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  • KARLA CRISTINA DE MEDEIROS

    EDUCAO AMBIENTAL NO MBITO EMPRESARIAL

    A percepo ambiental dos funcionrios de uma empresa do setor borracheiro do

    municpio de Mandaguari Paran

    Maring, PR 2010

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    KARLA CRISTINA DE MEDEIROS

    EDUCAO AMBIENTAL NO MBITO EMPRESARIAL

    A percepo ambiental dos funcionrios de uma empresa do setor borracheiro do

    municpio de Mandaguari Paran

    Monografia apresentada ao curso de Cincias Biolgicas da Universidade Estadual de Maring como quesito parcial para obteno de grau de bacharel em Cincias Biolgicas. Orientadora: prof Dr Ana Tiyomi Obara

    Maring, PR 2010

  • iii

    KARLA CRISTINA DE MEDEIROS

    EDUCAO AMBIENTAL NO MBITO EMPRESARIAL

    A percepo ambiental dos funcionrios de uma empresa do setor borracheiro do

    municpio de Mandaguari Paran

    Monografia apresentada ao curso de Cincias Biolgicas da Universidade Estadual de Maring como quesito parcial para obteno de grau de bacharel em Cincias Biolgicas.

    Aprovada em _____ de ______________ de 2010.

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________

    Prof. Dra. Ana Tiyomi Obara (UEM DBI)

    Orientadora

    ______________________________________________

    Prof. Dra. Ana Lcia Olivo Rosas Moreira (UEM DBI)

    ______________________________________________

    Prof. Msc. Vanessa Daiana Pedrancini (UEM PDBI)

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    A rede feita de fios fracos, mas um fio ligado

    a outro fio cria uma rede enorme que pode

    pescar at um tubaro.

    (Leonardo Boff)

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    Aos meus pais, Carlos e Marilda,

    pela dedicao e pacincia.

    minha irm, Karen, pelo companheirismo.

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    Agradecimentos

    A Deus, pela fora dada a mim e por mais esta vitria.

    A meus pais, que apoiaram minhas escolhas.

    Universidade Estadual de Maring, pela oportunidade.

    coordenadora do curso de Cincias Biolgicas, Marion Haruko, pelo profissionalismo.

    professora orientadora Ana Tiyomi Obara, pela colaborao.

    Aos professores do curso de Cincias Biolgicas, pela competncia.

    amiga Dayana Laverde, pela amizade e apoio.

    A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao desta monografia.

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    LISTA DE SIGLAS

    CMMAD: Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

    CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

    DA: Direito Ambiental

    DS: Desenvolvimento Sustentvel

    EA: Educao Ambiental

    EIA: Estudo de Impacto Ambiental

    IA: Impacto Ambiental

    ISO: International Organization for Standardization

    LA: Legislao Ambiental

    MEC: Ministrio da Educao e Cultura

    ONU: Organizao das Naes Unidas

    PA: Percepo Ambiental

    PEA: Programa de Educao Ambiental

    PCNs: Parmetros Curriculares Nacionais

    PNMA: Poltica Nacional do Meio Ambiente

    PNUMA: Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    RIMA: Relatrio de Impacto Ambiental

    SGA: Sistema de Gesto Ambiental

    SISNAMA: Sistema Nacional do Meio Ambiente

    UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

    WWF: World Wildlife Fund

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 01: Principais motivos que levam um empreendedor insero de um SGA em

    sua organizao ...................................................................................................................

    10

    Quadro 02: Principais leis ambientais ...............................................................................

    16

    Quadro 03: Perfil dos entrevistados ...................................................................................

    26

    Quadro 04: Perfil dos entrevistados em relao empresa ...............................................

    28

    Quadro 05: Concepes de meio ambiente .......................................................................

    31

    Quadro 06: Descrio do meio ambiente do entorno da empresa .....................................

    36

    Quadro 07: Concepes de educao ambiental ................................................................

    40

    Quadro 08: Percepo de impacto ambiental pelos entrevistados .....................................

    44

    Quadro 09: Percepo dos impactos ambientais que ocorrem no municpio ....................

    48

    Quadro 10: Motivos observados pelos entrevistados para a no-gerao de impactos

    ambientais pela empresa .....................................................................................................

    55

    Quadro 11: Conhecimento dos entrevistados sobre a ISO 14001 .....................................

    58

    Quadro 12: Conhecimento dos entrevistados sobre SGA ..................................................

    60

    Quadro 13: Conhecimento dos entrevistados sobre DS ....................................................

    62

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01: Distribuio dos entrevistados em relao faixa etria ..............................

    26

    Grfico 02: Escolaridade dos funcionrios entrevistados ................................................

    27

    Grfico 03: Distribuio dos entrevistados de acordo com seu cargo na empresa ..........

    28

    Grfico 04: Distribuio dos funcionrios conforme o tempo de prestao de servios

    na empresa ........................................................................................................................

    29

    Grfico 05: Percepo da gerao ou no de impactos ambientais pela empresa ...........

    53

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01: Resumo do que a EA pretende ......................................................................... 06

    Figura 02: As influncias sofridas pela empresa ............................................................... 11

    Figura 03: Mecanismo de ao da EA ............................................................................... 22

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    SUMRIO

    1. INTRODUO .................................................................................................................. 01

    2. JUSTIFICATIVA/OBJETIVO ........................................................................................ 02

    3. EMBASAMENTO BIBLIOGRFICO ........................................................................... 02

    3.1. Conceituao de meio ambiente e impacto ambiental ..................................................... 03

    3.2. Os primrdios da educao ambiental Conceituao e um breve histrico ................. 04

    3.3. Sistema de gesto ambiental ISO 14001 ....................................................................... 09

    3.4. A insero da varivel ambiental nas empresas e a busca pelo desenvolvimento sustentvel ................................................................................................................................

    11

    3.5. A importncia da legislao ambiental ............................................................................ 16

    3.6. A educao ambiental no mbito empresarial e a insero de programas de educao ambiental .................................................................................................................................

    19

    3.7. Anlise da percepo ambiental como mtodo de estudo da conscientizao empregada em programas de educao ambiental .................................................................

    23

    4. METODOLOGIA .............................................................................................................. 24

    4.1. A empresa estudada .......................................................................................................... 24

    4.2. Coleta de dados ................................................................................................................ 24

  • xii

    5. RESULTADOS E DISCUSSO ....................................................................................... 25

    5.1. Perfil dos entrevistados .......................................................................................... 25

    5.2. Concepes de meio ambiente ................................................................................ 30

    5.3. Concepes de educao ambiental ....................................................................... 40

    5.4. Percepo de impacto ambiental ............................................................................ 44

    5.5. Conhecimentos sobre assuntos ambientais atuais .................................................. 57

    5.5.1. ISO 14001 .................................................................................................... 57

    5.5.2. Sistema de gesto ambiental ........................................................................ 60

    5.5.3. Desenvolvimento sustentvel ....................................................................... 62

    6. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 64

    7. REFERNCIAS ................................................................................................................. 66

    ANEXOS ................................................................................................................................. 75

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    RESUMO

    Este estudo buscou analisar a percepo ambiental dos funcionrios de uma empresa de mdio porte do ramo borracheiro da cidade de Mandaguari, Paran, no intuito de estabelecer a atual situao da empresa em relao s questes ambientais e o modo como os funcionrios lidam com elas, sendo este um meio encontrado para levar uma possvel implantao de Programas de Educao Ambiental e/ou Sistemas de Gesto Ambiental na empresa, o que pode melhorar sua imagem frente mdia, comunidade e aos clientes. Para esta anlise, foram realizadas entrevistas individuais com alguns de seus funcionrios, tendo sido adotada, ento, uma metodologia qualitativa. Os funcionrios participantes da pesquisa atuam em diferentes setores da empresa, sendo a maioria encarregada por algum setor. As respostas obtidas na pesquisa demonstraram divergncias nas concepes de meio ambiente e impacto ambiental, o que mostra uma necessidade de serem trabalhados tais conceitos para uma conscientizao mais aprofundada dos funcionrios. Apresentaram tambm baixo conhecimento a respeito de alguns termos ambientais atuais, como ISO 14001, Sistema de Gesto Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel, o que pode ser explicado pela falta de programas ambientais na empresa. A concluso de que existe a necessidade da implantao de tais programas, uma vez que seus funcionrios j esto aptos a atuar em prol do meio ambiente. A implantao de um Programa de Educao Ambiental poderia trazer excelentes melhorias competitivas e socioambientais. Palavras-chave: responsabilidade socioambiental, competitividade, varivel ambiental.

  • xiv

    ABSTRACT

    This study investigates the environmental perception of employees of a rubber products companys Mandaguari city, Paran, in order to establish the current situation of the company in relation to environmental questions and how the employees deal with it. This is a way found to lead the company to a possible implementation of environmental education programs and/or environmental management systems. This can benefit companys image ahead of the media, society and customers. For this analysis, individual interviews were conducted with some of employees, demonstrating the adoption of a qualitative methodology. Employees who participated in this research work in different sectors of the company. Most of them are responsible for a sector. The responses obtained in the study showed some differences in the concepts of environment and environmental impact, which shows a need to be worked on such concepts to a deeper awareness of employees. Also had little knowledge about some current environmental terms, such as ISO 14001, environmental management and sustainable development, which can be explained by the lack of environmental programs at the company. The conclusion is that there is a need to implement such programs, since employees are already able to act on behalf of the environment. The implementation of an environmental education program could bring great improvements to social, environmental and competitive for the company. Keywords: social and environmental responsibility, competitiveness, environmental variable.

  • 1

    1. INTRODUO

    Com o advento da urbanizao e da tecnologia, o ramo industrial cresceu

    exponencialmente, trazendo s pessoas bem-estar proveniente das novas tecnologias, da

    inveno de aparelhos de uso cotidiano e da produo em massa. Todavia, toda essa

    produo tem um preo, e a poluio do ar, da gua e do solo se tornaram inevitveis, j

    que todos os processos fabris geram resduos.

    Aos poucos, a sociedade foi percebendo o problema que vinha sendo gerido

    desde as pocas remotas. Pesquisadores do mundo todo comearam uma corrida para frear

    o avano da destruio do meio ambiente1, no intuito de se permitir melhores condies de

    vida s geraes presentes e futuras. A preocupao com o futuro da existncia humana

    entrou em cena e hoje os assuntos ambientais esto em pauta, sendo discutidos em

    convenes, congressos e conferncias internacionais.

    Tais assuntos passaram a interferir tambm no cotidiano industrial, trazendo

    tona a necessidade de se tomar iniciativas concretas para a diminuio de IAs provenientes

    deste setor (DONAIRE, 1995). Esta inquietao vem aumentando e a varivel ambiental

    poder ser potencialmente incorporada, a ponto de mudar a conformidade administrativa e

    funcional da empresa, com a finalidade de se adequar s demandas do mercado atual e s

    leis que o regem (CORAZZA, 2003; DONAIRE, 1995; FRITZEN; MOLON, 2008).

    A Educao Ambiental (EA) entrou neste cenrio com o objetivo de reforar as

    aes em prol da conscientizao de toda a equipe empresarial, j que esta tem sido

    causadora direta, por meio de suas atividades, de IAs. Diante disso, repensar em como a EA

    pode se tornar um estmulo tomada de atitudes dos empreendedores torna-se instigante.

    Outra questo que pode ser levantada a situao atual de uma empresa de

    mdio porte quando se trata de assuntos ambientais. Sabe-se que uma empresa que

    manipula a borracha gera resduos que, em contato com a gua e/ou com o solo, podem

    causar srios impactos. Assim, fica a pergunta: como os funcionrios desse ramo industrial

    veem as questes ambientais? Eles esto ambientalmente educados? Visando alcanar

    respostas, esta pesquisa foi gerida por meio da anlise de dados qualitativos, obtidos em

    entrevistas, destacando a atual percepo destas pessoas quanto ao meio ambiente, com

    1 A expresso meio ambiente, na verdade, rene dois substantivos redundantes: meio (do latim mediu) significa tudo aquilo que nos cerca, um espao em que estamos inseridos; e ambiente (do latim ambi: ao redor, volta; e ire: verbo ir), portanto, tudo o que vai volta (TRIGUEIRO, 2003, p.77).

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    possibilidade de se implantar, futuramente, programas de educao ambiental na empresa

    estudada.

    Assim, este trabalho traz, de antemo, alguns tpicos sobre a conceituao de

    meio ambiente e de Impacto Ambiental (IA). Traz tambm a conceituao e o histrico da

    EA, bem como sua atuao no ramo empresarial. Reflete a importncia da Legislao

    Ambiental (LA) e sua interferncia sobre as atividades de uma empresa, j que est

    interligada questo do Desenvolvimento Sustentvel (DS) na corrida pelo equilbrio entre

    o econmico e o ecolgico. Fala ainda da influncia da varivel ambiental no mbito

    empresarial, o que pode tornar-se alvo de preocupao para a elite empreendedora quando o

    assunto unir sua atividade capital ao equilbrio do meio ambiente. Diante desse aspecto,

    falar do Sistema de Gesto Ambiental (SGA) torna-se imprescindvel. Por fim, ser

    abordada a EA no contexto empresarial e a importncia da implantao de Programas de

    Educao Ambiental (PEAs) nas organizaes. Tambm sero associados PEAs e

    Percepo Ambiental (PA), j que este ltimo acaba por tornar-se um instrumento para a

    realizao do primeiro.

    2. JUSTIFICATIVA / OBJETIVO

    O principal objetivo deste trabalho verificar a PA dos funcionrios de uma

    empresa do ramo borracheiro do municpio de Mandaguari, Paran, em relao s suas

    concepes ambientais.

    Tal estudo pode desenvolver uma necessidade de implantao de um SGA na

    empresa participante, melhorando sua imagem corporativa e lhe trazendo, com isso,

    vantagens competitivas.

    Alm disso, visa estimular a insero de um PEA, o que pode promover a

    sensibilizao e a conscientizao propostas pela EA, bem como melhorar a situao

    ambiental do municpio. Os dados observados na anlise da PA dos funcionrios de uma

    empresa podem demonstrar a maneira com que a alta administrao lida com as questes

    ambientais.

    3. EMBASAMENTO BIBLIOGRFICO

  • 3

    3.1. Conceituao de meio ambiente e impacto ambiental

    A palavra meio ambiente tem sido utilizada em diversos ramos de estudos e

    servios, uma vez que a preocupao com sua preservao vem crescendo

    exponencialmente. Hoje, profissionais de diferentes reas esto em busca de uma melhor

    compreenso quanto s questes to debatidas em eventos relacionados problemtica

    ambiental, no intuito de se conquistar um maior nvel de conhecimento e utiliz-lo para a

    soluo e/ou amenizao desses problemas. A criao dessa conscincia, a nvel global,

    trouxe os aspectos ecolgicos para o setor econmico, manifestando-se a necessidade de se

    preservar o meio em que se vive, e de onde so tiradas as matrias-primas para a produo

    de artigos para uso humano, para que se possa continuar usufruindo desses bens

    garantindo a subsistncia da economia , e tambm para que seja possvel manter as

    condies adequadas para a vida no planeta permitindo a subsistncia do prprio ser

    humano.

    Exatamente por esse motivo, quando se fala em meio ambiente, logo se vem

    mente os conceitos de ecologia, uma vez que esto relacionados com essa subsistncia.

    Contudo, necessrio lembrar que esse meio ambiente tambm diz respeito ao local criado

    pelo homem, modificado por suas prprias mos. o que explana Barbieri:

    [...] por meio ambiente se entende o ambiente natural e o artificial, isto , o ambiente fsico e biolgico originais e o que foi alterado, destrudo e construdo pelos humanos, como as reas urbanas, industriais e rurais. (BARBIERI, 2004, p. 02).

    O autor deixa, ainda, sua definio para o termo, como sendo tudo o que

    envolve ou cerca os seres vivos (op. cit.).

    Quando se fala da definio legal de meio ambiente, pode-se citar a que est

    contida na Lei n 6.938/81, a Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA):

    Meio ambiente - Conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (BRASIL, 1981).

    Portanto, pode-se construir o conceito de meio ambiente quando se designa todo

    o ambiente no qual os seres viventes se encontram inseridos. importante lembrar que a

    palavra no se refere apenas rvore, ao rio, ou a qualquer outro elemento da natureza, mas

  • 4

    tambm desse ambiente criado pelo homem. No faz sentido preservar uma rea verde e

    no cuidar da prpria rea urbana, onde a maioria das pessoas est, hoje, habitando.

    O IA, por sua vez, definido pela Resoluo n 306/02 do Conselho Nacional

    do Meio Ambiente (CONAMA):

    XI - Impacto ambiental: qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a sade, a segurana e o bem-estar da populao, as atividades sociais e econmicas, a biota, as condies estticas e sanitrias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 2002).

    Moreira (1997, p. 05) faz um comentrio interessante sobre esse conceito,

    apontando a abrangncia dessas alteraes das propriedades do meio ambiente, uma vez

    que [...] pode abranger desde uma simples brisa at a exploso de uma bomba atmica,

    pois ambas alteram as propriedades do ar. O mesmo autor destaca o conceito dado para

    este termo por Murguel Branco (1984), como sendo [...] uma poderosa influncia exercida

    sobre o meio ambiente, provocando o desequilbrio do ecossistema natural.

    Sendo assim, destacam-se as propriedades benficas e malficas de um IA, uma

    vez que pode ou no causar algum tipo de alterao negativa no meio ambiente. Quando

    causa essa alterao negativa, portanto, pode-se dizer que um IA malfico, traz prejuzos

    (provoca desequilbrios) e , geralmente, provocado por aes humanas (MOREIRA,

    2005). Um exemplo de IA causado pelo homem e que traz grandes prejuzos ao meio

    ambiente o lanamento de efluentes lquidos em corpos dgua prximos a reas

    industriais. Excedendo-se os limites de assimilao desse corpo dgua para as substncias

    ali lanadas, pode ocorrer a morte dos organismos que ali se encontram. Havendo uma

    espcie em potencial risco de extino, o que ocorre a diminuio da biodiversidade, o

    que um dano irreversvel, uma vez que no se pode recolocar todas as espcies antes

    presentes naquele ecossistema.

    3.2. Os primrdios da educao ambiental Conceituao e um breve histrico

    Vrios autores buscaram conceituar a EA. No obstante, a Lei 9.795, de 27 de

    abril de 1999, descreve sobre a EA em seu Art. 1:

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    CAPTULO I - DA EDUCAO AMBIENTAL Art. 1. Entende-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999).

    Dias (2004) traz vrios conceitos para a EA, vindos de diferentes autores, e

    fomenta a interao e o complemento entre todos eles, j que essa cincia possui um

    aspecto holstico2. Dentre eles est o que diz Minini:

    A Educao Ambiental um processo que consiste em propiciar s pessoas uma compreenso crtica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posio consciente e participativa, a respeito das questes relacionadas com a conservao e adequada utilizao dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminao da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. (MININI, 2000 apud DIAS, 2004, pg. 99).

    Ao analisar o que o autor explicita, fica claro que a EA no um mtodo de

    ensino que propiciar apenas saberes ecolgicos aos cidados ainda em desenvolvimento,

    como muitos ainda pensam, mas um processo de contnuo aprendizado que visa ampliar a

    sensibilidade ambiental das pessoas e ensin-las a cuidar do meio que as cercam,

    abrangendo todas as classes sociais, faixas etrias, sexos e etnias, incentivando a

    participao das pessoas na busca de resolues para os problemas de cunho social e

    ambiental. Olhando por esse aspecto, Dias tambm deixa sua definio:

    Acredito que a Educao Ambiental seja um processo por meio do qual as pessoas apreendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade. (DIAS, 2004, p. 100).

    O autor ainda esboa um esquema que define bem o que a EA pretende, sendo

    esta a mola propulsora para se encontrar solues para os problemas ambientais, sejam

    estas a curto, mdio ou longo prazo.

    2 A Carta de Belgrado, proveniente de um evento ocorrido em 1975, em Belgrado, Iugoslvia, fala dos problemas sociais mundiais, como a fome, o analfabetismo, a poluio, a explorao e a dominao. Assim, diz que no mais aceitvel lidar com esses problemas cruciais de uma forma fragmentada (DIAS, 2004, p. 102). Essa forma fragmentada o oposto da forma holstica, que a viso da totalidade e no s das partes. Holos, da lngua grega, a totalidade, que pode aplicar-se a um todo pequeno como a um todo de grandes propores, at alcanar o todo planetrio (COIMBRA, 2004, p. 554).

  • 6

    Figura 01 Resumo do que a EA pretende. (Extrado de: DIAS, 2004, p.100).

    Diante da crescente devastao ambiental, criar um modelo educacional para

    desaceler-la tornou-se um passo de grande importncia para toda a sociedade, at porque

    tal atitude traria solues a curto, mdio e longo prazo. Atividades pedaggicas servem de

    base para a EA na escola, mas colaboram tambm com sua realizao fora dela. Alguns

    acontecimentos foram marcos importantes para o desenvolvimento da EA. A seguir sero

    expostos alguns.

    O alerta que a pesquisadora Rachel Carson3 fez com a publicao de Primavera

    Silenciosa, em 1962, trouxe populao de todo o mundo a tomada de conscincia frente

    ao modo como eram tratados os assuntos ambientais. O trabalho de Carson teve grande

    repercusso e levou autoridades e educadores a discutir a introduo desses assuntos na

    esfera escolar, a fim de formar cidados aptos a lidar com o meio ambiente de um modo

    mais consciente e menos agressivo (DIAS, 2004).

    O relatrio Os limites do crescimento, publicado pelo Clube de Roma, em 1972,

    foi outro importante documento que impulsionou os estudos voltados ao meio ambiente e

    sua conservao. Nele, o crescimento populacional e os recursos naturais finitos so

    3 Biloga marinha norte-americana especialista em preservao ambiental, nascida em Springdale, Pensilvnia, em 1907. Em Silent Spring (1962), ela questionou o uso de pesticidas qumicos e foi responsvel pela levantamento mundial da questo da preservao do ambiente (NETSABER, [s.d.]).

  • 7

    discutidos, alertando que um choque entre esses dois tpicos traria resultados desastrosos.

    Tal afirmao veio com feio apocalptica e assustou a populao da poca, levando-a a

    repensar em seu padro de vida, que tinha o consumismo desenfreado como base no

    sendo diferente atualmente. O medo de que os recursos naturais findem um dia ou pelo

    menos no sejam suficientes para o suporte de toda a populao mundial recorrente e

    repercute ainda hoje. No difcil pensar nas guerras que podem ainda ocorrer em virtude

    da necessidade de maiores quantidades de energia, gua e alimentos, assim como hoje se v

    pelo domnio de petrleo. Temendo esse cenrio, e tomando conscincia de que isso pode

    no ser to fictcio quanto parece, a corrida por outras fontes de energia ganhou fora nestes

    ltimos anos, bem como a preocupao dos lderes mundiais frente s questes ambientais

    (DIAS, 2004).

    Ainda em 1972, realizou-se a Conferncia da Organizao das Naes Unidas

    (ONU) sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, reunindo representantes de 113 pases,

    na finalidade de estabelecer uma viso global e princpios comuns que sirvam de

    inspirao e orientao humanidade, para a preservao e melhoria do ambiente humano

    (DIAS, 2004, p. 369).

    Em 1975, em Belgrado, Iugoslvia, ocorreu um encontro internacional sobre

    Educao Ambiental, onde foram tratados meios de se promover um Programa

    Internacional de EA, o que deu origem Carta de Belgrado, um importante documento que

    aborda a questo ambiental com bastante clareza, deixando as bases para a efetiva

    elaborao do Programa Internacional de EA proposto no encontro, como o

    desenvolvimento de uma nova tica global para que fossem promovidas atitudes na busca

    para o equilbrio do ser humano com o meio onde vive (DIAS, 2004).

    A Primeira Conferncia Intergovernamental sobre Educao Ambiental

    aconteceu em Tbilisi, na Gergia (ex-URSS), em 1977, pela UNESCO com apoio do

    Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), tornando-se um marco na

    histria da EA e um ponto de referncia para estudiosos da rea. Segue-se trechos da

    Declarao da Conferncia que fomentam a necessidade de uma EA global:

    A EA deve dirigir-se a pessoas de todas as idades, a todos os nveis, na educao formal e no-formal. Os meios de comunicao social tm a grande responsabilidade de pr seus enormes recursos a servio dessa misso educativa. [...]

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    A EA, devidamente entendida, deveria constituir uma educao permanente, geral, que reaja s mudanas que se produzem em um mundo em rpida evoluo. Essa educao deveria preparar o indivduo, mediante a compreenso dos principais problemas do mundo contemporneo, proporcionando-lhe conhecimentos tcnicos e qualidades necessrias para desempenhar uma funo produtiva, com vistas a melhorar a vida e proteger o meio ambiente, prestando a devida ateno aos valores ticos. (DIAS, 2004, p. 105).

    Outro grande marco na histria do ambientalismo foi a sano da Lei n 6938,

    em 31 de agosto de 1981, dispondo sobre a PNMA, tendo por objetivo:

    [...] a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando assegurar, no Pas, condies ao desenvolvimento scio-econmico, aos interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida humana. (BRASIL, 1981).

    Trouxe consigo a criao do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA),

    estabelecido no artigo 6.

    O ano de 1987 foi tambm de grande impacto quando o assunto era meio

    ambiente. O Conselho Federal de Educao (CNE-MEC), em maro, aprovou a insero da

    EA nos parmetros curriculares das escolas de 1 e 2 graus (DIAS, 2004). No ms

    seguinte, foi divulgado o relatrio da Comisso de Brundtland, Nosso Futuro Comum, que

    veio apregoando a necessidade de um desenvolvimento sustentvel, aliando a preservao

    do meio ambiente e as metas da economia internacional (CMMAD, 1991).

    No Brasil, a Portaria 678 do MEC, de 14 de maio de 1991, determinou que a EA

    deveria ser inserida nos currculos de todos os nveis e modalidades de ensino. Em

    novembro, aconteceu o Encontro Nacional de Polticas e Metodologias para EA, promovido

    pelo MEC e pela Secretaria do Meio Ambiente, sediado em Braslia e apoiado pela

    UNESCO (DIAS, 2004). V-se que as conceituaes de EA feitas nos anos anteriores

    atravs dos encontros internacionais sobre meio ambiente trouxeram, aos poucos, diretrizes

    para que se pudesse implantar aes educativas, com a finalidade de alcanar as metas

    firmadas por estes encontros. Mais tarde, em 1997, os Parmetros Curriculares Nacionais

    (PCNs) divulgados pelo MEC vieram com a temtica ambiental fixada de modo transversal,

    como meio de se trabalhar a EA de forma multi, trans e interdisciplinar (DIAS, 2004).

    A Conferncia Rio-92 ou Eco-92, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992,

    foi um dos mais importantes acontecimentos para se tratar de questes socioambientais. A

  • 9

    criao da Agenda-214 veio como uma estratgia para alcanar a sustentabilidade, o

    principal objetivo nomeado pela Conferncia. A EA foi tida como o processo de promoo

    estratgico desse novo modelo de desenvolvimento (DIAS, 2004, p. 50).

    Durante todos os anos citados, muitos outros eventos sobre meio ambiente

    aconteceram, tanto nos prprios como em anos subsequentes. Eventos como esses ainda so

    realizados e no faltaro no futuro, pois uma vez dada a largada para a tomada de atitudes

    em prol do equilbrio entre as atividades humanas e suas consequncias na natureza, no

    mais se volta atrs, obtendo-se cada vez mais informaes e metodologias para que isso seja

    possvel.

    3.3. Sistema de gesto ambiental IS0 14001

    A sigla ISO vem de Internacional Organization for Standardization

    (Organizao Internacional de Padronizao), e tem por objetivo padronizar a produo dos

    mais variados setores, para unificar o comrcio e a comunicao do mundo todo. essa

    organizao que desenvolve as diversas sries, como a 9000 e tambm a 14000. A primeira,

    j bastante conhecida, estabelece normas para garantir a qualidade da empresa, de seus

    produtos, de seu processo de produo. A ltima, por sua vez, foi feita para o

    gerenciamento ambiental internacional (GARCIA, 2006). Dentre a srie 14000, est o

    certificado ISO 14001, que o primeiro dela, e se refere ao SGA. Por isso, muitas vezes, os

    termos surgem em conjunto.

    Corra tambm explana esse assunto:

    A certificao ambiental um processo de verificao, por uma terceira parte emissora do certificado, de que determinada empresa atua de acordo com certos critrios uniformes em relao ao meio ambiente, estabelecidos numa norma tcnica. Quando h conformidade entre o sistema de gesto ambiental praticado pela empresa e os critrios estabelecidos na norma tcnica, a entidade certificadora confere a certificao empresa. Uma vez obtida a certificao, sua manuteno depende de resultados a serem verificados por auditorias peridicas. [...] A certificao ambiental desenvolve-se pelos critrios das normas iso srie 14000. (CORRA, 2006, p. 128).

    4 Documento que se prope a traduzir em aes o conceito de desenvolvimento sustentvel [...]. um plano de ao a ser adotado globalmente, nacionalmente e localmente para promover um novo modelo de desenvolvimento [...] (MOUSINHO, 2003, p. 334).

  • 10

    Quando se fala em SGA, portanto, tem-se o conjunto de aes de uma organizao

    a respeito de sua postura frente s questes ambientais, na tentativa de evitar que suas

    atividades causem potenciais danos ao meio ambiente. A Resoluo 306/02 do CONAMA

    tambm traz uma definio para SGA:

    XVIII - Sistema de gesto ambiental: a parte do sistema de gesto global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, prticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a poltica ambiental da instalao. (BRASIL, 2002).

    Muitos empreendedores tm procurado a insero de um SGA adequado em seu

    ambiente empresarial. Os motivos que os levam a essa tomada de deciso so diversos

    (Quadro 01), mas no so nicos, j que cada um deles englobado pelos objetivos da alta

    administrao para com esta implementao.

    Quadro 01. Principais motivos que levam um empreendedor insero de um SGA em sua

    organizao.

    Setor Motivo

    Legislao Legalizar-se e evitar futuras penalizaes advindas da fiscalizao ambiental.

    Mercado Atualizar-se e integrar-se ao mercado atual, com finalidades competitivas.

    Consumidor Sucumbir s exigncias da comunidade em geral, tanto quanto s das organizaes sociais.

    Financeiro Reduzir custos e desperdcios.

    Marketing Manuteno de sua imagem frente mdia para posterior aproveitamento desta imagem para propagandas e elevao de lucros.

    Conscincia Percepo e subsequente ao frente aos impactos ambientais gerados, com plena conscincia de seu compromisso com o desenvolvimento sustentvel e com a conservao do meio ambiente.

  • 11

    Fonte: Organizado a partir de DONAIRE, 1995.

    Porm, independentemente dos fatores que levam uma determinada empresa a

    implantar um SGA, interessante observar os efeitos que um PEA causa nos trabalhadores

    dessa empresa e tambm a que tipo de interao voltada EA eles reagem melhor. Pedrini

    (2008, p. 27) diz que [...] o xito do SGA depende da participao de todos os

    funcionrios. Utilizando diferentes mtodos, possvel avaliar a disposio dos

    colaboradores para com as futuras implementaes de um SGA, caso a empresa no o

    tenha, ou para com a permanncia e efetivao desse SGA, caso a empresa j desfrute de

    um. Para enfatizar este aspecto, pode-se citar Donaire, que aborda os princpios da gesto

    ambiental, onde o 4 diz respeito necessidade de [...] educar, treinar e motivar o pessoal,

    no sentido de que possam desempenhar suas tarefas de forma responsvel em relao ao

    ambiente (DONAIRE, 1995, p. 61).

    3.4. A insero da varivel ambiental nas empresas e a busca pelo desenvolvimento

    sustentvel

    Como j se sabe, o ramo empresarial tem sofrido grande influncia por parte da

    problemtica ambiental. Isso no demonstra, porm, que ele necessariamente aderiu

    ideologia ambientalista. Barbieri (2004) frisa bem essa questo quando lista o governo5, a

    sociedade, e o mercado como influncias para as decises ambientais das empresas (Figura

    02).

    Figura 02 As influncias sofridas pela empresa. (Extrado de: BARBIERI, 2004, p.99).

    Na figura, Barbieri exps as setas em tamanhos diferentes no propsito de

    demonstrar a intensidade de influncia que um fator tem sobre o outro. A sociedade, o 5 Sero discutidos os aspectos da Legislao Ambiental, que o modo de presso do governo sobre as empresas, no item 3.5.

  • 12

    governo e o mercado so igualmente influenciados uns pelos outros, pois possuem uma

    relao intrnseca e igualitria. A relao sociedade-empresa, contudo, aparece com duas

    setas, uma mais estreita que a outra, demonstrando que quem controla o andamento da

    empresa a sociedade e no o contrrio. interessante notar, ento, que a empresa, por si

    s, no tem controle significativo sobre os outros trs fatores. Por outro lado, estes exercem

    grande presso sobre ela.

    Na sociedade est contido aquele que garante a sobrevida de uma empresa o

    consumidor. Como as pessoas esto mais conscientes6, as empresas acabam por seguir

    aquilo que elas reconhecem como ambientalmente correto, no intuito de corresponder s

    expectativas do consumidor sobre os produtos e ainda aumentar a demanda destes. Donaire

    (1995) coloca que o consumidor uma ameaa to grande s organizaes quanto os

    prprios rgos ambientais fiscalizadores.

    De fato, a sociedade imprime uma forte presso sobre as empresas, que acabam

    cedendo aos seus anseios. Se cuidar do meio ambiente se tornou uma questo tica, que

    interfere na conscincia humana sobre as concepes do que afeta positiva ou

    negativamente esse meio, cabe s empresas, que esto diretamente ligadas aos fatores

    sociais, adequar-se a essas concepes. Essa afirmao pode ser confirmada por Archie B.

    Carrol, ao dizer que [...] a responsabilidade social das empresas diz respeito s

    expectativas econmicas, legais, ticas e sociais que a sociedade espera que as empresas

    atendam, num determinado perodo de tempo (CARROL, 1979 apud DONAIRE, 1995, p.

    22).

    O mercado internacional insere maiores exigncias aos produtos e relaciona

    baixos custos sociais e ambientais com uma pequena ou at ausente preocupao com as

    questes socioambientais (BARBIERI, 2004). Isso acaba levando o empreendedor a

    adquirir certificao para ter uma imagem ambientalmente confivel e que sublinhe o

    compromisso da empresa com o meio ambiente. Garcia (2006) aponta que certos ramos

    industriais dependentes da explorao de recursos naturais so condicionados obteno de

    um certificado que vise sua preocupao ambiental, o que torna sua produo mais

    condizente com a demanda mercantil e expressa uma certa superioridade na qualidade de

    seus produtos. Os diversos fatores que levam uma empresa a investir na varivel ambiental

    podem influenciar, propriamente, no modo em que esta empresa v a questo ambiental

    (MARCELOS-NETO, 2004).

    6 Nada menos que 81% declararam se sentir mais motivados a comprar quando lem que o produto foi produzido de maneira correta, do ponto de vista ambiental [...] (CRESPO, 2003, p. 69).

  • 13

    Barbieri (2004) tambm explana esse assunto levantando a questo dos

    investimentos. Uma empresa que no cumpre as leis ambientais gera passivos o que pode

    ser prejudicial aos futuros investidores. As empresas que esto em dia com suas

    responsabilidades socioambientais so marcadas como confiveis e isso lhes garante

    maior rentabilidade. Isso poder ser intensificado caso o Ministrio do Meio Ambiente

    (MMA) coloque em prtica o chamado Registro de Emisso e Transferncia de Poluentes7,

    a partir de 2011, onde os nomes das empresas poluentes sero divulgados para a populao

    (REBIA, 2010).

    A internalizao dos lucros e a externalizao dos custos o que garante que a

    empresa alcance seu objetivo acumular capital. Donaire relata a preocupao da alta

    administrao ao deparar-se com a necessidade de insero da varivel ambiental na

    empresa:

    Quando consideramos a questo ambiental do ponto de vista empresarial, a primeira dvida que surge diz respeito ao aspecto econmico. A idia que prevalece de que qualquer providncia que venha a ser tomada em relao varivel ambiental traz consigo o aumento das despesas e o conseqente acrscimo dos custos do processo produtivo. (DONAIRE, 1995, p. 51).

    O principal interesse da alta administrao garantir que sua empresa continue

    funcionando, fazendo para isso o que for necessrio. Mexer na parte financeira de uma

    organizao sempre difcil, principalmente quando se fala em inserir programas

    ambientais, j que para muitos tais programas parecem suprfluos e no-rentveis. O que

    muita gente no sabe que uma empresa que adquire um SGA e/ou um PEA, diminui

    gastos com a compra de matria prima, se a ao adotada for, por exemplo, a reutilizao de

    materiais que seriam descartados.

    Mesmo assim, na ausncia desses programas ambientais, as atitudes dotadas de

    uma boa avaliao e de engenhosidade podem fazer com que o empreendimento lide com

    as dificuldades dessa implantao e aprenda novos meios para conduzir sua conduta

    ambiental. o que diz Donaire:

    [...] algumas empresas, porm, tm demonstrado que possvel ganhar dinheiro e proteger o meio ambiente mesmo no sendo uma organizao que atua no chamado mercado verde, desde que as empresas possuem certa dose de criatividade e condies internas que possam transformar as

    7 O texto pode ser encontrado nos anexos.

  • 14

    restries e ameaas ambientais em oportunidades de negcios. (DONAIRE, 1999 apud TINOCO; KRAEMER, 2004, p. 132).

    Possuindo ou no um SGA e/ou uma PEA, as empresas acabam entrando na

    chamada competitividade verde8, sendo este o principal fator que amplia o interesse de uma

    empresa em concordar com a regulamentao ambiental (SARAIVA DE SOUZA, 1993). A

    expanso tecnolgica conquistada atravs da presso competitiva pode trazer futuros lucros,

    pois os autores Porter e van der Linde tambm concluem que:

    [...] muitas das empresas que se enquadram s exigncias da legislao ambiental, desenvolveram inovaes tecnolgicas atravs do aproveitamento de oportunidades surgidas quando da reviso dos produtos, processos e mtodos de operao tradicionais; tais inovaes, por sua vez, resultaram no aumento da competitividade dessas empresas. (PORTER; VAN DER LINDE, 1995 apud REYDON et. al., 2007, p. 04).

    Assim, fica claro que os empresrios buscam a manuteno de suas atividades.

    O receio da queda abrupta de seus lucros e da perda do que j foi alcanado um fator de

    grande relevncia quando se fala em ambientalismo empresarial.

    Existe uma inquietao no que diz respeito continuidade de seu funcionamento

    diante da possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, o que Leff (1993 apud

    Layrargues, 1998, p. 36) chama de racionalidade/conscincia econmica. V-se, com isso,

    que a preocupao com a economia acaba levando realizao da idealizao dos

    ambientalistas, o que demonstra a intrnseca relao entre os dois grupos.

    Dentro desse contexto, surge o mote do DS, que descrito originalmente pela

    Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD):

    A humanidade capaz de tomar o desenvolvimento sustentvel de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as geraes futuras atenderem tambm s suas. (CMMAD, 1991).

    A questo do DS foi e ainda muito discutida no que diz respeito sua sugesto

    persistente de promover mudanas no cenrio econmico mundial. Existe um conflito entre

    ideais ambientalistas e perspectivas econmicas, onde muitos pases desenvolvidos

    8 O argumento central por trs da competitividade verde o de ambientalismo empresarial, ou seja, o perfil da empresa moderna com relao ao meio ambiente a qual qualifica a gesto ambiental como o novo instrumento de competitividade empresarial (REYDON et al., 2007, p. 03).

  • 15

    procuram implantar e realizar atividades em prol do meio ambiente, enquanto que os pases

    em desenvolvimento procuram seu crescimento financeiro, no intuito de alcanar o patamar

    de pas desenvolvido. No caso do Brasil, como apontam os autores Philippi Jr. e Bruna

    (2004, p. 664-665), [...] na viso ecologista, a questo econmica estava agredindo o meio

    ambiente e [...] na viso econmica, a questo ecolgica estava dificultando o

    desenvolvimento do pas.

    importante considerar, contudo, que a ecologia e a economia esto fortemente

    interligadas. Dias (1999) defende esta ideia quando cita que [...] de nada adianta termos

    desenvolvimento econmico sem termos desenvolvimento social. Tambm de nada adianta

    termos os dois sem que tenhamos um ambiente saudvel!. Assim, a mera preocupao em

    acumular capital pode se tornar uma atitude incoerente diante das mudanas climticas

    provenientes da extrao e da manipulao dos recursos naturais praticados pelo ser

    humano desde os tempos remotos e que esto aumentando sua frequncia gradativamente.

    Fica claro que a evoluo da economia depende dessa manipulao, j que seus produtos

    advm dessa prtica. Contudo, no artigo do Instituto Ethos (KISHINAME, 2004, p. 388),

    afirma-se que a atividade empresarial s faz sentido se assume o compromisso de no

    colocar em risco sua existncia. Brown (1993, p. 43) tambm segue essa linhagem quando

    afirma que [...] deve-se fazer ajustes em nossos padres de consumo, poltica

    demogrfica e sistema econmico se quisermos preservar os fundamentos biolgicos da

    economia. Seguindo essa lgica, sem recursos naturais, no existem produtos e, sem estes,

    no h gerao de renda e a economia fica desfalcada.

    Assim, a ideia de sustentabilidade deve ser levada adiante, pois ignor-la pode

    antecipar a possibilidade de desastres naturais provenientes da degradao ambiental.

    Barbieri (apud CAMARGO et al., 2004, p. 413) aponta para esse contexto quando denuncia

    que [...] aquecimento global, destruio da camada de oznio, perda de espcies,

    desertificao, contaminaes e outros problemas ambientais so sinais inequvocos de que

    os limites da capacidade de suporte da Terra j foram ultrapassados. O autor ainda diz que,

    [..] ao mesmo tempo, apesar do elevado grau de degradao ambiental, h bilhes de

    humanos vivendo abaixo da linha mnima de subsistncia. Conclui-se, dessa forma, que a

    chamada responsabilidade socioambiental empresarial sobrevm desse aspecto, j que as

    empresas devem estabelecer um compromisso para com a sociedade em geral e buscar a

    diminuio desses problemas.

  • 16

    3.5. A importncia da legislao ambiental

    Cabe discutir, de antemo, que o Direito Ambiental (DA) um ramo do Direito

    que visa estabelecer normas jurdicas em prol do equilbrio ambiental, tal qual a

    conservao e a proteo do bem ambiental. Traz consigo diversos princpios e mecanismos

    para que tal equilbrio seja garantido, colocando o meio ambiente e seus elementos como

    prioridade na busca de efetivar o ideal proposto pelo DS. importante considerar o DA

    como uma cincia multi e transdisciplinar, pois aglomera saberes da Biologia, da

    Engenharia, da Sociologia e da Geologia, por exemplo. Sendo assim, sua aplicao

    necessita da colaborao de diversos profissionais (PEDRO; FRANGETTO, 2004).

    So vrias as leis que regem as normas ambientais. As mais importantes, porm,

    se destacam no Quadro 02, ordenadas conforme o ano de publicao.

    Quadro 02. Principais leis ambientais.

    Lei Ano Assunto

    Lei 6.938 1981 Poltica Nacional do Meio Ambiente

    Res. CONAMA 001 1986 Obrigatoriedade do EIA9

    Res. CONAMA 009 1987 Audincias Pblicas (RIMA10)

    Artigo 225 C/F 1988 Direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

    Lei 7.735 1989 Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    Lei 9.605 1998 Lei de Crimes Ambientais

    Lei 9.795 1999 Educao Ambiental e Poltica Nacional de Educao Ambiental

    9 Estudo de Impacto Ambiental, que deve ser feito antes da abertura de empreendimentos altamente poluidores, a fim de analisar a intensidade dos impactos provenientes de suas atividades e control-los posteriormente. 10 Relatrio de Impacto Ambiental, que se faz conjuntamente com o EIA e torna a linguagem deste mais fcil de ser entendida, sendo ento utilizado nas audincias pblicas.

  • 17

    Lei 9.985 2000 Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    Lei 9.984 2000 Agncia Nacional das guas

    Fonte: BRASIL, Portal do IBAMA [s/d].

    Diante de toda a problemtica ambiental enfrentada pelo ramo industrial, a

    soluo encontrada foi recorrer s mais variadas estratgias administrativas e operacionais,

    com a finalidade de imunizar-se contra os danos que pode vir a sofrer em virtude do manejo

    de recursos naturais e da emisso de resduos11. Em outras palavras, busca-se enfrentar as

    penalidades prometidas pela fiscalizao atravs da regulamentao ambiental (BARBIERI,

    2004). Este desafio vem sendo encarado por indstrias pertencentes aos mais variados

    ramos produtivos, o que faz da LA um instrumento de efetivao da idealizao de um

    mundo ecologicamente equilibrado e que consta no caput do Artigo 225 da Constituio

    Federal de 1988:

    Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as futuras geraes. (BRASIL, 1988).

    Dessa forma, todo e qualquer cidado tem o direito de exigir o equilbrio desse

    meio ambiente, o que lhe confere, direta ou indiretamente, capacidade de alterar o

    funcionamento de empresas atravs de reclamaes e manifestos, principalmente aqueles

    que esto envolvidos em organizaes ambientalistas (BARBIERI, 2004), podendo lev-las

    ao adiantamento da implantao de um SGA, uma vez que este sistema que vai lhes trazer

    sua regularizao frente s leis que protegem o meio ambiente e, de quebra, uma boa

    reputao frente mdia e comunidade, que, cada vez mais, integra-se s questes

    ambientais e, por isso, torna-se mais exigente com a preservao do meio ambiente

    (BARBIERI, 2004; DONAIRE, 1994).

    exatamente isso que prega o princpio da participao, o princpio da

    informao e o princpio da educao ambiental, que esto dentro do DA e que

    11 importante distinguir emisses industriais de poluio industrial. As emisses so os resduos da atividade industrial, que so em parte absorvidas pelo meio ambiente. Quando a capacidade assimilativa do meio ambiente inferior quantidade de emisses surge, ento, a poluio (YOUNG; LUSTOSA, 2001, p. 02).

  • 18

    determinam a chegada de informaes sobre meio ambiente comunidade como um todo

    (PEDRO; FRANGETTO, 2004), para que o objetivo do DA a concretizao do

    desenvolvimento sustentvel seja alcanado. Interessante ressaltar, aqui, a interligao

    entre a LA, a EA e o DS a prpria legislao vem abordando a necessidade de se

    promover uma EA para que o DS acontea.

    Barbieri, atravs do estudo de Porter e van der Linde, indica a necessidade dessa

    regulamentao e suas consequncias dentro de uma empresa, que podem ser muito

    vantajosas:

    A regulamentao necessria porque: (a) cria presses que motivam a realizao de inovaes pelas empresas; (b) melhora a qualidade ambiental quando a inovao no compensa o custo total da conformidade; (c) educa e alerta a empresa a respeito de ineficincias provveis e de reas potenciais para melhorias; (d) aumenta a probabilidade de que as inovaes de produtos e processos sejam mais amigveis ao meio ambiente; (e) cria demanda pelo aprimoramento ambiental, at que as empresas e os clientes sejam capazes de perceber e mensurar a ineficincia dos recursos como fonte de poluio; e (f) ajuda a nivelar o campo do jogo durante o perodo de transio, assegurando que nenhuma empresa ser capaz de ganhar posio por no efetuar os investimentos ambientais. (PORTER; VAN DER LINDE, 1999 apud BARBIERI, 2004, p. 73).

    Isso tambm demonstrado quando Layrargues (1998) comenta o lado positivo

    de uma LA complexa e restritiva. Segundo o autor, benefcios econmicos e sociais foram

    alcanados em pases desenvolvidos que possuem uma LA com os aspectos acima citados.

    de conhecimento, ento, que uma LA bem elaborada e bem empregada estimula a

    inovao tecnolgica (como os mtodos de produo mais limpos), o que vai levar ao

    aumento na competitividade e, consequentemente, em marketing e lucros. A estreita relao

    entre o Direito, a Economia e a Ecologia fica proeminente e a concluso de que [...] no

    h como dissociar o uso dos recursos econmicos do meio ambiente e do Direito (PEDRO;

    FRANGETTO, 2004, p. 620).

    A LA brasileira tida como avanada (DIAS, 2004), mas ainda est atrs de

    pases mais desenvolvidos, principalmente os da Europa. Para que alcance um melhor

    patamar, e necessrio, segundo Corra (2006, p. 118), [...] buscar novos meios para

    coloc-la em prtica e intensificar os j existentes. Este mesmo autor frisa o assunto j

    destacado anteriormente, ou seja, a necessidade da certificao ambiental atravs da

  • 19

    implementao de SGAs para que o setor econmico se adeque busca pelo

    desenvolvimento sustentvel. Contudo, o Estado deve interferir prontamente estimulando a

    entrada das empresas no mercado econmico para que no levem a certificao ambiental

    como mera barreira a esta entrada (op. cit.).

    A LA um instrumento fundamental para que se consiga um controle das

    atividades industriais. Mesmo assim, necessrio que a alta administrao compreenda que

    a manipulao desenfreada dos recursos naturais, juntamente com o lanamento excessivo

    de resduos, coloca em xeque a prpria existncia da atividade fabril. Quando a conscincia

    ambiental chegar aos indivduos responsveis por toda essa atividade e eles a executarem

    com os instrumentos necessrios, a LA ser concretizada. Pensando dessa forma, tem-se

    que:

    [...] a proteo ao meio ambiente deixa de ser uma exigncia punida com multas e sanes e se inscreve em um quadro de ameaas e oportunidades, em que as conseqncias passam a poder significar posies na concorrncia e a prpria permanncia ou sada do mercado. (DONAIRE, 1995, p. 37).

    3.6. A educao ambiental no mbito empresarial e a insero de Programas de Educao

    Ambiental

    Na corrida pela potencializao dos lucros, diminuio dos gastos, formao de

    uma imagem ecologicamente correta e legalizao junto aos rgos responsveis, entre

    outros fatores, o setor industrial encontra na EA uma das possveis sadas para, pelo

    menos, amenizar os IAs por ele causados (LAYRARGUES, 2001). importante lembrar

    que esta educao no se compromete apenas com a atmosfera escolar, mas tambm

    bastante til para o avano da varivel ambiental de uma indstria, utilizando-se

    principalmente do dilogo para a sensibilizao e, por conseguinte, conscientizao de seus

    colaboradores (MARGULIS, 1996; SILVA, 2006).

    A EA empresarial tida, ento, como uma educao no-formal12, e possui

    feies parecidas com a educao formal, com a mentalidade voltada s relaes ser

    humano/meio ambiente. Contudo, na empresa, [...] acrescenta-se a possibilidade de

    interferir na tomada de decises profissionais que possam interferir positiva ou 12 A EA no-formal aquela que acontece fora da escola. A formal, por sua vez, ocorre no espao escolar. No Art. 13 da Lei 9.795/99, encontra-se: entendem-se por educao ambiental no-formal as aes e prticas educativas voltadas sensibilizao da coletividade sobre as questes ambientais e sua organizao na defesa da qualidade do meio ambiente (BRASIL, 1999).

  • 20

    negativamente sobre a qualidade ambiental, conforme sugere Dias (1999, p. 30). Vendo

    por este lado, a EA volta-se capacidade de ao de um empreendimento no que diz

    respeito ao acrscimo de variadas tticas com intuito de resoluo de suas questes

    ambientais, ou seja, a EA far com que se tome iniciativas administrativas fundamentadas

    em sua necessidade de coordenao dos assuntos ambientais, influenciando todo o seu

    mbito gerencial (CORAZZA, 2003; SILVA, 2006).

    Alguns autores relatam a utilizao da EA como estratgia empresarial para a

    diminuio de seus problemas de cunho ambiental, a fim de reduzir emisses e controlar os

    IAs gerados:

    A Educao Ambiental nas empresas uma prtica educacional imprescindvel. recente a preocupao com aes educativas, principalmente de EA, em ambientes empresariais, por diversos motivos [...]. (PEDRINI, 2008). Alguns fracassos de mercado que levaram degradao ambiental resultam de uma carncia de informao. Por exemplo, na falta de informaes sobre a natureza e a extenso das emisses poluidoras das empresas, as comunidades locais podem no ter conscincia dos riscos potenciais e do que pode ser feito para reduzi-los. A informao e a educao podem ser eficazes para mobilizar a partes afetadas e aumentar o conhecimento acerca das condies ambientais e sanitrias. A educao ambiental, em particular, envolve campanhas pblicas, o uso dos meios de comunicao, seminrios, audincias e debates pblicos, e outros canais alm da mera educao formal. Os grupos-alvo, afora as comunidades diretamente afetadas, incluem operadores de instalaes de tratamento nas indstrias, procuradores, juzes e advogados para melhor cumprimento da legislao ambiental e o pessoal dos rgos de controle ambiental, para adquirirem conhecimentos sobre outros instrumentos de controle. (MARGULIS, 1996, p. 09). A educao ambiental conduz os profissionais a uma mudana de comportamento e atitudes em relao ao meio ambiente interno e externo s organizaes. A educao ambiental nas empresas tem um papel muito importante, porque desperta cada funcionrio para a ao e a busca de solues concretas para os problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu dia-a-dia, no seu local de trabalho, na execuo de sua tarefa, portanto onde ele tem poder de atuao para a melhoria da qualidade ambiental dele e dos colegas. Esse tipo de educao extrapola a simples aquisio de conhecimento. (VIEIRA, 2005 apud ADAMS, 2005, p. 39).

    A insero da EA no contexto empresarial ganhou fora com a ascenso da

    preocupao com a preservao ambiental. Silva indica algumas atividades importantes

    para a insero da EA no contexto empresarial e deixa evidente a necessidade de haver toda

    uma programao para alcanar os seus objetivos:

  • 21

    O processo de sensibilizao e conscientizao para as questes ambientais voltado para o pblico interno das empresas, comunidade de seu entorno e clientes, requer persistncia e continuidade de aes com este fim, como palestras, gincanas, sesses de filmes ambientais etc., alm da participao em fruns, conselhos, redes, comisses, coletivo educador, nos quais temas como agricultura, educao, desenvolvimento, tecnologia e meio ambiente norteiam as discusses. (SILVA, 2006).

    A partir do momento que uma empresa se insere na norma ISO14001, ela deve

    procurar meios de realizar aes educativas para seu pblico interno, alm de trein-los e

    sensibiliz-los ambientalmente. Por esse motivo, muitas empresas acabam implantando

    PEAs, at porque os prprios rgos de Proteo Ambiental vm exigindo essa

    implantao, uma vez que s atravs dela uma empresa garante suas licenas ambientais

    (ABREU, 2008).

    As autoras Berenice Gehlen Adams e Luciana Gehlen afirmam que:

    [...] para que a EA possa cumprir seu papel dentro da empresa, necessita de fatores pedaggicos que [...] podem estar ausentes dos ambientes empresariais pela falta de um profissional da rea da educao e pela falta de referencial terico que d conta do contexto histrico e integral da Educao Ambiental. (ADAMS; GEHLEN, 2008, p. 19).

    Na esfera de todo este trabalho de conhecimento, sensibilizao,

    conscientizao, avaliao e ao, a participao comunitria, seja ela de dentro ou de fora

    do estabelecimento industrial, faz notar que os resultados de uma EA dinmica lhe trazem

    benefcios visveis e norteiam a realizao do DS, com consequente melhora da qualidade

    de vida (MOTA, 2006). necessrio, porm, que haja um real interesse de todas as partes,

    para que aquele meio ambiente ecologicamente equilibrado pertencente a todos possa ser

    garantido.

    Conhecer e perceber o ambiente em que se trabalha e os cuidados a serem

    tomados para a melhoria da qualidade ambiental tanto de seu interior quanto de seu

    entorno, afeta positivamente a comunidade local e os clientes da empresa, alm de seu

    pblico interno, gerando uma boa performance ambiental13 (DONAIRE, 1994). Para tal,

    aes como palestras, debates, gincanas, sesses de filmes ambientais, e at caminhadas

    ecolgicas, podem implicar numa mudana notvel da mentalidade e das atitudes dos

    13 As empresas brasileiras com performance ambiental so aquelas com maior insero no mercado internacional onde a globalizao dos problemas ambientais esto contribuindo para uma nova postura empresarial (SARAIVA DE SOUZA, 1993).

  • 22

    envolvidos (SILVA, 2006). A partir desta viso, a utilizao de diversos recursos voltados

    prtica da EA deve envolver a comunicao e o conhecimento, fatores imprescindveis para a

    realizao desta educao e para sua consolidao (DIAS, 1999; SILVA, 2006). A

    sensibilizao deve ocorrer em funo disso, j que a partir da sensibilizao e

    posterior conscientizao que o pblico-alvo tomar iniciativas, mesmo que individuais,

    e, dessa forma, a EA ter surtido efeito (Figura 03).

    Figura 03 Mecanismo de ao da EA. (Extrado de DIAS, 1999, p. 75).

    Educadores ambientais, assim como a prpria EA, so tambm constituintes do

    alicerce do sonhado desenvolvimento sustentvel, j que podem interferir grandemente na

    sensibilizao ambiental de pessoas, tanto de crianas (o que garante que as geraes

    futuras j cresam com bases crticas de cunho ambiental), quanto de indivduos

    participantes do atual mercado de trabalho indivduos estes que, a curto prazo, podem

    colaborar com a obteno do equilbrio ecolgico.

    Pensando sob esta perspectiva, pesquisar a necessidade de um profissional

    ligado EA em uma empresa pode contribuir com a aquisio de iniciativas ambientalistas

    da mesma, estimulando-a a adotar prticas socioambientais que lhes tragam futuros retornos

  • 23

    lucrativos, tendendo efetivao do equilbrio economia-meio ambiente que o Relatrio de

    Brundtland incentivou.

    3.7. Anlise da Percepo Ambiental como mtodo de estudo da conscientizao

    empregada em Programas de Educao Ambiental

    Antes de se dar incio discusso sobre a PA, interessante destacar a origem

    do termo, que pode ser observada na citao a seguir:

    Percepo um substantivo que se aplica ao ato, ao processo de perceber, assim como ao resultado dessas aes. Perceber, por seu turno, vem da lngua latina: percpere (per = bem, como intensidade + cpere = apanhar, pegar, captar). Nesse sentido, perceber um fato, um fenmeno ou uma realidade, significa capta-los bem, dar-se conta deles com alguma profundidade, no apenas superficialmente. (COIMBRA, 2004, p. 539).

    O ato humano de perceber o que o cerca uma capacidade fundamental para sua

    sobrevivncia, caracterstica adquirida j nos tempos mais remotos e inserida em seu

    comportamento de forma nata. O aprimoramento dos sentidos do ser humano foi de suma

    importncia para que percebesse onde estava, o que estava fazendo e como poderia

    proceder diante de qualquer situao, como, por exemplo, em suas atividades de caa, pesca

    e cuidados com a prole.

    Quando se fala em perceber o meio ambiente, portanto, fica entendido que o

    ato de o homem captar as caractersticas do meio que o rodeia atravs de seus sentidos e de

    sua capacidade de processamento cognitivo das informaes recebidas (LEIRIPIO, 2003).

    Dessa forma, a PA pode ser definida como sendo:

    [...] uma tomada de conscincia do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se est inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo. (FAGGIONATO, 2002 apud FERNANDES, 2004, p. 01).

    Assim, v-se que o homem comea a vislumbrar a importncia desse meio para

    si mesmo e para as outras espcies, e passa a agir de forma a no causar tantos danos, ou, ao

    menos, a diminui-los em seu cotidiano. Para isso preciso, portanto, que o sujeito seja

    capaz de interagir com esse meio e de prestar ateno ao que acontece nele, as modificaes

    ali ocorridas e o que ele pode fazer para evitar modificaes que causem prejuzos. Dessa

    forma, pode-se afirmar que:

  • 24

    [...] a interao entre indivduo e seu ambiente [...] estabelece um contato de duplo sentido [...] entre o sujeito e o signo objeto da interpretao [...] caracterizando um processo de percepo ambiental. (PELLEGRINO, 1989 apud MOREIRA, 1997, p. 03).

    A anlise da PA dos diversos segmentos de uma empresa privada pode ser tida

    como uma ferramenta til para a elaborao de um SGA. A EA entra atuando nessa

    perspectiva, trazendo a possibilidade de lidar com a conscientizao de seus funcionrios e

    demais colaboradores e manipular a varivel ambiental dentro deste espao.

    O estudo da PA dos sujeitos envolvidos direta e/ou indiretamente ao

    estabelecimento emissor/poluidor pode caracterizar o perfil deste estabelecimento, bem

    como sua responsabilidade socioambiental, rendendo-lhe um PEA voltado

    principalmente para atender s suas maiores dificuldades. Isso proporciona uma

    melhor compreenso da problemtica ambiental, garantindo um dilogo entre os diferentes

    atores sociais envolvidos com a gesto ambiental (ZITZKE, 2002), e com este dilogo

    que a gesto ambiental trar resultados eficazes, sendo que a EA se desenvolve justamente

    com a comunicao e a participao ativa de seus envolvidos.

    4. METODOLOGIA

    4.1. A empresa estudada

    Para este estudo, foi escolhida uma empresa da cidade de Mandaguari, no

    Noroeste do Estado do Paran, e que est h 15 anos no mercado, possuindo atualmente

    aproximadamente 150 funcionrios.

    A empresa trabalha na manipulao de borracha sinttica para a confeco de

    peas de reposio para caminhes e carretas. No possui filiais, mas seus produtos atingem

    grande parte do pas, podendo ser considerada uma empresa de mdio-grande porte.

    No foram feitas menes de informaes como o nome da empresa, dados para

    contato (telefone, endereo, e-mail), os nomes de seus proprietrios e os nomes dos

    funcionrios, no intuito de manter sua privacidade e zelar de sua imagem.

    4.2. Coleta dos dados

  • 25

    A presente pesquisa foi feita atravs da abordagem qualitativa, sendo esta um:

    [...] processo de reflexo e anlise da realidade atravs da utilizao de mtodos e tcnicas para compreenso detalhada do objeto de estudo em seu contexto histrico e/ou segundo sua estruturao. (OLIVEIRA, 2007, p. 37).

    Assim, esse mtodo no procura investigar as informaes de forma estatstica,

    mas sim com maior profundidade, podendo utilizar-se de:

    [...] estudos segundo a literatura pertinente, ao tema, observaes, aplicao de questionrios, entrevistas e anlise de dados, que deve ser apresentada de forma descritiva. (OLIVEIRA, 2007, p. 37).

    Para tal, foram realizadas entrevistas14 individuais, contendo 09 perguntas, com

    10 funcionrios, pertencentes aos diferentes setores da empresa, como poder ser observado

    no Quadro 04. A sala de reunies foi reservada para a realizao das entrevistas, que

    tiveram durao mdia de 15 minutos, sendo ento anunciado que se tratava de uma

    pesquisa para concluso de graduao.

    Nestas entrevistas, os funcionrios puderam falar sobre suas concepes de meio

    ambiente, educao ambiental e IA, bem como a abordagem de alguns termos referentes

    aos assuntos ambientais atuais (ISO 14001, SGA e DS), para estabelecer um nvel de

    conhecimento dessas pessoas quanto a esses assuntos.

    5. RESULTADOS E DISCUSSO

    5.1. Perfil dos entrevistados

    No intuito de montar um perfil dos entrevistados, foram solicitadas algumas

    informaes caractersticas, como o sexo, a idade, o estado civil, a cidade onde reside e a

    escolaridade (Quadro 03).

    14 Vide anexos.

  • 26

    Quadro 03. Perfil dos entrevistados.

    Sexo Idade Estado civil Cidade onde reside Escolaridade

    E01 F 25 Casada Mandaguari Ensino Mdio

    E02 F 24 Casada Mandaguari Ensino Mdio

    E03 M 45 Casado Mandaguari Tcnico Incompleto

    E04 M 22 Solteiro Mandaguari Superior Incompleto

    E05 M 30 Solteiro Mandaguari Superior Completo

    E06 F 31 Casada Mandaguari Ensino Fundamental

    E07 F 25 Solteira Mandaguari Ensino Mdio

    E08 F 51 Solteira Mandaguari Superior Completo

    E09 M 32 Casado Mandaguari Ensino Primrio

    E10 M 31 Solteiro Mandaguari Ensino Mdio

    A distribuio dos entrevistados conforme o sexo se fez em 50% para o sexo

    feminino e os outros 50% para o sexo masculino.

    Em relao idade, pode-se destacar 4 entrevistados pertencentes faixa dos 20

    aos 29 anos, bem como a mesma quantidade para a faixa dos 30 a 39 anos. Os outros dois

    ficam distribudos entre as faixas de 40 a 49 anos e 50 a 59 anos (Grfico 01).

    Assim como a categoria sexo, a distribuio os entrevistados em relao a seu

    estado civil divide-se ao meio, sendo 50% dos entrevistados casados e 50% solteiros.

    Todos residem em Mandaguari, sendo ento 100% dos entrevistados.

    Grfico 01. Distribuio dos entrevistados em relao faixa etria.

  • 27

    0% 10% 20% 30% 40% 50%

    20 a 29anos

    30 a 39anos

    40 a 49anos

    50 a 59anos

    Idad

    e

    Faix

    a et

    ria

    Porcentagem dos entrevistados

    Quanto escolaridade, v-se que a maioria possui ensino mdio, sendo 40% do

    total. Dos demais, 20% possuem nvel superior completo e os outros 40% so distribudos

    entre ensino primrio, ensino fundamental, ensino superior incompleto e ensino tcnico,

    com 10% para cada um (Grfico 02).

    Grfico 02. Escolaridade dos funcionrios entrevistados.

    0% 10% 20% 30% 40% 50%

    Ensino primrio

    Ensino fundamental

    Ensino mdio

    Ensino tcnico incompleto

    Ensino superior incompleto

    Ensino superior completo

    Gra

    u de

    esc

    olar

    idad

    e

    Porcentagem dos entrevistados

    Ainda a respeito da caracterizao dos entrevistados, optou-se tambm por gerar

    um quadro contendo suas informaes em relao empresa onde trabalham, para

    esquematizar um perfil geral dos mesmos, levando em conta ento sua funo na empresa e

    o tempo em que atua nela (Quadro 04).

  • 28

    Quadro 04. Perfil dos entrevistados em relao empresa.

    Funo/cargo na empresa Tempo de trabalho

    na empresa

    E01 Encarregada de expedio 5 anos

    E02 Auxiliar de produo 14 meses

    E03 Encarregado de produo 15 anos

    E04 Auxiliar administrativo 2 anos

    E05 Encarregado de usinagem 10 anos

    E06 Encarregada de embalagem 3 anos

    E07 Auxiliar de produo 6 meses

    E08 Tcnica de segurana do trabalho 4 anos

    E09 Encarregado de ferramentaria 10 anos

    E10 Encarregado de produo 12 anos

    Conforme o Quadro 04, pode-se dividir os cargos dos entrevistados como sendo:

    - encarregados

    - auxiliares de produo

    - administrativos

    V-se que a maioria dos participantes desta pesquisa possui cargo de

    encarregados de algum setor da empresa (Grfico 03).

    Grfico 03. Distribuio dos entrevistados de acordo com seu cargo na empresa.

  • 29

    Cada funcionrio atua em um setor da empresa, tendo sido colhidos dados de

    todos os encarregados e de um subordinado de cada um deles. Segue-se abaixo a listagem

    dos setores:

    - injeo de borracha

    - ferramentaria

    - usinagem

    - expedio

    - acabamento

    - embalagem

    - segurana do trabalho

    A mdia de tempo de trabalho na empresa de aproximadamente 6,27 anos.

    Podem ser separados em 4 faixas (Grfico 04):

    - menos de 1 ano;

    - 1 a 5 anos;

    - 6 a 10 anos e

    - 11 a 15 anos.

    Grfico 04. Distribuio dos funcionrios conforme o tempo de prestao de servios na

    empresa.

    Adminis-trativos

    20%

    Auxiliares de produo

    20%Encarrega-

    dos de setores

    60%

  • 30

    A maioria dos funcionrios entrevistados atua na empresa entre 1 e 5 anos.

    Entretanto, interessante notar a presena de funcionrios que esto h mais de 10 anos

    trabalhando ali, o que pode demonstrar uma participao ativa deles no crescimento da

    empresa. Sabendo-se que a empresa possui aproximadamente 15 anos de existncia, nota-se

    que funcionrios com um registrado de 12 (E10) e 15 anos (E03) significante na

    percepo de mudanas ocorridas tanto no interior quanto no entorno do estabelecimento.

    tambm importante salientar que h 3 anos a empresa recebeu a visita de um

    agente de fiscalizao ambiental, o que promoveu determinadas modificaes no

    funcionamento da empresa, principalmente em relao ao tratamento de seus efluentes e

    correta destinao de seus resduos. Depois dos processos que a borracha recebe na

    empresa, gera-se resduos que so inutilizveis, uma vez que esta borracha j manuseada

    no pode voltar para o processo fabril. Dessa forma, estes resduos ficam depositados em

    um ptio da empresa espera de um caminho proveniente de uma empresa de So Paulo

    para realizar sua coleta.

    5.2. Concepes de meio ambiente

    Ao serem abordados com a primeira questo (O que voc entende por meio

    ambiente?), os funcionrios puderam relatar suas prprias concepes, levantando

    assuntos que esto diretamente relacionados com a temtica ambiental e demonstrando suas

    0%5%

    10%15%20%25%30%35%40%45%

    Menos de 1 ano De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos Mais de 10anos

    Tempo de prestao de servios na empresa

    Por

    cent

    agem

    dos

    ent

    revi

    stad

    os

  • 31

    observaes para com ela. Assim, para analisar suas respostas, foram agrupadas as

    principais citaes (Quadro 05). Tambm foram transcritos alguns trechos desses relatos.

    Quadro 05. Concepes de meio ambiente. Meio ambiente N citaes %

    a vida. 3 30%

    tudo o que est nossa volta, ao nosso redor. 2 20%

    o conjunto de seres vivos e no-vivos. 2 20%

    se conscientizar para a preservao; cuidar. 2 20%

    a natureza. 1 10%

    Total dos entrevistados 10 100%

    Respostas obtidas atravs da questo n01: O que voc entende por meio ambiente?.

    V-se que a maioria (30%) associa o meio ambiente vida. Isso deixa claro que

    dada uma grande importncia s questes ambientais para sua subsistncia e para a

    permanncia do ser humano no planeta. Fala-se da necessidade de se manter e melhorar as

    condies atuais do meio ambiente para que o homem possa continuar suas atividades, uma

    vez que o ser humano intrinsecamente dependente do que retirado do ambiente natural.

    Aqui, relevante destacar o que o caput do Art. 225 da CF/88 diz a respeito da sadia

    qualidade de vida proveniente de um meio ambiente ecologicamente equilibrado

    (BRASIL, 1988).

    Abaixo esto as citaes dos entrevistados quanto a essa primeira abordagem.

    Eu acho que a vida, n? Porque a gente depende do meio ambiente para poder viver. A gente depende das plantaes, das rvores, dos alimentos, do ar que a gente respira...

    E01, encarregada de expedio, 25 anos.

    Penso que um espao que ns temos preservar para o futuro, para os nossos filhos, a gente tem que preservar a natureza, a fauna...

    E04, auxiliar administrativo, 22 anos.

  • 32

    Meio ambiente pra mim tudo essas parte da natureza, n? Cuidar da natureza pra ter no futuro, n? Tudo que voc no cuida hoje, amanh voc no tem. Pra mim meio ambiente importante por isso.

    E10, encarregado de produo, 31 anos.

    Uma das entrevistadas (E02, auxiliar de produo, 24 anos) definiu o meio

    ambiente simplesmente como natureza, tendo ficado com os 10% do total dos

    entrevistados. Sua definio engloba todos os elementos naturais, como a gua, o ar, o solo,

    e principalmente as reas verdes. Esta uma definio que pode ser facilmente encontrada

    atualmente, uma vez que muitos meios de veiculao de informaes acabam por colocar o

    meio ambiente como a rvore e o rio, por exemplo. Ou seja, os elementos fsicos presentes

    na natureza acabam se tornando o conceito de meio ambiente.

    Ficaram distribudos tambm 20% dos conceitos para o termo como sendo tudo

    o que est ao nosso redor, como pode ser observado em suas citaes a seguir:

    Quando fala meio ambiente, eu vejo tudo que t nossa volta de recurso natural, por exemplo, rvores, as nascentes, os animais, a fauna... Tudo isso faz parte do meio ambiente.

    E05, encarregado de usinagem, 30 anos.

    O meio ambiente pra mim eu acho que tudo, n, que t ao nosso redor... O ar que a gente respira, tudo... A gua... Tudo... Tudo ao nosso redor.

    E07, auxiliar de produo, 25 anos.

    Sendo este um conceito bem amplo, volta-se, novamente, concepo abordada

    anteriormente, quando se obteve a citao a vida. A concepo de meio ambiente como

    sendo tudo o que est nossa volta tambm se refere aos elementos fsicos da natureza,

    como a gua, as rvores e os animais, por exemplo. Entretanto, os entrevistados no

    relacionam a esse conceito o ambiente artificial (aquele construdo, modificado pelo

    homem), deixando claro que o termo ainda associado ao meio natural.

    De qualquer forma, a definio apresentada pelos dois entrevistados foi a que

    chegou mais prximo definio dada por Barbieri para meio ambiente, ou seja, tudo o

  • 33

    que envolve ou cerca os seres vivos (BARBIERI, 2004, p. 02). Est, ainda, ligado ao

    prprio significado do termo, discutido por Trigueiro (2003, p. 77) como sendo tudo

    aquilo que nos cerca e tudo o que vai volta, comentado na primeira parte deste

    trabalho15.

    interessante lembrar o fato de que o entrevistado E05 possui escolaridade a

    nvel superior completo e grande atualizao para com os assuntos ambientais. A segunda

    entrevistada, E07, mesmo chegando perto de um conceito mais elaborado, no teve

    condies de faz-lo, tendo apenas englobado tudo o que est sua volta como o meio

    ambiente. A diferena no nvel de escolaridade pode determinar esta dificuldade para a

    construo de um conceito, mas cabe aqui, tambm, o prprio interesse da pessoa de buscar

    informaes e se atualizar.

    Outros 20% interpretam o meio ambiente como sendo um conjunto de seres

    vivos que habitam o planeta, bem como os seres no-vivos, ou seja, os recursos naturais.

    Acho que um conjunto... o ar, a gua, os seres vivos... um conjunto de todas as coisas.

    E06, encarregada de embalagem, 31 anos.

    Bom, meio ambiente tudo assim que... Tem o ser vivo e o ser no vivo, n, que est na terra, n, no nosso planeta, n...

    E08, tcnica em segurana do trabalho, 51 anos.

    Tal definio tambm est bastante associada s anteriores, uma vez que implica

    a incluso dos elementos que constituem o meio natural, bem como os prprios seres vivos.

    Pode-se dizer que tal conceituao possui uma mesma linhagem da anterior (tudo o que

    cerca os seres vivos), sendo apenas uma maneira diferenciada para definir o termo

    abordado.

    A entrevistada E08 fez uma colocao que acaba remetendo Teoria Gaia, de

    James Lovelock, que considera todos os seres vivos e tambm os no-vivos como

    15 Vide nota de rodap da pgina 01 do presente trabalho.

  • 34

    pertencentes a um s organismo (o planeta Terra) e que o mesmo dependente das

    interaes entre esses seres16.

    Este mesmo conceito observado no trabalho de Moreira (1997, p. 02), quando

    este autor cita o que o ecossistema a [...] interao dos organismos com o meio fsico.

    Os 20% restantes relacionaram o meio ambiente com a preservao, a

    conscientizao e o cuidado que todos devem ter para com ele. Nesse caso, no se percebe

    a construo de um conceito fixo sobre o termo, mas fica clara sua correlao feita com os

    danos observados no cotidiano. As citaes foram transcritas na ntegra em virtude de sua

    complexidade, j que um misto de ideias que surgiram para os entrevistados, que foram

    relatando-as conforme iam se lembrando das situaes vividas.

    A poluio, t? Eu acho que o povo t comeando a se conscientizar agora, n com a poluio que vai jogando no meio ambiente, atmosfera. Os rios que j to poludo, muitos to poludo. To procurando agora fazer tratamento da gua pra ser jogada no rio ou muitas vezes, no caso, d pra reutilizar ela, pra no poder jogar, ser descartada. O reflorestamento tambm to fazendo, mas t meio devagar tambm. Muitos produtos seriam descartados, hoje a gente procura ento separar pra poder reciclar. Coisas da firma aqui, n, muitas coisas eram jogadas fora a, hoje no, hoje procura guardar pra poder reciclar. um meio assim pra gente preservar o meio ambiente, n? No caso a... No reflorestamento... No caso seria pra ter um oxignio melhor. O reflorestamento tambm que eles to fazendo agora na beira de rio tambm por causa que os rios to secando. No caso aqui o tratamento do ar, no caso, do maquinrio colocando essas tipo... No estufa que eles falam... Pra captao do p pra fazer tratamento... Os filtros.

    E03, encarregado de produo, 45 anos.

    Olha, pra mim o meio ambiente cuidar da poluio de produtos qumicos, leo... Exemplo: voc vai no mercado hoje, voc compra todo ms 6 litros de leo, depois o que voc acaba fazendo com esse leo? Na minha opinio, esse leo teria que ser devolvido pra uma refinadora, uma pessoa que fosse buscar esse leo na sua casa. Tem muitas pessoas que trocam leo de moto... Exemplo: vai l compra o leo de moto, vem em casa e troca. Coloca aquilo l no lixo. Ento muitas coisas que... Eu no estudei sobre meio ambiente, alis, no estudei nada, n? Eu tenho pouco estudo, mas pelo que eu conheo, voc compra leo hoje de motor de

    16 Arquivo da disciplina Educao Ambiental, ministrada no perodo de 06 de setembro de 2010 a 27 de outubro e 2010, pela professora Dra. Eliane Rodrigues dos Santos Gomes (http://lattes.cnpq.br/9483846446982058) no curso de Especializao em Gesto Ambiental em Municpios, pela Universidade Tecnolgica Federal do Paran (UTFPR).

  • 35

    carro em qualquer lugar. Muitas pessoas preferem por trocar em casa. Isso deveria ser proibido, na minha opinio. Isso a teria que trocar na onde a pessoa d o destino certo. Lixo: lixo mesmo... Eu gosto muito de pescar. Eu vou pescar... Nem todo mundo faz isso, mas todo lixo, que eu levo pro rio, eu trago de volta. Eu tenho at prova disso a, entendeu? Coloco numa sacolinha... Vou pescar l no Pirap, exemplo: levo um refrigerante, levo uma cerveja, levo um negcio ou outro, eu j levo um saco e j trago de volta, mesmo que eu for de moto, entendeu? E eu acho que as pessoas deviam ter conscincia disso a, n? Principalmente, todo mundo que gosta de uma pescaria gosta de levar lixo, gosta de pescar... Nessa parte mesmo a de leo de cozinha... Eu no sei at que ponto , mas por que voc usa tanto leo e depois voc deixa? Tem pessoas que usam pra fazer sabo, mas nem todo mundo usa sabo. Ento eu acho assim... A pessoa poderia vender esse leo. Se juntar l na sua casa tantas garrafas descartveis que voc tem l, que voc acaba colocando no lixo, voc podia t ali ... Passar uma pessoa ali uma vez por semana, recolhendo o leo, uma vez por ms. No sei at que ponto, mas voc imagina quantos litros de leo no da nessas lanchonetes, nesses lugar que faz bastante comida? At mesmo aqui na empresa, o que feito com o leo de comida da empresa, a gente no sabe. Pouca gente d ateno pra esse tipo de coisa a, n?

    E09, encarregado de ferramentaria, 32 anos.

    Esses dois entrevistados percebem os problemas relacionados ao meio ambiente

    de seu cotidiano e at mesmo pensam em possveis solues para resolv-los, provando

    que, mesmo no se tendo uma conceituao tcnica para a palavra, possvel compreender

    que a problemtica ambiental atinge todas as classes de pessoas e que, mesmo sem estudos,

    uma pessoa pode encontrar sadas para contribuir com a preservao do meio ambiente.

    Considerando o tom de voz do entrevistado E09 e a fluidez de suas frases,

    verificou-se seu grau de certeza quanto ao seu relato e at mesmo sua indignao frente aos

    danos ambientais causados por aes de pessoas ao seu redor.

    J o entrevistado E03, mesmo possuindo escolaridade tcnica incompleta, pde

    evidenciar seu conhecimento sobre a problemtica ambiental observada em seu cotidiano

    Como ele est h 15 anos na empresa, ou seja, um funcionrio pioneiro, que viu a

    empresa crescer e pde acompanhar muitas modificaes ali ocorridas, acabou

    evidenciando atitudes praticadas antes e depois da visita do fiscal ambiental. Seu

    depoimento voltou-se a essas observaes e fugiu da conceituao do termo meio

    ambiente, mas foi capaz de deixar clara seu entendimento quanto importncia da

    legalizao da empresa junto aos rgos ambientais.

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    Ainda observando o que os entrevistados entendem por meio ambiente, fez-se a

    segunda pergunta, agora pedindo para se descrever o meio ambiente do entorno da

    empresa. As citaes foram distribudas no Quadro 06 e transcritas logo depois dele.

    Quadro 06. Descrio do meio ambiente do entorno da empresa.

    Meio ambiente da empresa N citaes %

    Tem poucas rvores. 4 40%

    Tem muitas rvores. 2 20%

    A empresa no influencia no ambiente de seu entorno; est

    fazendo a sua parte. 2 20%

    As empresas vizinhas, assim como a prpria empresa,

    colaboram para os danos ambientais locais. 2 20%

    Total dos entrevistados 10 100%

    Respostas obtidas atravs da questo n02: Descreva


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