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Ensino Fundamental e Educação em Tempo Integral nas Metas
2,5 e 6 do PNE 2014-2024
Ana Claudia Andreotti, Cristina Firmino, Glória Maria e Monise Martins
SUMÁRIO
1 Introdução ....................................................................................................................................... 3
2 Descrição das metas 2, 5 e 6 do PNE 2014-2024 ........................................................................... 4
2.1. Meta 02 ....................................................................................................................................... 4
2.2. Meta 05 ....................................................................................................................................... 5
2.3. Meta 06 ....................................................................................................................................... 5
3 Comparação com as metas do PNE anterior (Lei nº 10.172, de 2001) ........................................... 7
4 Situação das metas ........................................................................................................................ 10
4.1. Metas 2 ...................................................................................................................................... 10
4.2. Meta 5 ....................................................................................................................................... 17
4.3. Meta 6 ....................................................................................................................................... 19
5 Principais políticas federais relacionadas...................................................................................... 20
5.1. PNAIC - Pacto nacional pela alfabetização na idade certa ....................................................... 20
5.2. Mais Educação .......................................................................................................................... 23
6 Principais desafios à implementação ............................................................................................ 26
7 Referências e fontes ...................................................................................................................... 27
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ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental conforme a
renda - Taxa líquida de matrícula ......................................................................................................... 16
Gráfico 2: Porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental conforme a
localidade - Taxa líquida de matrícula .................................................................................................. 17
Gráfico 3: Porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental conforme a
raça - Taxa líquida de matrícula ............................................................................................................ 18
Gráfico 4: Porcentagem de jovens de 16 anos que concluíram o Ensino Fundamental conforme a
renda ...................................................................................................................................................... 19
Gráfico 5: Porcentagem de jovens de 16 anos que concluíram o Ensino Fundamental conforme a raça
.............................................................................................................................................................. 20
Gráfico 6: Porcentagem de aprendizagem no 3º ano do Ensino Fundamental - leitura ....................... 21
Gráfico 7: Porcentagem de aprendizagem no 3º ano do Ensino Fundamental - escrita ........................ 22
Gráfico 8: Porcentagem de aprendizagem no 3º ano do Ensino Fundamental - matemática ................ 22
Gráfico 9: Porcentagem de escolas públicas - tempo integral .............................................................. 23
Gráfico 10: Porcentagem de matrículas nas escolas públicas - tempo integral .................................... 23
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Introdução
Este artigo tem por objetivo abordar sobre as metas 2, 5 e 6 do Plano Nacional de
Educação (PNE), o qual abrange a próxima década, 2014 – 2024, as quais versam a respeito
da universalização do ensino fundamental, da alfabetização de crianças até os nove anos de
idade e da educação em tempo integral.
Para isso, será feito a descrição e explicação de cada meta e suas respectivas estratégias; a
comparação com o PNE antigo (este abarca os anos de 2001 e 2010), regulamentado pela Lei
Federal 10.172, de 2001; a demonstração dos indicadores com a finalidade de elucidar a
respeito da implementação das metas; quais são as políticas voltadas ao cumprimento das
mesmas; e os principais desafios para a tal implementação.
Descrição das metas 2, 5 e 6 do PNE 2014-20241
4.1. Meta 02
O ensino fundamental (dos seis aos quatorze anos, ou seja, duração de nove anos ao total)
é um dos focos do PNE no que diz respeito à, principalmente, medida de política educacional
no que tange à melhoria da qualidade dos processos de escolarização. A obrigatoriedade da
matrícula aos seis anos está prevista na Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006 e se encontra
em consonância com a realidade de diversos outros países da América Latina, por exemplo.
A duração de nove anos é referente à compreensão de que seria o tempo suficientemente
hábil para que haja maior qualidade no processo pelo qual o aluno será submetido, embora
haja discordância quanto a maior permanência na escola ser sinônimo de sucesso no que
pretende a Meta 02 do PNE.
Vale ressaltar que a Meta 02 não está pautada somente na maior permanência do aluno na
instituição, mas também na oferta de oportunidades de aprendizagem, o qual culmina na
oferta de qualidade, em si, que impacta em todo o ensino básico como um todo, inclusive
uma vez que um das consequências desse período estendido é beneficiar àqueles menos
beneficiados. Aliado aos pontos levantados, a Meta 02 também está pautada na
1 As metas 2, 5 e podem ser consultadas na íntegra no PNE 2014-2014, conforme o
link: http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf
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universalização do ensino fundamental, o qual, embora ainda não seja parte da realidade
brasileira, reforça o objetivo principal da Meta 02.
As estratégias 1 e 2 mostram que, apesar do ensino fundamental ser de responsabilidade
municipal e estadual, o Estado, de uma maneira ou de outra, se encontra presente nesta
responsabilidade. Por sua vez, todas as outras estratégias, ou seja, da estratégia 3 a 13,
corroboram no objetivo central da Meta 02. A estratégia 10, por exemplo, busca a
universalização do ensino fundamental no sentido mais amplo da palavra, bem como a
estratégia de número 11, buscando àqueles que, muitas vezes, não possuem acesso a esse
ensino não apenas por condições financeiras, mas outras questões que, por essas estratégias,
visam ser amenizadas/sanadas, pretendendo a universalização condizente à Meta em questão.
A estratégia 4 corrobora a Meta 02 no que diz respeito às disparidades de acesso ao ensino
básico/fundamental e, também, reforça a ideia de duração do ensino fundamental em nove
anos, o que acaba por beneficiar àqueles menos favorecidos. Todas as outras estratégias
dizem respeito à maior qualidade frente ao ensino fundamental, desde acompanhamento
individual dos alunos à integração com a comunidade por atividades diferentes daquelas
realizadas estritamente em sala de aula.
5.1. Meta 05
A alfabetização das crianças, até, no máximo, oito anos de idade e realização de exames
específicos e periódicos para avaliação se relacionam à Meta 05 do PNE. O analfabetismo
funcional se encontra na contramão do que os padrões de qualidade em relação ao ensino
buscam, bem como as abruptas desigualdades regionais quanto à esse problema social. As
disparidades regionais, e até mesmo em um espectro mais micro, são enormes e a Meta 05
busca minimizar/sanar essa questão por seu caráter universal. Esses anos três iniciais são anos
em que a criança deve ser inserida à expressões diferentes de alfabetização, alcançando um
escopo que vai desde leitura e escrita à uma ampliação ainda maior de capacidades.
Apesar da Meta 05 parecer ser simples, vê-se pelas estratégias que há muito a ser feito.
Todas as estratégias apresentam um caráter universal, ou seja, pretendem que todas as
crianças sejam alfabetizadas, incluindo estratégias específicas àqueles encontrados mais
distantes dessa realidade, assim como a Meta 2, bem como, de uma forma ou outra, também
dizem respeito à melhora da qualidade da educação e se relacionam às estratégias analisadas
no item anterior.
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5.2. Meta 06
Segundo o § 1º do Decreto nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010, bem como a definição
dada pelo programa Mais Educação, educação em tempo integral diz respeito à jornada
escolar com duração igual, ou superior, a sete horas diárias, abrangendo todo o período letivo
e compreendendo o tempo total no qual o aluno permanece dentro da instituição de ensino ou
realizando outras atividades com fim escolar mesmo que em outro espaço.
Tal Meta (06) possui estratégias que muito dizem a seu respeito. A estratégia número 1,
por exemplo, nos remete ao que foi dito quanto à Meta 02, em que a União é também
responsável pela educação fundamental em determinados pontos. Desde a estratégia número
2 a número 9, percebe-se um esforço de melhora não só da qualidade em serviços e
infraestrutura, mas também inovações, ou seja, realização de ações até então não realizadas.
Há a compreensão, pelas estratégias, de que a educação integral não é garantida somente com
a ampliação da jornada dos alunos e colaboradores da instituição, mas também requer um
projeto pedagógico diferente que culmine em um processo maior e melhor de permanência e
aprendizagem, onde atividades extracurriculares e multidisciplinares pretendem ser ofertadas,
diminuindo o gap existente entre aqueles que possuem acesso e condições a outras atividades
pagas fora de uma determinada instituição de ensino, bem como requerer, por tantas razões,
uma melhora no que tange à infraestrutura.
Comparação com as metas do PNE anterior (Lei nº 10.172, de 20012)
Executada a descrição das metas 2, 5 e 6 do atual PNE, será feita neste momento a
comparação destas com as metas correspondentes ao último PNE de 2001 a 2010,
regulamentado pela Lei Federal 10.172, de 2001.
A universalização do período básico de nove anos do ensino fundamental para a
população de seis a quatorze anos, com o objetivo de garantir que 95% destes alunos a
concluam até o ano de 2024, ou seja, a meta 2 do atual PNE relaciona-se aos objetivos e
metas 1 e 2 contidas na subdivisão do nível de ensino fundamental da lei federal antiga, em
2 A Lei Nº 10.172 poder ser consultada na íntegra no seguinte link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm
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que a primeira versa sobre a universalização do ensino fundamental em todo o país no
período de 5 anos e a segunda sobre a ampliação do tempo de formação do aluno neste ciclo
para nove anos.
Conforme os dados expostos na própria lei regulamentadora do PNE 2001-2010, as
regiões onde os índices de matrículas ainda eram muito baixos e a escolaridade também, era o
Norte e o Nordeste. Mesmo com uma melhora entre 1991 e 1996, de 79,2% para 89,8 % no
Norte e de 72,5% para 82,8% no Nordeste, a porcentagem ideal seria 100%, evidenciando
que o nível destes índices estão associados à pobreza predominante neste território, onde
deveria (e até hoje deve) haver maior atenção do poder público para expandir a
universalização do ensino.
No final da vigência deste plano, em 2010, constatou-se que o número absoluto de
crianças fora da escola, segundo Moço (2010), ainda era cerca de 680 mil, em que 450 mil
são crianças negras e pardas, ou seja, um número ainda muito alto, deixando claro que a
universalização no antigo PNE não foi conquistada com êxito esperado, entretanto a
ampliação do ensino para nove anos teve um índice bastantes razoável quando em 2009 já
tinha 59% de matrículas no sistema de séries.
Segundo a meta 5, todas as crianças devem estar alfabetizadas até o terceiro ano do
ensino fundamental, sendo que a meta mais se próxima da atual é a 3, esta tem por objetivo
reduzir o nível de repetência e evasão, através de estratégias didáticas, como a recuperação e
a aceleração da aprendizagem.
Observa-se que a diferença entre as duas metas encontra-se no enfoque dado: na recente o
alvo são as crianças de até 9 anos de idade estejam alfabetizadas (como ilustrado pela
estratégia 5.1)3, enquanto na antiga o foco está na promoção da educação de crianças mais
velhas e adolescentes para haver o ajuste idade-série. Tal ajuste ocorre pelo fato de muitos
estudantes repetentes permanecerem mais de um ano na mesma série ou abandonarem a
escola, como explanado pelo censo escolar de 1996, momento em que pelo menos 46% dos
estudantes matriculados tinham a idade superior à série cursada, evidenciando que para se
formar neste ciclo um cidadão levava em média 10,4 anos para conclui-lo. O ponto crucial
que gera a distorção da idade-série é a pobreza, por isso em ambos os PNEs conciliar a
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Estratégia 5.1.: estruturar os processos pedagógicos de alfabetização, nos anos iniciais do
ensino fundamental, articulando-os com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, com
qualificação e valorização dos(as) professores(as) alfabetizadores e com apoio pedagógico
específico, a fim de garantir a alfabetização plena de todas as crianças;
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erradicação deste índice com programas de redução de pobreza é essencial. (BRASIL, 2001;
BRASIL; 2014)
Os resultados da meta 3 não foram muito satisfatórios, porque por um lado reduziu o
abandono da escola pelos alunos (entre 2001 e 2007, houve queda de 9,6 para 4,8%), por
outro o índice de repetência subiu de 11% para 12,1% no período de 2001 para 2007.
No que se refere ao ensino de tempo integral (meta 6), com objetivo de pelo menos 50%
das escolas públicas ofertem esta modalidade e 25% dos estudantes da educação básica sejam
contemplados, é possível correlacionar as estratégias 6.1 e 6.2 com as metas 21 e 22 do
último PNE, respectivamente, em que a primeira o tempo de permanência integral na escola
seja de sete horas diárias, e a segunda que esta modalidade deve ser preferencial às famílias
de baixa renda.
A estratégia 6.1 também descreve sobre as sete horas diárias do ensino integral, porém vai
além da simples expansão da carga horária, agrega a necessidade do acompanhamento
pedagógico e multidisciplinar com atividades culturais e esportivas. Igualmente a estratégia
6.2 supera o objetivo 22 no que tange à estrutura física da escola, para além de garantir o
acesso às crianças atividades escolares e extracurriculares e dar preferência àquelas em
condições mais precárias, a garantia de uma estrutura arquitetônica e mobiliária é
imprescindível.
Após este panorama comparativo, é perceptível através da leitura dos dois PNEs que metas e
estratégias quantificáveis a serem atingidas são claras no atual, enquanto no antigo há uma
limitação apenas a objetivos quase que abstratos, tendo como consequência a pouca
eficiência e efetividade no cumprimentos deles entre 2001 e 2010. (FERNANDES apud
MOÇO, 2010)
Situação das metas
8.1. Metas 2
No que tange à universalização, nota-se que os índice mais baixos de taxa de matrícula e
de conclusão do ensino fundamental norteiam a população mais pobre, do ambiente rural, de
cor parda e preta, isto é, a democratização do acesso ainda é deficiente pelo simples fato de
ainda a desigualdade social ser muito marcante no Brasil. Será abordado a seguir cada ponto
destacado acima, através de ilustrações gráficas, tornando mais clara tais afirmações.
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O gráfico 1 evidencia a meta de alcançar 100% na taxa líquida de matrícula no ensino
fundamental, contemplando as crianças de 6 a 14 anos, porém a porcentagem mais próxima
da estipulada ocorre entre os brasileiros 25% mais ricos com uma taxa de 99% no ano de
2013, enquanto os 25% mais pobres têm apenas 96,5% de crianças matriculadas neste mesmo
período.
O gráfico 2 mostra a taxa líquida de matriculas, mas na perspectiva da localidade destas
crianças, onde mesmo com o aumento dela em todas as regiões entre 2007 e 2013, no
ambiente urbano este indicador ainda permanece menor (96,4% em 2013) que o urbano
(97,3% em 2013), ficando a taxa total no Brasil entre as duas porcentagens, 97,5%.
O gráfico 3 também trata sobre a taxa citada anteriormente, trazendo as porcentagens
segundo a raça. Houve aumenta das matrículas entre 2007 e 2013, em que a única curva que
teve uma queda considerável foi a da população preta: entre 2009 e 2011 passou de 96,5%
para 95,6% e só recuperou o crescimento em 2012 com 96,7%. A diferença desta taxa entre
brancos, pretos e pardos é notável, no ano de 2013 era de 97,8%, 96,6% e 97,7%
respectivamente.
Os gráficos 4 e 5 trazem a porcentagem de jovens com 16 anos que concluíram o ensino
fundamental, os quais indicam na concepção da renda e raça, respectivamente. O primeiro
comprova novamente a diferença deste indicador entre pobres e ricos, no qual a população
25% mais rica tem 95% dos seus jovens com ensino fundamental concluído, enquanto entre
os 25% mais pobres, apenas 60% conseguem chegar ao final deste ciclo, sendo a soma total
da população brasileira em torno de 71%, todos os dados no ano de 2013.
O segundo alude acerca do indicador entre brancos, pretos e pardos, onde em 2013 81%
dos brancos, 60% dos pretos e 66% dos pardos concluíram o ensino fundamental, visto que
no Brasil a soma das porcentagens neste mesmo ano era de 71%. Todos os gráficos
explicados até aqui, revelam que tal meta não está tendo uma implementação efetiva, eficaz e
eficiente.
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Gráfico 1: Porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental conforme a renda - Taxa líquida de matrícula
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Gráfico 2: Porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental conforme a
localidade - Taxa líquida de matrícula
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Gráfico 3: Porcentagem de crianças de 6 a 14 anos matriculadas no Ensino Fundamental
conforme a raça - Taxa líquida de matrícula
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Gráfico 4: Porcentagem de jovens de 16 anos que concluíram o Ensino Fundamental conforme a
renda
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Gráfico 5: Porcentagem de jovens de 16 anos que concluíram o Ensino Fundamental conforme a raça
8.2. Meta 5
A respeito da meta 5 os indicadores de leitura, escrita e matemática retirados da Prova
ABC 2012 deixam claro que a alfabetização das crianças brasileiras até o 3º (terceiro) ano do
ensino fundamental está progredindo paulatinamente, em 2012 e porcentagem em leitura era
de 44,5%, em escrita 30,1% e em matemática 33,3% como mostram os gráficos 6, 7 e 8.
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Gráfico 6: Porcentagem de aprendizagem no 3º ano do Ensino Fundamental - leitura
Gráfico 7: Porcentagem de aprendizagem no 3º ano do Ensino Fundamental - escrita
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Gráfico 8: Porcentagem de aprendizagem no 3º ano do Ensino Fundamental - matemática
8.3. Meta 6
Sobre a meta 6, as escolas públicas que ofertam ensino em tempo integral representavam
42% em 2014, mostrando que está bastante próximo da meta de 50%, agora os estudantes
matriculados neste tipo de ensino também em escolas públicas representavam 15,7%, ou seja,
um crescimento mais lento para atingir a meta estipulada de 25%.
Gráfico 9: Porcentagem de escolas públicas - tempo integral
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Gráfico 10: Porcentagem de matrículas nas escolas públicas - tempo integral
Principais políticas federais relacionadas
Para promover o debate sobre as metas 2, 5 e 6, que se referem respectivamente à
universalização do ensino fundamental, alfabetização na idade certa e educação integral,
apresentamos aqui duas iniciativas do governo federal que se relacionam diretamente com
essas temáticas. A primeira é o PNAIC - Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e
a segunda o Mais Educação. Ambas são políticas que buscam induzir os entes federados -
estados, municípios e Distrito Federal - a adotar medidas de formação, avaliação e
monitoramento. Assim, o governo federal atua como indutor dessas políticas ao definir
princípios para a implementação, transferir recursos técnicos e financeiros e oferecer
materiais didáticos e de apoio a formação dos professores.
9.1. PNAIC - Pacto nacional pela alfabetização na idade certa
O Pacto nacional pela alfabetização na idade certa foi criado por meio da Medida
Provisória nº 586, de 8 de novembro de 2012 e convertido posteriormente na lei 12.801, de
24 de abril de 2013. Através do pacto, a União, estados, municípios e Distrito Federal se
comprometem com a meta de alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade, ao terceiro
ano do ensino fundamental. Entende-se por alfabetização,
[...] compreensão do funcionamento do sistema de escrita; o domínio das
correspondências grafofônicas, mesmo que dominem poucas convenções ortográficas
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irregulares e poucas regularidades que exijam conhecimentos morfológicos mais
complexos; a fluência de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de
produção de textos escritos. (fonte: MEC)
As ações do PNAIC tem como eixo principal a formação de professores para atuar no
ciclo de alfabetização, que corresponde aos três primeiros anos do ensino fundamental, e o
monitoramento e avaliação do desempenho dos alunos durante e ao fim do ciclo. Para tal, o
governo federal, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação custeia
bolsas que são pagas diretamente aos professores que participam dos processos de formação e
se responsabiliza por oferecer um sistema de monitoramento e a avaliação externa aos alunos
matriculados no terceiro ano do ensino fundamental, aplicada pelo INEP.
Por se tratar de uma política que envolve todos os entes federativos, o PNAIC tem um
arranjo institucional que prevê quais são as atribuições de cada um dos atores envolvidos.
Assim, temos:
i) um Comitê Gestor Nacional;
ii) uma coordenação institucional em cada estado, composta por diversas entidades,
com atribuições estratégicas e de mobilização em torno dos objetivos do Pacto;
iii) Coordenação Estadual, responsável pela implementação e monitoramento das
ações em sua rede e pelo apoio à implementação nos municípios; e
iv) Coordenação Municipal, responsável pela implementação e monitoramento das
ações na sua rede. (fonte: MEC)
A formação dos professores ocorre em duas modalidades, são os professores
alfabetizadores e os professores tutores. Os primeiros são aqueles que atuarão diretamente em
sala de aula com os alunos do ciclo de alfabetização. Nesse caso, o curso de formação tem a
duração de 120h e o participantes recebem uma bolsa de 200 reais. Já os professores tutores
são os que atuarão na orientação dos professores alfabetizadores em suas unidades escolares.
Nesse caso, o curso tem duração de 200h e a bolsa é no valor de 765 reais (fonte: FNDE).
Os dispositivos legais que regulamentam o PNAIC também estabelecem que essas
formações devem ser realizadas em instituições públicas de ensino superior.
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fonte: FNDE
Para verificar os resultados dos esforços em prol da alfabetização na idade certa, o
PNAIC determina duas formas de avaliação. Uma permanente e formativa, que deve ser
realizada pelos professores de cada unidade, para acompanhar o progresso e identificar as
dificuldades dos alunos. Ela deve ser feita ao final do segundo ano do ensino fundamental e
ficou conhecida como “Provinha Brasil”. Os resultados desse processo devem ser informados
por meio do SisPacto - sistema de monitoramento do PNAIC oferecido pelo MEC. No final
do terceiro ano é realizada então uma avaliação externa, a Avaliação Nacional da
Alfabetização - ANA, elaborada e aplicada pelo Inep. Uma vez instituida, a ANA passou a
compor o sistema de avaliação da educação básica, juntamente com a Aneb e a Prova Brasil:
fonte: Inep
Com relação à adesão dos entes federados ao pacto, não foram encontrados dados no
portal do MEC. Uma fonte secundária, do Movimento Todos Pela Educação traz os seguintes
números:
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Dados do Ministério da Educação (MEC) mostram que, em termos de abrangência, o
pacto pode ser considerado um sucesso: 5.494 municípios – entes federados
responsáveis pelos anos iniciais do Ensino Fundamental e, portanto, pelo ciclo de
alfabetização – aderiram. O número equivale a 99% do território brasileiro. Ao todo,
cerca de 311 mil professores alfabetizadores já passaram pelos ciclos de formação.
Além dos números de adesão, as cifras também impressionam: entre 2013 e 2014, foi
investido 1,7 bilhão de reais no programa. (Todos Pela Educação, 2015)
Os dados sobre o desempenho dos alunos nos dois primeiros anos de realização da ANA,
2013 e 2014, não foram divulgados pelo MEC. As escolas tiveram acesso individual aos
resultados e o portal do Inep só permite acesso restrito a esses dados. Além disso, o MEC
anunciou cancelamento da aplicação da ANA para o ano de 2015, com justificativa de corte
de gastos. De acordo com uma reportagem do jornal Estadão de julho de 2015, a ANA teria
custado 150 milhões só em 2014. No entanto, segundo dados orçamentários do MEC
fornecidos pelo portal de transparência do Senado, o Siga Brasil, o governo federal destinou a
“Exames e Avaliações da Educação Básica” em 2014 pouco mais de 75 milhões. Não foi
possível desagregar os dados para saber quanto desse montante foi destinado ao ANA.
Contudo, ainda que o governo possa justificar o cancelamento do exame como medida fiscal
necessária, deve-se ter em mente os danos que tal medida pode gerar nesse momento. Os
processos avaliativos permanentes são fundamentais para o êxito da política, uma vez que
permite verificar se os investimentos e esforços dedicados à formação dos professores
alfabetizadores estão gerando resultados, sendo inclusive uma das exigências para que os
entes federados possam aderir ao Pacto.
10.1. Mais Educação
O programa Mais Educação foi criado pelo Governo Federal em 2008, integrando o Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE). Foi instituido a partir da Portaria Interministerial nº
17/2007, que estabelece que o programa deve ser implementado conjuntamente pelo
Ministério da Educação, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome,
Ministério da Cultura e Ministério do Esporte. O programa tem como objetivo elevar a
qualidade na educação básica ao promover a educação integral ampliando a jornada escolar.
O Decreto 7683 de janeiro de 2010 que regulamenta o programa Mais Educação define
educação integral como:
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§ 1o Para os fins deste Decreto, considera-se educação básica em tempo integral a
jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o
período letivo, compreendendo o tempo total em que o aluno permanece na escola ou
em atividades escolares em outros espaços educacionais.
As escolas que pretendem aderir ao pacto devem elaborar um Plano de Atendimento
da Escola, demonstrando de que forma se dará a oferta de educação integral na unidade. O
FNDE transfere recursos diretamente para a escola, que se destinam a infraestrutura e compra
de materiais necessários para o atendimento integral dos alunos, sendo que o critério de
seleção para receber os recursos do programa é diretamente relacionado ao Ideb: as escolas
com menor índice são priorizadas. Dentro das unidades, também são priorizados os alunos
atendidos por programas soco assistenciais (bolsa família) e aqueles que estão em defasagem
com relação à idade/série.
A Portaria Interministerial nº 17/2007 também especifica quais são as atribuições de
cada ator envolvido no arranjo para implementação e gestão do programa. Na esfera federal,
cabe aos ministérios:
I - promover a articulação institucional e a cooperação técnica entre Ministérios e
Secretarias Federais, governos estaduais e municipais, visando o alcance dos
objetivos do Programa;
II - prestar assistência técnica e conceitual na gestão e implementação dos projetos;
III - capacitar gestores e profissionais que atuarão no Programa;
IV - estimular parcerias nos setores público e privado visando à ampliação e ao
aprimoramento do Programa; e
V - sensibilizar e orientar outros parceiros visando à integração de suas ações em
curso ao Programa Mais Educação.
Aos estados, municípios e Distrito Federal cabe a gestão local das iniciativas de
educação integral, sendo responsabilidade dos estados também dar apoio técnico aos
municípios. A Portaria institui o Fórum Mais Educação, de natureza consultiva, formado por
representantes de cada um dos ministérios que integram o programa. O objetivo desse fórum
é promover debate e estudos que permitam mapear e aperfeiçoar os modelos de educação
integram implementados do âmbito do Mais Educação.
De acordo com dados do portal do MEC, o Mais educação conta com a participação
de 14.995 escolas, somando um total de 3.067.644 estudantes atendidos. Esses números,
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contudo, se referem às 1282 municípios, considerando que existem 5570 municípios no
Brasil, podemos concluir que a abrangência territorial do programa ainda é pequena.
Principais desafios à implementação
Ao analisar as metas 2,5 e 6 percebemos como estão relacionadas e podem influenciar o
sucesso (ou fracasso) no avanço uma das outras. Se temos o objetivo de universalizar o
ensino fundamental, como previsto na meta 2, é preciso focar nas camadas da população que
ainda estão excluídas deste:
“Apesar de alardeada ano após ano, a universalização do Ensino Fundamental não
está concretizada. Cerca de 500 mil crianças de 6 a 14 anos permanecem fora da
escola (dados de 2013). Predominam, entre elas, as de famílias mais pobres, com
renda per capita de até ¼ de salário mínimo, negras, indígenas e com deficiência.
Portanto, trata-se de um grupo que pede políticas públicas específicas e
diferenciadas.” (Observatório do PNE)
Precisamos então pensar que tipo de educação é capaz de incluir e manter na escola as
crianças que fazem parte dessa minoria. Se assumimos que a educação integral atende à essa
demanda, então a meta 6 é um meio para atingir a meta 2. Para isso será preciso investir não
só em infraestrutura, mas na formação de professores aptos a atuar dentro dos princípios de
educação integral e com o perfil da população priorizada. É preciso pensar também naqueles
que estão incluídos no ensino fundamental apenas “formalmente”, isto é, aqueles que estão
matriculados mas nunca chegam a concluir, ou concluem sem aprender o mínimo esperado:
“A superação da exclusão por falta de escola e pelas múltiplas reprovações tende a visibilizar a
exclusão gerada pelo não aprendizado ou pelo aprendizado insuficiente, remetendo ao debate
acerca da qualidade do ensino. É a qualidade “que oprime o cérebro dos vivos” e ocupa o
centro da crítica ao processo presente de expansão, tornando-se a questão central da política
educacional referente à educação básica nos próximos anos.” (OLIVEIRA, 2007)
PNE em Debate - 2015
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