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8/14/2019 Ergonomia Na Auditoria Fiscal
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Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
1. Histrico da Ergonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
2. Histrico da NR 17 e Comentrios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3. Noes Fundamentais de Estudo Ergonmico do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . 39
4. Anlise Ergonmica do Trabalho sob a tica da Fiscalizao . . . . . . . . . . . . 50
ANEXO I - O Corte Manual da Cana-de-acar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
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AA PP RR EE SS EE NN TT AA OO
Lys Esther Rocha
Auditora Fiscal do Trabalho
Mdica do Trabalho DRT/SP
A elaborao desta apostila teve como objetivo subsidiar as reunies de
treinamento sobre a Aplicao Prtica da Norma Regulamentadora NR 17-Ergonomia para
auditores fiscais do trabalho, em sade e segurana no trabalho, e fornecer material de
consulta para o exerccio de suas atividades.
Neste sentido buscou-se reunir documentos de diferentes reas e "correntes"
da ergonomia, sem uma discusso aprofundada de cada uma. Esta opo baseou-se no prin-
cpio de que deveria ser fornecido o maior volume de informaes aos auditores e que du-
rante o curso os principais aspectos seriam debatidos.
No volume I esto contidos Histrico da Ergonomia, Histrico da NR 17 eComentrios, Noes Fundamentais de Estudo Ergonmico do Trabalho com uma Experi-
ncia de Fiscalizao, e um anexo sobre O Corte Manual da Cana-de-acar. Aqui so defi-
nidos o processo e as fases de uma interveno nas empresas, assim como situaes prticas
referentes colheita de cana-de-acar.
Do segundo volume, constam dados sobre os Distrbios Osteomusculares re-
lacionados ao trabalho, selecionados porque representam a doena do trabalho de maior no-
tificao junto Previdncia Social, alm de Lombalgia, Fadiga, Autropometria, Biomec-
nica, Concepo de Posto de Trabalho, assim como Ferramentas e Monitores de Vdeo, pela
larga utilizao destes equipamentos.
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Esclarecemos que o engenheiro Cludio Cezar Peres traduziu e adaptou para o
portugus o documento Pantallas de Visualizacion, elaborado pelo INSHT Instituto Na-
cional de Seguridad y Higiene en el Trabajo, da Espanha.
Os captulos do Volume I foram preparados por Maria Cristina Gonzaga, pes-
quisadora da Fundacentro, Carlos Alberto Diniz Silva, ex-auditor fiscal do trabalho da
DRT/SP, Lvia Santos Arueira, auditora fiscal do trabalho da DRT/RJ e Paulo Antonio Bar-
ros Oliveira, auditor fiscal do trabalho da DRT/RS, cada um deles com suas prprias refe-
rncias bibliogrficas.
Os textos do volume II foram preparados pelos auditores fiscais do trabalho
Rosemary Dutra Leo, da DRT/SC e Cludio Cezar Peres, da DRT/RS, que, em seu final,
relacionaram referncias bibliogrficas nacionais e estrangeiras que devem ser consultadas
para o aprofundamento no tema.
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1. H i s t r i c o d a E r g o n o m i a
Carlos Alberto Diniz Silva
Mdico do Trabalho e ErgonomistaEx-agente de inspeo do MTE
A ergonomia nasce da constatao de que o Homem no uma mquina como
as outras, diferentemente do que props Descartes e La Mettrie no sculo XVII pois:
BBBB ele no um dispositivo mecnico;
BBBB ele no transforma energia como uma mquina a vapor;
BBBB
seu olho no funciona como uma clula fotoeltrica;BBBB seu ouvido no sensvel aos sons apenas como um microfone e um am-
plificador;
BBBB sua memria no funciona como a de um computador;
BBBB os riscos a que est submetido no trabalho no so anlogos aos de um
dispositivo tcnico, apesar de termos anlogos aplicados ao Homem e
mquina: fadiga, desgaste, envelhecimento, polias, vlvulas, juntas, bom-
bas, tubos.
E quando que se comeou a pensar que o homem era uma mquina como as
outras? At o sculo XV o homem, na tradio crist, ocupava o centro do universo. Tinha
sido criado imagem e semelhana de Deus e seu corpo sempre foi objeto de respeito. A
dissecao de cadveres era rigorosamente proibida pela Igreja Catlica. Todo o restante do
universo tinha sido criado especificamente para seu uso e gozo.
Com a demonstrao, por Galileu, de que a terra no era mais o centro do uni-
verso, a verdade revelada perde sua importncia. Um intenso ceticismo toma conta de todos
os pensadores pois tinha ficado patente que os nossos sentidos podem nos enganar. Afinal,
nossos sentidos sempre nos indicaram de que era o sol que se movia ao redor da terra. E
nem mesmo a nossa razo foi capaz de corrigir este erro. Logo, lana-se uma dvida sobre
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os sentidos e a razo. Descartes leva esta dvida a extremos: doravante tudo tem que ser
submetido a uma verificao j que estava perdida a f na tradio.
Se por um lado o homem sofre um intenso golpe no seu narcisismo, por outro
isto permite que seu corpo seja estudado como um objeto qualquer como os vrios outros
que compem a natureza s que animado por uma alma.
Com o desenvolvimento de engenhos mecnicos que se propem a ajudar os
homens no seu trabalho, quase inevitvel que o funcionamento do corpo humano seja es-
tudado do ponto de vista mecnico e mais tarde o modelo da mquina a vapor torna-se o
paradigma predominante. O homem concebido como um engenho mecnico transforma-
dor de energia.
Se Descartes propunha explicar o homem como uma mquina animada por
uma alma, mais tarde La Mettrie (um ateu convicto) faz um esforo grandioso e se prope a
explic-lo mesmo sem o recurso a uma alma.
Dentro da Ergonomia h duas correntes:
BBBB a corrente produtivista que procura a adaptao dos meios de trabalho ao
homem; e
BBBB a corrente higienista mais interessada no conhecimento dos riscos e elimi-
nao de suas causas.
Antes da 2 Guerra Mundial, sempre houve os que procuravam adaptar os
meios de trabalho ao homem:
BBBB os prprios usurios: desde a pr-histria havia uma busca incessante por
instrumentos que pudessem melhorar o desempenho humano, como os
machados de pedra, os estiletes etc.;
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BBBB os mdicos e os higienistas: interessados nas conseqncias do trabalho
sobre a sade;
BBBB os engenheiros e organizadores do trabalho cuja questo central era: qual a
quantidade de trabalho mecnico que se pode esperar de um homem?
J os pesquisadores de laboratrios se dividiam em :
BBBB fsicos e fisiologistas que tentavam medir o custo energtico do trabalho, o
rendimento etc.
BBBB psiclogos mais interessados na avaliao das capacidades e aptides sen-
soriomotoras e cognitivas, porm visando uma seleo. O objetivo era en-
contrar um homem certo para uma condio de trabalho previamente esta-
belecida.
At o fim do sculo XVIII, privilegiava-se os estudos e pesquisas privilegia-
vam de campo. Depois passou-se aos estudos de laboratrio pois havia a pretenso de mai-
or rigor nas mensuraes pois a cincia nascente adotava o modelo matemtico como sendo
o mais correto. O universo havia sido geometrizado e matematizado.
OS ESTUDOS DOS MDICOS E HIGIENISTAS
Na Antigidade (Imprio Romano) j eram conhecidos os problemas na colu-
na nos carregadores de pedra, as clicas pelo chumbo nos mineiros e a intoxicao pelo
mercrio.
A Idade Mdia conheceu um grande interesse pelos fatores ambientais. Fato-
res como o calor, a umidade, as poeiras e os agentes txicos eram correlacionados com o
estado de sade. Os males do sedentarismo entre os tabelies tambm eram comentados.
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No Renascimento, Ramazzini estuda as doenas venreas nas parteiras, as l-
ceras de pernas e os desmaios nos mineiros provocados pelo calor, a ruptura de vasos na
garganta de cantores e os distrbios visuais nos ourives.
J no sculo XIX, Patissier se volta para o saturnismo e a silicose e insiste na
proteo individual. Preconiza o uso de bexigas animais para proteo respiratria e de
culos para proteo contra corpos estranhos. Ele recomenda aos ourives levantar a cabea
de vez em quando e olhar para o infinito como modo de evitar a fadiga visual. Tambm
preconiza proteo nos moinhos e concebe mquinas para diminuir o esforo fsico, como
as mquinas de lavar.
A marca deste perodo a de fraco desenvolvimento dos meios de mensurao
mas, em contrapartida, havia uma observao fina do trabalho e interrogatrio sobre doen-
as e atividade laboral. Ramazzini pede aos colegas para perguntar: Qual o trabalho do
paciente?
Em 1832, Villerm encarregado de elaborar um relatrio sobre as condies
de vida da classe operria. Ele vai a campo e estuda os postos de trabalho. Interessa-se pelos
horrios, salrios por produo, alojamento e alimentao. Estuda a mortalidade segundo as
classes sociais e profisses.
Villerm age, no plano tcnico, recomendando dispositivo de proteo de cor-
reias de transmisso. J no plano regulamentador e legislativo sua atuao vai se estende
proteo do trabalho infantil, limitando a idade para comear a trabalhar. Primeiro a 8 anos,
mais tarde a 12. A jornada de trabalho tambm fica reduzida a dez horas ao dia.
Ele tambm institui a reparao dos danos causados pelos acidentes de traba-
lho ao fazer promulgar a lei que garante a gratuidade do tratamento dos acidentados e tam-
bm que obriga os empregadores a indenizar monetariamente os que sofreram danos sua
integridade fsica.
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De suma importncia, a criao por Villerm da inspeo do trabalho entre
1874 e 1892.
At Villerm, o interesse era restrito insalubridade. Ele vai alm. Verifica
que o trabalho forado, as condies dos alojamentos, a qualidade da alimentao e o sal-
rio abaixo das necessidades reais exerciam grande influncia sobre o mau estado de sade.
Ou seja, em alguns casos a falta de alimentao e as ms condies de vida extraprofissional
eram mais responsveis pelo estado de sade que a nocividade derivada das condies de
trabalho propriamente ditas.
Assim, Villerm alarga o campo da patologia profissional e inclui nesta o
conceito de fadiga e envelhecimento precoce.
At 1851, todos compartilham das idias de Villerm. Depois, h uma ruptura:
os mdicos higienistas comeam a negar as influncias das condies de trabalho industrial
sobre a sade, baseados em argumentos estatsticos ingleses mal interpretados. Estes mos-
travam que a esperana de vida variava de acordo com a profisso mais que com o meio
ecolgico. O efeito do ambiente urbano era ilusrio: era devido concentrao urbana das
ms condies de trabalho. Os franceses se aproveitaram dos dados que indicavam maior
esperana de vida para os membros da sociedade de seguros composta, sobretudo, de pe-
quenos burgueses, empregados ou autnomos. Da, conclurem que a riqueza no determi-
nava a esperana de vida mas sim quando o ganho apenas do necessrio.
OS ENGENHEIROS, OS FSICOS E OS FISIOLOGISTAS
At o fim do sculo XIX, s se reconhece o trabalho fsico. O homem visto
como um sistema de transformao de energia e nenhuma importncia dada aos aspectos
cognitivos.
Vaucanson (metade do sculo XVIII) projeta autmatos que encanta, inclusi-
ve, os reis. Jacquard: aprimora os autmatos de Vaucanson, principalmente na indstria
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txtil onde trabalhou quando menino. Seu objetivo era suprimir os postos mais penosos.
Lavoisier (fim do sculo XVIII) faz estudos calorimtricos e metablicos, estabelecendo
relaes entre a alimentao ingerida e a quantidade de calor despendida. Marey o primei-
ro a fazer registro sistemticos dos movimentos humanos e descobre que a freqncia do
pulso cardaco aumenta quando se exerce um esforo fsico.
Portanto, at o incio do sculo XX, o trabalhador visto como um sistema
transformador de energia. Os riscos do trabalho so conhecidos mas as aes para limit-los
so modestas. Um exemplo disto o saturnismo. Esta patologia conhecida h 25 sculos
mas s em 1904 a proibio do carbonato de chumbo debatida no parlamento francs. Os
proprietrios de empresas de pintura dizem que os empregados se intoxicam por falta de uso
de EPI. Clemenceau, que era mdico, defende a proibio argumentando que impossvel
trabalhar evitando o contato com o chumbo. O decreto s proibia o contato da mo na massa
de pintura. Ora, analisando a atividade, Clemenceau constatou que os pintores tinham tinta
at abaixo dos punhos, regio no protegida pelas luvas. Logo, as luvas de cano curto no
protegiam eficazmente. O decreto proibia tambm o lixamento e o polimento a seco de su-
perfcies pintadas. Ora, lixamento e polimento por via mida sete vezes mais caro que pelo
mtodo a seco. Da, como obrigar os empresrios a utilizar o meio mais caro? Alm disso,
os inspetores do trabalho s podiam punir os empresrios se constatassem a operao no
momento em que era realizada. Testemunhos retrospectivos no valiam para lavrar a infra-
o. Logo, havia necessidade de um batalho de fiscais inspecionando toda obra em fase de
pintura.
O SCULO XX
Jules Amar e Frmont simulam atividades profissionais em laboratrio. Im-bert e Lahy fazem estudos de campo.
Jules Amar estuda, na Arglia, as aes da luz sobre os seres humanos. Pro-
testa contra a explorao sem limites da energia humana. Mas emite opinies racistas afir-
mando que os marroquinos eram mais rpidos e produtivos que os rabes. Ele redige o livro
O motor humano, obra em que faz contraponto a Taylor e seus Princpios de Organiza-
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o Cientfica do Trabalho. Ele defende uma filosofia baseada em um modo energtico: o
trabalho o exerccio de uma fora para vencer uma resistncia. E tem uma preocupao
produtivista com uma vertente social. Um exerccio indisciplinado acompanha-se de nume-
rosas contraes sem efeito o que faz aumentar a fadiga. A fadiga prejudicial sade indi-
vidual e coletividade.
Jules Amar age sobre as condies de trabalho. Ele prope que os baixinhos
sejam elevados at altura das mquinas. Posiciona instrumentos esquerda para os ca-
nhotos e preconiza temperaturas ambientais mais adequadas execuo das tarefas.
Atua tambm sobre a seleo de pessoal. Ele defende a seleo, porm, sem
eliminar ningum, diferentemente de Taylor. Na sua obra O motor humano, ele modera os
princpios da diviso do trabalho ao propor que deve haver coordenao entre todas as ins-
tncias e condena a diviso extrema das tarefas, principalmente, a concepo dos meios e da
organizao do trabalho divorciados da execuo. Como sabemos, este divrcio est na ori-
gem de toda a inadaptao industrial que at hoje ainda no conseguimos superar. Ele tam-
bm prope o rodzio para evitar o enfraquecimento das faculdades no utilizadas.
O melhor de Jules Amar que fez estudos muito precisos e bem analticos, le-
vando em conta a postura, os gestos, a velocidade dos gestos, as pausas como, por exemplo,
na tarefa de lixamento de metais. O que no o impediu de emitir opinies racistas.
Frmont interessa-se, sobretudo, pelas ferramentas. o primeiro a levar em
conta a variao interindividual, rejeitando, ento, os valores limites e os valores mdios. A
variao interindividual quer dizer que os indivduos so diferentes uns dos outros em suas
medidas antropomtricas, capacidades, comportamentos e funcionamento psquico. Logo,os limites para o trabalho humano to almejado pelos fisiologistas revelam-se impossveis
de serem estabelecidos pois o que seria aceitvel para um ser humano no o seria para o ou-
tro. Hoje sabemos bem da impossibilidade de os vrios segmentos corporais de um mesmo
indivduo estarem todos na medida mdia. Ou seja, se algum se situa na mdia de altura os
outros segmentos corporais no necessariamente estaro na mdia.
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Lahy interessa-se pela psicologia experimental. Ele estuda datilgrafos, con-
dutores de trem e linotipistas. Ele retoma as idias de Jules Amar sobre o desperdcio do
capital humano mas desemboca apenas na seleo de pessoal e na orientao vocacional.
Imbert faz estudos sobre a fadiga em catadores de mariscos e estivadores. Ele
observa que os catadores de mariscos para depositar sua carga preferem caminhar privilegi-
ando os locais em que a areia est mais compactada e no apenas caminhar em linha reta at
o ponto para descarga. Ou seja, numa linguagem mais moderna, eles adotam um modo ope-
ratrio que se revela menos fatigante. Faz tambm uma correlao entre freqncia de aci-
dentes em estivadores e quantidade de horas trabalhadas. Sua explicao a de que era a
fadiga a responsvel pelo aumento da freqncia.
Em resumo, este perodo marcado pela representao energtica do trabalho
humano e pelo desenvolvimento da experimentao em laboratrio e estudos de campo com
a pretenso de rigor cientfico. H tambm uma interveno nos problemas sociais e polti-
cos em nome da cincia. Porm, Jules Amar defende a melhoria da raa humana.
Em 1930 criado o INETOP (Instituto Nacional de Estudos do Trabalho e
Orientao Profissional). Este Instituto publica a revista O trabalho humano em 1933,
tendo como subttulo: conhecimento sobre o homem tendo em vista a utilizao judiciosa
de sua atividade. A revista tinha como campo de estudos a fisiologia e a psicologia na ten-
tativa de entender o funcionamento do motor humano.
Um artigo do primeiro nmero fala da seleo de pilotos de avio a partir de
critrios fisiolgicos e psicolgicos. Faz uma anlise da atividade a partir das aptides para
a percepo visual, para a ateno, para a resistncia s emoes. Mas continua com o enfo-
que seletivo e as contribuies para a modificao do trabalho so modestas.
Permanece assim at 1963 quando comea a publicar os primeiros trabalhos
de ergonomia: estudos do funcionamento do homem como o trabalho fsico, por exemplo. A
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perspectiva ainda a de estabelecimento de normas, de limites e de transformao dos mei-
os de trabalho.
Em 1963 criada a SELF (Sociedade de Ergonomia de Lngua Francesa).
O termo ergonomia havia sido cunhado em 1857 pelo polons Jastrzebowski
mas tinha cado em esquecimento. retomado em 1949 pelo ingls Murrel para reunir os
conhecimentos (psicolgicos e fisiolgicos) teis concepo dos meios de trabalho.
A Ergonomia Francesa comporta duas correntes. Uma experimentalista: prati-
cada por fisiologistas como Scherrer, Monod e Bouisset cujos resultados dos estudos de bi-
omecnica servem para contestar os sucessores de Taylor, tais como Gilbreth e Barnes. Es-
tes adotavam apenas o critrio tempo e faziam observaes em populaes muito restritas.
Scherrer, Monod e Bouisset opem a isso, os critrios energticos. Estes fazem tambm as
medies antropomtricas.
A outra corrente privilegia os estudos de campo. Seus representantes so Fa-
verge, Leplat, Wisner e Metz.
Trabalham na trilha aberta por Lahy e Pacaud, dois observadores atentos da
atividade profissional e que a descrevem em termos de comportamento. Estes dois pesqui-
sadores fizeram uma verdadeira revoluo na interpretao de resultados de testes em labo-
ratrio com condutores de trem. Havia um consenso de que medida que se envelhece as
respostas a testes de percepo visual tendiam a ser mais lentas, o que era interpretado como
sinal de enfraquecimento das funes cerebrais. Ora, estes pesquisadores verificaram que as
respostas mais lentas dos condutores mais velhos eram devidas precauo que tomavam
antes de decidir por uma ao, privilegiando a segurana. Durante sua vida profissional,
aprenderam que no podem dar partida no veculo apenas porque o semforo est verde.
preciso verificar antes se h pedestres em frente ao veculo, entre outras coisas. Uma pessoa
mais jovem toma decises mais rapidamente mas no necessariamente as mais acertadas e
seguras. Ou seja, um idoso experiente leva em conta vrios fatores antes de tomar uma deci-
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so mesmo quando se trata de acionar um pedal quando se acende uma luz verde em labo-
ratrio.
Faverge era matemtico. Ele comea estudando o valor preditivo dos testes
psicotcnicos. Depois, presta ateno atividade humana e fornece as primeiras bases para a
anlise ergonmica do trabalho. Muito humilde, ele dizia que No encontramos nada [de
novo]. Contentamo-nos de fazer aparecer o que estava na sombra. A principal contribuio
de Faverge foi a de descrever o trabalho humano em termos de comportamento, o que abriu
as portas para a transformao dos meios de trabalho e de formao. Seus antecessores des-
creviam o trabalho em termos de aptides e desembocavam sempre nos testes para seleo.
ORIENTAES DA ERGONOMIA FRANCESA
Como os estudos sobre a fadiga no foram capazes de desembocar em efetiva
melhoria das condies de trabalho, a ergonomia francofnica opta pela noo de carga de
trabalho. Privilegia os estudos de campo que enfocam a anlise global da atividade. Esta
categoria tem se revelado bastante eficaz na orientao das transformaes pois agora leva-
se em conta tambm as estratgias adotadas pelos trabalhadores na resoluo de problemas
colocados pelas exigncias contraditrias das tarefas. A anlise da atividade tambm apro-
xima os analistas dos reais problemas enfrentados no cotidiano. Esta abordagem distingue a
ergonomia francofnica da anglofnica ou dos Human Factors que decompe a atividade
profissional em elementos especficos estudados separadamente, tomando por critrio o de-
sempenho.
O Laboratrio de Fisiologia do Trabalho do Conservatrio Nacional de Artes e
Ofcios (CNAM) tem se pautado por:
BBBB realizar pesquisas oriundas de demandas sociais;
BBBB realizar pesquisas com estudos de campo;
BBBB privilegiar a anlise da atividade;
BBBB avaliar a carga de trabalho;
BBBB exigir a participao dos trabalhadores na pesquisa;
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BBBB colocar em evidncia a variabilidade da populao: A que homem o tra-
balho deve ser adaptado? o ttulo de uma de suas publicaes;
BBBB estudar o envelhecimento desfazendo antigos mitos;
BBBB estabelecer as conseqncias do trabalho sobre a sade;
BBBB ressaltar a importncia dos horrios de trabalho, como o trabalho em turnos
e suas repercusses sobre a sade;
BBBB evidenciar que os trabalhadores devem resolver problemas outros que
aqueles colocados pelos experimentadores em laboratrio;
BBBB contribuies para a concepo de novos meios de trabalho e no mera-
mente a correo dos j existentes.
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BB II BB LL II OO GG RR AA FF II AA
LAVILLE, Antoine. Histoire et gographie de lergonomie fraaise. Paris, 1988.(mmeo)
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2. H i s t r i c o d a N R 1 7
Carlos Alberto Diniz Silva
Mdico do Trabalho e ErgonomistaEx-agente de inspeo do MTE
Em 1987, diante dos numerosos casos de Leses por Esforos Repetitivos, os
diretores da rea de sade do Sindicato dos Empregados em Empresa de Processamento de
Dados no Estado de So Paulo fizeram contato com a DRT/SP buscando recursos para pre-
venir as referidas leses.
Foi constituda uma equipe composta de agentes fiscais do MTE (mdicos e
engenheiros) e representantes sindicais. Vrias empresas foram fiscalizadas e em todas foi
constatada a presena de fatores que sabidamente contribuam para o aparecimento das
L.E.R.: o pagamento de prmios de produo, a ausncia de pausas, a prtica de horas-
extras e a dupla jornada de trabalho, entre outros.
Exceto nos aspectos referentes ao iluminamento, ao rudo e temperatura, a
legislao em vigor no disponha de nenhuma norma regulamentadora em que se pudesse
apoiar para obrigar a mudanas na situao das empresas, notadamente a forma como era
organizada a produo, com todos os estmulos possveis acelerao da cadncia de tra-
balho.
A Associao de Profissionais de Processamento de Dados (APPD Nacional)havia elaborado um projeto de norma que estabelecia limites cadncia de trabalho e proi-
bia o pagamento de prmios de produtividade, bem como, estabelecia critrios de conforto
para os trabalhadores de sua base que incluam o mobilirio, a ambincia trmica, a ambin-
cia luminosa e o nvel de rudo. Este projeto foi encaminhado ento Secretaria de Segu-
rana e Medicina do Trabalho com o pedido de que fosse transformado em norma. Ele ficou
tramitando na Secretaria durante longo tempo pois o secretrio no concordava com a idia
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de se criar uma norma que abrangesse apenas o setor de processamento de dados. Se assim o
fizesse, argumentava, dentro em breve todos os setores produtivos reclamariam uma norma
especfica.
Em 1988 e 1989, O Ministrio do Trabalho convocou toda a sociedade civil
para que organizasse seminrios e debates onde se pudessem colher sugestes para a melho-
ria das Normas Regulamentadoras em geral. Nesses seminrios chegaram vrias sugestes
de alterao da NR-17 mas eram propostas de alteraes pontuais conservando a estrutura
geral da norma em vigor. No havia nenhuma proposta concreta que fosse ao mago da
questo: uma certa possibilidade de se controlar a cadncia e o ritmo do processo produtivo.
Em meados de 1989, a SSMT pediu equipe de fiscalizao das empresas de
processamento de dados da DRT/SP que elaborasse uma nova redao da NR-17 que inclu-
sse as sugestes coletadas, bem como, a proposta, j pronta, de regulamentao nas empre-
sas de processamento de dados enviada pela APPD Nacional. Foi dado um prazo de 10 dias
para a elaborao da proposta.
Embora no dispusesse de estudos sistemticos de ergonomia em outros seto-
res produtivos alm daquele em processamento de dados, a equipe considerou que no se
poderia perder a oportunidade de fazer avanar a legislao. Procurou-se, ento, colocar
itens que abrangessem o mais possvel as diversas situaes de trabalho sem a preocupao
com o detalhamento. Um maior ajuste poderia ser feito mais tarde, aps a concentrao de
estudos em setores especficos. Abaixo desses itens abrangentes, colocou-se o detalhamento
no que se refere ao trabalho com entrada eletrnica de dados, pois este j estava pronto e
gozava de um relativo consenso.
s vsperas do trmino do governo Sarney, a Ministra do Trabalho Dorotha
Werneck assinou a Portaria que mandava conjuntamente para publicao a nova NR-17 e a
NR-5 (CIPA). Houve, inclusive, uma solenidade no momento da assinatura em So Paulo
com a presena de entidades representativas de trabalhadores. Infelizmente, a nova NR 5
contrariava fortemente os interesses das classes patronais e a Portaria no foi publicada por
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interferncia do Sr. Saulo Ramos que a retirou da Imprensa Oficial no ltimo dia do gover-
no Sarney.
Em junho de 1990, por interferncia do Presidente do SINDPD/SP, conseguiu-
se que o Ministro do Trabalho Antnio Rogrio Magri assinasse a Portaria que dava nova
redao NR 17: a mesma que quase foi publicada. Acreditava que era uma regulamentao
especfica para processamento de dados sem se dar conta de sua abrangncia.
Aps a sua publicao, a classe patronal, principalmente FIESP e FEBRA-
BAN, se deu conta das possibilidades abertas pela nova redao e que as alteraes no se
limitavam rea de processamento de dados. Foi pedida imediatamente uma discusso para
alterar seu contedo. A equipe de fiscalizao em ergonomia enfrentou um batalho de ad-
vogados e outros representantes da FIESP e FEBRABAN nos debates. Felizmente, a reda-
o havia sido baseada em slidos argumentos e conseguiu-se convencer a oposio em
quase todos os aspectos.
A nova proposta foi encaminhada SSST e publicada em 23/11/90 com alte-
raes que comprometeram em parte a sua aplicao prtica. Nunca se soube ao certo quais
foram os responsveis pelas alteraes. importante citar este fato pois os interessados em
alterao da legislao devem estar cientes que mesmo propostas bem elaboradas e cheias
de boas intenes passam por sucessivos controles dentro da burocracia estatal e nunca
garantido que saiam publicadas tal qual foram redigidas.
CC OO MM EE NN TT RR II OO SS SS OO BB RR EE AA NN RR 11 77
Carlos Alberto Diniz Silva
Mdico do Trabalho e Ergonomista
Ex-agente da Inspeo do MTE
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Nesta parte faremos algumas consideraes sobre os itens principais da NR-17
que tm gerado dvidas.
Os interessados em maiores detalhes podero consultar as normas francesas:
Association Franaise de Normalisation - AFNOR, Ergonomie. 1986.
A seguir faremos comentrios sobre os diversos subitens da NR-17 que pos-
sam ajudar os Auditores Fiscais do Trabalho na sua prtica de trabalho.
17.1. - Esta Norma Regulamentadora visa estabelecer parmetros que permi-
tam a adaptao das condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas
dos trabalhadores, de modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana
e desempenho eficiente.
A palavra parmetros criou uma falsa expectativa de que seriam fornecidos
valores precisos normatizando toda e qualquer situao de trabalho. Apenas para entradaeletrnica de dados que h referncia a nmeros precisos. Vale, no entanto, a mxima de
que os A.F.T. possam reunir dados dos estudos realizados no Brasil e no exterior e que se
sirvam deles para proporcionar um mximo de conforto, segurana e desempenho eficiente.
17.1.1. - As condies de trabalho incluem aspectos relacionados ao levanta-
mento, transporte e descarga de materiais, ao mobilirio, aos equipamentos e
s condies ambientais do posto de trabalho e prpria organizao dos tra-
balho.
A incluso da organizao do trabalho dentro do que se entende por condies
de trabalho e passvel de atuao o avano mais significativo da nova redao. At ento,
a organizao do trabalho era considerada intocvel e passvel de ser modificada apenas por
iniciativa da empresa, muito embora os estudos comprovassem o papel decisivo desempe-
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nhado por ela na gnese de numerosos comprometimentos sade do trabalhador que no
se limitam s L.E.R.
17.1.2. - Para avaliar a adaptao das condies de trabalho s caractersticas
psicofisiolgicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a anlise er-
gonmica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mnimo, as condies de
trabalho conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.
Este o subitem que mais tem sido mal interpretado. Ele foi colocado para ser
usado quando o A.F.T. tivesse dificuldade para entender situaes complexas em que fosse
necessria a presena de um ergonomista. Evidentemente, nesse caso os gastos com a anli-
se devem ser cobertos pelo empregador. Tem-se pedido anlise ergonmicas de uma forma
rotineira e protocolar. Nem mesmo h clareza por parte dos A.F.T. de qual a demanda para
a anlise. Pede-se anlise ergonmica de toda a empresa. No se enfoca nenhum problema
especfico. Isto s tem dado margem a que se faam anlises grosseiras e superficiais que
em nada contribuem para a melhoria das condies de trabalho. Notificar uma empresa para
que realize anlise ergonmica sem mencionar o(s) setor(es) nem o porqu do pedido,
apenas denota incompetncia e ignorncia. Sempre que o A.F.T. solicitar uma anlise ele
deve colocar bem claramente qual o problema que ele quer resolver e pelo qual est pe-
dindo ajuda a um ergonomista. No h muitos profissionais ergonomistas competentes no
Brasil. Evidentemente, pedir anlise ergonmica sem estar ciente da viabilidade da presena
de um ergonomista srio no resolve os problemas dos trabalhadores. Serve apenas para que
o A.F.T. fique com a sensao de dever cumprido. Infelizmente, tm-se pedido anlises er-
gonmicas como se pedem laudos de insalubridade.
A maioria das situaes de trabalho colocam problemas ergonmicos facil-
mente detectados pelo A.F.T. que no demandam a opinio de ergonomistas. Por exemplo,
o trabalho contnuo na posio em p pode ser mudado sem se recorrer ao ergonomista.
Para no permanecer apenas no superficial, o A.F.T. pode eleger uma situao
mais complexa para ser objeto de estudo mais acurado. Na DRT/SP ao lado do trabalho ro-
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tineiro de fiscalizao e importante para a obteno da produo mensal exigida, sempre
foram constitudas equipes que estudavam problemas mais abrangentes, cuja soluo pode-
ria beneficiar grande nmero de trabalhadores. S assim conseguamos dar sentido ao nosso
trabalho. Estudos bem feitos podem e devem ser divulgados para que o saber seja compar-
tilhado por outros colegas.
17.2. - Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.
A proposta encaminhada SSST inclua um quadro estabelecendo a carga
mxima para levantamento levando-se em conta a idade (trabalhador adulto jovem e adoles-
cente aprendiz), o sexo e a freqncia do trabalho (raramente ou freqentemente). Como os
valores desse quadro contrariavam o disposto na C.L.T. ele foi eliminado. Lembramos que
uma Norma Regulamentadora no pode contrariar a Lei maior que a C.L.T. Toda proposta
de melhoria no que se refere a esse subitem deve passar pela mudana da C.L.T. mediante
aprovao no Congresso.
A Consolidao das Leis do Trabalho, no seu Captulo V, Seo XIV, artigo
198, estabelece como sendo de 60 Kg o peso mximo que um empregado pode removerindividualmente.
Na sua redao anterior, a NR 17 admitia o transporte e descarga individual de
peso mximo de 60 kg. Para o levantamento individual estabelecia 40 kg.
Foi proposta a alterao destes limites na nova redao. O quadro sugerido
chegou a figurar na minuta NR 17, mas como contrariava a CLT, foi retirado antes da sua
publicao. Por isso, na nova redao no h nenhuma referncia a pesos mximos.
Reproduzimos abaixo o quadro proposto que poder ser usado como refern-
cia.
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Cargas para levantamento (em Kg)
Adultos jovensAdolescentes
aprendizes
Homem Mulher Homem Mulher
Raramente 50 20 20 15
Freqentemente 18 12 11-16 7-11
Fonte: GRANDJEAN (1980)
Na prtica essa dificuldade pode ser contornada atravs do subitem 17.2.2. Se
o A.F.T. constatar acometimentos sade e segurana (por exemplo, lombalgias) em de-terminado local onde h levantamento de cargas, mesmo quando respeitados os limites pre-
conizados pela C.L.T., ele poder exigir modificaes. O subitem bem claro:
17.2.2. - No dever ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas,
por um trabalhador, cujo peso seja suscetvel de comprometer sua sade ou
sua segurana.
questo apenas de se dar ao trabalho de compilar os dados referentes mor-
bidade dos trabalhadores que comprovem o acometimento a sua sade: lombalgias, hrnias
de disco, qualquer comprometimento da coluna vertebral causado por superesforo.
A norma francesa NF X 35-106 (AFNOR) trata, em detalhes, dos limites de
esforos recomendados no trabalho. No s de levantamento e carregamento de cargas ,mas
tambm o recomendado para os membros superiores: empurrar, puxar etc. Do mesmo modo,
o esforo mximo a ser exercido sobre pedais em vrias posturas :sentada, em p etc.
17.3. - Mobilirio dos postos de trabalho
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O mobilirio deve ser concebido com regulagens que permitam ao trabalhador
adapt-lo s suas caractersticas antropomtricas (altura, peso, comprimento das pernas
etc.). Deve permitir tambm a alternncia de posturas (sentado, em p etc.), pois no existe
nenhuma postura fixa que seja confortvel.
Entre a populao trabalhadora h indivduos muito pequenos e muito gran-
des. difcil conceber um mobilirio que satisfaa a esses extremos. O recomendvel que
o mobilirio permita uma regulagem que atenda a, pelo menos, 90% da populao em geral.
Para dados antropomtricos da populao brasileira ver FERREIRA (1988).
No recomendvel para as dimenses dos postos de trabalho sejam adapta-
das somente populao que esteja empregada, pois quando se pretende modificar os postos
de trabalho visando uma melhor adaptao, no se deve basear apenas nas medidas antro-
pomtricas da populao que j esteja ocupando os postos, mas sim basear-se em dados de
toda a populao brasileira. Isto porque os trabalhadores atuais podem j ter sofrido uma
seleo, formal ou informal, e terem permanecido apenas aqueles que melhor se adaptaram
e, portanto, no serem representativos de todos que podero, no futuro, ocupar estes postos.
As regulagens dos planos de trabalho permitem tambm uma adaptao tare-
fa. Por exemplo: onde h necessidade de grande necessidade pelos membros superiores, um
plano mais baixo permite que a fora seja exercida com o antebrao em extenso que a
posio onde se consegue maior fora. Por outro lado, se h grande necessidade de controle
visual da tarefa (por exemplo, costurar) um plano mais elevado aproxima dos olhos o deta-
lhe a ser visualizado.
Concluindo, o mobilirio deve ser adaptado s caractersticas antropomtricas
da populao e tambm natureza da tarefa.
17.3.1. - Sempre que o trabalho puder ser executado na posio sentada, o
posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posio.
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Este subitem foi mal redigido. Na verdade, os postos de trabalho devem ser
projetados de modo a permitir aos trabalhadores a alternncia de postura. Toda postura fixa
ao ser mantida por longo perodo desconfortvel, mesmo a sentada.
17.3.2 - Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito de p, as ban-
cadas, mesas, escrivaninhas e os painis devem proporcionar ao trabalhador
condies de boa postura, visualizao e operao e devem atender aos se-
guintes requisitos mnimos:
a) ter altura e caractersticas da superfcie de trabalho compatveis com o tipo
de atividade, com a distncia requerida dos olhos ao campo de trabalho e
com a altura do assento;
b) ter rea de trabalho de fcil alcance e visualizao pelo trabalhador;
c) ter caractersticas dimensionais que possibilitem posicionamento e movi-
mentao adequados dos segmentos corporais.
Este subitem com suas alneas permite que o A.F.T. possa exigir qualquer tipo
de mobilirio. A nica dificuldade ter que fazer um estudo antropomtrico dos trabalhado-
res e uma anlise das exigncias da tarefa para que o mobilirio seja o mais confortvel pos-
svel. Seria impossvel detalhar as caractersticas de todo o mobilirio encontrado nos seto-
res produtivos. A consulta a manuais especializados em mobilirio ou a consultoria a uma
ergonomista podem ser de grande valia mas o A.F.T. tem grandes possibilidades de melho-
rar o conforto dos trabalhadores desde que disponha a perder um pouco mais de tempo paraestudar a situao.
O mesmo pode-se dizer dos subitens 17.3.2.1, 17.3.3, 17.3.4 e 17.3.5.
17.4. - Equipamentos dos postos de trabalho
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Os seres humanos sempre procuraram adaptar suas ferramentas s suas neces-
sidades. Nas situaes industriais modernas, com a diviso entre planejamento e execuo, o
trabalhador quase no tem oportunidade de influir nas decises de compra de equipamen-
tos. Fatores como o preo podem decidir as escolhas. Isso leva a inadaptaes, aumenta a
carga de trabalho. Uma m escolha pode penalizar os trabalhadores durante anos. Alguns
conseguem modificar seus equipamentos adaptando-os s tarefas. Mas esta capacidade
limitada.
A opinio dos trabalhadores antes da compra tem mostrado um bom resultado
em nossa prtica de trabalho. Algumas empresas colocam algumas opes para teste.
Pode-se notar que, quando o usurio tem influncia na escolha, os fabricantes
dos equipamentos investem mais em pesquisas para aperfeio-los. Citamos, como exem-
plo, as cadeiras de odontlogos e os veculos automotores.
A norma francesa X 35-105 (AFNOR) d uma boa indicao de caractersticas
a serem respeitadas nos comandos de mquinas.
17.4.1. - Todos os equipamentos que compem um posto de trabalho devem
ser adequados s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores e nature-
za do trabalho a ser executado.
Adequados natureza do trabalho significa que os equipamentos devem fa-
cilitar a execuo da tarefa especfica. O martelo o equipamento mais adequado natureza
do trabalho de pregar. Uma cadeira pode ser confortvel para assistir televiso mas ser bas-tante inconveniente a uma secretria que deve ter acesso alternadamente ao arquivo, ao mi-
crocomputador e ao telefone para realizar sua tarefa. Logo, a cadeira deve ser adequada
natureza do trabalho da secretria: ter rodzios, encosto, ser estofada, permitir regulagens,
ter apoio para os braos etc. No h uma cadeira ergonmica para todo e qualquer tipo de
tarefa.
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A mesma observao do subitem anterior se aplica a este subitem. Ele permite
qualquer mudana nos equipamentos desde que o A.F.T. fundamente seu pedido aps uma
observao da natureza do trabalho (exigncias da tarefa) e as caractersticas dos trabalha-
dores. Por exemplo, se um painel de controle colocado em posio excessivamente alta
para a altura do trabalhador, pode-se exigir que o painel seja colocado na altura dos olhos,
facilitando a leitura dos dados. Um comando que exija excessiva abduo do membro supe-
rior e elevao do ombro pode ser mudado de modo a permitir ao membro superior que
volte posio neutra entre um acionamento e outro.
17.5. - Condies Ambientais
Apesar da redundncia, insistimos que no se trata de caracterizar insalubrida-
de.
17.5.2.a. - Condio Acstica - Os nveis de rudo devem ser entendidos aqui
no como aqueles passveis de provocar leses ao aparelho auditivo, mas
como a perturbao que podem causar ao bom desempenho da tarefa. Muitas
vezes, equipamentos ruidosos so colocados em ambientes onde so necessa-
riamente obrigatrios. Apenas isolando as impressoras em locais outros que
no as salas de digitao, temos conseguido melhorar as condies acsticas
destes ambientes.
17.5.2 b, c, e d. - Condio Trmica - A NR 17 faz uma meno especial aos
locais de trabalho onde so executadas atividades que exijam solicitao inte-
lectual e ateno constantes. Isto porque nestes ambientes preponderavam bai-xas temperaturas, correntes de ar e baixa umidade relativa, condies exigidas
para o bom funcionamento de computadores. Ora, a NR 15, no seu Anexo n 3
, faz referncia a limites de tolerncia para exposio ao calor, no sendo um
bom guia quando o que se procura conforto.
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Para maiores detalhes sobre o assunto, consultar as normas de ergonomia NF
X34-201 a 35-204 da Association Francaise de Normalisation AFNOR (1986).
17.5.3. - Condies de iluminao - A NR 17 remete Norma Brasileira (NBR
5413), que trata apenas das iluminncias recomendadas nos ambientes de tra-
balho. O iluminamento adequado no depende s da quantidade de lux que
incide no plano de trabalho. Depende tambm da refletncia dos materiais, das
dimenses do detalhe a ser observado ou detectado, do contraste com o fundo
etc. Ater-se apenas aos valores preconizados nas tabelas sem levar em conta as
exigncias da tarefa pode levar a projetos de iluminamento totalmente inefica-
zes. A situao mais desejada seria aquela em que , alm do iluminamento ge-
ral, o trabalhador dispusesse de fontes luminosas individuais nas quais pudesse
regular a intensidade.
17.6. - Organizao do trabalho
Organizar, no sentido comum, colocar uma certa ordem num conjunto de
recursos diversos para fazer deles um instrumento ou uma ferramenta a servio de uma
vontade que busca a realizao de um projeto. Em toda organizao aparecem conjunta-
mente os problemas de cooperao e hierarquia.
Mas, qualquer que seja a forma que a hierarquia assuma, e qualquer que seja o
meio pelo qual a cooperao se realize, elas no so puramente violentas e arbitrrias. A
organizao, seus objetivos, seus procedimentos, concernem, segundo modalidades prpri-
as, s diferentes categorias de atores que dela participam. Ou, para dizer a mesma coisa emoutros termos, uma das condies de sobrevivncia, bem como da eficcia da organizao,
sua capacidade de motivar seus participantes (BOUDON &BOURRICAUD, 1993:408).
A organizao do trabalho pode ser caracterizada pelas modalidades de repar-
tir as funes entre os operadores e as mquinas : o problema da diviso do trabalho (LE-
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PLAT & CUNY, 1977:60). Ela define quem faz o qu, como e em que tempo. a diviso
dos homens e das tarefas.
Tentou-se organizar o trabalho cientificamente. A Organizao Cientfica do
Trabalho dividiu rigidamente a concepo do trabalho da sua execuo. Alguns poucos con-
cebem e planejam e outros executam. Projetam-se tarefas fragmentadas sem levar em conta
que os homens preferem iniciar e finalizar a fabricao de um produto, entender o que esto
fazendo, criar novos processos, ferramentas mais adequadas etc.
Em outras palavras, a Organizao Cientfica do Trabalho impondo uma hie-
rarquia rgida no conseguiu a necessria cooperao dos trabalhadores. Com a introduo
das linhas de montagem tentou-se assegurar a produo impondo o tempo de execuo, mas
no se conseguiu a motivao dos trabalhadores como sublinhado acima. Breve tornou-se
necessria a introduo de prmios de produtividade em tarefas fragmentadas. Um recurso
eficiente a curto prazo, mas de efeitos danosos ao longo do tempo.
O taylorismo, prescrevendo tarefas a serem executadas em tempos rgidos e
invariveis para todos, pressupe uma estabilidade dos homens, das mquinas, das matrias
primas, estabilidade que no existe na prtica. As avaliaes para estabelecimento dos tem-
pos e movimentos (como se deve executar a tarefa e em quanto tempo, tambm denominada
cronoanlise) so realizadas em trabalhadores cujas capacidades no so representativas das
reais capacidades da populao trabalhadora em geral.
Por exemplo, essas avaliaes so feitas durante um intervalo de tempo muito
curto e em trabalhadores com um timo grau de aprendizado. Isto por si s j induz ao esta-belecimento de altas cotas de produo. Cotas difceis de serem atingidas, j que a atividade
humana sofre flutuaes ao longo do tempo: ao longo do dia, da semana e mesmo ao longo
da vida laboral. Um mesmo ritmo no pode ser tolerado igualmente durante toda a jornada
de trabalho. Alm da variao fisiolgica circadiana, h de se levar em conta a fadiga acu-
mulada que pode tornar penoso, no fim da jornada, um ritmo suportvel no seu incio.
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Durante a cronoanlise , os trabalhadores, sabendo-se em observao , esfor-
am-se para atingir o mximo de rendimento de que so capazes. Rendimento que seria im-
possvel de ser mantido ao longo da jornada, da semana, com o passar dos anos.
Quando o ritmo estabelecido sobre uma populao demasiadamente jovem,
ele se torna insuportvel medida que se envelhece, razo pela qual certos locais de traba-
lho so povoados apenas por jovens. Os que vo permanecendo adoecem e, aos poucos, vo
sendo excludos, sendo demitidos ou pedindo demisso quando a carga de trabalho se torna
insuportvel.
O ser humano para executar um trabalho pode proceder de maneiras diferentes
dependendo do tempo de que dispe, dos instrumentos de que se utiliza, das condies am-
bientais, de sua experincia prvia e do modo como remunerado, entre outras variveis.
Por outro lado, vrios homens para produzir a mesma pea podem proceder de
maneiras diferentes, mesmo se mantidos os mesmos instrumentos e o mesmo ambiente de
trabalho, devido s diferenas individuais.
Tradicionalmente, a Organizao Cientfica do Trabalho tenta no levar em
considerao essas variaes individuais, mas todos sabemos que um trabalhador mais idoso
e experiente executa suas atividades de modo diferente daquele de um jovem relativamente
inexperiente.
Alm disso, o estado dos instrumentos de trabalho varia ao longo do tempo
(uma serra circular torna-se menos afiada, por exemplo), modificando tambm o modo ope-
ratrio e influindo na carga de trabalho.
A anlise da organizao, portanto , algo complexo, no sendo possvel fixar
, de antemo um roteiro aplicvel a todas as situaes. O mtodo como o qu analisar vo
sendo estabelecidos paulatinamente, envolvendo os trabalhadores e dependem , em muito,
da demanda que motivou a anlise.
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Em primeiro lugar, no necessariamente o relatrio final da anlise ergonmi-
ca deve estar restrito a estes tpicos. Eles servem de orientao que deve permear toda a
anlise. Dependendo da situao, vo-se priorizar alguns em particular. Mas o conheci-
mento de todos importante para se avaliar a carga de trabalho, j que esta carga vai variar
em funo de como o trabalho organizado. A carga no a mesma se exige que o traba-
lhador fabrique uma pea por minuto obrigatoriamente ou se ele pode fabricar 480 peas ao
longo de oito horas de um trabalho. Neste ltimo caso, a liberdade para acelerar ou desace-
lerar a cadncia alm de adequ-la ao seu prprio ritmo biolgico, possibilita ao trabalhador
contornar os incidentes sem diminuir a produo.
As Normas de Produo
So todas as normas que o trabalhador deve seguir para realizar a tarefa. Aqui
se incluem desde o horrio de trabalho at a qualidade desejada do produto (um erro acar-
reta conseqncias graves), passando pela utilizao obrigatria do mobilirio e dos equi-
pamentos disponveis.
Mas nem sempre tudo previsto. Mesmo as normas de qualidade podem no
ser claras, assim como os meios de atingi-las, fato que leva o trabalhador a um estado cons-
tante de incerteza. Este estado pode ser agravado quando as exigncias de qualidade se so-
mam quelas de quantidade.
O Modo Operatrio
o modo como as atividades ou operaes devem ser executadas para se dis-
tinguir o resultado final desejado.
Ele pode ser prescrito (ditado pela empresa) ou real (o modo particular adota-
do pelo trabalhador para fazer face s variaes dos instrumentos, da matria-prima, do seu
prprio corpo e das suas motivaes).
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Uma anlise ergonmica coloca em evidncia os vrios modos operatrios
possveis (prescritos e reais), legitimando os mais confortveis, e propondo mudanas nos
meios e equipamentos que possam melhorar o conforto e a segurana. Ou seja, aumentar os
graus de liberdade na realizao da tarefa.
Aumentar os graus de liberdade na realizao da tarefa significa permitir que
haja vrios modos operatrios possveis e que possam ser adotados em situaes diferentes
(inclusive aquelas resultantes de variaes do estado corporal interno). Por exemplo, ter a
possibilidade de executar a tarefa em p quando j se cansou de ficar sentado (o grifo nos-
so).
A Exigncia de Tempo
Expressa o quanto deve ser produzido em um determinado tempo , sob impo-
sio. Uma expresso equivalente seria a presso do tempo (o grifo nosso).
Toda atividade humana se desenvolve dentro de um quadro temporal: em um
momento dado (horrios), durante um certo tempo (durao da jornada), com uma certa ra-
pidez, em uma certa freqncia e com uma certa regularidade (velocidade, cadncia, ritmo)
(DANIELLOU et alli, 1989).
A capacidade produtiva (rendimento) de um mesmo indivduo pode variar ao
longo do tempo (ao longo de um mesmo dia, semana, ms, ano e ao longo dos anos = (vari-ao intra-individual), assim como variar entre um indivduo e outro (variao interindivi-
dual ).
Limites mnimos fixados pela empresa podem superar a capacidade de um ou
vrios trabalhadores colocando em risco sua sade.
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O ideal em qualquer situao que no haja exigncias estritas de tempo,
confiando-se em que cada trabalhador produzir sem entrar em esgotamento (fsico) ou es-
tresse emocional. Isto evidentemente est bem distante do observado na prtica e os traba-
lhadores tm desenvolvido luta para que as exigncias de tempo sejam mais flexveis.
A Determinao do Contedo de Tempo
o que faz o trabalhador em determinado tempo. Quanto tempo olha, quanto
tempo leva para verificar erros ou tomar decises.
A Organizao Cientfica do Trabalho procura tambm determinar rigida-
mente o modo de emprego do tempo. A anlise pode revelar quanto tempo se leva na execu-
o de atividades no-prescritas, mas importantes na realizao da tarefa e que podem ser
desconhecidas das prprias gerncias. Tal o caso dos numerosos incidentes que podem
ocorrer durante uma jornada, que demandam um certo tempo para sua resoluo e que so
levados em conta quando se faz o clculo dos tempos e movimentos.
O Ritmo de Trabalho
Aqui devemos fazer uma distino entre o ritmo e a cadncia. A cadncia tm
um aspecto quantitativo, o ritmo qualitativo. A cadncia refere-se velocidade dos movi-
mentos que se repetem em uma dada unidade de tempo. O ritmo a maneira como as ca-
dncias so ajustadas ou arranjadas: livre (pelo indivduo) ou imposto(linha de montagem)
(TEIGER, 1985).
O ritmo de trabalho pode ser imposto pela mquina (no caso de uma linha de
montagem, com operaes que devem, s vezes, ser executadas em menos de um minuto),
ou ser gerenciado pelo trabalhador ao longo de um dia, mas que deve ter uma produo xis
no final dele, ou pode ser influenciado pelo modo de remunerao (salrio baseado no n-
mero de toques ou peas produzidas) que teoricamente um ritmo livre, mas que induz o
trabalhador a uma auto-acelerao que no mais respeita sua percepo de fadiga.
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H trabalhos que devem ser necessariamente executados em tempo previa-
mente determinado (os cheques devem ser compensados at as seis horas, por exemplo), o
que por si s constitui uma presso temporal com sobrecarga de trabalho em determinados
horrios.
O Contedo das Tarefas
O contedo das tarefas determina o modo como o trabalhador percebe seu tra-
balho: montono ou estimulante.
Pode ser estimulante se envolve uma certa criatividade, se h uma certa varie-
dade de atividades e se elas solicitam o interesse do trabalhador.
Nem sempre uma variedade muito grande de tarefas necessariamente esti-
mulante. Por exemplo, quando se requer grande memorizao e treinamento.
A maior ou menor riqueza do contedo das tarefas passa tambm pela avalia-
o do trabalhador e depende das suas aspiraes na vida, bem como das suas motivaes
para o trabalho.
Em sntese, a anlise ergonmica procura colocar em evidncia os fatores que
possam levar a uma sub ou sobrecarga de trabalho (fsica ou cognitiva) e suas conseqentes
repercusses sobre a sade, estabelecendo quais so os pontos crticos que devem ser modi-
ficados.
Insistimos que uma anlise deve levar em conta a expresso do(s) trabalha-
dor(es) sobre suas condies de trabalho e que para transform-las positivamente, preciso
agir quase sempre sobre a organizao do trabalho (GUERIN, 1985:74).
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17.6.3. - Nas atividades que exijam sobrecarga muscular esttica ou dinmica
do pescoo, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da
anlise ergonmica do trabalho, deve ser observado o seguinte:
a) todo e qualquer sistema de avaliao de desempenho para efeito de
remunerao e vantagens de qualquer espcie deve levar em conside-
rao as repercusses sobre a sade dos trabalhadores;
Este subitem com suas alneas tem um alcance considervel mas a maioria das
pessoas no consegue aplic-lo. Ele muito claro. Se h casos de L.E.R. em qualquer parte
do corpo (pescoo, ombros, dorso e membros superiores e inferiores), o que indica sobre-
carga muscular esttica ou dinmica, no pode haver avaliao do desempenho individual.
Se a avaliao individual significa sempre que o trabalhador vai ser premiado se atingir ou
ultrapassar o patamar desejado ou punido caso no o atinja. As avaliaes so importantes
no processo produtivo desde que sejam coletivas. As avaliaes individuais provocam es-
tresse no trabalhador e so patognicas por si mesmas, quer dizer, mesmo que no haja pre-
miao para quem produza mais. Alis, se h avaliao individual, h alguma inteno
oculta, nem que seja demitir os mais lentos. Logo, uma premiao est sempre implcita
nem que seja a manuteno do emprego.
Se conseguirmos fazer valer este direito ao trabalhador, estaremos contribuin-
do enormemente na preveno das L.E.R. Muitos sindicalistas tm queixado da falta de de-
talhamento da NR-17 para seus setores especficos. Nossa opinio que, embora as corre-
es de mobilirio e equipamentos tenha alguma influncia na preveno da L.E.R., o in-
centivo produo via prmios, vantagens financeiras ou qualquer outra o fator que maiscontribui. Logo, correes de mobilirio e equipamentos so ineficazes se se continua a
presso por aumento da cadncia. O desafio que os atores sociais (A.F.T., representantes
dos trabalhadores e os prprios trabalhadores) consigam abolir os famigerados incentivos
produo. Depois pode-se tentar o resto.
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Na verdade, quando se reclama da falta de detalhamento o que percebemos
que as pessoas querem tudo pronto para no perder tempo com estudos mais acurados. Por
mais que se queira, uma norma no consegue detalhar todos os casos particulares. Para se
conseguir mudanas tais como a abolio de prmios de produo imprescindvel que se
estude bem a situao pois a slida argumentao a arma mais poderosa na hora da nego-
ciao. mais valiosa que o que possa estar escrito numa norma.
As queixas e os lamentos denotam apenas uma certa preguia de reunir dados
para uma argumentao convincente.
b) devem ser includas pausas para descanso;
outra queixa constante de que apenas o trabalho com entrada eletrnica de
dados foi contemplado com as pausas quantificadas. Geralmente nos outros setores produti-
vos tenta-se implantar o mesmo sistema de pausas. Isto tem que ser visto com muito cuida-
do pois cada tarefa tem a sua particularidade. Nas linhas de montagem, por exemplo, a
queixa mais comum que o tempo alocado realizao da tarefa muito reduzido e quando
h incidentes o trabalhador s consegue realiz-la com grande esforo e agilidade. Isto faz
com que ele esteja sempre ansioso com a possibilidade de no conseguir realizar bem a tare-
fa. Nesse caso, seria muito mais til um aumento no tempo do ciclo destinado tarefa que
uma pausa de dez minutos a cada cinqenta minutos trabalhados. Outro exemplo: fechar um
caixa de supermercado tarefa complicada pois h uma fila de espera em frente ao caixa,
deve-se chamar um fiscal de caixa etc. No pode haver um substituto do caixa na sua ausn-
cia por causa do manuseio do dinheiro. Colocar um substituto implica em fazer acerto de
caixa. Da ser impraticvel uma pausa a cada cinqenta minutos trabalhados. Diante detanta medidas a serem tomadas, prefere-se pausas maiores e menos freqentes.
A durao da pausa depende da correlao de foras entre os empregadores e
os empregados, seus representantes e os A.F.T. Quanto mais estiverem munidos de dados
que comprovem o agravo sade mais eles podero exigir pausas mais adequadas aos tra-
balhadores e natureza do trabalho. impossvel uma frmula geral que seja conveniente a
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todos. Infelizmente, teremos que continuar a fazer estudos, reunir um saber coletivo e reali-
zar negociaes.
Limites de uma norma
A NR 17, como todas as normas, no consegue oferecer solues para todas as
situaes encontradas na prtica. Deve-se v-la apenas como uma referncia. A soluo dos
problemas s possvel pelo esforo conjunto de todos os interessados.
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RR EE FF EE RR NN CC II AA SS BB II BB LL II OO GG RR FF II CC AA SS
ASSOCIATION FRANAISE DE NORMALISATION AFNOR, Ergonomie. 2.ed.
Paris, 1986.211.$300 francos franceses, Endereo: Tour Europe CEDEX 792080
PARIS La Dfense. Fone: 42.91.55.55.
GRANDJEAN, E. Fitting the task to the Man: an Ergonomic Approach. London,
Taylor & Francis, 1980.
FERREIRA, Diva M.P. (coord.). Pesquisa Antropomtrica e Biomecnica dos Operriosda Indstria de Transformao (vols. I e II). Rio de Janeiro, Instituto Nacional de
Tecnologia, 1988, 128 p. e 86 p.
BOUDON, Bernard & BOURRICAUD, Francois. Dicionrio Crtico de Sociologia. So
Paulo, tica,1993.
LEPLAT, Jacques & CUNY, Xavier. Introduction Psychologie du Travail. Paris, PUF,1977.
DANNIELLOU, Franois et alii. Fico e Realidade do Trabalho Operrio. Rev. Bras.S.
Ocup. . 17 (68):7-13, out./dez. 1989.
TEIGER, Catherine. Le travail sous Contrainte de temps. In: CASSOU, Bernard et alii
(dir.). Les Risques du Travail: pour ne pas Perdre sa Vie la Gagner. l` ed. Paris, La
Dcouverte, 1995.
GUERIN, franois et alii. Comprendre le travail pour le transformer : la Pratique de
l`Ergonomie. Montrouge, ANACT, 1991,233 p.
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3. N o e s F u n d a m e n t a i s d e E s t u d o E r g o n m i c o
d o T r a b a l h o
Lvia Santos Arueira
Auditora Fiscal do Trabalho DRT/RJ
Segundo Vidal, a Ao Ergonmica a sistemtica que viabiliza a conduo
adequada ao projeto ergonmico na empresa, assegurando seus resultados eficazes.
Figura 1 : Fases e Produtos da Ao Ergonmica (Vidal, 1997)
O sistema de produo composto de mquinas, ferramentas, operadores e
forma que sero utilizados com objetivo de produzir um bem ou servio - Organizao do
Trabalho.
A Organizao do Trabalho pode ser caracterizada pelas modalidades de re-
partir as funes entre os operadores e as mquinas: o problema da diviso do trabalho
(LEPLAT & CUNY, 1977:60). Ela define quem faz o qu, como, em que tempo, quem ope-
Instruo
da
demanda
AnliseErgonmica
doTrabalho
Implantao
e
Acompanhamento
ContratoCaderno
deEncargos
Projeto
Especificaesde
mudanas
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ra, quem supervisiona, quem o responsvel. A Organizao do trabalho projeta uma situa-
o a partir de dados supostamente conhecidos e no variveis, com o objetivo de alcanar
um determinado fim. ela que determina em quanto tempo uma tarefa deve ser realizada, e
o quanto ser repetida, ou seja a cadncia e o ritmo da produo. A cadncia refere-se a ve-
locidade dos movimentos que se repetem em uma dada unidade de tempo. O ritmo a ma-
neira como as cadncias so ajustadas ou arranjadas : livre (pelo indivduo) ou imposto (
pela linha de montagem) (TEIGER, 1985:89). O ritmo de trabalho diretamente influencia-
do pela forma de remunerao do trabalhador, se esta fixa ou varivel em funo do volu-
me de trabalho produzido.
A Organizao do Trabalho define tambm o Modo Operatrio, que a forma
como devem ser realizadas as tarefas - trabalho prescrito - para se alcanar a meta projetada.
Quando uma operao realizada, no se pode afirmar que apenas o trabalho prescrito ser
realizado - tarefa - pois o operador realizar outras operaes de forma a adaptar o trabalho
prescrito s suas caractersticas e habilidades pessoas, que no foram sequer imaginadas
quando no projeto destas tarefas, estas adaptaes so conhecidas como atividade.
Entendemos como Ao Ergonmica o processo necessrio para transformar
um posto e a situao de trabalho, em nossa sociedade. Este processo pode ser dividido em
quatro fases :
1. Instruo da Demanda
2. Anlise Ergonmica do Trabalho
3. Projeto Ergonmico
4. Implementao
Demanda a origem da necessidade reconhecida pela empresa de realizar uma
interveno ergonmica para correo de uma disfuno ou na implantao de novas tec-
nologias.
A demanda pode ser classificada, a partir de quem solicitou a ajuda, em seis
origens distintas de demandas de acordo com sua natureza, segundo Shanavaz, 1991, Gurin
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et. al., 1991 e de Cerqueira, 1992: (i) demandas do interior das empresas :da alta direo, da
mdia gerncia, dos trabalhadores diretos, e (ii) demandas externas s empresas: das entida-
des sindicais ou representativas, de organismos pblicos diversos e de estudantes universit-
rios.
O Auditor Fiscal do Trabalho pode ser a origem de uma demanda ao identifi-
car alguns indcios ou indicadores de possveis problemas ergonmicos em um determinado
posto ou setor de trabalho. Alguns requisitos que podem indicar a necessidade de elaborao
de um Estudo Ergonmico:
a) trabalho que exija um grande esforo fsico;
b) trabalho que exija posturas rgidas ou fixas ( s sentado, ou s em p );
c) introduo de novas tecnologias ou mudanas no processo de produo;
d) alta taxa de absentesmo;
e) alto ndice de rotatividade da mo de obra (GRPS, Rais, etc.);
f) freqncia e gravidade de acidentes de trabalho (CAT);
g) presena macia de jovens;
h) queixas de dores musculares (PCMSO, Controle de atendimento mdico da
empresa, etc.);
i) pagamento de prmios de produtividade (Contra cheques);
j) conflitos freqentes com os empregados;
k) trabalho exigindo movimentos repetitivos;
l) trabalhos em turnos;
m)trabalhos exigindo grande preciso e qualidade;
n) situaes outras detectadas pelos Mapas de Riscos, PPRA e outros instru-mentos de avaliao.
O AFT ao solicitar o Estudo Ergonmico do Trabalho de determinada situao
deve definir claramente a origem desta exigncia, ou seja, qual o problema que deseja ver
resolvido.
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Estudo Ergonmico do Trabalho um processo de negociao, cooperao e
construo conjunta, que envolve todos os aspectos relacionados com aquela situao de
trabalho em foco, aspectos que no desenho da tarefa no foram considerados.
A primeira etapa do Estudo ergonmico denominada de Instruo ou Anlise
da Demanda. Segundo Vidal : a anlise da demanda o que torna a anlise ergonmica es-
pecifica em relao aos demais mtodos da engenharia de produo no que tange ao mape-
amento, formulao e negociao de problemas sobre os quais intervir, a nvel de um pro-
cessos de trabalho. Sua importncia mais significativa esta em trs aspectos conclusivos :
BBBB a anlise da demanda que vai conduzir todo o processo posterior da ana-
lise ergonmica do trabalho, em termos de foco de estudo e categorias
analticas a privilegiar. Vrios so os exemplos, mas prefiro me limitar ao
caso descrito por Ferreira L. et al. onde o estudo de posturas solicitado foi
finalmente encaminhado para uma reorganizao das tarefas de caixa do
supermercado, vinculando-as com embaladores e verificadores de preos;
BBBB pela anlise da demanda se definem os contornos do prprio e pertinente
no que tange s transformaes possveis na situao. Num dos estudos
clssicos sobre ergonomia contempornea, Wisner e al.(1972) chamado a
intervir acerca de problemas da coluna de operadores de plataforma de
petrleo origem de uma alta rotatividade, verifica que a carga fsica se
caracterizava como entre leve e moderada (fatos tambm verificados no
Brasil por Silveira, 1994), e que as modificaes at necessrias agiriamsobre outros aspectos cuja impactao sobre a rotatividade seria muito pe-
quena; a analise da demanda desde logo orientou para o processo de for-
mao e de progresso de carreira, que necessitaria ser revisto (o que infe-
lizmente tambm persiste no Brasil);
BBBB Finalmente a anlise da demanda permite mapear expectativas o que per-
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mite cercear modismos e outros desvios da interveno, precavendo ao
engenheiro de produo de ser o profissional da soluo geral procura do
problema especfico permitindo-o de ser o contrrio: o profissional da so-
luo especfica que pode at vir a ser estendida para situaes anlogas.
Num estudo sobre condutores de trem, de demanda sindical, os maquinis-
tas reclamavam do dispositivo homem morto, que devia ser acionado a
cada 45 segundos e engendraria uma forte carga mental. Um estudo preli-
minar j apontava que a carga mental do dispositivo no parecia ser o pro-
blema central. Em contrapartida questes de sustentao de viglia e de
angstias diversas apareciam nos primeiros contatos o que foi inicialmente
abordado do ponto de vista psiquitrico, sobre a personalidade dos con-
dutores, o que apesar de interessante, no respondia a uma demanda de
natureza sindical, dado seu carter pouco operacional. Finalmente foram
as questes de durao e qualidade de sono (Foret e Lantin, 1972) que
surgiram como ponto a trabalhar e isto acabou permitindo a formulao de
uma srie de melhorias no trabalho, desde horrios at a poltica de aloja-
mentos da Companhia Ferroviria.
Seja respondendo a um convite, a uma injuno social ou se propondo a estu-
dar uma realidade de trabalho, devemos ter em conta que intervir numa situao mobiliza a
todos, demandantes, interessados, envolvidos, comprometidos e intervenientes. A anlise da
demanda nada mais que tomar conscincia disto e da imbricao de vidas, desejos e inte-
resses em jogo, explicita ou implicitamente, subjacentes ou sobrejacentes, que existem
numa interveno sobre processos de trabalho.
A Instruo ou Anlise da demanda implica em contato com as pessoas envol-
vidas e conhecimento de procedimentos diversos da empresa, atravs de entrevistas com a
direo da empresa, gerncia, superviso e com os operrios envolvidos no processo ou se-
tor foco do Estudo Ergonmico e de suas interfaces, visitas aos postos de trabalho e a servi-
os da empresa como o servio social, mdico, recursos humanos e outros. A Anlise da
Demanda deve explicitar todos os fatores envolvidos com a demanda.
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Muitas vezes a Demanda apresenta objetivos contraditrios ou conclui-se que,
para o estudo ergonmico e formulao do projeto, ser preciso deslocar o foco do trabalho
para um outro setor ou incluir novas situaes de trabalho; a isto chamamos de Reformula-
o da Demanda.
A Anlise da Demanda deve delimitar o campo de estudo, priorizando, arti-
culando e evidenciando novos problemas, bem como identificar as pontos de vistas dos ato-
res envolvidos devendo de serem levantados, no mnimo uma descrio da empresa e das
pessoas com que foram feitos os primeiros contatos; problemas e resultados positivos apre-
sentados pela empresa , neste primeiro contato; se existem propostas ou indicao de locais
para o estudo, e as concluses do grupo sobre esta etapa.
Com a demanda reformulada, ou instruda, temos a Demanda Ergonmica,
que ser o foco da Anlise Ergonmica do Trabalho.
A Anlise Ergonmica do Trabalho um processo contnuo de negociao e
construo coletiva do projeto Ergonmico, em que as etapas vo sendo paulatinamente
cumpridas.
A AET para ser melhor entendida pode ser dividida em cinco fases:
I - Estudos Preliminares
II - Escolha das Situaes Crticas
III - Anlise Global
IV Pr-diagnstico
V - Diagnstico e Caderno de Encargos
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I - Estudo Preliminar
A metodologia determina que se entenda o funcionamento da empresa constardescrio da organizao da produo, a sua insero no mercado, suas metas para o futuro,
um cenrio da populao de trabalhadores, constando de faixa etria, nvel educacional,
forma de remunerao, o fluxo operacional, horrio de funcionamento, jornada, turnos,
qualificao profissional exigida, organograma, enfim todas informaes que permitam a
definio do perfil da empresa dentro do contexto social e poltico. O ltimo aspecto a se
incluir a descrio do funcionamento global da unidade produtiva, devendo ser abordado
Constituio e anlise da demanda :
Anlise global das atividades
Diagnstico ergonmico
Caderno de Encargos Ergonmico
Estudos preliminares
Escolha de processos chave
Pr-diagnstico
MOD
ELAGENS
Restituio e validao
Contrato de Interveno Ergonmica
INTERAES
Especificaes para Comissio-namento de Equipamentos e
Mtodos
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as questes econmicas ( posio no mercado, momento comercial), social ( panorama da
populao de trabalhadores com dados sobre a sade, polticas sociais j implantadas ou em
implantao etc.) legislativas ( questes que dizem respeito ao zoneamento urbano, gerncia
ambiental, regulamentaes, etc.) geogrficas ( clima, deslocamento de pessoal e material,
etc.) tcnicas ( etapas tcnicas do processo produtivo, metas quantitativos da produo, etc )
e ambiental ( lay out, rudos, vibraes, iluminamento, existncia de poeiras, ventilao na-
tural e forada, etc.).
Esta fase tem o objetivo de entender a empresa no seu interior e o seu relacio-
namento com o ambiente econmico e social em torno.
II - Escolha de situaes caractersticas
As empresas contam com vrios postos e situaes de trabalho diversas, e
como no se pode analisar e resolver tudo, indica-se a escolha de situaes caractersticas ,
que obedecidas critrios de escolha serem priorizadas e hierarquizadas. Estes critrios sur-
giro em funo de dados recolhidos na Anlise da Demanda e do Estudo preliminares, o
Prof. Mrio Vidal, indica alguns critrios genricos para indicao das situaes crticas :
BBBB Critrio de queixas escolha de situao onde as queixas dos trabalhado-
res so mais numerosas ou contundentes;
BBBB Critrio de conseqncias escolha de locais onde as conseqncias de
problemas mais grave;
BBBB Critrio de Centralidade escolha de um dispositivo cujo o funciona-mento dependem muitos postos de trabalho;
BBBB Critrio da modernidade escolha de situaes onde a mudana a mdio
e longo prazo na tecnologia se faz necessrio;
BBBB Critrio de estabilidade escolha de uma situao que no seja fortuita,
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efmera e que se mantenha ao longo do estudo;
BBBB Critrio de acesso escolha de uma situao onde seja possvel a realiza-
o do estudo.
Qualquer que seja o Critrio escolhido, este deve ser discutido junto s pesso-
as da empresa para escolha das situaes crticas.
III - Anlises globais das atividades nas situaes caractersticas
As fases anteriores nos permitem formular uma viso genrica da atividade,
nesta fase estaremos identificando ou definindo algumas questes chaves para a prxima
etapa: o pr diagnstico. Trataremos portanto de dados especficos sobre as questes rela-
tivas ao trabalho, como o dispositivo de trabalho, a organizao do trabalho, variabilidades
da atividade e sobre o meio ambiente de trabalho.
A obteno destes dados se d por meio de dois instrumentos distintos e com-
plementares:
(a) Observaes abertas: observa-se o que acontece na situao de tra-
balho;
(b) Conversao-ao: onde os trabalhadores diretos ou prximos so en-
trevistados de forma a fornecer detalhes sobre as ati-
vidades.
IV - Pr-diagnstico
V - Diagnstico
Aps estas fases, seremos capazes de formular um pr-diagnstico, com ind-
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cios dos problemas a serem resolvidos e suas possveis solues. Para chegarmos ao dia-
gnstico final, termos que construir um plano de observao, em que iremos aprofundar
metodologia da Anlise Global, agora focando mais na situao escolhida (porqu as pesso-
as se comportam daquela maneira), para tal necessrio elaborarmos um Plano de Observa-
o, voltado para uma determinada situao, em um determinado horrio, etc., melhor defi-
nida e delimitada, chegando a formulao de hipteses, que atravs das Observaes Siste-
mticas e Validao, chegaremos ao Diagnstico do Modelo Operante. O Diagnstico tem
como objetivo a representao da atividade de trabalho em uma dada situao, que apre-
sente a real dificuldade da execuo, permitindo uma ao efetiva na disfuno.
Concluda a Anlise Ergonmica do Trabalho, o resultado poder ser o Estu-
do, o Relatrio ou o Laudo. O Laudo Ergonmico apenas aponta os principais elementos de
dificuldade, direcionando para o Relatrio e o Estudo. O Relatrio apresenta descries
sintticas e recomendaes. O Estudo uma memria tcnica da interveno sendo portanto
mais extenso e completo, podendo ser construdo um Caderno de Encargos, onde as reco-
mendaes se estruturam em um projeto de interveno, possibilitando a realizao das
transformaes propostas.
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RR EE FF EE RR NN CC II AA SS BB II BB LL II OO GG RR FF II CC AA SS
FIALHO, F. E SANTOS, N. dos. Manual da anlise ergonmica no trabalho. Curitiba,
Editora Gnesis, 1995.
WISNER,A. A Inteligncia no Trabalho, So Paulo, FUNDACENTRO, 1994.
ABRAHO, J. Ergonomia: modelo, mtodos e tcnicas, 1993.
VIDAL, M. Roteiro de Anlise Ergonmica do Trabalho, no publicado, Rio de Janeiro,1998.
VIDAL, M. C. , GOMES, J. e ETCHERNACHT, E. H.. Conceitos bsicos para uma en-
genharia do trabalho. (Notas de Aula, Texto 2) Disciplina Engenharia do Trabalho,
Curso de Engenharia de Produo, Rio de Janeiro, GENTE/COPPE,1995.
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4. AA nn ll ii ss ee EE rr gg oo nn mm ii cc aa dd oo TT rr aa bb aa ll hh oo SS oo bb aa tt ii cc aa ddaa FF ii ss cc aa ll ii zz aa oo
Paulo Antonio Barros Oliveira
Auditor Fiscal do TrabalhoDRT / RS
Neste documento, procuramos, de forma sucinta, apresentar alguns tpicos
da Anlise Ergonmica do Trabalho que, pela nossa experincia, consideramos mais fre-
qentes no trabalho do Auditor-Fiscal do Trabalho que inspeciona uma empresa e, entre
outras coisas, fiscaliza o cumprimento da NR 17.
Anlise da Demanda
A DEMANDA o ponto de partida da interveno ergonmica. Devem ser
observadas tanto as demandas explcitas, ou pouco explcitas, como as implcitas. Embora
elas possam ter diferentes origens (direo da empresa, sindicato, instituies ou organiza-
es profissionais), em nossa prtica nos deparamos com casos em que a demanda quase
que exclusivamente originada por nossas prprias notificaes. Na verdade, as empresas
procuram atender, de forma administrativa e jurdica, a uma demanda gerada pela fiscali-
zao, com a elaborao de um documento que eles denominam Laudo Ergonmico, e isso
acaba por dar um perfil bem determinado ao estudo que ser feito.
No recomendvel a solicitao de estudo ergonmico de toda uma em-
presa, mas sim das situaes e/ou postos identificados como problemticos, ou que, pelo
processo produtivo, so importantes para a compreenso do fenmeno que est sendo estu-
dado.
Importante: a DEMANDA pode e deve ser reformulada, construda e re-
construda a partir da interao, entre outros, entre ergonomista/demanda, ergonomis-
ta/Auditor-Fiscal e ergonomista/empresa/trabalhadores. Papel importante da inspeo do
trabalho promover a participao dos trabalhadores e de seus representantes nesse proces-
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so. a partir desse momento que parte importante do estudo comea a ser estruturado, e o
papel da qualidade futura do estudo pode ser aqui definido.
Reconhecida a origem da demanda, identificados os diferentes interesses
envolvidos (particulares, coletivos, muitas vezes conflitivos), deve o estudo identificar e
conhecer os objetivos e interesses do demandante com relao interveno ergonmica;
conhecer a histria da demanda; hierarquizar/ articular/ evidenciar problemas existentes;
melhor compreender os problemas existentes e sua manifestao concreta j em uma pri-
meira visita. Outro aspecto a delimitao do campo de estudo (condicionado s imposi-
es de prazo e complexidade dos problemas), a verificao do ponto de vista dos dife-
rentes setores, e para isso deve o ergonomista demonstrar o seu cuidado em tentar perceber
as fontes de conflitos (verificar condies de execuo do trabalho), a busca de informaes
pertinentes e de ter permitido aos atores a compreenso de que ergonomia (e vice-versa).
Somos de opinio de que o Auditor-Fiscal deve estar preparado para acei-
tar, por exemplo, a reformulao de sua notificao, principalmente se ficar demonstrado
que, no estudo da demanda, houve a participao de todos os atores sociais, e foram incor-
porados os interesses dos diferentes operadores da atividade a ser analisada.
O funcionamento da empresa deve ser perfeitamente identificado, como,
por exemplo:
1)o contexto econmico e comercial (mercado), consumidores, regula-
mentao, clientes, concorrncia, posio da empresa nos mercados in-
terno/externo;
2)produtos: tipos, qualidade, materiais, exigncias dos clientes;3)histria e perspectivas futuras: poltica de desenvolvimento, origem, es-
trutura administrativa, evoluo, poltica, estratgias;
4)geo-economia: ambiente geogrfico, aprovisionamento de matria prima
e de material de consumo, vias de acesso, mercado de mo-de-obra, cli-
ma, localizao, qualidade do tecido e social industrial de suporte;
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5)populao de trabalho: idade, evoluo da pirmide de idades, tempo de
servio, formao, qualificao, tipos de contrato, experincia, tempo de
casa, poltica de pessoal da empresa, categorias profissionais, nveis hie-
rrquicos, absentesmo, horas extras, antropometria;
6)sade coletiva: manifestaes mais freqentes, mais graves, declarados
ou no;
7)dimenso tcnica da produo: tecnologia, caractersticas das matrias
primas, variaes sazonais da produo; produto: tipo, qualidade e mate-
riais;
8)organizao da produo: fluxogramas do processo, principais etapas e
tarefas, lay-out, tecnologia, automao, metas produtivas, capacidade de
produo, ndice de produtividade, % de refugo, % de utilizao da capa-
cidade instalada, taxa de ocupao das mquinas, o vocabulrio do me-
tier, observao das latas de lixo, modelos de gesto, gesto de esto-
ques, gesto da qualidade;
9)organizao do trabalho: horrios, turnos, cadncias, polticas de remu-
nerao, reparties de tarefas, polivalncia, qualificaes, terceirizao,
grau e forma de equipes, organograma;
10)dimenso legislativa e regulamentos: ambiental, sanitria, civil e penal,
condies de trabalho, propriedade industrial, insalubridade, periculosi-
dade e penosidade;
11)resduos: exigncias quanto aos rejeitos industriais, o que feito com o
lixo, qualidade, processamento;
O passo seguinte a DEFINIO DAS SITUAES DE TRABALHO A
SEREM ESTUDADAS. A escolha da situao a analisar parte, necessariamente, da DE-
MANDA, dos primeiros contatos com os operadores e das hipteses iniciais que j come-
am a ser formuladas pelo ergonomista.
Feito isso, hora das OBSERVAES GERAIS E PRELIMINARES.
Neste momento o processo tcnico e as atividades da empresa so analisados (objetivos e
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normas de avaliao e controle, descries do processo, divises de tarefas, entre outros).
importante que sejam descritos os itens que foram observados, como foram realizadas as
observaes livres, e se houve a identificao de incidentes e acidentes (como e em que
quantidade, por exemplo), bem como a metodologia das entrevistas e da coleta das verbali-
zaes dos trabalhadores.
Deve o estudo identificar um PR-DIAGNSTICO, a partir do qual o tra-
balho foi estruturado, onde as HIPTESES tenham sido detalhadas. Coerente com este pr-
diagnstico e com as hipteses de trabalho, o PLANO DE OBSERVAO (variveis ob-
servveis, pr-codificao, testes, tcnicas de registro utilizadas) dever estar perfeitamente
explicitado no estudo. Em nosso meio so poucas as anlises ergonmicas cuja descrio
contempla esta questo.
Os passos seguintes so as OBSERVAES DETALHADAS. O estudo
ergonmico deve conter, deve identificar, todas as OBSERVAES SISTEMTICAS rea-
lizadas (coleta de dados, anlises, validao, anlises comparativas). Esta demonstrao de
fundamental importncia, por exemplo, para quem analisa um estudo dessa ordem, de modo
a permitir a compreenso, por quem l o documento, de qual a lgica e qual a estratgia do
ergonomista.
A seguir, selecionamos alguns elementos que podem fazer parte e que po-
dem constituir essa parte do documento, de forma a descrever e dar maior visibilidade s
tarefas executadas. Esta lista consta na literatura consultada e deve ser entendida como de
ca