso

realizado pela sociedade contemporânea pode penetrar e ressoar no envelhecer dos

indivíduos, provocando um impacto em seu psiquismo. Lopes (2003) explicita o

efeito do discurso social no conhecimento do si mesmo, afirmando que as

representações que se movem da sociedade para com o idoso desestabilizam-no como

sujeito. Este é muitas vezes visto como problema, ou favorecido, gozando privilégios

e não direitos. Dessa forma, o lugar socialmente atribuído ao velho é o da exclusão

social, ou do “não-lugar”.

A velhice, segundo Mucida (2004), teria então dois sentidos diferentes: uma

categoria social e para cada indivíduo um destino singular.

Na sociedade contemporânea a valorização da beleza é premente. A

responsabilidade em manter o corpo afastado do estado de decrepitude e fragilidade é

atribuída única e exclusivamente ao indivíduo. Estes valores renegam o conflito da

finitude a qualquer preço, ficando difícil entrar em contato com as limitações,

advindas das mudanças físicas.

Ainda segundo Lopes (2003), a proposta de atividades de idosos com grupos

de iguais possibilita aos indivíduos continuarem senhores dos seus desejos individuais

sem sucumbirem à proposta de aderir ao padrão que valoriza apenas a juventude como

modelo. A idéia não é segregar, mas ampliar as possibilidades do sujeito ser na

velhice. Retomando a autora imediatamente citada acima, em nossa sociedade as

exigências profissionais dificultam o convívio social, pois estas estão cada vez mais

ocupando um espaço importante na vida das pessoas. Há uma tendência do indivíduo

a se isolar, perdendo os contatos significativos, na maioria das vezes, pelo

investimento no desenvolvimento de uma vida familiar.

As contradições sociais adquirem certo sentido para cada segmento etário.

Mudanças específicas que ocorrem na terceira idade como na vida profissional (a

aposentadoria), saída de familiares da residência e morte de pessoas próximas expõem

os mais velhos a situações de vida nada usuais até então. Conforme as condições

econômicas de cada indivíduo a situação pode ser ainda agravada, se tornando mais

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ou menos desestruturante. É importante, deste modo, considerar a miséria afetiva que

acarreta o isolamento do segmento da terceira idade como importante elemento que

fragiliza a saúde. Resgatar a sensação de pertencimento implica ultrapassar as

representações primordialmente negativas atribuídas à velhice.

1.2 OPÇÃO POR ATUAR COM GRUPOS:

O grupo constitui a identidade, uma vez que para um indivíduo ser “alguém”

ele deve primeiro identificar-se com o “outro”. Os grupos se formam para satisfazer

desejos inconscientes e o que conscientemente os mantém é o afeto que surge entre os

membros e a importância dada aos objetivos comuns. Surge, a partir da introjeção, da

projeção e da identificação, uma rede de papéis. Os mais comuns são o de líder, o de

sabotador, o de bode expiatório, o de porta-voz e o de cooperador.

A dinâmica grupal se dá através da atuação diante dos acontecimentos, de

acordo com o papel que cada individuo ocupa. Se a estrutura do grupo não for tão

rígida, ele correrá menos risco de ficar na ineficiência/estereotipia. Quanto a metas ou

finalidades, as tarefas do grupo são divididas de acordo com o objetivo comum

estabelecido. Para atingir as metas o grupo distribui funções, adota técnicas, promove

a colaboração entre os participantes, etc. Os objetivos inconscientes do grupo

elaboram a rede de papéis que vai facilitar ou dificultar a realização da empreitada.

O indivíduo que emite mais mensagens geralmente ocupa lugar mais central

no grupo. Logo, o sistema de comunicação expõe a configuração da rede de papéis do

grupo e de acordo com o conteúdo do que é dito pode-se saber o papel que cada um

ocupa. Todos os indivíduos, mesmo antes de estarem num grupo, trazem consigo

regras e valores sociais internalizados. Aos poucos estas questões entram em

“sintonia” e o grupo pode finalmente configurar sua “cultura”, independente da

história anterior dos membros. A partir da definição de uma unidade grupal, o grupo

prepara um plano próprio de introdução no mundo, agora na condição de grupo-

sujeito.

2.1 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO:

Através de estágios realizados nestes locais (Instituições de Longa

Permanência, Centros de Convivência, Organizações de Apoio às Reivindicações dos

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Idosos, Associações Religiosas), os alunos foram incentivados a identificar as

demandas na velhice e a refletir sobre a promoção de saúde.

O estagiário/profissional deveria estar sempre atento à demanda do grupo. A

atenção é especialmente importante em um grupo de terceira idade, pois alguns dos

integrantes podem ter mais dificuldades para se comunicar do que outros. É claro que

isso também significa estudar e saber o suficiente sobre o assunto para ser capaz de

entender a demanda, mesmo porque frequentemente nenhum dos integrantes dirá

diretamente o que precisa, e cabe ao psicólogo a capacidade de interpretar a situação –

a necessidade individual é ao mesmo tempo a necessidade coletiva. Desta forma, o

grupo não é uma resposta para todos os problemas da área da saúde, mas sim um

instrumento importante na construção das possibilidades de atendimento. Uma vez

que a demanda é identificada, pode-se proceder à pré-análise e à escolha do “foco” e

dos possíveis “temas geradores”.

A pré-análise consiste no levantamento de dados e aspectos importantes das

questões que serão trabalhadas, tais como dados de saúde, cuidados

físicos/emocionais, mudanças de rotina na vida do integrante e de seus familiares,

auto-cuidado e outros. Ao longo da pré-análise o profissional se prepara para a função

de coordenador.

O foco é basicamente o tema geral, e é importante para que o/os

coordenador(es) possam fazer um adequado trabalho com o grupo e conduzir a oficina

de maneira equilibrada em seus vários momentos. Em torno do foco são determinados

os temas-geradores, que geram no grupo motivação, relações do conteúdos de suas

vidas, conhecimento sobre preconceitos, crenças e representações, dúvidas e questões,

emoções relacionadas ao cuidado com a saúde, necessidade de informação e outras

coisas. Portanto, o foco é determinado pelo núcleo.

Os temas-geradores destacam aspectos do foco a fim de mobilizar o grupo.

Apenas um tema-gerador é destacado para cada encontro. É possível alongar um tema

por mais de um encontro, especialmente se for detectado que o tema gerou muito

interesse no grupo. Vale lembrar que os temas-geradores servem apenas para motivar

o grupo, a fim de prosseguir com a investigação de sentimentos e fazer associações.

Cabem algumas observações:

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a) Usar linguagem clara e terminologia que seja bem acolhida pelo grupo para definir

o tema;

b) Abordar inicialmente temas mais gerais e que despertem menos ansiedade;

c) Quando o grupo foge ao tema, o coordenador deve estar atento para associar o

assunto alternativo ao tema trazido;

d) Os temas-geradores devem ser relacionados ao cotidiano do grupo;

e) O coordenador deve estar atento para perceber se o tema é de interesse do grupo ou

se atende à sua demanda.

Os temas-geradores são escolhidos conforme as supervisões acontecem, com

auxílio do grupo e da supervisora. Uma vez que os temas-geradores e o foco estejam

estabelecidos, deve-se eleger um “enquadre”. O enquadre consiste na estrutura da

oficina no que se refere ao número de participantes, de encontros, e outros detalhes

que contribuem para organizar o trabalho. Ele deve ser escolhido em função do tema,

a fim de facilitar a interação entre os participantes, a troca de experiências, a

disponibilidade de tempo, a relação com o coordenador, a privacidade do encontro e

os limites institucionais para a proposta de trabalho. Nosso enquadre foi de treze

encontros, grupo fechado de sete pessoas, contrato quanto à frequência e ao sigilo, os

encontros seriam feitos em uma sala fechada, também foram realizados relatórios

finais para a PUC-SP e para a instituição. Cada dupla teve um contato dentro da

instituição para facilitar o intercâmbio de informação. O planejamento flexível das

atividades ofereceu maior possibilidade criativa e ocorreu passo a passo ao longo dos

encontros, pois isto possibilita que um coordenador menos experiente conduza a

oficina com ajuda de um supervisor.

2.2 LOCAIS DOS ESTÁGIOS:

AMAS: Rua Deputado Lacerda Franco, no 318 – Pinheiros – São Paulo – SP

A Igreja Metodista de Pinheiros desenvolve um trabalho social com pessoas da

terceira idade através do Projeto Samuel Rangel. Desde 1998, esse projeto procura

propiciar às pessoas um espaço de integração na comunidade e na família, de

crescimento pessoal, de liberdade de expressão, de desenvolvimento do

conhecimento, da criatividade e da cidadania. Para participar é necessário ter mais de

45 anos, residir na região, ter interesse em adquirir novos conhecimentos e ter

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condições de se locomover até o local dos encontros. São oferecidas gratuitamente as

seguintes atividades: pintura, crochê, tricô, alongamento, trabalho de corpo e voz,

passeios, reparos elétricos, horta, orientação psicológica, social, jurídica e de saúde.

Segundo Edima Donnabella, coordenadora do projeto, “a participação é um canal para

reivindicações da Terceira Idade e o exercício pleno da cidadania”. O Projeto “Samuel

Rangel” tem o apoio da Prefeitura do Município de São Paulo, que oferece uma verba

mensal para cobrir os gastos alimentares, com material de consumo e didático, com as

atividades de lazer e a contratação de uma Assistente Social. A Igreja Metodista de

Pinheiros oferece ao projeto suas instalações e é responsável pela manutenção do

espaço e outras despesas eventuais.

CRECI: Rua Formosa, no 215 – Vale do Anhangabaú – São Paulo – SP

O espaço do CRECI é imenso: 1700m² em uma área nobre de fácil acesso, ponto

central de convergência de bairros periféricos. Seu espaço interno permite atenções

individuais, encontros de pequenos e grandes grupos. Tem um grande e um pequeno

auditório que permitem a apresentação de grupos teatrais, corais e atividades de

expressões corporais como yoga e danças. Tem um telecentro, que cuida dos

primeiros contatos dos idosos com a informática. Tem uma sala de leitura e pequena

biblioteca em parceria com a Biblioteca Municipal Mário de Andrade. Tem sala de

jogos. Para acompanhamentos jurídicos de questões referentes a idosos, há um plantão

permanente de membros do Grande Conselho do Idoso. E espaços de descanso com

poltronas confortáveis que convidam a troca de informações e papos informais,

leituras do jornal do dia. Banheiros rigorosamente limpos, atendem também a

deficientes físicos. Uma lanchonete simples e simpática cuida da "fome" dos

frequentadores e completa a estrutura de atendimento do local. Bem planejado, sob a

supervisão de especialista, disponibiliza as seguintes oficinas regularmente: yoga,

canto e coral, atividades físicas para idosos, xadrez, contos, violão, dança afro mix e

introdução às técnicas teatrais.

RESIDENCIAL LAR SANTANA: Rua Bernarda Luiz, no 129 – Alto de Pinheiros –

São Paulo – SP

O Lar Sant'Ana é um residencial para terceira idade, fundado há 35 anos. O

residencial é um novo conceito de moradia e convivência para a terceira idade que

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preza pelo desenvolvimento do idoso, pela qualidade de vida, liberdade, bem estar

com o cuidado diário e estimula seu convívio social. Com uma equipe multidisciplinar

de alto nível composta por: médicos, enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas,

fonoaudiólogas, terapeuta ocupacional, psicóloga gerontóloga, o Lar Sant'Ana garante

um atendimento individualizado, carinhoso e profissional. Além disso, conta com

oficinas terapêuticas e um grande número de atividades diárias, num ambiente alegre

e aconchegante. O Lar Sant’Ana é uma das seis unidades provedoras da Liga

Solidária, organização social sem fins lucrativos que atende 3.200 crianças, jovens e

adultos em situação de risco social. Por ser uma unidade provedora toda a renda

obtida por meio dos serviços oferecidos é integralmente aplicada nos programas

socioeducativos, que englobam centros de educação infantil, programa de qualificação

profissional, nutrição, abrigo e inclusão social.

MOPI: Rua Germaine Burchard, no 344 – Perdizes – São Paulo – SP

O MOPI – Movimento Pró-idosos foi fundado em 1975, a partir da necessidade de se

lutar por leis e iniciativas sociais, em benefício dos idosos. Seus projetos concorrem

para a construção e o fortalecimento de vínculos interpessoais, familiares e

societários, favorecendo o processo de envelhecimento ativo e saudável. Como uma

organização não governamental, sem fins lucrativos, o local é mantido por

contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas, contando também com um

convênio com a Secretaria de Assistência Social - SAS, da Prefeitura do Município de

São Paulo. Desde 1988 passou a ser dirigido por rotarianos, do Rotary Club de São

Paulo. O MOPI oferece diferentes atividades como oficinas de artesanato, trabalho

corporal (ginástica chinesa, auto-massagem, yoga e alongamento), alfabetização de

idosos, canto-coral; danças, grupo de vivência (terapêutico), informática básica e o

grupo de reflexão sobre o processo de envelhecimento, realizado pelos estagiários de

Psicologia da PUC-SP. Como oferta de convívio, são disponibilizados serviços como

a biblioteca, jogos de salão, eventos, passeios e chás-dançantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A heterogeneidade do viver/envelhecer, assim como a individualização do

processo de envelhecimento encontraram ressonância nos trabalhos de reflexão

desenvolvidos nas Instituições de Longa Permanência, Centros de Convivência,

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Organizações de Apoio às Reivindicações dos Idosos e Associações Religiosas. Na

medida em que pesem as implicações físicas, sociais e psicoafetivas do

envelhecimento, a busca é por soluções que possam proporcionar um bem-estar. Num

primeiro momento, essa procura apareceu relacionada à expectativa de ampliação da

rede de relações em atividades com grupos de idosos. Porém na questão central estão

as buscas por um apoio social que vai repercutir no bem-estar e no sentido para a vida

nesta etapa do ciclo vital. Algumas residências para terceira idade e os espaços de

convivência procuram de certa forma abarcar estes aspectos através das atividades

desenvolvidas dentro e fora do âmbito institucional.

Segundo Lopes (2003) a proposta de atividades de idosos com grupos de

iguais possibilita aos indivíduos continuarem senhores dos seus desejos individuais

sem sucumbirem à sugestão de aderir ao padrão que valoriza apenas a juventude como

modelo. A idéia não é segregar, mas ampliar as possibilidades do sujeito ser na

velhice.

Refletindo sobre as atividades desenvolvidas, há, então, dois aspectos a serem

considerados: em primeiro lugar a percepção sobre o tipo de apoio recebido nestes

encontros demonstrou que essa ajuda é do tipo emocional, no sentido em que os

idosos declararam-se acolhidos; em segundo lugar, no momento em que encontraram

o apoio, o acolhimento e, principalmente, a possibilidade de contar com alguém que

os respeita e ouve, isto proporcionou bem-estar e suavizou os sentimentos de solidão,

isolamento e as queixas de sintomas físicos, ao mesmo tempo em que aumentou os

sentimentos de pertencimento e acolhimento.

A partir da reflexão conjunta, os idosos têm a oportunidade de rever conceitos,

possibilitando novas atitudes frente à situações vividas no tempo presente. A

convivência com seus pares lhes dá a oportunidade de compartilharem vivências,

identificarem-se, enfrentarem questões e permitirem ações atuais e futuras, assim

como elaborarem o já vivido. A atuação dos estagiários de psicologia propicia

identificação das demandas populacionais, bem como o reconhecimento dos limites

encontrados nos serviços realizados em instituições. Os estagiários têm a

oportunidade de construir um posicionamento crítico com relação à velhice e ao

envelhecimento, compreendendo a complexidade do processo saúde-doença nesta

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faixa etária.

Os participantes, na medida em que se inseriam no processo de convivência

em grupo, acabaram expressando suas vivências cotidianas, seus problemas e

necessidades – o que deve ser relevante para a formação do espírito de cooperação,

apoio mútuo, solidariedade e pertencimento. Nos grupos é trabalhada a autoestima,

podendo surgir, assim, sentimentos positivos pela satisfação de ver a possibilidade de

controle das situações mais difíceis.

As atividades propõem uma melhoria na saúde, por procurarem abarcar as

dimensões subjetiva e existencial do idoso. Nos momentos de fragilidade, o encontro

com o grupo permite, por meio da circulação da palavra, a expressão de sentimentos

que podem ser elaborados em conjunto, favorecendo o caráter terapêutico da fala em

ambiente de acolhimento. Utilizando-se de trabalhos desta natureza, as Instituições

voltadas para os idosos abrem espaços para que sejam ouvidas e compreendidas as

suas demandas.

REFERÊNCIAS:

LOPES, R. G. C. (2003) Diversidade na velhice – reflexões. Revista Serviço Social &

Sociedade. São Paulo – Nº 75 ano XXIV , São Paulo, Cortez.

MUCIDA, A. (2004) “O sujeito não envelhece – Psicanálise e velhice”, Belo

Horizonte, Autêntica.


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