PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM ESTUDOS AVANÇADOS SOBRE O CRIME
ORGANIZADO E CORRUPÇÃO
Escola da Magistratura do Estado de Rondônia – EMERONPorto Velho – novembro/2018
Encarceramento, Facções Prisionais e
Violência: Os Desafios do Sistema de Justiça Criminal
Profa. Dra. Camila Caldeira Nunes Dias
Professora Adjunta da UFABC
Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais
Pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP)
Associada ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Líder do Grupo de Pesquisa em Segurança, Violência e Justiça – SEVIJU
Disciplina: Encarceramento, Facções Prisionais e Violência: Os
Desafios do Sistema de Justiça Criminal
EMENTA
Contexto institucional e político do aparecimento do CV e do PCC. O processo histórico da expansão
do PCC em três fases. As transformações nas prisões a partir da hegemonia do PCC. Estrutura
organizacional, dinâmicas de funcionamento e o deslocamento do homicídio. A hegemonia do PCC em
São Paulo e as amplas transformações nas dinâmicas nas prisões paulistas. A prisão como lócus de
organização do crime. A consolidação das facções prisionais no Brasil e os efeitos sobre a segurança
pública. Nacionalização do PCC e do CV. Competição pelo controle da população carcerária e conflito
no mercado de drogas. Surgimento de facções pelo Brasil afora e a eclosão da violência. Os desafios
da política pública e do sistema de justiça criminal frente às facções prisionais.
OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA
De forma geral, ao final da disciplina o pós-graduando será capaz de praticar atos decisórios que
visem o combate à violência praticada por organizações criminosas, dentro e fora do sistema
prisional, buscando nas ciências criminais, lastro teórico e prático para o enfrentamento dessa nova
realidade com propostas inovadoras.
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Características do C.O. de acordo com o Conselho da União Européia
disciplina
Estrutura comercial
Infrações penais
Lucro
transnacionalidade
Responsabilidade de cada um
Uso da violência (interna/externa)
Colaboração entre 2 ou mais pessoas
lavagem de dinheiro influência política e econômica
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durabilidade
•Controle do território
•Monopólio das atividades ilícitas
Clientelismo/
•proteção
Intimidação/
•violência
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G. Mingardi: 2 tipos de estrutura das organizações criminosas:
-Atividades ilícitas e clandestinas
-Apadrinhamento
-Vínculo Eterno
-Hierarquia
-Violência/intimidação
-Lei do silêncio
-Controle de território
-Clientelista
•(Máfia/Comando Vermelho)
•Empresarial•Tradicional
-Atividades ilícitas
-Métodos empresariais
-Relações de trabalho
-Abandono de preocupações com honra e lealdade
-Especialização funcional
• roubo de carga, receptação, lavagem de dinheiro)
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hierarquias rígidas Redes descentralizadas
Líderes Autoritários Agentes e células múltiplas
Linhas rígidas de
controle e troca
Transações em constante
transformação
Especialização em
determinada
mercadoria
Combinação de
carregamentos
de diversos produtos
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Modelo de rede multidirecional:
-todos participantes estão ligados a todos
-células são relativamente autônomas
- a prisão de um membro ou o desmanche de uma transação não atinge a estrutura
- não é necessário conhecer a identidade de um membro da rede além de dois nós de distância
Brasil:
organizações criminais de
base prisional
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Os principais grupos criminais -
com identidade definidas -
atuantes no Brasil
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Comando Vermelho (CV)
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Origem: Presídio da Ilha Grande- RJ. Década de 70
•LSN (Lei de
•Segurança
•Nacional)
•Presos
•PolíticosCriminosos Comuns
•Organização e união
•Disputa pelo poder vencida pelos LSN
•Imposição de um código de conduta
•Denúncia das arbitrariedades do Estado
•Caixinha (contribuição para prover bens de primeira necessidade)
•William da Silva (Professor)
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Não intervenção das autoridades
•Expansão da influência:
-Dentro do sistema prisional
-Fora do sistema prisional
Transferência das lideranças para outras unidades prisionais
•Fugas•Tráfico
•de Drogas
•Resgates
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Assaltantes de bancos
(LSN)Traficantes de drogas
•Segunda Geração do Comando Vermelho (1983) Líderes: Escadinha, Gordo.
Poder Normativo Poder remunerativo
Na prisão não
possui recursosContinua lucrando,
mesmo preso
Voltados para
dentro da prisãoVoltados para fora das
prisões (morros)
Idealismo (mínimo) Pragmático, visa o
lucro
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Metade da década de 80: boom do tráfico e do consumo de drogas na América Latina:
•Bolívia
•Cartéis colombianos
•Paraguai
•Cartéis Mexicanos
•Ponte de passagem
•para Europa e EUA
•Mercado Consumidor
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•Outras organizações baseadas no RJ:
Amigos dos Amigos
(ADA)Terceiro Comando
-Dissidência do CV
-Domínio de 12 comunidades na
Zona Norte do RJ
-Líder: Uê (assassinado em 2002, em
Bangu I pelo CV)
-Formada por ex-integrantes das tropas
especiais do exército, fuzileiros navais e
policiais.
-Líder: Celsinho da Vila Vintém (fez acordo
com CV em 2002, em Bangu I)
Mílicias
Primeiro Comando da Capital (PCC), São
Paulo, Anexo da Casa de Custódia de
Taubaté, 1993
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1. Contexto histórico e político:
- Mudança no perfil da criminalidade
- Redemocratização política e aumento da violência
institucional
- Aumento do encarceramento
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2. Processo de expansão do PCC no sistema carcerário paulista:
Fases de expansão do PCC
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1º. Fase: 1993 – 2001: disseminação da
facção e conquista de espaço
Fundação do PCC
Batismo
Ações carregadas deelementos simbólicos:
Duplo Homicídio
Leitura do estatuto
Execução decapitação
Legitimação do poder
Função exemplar e
preventiva
Injustiça, miséria e luta
dos oprimidos contra
opressores
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2º. FASE
2. 2001 – 2006: Consolidação do poder
Mega de 2001Repressão do Estado
Publicização e disseminação
do PCC
Ataques de maio de 2006: demonstração da consolidação do poder
Constitui-se como ator político diante do Estado: enfrentamento ou
acomodação
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3º. Fase
C. Meados em 2006 em diante: poder consolidado, gestão
da população carcerária e nacionalização
Co-responsabilidade dos padrinhos pelas ações dos afilhados
Algumas mudanças
Proibição do uso do crack nas cadeias
Gradação das punições
Proibição do porte de facas
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Processo de Filiação
PCC
Diferenciação entre “irmão” e “companheiro”
Delineamento de um
contorno
Organização
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Processo de Filiação
PCC
Irmão Convite companheiro
Irmãopadrinho
voluntário
seletivo
responsabilidade
Compromisso
com o crime
exemplo
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Morte como ultima
ratio
Construção da legitimação do poder
Gradação
nas
punições
Insistência
no resgate
Flexibilização na
ocupação das
posições de liderança
Distribuição dos
centros decisórios
Debates
Perda da posição de líder
Exclusão
Suspensão (30 /90 dias)
Agressão física
Humilhação pública
Execução (decretado)
Impessoalidade
e submissão ao
Partido
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Consolidação do PCC no sistema carcerário paulista
Mudança na
forma de matar
enforcamento
Modelo celular de organização do poder
Instituição dos tribunais e debates
gatorade
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Estrutura e organização
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PCC – Estrutura Geral
Sintonia Estados e Países
Resumo
SintoniaPR
SintoniaParaguai
SintoniaPE
SintoniaRS
SintoniaMS
Sintonia Geral Sistema (DDD)
Sintonia GeralRua (DDD)
Estado de SP
SintoniaBolívia
Piloto
Disciplinade raio
Disciplina cidade/região
Disciplinabairro
Sintonia doProgresso
Sintonia dos Gravatas
Sintonia do Livro
Sintonia da Assistência
Sintonia Cebola
Sintonia Geral Final (SGF)
Sintonia ...
Sintonia....
PCC – Estrutura Hierárquica Estado de São Paulo
Sintonia Geral Rua
Sintonia Geral Sistema
Sintonia Geral Final
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Comando Vermelho - CV
Quadro Solução Brasil
CV-MT
CV-CE
CV-RJ
CV-RO
CV-TO
CV-RR
CV….?
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Braço econômico e políticoSustentação e dependência recíproca
Importância dos aspectos político-ideológicos na sustentação do PCC-Autonomia frente aos aspectos econômicos?
-possíveis significados dessa autonomia.
Braço econômico: ampliação da presença na economia
ilícita no cenário nacional (tráfico)
- Organizações criminosas ou organização de criminosos?
DEBATE SOBRE OS “FINS” E OS “MEIOS”
Diferentes configurações locais (estados)
- Existência de 2 PCCs: PCC-empresa e o PCC-facção. O PCC empresa
sustenta a facção.
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Braço Econômico
Tráfico de drogas
Aluguel de armas
Assaltos/roubos (banco, carro-forte,
cargas, condomínios, joalherias etc.) –
“novo cangaço”
Rifas
Cebola (mensalidade)
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Braço Político
▪ Cartilha “Conscientização - União e
família” - Para uma geração
consciente (2006)
▪ Pag.3 – Explicação para o lema “Paz, Justiça e Liberdade”.
Paz (...)
“Hoje através da Paz (no cárcere – crime) as facas se transformaram em ganchos
para fuga. O crack foi expressamente proibido nas prisões. Os presos
(malandrões) que cometiam os assaltos, extorsões, estupros e conflitos, foram
assassinados e outros foram mandados para cadeias de seguro, e estão fora do
crime que corre pelo certo (jurados de morte)”.
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Braço Político
▪ Justiça: A justiça é o combate de luta por nossos direitos, pelo nosso respeito – e por
tudo que no crime é certo e justo. É a conquista pelos nossos espaços. Respeitando
para ser respeitado. É o retorno do aprendizado e do amadurecimento, com a
contribuição espontânea de corpo, alma e coração para nossa causa. É o
reconhecimento pela luta justa que acreditamos e vivemos.
▪ Liberdade: a libertação dos dominadores e exploradores. Liberdade pela porta da
frente ou pela porta dos fundos, é nosso principal objetivo, o que todos nós dentro do
cárcere almejamos dia e noite. Ganhar a liberdade, e estando na rua, lutarmos para
não perdê-la
(...)
▪ Uma vez compreendido esse ponto, podemos dizer que: uma força inferior, mas unida
e preparada (consciente) poderá muitas vezes com ações inteligentes e ataques de
surpresa surpreender o inimigo e vencê-lo! Por isso a importância do Preparamento e
da Conscientização.
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Paradoxo da prisão
A adoção de políticas de segurança pública com foco na repressão e
na punição e que tem no uso massivo da prisão a sua face mais
expressiva e significativa tem se mostrado não apenas ineficiente
como resposta aos desafios postos pelos problemas da violência e do
crime, mas, ao contrário: a prisão tem mostrado que é parte
constitutiva dos problemas que supostamente visa combater.
O caso mais emblemático neste sentido é a situação do Estado de São Paulo
onde a política de encarceramento em massa que tomou forma no Brasil
inteiro adquiriu uma intensidade e um volume muito maiores, capaz de
contribuir significativamente para colocar o Brasil no topo do ranking mundial
de população aprisionada. Não obstante, pari-passu ao processo de
intensificação do encarceramento nas últimas décadas assistimos também ao
processo de constituição, expansão e consolidação do PCC dentro e fora das
prisões paulistas.
▪
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Os efeitos da prisão sobre a dinâmica criminal
* Prisões paulistas: lócus por excelência de articulação do crime.
Articulação do crime alterou a dinâmica criminal em São Paulo.
“Gangorra” das taxas de crimes em São Paulo: de um lado, na parte
de baixo, os crimes contra a pessoa (sobretudo os homicídios) e do
outro, na parte de cima, os crimes contra o patrimônio (sobretudo os
roubos e tráfico de drogas), ressaltando o crescimento de algumas
modalidades mais sofisticadas de roubo, como o roubo de carga, de
banco e carros-fortes.
Homicídios não tem papel central nesta dinâmica criminal
organizada a partir de um grupo hegemonico.
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-Ancorada num sentimento de injustiça, de opressão e de revolta.
-Fortalecimento do ódio ao Estado, especialmentè às forças de segurança
e à Polícia Militar.
- Consolidação de um modo de vida e de uma identidade fortemente
vinculada ao “crime” como forma de resistência as mazelas, injustiças e a
desigualdade econômica, social, política e no acesso aos direitos e à
justiça.
“o crime fortalece o crime”
Do ponto de vista da ação estatal, os desafios postos pela dimensão
“política”:
A repressão não dá conta. Apenas fortalece a identidade e a
identificação entre “bandidos”.
Oposição ao Estado
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Simbiose com o EstadoNa prisão:
Encarceramento massivo fortalece e empodera cada vez mais o PCC, constituindo-se um
círculo vicioso , reproduzindo as condições para a sua perpetuação.
▪ o Estado só tem condições de manter o encarceramento no ritmo atual porque conta com
a capacidade do PCC de impor e manter a ordem no espaço prisional de forma efetiva.
▪ A despeito das condições desumanas das prisões e de todos os déficits presentes nestes
estabelecimentos, na última década quase não assistimos a episódios de rupturas da
ordem nestes espaços em São Paulo.
A hegemonia conquistada pelo PCC no mundo do crime em São
Paulo, torna-se grande aliada do processo de encarceramento em
massa vigente no Estado e vice-versa: o encarceramento fortalece e
mantém as condições dessa hegemonia.
Na rua: com as polícias, através de múltiplas e complexas formas de
articulação, acordo e cooperação.
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Dilemas da ‘pacificação’ em SP
Efeito direto: redução dos homicídios
Ondas de violência cíclicas (2001, 2006, 2012)
Supostas soluções que agravam o problema:- Repressão através de ações da PM
- Regimes disciplinares rigorosos nas prisões (RDD)
- Encarceramento massivo
- Letalidade policial, violência e tortura
Consolidação da prisão como
lócus de organização da criminalidade
Fortalecimento da percepção de injustiça e da opressão pelo Estado, da ideologia
política da guerra contra a polícia e da identidade vinculada ao crime
“o crime fortalece o crime”
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Atividade em grupo:
Comparar e discutir o 1o. estatuto do PCC (escrito em 1997) e o
2o (escrito e difundido em 2011).
O que eles indicam em termos das mudanças ocorridas no
âmbito da organização no período de tempo compreendido
entre a elaboração de cada um deles?
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Desdobramentos
Nacionalização do PCC (ou tentativa?)
Acordos, cooperação, fusão ou conflitos/disputas – comerciais ou através da violência – com os grupos locais
Fornecimento de drogas ilícitas para grupos de
outros estados (atacado)
Controle da população carcerária de outros estados (?)
Configurações locais prévias são definidoras para a forma através da qualo PCC ocorrerá a chegada do PCC nos diferentes estados e municípios brasileiros
Disputa por pontos de venda de drogas no varejo Transferências para o SPF
Define grau de violência, expressa, sobretudo, pelas taxas de homicídios
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Tendências (???) e possibilidades futuras
Cenário atual:
- Fragmentação do PCC em decorrência da disputa com muitos outros grupos locais (dentre outros fatores) e consequente enfraquecimento. Possibilidade de aumento dos conflitos violentos e, portanto, dos homicídios.
Hegemonia do PCC em São Paulo
- Consolidação do PCC em nível nacional e aumento da sua importância no comércio de drogas regional (América Latina) e do ponto de vista político, um desafio à legitimidade do Estado
- “Síntese” das duas situações acima: nacionalização do PCC nos moldes de uma “franquia”, ou seja, com autonomização dos grupos nos diferentes estados, sem o controle da SGF e com a manutenção de características regionais/locais (inclusive as rivalidades. PCC: “etiqueta”).
Nacionalização do PCC, presença desigual entre os estados
Aparecimento de facções em todos os estados (prisões)
CV: aparecimento de franquias locais.
Inicialmente alinha e depois de 2016, em
disputas, com PCC
- Enraizamento social do PCC
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A centralidade da prisões nas dinâmicas criminais contemporâneas
Intensificação do encarceramento reconfiguração do lugar da prisão
centralidade na dinâmica criminal
Prisão: epicentro das mais graves crises na
segurança pública brasileira
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Os efeitos do Sistema Penitenciário Federal -
“Comitê Central” do crime no Brasil
Possibilidade de encontros de “lideranças” e/ou membros de grupos criminosos de todos os estados brasileiros num único espaço:
“Comitê Central do Crime” no Brasil, onde estratégicas e planos são definidos, alianças e formas de cooperação são alinhavadas e a deflaração de cisões, rupturas e conflitos, decididos.
Alguns efeitos do Sistema Penitenciário Federal:
- Formação de novas lideranças:
- Crescimento CV
- Criação da FDN
- Articulação e disputas entre grupos
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A “faccionalização” do sistema prisional brasileiro:
1.Expansão do PCC
a “chegada” do PCC em outros estados – projeto de expansão.
*SP/MS/PR – final dos anos 90
*a partir da segunda metade dos anos 2000: norte/nordeste/centro-oeste
Migração de seus integrantes (distribuição de drogas e/ou articulação de assaltos de grande porte)
Essa presença é evidentemente diferenciada em cada um desses locais, mas, aponta a capilarização nacional do PCC.
O que significa falar em “presença” do PCC?
Batismo, “irmão” em conexão com a rede cujo núcleo principal (nó) se encontra nasprisões paulistas
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A “faccionalização” do sistema prisional brasileiro
2. as condições propícias e o surgimento de grupos locais e de franquias do CV
*O aumento do encarceramento e a consequente deterioração da situação das prisões
no país todo:
Contextos culturais, sociais e políticos completamente distintos uns dos outros,
provocaria efeitos diversos.
*Proliferação de grupos locais, mais ou menos organizados, com maior ou menor
capacidade de articulação para fora das prisões, que se aliavam ou se opunham ao PCC.
*Franquias do CV surgiam, em geral, aliadas aos grupos locais.
Alguns desses grupos foram rapidamente incorporados pelas facções maiores, outros foram
eliminados e outras cresceram e se constituíram em importantes fontes de resistência à
tentativa de hegemônia nacional do PCC (ex: FDN, PGC e SDC-RN).
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A presença do CV e do PCC em territórios fronteiriços
Desde final dos anos 1990 se tem evidências da presença de brasileiros,membros das facções do sudeste, na região de fronteira.
*CV: presença de seus integrantes – caso notório de Beira-Mar e seus aliados.
* PCC: presença se intensifica a partir de 2005/2006 e se caracteriza como uma presença
“institucional”, muito menos “personalista.
Execução de Jorge Rafaat Toumani: divisor de águas quanto à presença dos grupos do sudeste brasileiros na fronteira, em detrimento das famílias “nativas”.
expressão desta progressiva presença e de seu fortalecimento na região
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Síntese do cenário que conformava os elementos centrais da dinâmica criminal a partir das
prisões até 2015:
a. proliferação de grupos criminais dentro das prisões de todo o país;
b. expansão do PCC pelo território nacional, dentro e fora das prisões;
c. surgimento de franquias do CV em diversos estados, especialmente do Norte e do Nordeste;
d. existência de grupos de atuação local ou regional que se opunham de forma contudente ao
PCC, mas, que não dispunham de força suficiente para um enfrentamento além de seus
territórios de origem - dentre os quais pode-se destacar a FDN e o PGC (Primeiro Grupo
Catarinense);
e. Alinhamento, convivência, apoio mútuo e cooperação entre as duas facções mais
importantes e com maior presença nas diversas regiões do território nacional, o CV e o PCC.
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Ruptura entre CV e PCC e o realinhamento nacional da população carcerária
O anúncio da ruptura definitiva entre as duas facções ocorreria um ano depois,em junho de 2016
Realinhamento nacional do crime nas prisões e explosão de violência:
Pela própria configuração nacional, alguns estados foram afetados de forma mais intensa do que outros.
Exemplos que se situam em extremos opostos: São Paulo e o Rio Grande do Norte
• Desde 2015 uma série de problemas locais em diversos estados onde conviviam PCC e CV começaram a tensionar as relações entre esses grupos. Cada uma das facções proibiu, nos territórios em que eram majoritárias, novos batismos do outro grupo.
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Porto Velho – novembro/2018
Violência nas prisões em 2016 e 2017: ponto culminante de um conflito violento cujos contornos foram sendo lentamente construídos dentro das instituições prisionais, sob os auspícios das autoridades estatais e, mais do que isso, contando com decisivas intervenções dos agentes públicos
Emblemático: plano nacional de segurança pública anunciado em dezembro de 2016:*apoiado na ideologia da “guerra às drogas”;*aposta na militarização da segurança pública:a. aumento do efetivo da Força Nacionalb. ampliação das ocasiões de uso das forças armadas*Ampliação do encarceramento:a. expansão do sistema prisional dos estadosb. aumento de unidades do SPF
A grande maioria das propostas apresentadas pelo Estado reforçam as condições
que estão diretamente ligadas à criação dos problemas que foram aqui expostos
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM ESTUDOS AVANÇADOS SOBRE O CRIME ORGANIZADO E CORRUPÇÃO
Escola da Magistratura do Estado de Rondônia – EMERON
Porto Velho – novembro/2018
Desafios no enfrentamento dos grupos organizados
Aspectos econômicos - comércio ilícito e crimes como roubo de cargas, bancos, carros-fortes, caixa eletrônico etc.
Combate às atividades ilícitas, especialmente através do estrangulamento financeiro das organizações; controle de armas; monitoramento.
Aspectos ideológicos - sentimento de injustiça, de opressão e de revolta. Fortalecimento do ódio em relação às forças de segurança, em especial, aos policiais militares. Consolidação de um modo de vida e de uma identidade fortemente vinculada ao “crime” como forma de resistência as mazelas, injustiças e a desigualdade econômica, social, política e no acesso aos direitos e à justiça.
“o crime fortalece o crime”
Como fazer frente a essa dimensão?
Maior desafio - enquanto o Estado não considerar essa dimensão nas ações e estratégias adotadas, o enfrentamento/enfraquecimento dos grupos fracassará.
A repressão não dá conta. Apenas fortalece a identidade e a identificação dos “bandidos”.
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM ESTUDOS AVANÇADOS SOBRE O CRIME ORGANIZADO E CORRUPÇÃO
Escola da Magistratura do Estado de Rondônia – EMERON
Porto Velho – novembro/2018