Download - Empresa Colonial

Transcript
  • Empresa colonial, ontologia e violncia

    Empresa colonial, ontologa y violencia

    Colonial enterprise, ontology and violence

    Hctor Mondragn

    RESUMO

    A histria, a economia, a lgica e a filosofia da empresa colonial continuam

    presentes no capitalismo do sculo XXI, esmagando as comunidades rurais. O

    poder de decidir est apenas nas mos do capital transnacional, que se

    considera o portador do esprito do desenvolvimento global, em frente do qual

    nada e nada pode ter vida. Impe a deciso radical de fazer seus mega-

    projetos e organizar o territrio como seu. preciso substituir este destino

    manifesto do ser excludente e hegemnico pelo reconhecimento do Outro como

    diferente, e fazer justia aos at agora esmagados, com um regime que defenda

    seus direitos e com alternativas econmicas que os incluam.

    PALAVRAS CHAVE: capital, colonialismo, comunidades, megaprojetos,

    monoculturas, territrio, ser.

    RESUMEN

    La historia, la economa, la lgica y la filosofa de la empresa colonial continan

    presentes en el capitalismo del siglo XXI, aplastando a las comunidades rurales.

    El poder de decidir est slo en las manos del capital transnacional, que se

    considera portador del espritu del desarrollo mundial, en frente de cual nada es y

    nada puede tener vida propia. El gran capital impone la decisin radical de

    realizar sus megaproyectos y de ordenar el territorio como suyo. Es necesario

  • substituir este destino manifiesto del ser excluyente y hegemnico, por el

    reconocimiento del Otro como distinto y hacer justicia a los hasta ahora

    aplastados, con un rgimen que defienda sus derechos y con alternativas

    econmicas que los incluyan.

    PALABRAS CLAVES: capital, colonialismo, comunidades megaproyectos,

    monocultivos, territorio, ser.

    ABSTRACT

    The history, economics, logic and philosophy of colonial enterprise are present in

    XXI century capitalism, crushing rural communities. The decision power is only in

    the hands of transnational capital, and it considers itself bearer of the spirit of

    global development. Facing it nothing is, and nothing can have life. The big

    capital imposes the radical decision to make their mega projects and organize the

    territory as its territory. Its necessary to replace the manifest destiny of the Being

    exclusionary and hegemonic, for the recognition of the Other as different, and

    make justice to the hitherto crushed with a regime that defends their rights and

    with economic alternatives that include them.

    KEY WORDS: capital, colonialism, communities, megaprojects, monocultures,

    territory, being.

    As transnacionais concebem o mundo rural simplesmente como espao para

    realizar os objetivos do investimento capitalista. O capital transnacional trata de articular

    as reas rurais de nossos pases ao redor de ncleos de investimento dos quais se

    focalizam os esforos de apoio estatal ao desenvolvimento e reorientam o

    povoamento, reordenando o territrio e recompondo todas as atividades econmicas e

    sociais.

  • Estes ncleos se entendem como processos socioeconmicos gerados ao redor

    de uma atividade principal, na qual a populao se integra com o setor empresarial

    dentro dos projetos produtivos que garantem a competitividade e o sucesso dos

    investidores. Neste sentido, o capital estabelece as vantagens comparativas de cada

    comarca desde o ponto de vista da reorganizao da diviso internacional de produo

    e dos mercados, segundo convenham seus interesses e a maximizao de seu lucro.

    Nestas condies, uma nova ruralidade pode ser simplesmente um espao

    necessrio para realizar a acumulao capitalista internacional e tambm, ser o

    territrio no qual se sustenta e eleva a qualidade de vida das comunidades.

    O grande agronegcio e os megaprojetos que concentram investimentos

    especialmente nas obras de infraestrutura, como represas hidreltricas, interconexo

    eltrica internacional, rodovias ou canais, portos e aeroportos e grandes minas ou

    exploraes petroleiras, so planejadas e executadas atualmente dentro da viso de

    imposio de interesses e valores externos s comunidades locais, uma viso

    essencialmente etnocentrista e colonizadora de espoliao.

    Para as comunidades isso significa um alto grau de desterritorializao,

    causando muito frequentemente um deslocamento forado, seja por vias econmicas,

    jurdicas ou mediante a violncia aberta e ilegal.

    Neste transcurso o capital transnacional encontra um aliado estratgico e um

    peo de briga, o latifndio, que historicamente tem conseguido a concentrao

    monoplica da grande propriedade de terra e desfruta de sua renda, pois o processo de

    concentrao e privatizao de terras foi parte estrutural dos processos coloniais dos

    ltimos 500 anos. Os latifundirios se amparam no processo de desterritorializao das

    comunidades para aambarcar a propriedade da terra que sobem de preo pelo

    processo de nova ruralidade (GRAIN, 2014), o que em alguns pases implica incluso o

    aumento das importaes de alimentos e em outros a expanso dos agronegcios

    transnacionais custa da agricultura familiar e as comunidades locais.

    importante levar em conta que, quando no h uma reforma agrria, a renda

    recebida pelos latifundirios pode se incrementar demais com a nova ruralidade

  • estabelecida pelos grandes investimentos em megaprojetos ou agronegcios. A base

    do processo a conservao da concentrao monoplica da propriedade, que permite

    obter uma renda absoluta. Os investimentos podem elevar a renda diferencial de

    localizao e, alm disso, geram mais uma renda diferencial, pelo incremento da

    produtividade atravs do capital investido. (MARX, 1974).

    No caso da renda gerada pelas jazidas ou propriedade da nao, recebidas

    pelos pases na forma de royalties, o poder poltico dos fazendeiros pode garantir de

    diferentes jeitos a apropriao ilegal ou legal destes dinheiros, podendo converter-se

    em um crculo vicioso entre o poder dos fazendeiros com sua fora poltica ruralista e

    o grande investimento colonizador.

    Esse crculo se completa na atualidade pela financeirizao da terra no mercado

    mundial, no qual se valorizam os ttulos da propriedade, os direitos de superfcie e os

    projetos, contratos e concesses territoriais envolvidos. No mundo, durante o perodo

    janeiro de 2006 e abril de 2009, foram vendidas a investidores internacionais entre 15 e

    20 milhes de hectares de terras de uso agropecurio. (VON BRAUN; MEIZEN-DICK,

    2009) (LEAHY, 2009). Este atravessamento global de terras teve um crescimento

    exponencial durante os ltimos 6 anos, que se mantm agravando. (GRAIN, 2014).

    Para as comunidades rurais a viso outra: a terra no uma mercadoria; a

    terra a vida. E a ruralidade concebida como direito terra e territorialidade. Trata-

    se de reorganizar os territrios de acordo com as necessidades, a cultura ou decises

    prprias da populao rural organizada com seus projetos de vida. Disso resulta a

    construo endgena de uma nova economia pr-requisito para se (inter)relacionar

    com a economia regional, nacional, latino-americana e mundial. uma via exatamente

    inversa, que inclui a soberania alimentar como nica garantia da autonomia das

    comunidades e da soberania das naes.

    Deveria ser a prpria comunidades quem decide as prioridades dos projetos e

    programas em seus territrios, e seus objetivos. Por consequncia, s mediante a sua

    participao decisria se deveriam articular os planos.

  • Mas acontece que uma comunidade pode estar sentenciada por um projeto de

    investimento que nem sequer conhece, que leva anos gestando-se em escritrios de

    transnacionais e de seus scios. Isso s possvel porque a democracia representativa

    afasta dos centros de planejamento a deciso das comunidades, cujos integrantes

    devem se limitar a votar a cada perodo de tempo em uns mandatrios e

    representantes.

    Os grandes investimentos se dedicam primeiro obteno de recursos

    prioritrios relativamente escassos como todos os que permitem gerao de energia

    (petrleo, gs, carvo, urnio, ltio, represas), ou a extrair determinados minerais

    (coltan, bauxita, ouro, diamantes); segundo, s construes de grandes vias de

    comunicao e transporte; e terceiro a diversas atividades altamente rentveis, desde

    os agronegcios, como agrocombustveis, carcinicultura, ou de explorao da

    biodiversidade; at o turismo.

    Neste momento o capital transnacional trata de obter a qualquer custo petrleo e

    outros recursos energticos. a prioridade imediata da poltica dos Estados Unidos, da

    Europa e do Japo. Os Estados Unidos, por exemplo, consideram vital garantir o

    fornecimento de recursos energticos e prover o acesso s regies onde eles se

    encontram (KLARE, 2002). A isso se adicionam os objetivos geoestratgicos de longo

    prazo sobre o acesso a outros recursos naturais, enunciados para o hemisfrio norte no

    Informe Kissinger, (KISSINGER, 1974) e para o mundo inteiro no Informe Cheney.

    (CHENEY, 2001)

    Por outro lado, a construo da infraestrutura de transporte para a comunicao

    internacional em grande escala uma necessidade do capital internacional que nem

    sempre coincide com as necessidades das comunidades e que pode significar o

    deslocamento definitivo destas. Os principais megaprojetos de infraestrutura so o

    Plano Puebla-Panam (PPP), rebatizado como Projeto Meso-Amrica (LPEZ, 2009); e

    a Integrao da Infraestrutura Regional de Sul- Amrica (IIRSA).

    Plano Puebla-Panam ou Projeto Meso-Amrica

  • O PPP resultado da sistematizao dos megaprojetos formulados para a regio

    mesoamericana durante as dcadas anteriores, como o Sistema de Interconexo

    Eltrica Para Amrica Central SIEPAC, formulado a partir de 1991, com seu

    antecedente na Agenda Centro-Americana para o Sculo XXI, na qual se formulavam

    32 projetos regionais. Foi proposto como PPP o dia 12 de setembro de 2000, pelo

    ento presidente do Mxico, Vicente Fox, e adotado o dia 12 de maro de 2001, com o

    apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, por oito pases: Mxico,

    Guatemala, Belize, Salvador, Honduras, Nicargua, Costa Rica e Panam, aos quais se

    adicionou a Colmbia a partir do dia 11 de julho de 2006 (FIGUEROA, 2007).

    O PPP fundamenta-se em quatro componentes:

    - Rede Internacional de Rodovias Mesoamericanas (RICAM), assinada no dia 18

    de julho de 2002, articula corredores virios, canais secos Caribe-Pacfico, portos, e a

    conexo terrestre Panam-Colmbia pelo trecho do Tampo do Darin - Pau de Letras

    (da Rodovia Pan-americana) (FIGUEROA, 2007).

    - Represas hidreltricas: no comeo 32 no Mxico e outras 26 na Amrica

    Central (GODINEZ, 2002), articuladas com o SIEPAC permitem um sistema de

    interconexo eltrica continental desde a Amrica do Sul at a Amrica do Norte.

    Transnacionais como a originalmente espanhola e hoje italiana ENDESA e as

    estadunidenses como Harken Energy, Applied Energy Services (AES), Duke Energy e

    Harza tm interesses nestes projetos (WARPEHOSKI, 2002).

    - Indstrias articuladas a portos privatizados e portos livres. Em novembro de

    2000 foi outorgada a Olympus Venture Capital, como representante de Desarrollos

    Latinoamericanos DELASA, do grupo de investidores estadunidense Prescott & Follet,

    um contrato de aluguel por 25 anos para usufruto e modernizao do porto de Bilwi /

    Puerto Cabezas no litoral caribenho da Nicargua. Este projeto incluiu a construo de

    rodovias e de uma zona de maquiladoras (WARPEHOSKI, 2002). Parte chave do

    PPP o projeto Marcha para o Sul, que cria condies trabalhistas e de infraestrutura

    para expandir a indstria maquiladora transnacional (CHIAPAS, 2002). Uma estratgia

  • a construo de aldeias perto desses projetos em que os habitantes se deslocam de

    suas comunidades originais pela construo de barragens ou de rodovias. (LPEZ,

    2009).

    - Agronegcios e negcios florestais ou com a diversidade biolgica. As

    empresas estadunidenses de produo de papel, International Paper e Boise Cascade

    tm comprado terrenos em Chiapas e Oaxaca para convert-los em plantaes para

    extrair polpa de madeira. A International Paper est pesquisando como produzir rvores

    transgnicas para melhorar sua produo de papel. O Grupo Pulsar, empresa mexicana

    de biotecnologia, tem investimentos e plantaes em Chiapas e pesquisa sobre rvores

    transgnicas (WARPEHOSKI, 2002).

    -Os tratados de livre comrcio, como novo marco jurdico que garanta os direitos

    aos investidores, acima dos direitos coletivos estabelecidos. O PPP foi desenhado

    quando estava em vigncia o TLCAN e se planejava o estabelecimento da rea de

    Livre Comrcio das Amricas (ALCA), que no se estabeleceu pela resistncia dos

    povos, mas que tem sido parcialmente substituda na Amrica Central pelo Tratado de

    Livre Comrcio entre Repblica Dominicana, Centro Amrica e Estados Unidos de

    Amrica (DR-CAFTA), e na Colmbia por vrios TLC e mais recentemente pela

    Iniciativa para a Prosperidade das Amricas, que agrupa a todos os pases que

    firmaram TLC com os Estados Unidos.

    O Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Japons para a

    Cooperao Internacional, o Fundo de Ajuda ao Desenvolvimento FAD, da Espanha,

    a Unio Europeia, e vrias agencias bilaterais financiam projetos vinculados ao PPP.

    Integrao da Infraestrutura Regional de Sul-Amrica

    A IIRSA surgiu a partir da Reunio dos Presidentes de Amrica do Sul, em

    agosto de 2000 em Braslia, com o objetivo de impulsionar a modernizao da

    infraestrutura regional com uma viso estratgica: a partir de eixos de integrao e

    processos setoriais.

  • Inicialmente a IIRSA definiu 10 eixos de integrao da infraestrutura fsica.

    Porm, em 2009, como resultado da discusso poltica e estratgica da UNASUL,

    estabeleceu-se o Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento

    (COSIPLAN) que acordou 8 eixos prioritrios, com 31 projetos estruturantes, divididos

    em 88 projetos individuais (COSIPLAN, 2012).

    Os eixos de integrao fsica prioritrios so:

    1- Amaznia;

    2- Andino;

    3- Capricrnio (Chile - Argentina - Paraguai - Brasil);

    4- Escudo das Guianas;

    5- Hidrovia Paraguai-Paran (Bacia do Rio da Prata);

    6- Interocenico Central (Peru - Chile- Bolvia - Paraguai - Brasil);

    7- Mercosul-Chile;

    8- Peru - Brasil - Bolvia.

    Trata-se de conseguir especialmente a intercomunicao entre os Oceanos

    Atlntico e Pacfico de forma que seja possvel o trnsito contnuo de leste a oeste, e

    Amrica Central. Na prtica estes eixos esto conformados por redes de autopistas e

    outras rodovias, especialmente vias que articulam centros de produo e portos. Assim

    como acontece com parte dos canais fluviais do megaprojeto de Integrao Fluvial Sul-

    americana (SERRANO, 2003), do qual fica por agora excludo o eixo Norte-Sul, que

    inclui grandes canais de comunicao entre a bacia amaznica e a bacia do rio da

    Prata.

    IIRSA inclui, alm de vias de comunicao e portos, projetos de redes de

    interconexo eltrica, gasodutos e oleodutos conectados s barragens hidreltricas e

    as jazidas exploradas ou a explorar.

    O principal problema da IIRSA a nula participao das comunidades e dos

    povos no planejamento estratgico, na definio dos eixos, no conhecimento de seu

  • impacto ambiental e social e na planificao setorial. A IIRSA uma obra de governos,

    empresrios e instituies de desenvolvimento, equivalendo-se ao PPP quanto ao

    desconhecimento de vontades, prioridades e interesses das comunidades atingidas.

    As perspectivas so ambiciosas e de longo prazo. O eixo Amazonas pretende

    comunicar o Atlntico, desde Belm do Par, com o Pacfico utilizando o rio Amazonas

    e seus afluentes, e rodovias pelo sul da Colmbia e Equador. Os impactos so

    desconhecidos no s para a maioria das comunidades locais como tambm para os

    prprios projetistas do eixo.

    As populaes da regio deveriam conhecer a fundo como elas poderiam ser

    atingidas pela hidrovia Paran-Paraguai, que por agora se limita bacia da Prata, mas

    que no incio da IIRSA pretendia, como megaprojeto de Integrao Fluvial Sul-

    americana, articular esta bacia com a do Amazonas pelos rios Paraguai, Guapor,

    Mamor e Madeira utilizando canais fluviais e secos.

    Alm disso, a IIRSA foi concebida como plano de infraestrutura que articula

    numerosos projetos de mineiros, hidroenergticos, de monoculturas e

    agrocombustveis, que embora no sejam mencionados explicitamente, direcionam o

    megaprojeto.

    preciso adicionar uma longa lista de megaprojetos nacionais que se articulam

    ao corpo principal do PPP e da IIRSA. Por exemplo, na Argentina a represa sobre o rio

    Santa Cruz; no Brasil as represas de Belo Monte no Xingu e de Santo Antnio e Jirau

    no Madeira, e a mudana do curso do rio So Francisco; no Equador a represa Coda-

    Coco-Sinclair; na Colmbia a represa do Quimbo no Huila e a mina a cu aberto de La

    Colosa no Tolima; no Peru a minerao de Conga; conformam uma corrente de

    projetos mineiros e energticos que terminam sendo parte da Rede Interconectada Sul-

    Norte Amrica que com o PPP e a IIRSA um verdadeiro Plano Puebla-Patagnia. O

    SIEPAC considerado desde o comeo como uma iniciativa estratgica associada ao

    processo de integrao eltrica de Amrica Central com Mxico e a Comunidade

    Andina CAN, e a interconexo eltrica Colmbia-Panam est direcionada ao objetivo

    de levar eletricidade da Sul Amrica Norte Amrica.

  • No Panam est em construo a ampliao do Canal (o megaprojeto do sculo

    XIX), que se soma como parte essencial para conseguir os objetivos do PPP, como

    tambm o Poliduto Transguajiro que integra Venezuela Colmbia - Panam.

    Grandes projetos agroindustriais, principalmente para produzir lcool a partir da

    cana de acar ou agro-diesel da soja ou ainda da palmeira dend; e projetos

    agroflorestais se desenvolvem e se promovem aproveitando o PPP e a IIRSA, como

    acontece com o megaprojeto Gaviotas 2 em Orinoquia na Colmbia, o qual necessita

    concentrar a propriedade da terra, para oferec-la a negociantes transnacionais.

    Um exerccio importante para cada comunidade identificar os megaprojetos

    que atingem sua regio e se informar ampla e profundamente sobre eles. A populao

    deveria ser consultada e participar diretamente das decises sobre sua vida. At que

    isso seja conseguido, ainda estaremos num sistema colonizador que submete as

    populaes, como se no existissem, e depois ainda as utiliza como mo de obra ou

    como mercado em suas empresas coloniais.

    A origem da empresa colonial

    De maneira geral, no existe a conscincia do papel do acar antes das

    extensas plantaes nas Antilhas e no Brasil. Era um produto de luxo, classificado

    como uma especiaria e prprio para negociar com grande lucro no comrcio

    internacional. Homens de negcios da ndia, Prsia e finalmente os rabes encontraram

    no acar a motivao para promover empresas de produo agrcola em grande

    escala. Para conseguir seus objetivos precisaram de terra e trabalhadores.

    O que se desenvolveu foi a monocultura do acar sobre a base da apropriao

    de territrios em climas propcios e de escravos mediante redes de trfico. Os trtaros

    do Mar Negro at o Bltico, e os vikings no Volga foram fornecedores de escravos aos

    rabes. Eram as empresas coloniais que antecederam o colonialismo portugus e

    espanhol, discpulos dos rabes.

  • As empresas coloniais eram parte essencial da economia. Elas eram

    direcionadas por empresrios conhecidos pelo nome indiano de karimi (ABUAFIA,

    1987), que compartilhavam o cenrio com elementos to comuns hoje, como os

    cheques, nominados de sakk pelos persas. Assim, nos califados rabes floresciam as

    sociedades empresariais como a mudaraba, e as parcerias entre investidores e

    gestores, como o quirad.

    Portugal foi o principal continuador do negcio do acar: Madeira, Cabo Verde,

    So Tome e finalmente Brasil. O negcio se multiplicava, porque o trfico de escravos,

    por si s, tornou-se uma empresa internacional, e a acumulao de terras uma fonte de

    riqueza e de poder local.

    Mas Castela tinha sua empresa colonial, iniciada muito antes, quando o reino

    adotou o territrio de produo de l que estava na mo dos rabes. A primeira colnia

    de Castela foi a Espanha, posta disposio da cria de ovelhas mediante a Mesta,

    instituio presente desde o sculo XIV, que permitia aos camponeses locomover seus

    rebanhos pelo pas, de acordo com a estao do ano, o que subordinava

    completamente os lavradores. A Mesta foi uma tpica operao colonial de espoliao.

    A maioria dos camponeses migrava de cidade (VITALE, 1992).

    Mais tarde, a Espanha continuou a empresa colonial com as Canrias, um

    laboratrio do que seria a Conquista das Amricas. Contratos com empresrios

    franceses; extermnio ou escravizao de homens nativos, os guanches; mestiagem

    forada com mulheres nativas, (LA SALLE, 1995) plantaes operadas com escravos

    guanches e africanos, apropriao geral das terras, poder poltico dos novos donos da

    terra etc. O novo para os espanhis na Amrica foi a busca de metais: o ouro e a prata.

    Os turcos que haviam conquistado boa parte dos antigos califados e depois, em

    1453, tomaram Constantinopla, fecharam com Veneza e Gnova seus privilgios

    comercias com o Oriente, obrigando a Portugal e Castela a desenvolver rotas

    alternativas para este comrcio.

    Cristvo Colombo era um expoente bem preparado da empresa colonial, filho

    de um fabricante de panos de l. Casou com Felipa de Perestrello, filha do capito de

  • Madeira, o empresrio conquistador da ilha. Navegou com as empresas comerciais de

    seu sogro a Guin e tambm a Islndia. Conhecedor do estudo de Toscanelli de ir

    China pelo oeste e dos Mapas de De Virga e Fra Mauro, fez sua proposta de empresa

    ao rei de Portugal, o qual no estava interessado no momento, pois j tinha planejada

    outra rota para China, cujo primeiro tramo estava sendo controlado. Colombo foi

    patrocinado ento pelos empresrios castelhanos. (VENZKE, 2005, p. 68-69)

    Assim, os objetivos da empresa colonial europeia na Amrica, frica e sia

    eram:

    - Minerao do ouro e da prata;

    - Territrio para plantaes de cana de acar;

    - Apropriao de terras agrcolas;

    - Trfico de escravos;

    - Aproveitamento da mo de obra escrava ou diferentes modos de explorao:

    como as encomiendas, e a mita;

    - Controle geral do comrcio e os mercados;

    - Poder poltico.

    A conquista de Amrica, com a abertura da rota do Atlntico, completou a

    globalizao em sua primeira verso, e abriu o passo ao desenvolvimento capitalista na

    Europa.

    A empresa colonial configurou o primeiro elemento do modelo de

    desenvolvimento posterior, que o economista Harol Innis descreveu, para o caso de

    Canad, como uma economia determinada pela explorao da periferia, e a

    exportao de mercadorias valiosas tais como ouro, peles, peixes, madeira, trigo,

    metais e hidrocarbonetos. J as redes de comrcio e comunicao constroem a

    influncia social, o poder poltico do centro e a estrutura cultural (INNIS, 1995).

    Na Gr Bretanha, e depois em outros pases europeus e no Japo, aconteceu o

    que poderamos chamar de colonialismo interno na forma do que se conhece como

  • acumulao primitiva, em que grandes massas de homens foram espoliados repentina

    e violentamente de seus meios de subsistncia e lanados ao mercado de trabalho

    como proletrios deserdados. A expropriao foi a base do processo que privou, a

    sangue e fogo, o produtor rural e o campons de suas terras (MARX, 1974).

    Nas colnias, o regime capitalista tropea por todo lado com o obstculo do

    produtor que, encontrando-se na posse de seu trabalho, prefere enriquecer-se ele

    mesmo com seu trabalho em vez de enriquecer o capitalista. O capital no se detm e

    tudo quer: o territrio, como meio de produo e poder, as riquezas naturais, os planos

    de desenvolvimento e a gente, os seres humanos convertidos em mo de obra,

    barateada depois de expropri-la de sua comunidade, de sua territorialidade, de seus

    meios de produo. (MARX, 1974, c.XXV)

    O tesouro capturado fora da Europa, diretamente pela pilhagem, escravizao,

    assassinato seguido de roubo, refluiu para a me ptria e transformou-se a em capital.

    (MARX 1974, t.I, cap. XXIV, n. 6). Ao expropriar as comunidades indgenas,

    quilombolas e camponesas e os pequenos produtores de suas terras e meios de

    trabalho, o saque colonial oferece aos capitalistas terra, matrias-primas e

    trabalhadores a preos mnimos. O capital, da cabea aos ps, vem ao mundo

    escorrendo sangue e sujeira por todos os poros. (MARX 1974, t.I, cap. XXIV, n. 6)

    Hoje, esta empresa colonial ainda vive, e consegue se impor em diferentes

    territrios, com projetos e megaprojetos de investimento, monoculturas, minerao,

    exploraes petroleiras, mercantilizao da terra, concentrao de sua propriedade e

    expulso da populao nativa. Controla o crdito, o fornecimento de insumos e a

    comercializao. Subordina ou elimina as formas alternativas de produo, fazendo

    delas intercambio e/ou fonte de consumo, alm de transformar a populao em

    mercadoria, a fora de trabalho. Este o desenvolvimento das regies e dos pases.

    O pensamento do capitalismo colonizador

  • H uma filosofia deste desenvolvimento. Assim como quem fala uma lngua no

    tem conscincia de sua gramtica e nem precisa conhec-la, mas sua gramtica se

    pode estudar e formular; a empresa colonial pode no ser consciente de sua filosofia,

    mas se pode encontrar, estudar e entender. Se a lgica a gramtica da razo, a

    filosofia a gramtica da vida e das relaes sociais.

    Tal filosofia pode-se equivaler ao que Hegel escreveu uma vez: a histria

    universal vai de leste a oeste. A Europa absolutamente o fim da histria universal

    (HEGEL, 1970, p. 126). o caminho do poder colonial, cujo fim foi e o capitalismo,

    porm Hegel contradiz este caminho quando escreve que contra o povo portador do

    atual grau de desenvolvimento do Esprito mundial, o esprito de outros povos no tem

    direito nenhum. (HEGEL, 1821, 347)

    Um sculo depois, Heidegger diria que a essncia e o ser do ente so uma

    questo histrica, so a exigncia de um povo pela dureza e a clareza de sua vontade

    de destino [manifesto]. Ento a superioridade espiritual e a liberdade se pem em

    prtica, opondo seu ser e seu querer histricos sensatos, corrupo e a decadncia

    da essncia. A tica definida pelo ser no mundo, pela deciso radical de fazer

    realidade o [mega]projeto de ser. Nessas condies

    (...) pode parecer que no h inimigo. A exigncia radical encontrar o inimigo

    e coloc-lo em evidencia o talvez cri-lo [como fez Samuel Huntington em 1996

    e 2004], para enfrentar ao inimigo com o objetivo da exterminao total

    (HEIDEGGER, 2014).

    Como tentou fazer Hitler.

    Ainda em 1966, Heidegger considerava que o nacional-socialismo foi bem na

    direo de uma relao satisfatria do homem e essncia da tcnica (NESKE;

    KEETTERING, 1988). Para ele isso era chave, pois achava que preciso uma

  • humanidade que seja profundamente conforme a essncia fundamental singular da

    tcnica dos Tempos Modernos (HEIDEGGER, 1961, p. 165-166).

    Heidegger considerava que o homem est colocado, requerido e provocado por

    um poder, que se manifesta na essncia da tcnica. Para ele o problema no est no

    capitalismo, nem no colonialismo, seno na tcnica, e na sua essncia onde pode

    aparecer o caminho de salvao:

    Esta experincia na qual o homem est situado por algo que no ele mesmo,

    e que no domina, lhe mostra a possibilidade de compreender que o homem

    procurado pelo ser. (..) o mundo no o que e como pelo homem, mas,

    tambm no pode ser sem o homem. (...) no mais prprio da tcnica moderna

    se oculta justamente a possibilidade de experimentar o ser necessitado e, o

    estar disposto para estas novas possibilidades. (HEIDEGGER, 1976, p. 10-12)

    Assim, Heidegger percebia a inquebrantvel expanso da tecnologia no mundo

    contemporneo como um processo ambguo. Alienante, pois submete o ser humano e a

    natureza a ser parte da engrenagem tcnica, e direciona o pensamento para o mero

    clculo produtivo. Porm, tambm salvador, quando se consegue ouvir sua essncia,

    pois esta indica a mutua pertinncia de homem e ser, e prepara o acontecimento que

    une o homem com o ser (HEIDEGGER, 2000; 2014); acontecimento que marca uma

    virada e necessrio para mais um comeo, com a chegada do ltimo deus, o que

    pode vir (u no vir) e nos pode salvar (HEIDEGGER, 1976). Acontecimento que

    possvel, na medida em que a tecnologia a manifestao da potncia natural de um

    povo. Assim, a natureza convertida e se manifesta como espao de um povo, como

    paisagem e ptria, como fundo e solo (HEIDEGGER, 2014, p. 200).

    Na Geografia tambm encontramos este pensamento. Friedrich Ratzel, a partir

    de uma concepo biologista estudou a distribuio geogrfica dos homens e a

    aplicao ampla da geografia histria a partir do conceito de espao vital. Assim

    definiu que a existncia do estado somente pode ser garantida quando se dispes de

  • um espao vital, o qual permite a satisfao das necessidades essenciais do ser

    humano. (RATZEL, 1891-1892). Rudolf Kjellen projetou as teorias de Ratzel aos

    domnios da cincia poltica, aplicando-as poltica mundial e contribuindo com a

    cincia da Geopoltica (PINOCHET, 1984). Em Karl Haushofer tambm encontram-se

    os conceitos ratzelianos, uma vez que acredita que a base da poltica interior e exterior

    do estado, para o corpo nacional, o espao vital, sendo assim a misso do estado

    obter, manter, defender e ampliar o espao vital. (HAUSHOFER, 1928; 1932/1934)

    O atual responsvel pelo uso dos conceitos geopolticos um ex-secretrio do

    estado, que os utiliza com flexibilidade para descrever o rol dos Estados Unidos na

    poltica mundial (CASTRO, P. 2006, p.189). Por exemplo Henry Kissinger, diplomata

    estadunidense em meados da dcada de 1970, que afirmou que a geopoltica a

    comprovao de que os mapas tambm se mexem (CASTRO, J. 1998, p.133).

    Tambm Zbigniew Brzezinski, Conselheiro de Segurana Nacional dos Estados Unidos

    durante a presidncia de Jimmy Carter, entre 1977 e 1981, centrou na geopoltica suas

    anlises sobe os imperativos da supremacia de Estados Unidos, a primeira potncia

    realmente global. (BRZEZINSKI, 1997, p. 19-33)

    Para Fukuyama (1995), a era atual da supremacia estadunidense o fim da

    histria. O triunfo do capitalismo no mundo globalizado como um sistema que, alm

    de alcanar cada vez mais a satisfao das necessidades humanas pela economia de

    mercado, se sustenta dinamicamente por uma democracia liberal representativa, com

    liberdades polticas e um conjunto de direitos estabelecidos juridicamente. Um sistema

    que tende paz duradoura e poder finalmente garanti-la.

    No entanto, para outros, o que se desenvolve na globalizao atual uma

    geoeconomia e uma geopoltica que impem sociedade os interesses do capital

    transnacional para, assim, aplicar a doutrina neoliberal. Esta, por sua vez, cria uma

    fantasia de necessidade matemtica ou tecnolgica para uma reforma econmica. A

    instaurao deste regime intermediada por cada pas a sua maneira e se sustenta

    pelo imenso poder econmico e poltico do mundo empresarial e dos Estados Unidos.

    queles que no aceitam este regime proscrito e bloqueado (GOWAN, 1999).

    Estamos ante uma concepo que leva ao que Ignacio Ramonet denomina de

  • pensamento nico, que : a traduo em termos ideolgicos da pretenso universal

    dos interesses de um conjunto de foras econmicas, em especial as do capital

    internacional (RAMONET, 1995).

    Construindo um pensamento distinto, Lvinas partiu da crtica ontologia de

    Heidegger e explicou o nexo entre ontologia, economia, poltica, guerra e histria.

    Confrontou-se com a realidade vigente, que coloca em primeiro lugar a poltica e o

    interesse econmico, e por esse caminho chega guerra. Ento conclui que s se pode

    conquistar a paz quando deriva da guerra e pelo mesmo conduz sempre at a ela.

    Lvinas no aceitou a ontologia da totalidade, alis, enfatizou no relacionamento com o

    que est alm da totalidade, com o Outro. Achou que a responsabilidade (tica) se

    origina no trato com o Outro. E na interao entre os dois sujeitos, o encontro origina a

    um terceiro, possibilidade da justia. (LVINAS, 2011, p.188)

    Para Lvinas, o apetite de ser pode nos perder e nos levar ao mal elementar. O

    apetite por ser interessado, abre o eu ao mundo, mas fecha a existncia e o ser ao

    Outro. A totalidade da ordem econmica envolve um conjunto em que os homens

    portadores de dinheiro e compradores - se integram eles mesmos na mercadoria, e

    assim se sufocam, perdem suas almas por possuir e pertencer. O interessadamente,

    necessariamente se torna acumulao, dio, rivalidade e competio, at a violncia

    sangrenta da guerra. (LVINAS, 2003)

    Assim como os conquistadores ao se proclamar como descobridores da

    Amrica, negavam a humanidade dos aborgenes, hoje os projetos de desenvolvimento

    negam a humanidade de que quem no participa nas decises. Antes se dizia que o

    importante no era ter, seno ser; na verdade os capitalistas no querem somente ter,

    seno que querem ser, e tm e so. Os que decidem so e por isso tm, e os que tm,

    decidem. Os que no podem decidir somente conformam o mundo dos entes dos donos

    da deciso.

    Heidegger em 1949 constatava que centenas de milhares morrem em massa

    nas fbricas de cadveres, mas, se perguntava: morrem? e respondia no morrem

    seno, perecem, so abatidos, porque segundo a sua sentencia a morte pertence

    somente ao Ser-ai, do homem que sobrevive a partir da essncia do ser, o homem

  • pode morrer se somente o prprio ser apropria a essncia do homem na essncia do

    ser a partir da verdade de sua essncia. As vtimas da engrenagem segundo o ser

    colonialista nem tm morto, somente so descartveis descartados, por no ser.

    Como o desenvolvimento capitalista no reconhece o ser dos Outros, os outros

    esto alienados, tratados como inimigos, despojados de sua humanidade como

    indivduos, e como coletivos, como comunidades rurais, como bairros, como classe

    trabalhadora, negados at na morte, desaparecidos.

    Ideias de libertao

    Dussel, na Filosofia da Libertao se baseia na abordagem de Lvinas ao Outro,

    que projeta no seu conceito de analtica, ou do que seja fora da dialtica da totalidade:

    por fora da totalidade da ordem econmico poltico e social. (DUSSEL, 1979, p. 198-

    204) Do escutar silencioso surge comunidade. Reconhecer o Outro como outro,

    distinto, significa aceitar que outras cosmogonias so possveis, outra lgica, outros

    interesses, que sim existem alternativas. (DUSSEL, 1979, p. 104)

    Dussel explica que o relacionamento com o Outro nasce da experincia mais

    cotidiana: primeiramente todo ser humano nasce do tero de uma mulher, e o primeiro

    que come a leite da me. Esta a primeira economia no poltica seno economia

    pedaggica, mamamos algum. O mundo surgiu desde Outra, me transmitiu o saber

    de um povo, todo isso um fantstico processo pedaggico desde Outro, no desde

    mim. (DUSSEL, 1979, p. 87-88)

    Mas a empresa colonial precisa refazer o mundo a sua media, funcional a seu

    projeto, e encontra a os povos aborgenes que alm de querer continuar sendo livres,

    acham que a terra no s um objeto a transformar, seno a cuidar, que no se trata

    de explorar a natureza seno de trat-la como uma madre generosa (BENJAMIN,

    1938). Para os povos originrios h uma analogia entre a madre e a terra Pacha Mama

    (GRLIT, 1978), e a comunidade: elas alimentam-nos e nos transmitem a sabedoria.

    Reconhecem a Terra como Outra, que interpela, e no aceitam a ontologia do ser

  • colonizador. Alis, para a empresa colonial a terra, a natureza deve se submeter ao

    domino do ser conquistador. A dominao da natureza se levanta como bandeira

    imperialista (BENJAMIN, 1928, p. 69). Assim como o territrio deve ficar submetido a o

    ser conquistador, os aborgenes tambm.

    O pior ato a conquista de outros homens, outras pessoas; "fazer de outro

    homem uma coisa ao meu servio. O conquistador o pior de todos os homens. O

    Outro histrico so nativos americanos, aborgenes australianos, africanos e afro-

    asiticos; era o Vietn; hoje Amrica Latina, so os palestinos; o trabalhador, o

    campons. A outra a mulher oprimida; a comunidade na qual vo explorar uma

    mina a cu aberto ou petrleo, ou fazer uma barragem. A Outra tambm a natureza, a

    terra. Os Outros so as vtimas, e preciso dar voz as vtimas.

    A dialtica permite Dussel ver a contradio e suas possibilidades, por exemplo,

    a contradio entre o capitalista e o trabalhador, mas o trabalhador no apenas um

    trabalhador, um ser humano. O capital somente se interessa nele como trabalhador

    assalariado alienado, que produz mais-valia na relao de trabalho. Dussel, em

    seguida, leva a viso de Marx sobre a alienao dos humanos explorados no

    capitalismo e necessidade de uma prxis libertadora, para construir alternativas. E se

    a produo no se baseara na explorao do trabalho humano, o trabalho perderia seu

    carter explorador da natureza e se orientaria melhora da natureza (BENJAMIN,

    1938).

    Mas, antes do capitalismo foi o colonialismo, o av da acumulao primitiva, que

    ainda opera na espoliao da acumulao colonial, submetendo ou exterminando aos

    Outros. E agora, com as crises cclicas do capitalismo, o equilbrio somente se

    restabelece periodicamente pela imobilizao ou mesmo aniquilamento do capital

    competidor (MARC, 1974-2006), dos outros capitalistas, dos outros pases; destruio

    de capital que tambm tem sido e feita fisicamente, mediante a guerra

    (MONDRAGN, 2009), uma acumulao mediante destruio dos Outros, no somente

    mediante sua espoliao e sua explorao, s a guerra permite mobilizar todos os

    recursos tcnicos da poca presente, sem em nada mudar o regime da propriedade

  • (BENJAMIN, 1936, p. 27-28). Assim, o capitalismo transnacional como o colonialismo

    rejeita o direito e toda justia. A justia e a vida esto agora alm do "desenvolvimento".

    Reconhecimento dos direitos coletivos

    Para superar o colonialismo preciso que os povos e as comunidades no

    sejam mais tratados como objeto que se pode eliminar, deslocar ou utilizar de acordo

    com os interesses dos poderes econmico e poltico, assim como, no devem seguir

    sendo atingidas pela destruio do ambiente, de suas economias, culturas e

    sociedades.

    Toda comunidade tem o direito de decidir seu futuro. Isso implica participar das

    decises legislativas e de planejamento que vo atingi-las diretamente. As

    comunidades rurais devem ser prvia e devidamente consultadas, para obter seu

    consentimento livre e informado sobre quaisquer planos que as afete, para que possam

    rejeitar aqueles que danificam sua integridade ou a do meio ambiente, e para que

    possam se beneficiar daquilo que concordem em realizar.

    No caso dos povos indgenas, houve a conquista da Conveno 169 da

    Organizao Internacional do Trabalho, na qual coloca que

    (...) devero ter o direito de escolher suas prprias prioridades no que diz

    respeito ao processo de desenvolvimento, na medida em que ele afete as suas

    vidas, crenas, instituies e bem-estar espiritual, bem como as terras que

    ocupam ou utilizam de alguma forma, e de controlar, na medida do possvel, o

    seu prprio desenvolvimento econmico, social e cultural. Alm disso, esses

    povos devero participar da formulao, aplicao e avaliao dos planos e

    programas de desenvolvimento nacional e regional suscetveis de afet-los

    diretamente. (Artigo 7, numeral 1).

  • Segundo essa Conveno 169, os governos devero:

    (...) consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e,

    particularmente, atravs de suas instituies representativas, cada vez que

    sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetveis de afet-los

    diretamente (Artigo 6, numeral 1, literal a)

    As consultas realizadas na aplicao desta Conveno devero ser efetuadas

    com boa f e de maneira apropriada s circunstncias, com o objetivo de se

    chegar a um acordo e conseguir o consentimento acerca das medidas

    propostas. (Artigo 6, nmero 2).

    Adiciona a Conveno 169 da OIT que:

    (...) em caso de pertencer ao Estado a propriedade dos minrios ou dos recursos do subsolo, ou de ter direitos sobre outros recursos existentes nas

    terras, os governos devero estabelecer ou manter procedimentos com vistas a

    consultar os povos interessados, a fim de se determinar se os interesses

    desses povos seriam prejudicados, e em que medida, antes de se empreender

    ou autorizar qualquer programa de prospeco ou explorao dos recursos

    existentes nas suas terras. Os povos interessados devero participar sempre

    que for possvel dos benefcios que essas atividades produzam, e receber

    indenizao equitativa por qualquer dano que possam sofrer como resultado

    dessas atividades (Artigo 15, numeral 2)

    A Declarao das Naes Unidas sobre os direitos dos povos indgenas,

    aprovada no dia 13 de setembro de 2007 diz:

    Artigo 32

  • 1- Os povos indgenas tm direito a determinar e elaborar as prioridades e

    estratgias para o desenvolvimento ou a utilizao de suas terras ou territrios e outros

    recursos;

    2- Os Estados realizaro consultas e cooperaro de boa-f com os povos

    indgenas interessados para a conduo de suas prprias instituies representativas, a

    fim de obter seu consentimento livre e informado antes de aprovar qualquer projeto que

    afete as suas terras ou territrios e outros recursos, particularmente em relao com o

    desenvolvimento, a utilizao ou a exportao de recursos minerais, hdricos ou de

    outro tipo;

    3- Os Estados estabelecero mecanismos eficazes para a reparao justa e

    equitativa por estas atividades, e adotar medidas adequadas para mitigar suas

    consequncias nocivas de ordem ambiental, econmica, social, cultural e espiritual.

    muito importante sublinear a necessidade do consentimento livre e informado

    dos povos locais antes de aprovar qualquer projeto que afete suas terras ou territrios e

    outros recursos.

    Tem ratificado a Conveno 169 da OIT, Argentina, Bolvia, Brasil, Colmbia,

    Costa Rica, Chile, Dinamarca, Dominica, Equador, Espanha, Fiji, Guatemala, Honduras,

    Mxico, Nepal, Noruega, Pases Baixos, Panam, Peru e Venezuela. Os Estados

    Unidos tm se negado at agora a fazer parte deste convnio, assim como o Canad, o

    que procura deixar as mos livres as suas transnacionais. Tanto Estados Unidos como

    Canad votaram contra a Declarao das Naes Unidas sobre os Direitos dos Povos

    Indgenas, aprovada com o voto de 146 pases. Alis, Bolvia j aprovou esta

    declarao como lei interna.

    O reconhecimento do direito dos povos indgenas de participarem das decises

    em sua terra, como definirem suas prioridades de desenvolvimento, serem consultados

    previamente sobre mudanas legislativas ou sobre projetos que necessitem de seu

    consentimento livre, tem sido de grande importncia, a luta agora que se efetivem tais

  • vitrias. Em alguns pases tm sido reconhecidos tambm que as comunidades

    quilombolas ou afrodescendentes so beneficiarias destas normas.

    Porm, at agora os organismos internacionais e nacionais tinham se negado a

    reconhecer os direitos dos camponeses ou agricultores familiares. A Conveno 141 da

    OIT se referiu especialmente ao direito de organizao no campo, mas nas Amricas

    somente foi ratificado por Belize, Brasil, Costa Rica, Cuba, Equador, Mxico, Nicargua,

    Uruguai e Venezuela.

    Normas em contramo dos direitos camponeses so aprovadas, para garantir os

    privilgios dos investidores, do agronegcio, das petroleiras e mineradoras. As leis

    tentam estabelecer a primazia dos usos da terra para extrair hidrocarbonetos ou

    minerais, atingindo seriamente a produo de alimentos, sobretudo da agricultura

    familiar. como se o lema fora a terra de quem a perfura.

    Se tira a terra dos camponeses para o desenvolvimentode indstrias,

    mineraes ou grandes projetos de infraestrutura, centros tursticos, zonas

    econmicas especiais, shoppings, plantaes ou culturas comerciais () como

    resultado a terra se concentra cada vez mais em umas poucas mos. (La Via Campesina)

    Porm, em agosto de 2008, o Comit Consultivo do Conselho de Direitos

    Humanos da ONU reconheceu o papel positivo dos camponeses e pequenos

    agricultores - homens e mulheres, dentro do sistema mundial alimentar - e comeou a

    examinar a natureza da situao alimentar, o rol e os direitos dos camponeses e os

    diferentes tipos de discriminao.

    Durante a Quarta Seo do Comit Consultivo do Conselho de Direitos Humanos

    da ONU em Genebra, entre o 25 e o 29 de janeiro de 2010, adotou-se o informe do

    Comit Consultivo titulado Discriminao no contexto do Direito Alimentao

    (A/HRC/AC/4/2). Este informe descreve a marginalizao que sofrem camponeses e

  • camponesas, mulheres rurais e comunidades de pescadores, extrativistas e caadores

    tradicionais. Tambm adotou plenamente a Declarao dos Direitos das Camponesas e

    Camponeses que foi emitida pela Via Campesina, e a incluiu dentro dos anexos do

    informe. Esta Declarao aprovada por unanimidade pelo Comit Consultivo estabelece

    que:

    As camponesas e camponeses tem o direito de participar ativamenteno planejamento de polticas, na tomada de decises, na aplicao e o controle de

    qualquer projeto, programa ou poltica que afete seus territrios. (PNUD. 2012

    Artigo II, numeral 4)

    No dia 27 de junho de 2014, a Assemblia do Conselho de Direitos Humanos

    votou a favor da resoluo que autoriza a continuao do processo de redao da

    Declarao Internacional sobre os direitos dos camponeses, camponesas e outras

    pessoas que trabalham na zona rural.

    Na verdade, no se trata somente dos direitos camponeses e das comunidades

    rurais, seno de seu papel na alimentao de todas as pessoas do mundo. Os

    principais fornecedores de alimento no Terceiro Mundo so as mulheres e os pequenos

    agricultores que trabalham com a biodiversidade (SHIVA, 2000).

    As economias camponesas e indgenas e as diferentes formas de agricultura

    familiar contribuem decisivamente para alimentar a milhares de milhes de pessoas do

    mundo, agora que os agronegcios e, especialmente as monoculturas, so dominadas

    pelas gigantescas empresas biotecnolgicas e agroqumicas, como Monsanto,

    Syngenta, Dow e Dupont, e que o comrcio mundial controlado por poucas

    corporaes que arrunam e subordinam os produtores locais, e quando se apoderam

    dos mercados podem subir e controlar os preos causando desabastecimento e fome

    (SHIVA, 2005).

  • A rica diversidade e os sistemas sustentveis de produo alimentar esto

    sendo destrudos em nome da crescente produo de alimentos. Porm, com a

    destruio da diversidade desaparecem ricas fontes de nutrio. (SHIVA ,2001)

    Se queremos criar segurana alimentar para todos, desde os lares at a

    comunidade e da regio, s naes e em escala global, o princpio sobre o

    que se deve basear o comrcio e a distribuio deve ser a localizao e no a

    globalizao. (SHIVA, 2005)

    Todos os povos tm o direito coletivo Soberania Alimentar que

    (...) o direito dos povos a definir suas prprias polticas e estratgias

    sustentveis de produo, distribuio e consumo de alimentos que garantam o

    direito alimentao para toda a populao, com base na pequena e mediana

    produo, respeitando suas prprias culturas e a diversidade dos modos

    camponeses, pesqueiros e indgenas de produo agropecuria, de

    comercializao e de gesto dos espaos rurais, nos que a mulher

    desempenha um papel fundamental. (Declaracin del Foro Mundial sobre

    Soberana Alimentaria, La Habana, cuba, 2001)

    Ataque aos direitos coletivos

    Samuel Huntington, professor de Cincias Polticas da Universidade de Harvard,

    props como explicao do conflito entre as transnacionais e as sociedades

    colonizadas, a peculiar viso do choque de civilizaes (HUNTINGTON, 1997), de

    grande incidncia nos acontecimentos recentes. Segundo ele, a questo radica do

    choque da cristandade ocidental, e particularmente da exitosa civilizao anglo-

  • saxnica, com outras civilizaes, especialmente a islmica, cujas concepes

    arcaicas, considera perigosas para o progresso que significa o mundo anglo-saxo.

    Em sua anlise no h, portanto, uma crtica s violaes dos direitos dos povos

    colonizados por parte das transnacionais e dos estados poderosos: h uma civilizao

    de progresso e sucesso que enfrenta a mais arcaica. Trata-se da justificao ideolgica

    do colonialismo do sculo XXI, que no estranha em nosso contexto, onde a defesa

    da chamada civilizao ocidental crist tem tido recorrentes entre os advogados.

    Huntington aprofunda-se nessa linha ideolgica, apresentando abertamente a

    cultura anglo-saxnica como superior, e a identifica com o individualismo, na mesma

    medida em que a v ameaada pelas culturas que enfatizam os direitos coletivos. O

    indgena, como bero desses direitos, seria, segundo Huntington, o fundamento do

    atraso na Amrica Latina. (HUNTINGTON, 2004). J Bonfil, pelo contrrio, descobre na

    identidade indgena da maioria dos mestios latino americanos a fora dos cmbios que

    permitiu resolver sua problemtica (BONFIL, 1987).

    A luta contra os latino-americanos no somente algo acadmico, nem conversa

    de um professor. Se expressa no muro construdo por leis, na divisa entre Estados

    Unidos e Mxico, por exemplo. O Tratado de Livre Comrcio de Norte Amrica

    (TLACAN) se complementou com um muro que consagra a total discriminao contra

    os trabalhadores latino-americanos atingidos pela runa e o desemprego que os

    tratados de livre comrcio causam.

    Do outro lado do muro, os megaprojetos destruram e continuam destruindo os

    direitos coletivos, a territorialidade das comunidades e o meio ambiente. Esse o

    choque de civilizaes de Huntington: as transnacionais despojando.

    Os TLC contra os Direitos Coletivos

    Dentro do nome Tratado de Livre Comrcio TLC, indica-se que tem a ver

    fundamentalmente com assuntos comerciais, como as importaes. Porm, os aspetos

  • comerciais dos TLC so s uma parte de seu contedo e efeito. Verdadeiramente

    qualquer TLC afeta tambm os mais importantes aspetos da economia, da poltica e

    dos direitos coletivos, incluindo a soberania alimentar e o direito terra.

    As chamadas garantias para os investidores incluem:

    - A extraterritorialidade nas solues de litgios judiciais, que se entrega a

    rbitros privados, que julgam segundo os costumes do comrcio internacional, e no

    segundo as leis e as constituies nacionais;

    - A chamada segurana jurdica, que contra todos os princpios democrticos

    impede que, para as transnacionais, seus contratos e atividades se apliquem a

    mudanas na legislao, de modo que, se os povos conseguem mudar os governos, os

    investidores transnacionais continuaro desfrutando dos privilgios que receberam dos

    governos que controlavam;

    - A privatizao dos servios pblicos, estradas e portos e sua entrega a

    monoplios transnacionais sob a figura da livre competncia;

    - A entrega dos contratos pblicos s transnacionais com o pretexto da

    transparncia na contratao;

    - Um regime de propriedade intelectual que encarece os medicamentos e permite

    se apropriar da vida, da biodiversidade e da produo agropecuria, mediante as

    patentes de seres vivos e sementes, e a difuso dos transgnicos;

    - O desconhecimento absoluto do direito da soberania alimentar com a imposio

    da importao dos alimentos;

    - A considerao da terra como uma mercadoria que se pode facilmente

    comprar, vender ou arrendar;

    - A subordinao da legislao ambiental s necessidades dos investidores.

    Em resumo, os TLC mudam o regime jurdico, derrotando ou subordinando as

    normas que reconhecem e defende os direitos humanos coletivos, econmicos, sociais

    e culturais para impor os direitos dos investidores.

  • Os TLC, ento, tm como um de seus efeitos criar condies jurdicas para impor

    os megaprojetos e as monoculturas, sem se importarem se esto lesionando a

    integridade e os direitos fundamentais dos povos e das comunidades.

    As transnacionais, com os TLC, ao mesmo tempo em que procuram vender os

    produtos de Estados Unidos e Europa na Amrica Latina, tentam usar a mo de obra

    barata, querem levar os recursos naturais da regio, comeando com o petrleo e a

    eletricidade, requeridos para solucionar a atual crise energtica. Estes objetivos

    implicam a construo de uma gigantesca infraestrutura.

    No Mxico, como condio para avanar no Tratado de Livre Comrcio da

    Amrica do Norte foi revogada a norma da constituio que determinava a

    inalienabilidade das terras comunais indgenas e camponesas.

    A terra, a mesma que tinham assegurado no ser j importante, agora

    capturada e concentrada, seja mediante desapropriaes para exploraes mineral ou

    petroleira ou para barragens hidreltricas, ou ainda por leiles por dividas, em que os

    agricultores desesperados e desanimados com a concorrncia dos produtos

    estadunidenses e europeus subsidiados, necessitam vende-la, ou porque so

    deslocados mediante a violncia. Assim se v quo importante atualmente a terra e a

    luta por control-la.

    A especulao da terra se generaliza no mundo. A compra e venda de terras se

    estendeu a Filipinas, Indonsia, Laos, Camboja, Marrocos, Sudo, Uganda, Etipia,

    Imen, Argentina e Brasil, entre outros pases (ROBLEDO, 2009).

    muito bom que o mundo invista em produzir alimentos, mas muito mal que se

    especule com a terra, a gua, os seres humanos e sua alimentao.

    Segundo o relator especial das Naes Unidas para o Direito Alimentao,

    Olivier De Schutter, a compra de terras em pases pobres pode ser perigosa para a

    segurana alimentar, pois aumenta a dependncia das populaes locais aos volteis e

    inseguros mercados internacionais e prope que as compras e investimentos em

    agronegcios se submetam a legislao internacional sobre direitos humanos

    alimentao e terra, e aos direitos dos povos indgenas e dos trabalhadores.

  • Crescem as vozes que exigem desenvolver um cdigo de conduta para proteger

    o direito das populaes autctones a terra, garantindo a transparncia das operaes,

    o reparto dos benefcios, assegurando a sustentabilidade ambiental e a segurana

    alimentar (LEAHY, 2009)

    Bibliografia

    ABUAFIA, David. Asia, Africa and the Trade of Medieval Europe. The Cambridge Economic History of Europe II. 1987. p. 402-473 (The Karimi Merchants: 437-442). BENJAMIN, Walter. Rua de mo nica. Obras Escolhidas v.2. So Paulo. Ed. Brasiliense, 5 edio. 1928. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na poca de suas tcnicas de reproduo. So Paulo. Ed. Abril Cultural. 1936. BENJAMIN, Walter. Paris, die Hauptstadt des XIX. Jahrhunderts. Gesammelte Schriften 1: 47. Frankfurt/Main, ed. Suhrkamp Verlag. 1938, p. 64. BONFIL, Guillermo. El Mxico profundo, una civilizacin negada. Mxico. Ed. Grijalbo. 1987. BRZEZINSKI, Zbigniew. El Gran Tablero Mundial. Barcelona. Ed. Paids Ibrica. 1997. CASTRO, Jorge. La tercera revolucin. Buenos Aires. Ed. Catlogos. 1998. CASTRO, Pedro. Geografa y Geopoltica. Tratado de Geografa Humana. Barcelona. Anthropos Editorial UAM Izapalapa. 2006, p 187-201. CHENEY, Dick et.al. National Energy Policy. 2001. Disponvel em http://www.whitehouse.gov/energy/ CHIAPAS, Coordinadora Regional de los Altos de. Maquiladoras: Su marcha explotadora hacia el sur. Plan Puebla Panam: batalla por el futuro de Mesoamrica. 2002, p 19-20. COSIPLAN. 8 eixos da Integrao da Infraestrutura a Amrica do Sul. Federao das Industrias do Estado de So Paulo. 2012. DUSSEL, Enrique. Filosofia da Libertao na Amrica Latina. 2 Ed. Trad. Luiz Joo Gaio. So Paulo. Ed. Loyola/Unimed. 1977. DUSSEL, Enrique. Introduccin a la Filosofa de la Liberacin. Bogot. Ed. Nueva Amrica. 1979. DUSSEL, Enrique. tica de la Liberacin en la edad de la exclusin y la globalizacin. Trotta Editorial. 1998.

  • FAYE, Emmanuel. Heidegger: La introduccin del Nazismo en la Filosofa. Madrid. Ed. Akal. 2005. FAYE, Emmanuel. Ser, histria, tcnica de extermnio na obra de Heidegger in Conferncia do dia 13 de abril de 2011, ao receber o doutorado honoris causa. Academia Brasileira de Filosofia. 2011. Disponvel em http://www.filosofia.org.br/nazistaemmanuel.html FIGUEROA, Diego Camilo. Colombia y el Plan Puebla Panam. Comisin Intereclesial de Justicia y Paz. CIEPAC. 2007, p. 3 e 19-27. FUKUYAMA, Francis. O fim da histria e o ltimo homem. Rio de Janeiro. Ed. Rocco. 1995. GODINEZ, Mario Antonio. Plan Puebla Panam. Su estrategia y sus impactos socio ambientales. 2002. Disponvel em http://www.ecoportal.net/content/view/full/21290 GRLIT, Ana Mara Mariscotti de. Pachamama Santa Tierra; Indiana Beihefte 8. Ibero-Amerikanische Institute. Berlim. Ed. Gerbrder Mann Verlag. 1978, p. 35. GOWAN, Peter. La apuesta por la globalizacin. Madrid. Ed. Akal.1999. GRAIN. De un vistazo y muchas aristas. Acaparamiento de tierras: el despojo planificado de los territorios. Biodiversidad 81. 2014. Disponvel em http://www.grain.org HAUSHOFER, Karl. Bausteine zur Geopolitik. Berlim. Ed. Kurt Vowinckel.1928. HAUSHOFER, Karl. Macht und Erde. Leipzig. Ed. Teubner. 1932/1934. HEGEL, Georg W. Friedrich. Principios de la Filosofa del Derecho. Buenos Aires. Ed. Sudamericana. 1821. HEGEL, Georg W. Friedrich. Filosofa de la Historia Universal. Madrid. Ed. Zeus. 1970. HEIDEGGER, Martin. Gesamtausgabe (Schwarze Hefte 1931-1938). Frankfurt. Ed. Vittorio Klostermann, 2014. HEIDEGGER, Martin. Carta sobre el Humanismo. Madrid. Alianza editorial. 2000. HEIDEGGER, Martin. Bremer und Freiburger Vortrge. Frankfurt. Ed.Vittorio Klostermann. 2005. HEIDEGGER, Martin. Nitzsche II. Pfllingen. Ed. Gnther Neske. 1961. HEIDEGGER, Martin. Slo un Dios puede salvarnos. Revista de Occidente. Madrid. 3 poca, 14. 1976, p 4-15. HUNTINGTON, Samuel. O choque das civilizaes e a recomposio da nova ordem mundial. Rio de Janeiro. Ed. Objetiva. 1997. HUNTINGTON, Samuel. Quines somos? Los desafos de la identidad estadounidense. Madrid. Ed. Paids. 2004.

  • INNIS, Harold A. Staples, Markets, and Cultural Change: Selected Essays. Montreal e Kingston. McGill-Queens University Press. Ed. Daniel Drache. 1995. KISSINGER, Henry et.al. National Security Study Memorandum 200: Implications of Worldwide Population Growth for U.S. Security and Overseas Interests. Washington. NSSM 200, U.S. National Security Council, 1974. Disponvel em http://www.population-security.org/28-APP2.html KLARE, Michael. Resource Wars: The New Landscape of Global Conflict. New York. First Owl Book Edition, 2002, p. 11. LA SALLE, Gadifer de; CIORANESCU, Alexandre; SERRA, Elas R. Le Canarien: Crnicas francesas de la conquista de Canarias. Santa Cruz de Tenerife. Ediciones Idea. 4 edicin, 1965, p. 46-80. LA VA CAMPESINA. Declaracin de los Derechos de las Campesinas y Campesinos. La Via Campesina. 2002. Disponvel em: http://viacampesina.net/downloads/PDF/SP-3.pdf LEAHY, Stephen. Extranjeros a la caza de propiedades agrarias. Terramrica. 2009. Disponvel em: http://tierramerica.info/sendnota.php?lang=esp&idnews=3274 LVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. Lisboa. Edies 70. 3 Ed., 2011. LVINAS, Emmanuel. Autrement qu'tre ou Au-del de l'essence. Paris. LGF, Le Livre de poche, coll. Biblio-essais , 1990. LVINAS, Emmanuel. Socialit et argent; Tijdschrift voor Filosofie 58. 2013, p. 415-421. LPEZ CASTELLANOS, Nayat. Del Plan Puebla-Panam al Proyecto Mesoamrica: un espejo de la globalizacin neoliberal. Mxico. Plaza y Valds, 2009. MARX, Karl. Manuscritos econmico-filosficos de 1844: 124. Buenos Aires. Ed. Colihue, 2006. MARX, Karl. O Capital: crtica da economia poltica. Rio de Janeiro. Ed. Civilizao Brasileira, v. 3, cap. XIV, XXIV, XXV e XL, 1974. MONDRAGN, Hctor. Los ciclos econmicos en el capitalismo. Bogot. Ed. Aurora. 2009, p 25. NESKE, Gnther und E. Keettering. Spiegel-Sprche; Antwort, Martin Heidegger im Gesprch. Pfllingen. Ed. Gnther Neske. 1988. PINOCHET U., Augusto. Geopltica. Editorial Andrs Bello. 1984, p. 66-67. PNUD. La Declaracin de los Derechos de los Campesinos. Hechos de Paz. 2012. Artigo II, n 64, p 37-40. Disponvel em: http://www.pnud.org.co/hechosdepaz/64/la_declaracion_de_naciones_unidas.pdf

  • QUINTANA, Vctor. La tierra es de quien la perfora; La Jornada. 20 de junio de 2014. Disponvel em: http://www.jornada.unam.mx/2014/06/20/opinion/019a1pol RAMONET, Ignacio. La pense unique; Le Monde. Janeiro, 1995. RATZEL, Friedrich. Anthropogeographie. J. Engelhorn. 1891/1892 ROBLEDO, Jorge. No a tierras a firmas extranjeras!. Argenpress, 26 de junio de 2009. Disponvel em: http://www.argenpress.info/2009/06/colombia-no-tierras-los-extranjeros.html SCHUTTER, Oliver de. 2009. Las adquisiciones y arrendamientos de tierra a gran escala. Relator Especial sobre el derecho a la alimentacin, ONU. SERRANO, Hernando Gmez. Amrica del Sur: la gran mercanca geopoltica de la regin amaznica. 2003. Disponvel em http://www.sogeocol.com.co/documentos/12geop.pdf SHIVA, Vandana. La globalizacin del hambre: una guerra contra la naturaleza y contra los pobres; La Jornada. Mxico. Massiosare ,10 de septiembre de 2000. SHIVA, Vandana. Globalizacin y Pobreza; LEISA 17 (2). 2001. Disponvel em: http://www.agriculturesnetwork.org/magazines/latin-america/2-globalizarse-o-localizarse/globalizacion-y-pobreza SHIVA, Vandana. Las Granjas de la Esperanza. Inter Press Service IPS. 2005. Disponvel em: http://www.biodiversidadla.org/Principal/Secciones/Documentos/Opciones_para_el_Desarrollo_Local_Sostenible/Las_granjas_de_la_esperanza_por_Vandana_Shiva VENZKE, Andreas. Cristbal Coln. Editorial EDAF. 2005, p. 27-70. VITALE, Luis. Espaa y Portugal antes de la conquista de Amrica; Historia Social Comparada de los pueblos de Amrica Latina. Comercial Atel. 1992. t.I, parte 2, cap.1, p. 109-110. Disponvel em: http://www.archivochile.com/Ideas_Autores/vitalel/7lvc/07histuni0003.pdf VON BRAUN, Joachim; MEINZEN-DICK, Ruth. Land Grabbing by Foreign Investors in Developing Countries: Risks and Opportunities. In IFPRI. Policy Brief n13. Abril, 2009. Disponvel em: http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/bp013all.pdf WARPEHOSKI, Charles. Introduccin al Plan Puebla Panam. Plan Puebla Panam, batalla por el futuro de Mesoamrica. 2002, vol. 8, p 5-11.


Top Related