EMA Educação e Meio Ambiente
Compilação de Resenhas
Turma de 2019 – 1º semestre
Faculdade de Educação
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Esta é uma compilação das resenhas feitas pelos participantes da disciplina Educação e Meio Ambiente no primeiro semestre de 2019, no intuito de compartilhar materiais relacionados à temática.
Educação e Meio Ambiente – Prof. José Artur Barroso Fernandes
Niterói, 2019
Sumário
Aprendendo sobre os animais em situação de ameaça nos biomas brasileiros: um jogo educativo para o ensino fundamental
Resenha de Agatha Santos Carreiro
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Projeto Xerimbabo Usiminas
Resenha de Breno Lopes e Silva 6
Cartilha e Coletânea de Vídeos Comunidade Mais Segura
Resenha de Camila Henrici Dias Dobal 9
Pedagogia das Encruzilhadas
Resenha de Cecília Werneck Rocha 13
A necessidade da Educação Ambiental nas escolas
Resenha de Franciane Carvalho de Mello 18
Projeto Uçá
Resenha de Gisele Paula Araújo Corrêa 21
Educar para prevenir: proteção e defesa civil nas escolas por um currículo escolar vivo
Resenha de Isabela Coutinho de Castro Moraes
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Educação ambiental centrada na perspectiva pedagógica
Resenha de Isadora Inajá 28
Reflexão e estudo do meio: entendendo melhor o que está ao nosso redor
Resenha de Jéssica Cristina de Sousa Teixeira 31
O projeto REMOMA
Resenha de Karoline Melo Manso 35
Projeto busca desestimular o uso de canudinhos de plástico
Resenha de Leonardo David Pimenta Braz Lima 39
O processo da educação ambiental executada para o licenciamento ambiental
Resenha de Mareana Boening Gouvêa 41
Dependence of Hydropower Energy Generation on Forests in The Amazon Basin at Local and Regional Scales
Resenha de Mateus de Novaes Maia
45
Educação Ambiental e Água
Resenha de Matheus Antonio 48
A educação ambiental na formação das escolas do campo
Resenha de Sergio Diniz 51
Práticas em Educação Ambiental (EA) dentro da modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) – um texto reflexivo
Texto de Vitória de Souza Ecar
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APRENDENDO SOBRE OS ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE AMEAÇA NOS BIOMAS BRASILEIROS: UM JOGO EDUCATIVO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL.
Resenha de Agatha Santos Carreiro
O presente artigo traz a fundamentação bibliográfica da utilização de tecnologia
da informação nas salas de aula a partir de um jogo da memória fundamentado na
problemática sobre animais em situação de ameaça na natureza dos biomas no Brasil,
sendo esse jogo voltado para crianças do ensino fundamental (idades entre 7 a 10
anos), e sua utilidade para auxiliar professores como estratégia de ensino para
agregação de conhecimento paralelo aos demais materiais didáticos.
Partindo da publicação, sua primeira abordagem falará da introdução, nas salas
de aula, da tecnologia de informação e como ela pode ser utilizada como ferramenta
de apoio para as escolas e, principalmente, professores em suas áreas de atuação.
Seguindo para: a possibilidade de reverter a associação do computador à
somente uma forma de entretenimento para, o computador como instrumento de
ensino. Pereira fala da facilidade de aprendizado daqueles no ensino fundamental e
de já estarem familiarizados com as tecnologias (celulares e aparelhos eletrônicos)
para estimulá-los a ler, escrever e os benefícios educacionais que esses instrumentos
podem proporcionar. No caso, como jogos educativos se apresentam como estratégia
de ensino.
Quanto ao jogo, cujo nome é Salve os Animais, ele é gratuíto e está disponível
online podendo ser acessado diretamente pelo link https://especiesalva.netlify.com/
ou pelo site do GEODEN em www.geoden.uff.br. Ele conversa com disciplinas como
a geografia (figura 1) e a biologia (figura 2), mas o jogo pode ser utilizado como o tema
Meio Ambiente.
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Figura 1 - Mapa dos Biomas.
Fonte: Site do jogo da memória, 2019.
Figura 2 - Descrição dos animais.
Fonte: Site do jogo da memória, 2019.
O jogo da memória traz o tema de extinção dos animais e a importância de se
preservar e protegê-los bem como os biomas nos quais eles vivem. Apresenta,
também, a dimensão e diversidade do Brasil além do motivo de desaparecimento dos
animais.
A característica da Educação Ambiental (EA) marcante no artigo é de uma
concepção conservadora, perceptível no decorrer do texto em parágrafos contidos de
frases como: “a importância de se preservar e protegê-los (os animais) assim como
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os ambientes nos quais eles vivem (os biomas)” e “fazer com que cresça dentro da
nova geração a vontade de proteger a natureza, preservar o nosso meio ambiente e
os animais”. Ademais, o jogo traz uma dinâmica descritiva num sentido biológico dos
biomas e dos animais, além da expressão “Você é um amigo dos animais” e a frase
“saiba um pouco mais sobre os animais que acabou de salvar” caso tenha sucesso
ao final do jogo da memória.
De acordo com Silva e Campina (2011) o ideário romântico, vínculos afetivos,
e a valorização e proteção do ambiente natural são características marcantes da
categoria Educação Ambiental Conservadora, claramente perceptíveis tanto no jogo
quanto no artigo.
Entretanto, a ideia da prática pedagógica é de uma concepção crítica porque
há a proposta de atividade interdisciplinar relacionando temas da geografia, biologia
e meio ambiente, incluindo a interdisciplinaridade na produção do conhecimento
presente na dimensão de análise da ciência e tecnologia, segundo citado no quadro
1 de Silva e Campina (2011).
É possível incluir aspectos críticos quanto a EA adaptando os textos que
aparecem ao final do jogo dando ênfase na participação coletiva, por exemplo, para a
problemática sobre animais em situação de ameaça nos biomas no Brasil. Pois,
concordando com Silva e Campina (2011), o ambiente escolar proporciona construir
uma sociedade mais justa e que saibam exercer papel ativo na busca de melhores
condições socioambientais e a concepção conservadora não supre essa construção
de sociedade mas sim a concepção crítica, considerando, principalmente, um público
alvo de idade entre 7 e 10 anos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SILVA, R. L. F. DA; CAMPINA, N. N. Concepções de educação ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições de uma tipologia. Pesquisa em Educação Ambiental, v. 6, n. 1, p. 29-46, 2011. PEREIRA, E. S.; DI MAIO, A. C.; CALAZANS, J. Aprendendo sobre os animais em situação de ameaça nos Biomas Brasileiros: um jogo educativo para o ensino fundamental. In: II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA E INTERDISCIPLINARIDADE ESCOLAR, 4., 2018. Uberlândia. Anais... Uberlândia: UFU, 2018, p.139-151.
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Projeto Xerimbabo Usiminas
Resenha de Breno Lopes e Silva
Pra quem já ouviu falar ou teve a oportunidade de visitar a cidade de Ipatinga no leste
de Minas Gerais (numa região conhecida como Vale do Aço) provavelmente sabe que grande
parte da cidade gira em torno da Usiminas (Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais) que produz e
comercializa produtos a base de aço para diversas áreas da economia. Deve vir como uma
surpresa então o fato de que essa mesma empresa voltada para bens de produção seja
responsável por um projeto voltado a, nas palavras da própria empresa, “proporcionar às
crianças e adolescentes novas experiências com a natureza.” Tendo visitado o local
pessoalmente em duas ocasiões, e sendo essas umas de minhas primeiras experiências com
educação ambiental pretendo aqui por em pauta o projeto Xerimbabo.
O projeto recebe gratuitamente famílias e muitas excursões escolares e conta com
diversas exposições e atividades que pautam diversas análises da fauna, flora e história da
região como também proporciona atividades mais tradicionais do contato com a natureza como
a de se plantar sementes e mudas, tudo isso com uma abordagem voltada para a educação de
jovens. As “atrações” mais famosas, no entanto são o zoológico, voltado principalmente para
animais típicos da região e a exibição temporária que varia de tempos em tempos. No data da
escrita deste texto essa exposição era “EU VI UM PASSARINHO!”.
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Já tive a oportunidade de visitar o projeto Xerimbabo duas vezes na vida e ambas em
excursões escolares. Por experiência própria é fácil afirmar que para muitas escolas e muitos
alunos de Ipatinga e dos municípios mais próximos (cidades do Vale do Aço e do Vale do Rio
Doce) o projeto é a principal, e em muitos casos a única, experiência de atividade de campo
voltada para a educação ambiental. Nos anos em que minha escola me proporcionou essa
atividade, no 5º e 8º ano (na época 4ª e 7ª série), as exposições principais eram voltadas para
aracnídeos como aranhas e escorpiões e para o solo, minerais e metais (com uma atenção
voltada também para como eles influenciam a vida humana no decorrer do tempo).
Mesmo com todas minhas memórias afetivas do lugar não posso deixar de tecer críticas
que, com a mentalidade que possuo hoje, sejam dignas de serem feitas ao projeto. Tendo em
vista o fato de que o projeto pertence e é bancado por uma empresa privada (privatizada durante
o governo de Fernando Henrique Cardoso) é fácil imaginar que as atividades e exposições
apresentadas durante a atividades possuam um viés mais individualista no que diz respeito à
consciência ambiental. Pedagogicamente falando as atividades podem ser classificadas na
concepção conservadora (como o zoológico e contato com áreas verdes) e na pragmática (como
as exposições temporárias e as “brincadeiras” apresentadas pelos guias no decorrer do passeio).
Como um todo, no entanto, contemplando o discurso utilizado e as intenções por trás
dele, afirmo que o projeto Xerimbabo poderia ser corretamente classificado na concepção
pragmática. Isso por que durante toda a excursão noções individualistas e liberais como a de
que basta a conscientização das pessoas (e das empresas, no caso a Usiminas) sobre os
problemas ambientais e suas atitudes separadas para combater estes problemas e se alcançar o
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dito desenvolvimento sustentável. A intenção do projeto é demonstrar a possibilidade do
processo industrial em massa poder existir sem grandes danos ambientais nivela as
possibilidades de se trabalhar com alunos ideias, práticas e valores de caráter mais
socioambiental e interdisciplinar, próprios da concepção crítica. A própria exposição que eu
tive oportunidade de visitar, voltada para o uso de metais pelos humanos pode ser vista como
uma defesa da própria empresa que possibilita essa chance de atividade de campo a tantas
escolas.
Para mais informações a respeito do Projeto Xerimbabo Usiminas visite:
https://www.usiminas.com/xerimbabo/
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Cartilha e Coletânea de Vídeos Comunidade Mais Segura
Resenha de Camila Henrici Dias Dobal
O material de educação ambiental escolhido foi a Cartilha e Coletânea de
Vídeos Comunidade Mais Segura, produzida pelo CPRM (Serviço Geológico do
Brasil) que é distribuída pela Defesa Civil em eventos para a comunidade (tomei
conhecimento deste material quando realizei o cadastro para o voluntariado em
situações de risco nos municípios de Niterói e São Gonçalo).
O material em questão foi produzido para ser utilizado como material educativo,
tendo como público alvo estudantes e moradores de comunidades e assentamentos
precários. Ele têm foco nas questões que dizem respeito a desastres naturais,
trazendo a partir de imagens e de breves descrições o que é classificado como
desastre, as causas, como identificar uma situação de risco, como prevenir, além de
trazer conceitos básicos de geomorfologia que são utilizados pelos órgãos estatais
em uma linguagem mais simplificada, sem os esvaziar.
Imagem 1: Identificação Visual do Material Audiovisual
É importante salientar que o material impresso (Cartilha) está em sua segunda
edição com publicação em 2012 e a coletânea de vídeos foi produzida e
disponibilizada em 2019, como uma adaptação audiovisual do conteúdo presente na
Cartilha.
Quanto as tendências de Educação Ambiental, baseadas na tipologia de Silva
e Campina (2011), na análise do material pude identificar que ele foi produzido dentro
de uma concepção pragmática, apesar de conter alguns momentos que seriam
identificados como típicas da concepção crítica.
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Seguido as dimensões apresentadas pelos autores anteriormente citados as
que são facilmente identificadas no material são a dimensão da relação ser humano
– ambiente, a participação política e por fim as práticas pedagógicas a serem
realizadas.
Na relação do ser com o ambiente, podemos encontrar trechos que
demonstram exatamente o discurso do desenvolvimento sustentável, na qual o ser é
capaz de usar sem destruir, a perspectiva da lei de ação e reação na qual a natureza
aparece como vingativa, que pode ser observado principalmente quando se são
apresentados os fatores que causam os escorregamentos e por fim na percepção que
é preciso proteger o ambiente para não sofrer com os riscos apresentados pelos
desastres naturais, como por exemplo a perda da propriedade.
Na perspectiva da participação política, pode-se identificar a perspectiva da
participação do estado, principalmente no que se refere a figura da Defesa Civil, que
em situações de risco orienta a população em geral, além de realizar vistorias nas
residências por exemplo. Também pode ser identificada a ideia da atuação individual
na redução dos riscos, sendo realizando ou não certas atividades.
Imagem 2: Trecho da Cartilha Comunidade Mais Segura encontrado na página 17
Por fim, nas práticas pedagógicas, que já foram parcialmente citadas no
parágrafo anterior, a partir da perspectiva da ação individual. É pressuposto em sua
maioria atividades de fundo técnico, como por exemplo a substituição de bananeiras
encontradas nos barrancos por arvores frutíferas e gramíneas, com uma breve
explicação no material audiovisual do motivo de realizar esta substituição, assim como
a suavização da inclinação dos taludes.
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Imagem 3: Trecho da Cartilha Comunidade Mais Segura encontrado na página 14
Apesar disto, considero um material importante, pois apesar de conter uma
concepção pragmática, provavelmente por ter sido desenvolvido para um órgão
público da esfera federal e não se atentar a especificidades de cada região, como o
regime de chuvas, temperaturas médias e características formadoras do relevo, ele
traz a dimensão do técnico utilizado amplamente pela Defesa Civil e pelo próprio
CPRM para população em geral, tendo o principal foco no auxílio da identificação de
situações de risco e na prevenção.
Um possível uso poderia ser em aulas com um viés mais voltado para educação
ambiental, de forma interdisciplinar, com a presença de professores de diversas
disciplinas escolares. O uso do material poderia partir de uma articulação das
características regionais (como: clima, vegetação e relevo) e da ocupação das
encostas (como e por qual motivo ocorreram). Também pode ocorrer um
questionamento das medidas de mitigação do impactos (se elas podem ser aplicadas
em todos os lugares que os alunos conhecem que sofrem com inundações, além da
questão do próprio saneamento básico) e por fim um questionamento sobre a
participação do estado, que neste material aparece somente quando o desastre já
ocorreu, não colaborando nas medidas mitigadoras.
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Referências Bibliográficas
DA SILVA, Rosana Louro Ferreira; CAMPINA, Nilva Nunes. Concepções de educação ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições de uma tipologia. Pesquisa em educação ambiental, v. 6, n. 1, p. 29-46, 2012.
DO BRASIL, CPRM-Serviço Geológico. Comunidade mais segura: mudando hábitos e reduzindo riscos de movimentos de massa e inundações. CPRM, 2012. Disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Difusao-do-Conhecimento/Canal-Escola---Difusao-do-Conhecimento-em-Geologia-Ambiental-e-Aplicada-5434.html Acesso em: 18 jun. 2019.
DO BRASIL, CPRM-Serviço Geológico. Comunidade mais segura: mudando
hábitos e reduzindo riscos de movimentos de massa e inundações. 2019.
(10min35s) Disponível em: <http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/>.
Acesso em: 18 jun. 2019.
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Pedagogia das Encruzilhadas, de Luiz Rufino
Resenha de Cecília Werneck Rocha
O texto pedagogia das encruzilhadas, do autor Luiz Rufino, tem como proposta
desenvolver uma crítica e propor outros caminhos no que tange às problemáticas do
racismo, colonialismo e da educação. Questionando esses projetos de dominação do
saber, poder e ser, que são marcos do nosso tempo, argumenta que é preciso
vislumbrar novas maneiras de sobreviver, de nos reconstruirmos e nos lançarmos ao
jogo. A aposta que faz é que esse caminho pode se apoiar em novos saberes, por
isso evoca a decolonialidade enquanto capacidade resiliente e transgressora de
superar o trauma, que recorre a discursos localizados calcados numa outra ética,
estética. Para tanto, o autor se utiliza do orixá Exu enquanto disponibilidade
conceitual, cujas potências assentes dizem respeito a mudanças, caminhos a
escolher, acontecimento, transgressão, e também ao ato criativo, dúvida como
elemento propulsor, experiência enquanto acontecimento e devir. Servirá de eixo
dinamizador para pensar uma educação poético-político para transgredir o fazer
pedagógico mirando outros referenciais.
Na cultura de terreiro,
Exu é dínamo do universo, linguista tradutor do sistema mundo, representa o
inacabamento, traz noções de estrutura e natureza dos seres e do universo, dos
princípios explicativos acerca da realidade e das múltiplas formas de interação. É
potência semiótica, ou seja, que traduz símbolos, significâncias. Enquanto signo de
condição da nossa existência, é ele que dimensiona essas reinvenções no vácuo
aberto pela a colonialidade, por isso o autor busca usá-lo para pensar uma pedagogia
alternativa. Não ignora o saber vigente, a ciência eurocêntrica, valoriza o cruzamento,
por isso reivindica Exu, que é o orixá que brinca e bagunça para gerar algo novo, daí
pedagogia das encruzilhadas. Por uma proposta transgressora, não subversiva, evoca
o signo em questão: não se trata de retornar, mas de reinventar, negar a qualquer
verdade para se manifestar enquanto possibilidade. Exu é o que quiser, diz a máxima
dos terreiros.
Pensar a educação enquanto produtora de respostas responsáveis e éticas nos
traz a questão de como fazê-la. Exu, enquanto codificador e substanciador, cruza as
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possibilidades, é construtor da essência que irá se assumir na presença do ser e na
responsabilidade do tom de sua existência. Então, todo conhecimento é saber
passível de ser estudado, ou seja, ensinado, uma vez que suscita transgressões e
mobilidade. Educação enquanto prática emancipatória deve incorporar instâncias de
inconformismos, rebeldia e transgressões. A educação serve para vários fins, a
encruzilhada aponta para vários caminhos, cada um com seu signo, suas fronteiras
são como zonas pluversais, onde múltiplos saberes se atravessam, coexistem e
pluralizam as experiências. As práticas de saber se desenvolvem a partir das relações,
daí a noção de cruzos.
Pensa os fluxos da diáspora africana como encruzilhada, quando diz que do
despedaçamento das vidas, do que se tinha enquanto ambivalente, se reinventam os
modos de viver afrodescendentes. É um movimento inacabado, em aberto. Forma-se
aqui, no novo mundo, o que chama de assentamento, uma base estruturante que
identifica e vigora essas reinvenções de modos de viver. A diáspora negra enquanto
assentamento é o calçamento de um chão comum onde se plantaram e plantam axés
que imantam e emanam as energias que conferem mobilidade, criatividade e
possibilidades para as invenções.
Os terreiros não só são os locais dos ritos mas todo o campo inventivo, material e
imaterial, dessa reinvenção que marcam os saberes práticos daí oriundos.
Invoca por fim às potências do corpo para destravar os nós do nosso esquema
cognitivo, pois o primeiro lugar que o colonialismo afeta são os corpos. A religião vem
mutilando os corpos, então hão que se fazer movimentos rebeldes para a libertação
dos pecados, da culpa, do inferno. Exu aproxima corpo e mente, discursos verbais e
não verbais, são complementares! Assim versa que todo saber tem seu suporte físico,
todo corpo tem em si potências encarnadas, daí a noção de incorporação, o saber e
seu suporte físico são inseparáveis. Traz também a noção de mandinga, que se traz
o saber em sua dimensão mágica, comprovada só na sua própria feitura. As
mandingas são os saberes que navegam no invisível, e vira e mexe baixam em nós!
A desordem de Exu aqui é trazer o corpo para o debate político, epistemológico,
educativo.
Saber, conhecimento, enquanto perspectiva de análise, abre para outras
maneiras de se pensar em como passá-lo, isto é, como educar a partir dele. O
exemplo trazido no texto não se pretendendo a ser único, melhor ou mais exato, mas
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traz a cultura africana, e mais especificamente Exu, enquanto lente para pensar
proposta pedagógica, enquanto base teórica para desenvolvimento de prática
educacional. Enfim, enquanto um saber. A mera validação da cultura enquanto saber
traz uma nova gama de maneiras de enxergar o mundo e ainda mais de como
vivenciá-lo. Enquanto prática pedagógica o desafio é maior, pois não se trata apenas
da enunciação de um discurso, mas de sua aplicabilidade enquanto método, de certa
forma.
A escolha do texto parte do percebê-lo tanto enquanto metalinguístico quanto
metafórico. O texto apresenta a via clara de trabalhar uma linhagem pedagógica
segundo uma visão alternativa do saber e a metalinguagem se faz no uso da própria
metodologia proposta e explicada para explicá-la a ela mesma. O autor propõe que
os saberes se somem, não assumam frente ou soberania, o valor está exatamente na
troca, na mistura, e é assim que constrói o texto. De primeira vista, o canal: acadêmico
científico. Um professor, formado em pedagogia na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ), se usa de uma linguagem por vezes rebuscada mas cruzada
frequentemente com expressões pouco usuais no contexto. Expõe certo
sentimentalismo, abrindo mão da premissa científica de impessoalidade e
neutralidade, o que, por mais que não esteja no texto, é um posicionamento tanto
comum quanto proposital entre os pesquisadores decoloniais. Daí a metalinguagem.
Usa de sua própria pedagogia alternativa, coloca em prática os cruzamentos que
explica no texto.
O viés metafórico que consigo enxergar é o conteúdo do texto em si. Qualquer
proposta pedagógica pode se adaptar e encaixar em qualquer temática a ser
lecionada, e ao meu ver a proposta apresentada dialoga diretamente com a educação
ambiental crítica. Mas crítica talvez num sentido novo, mais aplicável, menos
diagnóstico, acusatório. Quero dizer que muitas vezes em que a educação ambiental
foi crítica ela (a crítica) esteve fora de seu próprio conteúdo. O reclame por um viés
que olhe os problemas e questões ambientais, aquém e além do mero compreender
o meio, negando soluções simplistas e pessoais típicos das linhas conservadora e
pragmática, nos possibilitou enxergar o sistema responsável por aquilo que tentamos
alertar. A educação ambiental crítica expõe atores, circuitos, meios, ambições e
negligências que nos dizem respeito pessoalmente, mas vão além, mostrando que há
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muito problema cuja raiz e solução estão muito distantes do nosso alcance. O texto
ao meu ver entra nessa complementaridade: ele aproxima a solução. Ele cruza.
Exu, na minha leitura leiga de seu conteúdo, me parece quase que um espírito
da educação emancipatória crítica. Ao meu ver a educação é algo que precisa
acompanhar os desenrolares de uma sociedade, de sua história, sua geografia, assim
como se adaptar às demandas de novos alunos e seus tempos, e para tanto é preciso
que o educador consiga tanto transgredir quanto cruzar. Instaurador de dúvida,
desordem, potência, Exu me parece o próprio educador crítico. Nele se encontram o
transgredir para evoluir, como o faz constantemente o mundo, e cruzar para dialogar.
Esse movimento está no que traz o autor enquanto rolê epistemológico, que é o abrir
espaço, afastar-se, para calcular o golpe e destronar o outro, numa noção mais
somática e negociadora que aniquiladora: há que se jogar o jogo. Traduz-se por saber
ler a quem se ensina, ajustar o discurso e o que se ensina essencialmente, para
conseguir produzir algum efeito maior do que só a reprodução de uma verdade alheia
e externa, para incentivar e incitar um processo de aprendizagem mais próximo e
palpável. Está também no que o autor chama de ebó epistemológico: uma noção de
conhecimento praticado, trabalhado em formato semelhante por Boaventura, que diz
respeito a codificação de práticas tornando-as saberes, que o autor Ruffino coloca
enquanto positivação de caminhos. Se trata de entender que as práticas de culturas
tradicionais dizem respeito a saberes testados e repassados que, se assim o fora, é
porque são benéficas à comunidade. Trabalhando na ideia de encruzilhada, a
positivação de caminhos é a codificação de práticas, tecnologias, afim de torná-las
saberes, não se livrando de conflitos nesse processo, mas tornando-os potência. O
que se compreende aqui como efeito de abertura de caminhos, de positivação, está
diretamente vinculado à ordem do encantamento como acúmulo de energia vital, força
mobilizadora da pujança criativa e da vivacidade dos saberes.
Assim, o texto explora a possibilidade de usar outras matrizes culturais para
pensar práticas pedagógicas alternativas. As religiões de matriz africana sincretizadas
na diáspora, são marcadas pela forte relação que têm com a natureza, pois seus
deuses, orixás, se relacionam cada um com fenômenos naturais. Então enquanto
prática educativa o texto já apresenta uma perspectiva nova que já dialoga muito bem
com o que eu acredito que se proponha a educação ambiental de linha crítica. Mas
para mais do que isso, ao evocar orixás que remetem a natureza, ao se usar de uma
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cultura cuja relação com o meio natural é muito mais pungente, a proposta ganha mais
endosso. O viés crítico nesse âmbito educacional entra com uma contribuição
extremamente necessária para com a real raiz do problema, mas ao mesmo tempo
não é propositiva quanto ao que possa ser feito. A chamada de uma religião para o
debate, além de incitar o debate essencial a qualquer prática pedagógica, sobre a
colonialidade do saber, sobre a origem dos discursos, etc., ele resgata um olhar afetivo
para com o meio. Trazer os orixás para compreendermos a importância do meio
ambiente é não só falar do trovão, dos rios, das árvores, é também falar sobre o cuidar
deles, é falar sobre o se apropriar com sabedoria e respeito deles. Mostrar que existem
culturas que souberam desenvolver modos de vida em que a existência não mata mas
sim coabita com tudo que há de natural a sua volta, é essencial para saber fazer tanto
uma leitura crítica da relação sociedade/natureza, como também da relação entre
sociedades, problemas cuja raiz é a mesma.
RODRIGUES JR, L. R. Pedagogia das Encruzilhadas. Revista Periferia, v. 10, n. 1,
jan./jun. 2018 - Afrodiáspora e terreiros. Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/periferia/article/view/31504
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“A necessidade da Educação Ambiental nas escolas” Por Camila
Gabriela de Souza Xavier e Mônica Regina Duarte Peinado
Resenha de Franciane Carvalho de Mello
Caro Sr. Professor,
A Educação Ambiental é composta de ações educativas que contribuem para
a formação de cidadãos conscientes com relação à preservação do meio ambiente,
capazes de tomarem decisões sobre questões ambientais necessárias para o
desenvolvimento sustentável. E o objetivo deste tipo de educação, é oferecer a
compreensão dos conceitos relacionados com o meio ambiente, sustentabilidade,
preservação e conservação. Uma busca pela formação de cidadãos conscientes e
críticos, fortalecendo práticas cidadãs.
Eu como profissional da educação, acredito na educação ambiental como um
caminho de mudança de atitude, por isso a proposta de um projeto sobre impactos
ambientais com nossos alunos. Além disso, essa ideia se justifica, conforme o Art. 10
da Política Nacional de Educação Ambiental, que diz que a Educação Ambiental
deverá ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e
permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, por meio de visitas e
passeios a ambientes naturais e voltados para a preservação. De forma a trazer
familiaridade aos alunos e mostrar na prática a importância da preservação do meio
ambiente.
Seja ela articulada com as disciplinas obrigatórias do currículo escolar ou como
disciplina transversal de meio ambiente, a educação ambiental vem sendo cada vez
mais abordada no espaço escolar.
Acredito também que a educação voltada para a conscientização ambiental,
proporciona um tipo de processo de alfabetização ecológica. Ela pode ser abordada
de diferentes formas na sala de aula. Você como professor, deve utilizar metodologias
criativas para obter a atenção e participação de todos os alunos, promovendo a
conscientização ambiental. Aliado a isso, poderá trabalhar com a inter-relação entre o
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ser humano e o meio ambiente, desenvolvendo um espírito cooperativo e
comprometido.
O projeto envolverá atividades práticas, que devem ser desenvolvidas, de
forma que os alunos consigam conciliar teoria e prática. Um bom exemplo são as aulas
práticas em zoológicos, parques, praças e até no próprio pátio da escola, onde as
explicações, juntamente com o contato com os recursos naturais, são de extrema
importância no processo de conscientização ambiental.
Exemplo:
Aula Passeio de Educação Ambiental
Vale ressaltar que a educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999,
pela Lei Nº 9.795– Lei da Educação Ambiental, onde em seu Art. 2º afirma: "A
educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal”.
E é importante lembrar que o Brasil é o único país da América Latina que possui
uma política nacional específica para a Educação Ambiental.
No texto de Silva e Capina, elas objetivam apresentar e aplicar uma tipologia que
possibilita a identificação das concepções de educação ambiental presentes em
materiais e práticas escolares. E a partir daí, foram eleitas três categorias de
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concepção de educação: conservadora, pragmática e crítica. Nele também, elas
oferecem uma tabela de análise com cinco dimensões: Relações ser humano-
ambiente, Ciência e Tecnologia, Valores éticos, Participação política e Práticas
pedagógicas, para serem comparadas as três concepções. Não é muito fácil identificar
onde começa e onde termina uma dimensão, mas a tabela é muito interessante para
fazer a analise de educação ambiental. O texto nos traz a reflexão sobre o desafio que
temos sobre a contribuição para uma educação ambiental que resgate o papel da
escola, para ajudar na mudança social.
(Segue a tabela ao final do texto).
Sendo assim, como orientadora educacional, acredito que a inclusão da educação
ambiental na educação básica, não é uma opção, mas uma necessidade. O
desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental nas escolas é uma das melhores
formas de conscientização. E também é de extrema importância que estes projetos
sejam desenvolvidos de modo a envolver vocês professores e seus alunos com toda
a comunidade, pois quando são criados laços afetivos entre escola e comunidade, os
problemas ambientais que antes não eram responsabilidade de ninguém, passam a
ser de todos.
Dessa forma a Educação Ambiental vai adquirir papel estratégico na
educação, como protagonista no processo de transição para uma sociedade
sustentável.
Fontes:
- https://educacao.estadao.com.br/blogs/blog-dos-colegios-salesiano-santa-teresinha/
a-necessidade-da-educacao-ambiental-nas-escolas/
- https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/a-educacao-ambiental-na
-sala-aula.htm
- https://carollinasalle.jusbrasil.com.br/artigos/112172268/meio-ambiente-e-
educacaoambiental-nas-escolas-publicas
- https://zeadistancia.webnode.com/_files/200000215-78aae79a29/SILVA%20e%20C
AMPINA.pdf
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Análise - Projeto Uçá
Resenha de Gisele Paula Araújo Corrêa
Fonte: Portal Uçá
O projeto Uçá teve sua inspiração através da iniciativa da ONG Guardiões do
Mar, com o propósito de melhora na qualidade ambiental de municípios que interagem
com a Baía de Guanabara, por meio da divulgação informações que permitam o
conhecimento de espécies e seus ecossistemas, a fim de promover uma
sustentabilidade.
Para escolha do nome do projeto, foi levado em consideração a pesca do
caranguejo Uçá como uma das principais atividades de subsistência nos manguezais
de comunidades litorâneas.
O projeto iniciou suas atividades em 2012 quando obteve o patrocínio da
Petrobrás, através do Programa Petrobras Ambiental. Atua ainda com parceiros como
APA de Guapi-Mirim e ESEC Guanabara – ICMBio/RJ; ESEC Carijós – ICMBio/SC;
Secretaria de Estado de Educação – SEEDUC/RJ. Desempenha atividades em áreas
de Manguezais, Praias arenosas e Costões Rochosos.
Seu principal meio de divulgação de atividades é mediante ao seu portal virtual
apresentado suas agendas, publicações, materiais pedagógicos, ofertas de cursos,
notícias, suas ações de operação como na época do defeso do Uçá e afins.
O projeto apresenta uma relação interessante para a temática da Educação
Ambiental nas escolas, pois permite que as comunidade próximas a essas áreas
entorno da Baía de Guanabara tenham acesso às dinâmicas ambientais. Apontando
as questões que permitem a compreensão desses ecossistemas, importância da sua
biodiversidade e a conscientização das possíveis associações de impactos positivos
ou negativos devido ações antrópicas.
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O que permite elaborações de atividades para além da sala de aula, ao realizar
práticas de campos em ambientes de manguezais. Consolidando para o aluno as
temáticas da Educação Ambiental com um apelo mais afetivo, trazendo também
conteúdos que antes estavam inviabilizados. Além desse olhar para o real no campo
levar ao aluno uma melhor interpretação do ambientes. Sendo permeado pelas
estratégias de abordagem do professor independente das propostas do projeto em si.
E para uma reflexão do Projeto Uçá e sua natureza na educação ambiental, pode se
observar quanto a Tipologia de concepções de educação ambiental (SILVA, 2007),
um discurso que predomina a concepção Pragmática.
Tendo em vista que segundo as dimensões de análise o projeto segue uma
concepção pragmática ao apresentar na relação ser Humano-Ambiente a ideia que, o
ambiente necessita estar bem para servir o ser humano, quando trabalha com a
recuperação de áreas degradadas, reflorestamento e monitoramento de forma que,
as comunidades possam obter seus recursos e desenvolver suas atividades de
subsistências nessas áreas. Ele apresenta a lei de ação e reação da natureza, quando
as populações não preservam o meio ambiente sofrem penalidades como a escassez
de recursos. Então o projeto circunda sempre o tema da preservação essencial para
a sobrevivência.
O projeto segue na concepção pragmática na Dimensão de análise Ciência e
Tecnologia, pois aponta a ciência como principal ferramenta para uma melhor relação
da sociedade e o meio ambiente, sendo um dos seus principais eixos temáticos a
pesquisa científica, que norteia o projeto de forma significativa com incentivo para
produção de conhecimento científico, seja de espécies nativas ou da dinâmica
marinha das regiões. E ainda sua divulgação de notícias apresenta a ênfase dos
resultados que atividades ligadas ao saber científico produziu, como as Pesquisa com
invertebrados marinhos e seus avanços no conhecimento da biodiversidade e a
possibilidade de manejos.
Na Dimensão de análise Valores éticos continua na concepção pragmática,
tendo em vista que a solução das questões de Educação Ambiental é principalmente
através das ações individuais, da vontade de realizar para que as mudanças ocorram.
A exemplo a forma de atuação do projeto nas comunidades de pescadores e coletores
de Uçá, com objetivo central de disseminar as chamadas boas práticas ambientais,
logo entra em atuação educação ambiental apenas para promover a reflexão sobre o
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correto descarte de resíduos. A concepção pragmática também aparece na Dimensão
Participação Política, entendendo que o projeto apresenta sempre uma proposta de
atuação individual para promover melhorias ambientais nas áreas, bem como traz sua
patrocinadora uma empresa estatal. E ainda num olhar para Dimensão de análise de
Práticas pedagógicas a Reciclagem é sua principal proposta para a resolução dos
problemas ambientais das regiões, com atenção especial para o lixo marinho, assim
há nessa dimensão de análise também o predomínio da concepção Pragmática.
Percebo que apesar de o projeto a princípio aparentar trazer a concepção
crítica por principalmente atuar nas comunidades tradicionais das regiões a sua
proposta apresenta uma superioridade do saber científico em relação ao das
comunidades. Como também ausência de problematização das questões ambientais
como ação coletiva, a exemplo o descarte dos resíduos sólidos que impactam nesses
ambientes naturais. Silenciando temas mais profundos e necessários de atenção que
deveriam mobilizar ações conjuntas por todos os atores envolvidos na dinâmica sócio
ambiental entorno da Baía de Guanabara.
Referências
http://projetouca.org.br/o-projeto/
SILVA, Rosana Louro Ferreira; CAMPINA, Nilva Nunes. Concepções de educação
ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições de uma tipologia. Pesquisa
em Educação Ambiental, v. 6, n. 1, p. 29-46, 2011.
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“Educar para prevenir: proteção e defesa civil nas escolas por um currículo
escolar vivo” Autoras: Lucilene de Freitas Baeta e Natália Leite de Morais
Resenha de Isabela Coutinho de Castro Moraes
Resumo: O material escolhido trata-se de um artigo de viés didático, apresentando
um modelo de projeto de ações preventivas cuja proposta é integração entre as
comunidades situadas em localidades propícias a eventos naturais como
escorregamentos, enchentes, inundações, ou deslizamentos e a Defesa Civil, que se
utiliza da escola para realização deste diálogo. O artigo defende a conscientização da
população sobre a realidade do espaço em que esta habita e a necessidade de
realização de um planejamento na busca por melhorias para a estrutura de habitação
de sua comunidade. Para isto, as autoras nos apresentam o projeto que defende a
educação sobre prevenção de riscos e demonstram como esse trabalho pode ser
realizado em conjunto com órgãos públicos, como a Defesa Civil municipal.
Justificativa e sugestão de abordagem: apresentando uma linguagem simples (mas
não simplista), o texto apresenta-se como um material acessível a diversos públicos,
e traz contribuições para pensar possíveis caminhos a fim de uma articulação coletiva
em prol da otimização do uso e ocupação do meio de forma consciente,
compreendendo a dinâmica ambiental da região na qual nos estabelecemos e
buscando medidas de prevenção e mitigação de eventos naturais. Um material
necessário, considerando as concepções de educação ambiental debatidas no início
de nosso curso.
Por se tratar de um material didático, o artigo tem amplo nicho de possibilidades de
utilização, porém acredito que a apropriação deste por mediadores em espaços de
convivência como escolas, associações de moradores, centros de referência em
assistência social, ONG’s clubes ou instituições religiosas, seja a melhor forma de
multiplicar a proposta de conscientização apresentada pelo artigo. O mediador deve
ser capaz de dialogar com a comunidade e reconhecer a quais eventos naturais ela
está sujeita e quais as melhores medidas a serem tomadas para assegurar a
prevenção de riscos, tomando como modelo o caso analisado pelo artigo. O mediador
não deve ser, necessariamente, o “responsável” pela aplicação da proposta de
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projeto, mas aquele que facilitará sua compreensão ao público direcionado, por
conhecer suas demandas e pela facilidade de comunicação. É importante observar e
ressaltar que para a aplicação de um projeto como este se faz necessário estabelecer
um representante que busque o contato com os órgãos públicos responsáveis e
providos de corpo técnico qualificado para realização de uma análise ambiental
precisa.
Acerca da tipologia
A análise do artigo baseia-se nas categorias propostas por Silva e Campina
considerando que este não se limita a apresentar o projeto em questão, mas propõe,
também, uma reflexão sobre a necessidade da educação ambiental para minimizar
riscos de eventos naturais, além do debate sobre processos de urbanização e
ocupação do meio.
Relação ser humano-ambiente
É possível reconhecer características das concepções crítica e pragmática, tendo em
vista que trabalha com a complexidade da relação ao mesmo tempo em que ressalta
a necessidade de proteger o ambiente (ou nesse caso, os princípios de sua dinâmica)
para poder sobreviver. Estabeleço, porém, uma ressalva quanto à característica da
concepção conservadora de busca pela harmonia ser humano- natureza
Ciência e Tecnologia
Nessa dimensão de análise o texto apresenta novamente as concepções pragmática
e crítica, demonstrando como os conhecimentos científicos de geologia, hidrologia,
geografia e afins podem instrumentalizar a otimização da relação homem-ambiente
(visão utilitária), porém, nota-se que o conhecimento apresentado pelo artigo trata-se
de um conhecimento fundamentalmente baseado na prática.
Valores éticos
A relação direta entre informação e mudança de comportamento é a base do modelo
de educação ambiental proposto pelo artigo, o que o torna característico da concepção
pragmática.
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Participação Política
As autoras utilizam uma abordagem enfática quanto à participação coletiva e à
formação de cidadãos ativos diante das questões ambientais, características da
concepção crítica, assim como é foco do projeto a articulação entre instituições de
diferentes instâncias capazes de promover a melhoria das relações em questão nas
áreas de risco.
Práticas pedagógicas
Pelo viés de abordagem interdisciplinar do modelo proposto, por ter surgido a partir
da necessidade de debater a resolução de um problema ambiental e por pensar uma
ação de melhoria local/regional, pode-se caracterizar que o material atende aos
princípios da concepção crítica.
Análise Pessoal
O artigo escolhido, apesar de soar, de início, uma análise técnica, me despertou, e
gostaria que despertasse em mais pessoas, a visão de que comunidades em situação
de suscetibilidade a riscos ambientais podem encontrar seu próprio caminho na
superação dos problemas que as cercam, pois entendo este texto, este projeto, esta
análise, como algo muito necessário na educação ambiental nos dias atuais. Passar
de sujeito a agente, olhar para meio no qual estamos inseridos e procurar de onde
vem o problema, pois se ele se repete há 20 anos (como é comum acontecer em áreas
suscetíveis a enchentes, por exemplo), melhor que esperar a próxima chuva se
preparando para levantar os móveis ou acionar a defesa civil para lidar com os efeitos,
é conhecer a região que se habita, compreendendo sua dinâmica ambiental e como
nós, como seres sociais nos relacionamos com o meio. Acredito que essa visão, de
que devemos ser cidadãos ativos na prevenção de riscos ambientais deve ser levada
não somente às escolas, mas a toda sociedade, cabendo aos líderes comunitários e
instituições responsáveis desenvolver projetos como este na especificidade de sua
localidade e aplicá-los, por uma comunidade consciente e segura, que entenda a
educação ambiental como via de mudança social.
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Referências:
BAETA, L.; MORAIS, N. Educar para prevenir: proteção e defesa civil nas escolas
por um currículo escolar vivo. São Paulo: TERRÆ DIDATICA, 2014.
CAMPINA, N.; SILVA, R. Concepções de educação ambiental na mídia e em
práticas escolares: contribuições de uma tipologia. São Paulo: 2011.
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Educação ambiental centrada na perspectiva pedagógica
Resenha de Isadora Inajá
O presente texto tem por objetivo apresentar, como forma de divulgação àqueles que
possuem interesse em educação ambiental, o material de Maria Rita Avanzi sobre a denominada
Ecopedagogia. O material compõe-se num ensaio, inserido na publicação Identidades da
Educação Ambiental Brasileira, disponível digitalmente no site do Ministério do Meio
Ambiente. Demais ensaios que compõem essa iniciativa também são recomendados, cujo
endereço será explicitado ao final desse texto. Como se trata de uma publicação com
referenciais teóricos, sugere-se seu uso como componente complementar à formação de
educadores e/ou licenciandos que desejem ampliar suas acepções sobre o tema, ou ainda ter um
primeiro contato com conceituações do mesmo. Não obstante, é válido ressaltar que a presente
resenha se pretende também como análise do conteúdo contido no material de forma a refletir
sua abordagem.
Avanzi inicia seu texto com questões sobre a relação e a diferença das terminologias de
Educação Ambiental e Ecopedagogia, e chama a atenção para elementos específicos que
compõem a Ecopedagogia, que são, de alguma forma, motivos para sua crítica pelos adeptos
da Educação Ambiental. Exponho, desde já, que a escolha deste material não se afirma como
uma defesa desta ou daquela vertente, sobretudo em detrimento uma da outra. O critério de
escolha fora, tão somente, uma expansão acerca das diferentes análises que compõem a relação
entre educação e meio ambiente, o que acredito ser um dos fundamentos para a reflexão
formativa. Sobre os elementos específicos da Ecopedagogia, a autora chama a atenção para
alguns termos chave, como “cidadania planetária”, “cotidianidade”, “pedagogia da demanda”
etc, sinalizando que alguns desses termos se correspondem com a formação de novos valores
para uma sociedade sustentável.
A noção de sustentabilidade, bem como outras características básicas da vertente,
servem, como já enunciado, de estranhamento aos já familiarizados com uma educação
ambiental que se propõe a enxergar a relação entre meio ambiente e sociedade como dependente
de questões macro, como, por exemplo, relativas aos Estado, política e economia. Avanzi
esboça a educação, a sociedade e a natureza, a luz de autores referência, como responsabilidade
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global, sobre princípios de pensamento crítico, individual e coletivo. Invoca a solidariedade, o
respeito aos direitos humanos e ressalta a perspectiva “holística” da educação ambiental.
Contudo, salienta-se nesses princípios que essa educação deve-se valer de estratégias de
interação entre culturas, além de integrar conhecimentos, ações e ajudar a desenvolver o que
chama de consciência ética.
Define-se, no ensaio, Ecopedagogia como um jeito de pensar a prática a cada instante,
tendo como aporte teórico a perspectiva transformadora da educação, baseada num processo
dialógico de intervenção na realidade, a partir da emancipação do sujeito que compreende seu
papel e sua inserção na história. Essa percepção histórica assume consonância com o aspecto
estrutural da sociedade, considerando, então, seus fenômenos, bem como suas relações
econômicas e seus efeitos. Dessa forma, a Ecopedagogia defende a posição da sustentabilidade
enquanto crítica da hegemonia neoliberal, porque compreende a relação entre ambas como
incompatível.
Sobre a característica “holística” e “utópica” dessa vertente, baseia-se na recusa de uma
ciência mecanicista e no entendimento da natureza (iniciada por letra maiúscula no texto) como
exaltação de seu sentido orgânico, isto é, realçando o dinamismo, a auto organização, a
integração dos ecossistemas, e tem como fundamento, além de alguns aportes científicos,
saberes de povos indígenas. Apesar da valorização de aspectos espirituais, não faz menção
explícita a uma posição de conservação, identificando o que qualifica de consciência como uma
reflexão ecológica, aludindo à “condução do novo paradigma”, ao qual, entretanto, não se
estende em sua explanação.
Trata de uma concepção ambiental fundada em valores éticos, políticos e envolvida dos
contextos sociais, portanto crítica à perspectiva desenvolvimentista da sustentabilidade. Busca
aprofundamento do processo reflexivo da prática humana na natureza, se contrapondo ao
método de persuasão de uma educação ambiental ecologicamente doutrinada. Para tanto,
assume a educação ambiental como um pressuposto, e a partir disso oferece estratégias para sua
realização. Defende o desenvolvimento da Ecopedagogia como movimento social, o que
estimula experiências práticas, e também como abordagem curricular, que, alimentada por essas
experiências, reorienta os conteúdos, fazendo-os significativos para os alunos.
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Como se trata de uma perspectiva de educação ambiental voltada para o aspecto pedagógico, e
evidencia seu conteúdo advindo de uma educação questionadora da própria aprendizagem, ou
seja, compromissada com a ética e o diálogo, o material se enuncia criticamente em todos os
aspectos se analisado na tipologia proposta por SILVA e CAMPINA (2011), enfatizando as
dimensões transformadoras, as quais apresenta como sócio-política, marcada pela participação,
técnico-científica, que fundamenta o processo, pedagógica, ao qual o cotidiano é o que situa
sua prática, e espaço-temporal.
O material se encontra em formato .pdf no seguinte endereço:
http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_publicacao/20_publicacao13012009093816.pdf
#page=37
Se disponibiliza também por meio digital a tipologia usada para classificação do caráter do
material:
http://files.zeadistancia.webnode.com/200000242-
1544c163dd/Separata%20tabela%20SILVA%20e%20CAMPINA%202011.pdf
Referências bibliográficas:
AVANZI, Maria Rita. Ecopedagogia. In: LAYRARGUES, Philippe (Org.). Identidades da
Educação Ambiental. Brasília; Ministério do Meio Ambiente, 2004. p. 35-47.
SILVA, Rosana; CAMPINA, Nilva. Concepções de educação ambiental na mídia e em práticas
escolares: contribuições de uma tipologia v. 6, n. 1, p. 29-46, 2011.
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REFLEXÃO E ESTUDO DO MEIO:
ENTENDENDO MELHOR O QUE ESTÁ AO NOSSO REDOR
Resenha de Jéssica Cristina de Sousa Teixeira
Ao refletir sobre algo a divulgar a respeito da Educação Ambiental, queria
encontrar alguma coisa que fosse além das correntes conservadoras e pragmáticas.
Ou seja, algo que não fosse meramente contemplativo ou de relação com a natureza
visando um fim em si mesma, como se dá na vertente conservadora, segundo Silva e
Campina, ou então, atividades que tivessem resultados rápidos sem propostas de
reflexão, como se dá na via pragmática. Gostaria de apresentar algo mais profundo
que que explorasse um estudo do meio e o estabelecimento de uma relação afetiva
que ao ser comprometida gerasse reflexões.
Nessa busca de algo que fosse além do conservador e pragmático, dentre
muitos sites e materiais que conheci, visitei o site de uma ONG internacional, chamada
WWF, conhecida como Fundo Mundial para Natureza. Com quase cinco milhões de
associados distribuídos em cinco continentes, a rede WWF atua ativamente em mais
de cem países, nos quais desenvolve cerca de 2 mil projetos de conservação do meio
ambiente.
Segundo o site da organização, a WWF é composta por organizações e
escritórios em diversos países que têm como característica a presença tanto local
quanto global e o diálogo com todos os envolvidos na questão ambiental: desde
comunidades como tribos de pigmeus Baka nas florestas tropicais da África
Central, até instituições internacionais como o Banco Mundial e a Comissão Europeia.
No Brasil, a WWF começou em 1971, quando a ONG iniciou o seu trabalho
no país apoiando os primeiros estudos feitos sobre um desconhecido primata
ameaçado de extinção do Rio de Janeiro. Esse trabalho pioneiro viria a se transformar
no Programa de Conservação do Mico-Leão-Dourado. Foi na década de 80 que a
presença da WWF no país aumentou, com o apoio dado aos primeiros anos do Projeto
Tamar, entre outras iniciativas.
Depois de breve apresentação dos autores do material que eu pretendo
divulgar neste trabalho e sem a pretensão de tratar aqui de críticas as iniciativas da
Instituição. Pretendo, a partir desta parte do trabalho, apresentar a sugestão de uma
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atividade interessante para professores e licenciandos aplicarem, futuramente, em
escolas que venham a trabalhar.
Em uma parte do site da WWF global, chamada School Resources1
(Recursos escolares), encontrei vários materiais interessantes desde cursos online de
aperfeiçoamento em temas relacionados ao Meio Ambiente até ideias de projetos para
se aplicar em escolas. Para este trabalho, a parte que abordava as ideias para projetos
foi a que me chamou atenção. Nesta parte, encontrei um projeto que chamado Make
a modelo of a habit: Study how animals and plants adapt (Formar um modelo de
habitat: Estudar como animais e plantas se adaptam).
Este projeto entende que um habitat “é o ambiente natural em que vivem
plantas e animais. E que é neste que eles obtêm comida, água e abrigo. Eles também
se reproduzem em seu habitat natural. O clima de um habitat, a comida disponível
neste, a competição de outras espécies, são alguns dos fatores que determinam se
uma espécie sobreviverá ou não.”
Para os autores do projeto, estudar um habitar é importante porque:
• Se obtém informações de diferentes formas de vida presentes no mesmo;
• Ajuda a identificar quais são os fatores que podem levar a mudanças no
habitat e diferenciar entre fatores naturais e aqueles provocados pelo Homem;
• Ajuda a entender o impacto das ações humanas em outras formas de vida diferente da sua;
• Ajuda a entender como diferentes animais e plantas se adaptam às
mudanças em seu habitat.
A proposta do projeto é pegar uma área do bairro e identifica o habitat
daquela área - que tipo de árvores, arbustos e corpos d'água estão lá. Faça um
modelo do habitat. Identifique quais elementos do habitat são naturais e quais são
introduzidos pelo homem, por exemplo, novas árvores não encontradas originalmente
naquela área, ou um lago artificial, ou animais introduzidos na área.
As observações a serem feitas no decorrer do projeto são:
• Quais são os animais mais comuns no bairro.
• É possível vê-los todos os dias?
• Distinguir entre necessidades básicas e não essenciais dos animais.
1 Em: https://wwf.panda.org/knowledge_hub/teacher_resources/
33
• Onde é que eles vivem?
• Como eles se adaptaram àquele meio.
• Eles entram em contato com humanos?
• Qual é o seu alimento natural e habitat?
• Onde eles encontram comida no seu bairro?
• Você acha que eles estão expostos a gases nocivos ou produtos químicos ao
entrar em contato com seres humanos?
• Como o clima afeta suas vidas?
• Sua população está se multiplicando, crescendo a uma taxa baixa ou
diminuindo?
• Que tipo de mudanças você percebe em seu comportamento ou hábitos
alimentares?
Para mim, este projeto, apesar de, em um primeiro momento, parecer
uma atividade contemplativa e com fim em si mesma. Sendo aplicada de maneira
reflexiva, pode gerar diferentes resultados mais próximos a concepção crítica.
Primeiro, por ser um projeto de acompanhamento da existência de um
meio, pode se perceber neste uma complexidade de relação como o ser humano
está inserido nesta rede natural, social e cultural tanto das pessoas que frequentam
este meio que os alunos irão analisar, quanto da própria relação dos alunos
durante o processo do projeto.
Segundo, o conhecimento através da prática humana, ou seja, no
decorrer do processo pensar as relações o que está acontecendo, se é necessário
ou não intervir, e se for o caso de intervir, como o fazer. Além disso, por ser um
projeto de acompanhamento, não reduzir a uma disciplina só o projeto. Utilizá-lo
de maneiras diferentes, pelas outras disciplinas: História (para pensar a formação
social daquele lugar), Geografia (pensando o clima, as formas geológicas,
impactos ambientais), Ciência (usando-a para pensar as relações naturais entre
os seres vivos), Matemática (calculando reprodução, frequências dos seres que
habitam ali). Enfim, tem como usar o projeto de maneira interdisciplinar, não
deixando de trabalhar os “conteúdos conceituais” das disciplinas escolares.
Além de, poder realizar rodas de conversas com as pessoas que habitam
os arredores do ambiente analisado durante o projeto. Desenvolvendo, uma
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proposta de “cidadania ativa”, fortalecendo relações entre a sociedade civil e
visando enfatizar uma participação coletiva, que são características da concepção
Crítica, como aponta Silva e Campina, em sua tipologia de concepções da
educação ambiental e dimensões para análise.
BIBLIOGRAFIA
CAMPINA, Nilva Nunes e SILVA, Rosana Louro Ferreira da. Concepções de
educação ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições de uma
tipologia. In: Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 6, n. 1 pp. 29-46, 2011.
Make a model of a habit: Study how animals and plants adapt. Disponível em:
https://wwf.panda.org/knowledge_hub/teacher_resources/project_ideas/habitat_m
odel/
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O PROJETO REMOMA
Resenha de Karoline Melo Manso
O Projeto Reflorestamento do Morro da Matriz (REMOMA) iniciou-se em 2002,
segundo o mesmo:
tem como principal objetivo o reflorestamento do morro da histórica Igreja Matriz de
São Gonçalo tendo como conseqüência, a integração da comunidade com a natureza
(meio ambiente a que pertence), melhoria da paisagem da cidade, inibir o crescimento
desordenado no topo do terreno, caminhadas com temas religiosos e ecológicos, etc. (4)
Escolhi falar sobre esse projeto porque surgiu a partir de uma iniciativa popular no
ambiente urbano. Jovens que apesar de terem poucos recursos, olharam a paisagem urbana e
não se contentaram com o estado de degradação ambiental, mas aos poucos foram encontrando
soluções, contagiando mais voluntários e transformando a paisagem do Centro do Município
de São Gonçalo, localizado na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro (fig.1).
Fig1. Fonte: (7) prints de um dos vídeos do Instagram do Projeto Remoma. Fig 2. Fonte: (1)
Um pouco da história do Projeto REMOMA
O biólogo Marcos Dias, na época participante de grupo de jovens na Igreja Matriz de
São Gonçalo, colocou em pauta na reunião do grupo, a ação de pintar o Cruzeiro que se
encontrava depredado e esquecido, tanto pelo poder público quanto pela igreja há décadas. O
grupo aprovou a idéia e o Padre Fausto os apoiou e patrocinou a tinta. Depois da pintura do
Cruzeiro, reuniram-se no dia 10/05/2005 para outra atividade o plantio de 25 mudas de árvores.
O Cruzeiro está localizado no alto do Morro da Matriz, possui um valor histórico, foi
construído em 1947 em comemoração ao tricentenário da Igreja Matriz, e se encontra também
no brasão da bandeira do município. O Marcos Dias conta no site do projeto que pintar o
Cruzeiro e o plantio das 25 árvores não era suficiente, mas que precisavam ir além: “me senti
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chamado a realizar a construção do viveiro de árvores próximo ao campo para assim
reflorestarmos o morro e resgatar o Projeto do Padre Eugênio esquecido pelos fiéis de sua época
na paróquia.” (4) Esse padre, segundo Marcos gostaria de fazer uma VIA SACRA até o
Cruzeiro. Realizaram a limpeza de um terreno da Paróquia onde havia despejo de lixo, nesse
começou a minar água e o terreno começou a encharcar, tiveram que fazer um dreno, haviam
descoberto uma nascente. Fizeram também um pequeno lago onde criam peixes ornamentais e
também usam essa água para regar as plantas.
Em 2007, na ocasião da festa julina da paróquia, Marcos montou uma barraca ecológica
para abordar fotograficamente assuntos do projeto e também receber inscrições para
voluntários. Em agosto receberam doação de uma caixa d’água de 5.000L para a reserva de
água para combate de incêndios, pois o capim colonião cobria o morro e em época de seca
quando os moradores das casas próximas ateavam fogo, esse espalhava-se, pondo em risco as
áreas replantadas. Também instalaram um aceiro, como medida de segurança para evitar a
propagação do fogo.
O grupo realizou panfletagem na comunidade Nossa Senhora das Graças (fica na outra
vertente do morro até seu topo, fig. 2) solicitando que não jogassem lixo na encosta, fizeram
retirada do lixo jogado pelos moradores, um plantio expressivo de árvores , que acontece por
etapas de 50 mudas de árvores. Em 2017, mais de mil pessoas já haviam contribuído no plantio.
Os voluntários também cuidam das regas das plantas do viveiro, limpeza da trilha, capinas e
roçadas. O viveiro possui capacidade de armazenamento para 200 mudas, o que permite a
realização de plantios a cada mês ou, no máximo, a cada dois meses.
Segundo o site do projeto REMOMA, no dia 09/06/2019 realizaram a 41ª etapa de
reflorestamento do Morro da Matriz e contaram com a presença das crianças da catequese,
Grupo de Escoteiro 197 (Joaquim de Oliveira) e Grupo de Escoteiros George Savalla, sendo ao
todo 79 pessoas presentes que assinaram a Ata (figs. 3e 4).Plantaram 50 mudas de plantas
nativas.
Fig. 3 e 4. Fonte: (3)
37
Perspectiva do Projeto REMOMA
Em uma reportagem ao Jornal O São Gonçalo em julho de 2017, Marcos Dias relata:
Hoje, temos mais de mil árvores plantadas de diferentes espécies, como palmito
jussara, ipês diversos e sibipiruna. Nossa ideia em criar essa área verde é de integração
da cidade com o meio ambiente. Essa é uma área verde visitável e tem potencial para
ser uma área turística”, disse. Ainda segundo Marcos, a ideia é levar o projeto para
outros bairros. “Queremos montar uma ONG, que nos permitirá o financiamento de
projetos. Nosso objetivo é continuar recuperando a área, que estava degradada e em
risco de favelização. Queremos levar esse projeto para o Engenho Pequeno e a ONG
nos garantiria o pagamento de funcionários para ajudar nesse plantio. Hoje, eu não
consigo custear e conto com ajuda de voluntários, mas efetivamente temos apenas 15
pessoas. Em ações especiais para o plantio, esse número é um pouco maior, mas ainda
não é o suficiente”, afirmou. (2)
Analisando materiais de divulgação do Projeto
Partindo do princípio mais amplo da educação ambiental, ou seja, que ela não é somente
a que acontece nas salas de aula inclusa nas disciplinas ou sendo uma disciplina específica, mas
que a educação ambiental também pode estar presente em ações coletivas ou individuais na
sociedade. Encontrei nos materiais de divulgação do projeto, predominância da concepção
crítica, pois convida ao engajamento social para a transformação da realidade (figs. 5, 6, 7 e 8).
Fig. 5 e 6. Fonte: (4)
Fig.7 Fonte: panfleto recebido em 2017, arquivo pessoal. Fig.8 Fonte: (3)
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O Projeto REMOMA em 16 anos modificou a paisagem urbana, conteve o processo de
ocupação irregular na encosta do Morro da Matriz em São Gonçalo. A cobertura vegetal hoje é
menos susceptível a incêndios, esses lançavam CO2 e possivelmente outros gases tóxicos
provenientes da queima de lixo lançados na encosta. A reabilitação ecológica da Mata Atlântica
oferece uma contribuição significativa na melhoria da qualidade do ambiente urbano da Cidade
de São Gonçalo, tornando-o mais agradável e mais bonito. Influencia o balanço hídrico,
favorecendo infiltração da água no solo e provocando uma maior capacidade hídrica da
nascente temporária existente na área do projeto e também uma evapo-transpiração mais lenta,
melhora o micro-clima da cidade, melhora a qualidade do ar, atrai insetos e a avifauna. Diminui
a presença de vetores de doenças. O projeto contribuiu para a diminuição da dicotomia entre a
sociedade e a natureza, promovendo o respeito e a valorização da mesma, bem como a melhoria
da qualidade de vida da população.
Referências
(1) SILVA e CAMPINA, 2011. Concepções de educação ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições
de uma tipologia. Disponível em:
<https://zeadistancia.webnode.com/_files/20000021578aae79a29/SILVA%20e%20CAMPINA.pdf>
(2) O SÃO GONÇALO, Remoma muda vista de São Gonçalo. 04/07/2017 Disponível em:
<https://www.osaogoncalo.com.br/geral/26042/remoma-muda-vista-de-sg> junho de 2019
(3) PROJETO REMOMA, 41ª Etapa de reflorestamento do Morro da Matriz. Disponível em: <
http://www.projetoremoma.org/> junho de 2019
(4) PROJETO REMOMA, Quem somos. Disponível em: <http://www.projetoremoma.org/2009/11/quem-
somos.html> junho de 2019
(5) PROJETO REMOMA, Proposta do Projeto Remoma. 2/11/2009. Disponível em:
<http://www.projetoremoma.org/2009/11/proposta-do-projeto-remoma.html> junho de 2019
(7) Instagram projetoremoma
39
Projeto busca desestimular o uso de canudinhos de
plástico
Resenha de Leonardo David Pimenta Braz Lima
Campanha “Desencanude-se” propõe um mês sem canudos descartáveis
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/
Baseado em uma campanha que teve origem nos Estados Unidos uma rede
de escolas de idiomas do Rio Grande do Sul tem a ideia de criar uma campanha
chamada “Desencanude-se”. A ideia é propor que os alunos fiquem um mês sem usar
canudos descartáveis e durante esse período incentivem o movimento para substituir
o uso do acessório.
A escola que tem como parte da sua filosofia viabilizar a coexistência de
aprendizado de idioma com práticas de ações e iniciativas cidadãs. A analista de
marketing da escola acredita que a preocupação com o planeta vai ao encontro do
conceito de “cidadão do mundo” propagado pela rede de ensino.
40
Conscientizar a população com relação ao impacto dos canudos plásticos no
mundo é o objetivo principal da campanha Desencanude-se. As ações são frutos da
parceria da escola com a organização não governamental internacional Global Goals,
que propõe objetivos para um mundo mais sustentável até 2030.
Ao meu ver falta no texto um olhar para uma macro-tendência crítica. Só na
condição da crítica podemos alterar normas e costumes que estão enraizados no
conjunto da sociedade, ela nos coloca com a capacidade de repensar o conjunto das
relações que definem uma determinada realidade ou contexto e nos mostra as
ferramentas para atuar para que uma mudança seja realizada.
Ficar com uma visão pragmática e focar apenas em um dos problemas que
afetam o meio ambiente é o mesmo que olhar para um grande problema mas só se
preocupar em resolver uma pequena parte dele. Precisamos de uma educação
ambiental que realmente nos coloque com a capacidade de fazer algo para mudar os
costumes enraizados, com uma crítica contundente sobre os nossos modos de
consumo, o olhar não deve se voltar apenas para consumo de canudos descartáveis
mas sim de como todo o consumo e os meios de produção da nossa sociedade
capitalista afeta o meio ambiente.
Não será a tecnologia ou a ciência quê salvará os recursos naturais ainda
existentes no nosso planeta, apenas com uma reeducação do nosso consumo e com
a capacidade de colocar a sociedade de forma empática e pertencente para pensar
quais são verdadeiros vilões que estão destruindo o planeta é que vamos conseguir
efeitos significativos ao mundo.
Não podemos olhar para as relações existentes com olhar estático, devemos
ser capazes de agir em sociedade para transformar a própria sociedade, com a
capacidade de problematização permanente da nossa realidade e a capacidade de
reflexão permanente. Para que possamos refletir e agir e alterar a nossa consciência
e o que é realmente importante com relação a nossa realidade. Só assim poderemos
redefinir a nossa própria condição de natureza. Nós professores devemos formar para
transformar, para que sejamos capazes de superar e de ajudar os nossos alunos a
superarem todas as relações entendidas como sendo de opressão, dominação ou
alienação.
41
O processo da educação ambiental executada para o licenciamento ambiental
Resenha de Mareana Boening Gouvêa
Reflexão sobre os artigos SUBSERVIÊNCIA AO CAPITAL: EDUCAÇÃO
AMBIENTAL SOB O SIGNO DO ANTIECOLOGISMO, MAPEANDO AS MACRO-
TENDÊNCIAS POLÍTICO-PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CONTEMPORÂNEA NO BRASIL e o processo da educação ambiental executada
para o licenciamento ambiental.
O artigo MAPEANDO AS MACRO-TENDÊNCIAS POLÍTICO-PEDAGÓGICAS
DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONTEMPORÂNEA NO BRASIL dos autores
LAYRARGUES e LIMA apresenta uma reflexão sobre três macro-tendências do
campo da Educação Ambiental no Brasil: a conservacionista, a pragmática e a crítica.
A Educação Ambiental surge num contexto de emergência de uma crise ambiental
reconhecida nas décadas finais do século XX e estruturou-se como fruto de uma
demanda para que o ser humano adotasse uma visão de mundo e uma prática social
capazes de minimizar os impactos ambientais então prevalecentes. Em um momento
inicial, concebia-se a Educação Ambiental como um saber e uma prática
fundamentalmente conservacionistas, ou seja, uma prática educativa que tinha como
horizonte o despertar de uma nova sensibilidade humana para com a natureza,
desenvolvendo-se a lógica do “conhecer para amar, amar para preservar”, orientada
pela conscientização “ecológica” e tendo por base a ciência ecológica.
No início dos anos 90 educadores ambientais que partilhavam de um olhar
socioambiental, estavam insatisfeitos com os rumos que a Educação Ambiental vinha
assumindo e a partir de então começou um crescente apelo à metodologia da
resolução de problemas ambientais locais nas atividades em Educação Ambiental,
acompanhada pela responsabilização individual, fruto da lógica do “cada um fazer a
sua parte” como contribuição pessoal ao enfrentamento da crise ambiental. E isso
resultou no estímulo, através da mediação pedagógica, à mudança comportamental
nos hábitos de consumo, dando um vigoroso impulso à vertente pragmática. Assim, a
atenção antes focada exclusivamente na questão do lixo, coleta seletiva e reciclagem
dos resíduos, se amplia para a idéia do Consumo Sustentável.
A vertente crítica, por sua vez, aglutina as correntes da Educação Ambiental
Popular, Emancipatória, Transformadora e no Processo de Gestão Ambiental. Apóia-
se com ênfase na revisão crítica dos fundamentos que proporcionam a dominação do
ser humano e dos mecanismos de acumulação do Capital, buscando o enfrentamento
político das desigualdades e da injustiça socioambiental. Em grande medida, assim
como o ambientalismo, há um forte viés sociológico e político na vertente crítica da
Educação Ambiental, e em decorrência dessa perspectiva são introduzidos no debate
42
desses campos alguns conceitos-chave como os de Cidadania, Democracia,
Participação, Emancipação, Conflito, Justiça Ambiental e Transformação Social.
A educação ambiental crítica surge com o intuito de promover a incorporação
das questões culturais, individuais, identitárias e subjetivas que emergem com as
transformações das sociedades contemporâneas, a ressignificação da noção de
política, a politização da vida cotidiana e da esfera privada, expressas nos novos
movimentos sociais e na gênese do próprio ambientalismo. Ou seja, as dimensões
política e social da educação e da vida humana são fundamentais para sua
compreensão e desenvolvimento, mas elas não existem separadas da existência dos
indivíduos, de seus valores, crenças e subjetividades.
Em resumo cada macrotendência possui suas características, dependendo das
intencionalidades que inspiram suas práticas. Dessa forma, cada uma possui um
tema-chave que lhe é central no ato pedagógico, embora não lhe seja específico:
qualquer tema pode pertencer ao domínio de qualquer macrotendência. Mas, em
linhas gerais, o tema-chave central que pertence idealmente à perspectiva
Conservacionista gira em torno da defesa da Vida, Natureza, ecossistemas, florestas
e rios, áreas protegidas e Unidades de Conservação, agroecologia, ecoturismo. Para
a perspectiva Pragmática, o tema-chave que sobressai centralmente gira em torno da
Gestão Ambiental privada, Ecologia Industrial, Reciclagem, inovações tecnológicas,
Desenvolvimento Sustentável, Consumo e Economia Verde. Já para a perspectiva
Crítica da Educação Ambiental, o tema-chave gira em torno da Ecologia Política,
Educação Popular, Conflitos e Injustiça Socioambientais.
Com relação ao artigo SUBSERVIÊNCIA AO CAPITAL: EDUCAÇÃO
AMBIENTAL SOB O SIGNO DO ANTI-ECOLOGISMO do autor LAYRARGUES é
possível perceber uma continuidade e amadurecimento do assunto tratado no artigo
anterior, pois visa analisar como, quando e porque o campo da Educação Ambiental
brasileira se converteu em um aparelho ideológico de Estado a serviço de um modelo
reprodutivista de educação, pautado pela pedagogia do consenso da ideologia do
ambientalismo de mercado como estratégia da manutenção da hegemonia burguesa
subserviente ao capital.
Na sequência, entendo que a Educação é um ato ideológico o autor evidencia
que a Educação Ambiental foi compreendida como um lugar estratégico para a
reprodução das condições sociais do modo de produção capitalista; foi cooptada pelo
interesse econômico, serviu como um ambiente institucional perfeito para a
reprodução dos valores neoliberais que perpassam a pauta ambiental, posto que
existem distintas formas de se pensar e fazer a sustentabilidade, permanentemente
em disputa por legitimidade.
Dessa cooptação resulta a manipulação dos sentidos pedagógicos,
desfigurando o que se entende por Educação Ambiental. Cooptada e manipulada,
desdobrou-se numa Educação Ambiental dissimulada, que carrega a intencionalidade
persuasiva e domesticadora dos indivíduos. E, assim, passou a disseminar, ampla e
irrestritamente, as ideias que convém ao capital, apresentando o contorno da
problemática ambiental segundo a ótica do ambientalismo de mercado e oferecendo
soluções aos desafios ambientais que agradam ao mercado, pois apresentam o
padrão normal, modelo do sujeito ecológico identificado como o ambientalismo
43
moderado, aquele preocupado em fazer a sua parte na sociedade, disposto
individualmente a mudar seu hábito de consumo e descarte. Atua como um
mecanismo de compensação do risco da supressão da regulação ambiental pública
impondo subliminarmente ao cidadão-consumidor verde a fictícia responsabilidade
individual pelo esverdeamento da economia.
O direcionamento para essa conscientização ecológica faz com que o cidadão
esteja preocupado com o destino do lixo doméstico e com o consumo sustentável,
mas o mantém alienado acerca da lógica predatória do modo de produção capitalista.
Deixa esse sujeito ecológico preocupado com a expansão genérica da fronteira
agrícola, mas o mantém indiferente à matriz desenvolvimentista estar calcada no
robustecimento do setor primário, notoriamente predatório.
Segundo o autor esse cidadão crê estar contribuindo com a sustentabilidade,
enquanto se converte em um ator funcional do mercado. Essa Educação Ambiental
reprodutivista procura, incansavelmente, manter viva a ciranda do comprar-e-vender,
na medida em que dialoga com a perspectiva do Consumo Verde, convida a fazer
circular a mercadoria e fluir o capital, estimula a pensar nos termos da lógica do
mercado, com o mantra da reciclagem sempre que se aborda a questão dos resíduos
sólidos no ato pedagógico.
Com base nas considerações feitas pelo autor nos dois artigos é possível
avaliar criticamente a educação ambiental obrigatória nos processos de licenciamento
ambiental. Em licenciamentos de grandes empreendimentos com alto potencial de
impacto, costuma-se solicitar a elaboração de Programas Ambientais voltados a
educação ambiental dos trabalhadores e também um programa de educação
ambiental geral que abrange as comunidades próximas ao empreendimento.
Nesse contexto os programas são resumidamente campanhas onde
educadores realizarão atividades, palestras e distribuição de folhetos aos funcionários
e/ ou nas comunidades com o intuito de conscientizar os trabalhadores envolvidos na
instalação do projeto e os moradores locais sobre os eventuais riscos à sua
segurança, população e ao meio ambiente.
Normalmente este grandes empreendimentos promovem a especulação de
trabalho atraindo a população e também desloca muitos funcionários de um lugar a
outro. Assim, com a inserção destes novos atores com cultura possivelmente diferente
da população local, os programas de educação ambiental buscam a orientação sobre
questões comportamentais, visando não causar impactos sobre o modo de vida da
população.
Além das questões comportamentais, relacionadas à interação com a
comunidade local (valores culturais, convivência, segurança, etc.), os programas de
educação ambiental atuam conforme diretrizes da Nota Técnica Nº
2/2018/COMAR/CGMAC/DILIC do IBAMA, que preveem ações relacionadas aos
recursos naturais locais (caça, pesca, queimadas, desmatamentos, resíduos, etc.); e
questões relacionadas à saúde, segurança, alcoolismo, drogas, DST e AIDS, gravidez
na adolescência, vetores de doenças; animais peçonhentos, etc.
Ainda considerando a referida Nota Técnica, os programas de educação
ambiental previstos nos licenciamentos, visam prevenir ou mitigar impactos como
44
Pressão sobre o sistema viário; Contaminação de Solo e/ou Corpos Hídricos por
Resíduos; Contaminação de Solo e/ou Corpos Hídricos por Substâncias Perigosas;
Geração de Distúrbios à População; Redução da Cobertura Florestal Nativa;
Distúrbios na Fauna e Melhoria no Sistema Interligado Nacional.
Analisando e comparando as informações de classificação das macro-
tendências do primeiro artigo com as ações previstas nos programas de educação
ambiental percebe-se que de fato a perspectiva Pragmática da Educação ambiental
gira em torno da Gestão Ambiental privada. E refletindo sobre as informações
expostas no segundo artigo, fica evidente que existe uma manipulação dos sentidos
pedagógicos, que dissemina, ampla e irrestritamente, as ideias que convém ao capital,
apresentando o contorno da problemática ambiental segundo a ótica do
ambientalismo de mercado.
Bibliografia
LAYRARGUES, Philippe P. Subserviência ao capital: Educação Ambiental sob o
estigma do antiecologismo. Pesquisa em Educação Ambiental, vol.13, n. 1, p. 28-47,
2018.
LAYRARGUES, Philippe P; LIMA Gustavo F. da Costa. Mapeando as
macrotendências político-pedagógicas de Educação contemporânea no Brasil.
Pesquisa em Educação Ambiental. Ribeirão Preto, setembro de 2011.
45
Dependence of Hydropower Energy Generation on Forests in The Amazon
Basin at Local and Regional Scales
Resenha de Mateus de Novaes Maia
Este texto foi escolhido pela análise desenvolvida pelos autores da relação entre
o desmatamento e o aumento/diminuição da vazão dos rios na tentativa de aumentar
a capacidade de geração de energia na Usina Hidrelétrica de Belo Monte, além de
suas consequências ecológicas e sociais. Mesmo se valendo exclusivamente da
“ciência dura” para sustentar seus argumentos, o artigo pode ser enquadrado no
âmbito da educação ambiental como “crítico”, dada a sua preocupação com o impacto
desse projeto não só para o meio ambiente, mas também para as comunidades
ribeirinhas e demais populações afetadas direta ou indiretamente a nível local e
regional. Seu tom de imanente denúncia também contribui para essa classificação.
Não só é um tema atual como também é pertinente ao Currículo Mínimo da
Geografia do Estado do Rio de Janeiro, mais especificamente à Terceira Série do
Ensino Médio, no terceiro bimestre, onde se deve analisar e discutir as implicações
econômicas, políticas, sociais e ambientais das matrizes energéticas brasileiras.
Apesar de estar em inglês, o entendimento do eixo central do artigo e a tradução das
imagens e gráficos produzidos pelos pesquisadores pode ser de grande valia para a
discussão do tema em sala de aula, abrindo a possibilidade de diálogo com outras
disciplinas escolares.
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte, cuja construção teve início em 2011, tem
previsão de término em 2019. Seus apoiadores defendem que ela será fundamental
para o desenvolvimento econômico nacional e da região amazônica, porém
organizações e ativistas argumentam que a instalação de Belo Monte no Rio Xingu,
Artigo Escolhido: STICKLER, C. et al. “Dependence of Hydropower Energy
Generation on Forests in The Amazon Basin at Local and Regional Scales”,
Proceedings of the National Academy of Sciences, n. 110, v.23. 2013.
46
além de causar danos ambientais irreversíveis para a fauna e flora locais e as
comunidades que dependem do rio para subsistência, não produzirá tanta energia
quanto o esperado para justificar a execução da obra.
Ainda assim, as empreiteiras e responsáveis pelo projeto defendem que o
desmatamento nas áreas próximas à Belo Monte seria benéfico para a produção de
energia, pois a diminuição da cobertura vegetal contribuiria para o aumento da vazão
do Rio Xingu e o consequente aumento da produção de energia.
O que os pesquisadores responsáveis pelo artigo em questão quiseram provar,
através de simulações com diferentes taxas de desmatamento (Figura 1, p.2), é que
o que acontece é justamente o contrário, já que o desflorestamento diminui os índices
de evapotranspiração, o principal regulador dos regimes de chuva nas florestas
tropicais. Como chove menos, a vazão do rio diminui, e com ela diminui também a
produção de energia elétrica, como mostra a Figura 2 (p.3).
Fig. 1 (Traduzida)
Cobertura vegetal das Bacias
do Xingu (BX) e do Amazonas
(BA) com dois tipos de
cobertura vegetal, floresta
tropical ou cerrado (em verde) e
agricultura (em amarelo), sob
seis cenários diferentes
(porcentagens de
desmatamento).
(A) 0% da BA devastada, 20% da BX devastada; (B) 0% da BA devastada, 40% da BX devastada; (C) 15% da BA devastada, 20% da BX devastada; (D) 15% da BA devastada, 40% da BX devastada; (E) 40% da BA devastada, 20% da BX devastada; (F) 40% da BA devastada, 40% da BX devastada.
47
A vegetação é essencial para a manutenção dos regimes de chuva, ainda mais
nas florestas tropicais, como a Floresta Amazônica. Com o desmatamento, as chuvas
na Amazônia, que seguem um regime sazonal, ficam ainda mais escassas nas épocas
de seca, prolongando esse período e afetando negativamente todo o ecossistema
local e as comunidades próximas.
Fig. 2 (Traduzida)
Como ilustrado na figura acima, o desmatamento que acontece fora da Bacia do
Xingu, no caso, na própria Bacia do Amazonas, diminui as chuvas na região,
reduzindo a vazão dos rios e a geração de energia. Além dos impactos ecológicos, os
estudos sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte devem levar em conta as
consequências negativas que esse projeto trará na esfera social.
Porcentagem diferencial do cenário de referência [0% de desmatamento tanto na Bacia do Xingu (BX) quanto na Bacia Amazônica (BA)] na precipitação anual, vazãoe geração de energia em dois cenários locais de desmatamento (20% e 40% desmatamento da BX, respectivamente) e três cenários de desmatamento regional (0%, 15%, e 40% da BA devastada, respectivamente), com e sem resposta climática (20% da BX desmatada; 40% da BX desmatada; 0% da BA desmatada; 15% da BA desmatada; 40% da BA desmatada).
48
Educação Ambiental e Água
Resenha de Matheus Antonio
Este trabalho consiste na divulgação de um material sobre Educação Ambiental
(EA). O material escolhido foi um curso e o interesse por divulgá-lo surgiu da
constatação de que este traz abordagens muito afins e complementares as discussões
realizadas em sala pela turma de “Educação e Meio Ambiente”, trazendo a tona a
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais implícitos, conforme a tipologia de
Zabala, além da construção de um olhar crítico para a gestão das águas e a educação
ambiental.
Educação ambiental e água é o título de um dos cursos oferecidos pelo
ambiente virtual de aprendizagem2 do Ministério do Meio Ambiente. Totalmente a
distância, gratuito e com carga horária de 60h. Seu público-alvo consiste em gestores,
educadores ambientais e demais atores sociais que lidam com essa temática.
Para realizar o curso é necessário que as pessoas interessadas se inscrevam, quando
houver uma nova turma aberta.
O curso se divide em três módulos, os quais possuem aulas, uma apostila e
uma avaliação (Figura 1). Para obtenção de certificado é necessário ter um
aproveitamento igual ou superior a 60% nas avaliações de cada módulo e na avaliação
final. Além disso, a plataforma conta com fóruns para esclarecimento de dúvidas com
a equipe técnica (em caso de problemas no uso do site) e para interação com pessoas
de todo o Brasil, inscritas na sua turma.
2 Para saber mais acesse: http://ead.mma.gov.br/
49
Figura 1 - Estrutura do curso
Cada módulo tem objetivos específicos, tratados em seu início. Aborda os
temas propostos indicando reflexões, exercícios, vídeos, textos, música, poesia etc.
O primeiro Módulo, intitulado “Somos água desde sempre” serve para a construção
uma abordagem sistêmica da água no planeta e no universo. Trata de assuntos como
a presença e distribuição da água; os ciclos naturais deste elemento e as
interferências humanas nele; serviços ecossistêmicos e ambientais; a crise global da
água e as territorialidades hídricas no Brasil.
No Módulo II, o curso traz um embasamento teórico mais crítico. Tem início
tratando de aspectos legais ligados a Educação Ambiental (EA) e a Recursos
Hídricos,evidenciando a EA como elemento central na gestão integrada, democrática
e sustentável da água. Prossegue demonstrando valores e percepções não científicos
sobre a água, tratando da cosmovisão indígena e do valor da água para o Candomblé,
junto dos quais traz a importância da ecologia de saberes e do conhecimento a partir
do local, tudo isso voltado para o desenvolvimento de uma visão crítica e à
transformação social.
Por fim, o terceiro módulo “Educação Ambiental e participação social” trabalha
a interface entre a Educação ambiental e a participação social, com vistas a uma
governança democrática e sustentável da água. Enfatiza o potencial da EA na
qualificação dos processos dialógicos e no enfrentamento da crise socioambiental,
assim como no engajamento e mobilização social.
Fonte: http://ead.mma.gov.br /
50
Refletindo a partir das Macrotendências de Educação Ambiental
(LAYRARGUES & LIMA, 2011), percebe-se que o curso tem um forte viés da
concepção Crítica de EA. Porém, é interessante notar que no decorrer dos assuntos,
aspectos das concepções conservadora e pragmática vão sendo desconstruídos a
medida que a crítica se constrói. Neste processo, a água rompe com a dicotomia ser
humano-ambiente, com o antropocentrismo, com a hierarquização dos diferentes
conhecimentos, que põe o científico sobre os demais, construindo pouco a pouco uma
visão holística, integrada, voltada para a democracia, a participação social e o bem
coletivo.
Referências
LAYLARGUES, P.; LIMA, G. Mapeando as Macrotendências político-pedagógicas da
educação ambiental contemporânea no Brasil. IV Encontro “Pesquisa em Educação
Ambiental”: Ribeirão Preto, 2011.
51
A educação ambiental na formação das escolas do campo
Resenha de Sergio Diniz
Este trabalho visa apresentar um debate sobre as relações entre as escolas do campo e a
educação ambiental, tendo como objetivo compreender os princípios e a conscientização
ambiental que perpassam por essa forma de educação. Contudo, o cenário da educação do
campo no país está majoritariamente ligado aos movimentos sociais, cujo um deles é o MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), sendo assim, este movimento assume uma
proposta de educação que visa criar uma identidade entre os sujeitos através dos conflitos
ligados aos direitos a terra e a produção. Logo, a educação ambiental se faz presente neste
cenário educacional, assegurando com instrumentos na consolidação de novos saberes pra um
novo modo de produção sustentável.
Não há como falar de agricultura sem levar em conta a questão ambiental.
Independente do modelo agrícola que se proponha para o campo, o meio
ambiente está intrinsecamente ligado. Dessa maneira que o programa agrário
do MST defende uma agricultura que esteja em harmonia e que respeite o
meio ambiente. Por isso que nos baseamos na matriz tecnológica da
agroecologia, que busca aliar os conhecimentos ancestrais do manejo com a
terra e com as sementes com a pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico,
para que se possam produzir alimentos saudáveis em larga escala sem
prejudicar as riquezas naturais. (www.mst.org.br/meio-ambiente/)
Segundo os cadernos de formação do MST e seus materiais, a educação ambiental
assume um viés transformador, de modo que proporciona uma ressignificação das relações de
trabalho e do modo de produção agrícola. Presente em suas pautas os princípios da
agroecologia, uso sustentável do solo, processos organizativo baseados na solidariedade e na
conscientização ecológica dos assentados, o movimento tem despertado para as preocupações
ambientais, através de seu processo educacional, repercutindo modificações e construção de
habilidades e mecanismos necessários à sustentabilidade ambiental. Deste modo, a pauta da
educação ambiental entra em campo com suas práticas educativas e organizativas.
Nota-se na educação do campo um caráter pedagógico na conexão entre a ciência e
cotidiano marcado por relações de direito, pertencimento, desenvolvimento e sustentabilidade,
que são necessários para a compreensão dos assentados em relação a si e ao meio que se situam.
Esta relação de homem e natureza possui uma ação educacional que possibilita a articulação do
trabalho produtivo do movimento com o modelo de educação adotado. A atuação do MST está
52
fundamentada na realidade dos trabalhadores do campo, pensada pelos camponeses e para eles,
através de um processo educacional ligado ao modo de produção familiar e sustentável em
oposição aos latifúndios capitalistas, que provoca devastações ambientais juntamente com a
exploração do trabalhador rural.
Deste modo, a preocupação com o meio ambiente é uma das questões principais do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, devido a sua criação em oposição ao
latifúndio e a agricultura moderna que tem em sua produção um uso intensivo de implementos
agrícolas, fertilizantes, agrotóxicos, entre outras técnicas nocivas de produção, o MST destaca
outro tipo de agricultura menos agressiva ao meio ambiente. Contudo, a educação ambiental
presente nos assentamentos contribui para despertar o senso de responsabilidade através da
conservação ambiental e nas convivências socioambientais e socioculturais do espaço que
atuam. Neste sentido, o processo de educação ambiental pressupõe uma conscientização
articulada com as condições de sobrevivência, desmistificando a relação homem-natureza,
capaz de empenhar um sentido integrador dos assentados com o meio ambiente.
A educação ambiental presente nas escolas do campo é vista como uma colaboradora
para desenvolver uma aprendizagem crítica através de reflexões sobre os modelos sociais,
permitindo que este conhecimento teórico seja aplicado na realidade social. E, a dimensão
ambiental está contextualizada com a questão social, política, econômica, urbana, agrária, todas
estas ligadas à qualidade de vida em sociedade. Seguindo esta afirmação, a proposta de
educação ambiental presente no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra está constituída
através das convivências comunitárias entre os acampados no processo de socialização,
espacialização e territorialização da luta pela terra.
Ao longo dos anos, a educação ambiental adotou um compromisso de promover
mudanças nos valores e atitudes com a finalidade de construir uma sociedade mais preocupada
com as questões ambientais. Porém, a educação ambiental pode ser analisada a partir da noção
de Campo Social, composta por uma diversidade de atores e instituições que compartilham
estes interesses, logo, há disputas entre esses grupos em relação aos interesses adotados que
oscilam entre tendências de conservação ou a de transformação das relações sociais e das
relações que a sociedade mantém com o seu ambiente. Estas concepções agregam questões de
propostas políticas, pedagógicas e epistemológicas acerca dos problemas ambientais,
promovendo a coexistência entre tendências que disputam a dinâmica da hegemonia deste
campo. A partir delas que emergem as análises sobre as macrotendências político-pedagógico
apresentadas.
53
Dessa forma, podemos dizer que atualmente existem três macrotendências como modelo
político-pedagógico, a concepção conservadora, pragmática e crítica. Onde cada uma
contempla uma diversidade de posições sobre as questões ambientais. As macrotendências
conservadora e pragmática representam uma mesma linhagem de pensamento que foi se
modificando através da economia e política neoliberal. Ambas possui um olhar mais ligado às
ciências naturais, sem uma reflexão sociológica da questão ambiental, atribuindo-se um caráter
individualista.
A concepção adotada, que possibilita o respaldo teórico das atitudes educacionais
presentes nas escolas do MST, é a concepção crítica. Esta concepção possui um caráter contra-
hegemônico no que diz a respeito das questões ambientais, divulgando uma nova ética
ambiental, visando redefinir as relações entre homem e natureza, indo de contra a ordem dos
ideias políticos e econômicos. Por sua vez, apoia-se nas correntes populares, e na revisão crítica
dos fundamentos que proporcionam a dominação do ser humano e dos mecanismos de
acumulação do Capital, buscando o enfrentamento político das desigualdades e da injustiça
socioambiental (Layrargues e Lima, 2014, p.11).
Podemos observar que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra através de
suas escolas e ações propõe uma transformação da sociedade, transformação no modo de
produção, consumo, educação e na questão principal de distribuição de terra. Sendo assim, ao
analisar esse movimento a luz da concepção crítica, encontramos medidas que coincidem, como
por exemplo, o exercício da participação social, da cidadania e da democracia, que é uma
condição necessária para uma sustentabilidade substantiva. Por fim, a atitude reflexiva diante
dos desafios que a crise civilizatória nos coloca, partindo do princípio de que o modo como
vivemos não atende aos anseios de todos e que é preciso criar novos caminhos.
BIBLIOGRAFIA:
http://www.mst.org.br/
CARNEIRO, R. Educação Ambiental educação para a terra. Revista SENAC e Educação
Ambiental, v. 3, 2001.
Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2004.
LAYRARGUES, Philippe Pomier; LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. As macrotendências
político-pedagógicas da Educação Ambiental brasileira. Ambiente & Sociedade, v.17, n.1,
p. 23-40. jan.-mar. 2014
54
Práticas em Educação Ambiental (EA) dentro da modalidade da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) – um texto reflexivo
Texto de Vitória de Souza Ecar
Márcio, meu caro amigo,
Trago este texto como forma de evidenciar algumas práticas em Educação Ambiental (EA)
dentro da modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no Brasil. O que pretendo é
mostrar as práticas dentro e fora de sala de aula no trabalho da autonomia conceitual e prática
com os adultos de nossas classes. Analiso a importância do planejamento e intenções
pedagógicas e trago a questão da perspectiva crítica em Educação Ambiental relacionando os
dois campos da Educação nacional.
Devo salientar que a Educação de Jovens e Adultos (EJA), no Brasil, é profundamente marcada
pelas lutas sociais e políticas no campo educacional. Seu reconhecimento como modalidade da
Educação Básica se deu pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96
(LDBEN) e a reafirmação de seu lugar na Educação nacional é prescrita pelo Parecer 11/2000.
Ainda hoje se faz necessária a luta por políticas públicas que a reconheçam e a efetivem como
campo pedagógico próprio. Legalmente estamos amparados e devemos, conforme Cury (2002),
utilizar as leis como instrumentos de luta.
Deste modo, nos debruçamos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para tratar da
Educação Ambiental (EA) em concomitância com a EJA. O Meio Ambiente tornou-se um tema
transversal no currículo da Educação Básica. Conforme o próprio documento “a
transversalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso das relações
interpessoais e sociais escolares com as questões que estão envolvidas nos temas” (BRASIL,
1997, p. 45). Entendemos, portanto O Meio Ambiente como temática dentro da área da
Educação Ambiental (EA) e a tratamos como um campo que concentra produções teórico-
metodológicas constituídas historicamente (SILVA e CAMPINA, 2011). Nesta perspectiva
temos dois campos da Educação nacional que se complementam.
Sabemos que os adultos de nossas classes trazem os saberes acumulados em suas experiências
e vivências. Posto isso, entendemos a ciência sistematizada como ponto chave e o currículo
vivido como imprescindível para nossa atuação. Proponho que nossas práticas de ensino
baseiem-se nas evidências científicas para que superemos o senso comum e possamos, assim,
produzir uma práxis que seja essencialmente vívida. Para isto utilizaremos Fernandes e
Trivelato (2009) e suas análises sobre as atividades em campo na Educação Ambiental.
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As atividades em campo tonam-se instrumentos intencionais na práxis. É necessário um
planejamento destas atividades de maneira que os conteúdos abordados estejam organizados
em torno de nossas intenções pedagógicas e esta questão perpassa o currículo e o planejamento.
Entramos, portanto, na reflexão sobre os conteúdos apresentados. Torna-se imprescindível
propiciar análise histórico-crítica da Educação Ambiental dentro da sociedade capitalista.
Nossos alunos devem se encontrar no campo das concepções teóricas e do debate acerca da
Educação Ambiental como instrumento subserviente ao capital e devem de igual maneira,
aprender a olhar na perspectiva crítica esta análise.
Ainda em Fernandes e Trivelato (2009) percebemos a importância desta justa reflexão sobre
quais são as pretensões com as atividades em campo. Ampliamos nossas práticas quando as
exploramos de maneira objetiva nas situações de interação de ensino. Devemos, segundo os
autores, nos atentarmos para a “ecologia dos conteúdos” (FERNANDES E TRIVELATO, 2009,
p. 6). Daí que as indagações a respeito dos métodos que subsidiam a prática docente sejam
perguntas sobre “em favor de que conhecer e, portanto, contra que conhecer; em favor de quem
conhecer e contra quem conhecer” (FREIRE, 1982, p. 97, grifos do autor).
Entendemos que estamos falando com e para adultos. Pessoas estas, marcadas por esse mesmo
capital que nega direitos e impossibilita as igualdades sociais. Não podemos deixar de lado as
relações do homem com a natureza e o ambiente. Devemos enfatizar a vertente crítica da
Educação Ambiental. Consoante Layrargues e Lima (2011) “as dimensões política e social da
educação e da vida humana são fundamentais para sua compreensão e desenvolvimento, mas
elas não existem separas da existência dos indivíduos, de seus valores, crenças e subjetividades”
(p.11). Compreendendo este cenário é que podemos agir de forma concisa e consciente.
Entendemos até aqui, que não importa apenas “tirar os alunos da escola”, porque estes alunos
já estiveram muito tempo fora da mesma. As atividades em campo facultam interações
ambientais e sociais que vêm relacionar a teoria estudada, suas vivências e as experiências que
possivelmente ainda não tiveram. Explorar, observar e discutir no campo das ciências sobre
Educação Ambiental é fundamental para nós não apenas como cumprimento dos documentos
legais que estão moldados no currículo prescrito, mas como objetos de aprimoramento da
formação de nossos alunos.
A partir destes apontamentos me surge uma questão: poderíamos falar não mais da Educação
Ambiental, mas das Educações Ambientais, levando-se em conta sua pluralidade de concepções
para o ensino da mesma, suas produções nos campos conceituais, sua criticidade e pluralidade
de identidades?
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Termino esta reflexão sobre as atividades campo concluindo que devemos reanalisar minuciosa
e reflexivamente nossas práticas de ensino em campo, bem como, nossas intenções acerca das
mesmas. Evidencio a perspectiva crítica da Educação Ambiental e saliento que a Educação de
Jovens a Adultos é um campo onde devemos explorar esta perspectiva. Deixo as referências
citadas no texto para análise, caso queira.
Referências bibliográficas:
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996.
BRASIL, Secretaria de Educaçao Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
apresentação dos temas transversais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
1997, 146 p.
BRASIL, Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Básica. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Parecer CNE/CEB 11/2000.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Direito à educação: direito à igualdade, direito à diferença.
Cadernos de Pesquisa: São Paulo, n. 116, p. 245-262, julho de 2002.
FERNANDES, José Artur B.; TRIVELATO, Silvia Luzia F. Conteúdos importantes em
atividades em campo: o que pensam professores experientes. Florianópolis, 08 nov de 2009
FREIRE, P. et al. Educação: o sonho possível. In: BRANDÃO, C. R. (Org.) O Educador: vida
e morte. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982, p. 91-101.
LAYRARGUES, Philippe P. Subserviência ao capital: Educação Ambiental sob o estigma do
antiecologismo. Pesquisa em Educação Ambiental, vol.13, n. 1, p. 28-47, 2018.
LAYRARGUES, Philippe P; LIMA Gustavo F. da Costa. Mapeando as macrotendências
político-pedagógicas de Educação contemporânea no Brasil. Pesquisa em Educação Ambiental.
Ribeirão Preto, setembro de 2011.
SILVA, Rosana Louro Ferreirada; CAMPINA, Nilva Nunes. Concepções de Educação
ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições de uma tipologia. Pesquisa em
Educação Ambiental, vol. 6, n. 1 – pp. 29-46, 2011.