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Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe

Departamento de Geodésia - UFRGS

ERA DOS DESCOBRIMENTOS

Texto original: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Setembro/2015

Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS

O “Typus Orbis Terrarum" ("Mapa do Globo Terrestre") de Abraham Ortelius,

publicado em 1570 em Antuérpia, considerado o primeiro atlas moderno, resultado

das intensas explorações marítimas. Teve 31 edições em sete idiomas: Latim,

holandês (1571), alemão(1572), francês (1572), castelhano (1588), inglês (1606)

e italiano (1608).

Era dos descobrimentos (ou das Grandes Navegações) é a

designação dada ao período da história que decorreu entre o século XV e o início do século XVII, durante o qual, inicialmente, portugueses,

depois espanhóis e, posteriormente, alguns países europeus

exploraram intensivamente o globo terrestre em busca de novas rotas

de comércio.

Os historiadores geralmente referem-se à "era dos

descobrimentos" como as explorações marítimas pioneiras, as quais

estabeleceram relações com a África, as Américas e a Ásia, em busca

de uma rota alternativa para as "Índias" movidas pelo comércio de

ouro, prata e especiarias. Estas explorações no Atlântico e Índico foram

seguidas por outros países da Europa, tais como, França, Inglaterra e

Países Baixos, que exploraram as rotas comerciais portuguesas e

espanholas até ao oceano Pacífico, chegando à Austrália em 1606 e à Nova Zelândia em 1642. A exploração europeia perdurou até realizar o

mapeamento global do mundo, resultando numa nova mundivisão e no

contato entre civilizações distantes, alcançando as fronteiras mais

remotas muito mais tarde, já no século XX.

A era dos descobrimentos marcou a passagem do feudalismo da

Idade Média para a Idade Moderna, com a ascensão dos estados-nação

europeus. Durante este processo, os europeus encontraram e

documentaram povos e terras nunca antes vistos. Juntamente com o

Renascimento e a ascensão do humanismo, foi um importante motor para o início da modernidade, estimulando a pesquisa científica e

intelectual. A expansão europeia no exterior levou ao surgimento dos

impérios coloniais, com o contato entre o Velho e o Novo Mundo a

produzir o chamado "intercâmbio colombiano" (Columbian

Exchange), que envolveu a transferência de plantas, animais, alimentos

e populações humanas (incluindo os escravos), doenças transmissíveis

e culturas entre o hemisfério ocidental e oriental, num dos mais

significativos eventos globais da ecologia, agricultura e cultura da

história.

Entre os mais famosos exploradores deste período, destacam-se Cristóvão Colombo (pela descoberta da América), Vasco da Gama

(do caminho marítimo para a Índia), Pedro Álvares Cabral,

Bartolomeu Dias, Américo Vespúcio, John Cabot, Fernão de

Magalhães, Willem Barents, Zheng He, Abel Tasman, Vicente

Yáñez Pinzón e James Cook.

Cristóvão Colombo Vasco da Gama Pedro Alvares Cabral Bartolomeu Dias

Américo Vespúcio John Cabot Fernão de Magalhães Willem Barents

Zheng He Abel Tasman Vicente Y. Pinzon James Cook

Antecedentes (1241-1439)

As importantes rotas comerciais da seda e das especiarias, bloqueadas pelo

Império Otomano em 1453 com a queda de Constantinopla o que motivou a

procura de um caminho marítimo pelo Atlântico, contornando a África.

Viagens de Marco Polo (1271-1295)

Os europeus tinham conhecimentos remotos sobre o continente

Asiático, vindos de relatos parciais, muitas das vezes obscurecidos por

lendas, ainda dos tempos das explorações de Alexandre o Grande e dos seus sucessores. Outra fonte eram relatos árabes do tempo da

ocupação cristã da Palestina e dos reinos cristãos das cruzadas. Pouco

era conhecido para lá da Anatólia e do mar Cáspio, regiões bárbaras

nos limites, sítios dos últimos cristãos "civilizados". O continente

africano era conhecido parcialmente, não se conhecendo o seu limite a

Sul, ou sequer se haveria esse limite, existindo apenas relatos de

grandes reinos africanos para lá do Saara, sendo o conhecimento real

dos europeus das costas mediterrânecas e pouco mais, já que o

bloqueio árabe não permitia explorações mais aprofundadas, senão o

dos contatos com os escravos negros vendidos na Europa. O conhecimento das costas africanas atlânticas era remoto e provinha

essencialmente de mapas antigos e de relatos de um tempo estranho e

distante em que os romanos chegaram a explorar a Mauritânia. Do mar

Vermelho, sabia-se da sua existência e pouco mais, sendo que só com

o desenvolvimento dos laços comerciais das repúblicas marítimas

italianas, Gênova e Veneza principalmente, se iniciou a verdadeira

exploração dessa zona.

Viagens medievais por terra

O prelúdio para a Era dos Descobrimentos foi uma série de

expedições que atravessaram a Eurásia por terra na Baixa Idade Média.

Embora os mongóis tivessem ameaçado a Europa com a pilhagem e destruição, os estados mongóis também unificaram grande parte da

Eurásia. A partir de 1206, a Pax Mongolica permitiu criar rotas

comerciais e vias de comunicação que se estendiam desde o Médio

Oriente até à China. Uma série de europeus aproveitou para explorar o

Oriente. Estes eram na maioria italianos, pois o comércio entre a

Europa e o Médio Oriente era então quase totalmente controlado por

comerciantes das Repúblicas marítimas de Génova, Veneza e Ragusa. A

estreita relação dos italianos com o Levante suscitou uma grande

curiosidade e interesse comercial sobre os países situados a oriente.

O primeiro desses viajantes foi Giovanni da Pian del Carpine, que viajou para a Mongólia entre 1241-1247. O viajante mais famoso,

porém, foi o veneziano Marco Pólo que na sua obra "As Viagens"

relatou as suas viagens em toda a Ásia entre 1271-1295, descrevendo

ter sido um convidado da Dinastia Yuan na corte de Kublai Khan. A

sua obra foi lida por toda a Europa e tornou-se num dos grandes

mananciais de informações na época. De 1325-1354, um estudioso

marroquino deTânger, Ibn Battuta, viajou do Norte de África ao Sul da

Europa, Médio Oriente e Ásia, tendo chegado à China. Após regressar,

ditou o relato destas viagens a um estudioso que conhecera em Granada, a Rihla, ("A viagem"), única e pouco divulgada fonte de

informação sobre suas aventuras. Em 1439, Niccolò Da Conti publicou

um relato das suas viagens à Índia e ao Sudeste Asiático.

Giovanni da Pian del Carpine Marco Polo Kublai Khan

Ibn Battuta Niccolò-da-Conti

Estas viagens tiveram pouco efeito imediato: o Império Mongol

desmoronou-se quase tão rápido como se formara fazendo com que as

rotas para o Oriente se tornassem muito mais difíceis e perigosas. A

epidemia de peste negra do século XIV também bloqueou as viagens e

o comércio e a ascensão agressiva e expansionista do Império

Otomano, que em 1453 viria a tomar Constantinopla, limitou ainda

mais as rotas terrestres para a Ásia.

Missões chinesas

Mapa "Mao Kun", que se acredita ser baseado nas viagens de Zheng He, com

direções de navegação entre portos do Sudeste Asiático e até Malindi, 1628.

Em 1368, destronada a dinastia Yuan, os Mongóis perderam

grande parte da China para a rebelde dinastia Ming. Os chineses

tinham estabelecido uma vasta rede de relações comerciais na Ásia,

Arábia, África Oriental e Egito desde a dinastia Tang (618-907 dC). Entre 1405 e 1421 o terceiro imperador Ming, Yongle, patrocinou uma

série de missões tributárias de longo curso no Oceano Índico sob o

comando do almirante Zheng He (Cheng Ho).

Para estas expedições diplomáticas internacionais foi preparada

uma grande frota de novos juncos a que os chineses chamavam ba

chuan (navios do tesouro). O maior destes navios pode ter medido até

121 m (400 pés) da proa à popa, com milhares de marinheiros

envolvidos nas viagens. A primeira expedição partiu em 1405. Pelo

menos sete expedições estão bem documentadas, cada uma maior e

mais cara do que a anterior. As frotas visitaram a Arábia, a África

Oriental, a Índia, o Arquipélago Malaio e o Sião (atual Tailândia),

trocando mercadorias pelo caminho. Presenteavam ouro, prata,

porcelana e seda, em contrapartida recebiam novidades, como

avestruzes, zebras, camelos, marfim e girafas. Após a morte do imperador, Zheng He liderou uma viagem final, partindo de Nanking

em 1431 e retornando em glória a Pequim, em 1433. É muito provável

que esta última expedição tenha chegado a Madagascar. As viagens

foram relatados por Ma Huan, um viajante e tradutor muçulmano que

acompanhou Zheng He em três das expedições, no relato "Ying-Yai

Sheng-Lam" (Relatório Geral das Costas Oceânicas) de 1433.

Imperador Yongle Ba Chuan

Estas longas viagens não tiveram seguimento, pois a dinastia

Ming recolheu-se numa política de isolacionismo, limitando o comércio

marítimo. As viagens terminaram abruptamente após a morte do

imperador, com os chineses a perderem o interesse pelo que

chamavam "as terras bárbaras": o imperador Hongxi terminou com

as futuras expedições e o imperador Xuande eliminou muitas das

informações sobre as viagens de Zheng He.

Imperador Hongxi Imperador Xuande

Exploração marítima no Atlântico

Rotas comerciais genovesas(vermelho) e venezianas (verde)

no Mediterrâneo e no mar Negro.

Do século VII ao século XV, a República de Veneza e vizinhas

repúblicas marítimas detiveram o monopólio do comércio europeu com

o Médio Oriente. O comércio de seda e de especiarias, envolvendo

incensos, ervas, drogas e ópio, tornou estas cidades-Estado do

Mediterrâneo, fenomenalmente ricas.

As especiarias estavam entre os mais caros e procurados produtos

da Idade Média: eram usadas na medicina que enfrentava guerras e

epidemias constantes, em rituais religiosos, como cosméticos, na perfumaria, bem como aditivos alimentares e conservantes. Eram todas

importadas da Ásia e da África: comerciantes muçulmanos,

descendentes de navegadores árabes iemenitas e omanis, dominavam

as rotas no Oceano Índico, batendo as regiões de origem no Extremo

Oriente e transportando-as para empórios comerciais na Índia, como

Calcutá, e daí para oeste, por Ormuz no Golfo Pérsico, e Jidá no Mar

Vermelho. Destas regiões, por rotas terrestres, eram transportadas

para as costas mediterrâneas. Mercadores venezianos faziam a

distribuição pela Europa até a ascensão do Império Otomano, que viria

a tomar Constantinopla em 1453, barrando aos europeus importantes rotas combinadas, marítimas e terrestres, elevando assim o preço dos

produtos para valores astronômicos.

Forçados a reduzir as suas atividades no mar Negro, e em guerra

com Veneza, os mercadores da República de Gênova, voltaram-se

para o comércio norte africano de trigo, azeite (valorizado também

como fonte de energia) e na busca de prata e ouro. Os europeus

tinham um défice constante de metais preciosos, pois a moeda seguia

um caminho: saía da Europa para pagar o comércio oriental de que

agora estavam cortados. As minas europeias estavam esgotadas, e a falta de moeda levou ao desenvolvimento de um sistema bancário

complexo para gerenciar os riscos envolvidos no comércio. Navegando

entre o norte da África e os portos de Bruges (Flandres) e Inglaterra,

genoveses e florentinos estabeleceram então comunidades em

Portugal, que beneficiou da iniciativa empresarial e experiência

financeira destes rivais da República de Veneza.

Em 1297, com a Reconquista concluída, o rei de Portugal D.Dinis

interessara-se pelo comércio externo, organizando a exportação para

países europeus. Em1317, fez um acordo com o navegador e mercador genovês Manuel Pessanha (Pesagno), nomeando-o primeiro almirante

da frota real, com o objetivo de defender as costas do país contra

ataques de piratas (muçulmana). Na segunda metade do século XIV,

surtos de peste bubônica levaram a um grave despovoamento. Só o

mar oferecia alternativas, com a maioria da população fixada nas zonas

costeiras, de pesca e comércio. Entre 1325-1357 D. Afonso IV de

Portugal ordenou as primeiras explorações marítimas, com apoio de

genoveses. Em 1341, as ilhas Canárias, já conhecidas dos genoveses,

foram oficialmente descobertas sob o patrocínio do rei Português.

Rei D. Dinis Rei D. Afonso IV

Primeiras expedições portuguesas do Atlântico (1419-1460)

Rotas trans-Saarianas de comércio, cerca de 1400.

Em 1415, Ceuta foi ocupada pelos portugueses visando o controlo

da navegação na costa norte Africana, evento este convencionado como

o início da expansão portuguesa. O jovem príncipe infante D.

Henrique, que participou na conquista, tomou aí conhecimento das

possibilidades de lucro das rotas comerciais trans-Saarianas. Durante

séculos, rotas de escravos e do comércio de ouro ligavam a África

Ocidental ao Mediterrâneo, atravessando o deserto do Saara,

controladas por poderes muçulmanos hostis do Norte da África. O infante D. Henrique queria saber até onde os territórios muçulmanos

se estendiam, na esperança de ultrapassá-los e negociar diretamente

por mar, bem como encontrar aliados nas terras cristãs que se

imaginavam existir para o sul, como lendário Rei Preste João e sondar

se seria possível chegar às Índias, origem do lucrativo comércio de

especiarias. Investiu então o seu patrimônio pessoal no patrocínio de

viagens exploratórias na costa da Mauritânia, reunindo um grupo de

comerciantes, armadores e interessados em novas rotas marítimas.

Infante D. Henrique Preste João

Em 1418, deu-se o redescobrimento da ilha do Porto Santo por

João Gonçalves Zarco e mais tarde da ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Os arquipélagos da Madeira e das Canárias despertaram,

desde cedo, o interesse tanto dos Portugueses como dos Castelhanos;

pelo motivo desses serem vizinhos da costa africana, a qual

representavam fortes potencialidades econômicas e estratégicas. Em

1427, Diogo de Silves chega ao arquipélago dos Açores.

João G. Zarco Tristão Vaz Teixeira Diogo de Silves

Desde 1422, navegações sucessivas, ao longo da costa africana,

tentaram ultrapassar o cabo Não, o limite sul considerado

intransponível por europeus e árabes. Em 1434, Gil Eanes contornou o

cabo Bojador, dissipando o terror que este promontório inspirava. No

ano seguinte, navegando com Afonso Gonçalves Baldaia

descobriram Angra de Ruivos e este último chegou ao rio de Ouro, no

Saara Ocidental. Entretanto, após a derrota portuguesa de Tânger, em

1437, os portugueses adiaram o projecto de conquistar Marrocos no Norte da África. Em 1441, Nuno Tristão chegou ao cabo Branco.

Juntamente com Antão Gonçalves, fizeram incursões ao rio do Ouro.

A partir de então ficou generalizada a convicção de que essa área da

costa africana poderia, independentemente de novos avanços,

sustentar uma atividade comercial.

Gil Eanes Afonso G. Baldaia Nuno Tristão

Em 1453, ocorre a queda de Constantinopla, tomada pelos

Otomanos, ocasionando um golpe para o cristianismo e para as

relações comerciais estabelecidas. Em 1455 é emitida a bula Romanus

Pontifex pelo Papa Nicolau V reforçando a anterior Dum Diversas

de 1452, declarando que as terras e mares descobertos além do Cabo

Bojador são pertencentes aos reis de Portugal, autorizando o comércio

e as conquistas contra muçulmanos e pagãos, iniciando assim a política

de mare clausum no Atlântico.

Papa Nicolau V Diogo Gomes Antônio da Noli Alvise Cadamosto

Em 1456, Diogo Gomes atingiu o arquipélago de Cabo Verde. Na

década seguinte vários capitães no serviço do Infante D. Henrique

como o genovês Antônio da Noli e o veneziano Alvise Cadamosto

descobrem as restantes ilhas e segue-se o povoamento ainda no século

XV. O Golfo da Guiné seria atingido nos anos 1460.

Explorações após o Infante D. Henrique (1460-1488)

Réplica de caravela, utilizada a partir de meados do século XV

na exploração oceânica

Em 1460, Pêro de Sintra atingiu Serra Leoa. Em novembro desse

mesmo ano faleceu o infante D. Henrique e, em 1469, dadas as poucas

receitas da exploração, Afonso V, Rei de Portugal concedeu o

monopólio do comércio no golfo da Guiné ao mercador lisboeta Fernão

Gomes, contra uma renda anual de 200.000 réis. Segundo João de

Barros, ficava aquele "honrado cidadão de Lisboa" com a obrigação de

continuar as explorações, pois o exclusivo do comércio era garantido

com a "condição que em cada um destes cinco anos fosse obrigado a

descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do

seu arrendamento tivesse quinhentas léguas descobertas".

Pêro de Sintra Afonso V Fernão Gomes João de Barros

Este avanço, do qual não há grandes pormenores, teria começado

a partir de Serra Leoa, onde já haviam chegado Pêro de Sintra e

Soeiro da Costa. Com a colaboração de navegadores como João de

Santarém, Pêro Escobar, Lopo Gonçalves, Fernão do Pó e Pêro

de Sintra, Fernão Gomes fê-lo mesmo para além do contratado: com

o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao Cabo de Santa Catarina,

já no Hemisfério Sul. João de Santarém e Pêro Escobar exploraram

a costa setentrional do Golfo da Guiné, atingindo a "mina de ouro" de Sama (atualmente Sama Bay), a costa da Mina, a cota de Benin, a

costa do Calabar e a costa do Gabão e as ilhas de São Tomé e Príncipe

e de Ano Bom. Quando as expedições chegaram a Elmina na Costa do

Ouro em 1471, encontraram um florescente comércio local de ouro de

aluvião.

Soeiro da Costa João de Santarém Pêro Scobar

Fernão do Pó Lopo Gonçalves

Em 1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o príncipe D. João, futuro D. João II, a organização das explorações por terras africanas,

que assim passaram da iniciativa privada para a coroa. Este fez o

reconhecimento de toda a costa até à região do padrão de Santo

Agostinho. Em 1483, Diogo Cão chegou ao rio Zaire e dois anos

depois, numa segunda viagem, até à serra Parda.

Em 1487, D. João II enviou Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã

por terra em busca do Preste João e de informações sobre a

navegação e comércio no Oceano Índico. Nesse mesmo ano,

Bartolomeu Dias, comandando uma expedição com três caravelas,

atingiu o cabo da Boa Esperança. Estabelecia-se assim a ligação náutica

entre o Atlântico e o oceano Índico. O projeto para o caminho marítimo

para a Índia foi delineado por D. João II como medida de redução dos

custos nas trocas comerciais com a Ásia e na tentativa de monopolizar

o comércio das especiarias. A juntar a cada vez mais sólida presença

marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais

e a expansão do reino de Portugal que já se transformava em Império.

Porém, o empreendimento não seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar Vasco da Gama

para esta expedição, embora mantendo o plano original.

D. João II Diogo Cão Afonso de Paiva

D. Manoel I Pêro da Covilhã

Colombo chega às "Índias Ocidentais" (1492)

As quatro viagens de Cristóvão Colombo (1492-1503)

O Reino de Castela (precursor de Espanha) rival de Portugal, foi

um pouco mais lento a começar a explorar o Atlântico. Apenas no final

do século XV, após a unificação das coroas de Castela e Aragão e uma

vez concluída a reconquista, os espanhóis se mostraram empenhados

na procura de novas rotas comerciais. A coroa de Aragão fora um

potentado marítimo do Mediterrâneo, controlando territórios no leste da

Espanha, sudoeste da França e ilhas como Maiorca, Sicília e Malta, o

Reino de Nápoles e a Sardenha, em domínios que se estendiam até a Grécia. Em 1492, os reis católicos conquistaram o reino mouro de

Granada que vinha fornecendo mercadorias africanas através de tributo

a Castela, e decidiram financiar a expedição do genovês Cristovão

Colombo - que por duas vezes, em 1485 e 1488, se apresentara ao rei

D. João II de Portugal, sem sucesso - "na esperança de desviar o

comércio de Portugal com África e daí com o oceano Índico, chegando à

Ásia viajando para oeste."

Cristóvão Colombo D. João II

Navegando para a coroa espanhola, Cristóvão Colombo partiu de do porto de Palos de la Frontera em 3 de agosto de 1492, com três

pequenas embarcações: a nau Santa Maria e as caravelas Niña e

Pinta. A 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo chegou ao que

chamou as "Índias ocidentais", um ilhéu das Bahamas a que deu o

nome de São Salvador. Continuando a navegar acostou em Cuba

(cujo nome é derivado da palavra Taíno, "cubanacán", significando "um

lugar central") e chegou ao Haiti a que deu o nome de Hispaniola.

Supondo de ter chegado à Índia deixou uma pequena colônia e

regressou à Europa. Na segunda viagem em 1493, avistou as Antilhas

e abordou a Martinica. Rumou depois para o norte e alcançou Porto Rico. Foi a Hispaniola, onde a pequena colônia tinha sido arrasada

pelos indígenas, tendo ali deixado outro contingente de homens,

navegou para o ocidente e chegou à Jamaica. Nessa viagem fundou

Isabela, atual Santo Domingo, na República Dominicana, a primeira

povoação europeia no continente americano.

A Nau Santa Maria e as Caravelsa Niña e Pinta

Os espanhóis ficaram inicialmente decepcionados com as suas

descobertas, ao contrário da África ou da Ásia, as ilhas do Caribe pouco

comércio permitiam. Estas ilhas tornaram-se assim o foco de esforços de colonização. Só mais tarde, quando o interior do continente foi

explorado, é que a Espanha encontraria a riqueza que tinha procurado

na forma de prata e ouro abundante.

Nas Américas, os espanhóis encontraram uma série de impérios

tão grandes e populosos como os da Europa. No entanto, os pequenos

grupos de conquistadores espanhóis, conseguiram vencer estes

grandes impérios, simplismente por possuirem armamento mais

sofisticado. Os mais notáveis dos estados conquistados foram o

império asteca no México (conquistado em 1521) e o império inca no Peru(conquistado em 1532). Durante este tempo, as ipidemias de

doenças como a varíola europeia devastaram as populações indígenas.

Uma vez a soberania espanhola estabelecida, a exploração centrou-se

na extração e exportação de ouro e prata.

O Tratado de Tordesilhas (1494)

Meridiano de Tordesilhas de 1494 e seu antimeridiano estabelecido pelo

Tratado de Saragoça em 1529

Depois da chegada de Colombo às "Índias Ocidentais", uma

divisão da zona de influência tornou-se necessária para evitar futuros conflitos entre espanhóis e portuguêses. Isto foi resolvido em 1494,

com a assinatura, sob egide papal, do Tratado de Tordesilhas que

"dividia" o mundo entre as duas potências da época, Portugal e

Espanha.

Imediatamente após o regresso de Colombo, em 1493, os reis

católicos tinham obtido do papa Alexandre VI a bula pontifícia Inter

caetera afirmando que todas as terras a oeste e sul de um meridiano

que localizado a 100 léguas a oeste dos Açores ou das ilhas de Cabo

Verde deveriam pertencer à Espanha e, mais tarde, incuindo todos os territórios da Índia. Não mencionava Portugal, que não podia reivindicar

terras recém-descobertas nem sequer a leste desta linha. O rei D. João

II de Portugal não ficou satisfeito com o acordo, sentindo que este lhe

dava pouca margem, impedindo-o de chegar à Índia, seu objetivo

principal. Negociou então diretamente com o rei Fernando de Aragão

e a rainha Isabel de Castela para mover esta linha para oeste,

permitindo-lhe reivindicar todas as terras recém-descobertas a leste do

mesmo.

No Tratado de Tordesilhas, de 1494, os portugueses "recebiam"

todos os territórios fora da Europa a leste de um meridiano que se localizava a 270 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, o que dava o

controle sobre a África, Ásia e leste da América do Sul (Brasil). Aos

espanhóis foram atribuídos todos os territórios a oeste dessa linha,

ainda quase totalmente desconhecidos, e que se revelaram ser

principalmente a parte ocidental do continente americano e as ilhas do

oceano Pacífico.

Papa Alexandre VI Fernando de Aragão Isabel de Castela

O Novo Mundo (1497-1507)

Nau de Pedro Alvares Cabral

Só uma pequena parte da área dividida pelo Tratado de

Tordesilhas havia sido vista pelos europeus, sendo dividida apenas no

papel. Imediatamente após a primeira viagem de Colombo vários

exploradores navegaram na mesma direção. Em 1497,Giovanni

Caboto, também um italiano, obteve uma carta-patente do rei

Henrique VII de Inglaterra. Partindo de Bristol, provavelmente

apoiado pela associação local "Society of Merchant Venturers", Caboto

cruzou o Atlântico mais a norte, esperando que a viagem fosse mais

curta e aportou na América do Norte, possivelmente na Terra Nova.

Em 1499, João Fernandes Lavrador foi licenciado pelo rei de

Portugal e, juntamente com Pêro de Barcelos, pela primeira vez

avistou o Labrador, que lhe foi concedido e nomeado em sua homenagem. Após regressar possivelmente foi para Bristol, navegando

em nome da Inglaterra. Praticamente ao mesmo tempo, entre 1499-

1502, os irmãos Gaspar e Miguel Corte Real exploraram e nomearam

as costas da Gronelândia e da Terra Nova. Ambas as explorações foram

assinaladas no planisfério de Cantino de 1502.

Giovanni Caboto Henrique VII João Fernandes Lavrador

Miguel Corte Real Gaspar Corte Real

Planisféiro de Cantino 1502

As "verdadeiras Índias", o Brasil e a América

Mapa de Martin Waldseemüller de 1507 onde aparece pela

primeira vez o nome América

Em 1497, cumprindo o projeto do seu antecessor de encontrar

uma rota para as Índias, o recém-coroado rei D. Manuel I de

Portugal enviou uma frota exploratória para este. Em julho 1499

espalhou-se a notícia de que os portugueses tinham chegado às

"verdadeiras Índias", como constava numa carta imediatamente

enviada pelo rei Português aos Reis Católicos, um dia após a chegada da celebrada frota.

Ao mesmo tempo em que Colombo embarcava, em duas novas

viagens, para explorar a América Central, entrando em conflito com a

coroa espanhola, uma segunda grande armada Portuguesa foi enviada

para a Índia. A frota de treze navios e cerca de 1.500 homens partiu de

Lisboa em 9 de março de 1500. Comandada por Pedro Álvares

Cabral, incluía uma tripulação experiente, incluindo os peritos

Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho e o escrivão Pêro Vaz de

Caminha. Para evitar a calmaria ao largo da costa do Golfo da Guiné,

navegaram na direção sudoeste, numa grande "volta do mar". Em 21

de abril, avistaram uma montanha que nomearam "monte Pascoal", em 22 de abril desembarcaram na costa, e no dia 25 de abril toda a

frota velejou para um porto que chamaram "Porto Seguro". Cabral

tendo percebido que a nova terra estava a leste da linha de

Tordesilhas, logo enviou um emissário a Portugal com a importante

notícia, acreditando que as recém-descobertas terras eram uma ilha,

que denominou "Ilha de Vera Cruz". Alguns historiadores defendem

que os portugueses já sabiam da existência do bojo formado pela

América do Sul ao realizar a chamada manobra de "volta do mar", por

isso a insistência do rei D. João II em mover para oeste a linha de Tordesilhas, afirmando que o desembarque no Brasil pode não ter sido

acidental.

Pedro Alvares Cabral Bartolomeu Dias Nicolau Coelho

Pêro Vaz de Caminha Américo Vespúcio Juan de la Cosa

A convite do rei D. Manuel I de Portugal, Américo Vespúcio,

um florentino que trabalhara para uma dependência do banco Medici

em Sevilha desde 1491, equipando as frotas oceânicas, e que por duas

vezes viajara às Guianas com Juan de la Cosa a serviço da Espanha,

participou como observador nas primeiras viagens exploratórias à

América do Sul, entre 1499 e 1502, expedições que se tornaram

amplamente conhecidas na Europa depois de dois relatos que lhe são

atribuídos, publicados entre 1502 e 1504.

Logo se percebeu que Colombo não tinha chegado à Ásia, mas

sim ao que era visto pelos europeus como um Novo Mundo: as

Américas. A América foi assim nomeada pela primeira vez em 1507

pelos cartógrafos Martin Waldseemüller e Matthias Ringmann,

provavelmente inspirados em Américo Vespúcio,o primeiro Europeu a

sugerir que as terras recém-descobertas não era a Índia, mas um

"Novo Mundo" ou "Mundus Novus", o título em latim do documento

baseado nas cartas de Vespúcio a Lorenzo di Pierfrancesco de

Médici, que então se havia se tornado muito popular na Europa.

Martin Waldseemüller Matthias Ringmann Lorenzo di Pierfrancesco de Médici

Afonso de Albuquerque

O caminho marítimo para a Índia e as expedições portuguesas no Índico (1498-1517)

Caminho percorrido por Vasco da Gama (preto); por Pêro da Covilhã (laranja) e de

Afonso de Paiva (azul), depois da longa viagem que fizeram juntos (verde).

Protegida da concorrência direta espanhola pelo Tratado de

Tordesilhas, a exploração portuguesa continuou a ritmo acelerado. Por

duas vezes, em 1485 e em 1488, Portugal rejeitara oficialmente a

proposta de Cristovão Colombo de chegar à Índia navegando para

oeste. Os peritos do rei eram da opinião que a estimativa de Colombo

de uma viagem de 2.400 milhas (3.860 km) estava subavaliada. Além

disso pouco depois, Bartolomeu Dias regressara a Portugal após

dobrar, com sucesso, a ponta sul da África, mostrando que o oceano

Índico era acessível pelo Atlântico e, portanto, sabiam que navegando

para oeste para chegar às Índias exigiria uma viagem muito mais longa.

Após o contornar do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu

Dias em 1487, e Pêro da Covilhã ter atingido a Etiópia por terra,

mostrando que a riqueza do oceano Índico era acessível a partir do

Atlântico, Vasco da Gama partiu rumo à descoberta do caminho

marítimo para a Índia, e chegou em Calecute em 20 de maio de 1498,

retornando em glória para Portugal no ano seguinte. Em 1500, na

segunda expedição enviada para a Índia, Pedro Álvares Cabral

avistou o litoral brasileiro. Dez anos depois, Afonso de Albuquerque conquistou Goa, na Índia e pouco depois, em 1511, Malaca, na Malásia.

Simultaneamente investiu esforços diplomáticos com os mercadores do

sudeste asiático, como os chineses, na esperança de que estes

fizessem eco das boas relações com os portugueses. Conhecendo as

ambições siamesas sobre Malaca, imediatamente enviou Duarte

Fernandes em missão diplomática ao Reino do Sião (atual Tailândia),

onde foi o primeiro europeu a chegar viajando num junco chinês que

retornava à China, estabelecendo relações amigáveis entre os reinos de

Portugal e do Sião.

Navio Frol de la mar

Ainda em novembro de 1511, ao tomar conhecimento da

localização secreta das chamadas "ilhas das especiarias", ordenou a

partida dos primeiros navios portugueses para o sudeste asiático,

comandados pelo seu homem de confiança Antônio de Abreu e por

Francisco Serrão, guiados por pilotos malaios. Estes são os primeiros

europeus a chegarem às ilhas Banda, nas ilhas Molucas. A nau de

Serrão encalhou próximo a Ceram e o sultão de Ternate, Abu Lais,

entrevendo uma oportunidade de aliar-se com uma poderosa nação

estrangeira, trouxe os tripulantes para Ternate em 1512. A partir de então os portugueses foram autorizados a erguer uma fortificação-

feitoria na ilha, na passagem para o oceano Pacífico: o Forte de São

João Baptista de Ternate.

Francisco Serrão Forte de São João Baptista de Ternate

Em maio de 1513, navegando de Malaca (atual Malásia), Jorge

Álvares foi o primeiro europeu a atingir o Sul da China. Embora tenha

desembarcando na ilha de Lintin no delta do rio das Pérolas, foi Rafael

Perestrelo, um primo da esposa de Cristóvão Colombo, o primeiro

explorador europeu a desembarcar na costa continental chinesa em

1516 e negociar em Cantão (Guangzhou) no mesmo ano, comandando

um navio português, com uma tripulação de malaios. Fernão Pires de

Andrade visitou Cantão em 1517 e abriu o comércio com a China. A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas feitorias

portuguesas na província de Cantão, aonde viria a se estabelecer o

entreposto de Macau em 1557. De acordo com os registos disponíveis,

foi o primeiro europeu a alcançar e visitar o território que atualmente é

Hong Kong.

Jorge Álvares Rafael Perestrelo

Exploração no Oceano Pacífico

Viagem de Vasco Núñez de Balboa em 1513

Em 1513, a cerca de 40 quilômetros a sul de Acandí, na atual

Colômbia, o espanhol Vasco Núñez de Balboa ouviu dos caciques a

notícia inesperada de que existiria um "outro" mar rico em ouro, a qual

recebeu com grande interesse. Com poucos recursos e utilizando a

informação dos caciques, atravessou o istmo do Panamá com 190

espanhóis, alguns guias nativos e uma matilha de cães. Usando um

bergantim e dez pequenas canoas nativas, navegou ao longo da costa.

A 6 de setembro a expedição foi reforçada com 1.000 homens,

travando diversas batalhas, entrou numa densa selva e subiu a serra

ao longo do rio Chucunaque de onde esse "outro" mar podia ser visto. Balboa avançou e, na manhã de 25 de setembro, avistou no horizonte

um mar desconhecido, tornando-se o primeiro europeu a ter visto ou

alcançado o oceano Pacífico a partir do Novo Mundo. A expedição

desceu em direção à praia para uma curta viagem de reconhecimento.

Depois de viajar mais de 110 km, Balboa chamou a baía, aonde

chegaram, de baía de San Miguel. Nomeou o novo mar "Mar do Sul",

pois havia viajado para sul para alcançá-lo. O principal objetivo da

expedição fora à busca de ouro e riquezas.Com este fim, cruzou as

terras dos caciques até às ilhas, nomeando a maior delas de ilha Rica (hoje conhecida como ilha do Rei) e o arquipélago ilhas Pérola, nome

que conserva até hoje. Em 1515-1516, Juan Díaz de Solís navegou

até ao Río de la Plata, que nomeou, morrendo na tentativa de

encontrar uma passagem na América do Sul para o "Mar do Sul" ao

serviço de Espanha.

Ao mesmo tempo, no Sudeste Asiático, os portugueses faziam o

primeiro relato europeu sobre o Pacífico ocidental, tendo identificado a

ilha de Luzon a leste de Bornéu, atuais Filipinas, a cujos habitantes

chamaram "luções".

Vasco Núñez de Balboa Juan Díaz de Solís

Primeira circum-navegação por Fernão de Magalhães (1519-1522)

Mapa das viagens de Fernão de Magalhães e Juan Sabastían Elcano

A partir de 1516, vários portugueses descontentes com a coroa

portuguesa reuniram-se em Sevilha, a serviço do recém-coroado

Carlos I de Espanha. Entre eles estavam os navegadores Diogo e

Duarte Barbosa, Estevão Gomes, João Serrão, Fernão de Magalhães, os cartógrafos Jorge Reinel e Diogo Ribeiro, os

cosmógrafos Francisco e Rui Faleiro e o mercador flamengo

Cristóvão de Haro.

Carlos I Duarte Barbosa Fernão de Magalhães

Fernão de Magalhães, que navegara na Índia a serviço de D.

Manuel I até 1512, quando da chegada às Molucas, e mantinha

contato com Francisco Serrão aí residente, desenvolveu a teoria de

que as ilhas estariam na zona de influência espanhola de Tordesilhas e

que havia uma passagem no Atlântico Sul, sustentado em estudos dos

irmãos Faleiro. Ciente dos esforços da coroa espanhola para encontrar

uma rota para a Índia navegando para oeste, apresentou o projeto de

aí chegar.

A coroa espanhola e Cristovão de Haro financiaram a expedição

de Fernão de Magalhães. A 10 de agosto de 1519 partiu de Sevilha a

frota de cinco navios, a caravela Trinidad como navio-almirante sob o comando de Magalhães, e as naus San Antonio, Concepción, Santiago e

Victoria com uma tripulação de cerca de 237 homens de várias nações,

com objetivo de chegar às ilhas Molucas por ocidente, tentando

recuperá-las para a esfera econômica e política da Espanha. A frota

navegou para sul, evitando o território Português no Brasil, tornando-se

a primeira a chegar à Tierra del Fuego, no extremo das Américas.

Victoria, o único navio da frota de Magalhães a ter completado a circum-navegação.

Em 21 de outubro, a partir do cabo Virgenes, começou uma árdua

viagem de 600 km através do estreito nomeado então de todos os

Santos, atual estreito de Magalhães. Em 28 de novembro três navios

entraram no oceano Pacífico, então chamado "mar Pacífico", devido à

sua aparente tranquilidade. A expedição conseguiu atravessar o

Pacífico. Magalhães morreu em batalha em Mactan, próximo de Cebu,

nas Filipinas, deixando ao espanhol Juan Sebastián Elcano a tarefa

de completar a viagem, chegando as ilhas das Especiarias em 1521. Em

6 de setembro de 1522 a Victoria regressou a Espanha com apenas

dezoito membros da tripulação inicial, completando assim a primeira

circum-navegação do mundo. Dos homens que partiram nos cinco navios, apenas 18 completaram a circum-navegação e conseguiram

voltar para a Espanha em 1522 com Elcano. Dezessete outros

regressaram mais tarde: doze, capturados pelos portuguêses em Cabo

Verde, entre 1525-1527, e cinco sobreviventes da Trinidad. Antonio

Pigafetta, um acadêmico veneziano que insistira embarcar e se tornou

um fiel assistente de Magalhães, escreveu um diário detalhado que se

tornou a principal fonte do que hoje se sabe sobre esta viagem.

Juan Sebastian Elcano Antônio Pigafetta

Esta viagem à volta ao mundo deu à Espanha o conhecimento

valioso do mundo e seus oceanos, que mais tarde ajudou na exploração

e colonização das Filipinas. Embora esta não fosse uma alternativa

viável para concorrer com a rota do Cabo portuguesa em torno da

África (o estreito de Magalhães era muito distante para sul, e o oceano

Pacífico demasiado vasto para abranger numa única viagem a partir da

Espanha) sucessivas expedições espanholas usaram esta informação para viajar da costa mexicana através de Guam para Manila.

As navegações portuguesas para leste e espanholas para oeste cruzam-se (1525-1529)

Vista de Ternate para Tidore, as ilhas Molucas.

Três anos após o regresso da expedição de Magalhães, em 1525, o

rei Carlos I de Espanha enviou nova expedição navegando para oeste

liderada por García Jofre de Loaísa para ocupar e colonizar as ilhas

Molucas, alegando que estas estavam na sua zona do Tratado de

Tordesilhas. A frota de sete navios e 450 tripulantes incluia os mais

notáveis navegadores espanhóis: Jofre de Loaísa, Juan Sebastián

Elcano (que perderiam a vida nesta expedição) e o jovem Andrés de

Urdaneta. Frente ao estreito de Magalhães um dos navios foi

empurrado para sul por um vendaval e chegou a 56º S, onde pensaram

ver "o fim da terra": cruzaram assim pela primeira vez o cabo Horn. A expedição atingiu com dificuldade as Molucas, ancorando em Tidore.

Logo estalou o conflito com os portugueses estabelecidos na vizinha

ilha de Ternate desde 1512, iniciando quase uma década de

escaramuças.

García Jofre de Loaísa Andrés de Urdaneta

Como não havia um limite a leste estabelecido pelo Tratado de

Tordesilhas ambos os reinos acordaram reunir-se para resolver o

problema. De 1524 a 1529 peritos portugueses e espanhóis

encontraram-se na junta de Badajoz-Elvas tentando determinar o local

exato do antimeridiano de Tordesilhas, que dividiria o mundo em

dois hemisférios iguais. Cada coroa nomeou três astrônomos ou

cartógrafos, três pilotos e três matemáticos. Lopo Homem participou

do lado português e o cartógrafo Diogo Ribeiro na delegação espanhola. O conselho reuniu-se várias vezes, sem chegar a um

acordo: o conhecimento na época era insuficiente para o cálculo exato

da longitude, e cada grupo atribuia as ilhas ao seu soberano. A

"questão das Molucas" foi resolvida apenas em 1529, após longa

negociação, com a assinatura do Tratado de Saragoça, que atribuia

as ilhas Molucas a Portugal e as Filipinas a Espanha.

Entre 1525 e 1528 Portugal enviara várias expedições para

reconhecer o território ao redor das Molucas. Gomes de Sequeira e

Diogo da Rocha foram enviados pelo governador de Ternate, Jorge de Meneses, para norte sendo então os primeiros europeus a chegar

as ilhas Carolinas, que nomearam “ilhas de Sequeira”. Em 1526, Jorge

de Meneses ancorou na ilha Waigeo, na Papua-Nova Guiné. Nestas

explorações é que se baseia a teoria da descoberta da Austrália pelos

portugueses, defendida particularmente pelo historiador australiano

Kenneth McIntyre Esta teoria afirma que terá sido descoberta por

Cristóvão de Mendonça e Gomes de Sequeira, embora não seja

universalmente aceites, existindo diversas teorias concorrentes sobre a

descoberta da Austrália.

Hernán Cortés Álvaro de Saavedra

Em 1527, Hernán Cortés equipou uma frota de três navios para

encontrar novas terras para a coroa espanhola no "Mar do Sul"

(oceano Pacífico) atribuindo o comando a seu primo Álvaro de

Saavedra. Em Outubro Saavedra partiu de Nova Espanha,

atravessando o Pacífico e o norte da Nova Guiné. Uma das

embarcações chegou às Molucas, mas falhou a sua tentativa de

regressar a Nova Espanha um ano depois, empurrado de volta pelos

ventos alísios. Tentou então o regresso velejando para Sul, mas

retornou à Nova Guiné. Apontou então a nordeste, onde avistou as

ilhas Marshall e as ilhas do Almirantado, mas foi surpreendido pelos

ventos, que o devolveram uma terceira vez às Molucas: a rota

espanhola de retorno no Pacífico, do arquipélago malaio para Acapulco,

permaneceu mais de trinta anos por encontrar.

Exploração interior das Américas: os conquistadores espanhóis]

Enquanto os portugueses obtinham enormes ganhos no oceano

Índico, os espanhóis investiram em explorar o interior da América em

busca de ouro e recursos valiosos. Os membros destas expedições, os "conquistadores", provinham de uma variedade de origens incluindo

artesãos, comerciantes, clero, pequena nobreza e escravos liberados.

Geralmente forneciam o seu próprio equipamento em troca de uma

participação nos lucros, não tendo ligação direta com o exército real,

nem sequer formação ou experiência profissional militar.

Ponce de León

Rumores de ilhas desconhecidas a noroeste de Hispaniola haviam

chegado a Espanha em 1511. O rei Fernando II de Aragão estava interessado em prosseguir as explorações e, em 1512, como

recompensa a Ponce de León por explorar Porto Rico desafiou-o a

procurar novas terras: tornar-se-ia governador das terras descobertas,

mas teria de financiar toda a exploração. Com três navios e cerca de

200 homens, Léon partiu de Porto Rico em março de 1513. Em abril

avistaram terra nomeando-a La Florida acreditando ser uma ilha, pela

paisagem verdejante e porque era Páscoa (dita em Espanha a Florida),

tornando-se creditado como o primeiro europeu a desembarcar no

continente nas costas Norte Americanas. O local de chegada é disputado entre St. Augustine, Ponce de León Inlet e Melbourne Beach.

Navegaram para o sul e a 8 de abril encontraram uma corrente tão

forte que os fez recuar: foi o primeiro encontro com a Corrente do

Golfo, que viria a tornar-se a principal rota para os navios que

deixavam as "Índias" espanholas com destino à Europa. Exploraram ao

longo da costa atingindo Biscayne Bay, Dry Tortugas e numa tentativa

de circundar Cuba para retornar, atingiram a Grand Bahama.

Cortés: exploração do México e conquista do Império Asteca (1519-1521)]

Rota de Hernán Cortés no interior; 1519-1521.

Em 1517, o governador de Cuba Diego Velázquez de Cuéllar

ordenou a uma frota para explorar a Península do Iucatão. Atingiram a

costa onde os Maias os convidaram a aportar, mas foram atacados durante a noite e apenas um resquício da tripulação voltou. Velázquez

enviou então outra expedição liderada por seu sobrinho Juan de

Grijalva, que navegou ao longo da costa para sul até Tabasco,

território Asteca. Em 1518 Velázquez atribuiu ao prefeito da capital

de Cuba, Hernán Cortés, o comando de uma expedição para asegurar

o interior do México, mas, devido a uma antiga disputa entre ambos,

revogou o alvará.

Diego Velázquez de Cuéllar Juan de Grijalva La Malinche

Em fevereiro de 1519 Cortés avançou ainda assim, num ato de

rebelião aberta. Com cerca de 11 navios, 500 homens, 13 cavalos e um

pequeno número de canhões, chegou à península de Iucatão, em

território maia, reivindicando-a para a coroa espanhola. De Trinidad

avançou para Tabasco e venceu uma batalha contra os nativos. Entre

os vencidos estava La Malinche, sua futura amante, que conhecia as

línguas náuatle (asteca) e maia, tornando-se uma valiosa intérprete e

conselheira. Através dela, Cortés soube do rico Império Asteca.

Em julho os seus homens tomaram Veracruz e Cortés colocou-se

sob as ordens diretas do novo rei Carlos I de Espanha. Aí Cortés

pediu uma audiência com o imperador asteca Montezuma II, que foi

repetidamente recusada. Seguiram então para Tenochtitlán e no

caminho estabeleceram alianças com diversas tribos. Em outubro,

acompanhados por cerca de 3.000 Tlaxcaltecas marcharam para

Cholula, a segunda maior cidade da região central do México. Para

instilar o medo nos astecas que os aguardavam ou (como Cortés

afirmaria mais tarde) por preterem dar um exemplo, ao temer a traição nativa, massacraram milhares de membros desarmados da nobreza

reunidos na praça central e parcialmente queimaram a cidade.

Carlos I Montezuma II Panfilo de Narvaez

Mapa da cidade-ilha Tenochtitlán e o golfo fo México, elaborado por um

membro da expedição de Cortés em 1524.

Chegando a Tenochtitlan com um grande exército, a 8 de

novembro foram pacificamente recebidos por Montezuma, que

deliberadamente deixou Cortés entrar no coração do império asteca,

na esperança de conhecê-los melhor para esmagá-lo mais tarde. O

imperador presenteou-os prodigamente com ouro, que os seduziu a

saquear grande quantidade. Nas suas cartas a Carlos I, Cortés

afirmou ter sabido que era considerado pelos astecas um emissário da divindade Quetzalcóatl(serpente emplumada) ou a própria divindade-

uma opinião contestada por alguns historiadores modernos. Mas logo

soube que os seus homens, na costa, tinha sido atacados, e decidiu

tornar Montezuma refém no seu palácio, solicitando-lhe a jurar

fidelidade a Carlos I.

O governador Velasquez enviara outra expedição, conduzida por

Pánfilo de Narváez, para se opor a Cortés, chegando ao México em

abril de 1520 com 1.100 homens. Cortés deixou Tenochtitlán com

200 homens e seguiu para enfrentar Narvaez, que venceu, convencendo seus homens a acompanhá-lo. Em Tenochtitlán um dos

tenentes de Cortés cometeu um massacre no templo principal,

desencadeando a revolta. Cortés voltou rapidamente e propôs um

armistício, procurando o apoio de Montezuma, mas o imperador

asteca foi apedrejado até à morte pelos seus próprios súbditos. Cortés

fugiu durante a chamada Noite Triste, escapando por um triz

enquanto a retaguarda era massacrada. Grande parte do saque perdeu-

se durante essa fuga em pânico. Depois de uma batalha em Otumba

chegaram a Tlaxcala, tendo perdido 870 homens. Contando com o

apoio de aliados e reforços de Cuba, Cortés sitiou Tenochtitlán e capturou seu governante Cuauhtémoc em 1521. À medida que o

Império Asteca terminava reivindicou a cidade para a Espanha,

renomeando-a Cidade do México.

Cuauhtémoc

Pizarro: exploração do Peru e da conquista do Império Inca (1524-1532)

Rota de Francisco Pizarro na exploração e conquista dp Peru (1531-1533)

A primeira tentativa de explorar a costa oeste da América do Sul

foi feita em 1522 por Pascual de Andagoya, tendo chegado a Rio San

Juan (Colômbia), onde populações locais lhe descreveram um território

rico em ouro junto a um rio chamado "Pirú". Andagoya adoeceu e

regressou ao Panamá, onde espalhou a notícia sobre o "Pirú" como o

lendário El Dorado. Este relato, juntamente com o sucesso de Cortés, chamara a atenção de Francisco Pizarro.

Francisco Pizarro tinha acompanhado Balboa na travessia do

istmo do Panamá. Em 1524 formou uma parceria com o padre

Hernando de Luque e o soldado Diego de Almagro para explorar o

sul e dividir os lucros, apelidando a iniciativa "Empresa del Levante".

Pizarro comandava, Almagro proporcionava apoio militar e alimentos,

Luque seria responsável pelas finanças e outras disposições.

Pascual de Andagoya Francisco Pizarro Hernando de Luque Diego de Almagro

Em setembro partiu a primeira de três expedições à conquista do

Peru com cerca de 80 homens e 40 cavalos. A expedição foi um

fracasso chegando à Colômbia onde sucumbiram ao mau tempo, fome

e conflitos com habitantes locais hostis. Os nomes de locais conferidos ao longo da rota - Puerto Deseado (porto desejado), Puerto del

hambre (porto da fome) e Puerto quemado (porto queimado),

testemunham essas dificuldades. Dois anos depois, seguiu uma

segunda expedição com cerca de 160 homens, com a autorização

relutante do governador do Panamá. Ao chegar ao Rio San Juan

separaram-se: Pizarro ficou a explorar as costas pantanosas e

Almagro buscou reforços. O piloto de Pizarro navegou para sul além

do Equador, onde capturou um barco de Tumbes. Para sua surpresa

transportava têxteis, cerâmica e o muito desejado ouro, prata e esmeraldas, tornando-se o foco da expedição. Depois de uma viagem

difícil, enfrentando ventos e correntes, atingiram Atacames onde

encontraram uma grande população sob o domínio Inca, mas de

aspecto tão agressivo que não aportaram.

Decidiram que Pizarro ficaria abrigado perto da costa, enquanto

Almagro e Luque voltavam ao Panamá para buscar mais reforços com

o ouro encontrado como prova. O novo governador rejeitou uma

terceira expedição e mandou dois navios trazer todos de volta. Quando

chegaram a Isla de Gallo, Pizarro traçou uma linha na areia, dizendo:

"Ali está o Peru com suas riquezas; Aqui, o Panamá e sua pobreza. Escolha, cada homem, o que melhor o torna um castelhano corajoso."

Treze decidiram ficar tornando-se conhecidos como "los trece de la

Fama" (os treze famosos). Construíram um barco avançando até La

Isla Gorgona, onde permaneceram sete meses até à chegada de

provisões.

No Panamá, o governador concordou com um navio para trazer de

volta Pizarro e abandonar completamente a expedição. Almagro e

Luque aproveitaram a oportunidade para se juntar Pizarro.

Navegaram para sul e, em abril de 1528, atingiram o noroeste do Peru

na região de Tumbes, onde foram recebidos calorosamente pelos

Túmpis. Dois dos homens de Pizarro relataram riquezas incríveis,

incluindo decorações a ouro e a prata na casa do chefe. Viram pela

primeira vez lhamas a que Pizarro chamou "pequenos camelos". As populações chamaram aos espanhóis "Filhos do Sol" pela sua pele

clara e armaduras brilhantes. Decidiram então regressar ao Panamá

para preparar uma expedição final. Antes navegaram para o sul através

de territórios por eles nomeados, como Cabo Blanco, porta de Payta,

Sechura, Punta de Aguja, Santa Cruz, e Trujillo, atingindo pela primeira

vez os 9º sul.

Na primavera de 1528, Pizarro partiu para Espanha, onde teve

uma audiência com o rei Carlos I que, ao ouvir sobre as suas

expedições em terras descritas como muito ricas em ouro e prata, prometeu apoiá-los. Pizarro convenceu então muitos amigos e

parentes a participar: seus irmãos Hernando, Juan e Gonzalo Pizarro

e também Francisco de Orellana, que viria a explorar o rio

Amazonas, assim como seu primo Pedro Pizarro. Quando a expedição

partiu no ano seguinte levava 3 navios, 180 homens e 27 cavalos.

Desembarcaram perto do Equador e após lutar com os Punian,

navegaram para Tumbes, encontrando o local destruído. Avançaram no

interior onde estabeleceram o primeiro assentamento espanhol no

Peru, San Miguel de Piura. Um dos homens voltou com um enviado

Inca e um convite para um encontro. Os Incas estavam em guerra civil e Atahualpa descansava no norte do Peru perto de Cajamarca, após

derrotar o seu irmão Huascar. Caminharam dois meses até

Atahualpa. Este, porém, recusou a presença espanhola, dizendo que

não "seria tributário de ninguém." Havia menos de 200 espanhóis e

80.000 soldados incas, mas Pizarro atacou o exército inca na Batalha

de Cajamarca. Os espanhóis foram vitoriosos e prenderam Atahualpa

na chamada sala de resgate. Apesar de cumprir sua promessa de

encher uma sala com ouro e duas de prata, foi condenado pelo

assassinato de seu irmão e conspirar contra Pizarro, e foi executado.

Francisco de Orellana Gonzalo Pizarro Pedro Pizarro

Atahualpa Cidade de Lima Fundada por Pizarro

Em 1533, Pizarro invadiu Cuzco com tropas locais e escreveu ao

rei Carlos I: "Esta cidade é a maior e mais bela já vista neste país ou

em qualquer lugar nas Índias ... tem belos edifícios que seriam

notáveis, mesmo em Espanha. " Depois de selar a conquista do Peru,

Jauja, no Vale de Mantaro foi criada como capital provisória do Peru em

1534. Mas por ser muito distante do mar, nas montanhas, Pizarro fundou a cidade de Lima em 1535, o que considerou um dos atos mais

importantes da sua vida.

Chegada ao Japão e as novas rotas comerciais (1542-1565)

Rotas comerciais portuguesas até Nagasaki e a rota espanhola,

o chamado galeão de Manila, iniciada em 1565 (branco)

Em 1543, acidentalmente, três mercadores portugueses

Francisco Zeimoto, Antônio Mota e Antônio Peixoto foram os primeiros ocidentais a atingir o Japão e aí negociar. Segundo Fernão

Mendes Pinto, que afirmou ter participado nesta viagem, teriam

aportado em Tanegashima em 23 de setembro, tendo sido este o

primeiro contato direto de europeus com o Japão. Segundo este,

espantaram os autóctones não só com o relato de terras e costumes

estranhos como com a novidade das armas de fogo, os arcabuzes que

seriam imediatamente fabricadas pelos japoneses em grande escala.

Fernão Mendes Pinto Felipe II Miguel López de Legazpi

A rota leste das Filipinas foi navegada pela primeira vez por

Álvaro de Saavedra em 1527. O percurso de regresso foi mais difícil de encontrar. Em 1565 a conquista espanhola das Filipinas foi ordenada

por Filipe II de Espanha. Por fim, os espanhóis estabeleceram uma

presença no Pacífico com a expedição de Miguel López de Legazpi,

que partiu de Acapulco,Nova Espanha em 1565.

Andrés de Urdaneta fora o comandante designado, mas embora

tenha acordado acompanhar a expedição, recusou o comando e

Legazpi foi nomeado em seu lugar. A expedição partiu em novembro

de 1564. Depois de passar algum tempo nas ilhas, Legazpi enviou

Urdaneta de volta para encontrar uma melhor rota de retorno.

Urdaneta partiu de San Miguel, na ilha de Cebu em junho de 1565, mas

foi obrigado a navegar para norte até à latitude 38º norte até obter os

ventos favoráveis.

Urdaneta calculou que os ventos Alísios do Pacífico, podiam se

mover em giro como os ventos no Atlântico. Se no Atlântico os navios

faziam a chamada "volta do mar" para apanhar os ventos que os

trariam de volta a partir da Madeira, então, pensou, navegando mais

para norte, rumo ao leste, iria apanhar ventos alísios capazes de trazê-

lo de volta para a América do Norte. Seu palpite compensou, e ele

atingiu a costa perto do cabo Mendocino, na Califórnia, seguido a costa

para sul. O navio chegou ao porto de Acapulco, em 8 de outubro de

1565, tendo percorrido 12.000 milhas (20.000 km) em 130 dias. Quatorze tripulantes morreram; apenas Urdaneta e Felipe de

Salcedo, sobrinho de López de Legazpi, tiveram força suficiente para

lançar as âncoras.

Assim se estabeleceu uma rota no Pacífico entre o México e as

Filipinas. Durante muito tempo essas rotas eram utilizadas pelos

galeões de Manila, criando assim um vínculo comercial unindo a China,

as Américas e a Europa através de rotas trans-Pacífico e trans-

Atlânticas.

Andrés de Urdaneta

Participação dos norte-europeus (1595-anos 1600)

As nações europeias fora da península Ibérica recusavam-se a

reconhecer o Tratado de Tordesilhas. França, Países Baixos e Inglaterra

possuíam uma longa tradição marítima e, apesar do secretismo e

roteções, as novas tecnologias e mapas logo chegaram ao norte. Em

1568, os holandeses rebelaram-se contra o governo de Filipe II de

Espanha desencadeando a Guerra dos Oitenta Anos. A guerra entre a

Inglaterra e a Espanha também estourou. Em 1580, Filipe II tornou-se

rei de Portugal, como legítimo herdeiro da coroa após uma crise

sucessória. Os impérios combinados eram demasiado grandes para

passar sem ser desafiados pelos rivais europeus.

Os exércitos de Filipe II conquistaram as importantes cidades

comerciais de Bruges e Gante. Antuérpia, então o porto mais

importante do mundo, caiu em 1585. À população protestante foram

dados dois anos para resolver os seus assuntos e abandonar a cidade.

Muitos se estabeleceram em Amesterdão. Eram maioritariamente

artesãos, ricos comerciantes das cidades portuárias e os refugiados das

perseguições religiosas, especialmente judeus sefarditas fugidos de

Portugal e da Espanha e, mais tarde, os huguenotes da França. Os

Peregrinos calvinistas também passaram um tempo aí antes de partirem para o Novo Mundo. Esta imigração em massa foi uma força

motriz importante: um pequeno porto em 1585, Amesterdão

transformou-se rapidamente num dos centros comerciais mais

importantes do mundo. Depois da derrota da Invencível Armada

espanhola em 1588, houve uma enorme expansão do comércio

marítimo.

A emergência do poder marítimo holandês foi rápida e

impressionante: marinheiros holandeses tinham participado nas

viagens portuguesas para o oriente, como navegadores capazes e

cartógrafos notáveis. Em 1592, Cornelis de Houtman foi enviado por mercadores holandeses para Lisboa, para reunir o máximo de

informação possível sobre as "Ilhas das Especiarias". Em 1595, o

comerciante e explorador Jan Huygen van Linschoten, tendo viajado

pelo oceano Índico a serviço dos portugueses, publicou um relatório de

viagem em Amesterdão, o "Reys-gheschrift vande Portugaloysers der

navigatien em Orienten" ("Relatório de uma viagem através das

navegações dos Portugueses no Oriente "). Isto incluía vastas

indicações sobre como navegar entre Portugal, as Índias Orientais e o

Japão. Naquele mesmo ano Houtman seguiu estas direções na primeira viagem exploratória holandesa na qual descobriu uma nova

rota marítima, velejando diretamente de Madagáscar para o estreito de

Sunda, na Indonésia e assinando um tratado com o sultão Banten.

Portugal concentrara-se principalmente nas áreas costeiras e ao

longo do tempo revelou-se incapaz de fornecer os fundos e recursos

humanos capazes de gerir e defender uma enorme e dispersa área, não

conseguindo competir com as grandes potências que, lentamente,

invadiram a sua esfera de comércio. Os dias do quase monopólio do

comércio no Oriente estavam contados. Os exploradores holandeses,

franceses e ingleses ignoraram a divisão papal do mundo e durante o

século XVII estabeleceram postos de comércio cada vez mais a leste, à

custa de Portugal.

Cornelis de Houtman Jan Huygen van Linschoten

Explorações costeiras da América do Norte (1524-1611)

Mapa das viagens de Henry Hudson entre 1609-1611 à America

Do Norte a serviços da Companhia das Índias Orientais Holandesas (VOC)

A primeira expedição norte europeia (1497) foi inglesa, liderada

pelo italiano John Cabot (Giovanni Caboto). Foi a primeira de uma

série de missões francesas e inglesas a explorar América do Norte.

Espanha dedicara esforços limitados a explorar a parte norte das

Américas, com os recursos totalmente tomados pelos seus esforços na

América Central e do Sul, onde mais riqueza havia sido encontrada. As

expedições de Cabot, Jacques Cartier (primeira viagem de 1534) e

outros seguiam na esperança de encontrar uma passagem noroeste oceânica para chegar ao comércio asiático. Esta nunca foi descoberta,

mas, nestas viagens, outras possibilidades foram encontrados e, no

início do século XVII colonos de vários estados norte-europeus

começaram a estabelecer-se na costa leste da América do Norte.

Jacques Cartier Giovanni da Verrazzano Francisco I Estevão Gomes

Em 1524, Giovanni da Verrazzano, um italiano ao serviço do rei

Francisco I da França, foi o primeiro europeu documentado a visitar a

costa atlântica dos atuais Estados Unidos. No mesmo ano, Estevão

Gomes, um cartógrafo português que havia navegado na frota de

Fernão de Magalhães ao serviço de Espanha, explorou a Nova

Escócia navegando para Sul até o Maine, onde entrou no porto de Nova York, o rio Hudson e, finalmente, chegou à Flórida em agosto de 1525.

Como resultado da sua expedição, o mapa mundo de Diego Ribero de

1529 mostra os contornos da costa leste da América do Norte quase

perfeitamente.

Os europeus exploraram a costa do Pacífico desde meados do

século XVI. Francisco de Ulloa explorou a costa do Pacífico do atual

México, incluindo o Golfo da Califórnia, provando que a Baja Califórnia

era uma península, mas, apesar de suas descobertas, o mito persistiu

na Europa de que a Califórnia era uma ilha. João Rodrigues Cabrilho, outro navegador português, para a Coroa espanhola, foi o primeiro

europeu a aportar na Califórnia, desembarcando em 28 de setembro de

1542, na Baía de San Diego reclamando a Califórnia para a Espanha.

Desembarcou também em San Miguel, uma das ilhas do Canal, e

continuou, até PT. Reyes. Após sua morte, a sua tripulação continuou a

explorar para o norte até Oregon.

Francisco de Ulloa João R. Cabrilho Francis Drake Henry Hudson

O inglês Francis Drake navegou ao longo da costa em 1579 algures a norte do local de desembarque de Cabrilho - a localização

real do desembarque de Drake era secreta e ainda é indeterminada - e

reivindicou a terra para a Inglaterra, chamando-a de Nova Albion. O

termo "Nova Albion" foi, por isso, usado em muitos mapas europeus

para designar os territórios a norte dos assentamentos espanhóis.

Entre 1609-1611, o inglês Henry Hudson, após várias viagens

em nome de comerciantes ingleses para explorar uma Passagem

Nordeste para Índia, explorou a região em torno da atual cidade de

Nova York, procurando uma rota ocidental para a Ásia para a VOC, a

Companhia Holandesa das Índias Orientais. Explorou o rio Hudson e lançou as bases para a colonização holandesa da região. A última

expedição de Hudson chegou mais ao norte em busca da Passagem

Noroeste, levando à descoberta do estreito de Hudson e baía de

Hudson. Depois de invernar na baía de James, Hudson tentou avançar

na primavera de 1611, mas seus tripulantes amotinaram-se e o

abandonaram

.

Barents e a busca de uma rota no Norte (1525-1611)

Mapa da terceira exploração do Ártico por Willem Barents, 1599

França, Holanda e Inglaterra haviam ficado sem uma rota

comercial para a Ásia, pois África estava dominada pelos portugueses e

a América do Sul pelos espanhóis. Quando se tornou evidente que não havia nenhuma passagem através do continente americano, as

atenções voltaram-se para a possibilidade de uma passagem pelas

águas do norte, a que os ingleses chamavam a Passagem do

Noroeste, procurada desde a viagem de John Cabot. O desejo de

estabelecer uma rota motivou a exploração europeia, tanto nas costas

da América do Norte como na Rússia. Na Rússia, a ideia de um possível

caminho marítimo que ligasse o Atlântico ao Pacífico foi apresentado

pela primeira vez pelo diplomata Dmitry Gerasimov, em 1525.

Em 1553, os exploradores ingleses Hugh Willoughby e Richard Chancellor foram enviados de Londres pela "Company of Merchant

Adventurers to New Lands" com três navios em busca de uma

passagem. Na viagem através do mar de Barents, Willoughby pensou

ter avistado ilhas ao norte, que foram representadas em mapas até

1640. Separados por "vendavais terríveis" no mar da Noruega,

Willoughby e a sua tripulação morreram numa baía perto da atual

fronteira entre a Finlândia e Rússia. Chancellor conseguiu ancorar no

mar Branco e caminhar até Moscou, onde foi recebido na corte de

Ivan, o Terrível, abrindo o comércio com a Rússia e transformando a

companhia de aventureiros mercantis na Companhia de Moscóvia em

1555.

Hugh Willoughby Richard Chancellor Ivan da Russia

Em Junho de 1594, o cartógrafo holandês Willem Barents partiu

numa frota de três navios para o mar de Kara, na esperança de

encontrar a passagem do Nordeste acima da Sibéria. Encontraram pela

primeira vez um urso polar, que tentaram capturar e levar a bordo sem

sucesso. Atingiram a costa oeste da Nova Zembla, e seguiram para

norte, antes de serem forçados a voltar face aos grandes icebergs.

Willem Barents Maurício de Orange Expedição de Willem enfrentando um

urso polar

No ano seguinte, o príncipe Maurício de Orange nomeou

Barents como piloto de uma nova expedição de seis navios,

carregados com mercadorias holandesas para o esperado comércio com

a China. Ao descobrir o Mar de Kara congelado acabou por ter que

regressar. Em 1596, os estado holandês instituiu uma recompensa a

quem navegasse com sucesso a Passagem Nordeste. A cidade de

Amesterdão comprou e equipou dois pequenos navios, sob o comando

de Barents. Partiram em maio e chegaram a Bear Island e

Spitsbergen, avistando a costa noroeste. Encontraram uma grande baía, a que deram o nome de Tusk Bay, mas foram obrigados a voltar.

Em 28 de junho, contornaram a ponta norte da Prins Karls Forland e

navegaram para sul.

Retornaram a Bear Island, onde se separaram, continuando

Barents para nordeste e o piloto Rijp rumo ao norte. Barents atingiu

Nova Zembla, e, para evitar ficar preso no gelo, dirigiu-se para o

Estreito Vaigatch onde ficou preso e a tripulação de 16 homens foi

forçada a passar o inverno. Enfrentando um frio extremo, usaram

madeira do navio para construir um abrigo, e os tecidos que transportavam para fazer roupas, caçaram raposas do ártico e ursos

polares em armadilhas primitivas. Junho chegou, mas o gelo ainda não

havia afrouxado sobre o navio. Os sobreviventes, atacados de

escorbuto, partiram em dois botes em direção ao mar. Barents morreu

no mar em 20 de junho de 1597, enquanto estudava os seus mapas.

Só passadas sete semanas os barcos chegarem a Kola, onde foram

resgatados por um navio mercante russo. Apenas 12 tripulantes

sobreviveram, atingindo Amesterdão em novembro. Dois dos

companheiros de Barents publicaram os seus relatos: Jan Huygen van Linschoten, que o acompanhara nas duas primeiras viagens, e

Gerrit de Veer, carpinteiro do navio.

Em 1608, Henry Hudson fez uma segunda tentativa, tentando

cruzar o topo norte da Rússia: chegou à Nova Zembla, mas foi forçado

a regressar. Entre 1609-1611, depois de várias viagens em nome de

comerciantes de ingleses para explorar uma potencial Rota do Mar do

Norte para a Índia, explorou a região em torno da atual Nova York

enquanto procurava uma rota ocidental para a Ásia, sob os auspícios da

Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC).

Chegada dos holandeses à Austrália e à Nova Zelândia (1606-1644)

As viagens de Abel Tasman’s em 1642 e 1644 na Nova Holanda (Austrália) a

serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Terra Australis Incognita (terra desconhecida do sul) era um

continente hipotético que surgia representado nos mapas europeus,

com raízes num conceito introduzido inicialmente por Aristóteles. Pode

ver-se nos mapas de Dieppe do século XVI e de Abraham Ortelius, a

sul das Índias Orientais, com o litoral elaborado e uma grande riqueza

de detalhes fictícios. Os descobrimentos reduziram a área em que o

continente poderia ser encontrado, no entanto, muitos cartógrafos

mantinham a opinião de Aristóteles. Gerardus Mercator (1569) e Alexander Dalrymple defenderam a sua existência até 1767,

argumentando que deveria haver uma massa de terra grande no sul

como contraponto para as massas de terra conhecidas no Hemisfério

Norte. À medida que novas terras eram descobertas, eram muitas

vezes assumidas como sendo partes deste continente hipotético.

Aristóteles Abraham Ortelius Gerardus Mercator Alexandre Dalrymple

Luís Vaz de Torres Pedro F. De Quirós Mapa de Dieppe século XVI

Juan Fernández, navegando do Chile em 1576, reclamou ter descoberto o continente do Sul. Luís Vaz de Torres, um navegador

português ao serviço da coroa espanhola, provou a existência de uma

passagem ao sul da Nova Guiné que hoje é conhecida como o estreito

de Torres. Pedro Fernandes de Queirós,outro navegador português

para a coroa espanhola, viu uma grande ilha sul da Nova Guiné em

1606, a que deu o nome de "La Austrália del Espiritu Santo" que

apresentou ao rei de Espanha como a Terra Australis incognita.

Réplica do Duyfken

O navegador holandês e governador colonial, Willem Janszoon

foi o primeiro europeu reconhecido como tendo visto a costa da

Austrália. Janszoon partira da Holanda para as Índias Orientais pela

terceira vez em 18 de dezembro de 1603, como capitão do Duyfken

(pequena pomba), um de doze navios da frota de Steven van der

Hagen. Uma vez na Índia, Janszoon foi enviado para procurar outros

entrepostos de comércio, particularmente na "grande terra da Nova

Guiné e outras Terras a este e a sul." Em 18 de novembro de 1605, o Duyfken partiu de Bantam para a costa oeste Nova Guiné. Janszoon

então cruzou a extremidade oriental do Mar de Arafura, sem ver o

Estreito de Torres, no Golfo de Carpentária. Em 26 de fevereiro de

1606, desembarcou no rio Pennefather na costa oeste do cabo York,

em Queensland, perto da atual cidade de Weipa. Este foi o primeiro

desembarque europeu registado no continente australiano. Janszoon

procedeu ao mapeamento de cerca de 320 km de costa, do que ele

pensava ser uma extensão do sul da Nova Guiné. Em 1615, Jacob Le

Maire e Willem Schouten contornaram o cabo Horn provando que a Tierra del Fuego era uma ilha relativamente pequena.

Em 1642 e 1644 Abel Tasman, também um explorador holandês

e comerciante ao serviço da VOC, a Companhia Holandesa das Índias

Orientais, circum-navegou a então chamada Nova Holanda, provando

que a Austrália não fazia parte do mítico continente do sul. Tasman foi

o primeiro europeu conhecido a chegar à Terra de Van Diemen (atual

Tasmânia) e à Nova Zelândia e avistar as ilhas Fiji, em 1643. Tasman,

o seu navegador Visscher, e o seu comerciante Gilsemans mapearam

partes substanciais da Austrália, Nova Zelândia e ilhas do Pacífico.

Willem Janszoon Steven van der Hagen Jacob Le Maire

Willem Schouten Abel Tasman Cornelis De Vissche

Impacto global da era dos descobrimentos

Plantas nativas do Novo Mundo.Da esquerda para a direita: 1.Milho (Zea mays); 2.Tomate (Solanum lycopersicum); 3.Batata (Solanum tuberosum); 4.Baunilha;

5.Seringueira (Borracha Hevea brasiliensis); 5,Cacau (Theobroma cacao);

7.Tabaco (Nicotiana rustica).

A expansão ultramarina europeia desencadeou o intenso contato

entre o Velho Mundo e o Novo Mundo nomeado intercâmbio

colombiano. Este fenômeno envolveu a transferência de produtos até

então exclusivos de cada hemisfério, como gado bovino, cavalos,

algodão e cana-de-açúcar da Europa para o Novo Mundo, ou tabaco,

batata, cacau e milho, trazidos do Novo para o Velho Mundo. Entre os

produtos que moveram o comércio global destacam-se a cana-de-

açúcar e o algodão que foram cultivados intensamente nas Américas, e o ouro e prata trazidos das Américas que moveram não só a

economia da Europa, mas de outras partes do mundo como o Japão e a

China.

As novas ligações trans-oceânicas e o seu domínio pelas potências

europeias originaram os impérios coloniais europeus, que vieram a

controlar grande parte do planeta. O apetite europeu por comércio,

produtos, impérios e escravos afetou muitas regiões do mundo.

Espanha participou na destruição de culturas agressivas na América. O

padrão de agressão territorial foi repetido em outros territórios. Novas religiões impuseram-se a rituais "pagãos", assim como línguas, culturas

políticas e, em algumas áreas como a América do Norte, Austrália,

Nova Zelândia e Argentina, povos indígenas foram afastados de suas

terras ou reduzidos a minorias. Vulneráveis a doenças infecciosas

euroasiáticas a que nunca haviam sido expostos, muitos pereceram

com doenças transmitidas pelos Europeus, que em alguns casos

dizimaram 50-90% de algumas populações.

O milho e a mandioca, introduzidos no século XVI pelos

portugueses, prosperaram na África, tornando-se importantes

alimentos básicos no continente africano. Alfred W. Crosby especulou que o aumento da produção de milho, mandioca e outras culturas

americanas, ao permitir o povoamento de zonas de floresta húmida,

alimentou por sua vez o comércio de escravos. Nas zonas costeiras da

África, as populações locais ao participar no tráfico europeu de

escravos, mudaram a face de estados costeiros africanos e alteraram a

natureza da escravidão africana, causando impactos nas sociedades e

economias do interior. O tráfico de escravos para trabalhar no cultivo

modificou populações de diversos territórios como o Brasil, África e

América do Norte.

Durante o século XVI, a economia chinesa sob a dinastia Ming foi

estimulada pelo comércio com portugueses, espanhóis e holandeses,

envolvendo-se no comércio mundial de mercadorias, plantas, animais e

culturas alimentares. O comércio com europeus e japoneses trouxe

grandes quantidades de prata, que substituiu o cobre e o papel-moeda

como meio de pagamento na China. Nas últimas décadas da dinastia

Ming, o fluxo de prata diminuiu muito, comprometendo as receitas

estatais e, assim toda a economia. Esse dano foi agravado pelos efeitos

sobre a agricultura da Pequena Idade do Gelo, calamidades naturais,

más colheitas e epidemias frequentes. A resultante quebra da

autoridade permitiu que líderes rebeldes como Li Zicheng desafiassem

a autoridade Ming.

Li Zicheng Portugueses Nanbanjin chegando ao Japão para

surpresa dos habitantes.

Novas culturas vindas das Américas contribuíram para o

crescimento da população asiática. Embora a principal importação

chinesa fosse a prata, os chineses importaram também culturas do

Novo Mundo através do Império Espanhol. Estas incluiam a batata

doce, milho e amendoim, que podiam ser cultivados em terras onde

as culturas base tradicionais de trigo, painço e arroz não conseguiam

crescer, facilitando o aumento na população da China. Na dinastia Song (960-1279), o arroz tornara-se a principal plantação de

subsistência, mas desde que a batata doce foi introduzida na China, por

volta de 1560, tornou-se gradualmente a comida tradicional das classes

mais humildes.

A chegada dos portugueses ao Japão em 1543 iniciou o período

Nanban, com os japoneses a adoptar e fabricar em grande escala

várias tecnologias e práticas culturais, como o arcabuz, armaduras, os

navios europeus, o cristianismo, as artes decorativas e linguagem.

Quando os chineses proibiram o comércio direto com o Japão, os

portugueses preencheram esta lacuna comercial tornando-se intermediários entre a China e o Japão. Os portugueses compravam

seda chinesa que vendiam aos japoneses, em troca de prata japonesa.

Como a prata estava mais valorizada na China, utilizavam-na para

comprar grandes carregamentos de seda chinesa. No entanto, a partir

de 1573, com o estabelecimento da base comercial espanhola em

Manila, este comércio português de prata na China diminuiu,

substituído entrada na China da prata vinda da América espanhola.

O jesuíta italiano Matteo Ricci (1552-1610), foi o primeiro

europeu autorizado entrar na Cidade Proibida, ensinando os chineses

como construir e tocar espineta, traduzindo textos do chinês para o

latim e vice-versa, e trabalhando estreitamente com o seu associado

chinês Xu Guangqi ( 1562-1633) na matemática.

Matteo Ricci Xu-Guangqi

Impacto económico e cultural da era dos descobrimentos na Europa

Mapa múndi das Tabelas Rodolfinas de Johannes Kepler (1627), incorporando

muitas das novas descobertas.

Com a maior variedade de produtos de luxo a entrarem no

mercado europeu por via marítima, os anteriores mercados europeus

de bens de luxo estagnaram. O comércio do Atlântico suplantou

largamente as anteriores potências comerciais italianas (repúblicas

marítimas) e alemãs (Liga Hanseática), que baseavam as suas relações

comerciais no Báltico, com russos e muçulmanos. Os novos produtos

causaram também mudanças sociais, à medida que açúcar,

especiarias, sedas e porcelanas entraram no mercado de luxo da

Europa.

O centro da economia europeia deslocou-se do Mediterrâneo

para a Europa Ocidental. A cidade de Antuérpia, parte do Ducado de

Brabante, tornou-se "o centro de toda a economia internacional, e a cidade mais rica da Europa”. Centrado em Antuérpia e depois em

Amesterdão, o "Século de Ouro dos Países Baixos" esteve fortemente

ligado à era dos descobrimentos. Francesco Guicciardini, um

emissário veneziano, afirmou que centenas de navios passavam por

Antuérpia diariamente, e 2.000 carruagens entravam na cidade a cada

semana. Navios portugueses carregados de pimenta e canela

desembarcavam aí a sua carga. Com muitos comerciantes residentes

na cidade, e governada por uma oligarquia de aristocratas-banqueiros

proibidos de participar no comércio, a economia de Antuérpia era controlada por estrangeiros, o que tornou a cidade muito cosmopolita,

com mercadores e comerciantes de Veneza, Ragusa, Espanha e de

Portugal e uma política de tolerância que atraiu uma grande

comunidade judaica. A cidade experimentou três picos durante a sua

idade de ouro, o primeiro baseado no mercado de pimenta, um

segundo desencadeado pela prata americana vinda através de Sevilha

(que terminou com a falência de Espanha em 1557), e um terceiro,

após a paz de Cateau-Cambrésis, em 1559, com base na indústria

têxtil.

Francesco Guicciardini Tratado das coisas da China

Apesar das hostilidades iniciais, a partir de 1549 os portugueses

enviavam missões comerciais anuais para Sanchoão, na China. Em

1557 conseguiram convencer a corte Ming a chegar a um tratado

comercial que estabelecia Macau como uma base comercial oficial Portuguesa. Em 1569 o português Frei Gaspar da Cruz publicou o

"Tratado das cousas da China", primeira obra completa sobre a China e

a Dinastia Ming publicada na Europa desde Marco Pólo, que incluia

informações sobre a geografia, províncias, realeza, funcionários,

burocracia, transportes, arquitetura, agricultura, artesanato, assuntos

comerciais, de vestuário, costumes religiosos e sociais, música e

instrumentos, escrita, educação e justiça. influenciando a imagem que

os europeus tinham da China.

Porcelana chinesa

As principais importações vindas da China eram sedas e

porcelanas, adaptadas aos gostos europeus. As porcelanas chinesas

eram tão apreciadas na Europa que, em Inglês,"china" tornou-se

sinônimo de "porcelana". A chamada porcelana kraak (cujo nome terá origem nas "carracas" portuguesas em que era transportada) estava

entre as primeiras cerâmicas chinesas a chegar à Europa em

quantidades maciças. Apenas os mais ricos podiam pagar estas

primeiras importações, que foram frequentemente representadas nas

naturezas mortas holandesas.

Porcelana Médici Imperador Wanli, Japão Antonio de Morga

Depressa a Companhia Holandesa das Índias Orientais estabeleceu

um dinâmico comércio com o Oriente, tendo importado 6 milhões de

items de porcelana da China para a Europa entre os anos de 1602

para 1682. A maestria chinesa impressionou muitos. Entre 1575 e

1587, a porcelana Médici de Florença foi a primeira tentativa bem

sucedida para imitar a porcelana chinesa. Apesar dos ceramistas

holandeses não terem copiado imediatamente a porcelana chinesa, começaram a fazê-lo quando o abastecimento para a Europa foi

interrompido, após a morte do Imperador Wanli em 1620. A

porcelana Kraak, principalmente a azul e branca, foi imitada em todo o

mundo, primeiro pelos oleiros em Arita, Japão e Pérsia - para onde os

comerciantes holandeses se viraram quando a queda da dinastia Ming

tornou os originais chineses indisponíveis e, em última instância nas

porcelanas de Delft. As louças holandesas e inglêsas inspiradas em

desenhos chineses persistiram desde cerca de 1630 até meados do

século XVIII, junto com os padrões europeus. Antonio de Morga (1559-1636), um oficial espanhol em Manila, inventariou

exaustivamente os bens negociados pela China Ming na viragem para o

século XVII, notando que havia "raridades” tais que, se referisse todas

elas, nunca iria acabar, nem o papel seria suficiente." Num caso, um

galeão com destino ao território espanhol no Novo Mundo transportava

mais de 50.000 pares de meias de seda. Em troca, a China importava

principalmente prata das minas peruanas e mexicanas, transportada

através de Manila. Os comerciantes chineses eram ativos neste

comércio, e muitos emigraram para locais como as Filipinas e o Bornéu

para aproveitar as novas oportunidades comerciais.

O aumento da riqueza experimentado pela Espanha dos

Habsburgos coincidiu com um grande ciclo inflacionário tanto em

Espanha como na Europa, conhecido como revolução dos preços. Em

1520 iniciara-se a extração de prata em grande escala em Guanajuato,

no México. Com a abertura das minas de prata em Zacatecas e Potosí,

na Bolívia, em 1546 grandes carregamentos de prata tornaram-se a

fonte da fabulosa riqueza espanhola. Durante o século XVI, Espanha

realizou o equivalente a 1,5 trilhões de dólares (valor de 1990) em ouro

e prata da Nova Espanha. Sendo o mais poderoso monarca europeu numa época cheia de guerras e conflitos religiosos, Filipe II dispersou

a riqueza nas artes e nas guerras europeias. "Aprendi aqui um

provérbio", afirmava um viajante francês em 1603: "Tudo é estimado

em Espanha, exceto a prata." A prata, subitamente espalhada por uma

Europa até então carente de moeda, provocou a inflação generalizada.

A inflação foi agravada por uma população em crescimento, mas um

nível de produção estático, baixos salários e um aumento do custo de

vida. A Espanha tornou-se cada vez mais dependente das receitas

provenientes do império nas Américas, levando à primeira falência

estatal em 1557 devido ao aumento das despesas militares. Filipe II

de Espanha, em insolvência face à sua dívida várias vezes, teve de

declarar quatro falências do estado em 1557, 1560, 1575 e 1596,

tornando-se a primeira nação soberana da história a declarar falência.

O aumento dos preços resultante da circulação monetária estimulou o

crescimento de uma classe média comercial na Europa, que viria a influenciar a política e a cultura de muitos países.

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