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EDUCAÇÃO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
OEBProfa. Flávia MB Araujo
2010
Analisa a educação nas diversas constituições brasileiras, detendo-se sobre elementos do contexto onde estas são concebidas.
Apresenta considerações sobre o conjunto dos textos, buscando elucidar aspectos comuns e diferenças marcantes.
Evidencia que a presença da educação nas constituições relaciona-se com o seu grau de importância ao longo da história. Enquanto nas primeiras constituições (1824 e 1891) as referências são escassas, a presença de artigos relacionados com o tema cresce significativamente nos textos posteriores (1934, 1937, 1946, 1967 e 1988).
As constituições expressam desejos de reforma da sociedade,. As constituições brasileiras são compreendidas como
documentos-chave para compreender o contexto e os temas relevantes dos diferentes momentos históricos.
Sinalizam (ou não) a agenda de reformas que vão sendo propostas.
OBJETIVOS DO TEXTO
Primeira Constituição brasileira. Promulgada por Dom Pedro I. Retrata o momento político subseqüente à
Independência : anseios de autonomia convivem com idéias advindas da antiga Colônia.
Estabelece princípios de um liberalismo moderado
Expressa a busca de separação entre Colônia e Metrópole.
Fortalece o imperador com a criação do Poder Moderador.
Constituição de 1824
Inicia-se uma fase de debates que visavam a estruturação de uma educação nacional.
Assembléia Legislativa e Constituinte (1823): D. Pedro referiu-se à necessidade de uma legislação particular sobre a instrução.
Os trabalhos desenvolvidos nos 6 meses de seu funcionamento produziram 2 projetos de lei referentes à educação pública.
Embora esse debate tenha sido intenso, em virtude da dissolução da Constituinte de 1823, não veio a traduzir- se em dispositivos incorporados à Constituição de 1824.
Educação na Constituição de 1824
A primeira Carta Magna brasileira traz apenas 2 parágrafos de um único artigo sobre a matéria.
Estabelece que: "A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos" (art. 179, § 32). A segunda referência diz respeito aos "Colégios e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas letras e artes" (art. 179, § 33).
Pequena preocupação com a educação.
Educação na Constituição de 1824
Proclamada pelo Exército. Princípios federalistas buscam aumentar a
autonomia das províncias. É eliminado o Poder Moderador e mantidos
os 3 poderes. Institui-se o voto direto, descoberto e
reservado aos homens maiores de 21 anos. Separação entre Estado e Igreja. Anseios de um novo projeto para a
educação
Constituição de 1891
Maior número de dispositivos sobre educação que o texto de 1824.
Bandeira da laicidade. A nova Carta Magna define como atribuição do Congresso
Nacional "legislar sobre [...] o ensino superior e os demais serviços que na capital forem reservados para o Governo da União" (art. 34, inciso 30); suas responsabilidades limitam-se à esfera da União. Tem ainda a incumbência de "não privativamente: animar, no País, o desenvolvimento das letras, artes, e ciências [...] sem privilégios que tolham a ação dos governos locais, criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados e prover à instrução primária e secundária no Distrito Federal" (art. 35, incisos 2º, 3º e 4º).
Educação na Constituição de 1891
Tom federalista. Segundo Cury (2001), as condições para a
satisfação da educação como "um direito de cidadania ficará por conta dos estados federados", que "determinarão a natureza, o número e a abrangência da educação pública".
"dualidade dos sistemas", traduzida na configuração de um sistema federal integrado pelo ensino secundário e superior, estaduais, com escolas de todos os tipos e graus, estimularia a reprodução de um sistema escolar organizado em moldes tradicionais e de base livresca
Educação na Constituição de 1891
• Período 1930/1945 - Golpe de 1930 – Os gaúchos chefiados por Getulio
Vargas chegam ao Rio de Janeiro (foto CPDOC)
O momento também é rico para a educação. Vários Estados deflagram reformas (Ceará,
Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais).
Cria-se o Ministério de Educação e Saúde (1930), sendo seu primeiro dirigente Francisco Campos, jurista e político mineiro: reforma do ensino superior e secundário.
No campo do ideário pedagógico: influência do escolanovismo (Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), marco do pensamento liberal com repercussões sobre idéias e reformas subseqüentes.
A revolução de 1930
1o Ministro da Educação de Vargas: Francisco Campos.
Influência dos postulados da "Escola Nova", que haviam chegado ao Brasil pelas mãos de educadores como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo após a Primeira Guerra Mundial.
Na saúde pública (2a atribuição do ministério) preocupação de atender às populações do interior.
1937: criação do Serviço Nacional de Febre Amarela, 1o serviço de saúde pública de dimensão nacional.
1939, criação do Serviço de Malária do Nordeste.
Vários hospitais, colônias e asilos foram construídos para o tratamento de outras endemias, como a tuberculose e a lepra.
1930 – Getulio Vargas na inauguração do Ministério da Educação e Saúde Pública
Manifesto da Educação Nova1932 Defesa da educação pública,
gratuita, obrigatória e leiga. Reclamava flexibilidade, diversidade
e delegação do controle administrativo e financeiro aos estados.
Buscava diagnosticar e sugerir rumos às políticas públicas em matéria de Educação.
Educadores e intelectuais, como Cecília Meireles, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Roquette Pinto, assinaram o documento.
“Em nosso regime político, o Estado não poderá, decerto, impedir que, graças à organização de escolas privadas de tipos diferentes, as classes mais privilegiadas assegurem a seus filhos uma educação de classe determinada; mas está no dever indeclinável de não admitir, dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou escolas, a que só tenha acesso uma minoria, por um privilégio exclusivamente econômico. Afastada a idéia de monopólio da educação pelo Estado, num país em que o Estado, pela sua situação financeira, não está ainda em condições de assumir a sua responsabilidade exclusiva, e em que, portanto, se torna necessário estimular, sob sua vigilância, as instituições privadas idôneas, a ‘escola única’ se entenderá entre nós, não como uma conscrição precoce arrolando, da escola infantil à universidade, todos os brasileiros e submetendo-os durante o maior tempo possível a uma formação idêntica, para ramificações posteriores em vista de destinos diversos, mas antes como a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15 anos, todas ao menos que, nessa idade, sejam confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma educação comum, igual para todos”
O tema Diretrizes e Bases nas Constituições Brasileiras
Carta de 1934 – primeira constituição que fixou como competência privativa da União “ traçar diretrizes da educação nacional”.
Estabeleceu que compete á União fixar plano nacional de educação (Art.150).
A Carta de 1934 é a primeira a dedicar espaço significativo à educação, com 17 artigos, 11 dos quais em capítulo específico sobre o tema (cap. II, arts. 148 a 158).
mantém a estrutura anterior do sistema educacional, cabendo à União "traçar as diretrizes da educação nacional" (art. 5º, XIX), "fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados, organizar e manter" os sistemas educativos dos Territórios e manter o ensino secundário e superior no Distrito Federal (art. 150), assim como exercer "ação supletiva na obra
educativa em todo o País" (art. 150, "d" e "e").
Educação na Constituição de 1934
A organização e manutenção de sistemas educativos permanecem com os Estados e o Distrito Federal (art. 151). Entre as normas estabelecidas para o Plano Nacional de Educação estão o "ensino primário integral e gratuito e de freqüência obrigatória extensivo aos adultos e tendências à gratuidade do ensino ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível“ (art. 150, parágrafo único, "a" e "b").
Educação na Constituição de 1934
Importante matéria do texto é o financiamento da educação.
Pela primeira vez são definidas vinculações de receitas para a educação, cabendo à União e aos municípios aplicar "nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos na manutenção e no desenvolvimento do sistema educativo" (art. 156).
Nos mesmos termos é estabelecida a reserva de parte dos patrimônios da União, dos Estados e do Distrito Federal para a formação de fundos de educação (art. 157).
São ainda atribuídas responsabilidades relativas às empresas com mais de 50 empregados na oferta de ensino primário gratuito (art. 139).
Educação na Constituição de 1934
Reformas do ensino universitário resultou na criação da Universidade do Brasil, atual UFRJ.
Criou o Instituto Nacional do Livro Construção do edifício-sede do Ministério da
Educação (RJ), marco da moderna arquitetura brasileira, com painéis de autoria de Cândido Portinari.
Efeitos da política autoritária do Estado Novo:◦1939 fechamento da Universidade do
Distrito Federal. ◦ação repressiva contra as escolas mantidas
pelas colônias alemãs no sul do país, , sobretudo depois de 1942, quando o Brasil rompeu relações com a Alemanha. Esse ato do governo ficou conhecido como a nacionalização do ensino.
MINISTÉRIO DE GUSTAVO CAPANEMA 1934-1945
MINISTÉRIO DE GUSTAVO CAPANEMA 1934-1945
Participação e colaboração de intelectuais junto ao ministério: Carlos Drummond de Andrade (chefe de gabinete), Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Heitor Villa-Lobos e Manuel Bandeira,.
Leis orgânicas de Ensino – conhecidas como Reforma Capanema. Decreto-lei n.4244/1942 – ensino secundário Decreto-lei n.4.073/1942 – ensino industrial Decreto-lei n.4.0748/1942 – criação do SENAI. Fim do Estado Novo e formação de uma nova Assembléia
Constituinte. Reabertura política.
A Constituição do Estado Novo definiu como competência privativa da União “ fixar as bases e determinar os quadros da educação nacional, traçando diretrizes a que deve obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e da juventude”.
Constituição de 1946
Pela primeira vez é utilizada a expressão de “diretrizes e bases”.
Anteprojeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional elaborado por uma comissão designada pelo Ministro da Educação Clemente Mariani em 1947.
Tendência descentralizadora. Longa tramitação. Oposição de Gustavo Capanema – fulminou
a proposta de descentralização. Arquivamento do projeto. 1951 – desarquivamento do projeto.
Lei nº 4.024 de 20/12/1961
Aprovada em 1961. “Solução de compromisso” entre as várias
tendências. Manteve a estrutura proposta por Capanema. Primário de 4 anos. Ensino secundário de 7 anos – dividido em dois
ciclos: Ginásio de 4 anos e Colegial de 3 anos (secundário, normal e técnico – industrial, agrícola e comercial)
Estabeleceu a equivalência entre os ramos do ensino médio – concluído qualquer ramo o aluno teria direito a prosseguir seus estudos, em nível superior.
Lei nº 4.024 de 20/12/1961
Aprovada em 1961. “Solução de compromisso” entre as várias
tendências. Manteve a estrutura proposta por Capanema. Primário de 4 anos. Ensino secundário de 7 anos – dividido em dois
ciclos: Ginásio de 4 anos e Colegial de 3 anos (secundário, normal e técnico – industrial, agrícola e comercial)
Estabeleceu a equivalência entre os ramos do ensino médio – concluído qualquer ramo o aluno teria direito a prosseguir seus estudos, em nível superior.
Estudantes protestam pelo funcionamento do restaurante
universitário Calabouço, em 1967. foto: Arquivo Nacional / Correio da
Manhã
Reformulação do ensino: preparar os indivíduos técnica e profissionalmente para uma sociedade das profissões.
1942, a Lei Orgânica do Ensino Secundário, conhecida como Reforma Capanema.
Foram instituídos no ensino secundário um primeiro ciclo de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos.
Currículos enciclopedistas, com valorização da cultura geral e humanística.
Influência da Segunda Guerra Mundial, a lei instituiu também a educação militar para os alunos do sexo masculino.
Caráter facultativo da educação religiosa e obrigatório da educação moral e cívica.
A lei recomendou as mulheres estudassem em estabelecimento distintos dos homens.
Vigorou até a aprovação da LDB em 1961.