Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH
Eduardo Soares de Assunção
A RELAÇÃO ENTRE CHINA E TAIWAN:
A Questão da Soberania Chinesa Sobre Taiwan
Belo Horizonte
2008
2
Eduardo Soares de Assunção
A RELAÇÃO ENTRE CHINA E TAIWAN:
Soberania e Autonomia
Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito à obtenção de título
de bacharel em Relações Internacionais.
Orientador: Professor Dawisson
Helvécio Belém Lopes
Belo Horizonte
2008
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Eduardo Soares de Assunção
A RELAÇÃO ENTRE CHINA E TAIWAN:
Soberania e Autonomia
Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito à obtenção de título
de bacharel em Relações Internacionais.
Orientador: Professor Dawisson
Helvécio Belém Lopes
Monografia aprovada em: 25 de junho de 2008
Banca Examinadora:
Profª. Sylvia Marques, Uni–BH.
______________________________________________________
Profª. Geraldine Rosa, Uni–BH.
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar o conceito de soberania aplicado à
situação das relações entre China e Taiwan. Pretende, inicialmente, discutir a
formação do conceito de soberania. Com a problemática gerada pelo intuito de
Taiwan se tornar independente, pretende-se também apresentar e analisar os
argumentos apresentados por Taiwan para se tornar um Estado independente,
e os argumentos utilizados pela China para evitar a secessão. Ao final do
presente trabalho, a conclusão é tirada a respeito das características do
conceito de soberania graduada, analisando se os dois atores se encaixam nos
parâmetros definidos.
Palavras Chave: soberania, China, Taiwan, independência e soberania
graduada
5
ABSTRACT
This work has as its main objective to present the concept of sovereignty
applied to the situation between China and Taiwan. The purpose, at first, is to
discuss the origin of the concept of sovereignty. With the set of problems
originated by Taiwan´s efforts to become independent form China, this work
also has the intent to show the analysis of the discourses presented by Taiwan
to become an independent state, and the arguments used by China to prevent
the secession. At the end of the present work, a conclusion is taken about the
characteristics of the concept shown, perceiving if both actors fit in the defined
parameters.
Key words: sovereignty, China, Taiwan, independece, graduated sovereignty
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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO.........................................................................7
1.1. Colonização de Taiwan........................................................8
1.2 .Soberania.............................................................................9
2. DA SOBERANIA.....................................................................10
3. HISTÓRIA E ARGUMENTOS.................................................20
3.I. História e Colonização..........................................................21
3.2. Argumentos de Taiwan........................................................23
3.3. Argumento Chinês...............................................................27
4. SOBERANIA GRADUADA.....................................................33
5. CONCLUSÃO.........................................................................40
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................43
7
1_ INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho é relatar como ocorrem as relações entre China e
Taiwan, estudando também como ocorre à soberania chinesa em relação ao
território e se esta região coloca em risco a aplicação do conceito de soberania
chinês. Taiwan1 é classificada, na administração chinesa, como região
autônoma especial, pois integra a grande República Popular da China com
características diferenciadas, como administração e cultura. Em primeiro lugar
começaremos a analisar como foi construída a situação atual e quão estão
adiantados os diálogos sobre a condição da soberania chinesa sobre Taiwan.
Para o campo das Relações Internacionais é fundamental o entendimento da
aplicação do conceito de soberania sobre os Estados, e qual a participação
deste na conjuntura. O objetivo deste trabalho é analisar como a China estende
ou não sua soberania sobre a região autônoma de Taiwan, e como esta reage
a esta questão.
A academia de Relações Internacionais conta com grandes obras sobre a
análise sobre a aplicação da soberania em diversos países, inclusive a própria
China, mas o foco deste é completamente diferente. O direcionamento que
este trabalho tem é de como a autonomia de Taiwan interfere na soberania da
própria China. Como esta divisão interna afeta o conceito de soberania na
conjuntura atual. A partir daí gerar um estudo de até onde o governo de
Pequim permite autonomia, e até onde é ele quem decide por estas regiões.
O desenvolvimento deste trabalho, para os interessados, acrescentará muito
em relação ao conhecimento sobre a forma de gestão chinesa e sobre sua
divisão política. Além de dar ao leitor o conhecimento de qual o grau de
autonomia que esta região, Taiwan, possui, e qual o diálogo que o governo
1 Taiwan é considerada uma região autônoma especial dentro do regime chinês. Estas regiões autônomas especiais recebem este título por terem administração, cultura, economia costumes dentre outras características diferentes do restante da China. Taiwan teve uma colonização diferente, portuguesa, depois ficou sobre a soberania japonesa, até retornar a fazer parte da China.
8
chinês mantém com ela e como a cultura é um fator atenuante para esta
divisão.
Esta região tem autonomia em âmbito interno, em outras palavras, tem
liberdade política, administrativa e cultural, além de legislação e costumes.
Porém temos problemas quando entram em cena ações de política externa. A
China tem uma postura unificada quando interage nos órgãos internacionais,
fóruns, tratados, discursos ou ações no cenário internacional. O principal
objetivo deste trabalho é analisar como o conceito de soberania se aplica na
China, e como este é mutável ou não em relação à região. As divisões
interferem bastante nas ações externas de um país, principalmente quando
existem argumentos de cunho conflitivo, ao mesmo tempo em que existe
choque entre partes internas relativas a um mesmo tema. No primeiro capítulo
faremos uma abordagem histórica a respeito do conceito de soberania, assim
poderemos verificar como este se aplica, ou não, à China atual. Analisaremos
também questões relativas à situação atual da região, e, como se encontra o
status quo na região específica do estreito de Taiwan.
1.1_Colonização de Taiwan
Após a revolução chinesa e os conflitos existentes entre o partido vigente, o
Kuomintang, e o partido comunista, com a derrota do primeiro o líder que
governava a China até o momento, Chiang Kai-Shek, e a de seu partido em
1949, refugia-se na ilha de Taiwan, conhecida também como Formosa, já que
tem colonização portuguesa. O objetivo de Chiang Kai-Shek era de reorganizar
seu exército a fim de retornar a China. A partir daquele momento, em meio a
reformas políticas, O Kuomintang se estabeleceu fixamente na ilha, declarando
a República da China. Desde então existe a controvérsia entre a Republica
Popular da China, China continental, e a República da China, Taiwan. (Spence
1996)
Atualmente a situação entre as duas é extremamente complicada. A
população, os taiwaneses, também não estão completamente certos de sua
vontade. Existem partes que são a favor da anexação completa do país a
9
China, levando em consideração a proximidade cultural entre parte da
população com a China. Porém também existem movimentos que visam tornar
Taiwan definitivamente independente. A China não reconhece a ilha como
Estado independente, alegando que ela é uma região autônoma especial, tal
como Hong Kong, Tibet e Macau, argumentando que ela tem autonomia no
âmbito interno, mas em relação a política externa e defesa a China responderia
por Taiwan. (idem)
Esta relação se torna mais complicada quando Taiwan se torna alvo para fazer
pressão à China. Os Estados Unidos diversas vezes ameaçaram o
reconhecimento a Taiwan visando atingir a China, por exemplo. Vários desfiles
militares são realizados em Taiwan na atualidade com o intuito de intimidar e
mostrar que estão prontos a um potencial ataque chinês para retomada da
soberania. Este tema será desenvolvido na continuação do trabalho com mais
ênfase, já que é um assunto delicado relativo ao tema. (ibidem)
1.2_Soberania
Além de analisar pontos importantes referentes a região, em âmbitos
separados, é de extrema importância observar como o conceito de soberania
foi adotado e adaptado até a conjuntura atual. Passando por sua visão
tradicional e também a questão da desconstrução da mesma. Uma análise,
com o intuito de definir se este princípio se aplica ou não à China atual, em
relação à Taiwan, observando quando será que o conceito jurídico, adotado na
criação do Estado moderno, poderá ser aplicado, e quando este falhará, ao não
conseguir adaptar seu conceito a esta situação. Estudaremos também o
conceito de soberania graduada, que também pode ser aplicado a situação.
10
2_ DA SOBERANIA
O trabalho tem como objetivo, nesta primeira parte, analisar como o conceito
de soberania2 foi construído, na visão de alguns autores, e como ele é
classificado atualmente na disciplina das Relações Internacionais. Dentre seus
confrontos e vitórias, o termo acompanha uma outra criação vital para a
disciplina, o Estado Moderno. O termo soberania acompanha o Estado
Moderno desde sua criação de acordo com os autores estudados, Vestfália3,
onde temos a primeira referência de Estado territorial soberano, ou seja,
soberania que rege um Estado por todo o seu território, mecanismos de
controle nas mãos de um soberano. Através destes estudos entenderemos o
conceito de soberania adotado atualmente e como ele se aplica aos Estados
atuais, principalmente ao Estado em questão: A China.
Desde quando foi constituído, o Estado Moderno conta com a soberania como
mantenedora de sua ordem interna e princípio da igualdade formal
internacional, ou seja, dentro do território do Estado o princípio que garante
força ao governante é a soberania, e, ao mesmo tempo, ao lado de fora é a
mesma quem garante a igualdade dentre os Estados, fazendo com que se
enxerguem como entidades iguais, teoricamente. Porém o termo soberania
esteve presente em vários confrontos, sendo enxergados de diferentes formas
pelos mais diversos autores, podemos entender que, de certa forma, o conceito
utilizado hoje surge de uma mescla de definições adotadas no passado. Longe
de querer questionar ou redefinir o conceito, nosso objetivo é apenas entender
como este foi constituído até tomar sua forma atual.
Segundo a classificação de Norberto Bobbio (2000), a soberania se define
principalmente como último âmbito de mando em uma entidade política, e,
também, o padrão que diferencia estas entidades políticas no âmbito externo.
2 Soberania aqui entendida como último âmbito de mando no âmbito interno e princípio que iguala as entidades estatais no âmbito externo. Bobbio (2000) 3 Paz de Vestfália: Acordo assinado pelos “Estados” europeus, em 1648, que deu fim à guerra dos trinta anos, e culminaram na criação do Estado Moderno, com a soberania como princípio chave norteador do ramo de ação dos Estados.
11
Bobbio coloca uma data de nascimento para a soberania, meados do sec. XVII,
juntamente com a criação do Estado Moderno, época na qual a soberania
ganhou força e legitimidade. Dentro desta classificação, Bobbio destaca a
responsabilidade do soberano para eliminar conflitos internos, ou seja, disputas
privadas, para conseguir guiar o Estado à guerra ou à paz. Ao mesmo tempo,
no nível externo, ele encontra nos outros soberanos, através da atribuição do
princípio, certo nível de igualdade. Mesmo com o princípio de definição da
soberania firmando a não existência de uma autoridade maior, aos poucos,
com o desenvolvimento desta relação entre Estados Soberanos podemos
perceber certa flexibilidade com relação a certas normas criadas para
regulamentar o comportamento dos Estados. Estados divergentes com
aspirações e interesses comuns começam firmar tratados e respeitarem regras
impostas no ambiente internacional, o que pode ser perigoso e colocar em
risco o conceito de soberania, incorporado na época do fim da guerra dos trinta
anos, exemplificando um dos vários conflitos que o termo teve que vencer para
continuar com força no cenário internacional atual, mesmo fazendo mudanças
em seu conceito.
Alberto Ribeiro de Barros (2001) discorre, em seu livro: “A Teoria da Soberania
de Jean Bodin”, como Jean Bodin firma, em sua análise sobre o termo, que
este na figura de poder, o qual é exercido através da construção ou da
anulação de leis, considerando que quem detivesse este poder teria todo o
controle dos outros poderes, e, poderia, em última instância, manter a
sociedade unida e coesa de acordo com seu regimento. Já Thomas Hobbes
(1997) configura sua análise com base na coerção, ou seja, o único poder que
pode estabelecer certo padrão de comportamento é o poder de conseguir fazer
com que terceiros obedeçam. Porém, como Bobbio (2000) nos diz, se cada
uma destas situações fosse elevada ao extremo teríamos uma disparidade
provida pela diferença na essência de cada conceito. Ao seguirmos o conceito
de Jean Bodin, exposto em Barros (2001), pode se correr o risco de criar uma
sociedade de direito sem poder, e com Thomas Hobbes pode se ocorrer
exatamente o contrário, se formar uma autoridade de poder sem direito.
12
Mas, além disso, na concepção de Jean Bodin, podemos encontrar os
elementos para a soberania não se tornar reduzida à condição de impotente,
desta forma o autor consegue delimitar de forma mais pontual a concepção de
soberania. Mesmo com esta tentativa encontramos diferentes explicações para
conceituar o fenômeno, já que não podemos mesclar estes conceitos clássicos,
correndo o risco de formarmos uma sociedade de direito sem leis, na base da
coerção, ou de direito sem leis, baseado na legislação, levando assim a
extremos opostos (Barros, 2001).
O Estado territorial, apesar de seus contrastes, tem sua data de nascimento
definida também para Esteves (2006), ao contrário da soberania, então mesmo
tendo relatos da noção de soberania anteriormente ao tratado de Vestfália o
autor foca o termo a partir deste feito histórico. Não obstante relatos anteriores,
a soberania foi um dos termos que deu condição à criação do Estado Moderno,
aliás, o principal termo. Como Paulo Esteves ressalta em seu artigo ”Para uma
Genealogia de um Estado Territorial Soberano”, de 2006, a criação do Estado
territorial soberano, também para este autor, marca o emprego da soberania. O
império construído pela igreja no século XVI e suas contradições colocaram em
risco toda a ordem tradicional, quebrando alianças, questionando antigos
princípios além de remontarmos à perda da unidade da igreja e a secção de
sua interferência nos futuros Estados.
Em seu artigo, Esteves (2006) recorre ao Estado Soberano como alternativa ao
império eclesiástico que havia se desmantelado. Em meio a todas as
atrocidades ocorrentes então, naquela época, havia uma necessidade de
criação de um sistema que conseguisse restabelecer a antiga ordem criada
pela igreja, que já não tinha mais forças para tal feito. Philpott (2001), em sua
obra, ressalta um ponto de reflexão sobre a forma que os representantes se
apresentavam durante as negociações sobre os acordos da guerra dos 30
anos. Cada um dos delegados, no início das rodadas de negociação se
apresentava como senador do mundo cristão, o que ainda fazia referência ao
império eclesiástico, mas, com o passar do tempo, esses delegados deixaram
de fazer referência a este mundo cristão e se intitularam representantes de
entidades políticas, nas quais eles eram os plenipotenciários. Este ponto se
13
torna vital como um dos aspectos do reconhecimento destas entidades como
únicas e separadas, desvinculadas da ordem cristã e interdependente entre si.
Com o término da guerra dos 30 anos surgiu então o tratado de Vestfália,
alguns pontos são de extrema importância para Philpott, mas todos se
resumem na legitimação da independência estatal, como fim da interferência
da igreja, autoridade dada aos príncipes para honrarem seus acordos e
representarem seus Estados.
Em meio a todos esses acontecimentos, Esteves (2006) destaca que o que
aconteceu, na realidade, foi a afirmação de um novo regime de poder; a
soberania, que agora regia os Estados tanto no seu âmbito interno quanto no
âmbito externo. Podemos então vincular o conceito de soberania a criação do
Estado moderno, colocando a data de nascimento dos dois em 1648, com a
paz de Vestfália, já que o que interessa a este trabalho é o Estado Territorial
Soberano. Podemos já perceber que a soberania e a entidade denominada
Estado nascem em alternativa ao império cristão que desmoronara deixando o
mundo tradicional um caos, como ressalta o autor. A criação do Estado
Soberano envolve todo um contexto de percepção da independência que cada
Estado já havia conquistado na época, juntamente com esta percepção é
aglomerada a expressão soberania, também como uma alternativa de ordem e
de equidade além da delimitação rígida das fronteiras de cada Estado constrói,
paulatinamente, durante a guerra dos 30 anos, a noção de Estado Territorial
Soberano.
Em 1648 a paz de Vestfália veio para dar fim à guerra dos trinta anos, que
aconteceu entre as cidades-estados que até então tinham um vínculo único
com o império cristão, ou seja, não eram entidades autônomas, deviam ainda
algum tipo de satisfação à igreja. Durante os conflitos, vale ressaltar, que esse
vínculo foi se destituindo a medida que os representantes viam seus interesses
como ameaçados, ou melhor, o interesse do seu “Estado” tinha sido
perturbado. Com esse contexto podemos extrair o motivo dos príncipes terem
dado início ao tratamento autônomo de cada Estado, acordando a
desvinculação destes do império cristão, além de outras características vitais
14
citadas por Philpott (2001) para a firmação do acordo fundador do Estado
Territorial Soberano (Esteves, 2006; Philpott, 2001).
Uma das partes mais importantes deste acordo se refere a reafirmação das
fronteiras como limites das ações dos Estados e da igreja. Daquele ponto em
diante a única entidade que o soberano devia respeito era ao próprio Estado,
tendo a garantia que não iriam interferir dentro daquele espaço determinado,
nem mesmo a igreja, mas também perdendo o direito de opinar em qualquer
política adotada por outros Estados, já que estes também se tornaram
soberanos. Constituído o sistema internacional formal, um espaço dividido
entre várias entidades, cada uma delas com seu território já pré determinado,
no qual poderiam administrar o seu interior da forma que bem entendessem,
em última instância, e, um pouco além, igualados no espaço externo por um
único princípio: a soberania (Bobbio, 2000; Esteves, 2006).
Segundo Bartelson (1995) o termo soberania é indefinido, ou seja, não tem
uma definição única e inquestionável. Cada interpretação deve ser analisada
de acordo com seu contexto e com sua realidade vivida, tornando o termo
amplamente questionável no que tange ao seu conceito devido às muitas
contradições que se digladiaram no período de sua formação e de suas várias
interpretações vividas até hoje. O mesmo autor coloca que conceituar
soberania respondendo a pergunta “o que é soberania?” também localiza
muitos choques inerentes a história deste termo, então, a solução apontada
pelo autor, seria tratar como este termo tem sido empregado na época
referente ao estudo, conquistando assim, a forma mais adequada do estudo do
termo.
De acordo com os estudos feitos é importante relembrar que além da
autoridade interna e da igualdade externa, este termo também pressupõe uma
ausência de autoridade maior. Garante a autonomia de tomada de decisão ao
soberano, além de garantir que nenhuma outra entidade igual interferirá nesta
tomada de decisão. Outra garantia é o fato daquela entidade não estar sujeita a
nenhuma outra entidade superior, tendo como última instância de mando a
própria autoridade, ou do soberano (Esteves, 2006).
15
Dando continuidade, e seguindo o conselho de Bartelson (1996), que nos diz
que não devemos questionar o fundamento do termo mas sim sua definição de
acordo com cada época histórica na qual ele é adotado, temos o séc. XVII
como berço da adoção do conceito de soberania. Em meio a todos os
acontecimentos na época o termo foi incorporado de tal forma como nunca
havia sido antes, graças ao advento da criação do Estado Territorial Soberano.
A base de análise na época se configurava na Europa, onde aconteceram
todos os conflitos que resultaram na paz de Vestfália, a soberania serviu como
uma luva à necessidade dos Estados de se tornarem autônomos e soberanos,
e, mesmo este termo com outra definição, foi adaptado e ajustado de acordo
com a situação (como já avisara Bartelson). Porém, nesta adaptação
específica, o termo ganhou força e foi definido como princípio organizador das
Relações Internacionais a partir de então.
Observando as concepções de Jean Bodin, Barros (2001), e Bobbio (2000),
notamos que o termo tinha definições diferentes até os acordos firmados em
Vestfália. Como citado anteriormente, e como Bartelson (1996) colocou em sua
obra, o conceito de soberania passa por diversas mutações ao longo dos
séculos, anteriormente à criação do Estado Moderno assumiu diversas formas
diferentes, todas relacionadas ao âmbito de mando, porém com interpretações
e elementos diferentes.
Nos âmbitos político e jurídico, naquela época, meados do séc. XVII, quem
definia os ramos de ação do governante era a soberania. O Soberano tem o
direito de representação de todos os seus cidadãos, independente de qualquer
posição social que ele ocupa. Constituída uma importante questão a se
observar: O conceito de soberania só existe porque também existe o conceito
de Território, ou seja, porque este foi também reafirmado durante os acordos
de Vestfália. Em última instância o soberano tem o poder de representação,
esta que incide sobre seus cidadãos, estes que estão dentro das fronteiras de
seu Estado, que só são cidadãos daquele Estado porque nasceram dentro
daquele território. O soberano, também, representa seus cidadãos perante a
outros, que se encontram fora do seu Estado, ou seja, fora do seu território. O
16
território então é uma peça vital para a construção do Estado Soberano e para
a sustentação do termo em questão: a soberania (Bobbio, 2000, Esteves,
2006).
Elemento fundamental não somente para a legitimação do termo soberania, o
território também é vital para a existência do Estado, este que deve ter no
mínimo três características para existir: População, Território e Governo. Com o
passar dos anos percebemos que esta noção de território se enraizou de tal
forma na concepção dos representantes estatais que foi, basicamente, motivo
de grandes conflitos históricos, como, por exemplo, as guerras napoleônicas,
que tinham como objetivo conquistar o território europeu (Bobbio, 2000).
A partir deste raciocínio nos remetemos a Bull, e sua obra “A Sociedade
Anárquica” (2002), que relata a possível existência de uma sociedade de
Estados, onde estes, diferentes, porém com interesses comuns, também
transferem para um terceiro, neste caso um tratado internacional, seus direitos
sobre certas situações acreditando que será melhor para os envolvidos.
Partindo daí, neste momento os Estados tem autonomia interna, mas aceitam a
existência de normas internacionais, forçando sua adaptação novamente para
sua sobrevivência. Em épocas posteriores este conceito seria colocado ainda
mais à prova.
A soberania, após o fim da era de Napoleão e com o tratado de Viena, passava
a adotar uma forma diferente, com uma mudança sutil. Ao invés de nortear os
rumos de ação do Estado, passava a configurar os rumos da política externa
no momento, ou seja, definia os rumos de convivência em âmbito externo. O
que encontramos de diferente nesta nova fase deste conceito está relacionado
à sua adaptação ao novo momento vivido pelo sistema internacional. Em um
momento anterior o Estado não devia se preocupar com entidades externas, já
que este princípio o garantia que não havia nenhum âmbito de autoridade
superior. Nesta nova fase o Estado tem que se preocupar com o
relacionamento com seus iguais, outros Estados, e deve satisfação aos
acordos firmados entre eles com seu consentimento. O que constituía que este
17
princípio agora tolerava limites, que eram acordados entre os Estado a respeito
de suas ações no sistema internacional, fora de suas fronteiras.
No séc. XX, novamente este princípio passaria por novas provações para
continuar em atividade. Em 1919, pós primeira guerra, é assinado o Tratado de
Versalhes, no qual seus primeiros artigos fazem referência a uma organização
internacional, a Liga das Nações. Com a criação desta organização foram
impostas novas barreiras à ação do Estado, porém estas barreiras agora eram
regidas legalmente por uma instituição internacional, que é, mesmo de maneira
mais fraca, algum tipo de autoridade internacional. Os Estados não podem
mais agir da forma que bem entenderem no sistema internacional, estão
sujeitos a uma instituição e à aprovação de todos os outros membros, sob
possibilidade de punição, mesmo que se configure uma sanção moral. Ainda
com o advento das instituições internacionais, que se tornaram diversas neste
século e no início do próximo, XX e XXI, respectivamente, a soberania ainda
não sucumbiu aos diversos desafios impostos a ela, novamente se adaptou e,
nos dias atuais, continua sendo um dos principais, senão o principal, conceito
que rege as Relações Internacionais (Bobbio, 2000; Esteves, 2006).
Atualmente a soberania continua sendo o princípio que defini á última instância
de mando no âmbito interno, além de igualar os Estados fora de seus
territórios, teóricamente. Porém esta vem perdendo força por meio de vários
fenômenos, como Bobbio (2000) cita em parte de sua obra. Bobbio tem um
tópico dentro de sua obra chamado de “Eclipse da Soberania”, tópico obra que
fala sobre a dificuldade da aplicação deste termo no âmbito moderno, e como
este princípio está perdendo força na atualidade. Bobbio argumenta que esta
desaparecendo a plenitude do poder estatal, caracterizada justamente pela
soberania. Dentre discussões sobre supranacionalidade, alianças que limitam a
ação do Estado, mercado econômico, meios de comunicação entre outros, o
autor cita vários intermédios que dificultam a conceituação de soberania, ainda
mais no atual sistema. O que demonstra que atualmente o termo vem
encontrando dificuldades, ou seja entrando novamente em conflito.
18
Segundo Walker (1993), a soberania é um processo criado e não questionado
no campo das Relações Internacionais, fazendo referência as metáforas para
construção do conhecimento, mas especificamente do termo em questão. Não
obstante à importância das metáforas como também dos limites impostos por
cada metáfora em certas questões como, por exemplo o Inside/Outside para a
produção de conhecimento. O autor também fala sobre a tradição como origem
de paradigmas, através da proximidade de semelhanças com situações
ocorridas tempos atrás, ou seja, ressaltando as semelhanças re-incidentes e
descartando as diferenças em casos históricos é possível construir uma
tradição, como é o caso da soberania.
Diante da força do termo soberania, principalmente para o Estado, Walker
(1993) captura como ponto de análise os mecanismos que constroem o termo,
da formação da subjetividade, fazendo com que seja interpretada de várias
formas diferentes, vária adaptação, como visto até então. Partindo do
pressuposto no qual a soberania se configura como uma construção social,
reforçada pela criação do Estado Moderno, através da força do discurso, o
objetivo de Walker é demonstrar que a soberania pode ser desconstruída a
medida que atacamos suas bases de criação. Basicamente a discussão feita
por Walker se refere à questão da distinção básica dos ramos de ação dentro e
fora do Estado, onde vimos que a soberania age nos dois ambientes mas com
funções diferentes. De acordo com o autor, o termo soberania implica na
separação deste aspecto, o que culmina na definição dos dois âmbitos, ou
seja, dentro do Estado é possível ter um ordenamento jurídico que rege aquele
Estado, é possível ter ética e punição sobre a quebra da lei. No âmbito
internacional, tendo como base as pré-definições da área de Relações
Internacionais, como o sistema anárquico, ausência de ética e autoridade, a
não ser aquela citada anteriormente em relação aos tratados. Com relação às
competências de cada âmbito, o autor diz que no ambiente interno é possível
ter ordem, garantia do cumprimento das leis, legitimidade da unidade política,
ao contrário do ambiente externo, assumindo este ambiente como ambiente de
anarquia, ausência de ética e impossibilidade de uma unidade política
legitimada que garanta o cumprimento de leis, somente são cumpridos aqueles
19
tratados que são do interesse dos Estados, aqueles em que eles acordam em
respeitar.
Continuando seu raciocínio, Walker (1993) diz que o que faz a distinção e
condiciona cada qual a viver de acordo com as definições do seu âmbito é a
soberania, é ela quem atribui a autoridade legitimada dentro de um Estado e
também é ela quem condiciona a equidade aos atores internacionais no âmbito
externo com ausência de uma autoridade maior. Desta forma podemos
perceber que o que distingue política de Relações Internacionais é somente o
que é feito dentro e o que é feito fora do Estado. No âmbito interno existe
política e no âmbito externo existe Relações Internacionais. Toda esta
construção é feita com base em uma linha imaginária denominada fronteira,
que é necessária pelos princípios construídos da soberania, definindo o que
esta dentro e o que esta fora, limitando até onde pode existir uma sociedade e
até onde começa o ambiente anárquico.
Depois de apresentados estes termos, Walker (1993) mostra como esta
concepção é falha se conseguimos interpretar fenômenos distintos em âmbitos
“errados” de acordo com a definição apresentada. Se interpretarmos alguns
fenômenos fora do Estado com características semelhantes aos que ocorrem
dentro do Estado conseguimos confundir as bases da criação da soberania até
chegarmos ao questionamento de seu conceito.
Quando nos referimos especificamente à China, podemos perceber que é
extremamente complexa a aplicação do conceito em questão, a soberania,
dentro dos parâmetros verificados até então. Em nenhuma das adaptações
históricas é possível encaixar a situação em que a China vive atualmente. Ela
possui os três elementos necessários para a configuração de um Estado:
território, povo e governo, porém estas considerações são embaralhadas
quando nos referimos às regiões autônomas, em especial Taiwan. Estas
regiões fazem parte do território chinês, mas não fazem parte do governo
chinês pois possuem administração própria e independente da pátria mãe
chinesa. Estas regiões tem esta condição porque tiveram uma colonização
diferente, por isso são consideradas zonas autônomas especiais.
20
No campo das Relações Internacionais existem constantes preocupações com
estas regiões, se deveriam se tornar independentes ou se realmente fazem
parte da República Popular da China. Uma dificuldade que é encontrada se
depara no fato da China ser um Estado extremamente poderoso, um dos cinco
membros permanentes do conselho de segurança, então, de certa forma coagi
outros Estados a apoiarem sua causa, evitando com que estes reconheçam
estas regiões autônomas como independentes, prejudicando sua imagem e
sua postura no sistema internacional. O objetivo final do trabalho é relatar até
onde esta autonomia interfere na soberania, ou então definir se realmente, no
caso de Taiwan, podemos desconsiderar o termo soberania pelo motivo de
dividir o território nesta questão.
3_ HISTÓRIA E ARGUMENTOS
Nesta parte do trabalho entenderemos um pouco sobre como foi constituída a
relação entre soberania e autonomia, e como os dois atores, China e Taiwan,
se relacionam atualmente. Quais os motivos e fatores que levam as duas
regiões a entrarem em choque de interesses e como outros atores
internacionais importantes, no caso Estados Unidos, avaliam a posição de
ambos os lados. Para melhor entendimento este capitulo será separado em
três partes, a primeira se refere a um breve histórico, à construção da situação
encontrada atualmente. Na segunda parte analisaremos a posição e
argumentação de Taiwan, como esta região autônoma especial avalia o caso e
quais os argumentos apresentados para a tentativa de independência. Na
terceira parte as condições chinesas ganharão o foco, estudaremos as razões
e argumentos chineses para manter Taiwan como parte integrante da pátria
mãe chinesa.
21
3.1_ História e Colonização
A ilha de Formosa foi descoberta por navegadores portugueses em 1544, seu
nome foi dado graças a estes navegadores. A ilha foi colonizada por
holandeses no século XVII, porém houveram investidas de acesso a ilha que
não obtiveram sucesso. Os holandeses abandonaram a ilha em 1662, o motivo
foi a pressão de Zenhg Cheng-Kung, um pirata seguidor da dinastia Ming, que
tinha por ambição dominar e controlar a ilha, conseguindo estabelecer o
Reinado de Tungning (1662-1683). Após a derrota do neto de Cheng por uma
armada comandada pelo Almirante Shi - Lang, os seguidores de Cheng são
expulsos para os locais mais remotos do império Qing, deixando, no entanto,
aproximadamente 7000 chineses em Taiwan. (Spence, 1996)
Como conseqüência da guerra entre China e Japão, em 1895, a China foi
forçada a transferir a soberania de Taiwan ao Japão, permitindo aos
habitantes, que quisessem continuar sobre tutela chinesa, um período para
venderem as suas propriedades e regressar à China continental. Para melhor
resistir às exigências geradas pela dominação japonesa, foi criada, em Maio de
1895, a República de Taiwan. Esta resistência foi pressionada quando forças
japonesas entraram em Taipei, a cidade capital de Taiwan. Durante seu
período colonial, Taiwan teve um certo investimento industrial por parte do
Japão culminando com a construção de estradas, sistema sanitário, um
sistema escolar público, entre outras coisas. Em meados de 1935 os japoneses
iniciaram um projeto aproximação com a ilha, com a tentativa de reforçar os
laços entre Taiwan e o império japonês. Em 1945 foi criada uma representação
popular de Taiwan colocando um fim no controle militar japonês. (idem)
Durante a Segunda Guerra Mundial, a ilha de Formosa serviu como base para
a invasão japonesa no sudeste asiático. Logo após a derrota do Japão e
consequentemente ao tratado de rendição do Japão, assinado em 1943, a ilha
foi devolvida à China, em 1945. As tropas da República Popular da China
foram autorizadas a entrar em Taiwan para aceitar a rendição das tropas
japonesas em concordância com o termo assinado pelo Japão. As tropas
chinesas hesitaram inicialmente em aceitar a rendição do Japão e proceder
22
com a ocupação militar da ilha. Diversos incidentes ocorreram o que gerou a
perda do apoio popular com a nova administração. Além disto, o sangrento
incidente 228, no qual tropas governamentais massacraram aproximadamente
30.000 protestantes. No Tratado de Paz de São Francisco, que entrou em vigor
em 28 de Abril de 1952 e no Tratado de Taipei, que entrou em vigor em 5 de
Agosto do mesmo ano, o Japão renuncia formalmente a todos os direitos à ilha
de Formosa (Taiwan) e a outras ilhas ao redor. Não é, no entanto, especificado
a quem seria passado a pertencer o controle do território, em parte para se
evitar tomar posições na Guerra Civil Chinesa, que acontecia paralelamente.
(ibidem)
O Kuomintang (Partido Nacionalista ou KMT), que no momento controlava o
governo da República da China recolheu-se com o seu líder Chiang Kai Shek
em Taiwan após a Guerra Civil Chinesa entre o KMT e o Partido Comunista
Chinês, que terminou a favor dos comunistas em 1949. Neste êxodo contavam-
se aproximadamente 2 milhões de refugiados vindo da China continental.
Chiang Kai-shek, então presidente da República da China, tomou o controle de
Taiwan, reorganizou as suas tropas e instituiu reformas políticas e
democráticas limitadas tendo continuado a prometer a reconquista da China
continental (Mezzeti 2000).
Com o apoio das potências ocidentais, Taiwan, obteve o reconhecimento
internacional como único representante legítimo de todos os chineses. Em seu
âmbito interno, amparado na justificativa do perigo comunista, ficou
aproximadamente 4 décadas um regime de força regido por lei marcial. Na
década de 70 a situação começou a mudar, quando o ocidente finalmente se
aproximou da China comunista. A consequência desta aproximação resultou na
expulsão de Taiwan da ONU (Organização das Nações Unidas) e na perda dos
laços diplomáticos com a maioria das nações, que resolveram romper os laços
diplomáticos com Taipei e reatá-los com Pequim (idem).
Chiang Kai-Shek morre em 1975, com a morte de seu velho líder e o
isolamento internacional, em uma conjuntura onde havia a necessidade de
23
maior intercâmbio devido ao crescimento da economia, a ilha foi praticamente
obrigada a reformular sua estratégia interna e externa. Em 1987, o governo deu
início a um programa de reformas, que buscava atingir a democracia.
Paralelamente o sonho de retomar o continente foi caindo no esquecimento,
com isso Taiwan reconhece o governo da República Popular da China, em
busca de reconhecimento internacional (ibidem).
3.2_ Argumentos de Taiwan
Taiwan tem como argumento principal o fato de ser realmente o governo
chinês, que, como visto anteriormente, se instalou temporariamente na ilha. Até
o início da década de 1990, como Paulo Pereira Pinto ressalta em seu artigo,
“A questão de Taiwan: O Cenário Futuro mais Favorável”, de 2000, o governo
da República da China, hoje conhecido como Taiwan, defendia o princípio de
uma só China, princípio que atualmente é sustentado pela China continental.
Este princípio foi instaurado pelo governo chinês que foi exilado na ilha, mas,
quando este exílio aconteceu, devido as suas condições, este governo tinha o
propósito de ainda reconquistar sua base continental. Porém, as autoridades
taiwanesas resolveram renunciar à soberania da parte continental, se
contentando com a ilha de Formosa e alguns arquipélagos ao redor.
A política interna taiwanesa, aliada aos sentimentos da maioria, têm construído
movimentos que rumam a independência. Após o longo período de governo do
KMT (Kuomintang) muitos taiwaneses estão deliberando agora sobre a
autodeterminação. Os populares defensores do movimento para a
independência dizem que Taiwan é uma nação livre e democrática, com
eleições e partidos múltiplos além de uma economia muito bem estruturada
devido ao sucesso de seu modelo exportador. De acordo com Esther Pan, em
seu artigo “China – Taiwan Relations” de 2008, o povo taiwanes deve ter o
direito de decidir se querem se juntar a China ou se transformar em uma nação
independente. Com o início de seu mandato presidencial em 2000, Chen Shui
Bian, presidente eleito de Taiwan, impulsionou firmemente a idéia de
independência taiwanesa. A República Popular da China, China continental,
tem reflexos hostis no que tange ao assunto. De acordo com Pan (2008) em
24
agosto 2005, o jornal oficial “China Daily” publicou uma nota de um oficial
militar dizendo:
“Taiwan choosing independence is tantamount to choosing war.”
Esther Pan (2008).
Muitos taiwaneses se sentem intimidados perante o comportamento
ameaçador da China continental, o que gera um fator de desaceleração do
movimento para a independência, já que para que haja um movimento como
este é extremamente necessário o apoio popular (Pan, 2008).
Taiwan considera suas relações com a comunidade internacional essencial
para se tornar independente da China continental. Apesar dos esforços da ilha
para sustentar esta situação, mais de trinta países comutaram relações
diplomáticas a Pequim desde que os Estados Unidos transferiram suas
relações de Taiwan, até então reconhecido como governo chinês exilado, para
a China continental em 1979. Aproximadamente duas dúzias de governos
ainda mantêm laços diplomáticos completos com o governo taiwanês. O
grande fator atenuante que envolveu o rompimento de laços diplomáticos com
Taiwan se deveu mais a ameaça de sanções econômicas, por parte da China
continental, que poderiam barrar o desenvolvimento dos países que não
transferissem os laços de Taiwan para a China (idem).
O governo taiwanês tem empenhado esforços para recuperar sua vaga na
ONU, que perdeu em 1971, como forma de legitimação internacional para a
investida na independência. Taiwan tentou, em vão, entrar novamente na
organização como República da China. A China continental argumenta que sua
representação na ONU inclui os interesses da ilha, mas o governo da ilha
insiste que deve ser reincorporado ao sistema das Nações Unidas. Taiwan
tentou mais uma vez com um referendo feito em março de 2008, nas vésperas
de eleições presidenciais no país, porém este foi digno de oposição por parte
de Estados Unidos, Rússia dentre outros (Pan, 2008; Swaine, 2004).
25
Taipei e Pequim parecem insatisfeitos com o Status Quo desde a eleição do
presidente Chen em 2000. As ameaças pelo governo de Chen à independência
conduziram a China continental a advertir a ilha, às vezes com palavras e
outras vezes com exposições evidentes de potencial militar, que tal movimento
poderia levar a um conflito armado. Em 2005, a China continental adotou uma
lei da Anti-Separação que legalizasse “meios não-pacíficos para proteger a
soberania e a integridade territorial da China” caso “as possibilidades para uma
reunificação pacífica fossem esgotadas completamente”. A lei causou
implicações e impedimentos para o movimento taiwanês em declarar a
independência (Pan, 2008).
A opinião pública taiwanesa, por exemplo, na última década, em sua maioria,
era contra a independência, porém, atualmente, podemos perceber que
populares mais idosos são mais propensos a se verem como taiwaneses do
que os mais jovens. Michael D. Swaine, em seu artigo “trouble in Taiwan”
(2004) argumenta que o motivo destas pesquisas resultarem desta forma seria
que os idosos teriam vivido a violência nacionalista chinesa. As classes mais
jovens conseguem se identificar com ambas as partes, tanto no lado chinês
quanto no lado taiwanes, o que pode gerar neutralidades no projeto de
independência. Mesmo assim, atualmente a maioria da população reconhece o
valor de ser independente, seja por autodeterminação seja por aversão ao
regime chinês (Swaine 2004).
Trabalhando com a possibilidade de uma possível intervenção militar chinesa
na ilha, algumas questões podem emergir a favor de Taiwan, indo contra a
possibilidade de uma intervenção nacional na ilha. As últimas intervenções
internacionais feitas seguem um certo tipo de padrão. Se configuram quando
uma entidade, geralmente governo ou grupos radicais estão gerando danos a
povos inocentes, de acordo com Swaine (2004). O genocídio, a limpeza étnica,
a violação maciça aos direitos humanos, e a chacina são exemplos de
situações que legitimam tais intervenções. Taiwan não sofre nenhum destes
males. Seus habitantes não estão sendo mortos, nem estão classificados como
vítimas de limpeza étnica, ou atacados por outro ator. Além disso, Taiwan vive
uma liberdade econômica e atua sob uma democracia com um presidente
26
eleito. Analisando este padrão, não existe nenhum motivo para que a
comunidade internacional atue no caso de Taiwan, principalmente uma
intervenção arriscada pelos China, ou, até mesmo, uma investida norte
americana.
Taiwan tem a seu lado questões legais predispostas na carta da ONU
(Organização das Nações Unidas), onde se defende a autodeterminação dos
povos. Swaine (2004) ressalta a importância do interesse de outros atores na
dinâmica, no caso os Estados Unidos, que mantém apoio a Taiwan com o
objetivo de enfraquecer o poderio chinês. Quando ocorreu a transferência de
soberania, a China acordou que procuraria uma solução pacífica à situação da
ilha, em troca de um compromisso Norte Americano de não questionarem a
posição de uma só China. O governo taiwanês aceitou fazer parte desta
unidade chinesa. Porém quando emergida como democracia, Taiwan buscou
defender sua auto-determinação, o que questionou o princípio de unidade
chinesa, gerando com isso o início da complicação entre os dois atores.
Perigosamente esta situação ataca o princípio, considerado um princípio chave
da carta das nações unidas, a autodeterminação dos povos como critério para
o estabelecimento de um Estado soberano territorial. Nem os Estados Unidos
nem a comunidade internacional nunca validaram a noção que as opiniões da
maioria, aliada ao processo democrático (tais como um referendo) ou outros
meios, validariam um movimento que rume a independência. Os territórios tais
como o Tibet não são reconhecidos pela comunidade internacional como
Estados independentes, apesar do fato de possuir uma maioria de seus
habitantes com interesses ligados diretamente à independência,
autodeterminação, cultura e administração própria. Por esta convenção, se
podemos assim chamar, Taiwan não é atualmente uma nação independente,
pelo motivo de que a maioria da comunidade internacional - incluindo os
Estados Unidos - não os reconhece como tal (Swaine, 2004; Pan, 2008).
Taiwan teve um apoio doméstico muito grande em relação ao referendo e a
independência da ilha; cem mil pessoas marcharam recentemente nas ruas
taiwanesas segundo o artigo “Taiwan´s Losing Battle” de Jayshree Bajoria,
27
publicado em 2007. O presidente taiwanês Chen Shui-bian tentou intimidar os
Estados Unidos por não apoiar a tentativa da ilha, e tomar partido pelo lado
Chinês. Entretanto o governo norte americano declarou que se opõe a qualquer
tentativa unilateral de mudança no status quo na região, primando pela
estabilidade (Bajoria 2007).
3.3_ Argumento Chinês
Os motivos e argumentações chineses estão ligados a valores e questões
internas, além da manutenção da posição chinesa no sistema internacional. Em
concordância com Swaine (2004):
“Beijing regards the eventual reunification of China and Taiwan as
essential to China's recovery from a century of national weakness,
vulnerability, and humiliation, and to its emergence as a respected
great power”. Michael D. Swaine (2004)
De acordo com Swaine (2004), o governo de Pequim considera a reunificação
com Taiwan um símbolo de restauração de força Chinesa, depois de um século
de fraqueza e de derrotas. Perder novamente a posse da ilha remontaria à
conjuntura esquecida, colocando o país em uma condição complicada no
sistema internacional. A China é considerada uma das principais potências na
conjuntura internacional atual, com uma economia estável e crescente além de
um poderio bélico consideravelmente forte, um dos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o que exige uma grande
responsabilidade internacional em relação à manutenção do status quo. Perder
novamente a soberania da ilha poderia colocar em cheque esta posição atual,
o que causaria o questionamento de todo seu potencial poder. Com a vitória de
Taiwan conseguiria manchar o prestígio e o poder da China continental: Os
líderes chineses acreditam que seu governo desmoronaria provavelmente em
tal cenário. A independência de Taiwan estabeleceria também um precedente
perigoso para outras áreas com potencial secessão do país, tais como, Macau,
Hong Kong e o Tibet, que provavelmente tentariam também lutar por sua
28
independência. Uma vez que uma destas regiões se tornasse independente as
outras seguiriam o mesmo caminho (Swaine, 2004).
O principio de uma China, sustentado por Pequim, ainda reitera que Taiwan é
uma parte inalienável da China continental. E a manutenção do status quo no
estreito de Taiwan também é de grande interesse norte americano, além de se
configurar em uma questão altamente sensível para a China continental.
Alguns críticos acusaram Chen de movimentos da pro-independência com o
intuito de melhorar a posição do seu partido nas eleições, ocorridas em março
de 2008. Mas outros dizem que a China procurou alterar o status quo
acumulando forças militares e recusando cooperar em todas as negociações
diplomáticas com o governo eleito. Alem do acumulo de força militar, a China
continental é responsabilizada por utilizar seu poder econômico e político, no
atual sistema, com a intenção de isolar Taiwan. Um número ínfimo de países
reconhece Taiwan como independente e mantém relações diplomáticas com a
ilha. Em comparação, a duas décadas atrás, até 1971, era o governo
reconhecido como China, até à vinculação com Pequim, no lugar de Taiwan.
Apesar das relações econômicas de expansão entre o continente e a ilha, não
houve nenhuma novidade na iniciativa política (Bajoria 2000).
As relações que a China mantém com Taiwan atualmente, até março de 2008,
quando se deram as novas eleições presidenciais na ilha, moldam uma dúvida
séria no que se refere à reivindicação do governo chinês em que a ilha faz
parte de uma única autoridade soberana, o governo instaurado em Pequim. A
China ofereceu a Taiwan uma proposta de reunificação política que concedia à
ilha a autonomia doméstica, mas, no retorno, Taipei teria que reconhecer uma
única autoridade soberana compartilhada. A China recusa também renunciar
ao recurso de força em caso de coerção contra a região, reivindicando que a
esta condição de empregar a força é um atributo essencial garantido aos
Estados Soberanos. Este recurso é considerado pela China como um processo
de impedimento, essencial para a garantia de que Taiwan não prossiga de
forma determinada à tentativa de se tornar independente (Swaine, 2004; Pan,
2008; Pinto, 2000).
29
Um grande problema que o governo chinês enfrenta é, de certa forma, o apoio
que a ilha recebe dos Estados Unidos. Desde seu retorno à soberania chinesa
e seu pleito a independência, Taiwan vem recebendo o apoio indireto dos
Estados Unidos, principalmente na área comercial. Os Estados Unidos
comercializam principalmente armas com Taiwan, configurando um certo apoio
os propósitos da ilha, a potência também condena qualquer repressão chinesa
à manifestação de direitos de autodeterminação do povo taiwanês, alegando
que esta geraria a instabilidade da região (Swaine, 2004).
A República Popular da China afirma que existe somente “uma China” (One
China Principle), princípio que era apresentado pela República da China,
quando esta se encontrava exilada na ilha de Formosa. Taiwan é uma parte
inalienável da China continental. Pequim argumenta que Taiwan está limitada
pelo acordo consentido entre os representantes de ambos os governos (Partido
Comunista Chinês e KMT) em Hong Kong no ano de 1992. Referido como o
consenso de Hong Kong, indica que havia somente uma China, mas China
continental e Taiwan poderiam interpretar esse princípio da forma que
desejarem. O presidente de Taiwan Chen Shui-bian, entretanto, rejeita esta
existência do consenso. O KMT o aceita como ponto de partida para
negociações (Pan, 2008).
Em 1979, os Estados Unidos restabeleceram relações com Pequim e
assinaram uma declaração comum que reafirmasse sua política de uma única
China que delimitou suas relações com Taiwan. De acordo com o governo
norte americano:
“The Government of the United States of America acknowledges the
Chinese position that there is but one China and Taiwan is part of
China.” Esther Pan (2008)
Naquela época, o presidente vigente, Jimmy Carter, rompeu as relações
diplomáticas com o governo de Taiwan, transferindo-as para Pequim. Quando
Pequim julga que estes princípios estão ameaçados toma atitudes hostis que
demonstram claramente suas intenções em relação a ilha. Em 2007, a exemplo
30
de suas atitudes e reações, a China continental negou pedidos para acessos
portuários rotineiros à marinha norte americana, por motivo de um anúncio, no
qual os Estados Unidos estavam negociando a venda de sistemas de defesa
de mísseis avançados à Taiwan. Ao passar dos anos, de fato, o comércio de
armas entre Estados Unidos e Taiwan, freqüentemente, construíram atritos
entre Estados Unidos e China, e um passo maior no que tange a corrida bélica
asiática, especialmente no estreito de Taiwan (Pan, 2008; Pinto, 2000).
A quantidade de esforços que a China esteja disposta a despender sobre o
território, relativamente grande, pode ameaçar a investida dos Estados Unidos
na ilha. Na visão chinesa, o governo norte americano não tem tanta pré-
disposição a investir recursos nesta disputa, daí surge a aposta de
Pequim na desistência da potência ocidental. Swaine (2004) Também relata
em seu artigo que a China estaria disposta a arriscar perder suas boas
relações com o ocidente mas não arriscaria perder o controle de Taiwan. Em
caso de alguma ação coercitiva contra a ilha, a China relata que além o dano
social, político e moral, também viria a cargo a estabilidade do seu governo e a
perda de território, que configurariam danos maiores do que o rompimento de
relações diplomáticas com os Estados Unidos, por exemplo (Swaine, 2004).
Trabalhando com a probabilidade de uma investida com a finalidade de defesa
do território, mesmo que muito aquém da realidade, esta seria a operação mais
perigosa envolvendo os Estados Unidos desde as operações durante a Guerra-
Fria. Com a proximidade da ilha ao continente seria impossível investir em
movimentos em Taiwan sem que afetem a China continental. Swaine (2004)
também discorre, superficialmente, sobre o poder bélico chinês, que poderia
inibir, ou pelo menos fazer com que haja muita reflexão antes de uma ofensiva
envolvendo estes atributos. Por outro lado, os Estados Unidos também têm
razões que o façam manter o contato com a ilha, dentre elas podemos destacar
o velho discurso norte americano que é utilizado em todas as suas
intervenções, aquele que ressalta a consolidação de democracias recém
criadas (Swaine, 2004; Pan, 2008).
31
Taiwan e China construiram uma verdadeira corrida armamentista no estreito
durante a disputa sobre o status quo. Em 2007 Pequim anunciou um aumento
nos gastos de defesa, dificultando ainda mais a independência de Taiwan. O
governo chinês declarou que aumentaria seus gastos militares em 18 por
cento, levantando seu investimento na área a cerca de U$ 45 bilhões. O
anúncio aconteceu um pouco menos de dois meses depois que foi realizado
um teste anti-satélite controverso e coincidindo com uma visita pelo secretário
de Estado dos Estados Unidos, John Negroponte, à Taiwan. Negroponte
alertou para a maior transparência nos gastos militares da China. Porém, o
governo de Pequim, por sua vez, levantou a oposição contra o Estado norte
americano, que planejava vender em torno de U$400 milhões em armas a
Taiwan. Negroponte afirmou que as armas teriam a finalidade estritamente
defensiva. Mas o tratado de armas proposto a ilha inclui um tipo de míssil
capaz de alcançar à China continental. (Zissis 2007)
O acordo com os Estados Unidos, que veio a acentuar a tensão entre Taiwan e
Pequim, incluia 218 mísseis de ar-ar e 236 mísseis ar-superfície. Pequim se
opôs a venda dos mísseis, mencionando interesses taiwaneses que se
configurariam na utilização dos mísseis para armar seus jatos F-16. Os
Estados Unidos, principal aliado da ilha, é limitado pelo ato de 19794 de
relações de Taiwan, a fornecer a Taipei as armas defensivas para manter um
equilíbrio de forças através do estreito, dado que China pode ter
aproximadamente novecentos mísseis apontados para o cruzamento do
estreito. Os Estados Unidos transferiram o reconhecimento diplomático de
Taiwan para Pequim durante a administração de Carter e advertiram a Taipei
para não impulsionarem a independência, reiterando a posição do
departamento de estado em 5 de março de 2007, após o antigo presidente
taiwanês, Chen Shui-bian realizar movimentos que instigassem à
independência (idem).
4 Publicado em 10 de Abril de 1979, o ato de relações com Taiwan consiste em: “This bill, HR 2479, laid forth the US’ relationship with Taiwan following US President Carter’s transfer of diplomatic recognition in China to the mainland. It promises to ensure that Taiwan’s democratic status not be altered by outside force and provided for relations between the US and Taiwan.” (Fonte : Council of Foreign Relations.)
32
Em março de 2008, o Kuomintang (KMT), partido nacionalista, ganhou as
eleições presidenciais com Ma Ying-Jeou, que era considerado um candidato
pró – China. De agora em diante Taiwan deve amenizar seus problemas nos
diálogos com a China continental. O parlamento taiwanês atual também tem
maioria do KMT, e comemorou a eleição do presidente aliado. Ma deve agora
encontrar um programa que estreite seus laços com Pequim. O resultado da
eleição também é bem visto pelos Estados Unidos, que agora acredita que a
paz será mantida no estreito, com a aproximação de Taiwan à China
continental. Depois da última década ter sido governada pelo DPP (Democratic
Progressive Party), que incitou a independência e motivou os populares a este
movimento também manteve uma política econômica restritiva em relação à
China, o que tende a melhorar com a eleição de Ma (Bajoria 2008).
A situação econômica entre os dois países esta em ascensão. De fato, a
dependência de Taiwan com o continente aumentou. De acordo com um
relatório pela unidade de inteligência do economista, a China é o maior
mercado exportador de Taiwan e o destino preferido do investimento
estrangeiro. Em 2007 o comércio bilateral entre os dois países era $125
bilhões, um aumento de 15.4 % em relação a 2006. Em um encontro realizado
em 2006, como o prefeito de Taipei, Ma tinha enfatizado a necessidade de
manter o status quo no estreito. Os mercados conservados de Taiwan se
reagruparam com os acionistas após a vitória de Ma, que respondem,
favoravelmente, a sua promessa de estabelecer melhores relações econômicas
com China (idem).
Durante o discurso em 4 de março de 2007, Chen apelou para a independência
e a construção de uma nova constituição, sugerindo a mudança do nome oficial
para Republica da China, adicionando que as companhias locais deveriam
remover a palavra ‘China’ de seus nomes. No final de fevereiro deste mesmo
ano, a palavra “China” foi substituída por “Taiwan”, em selos postais. O DPP
não descansava no que tange a relação política de Taiwan. Um dia após o
presidente chinês, Hu Jintao, ter feito o discurso de aumento dos gastos de
defesa, a vice de Chen, também pro-independência, Annette Lu, declarou sua
candidatura para as eleições presidenciais de 2008, discursando sobre a
33
aproximação construtiva com a China continental. Durante uma reunião de
CFR (Council of Foreign Relations) em janeiro de 2007, Lu incitou a
comunidade internacional a reexaminar o conceito de uma única China,
chamado de antiquado e enganador (ibidem).
4_ SOBERANIA GRADUADA
Transcendendo à noção do Estado, encontramos a globalização, que,
atualmente, tem grande repercussão nos debates internacionais. Sem
nenhuma dúvida a soberania estatal está ameaçada por esta noção, já que
este fenômeno apaga as fronteiras, característica vital para os Estados. De
acordo com Bartelson (1995), o conceito de soberania deve ser definido de
acordo com a época em que está sendo analisado. Tomando o conceito de
soberania como princípio que define a última instância de mando no âmbito
interno e também o que iguala as entidades nacionais no âmbito externo,
através do caso em questão podemos perceber que ele tem uma adaptação na
conjuntura atual. Esta adaptação no cenário atual, de acordo com os estudos, é
feita por Aihwa ONG (2006) que escreve sobre a soberania graduada, que
seria a ausência da soberania plena, definida acima, em todas as partes
territoriais do Estado.
Espaços com características de Estados são formados dentro dos mesmos,
misturando a concepção de território estatal, embaralhando a concepção de
fronteiras. Walker (1993), em sua concepção entra em acordo com ONG (2006)
na questão referente às fronteiras. Os dois autores trabalham com a questão
da mistura entre características encontradas no ambiente internacional e dentro
do Estado, criticando, de certa forma o conceito apresentado. ONG faz um tipo
de ligação do conceito de soberania, em sua visão na atualidade e sua
concepção pós-modernista, criticada por Bartelson e Walker.
A globalização econômica, definida como ausência de fronteiras entre
mercados segundo Aihwa ONG (2006) tem participação vital nas mudanças
34
estatais. O mercado global transcende e convida os Estados a se alinharem
além da soberania. De acordo com a autora, é interessante observar as
respostas que os países pequenos e emergentes tem a este convite,
observando a lógica neoliberal como exceção além das exceções desta mesma
lógica, redefinindo as relações dos Estados com seus cidadãos e com as
instituições externas.
Trabalhando com os tigres asiáticos, ONG (2006) discorre sobre como estes
países atendem a demanda de corporações e agencias internacionais. Porém,
ao atingir estas demandas estes países, no caminho dos mercados globais e
instituições reguladoras, estes Estados acabaram abrindo uma nova
possibilidade de investimento, um novo espaço, que foge aos padrões da
soberania. A criação deste novo espaço se deve à interação da lógica
neoliberal e as ações do Estado, onde foram criados espaços de investimento
não convencionais.
A soberania, convencionalmente, está ligada a poder, seja este poder
configurado no aparato militar, seja no âmbito legal, com a finalidade de
proteger a integridade territorial do Estado – nação, porém, segundo a autora,
este conceito deve ser ampliado. ONG (2006) fala sobre a questão da
vulnerabilidade dos países de terceiro mundo e emergentes que são
dependentes das economias mais fortes, tendo certa insegurança para agir nas
relações internacionais. Os tigres asiáticos, segundo a autora, também se
enquadram nesta característica, mas ainda conseguem manipular as relações
no mercado global e manter o ajuste de suas sociedades internas. A ampliação
do conceito se deve às questões que se estendem dos âmbitos militar e
político, mas com entendimento no âmbito econômico.
O esforço neoliberal juntamente com a economia sem fronteiras, os mercados
globais, tem induzido a criação de muitos espaços políticos, espaços de
investimento não convencionais, onde não percebemos a presença da
soberania estatal, nos quais proliferam diferentes técnicas de governo para
estes dentro de um mesmo Estado. Este contexto é mais fácil de ser
enxergado nos países emergentes pós-coloniais, os quais utilizam técnicas
35
variadas que confiam o controle e a regulação da população para diferenciados
espaços de governança, criando assim um certo tipo de gradação no conceito
de soberania, uma soberania graduada.
Estes países são nomeados de pós-desenvolvidos, ONG (2006) admite que
estes Estados receberam muitos nomes, dentre eles Estados desenvolvidos,
Estados fortes pelo motivo de terem conseguido manter seu nível de
crescimento econômico e mudança em seu sistema de produção no âmbito
doméstico, mas também relacionado com a economia internacional. Nos anos
80 e 90 estes países, Singapura, Malásia, Indonésia e Tailândia, receberam
altas taxas de investimento internacional, alguns chegando a ter as maiores
taxas de investimento da história. Existe, contudo, mais uma característica
comum no que tange ao desenvolvimento deste países, eles se desenvolveram
com a ausência de um território político uniforme, se configurando em zonas
especiais de investimento. Estas zonas não contíguas tinham institutos
regulamentadores diferentes para a população, que poderiam estar ou não em
contato com os circuitos de capital.
A criação destas zonas econômicas especiais foram frutos de calculos
baseados na lógica neoliberal. Quais as áreas e quais as características da
população são ou não vantajosas para atrair investimentos do mercado global,
foram, deliberadamente, decididos por estes países. O efeito da lógica
econômica pós-desenvolvida destes países gerou também uma geografia pós-
desenvolvida, dividindo os territórios nacionais em várias zonas de governo
através daqueles países. Os países do sudeste asiático tem a tendência de
utilizar a lógica neoliberal para mapear os espaços e administrar de acordo
com as necessidades políticas. (ONG 2006)
Algumas conseqüências do erro nesta divisão de zonas especiais podem ser
citadas: são definidas de forma negativa as zonas que são livres de taxação
tributária, direitos trabalhistas e representação étnica. As zonas positivas
promovem oportunidades para qualificação da mão de obra, para implementar
facilidades sociais e infra-estruturais e para incrementar maiores direitos
políticos. O molde destas zonas de produção e tecnológica tem o objetivo de
36
facilitar e atrair o capital global, entretanto envolve questões de soberania
nacional. O termo soberania graduada se refere a um efeito dos estados
movendo para administradores a responsabilidade de uma entidade
nacional reguladora, dos diversos espaços e populações extremos que
estão ligados aos mercados globais (idem).
A autora ainda cita as diferenças populacionais, ou seja, algumas populações
são privilegiadas por causa da sua importância perante o capital global. ONG
(2006) fala sobre as características biopolíticas das populações, ou seja, a vida
humana, no caso destas zonas especiais, tem relevância apenas em termos de
crescimento econômico ou produtividade. Os tigres asiáticos adotaram
diferentes estratégias de acordo com as características da população de suas
zonas especiais. De acordo com a alta ou baixa qualificação da mão de obra,
se faziam ou não parte de um grupo étnico, como por exemplo a Malásia, que
beneficiou os nativos, malays, em detrimento de outros grupos étnicos, como
chineses e indianos. Os malays tinham melhores condições de trabalho, salário
melhor, legislação trabalhista justa, dentre outras características que eram
negadas à migrantes.
Em algumas regiões emergentes pode se encontrar a natureza do Estado
soberano coexistindo com as estratégias de governo em um único espaço
nacional. ONG (2006) disserta sobre agendas neoliberais, que pode significar
diferentes racionalidades e técnicas de governo frequentemente trabalhando
em desacordo. Gerado este desacordo entre os modos de administração, a
autora diz que, em alguns casos, as periferias nacionais, são reconstituídas e e
governada por estas entidades não-autoridades, ou, nos termos de ONG, por
autoridades corporativas quase-governo.
O modelo da soberania gradual nos mostra que a questão não se trata de
Estado versus mercado, mas sim de um momento na história em que existem
áreas nas quais o Estado é forte, com proteções significantes e outras áreas
onde sua presença é quase nula. Estas zonas tem a necessidade de se
formarem como lugares com a ausência do Estado, este é o objetivo para atrair
37
o mercado global, juntamente com investimentos, do contrário se tornariam
espaços irrelevantes. Em suma o conceito de soberania graduado pode ser
visto como um sistema com a soberania dispersa, onde ela atua em algumas
áreas do Estado, porém em outras é substituída por um tipo de administração
paralela. Quando as estratégias do mercado conduzido não são congruentes
com o espaço nacional por si próprio, mas biopoliticamente e espacialmente
em sintonia com os mercados globais (ONG 2006).
Relativizando a questão econômica, ONG (2006) relata que sua abordagem se
trata de estratégias estatais, ainda seguindo a lógica neoliberal. A China
continental, acrescida de suas regiões autônomas, Taiwan, Hong Kong e
Macau, formam um bloco econômico transfronteiriço, porém este é formado
com as zonas especiais, por espaços que se localizam dentro de um Estado,
segundo a argumentação da autora. A China, compreendendo todas as suas
regiões especiais, se trata de uma produção espacial de um esquema de
Estado conduzido com desarticulação política e econômica, devido à
autonomia destas regiões. As regiões especiais da China são resultados de
uma divisão territorial do espaço nacional para o desenvolvimento capitalista
em certos locais
Durante a transição do regime chinês de uma economia centrada e planejada
para o desenvolvimento capitalista, o Estado planejou várias estratégias para
assimilar melhor aos problemas específicos do capitalismo, isto contribuiu para
a reincorporação dos territórios não contíguos. A assimilação destes territórios
foi fundamental não só para estimular o mercado nestes espaços, mas para
acomodar os espaços na nova governança (ONG 2006).
Uma visão de governo como pratica racional mostra que o Estado soberano ou
a ordem sociopolítica são produtos de uma variedade de técnicas, definidas
entre disciplina e regulação da vida individual e coletiva dentro de uma nação.
Levando em conta esta formulação, podemos concluir que o poder soberano
depende de uma rede de instituições reguladoras para produzir efeito na ordem
social (idem).
38
Aihwa ONG (2006) disserta sobre as zonas tecnológicas, mas especificamente,
durante a criação destas zonas, a autora localiza sua abordagem. Uma zona
tenológica significa o direcionamento de medidas políticas para redividir um
território dentro de uma nação. As técnicas utilizadas pelo governo são
instrumentos para criar um novo espaço com a racionalidade de um mercado
guia, e este espaço tem que ter um território não adjacente e se localizar no
lugar mais rentável daquele Estado. Com esta criação é constituída a
soberania graduada, ou seja, um ato de soberania, a criação de uma zona
tecnológica dispersa o poder da mesma, dentro daquele próprio espaço.
As zonas econômicas especiais combinam velhas áreas com orientação para
exportação manufatureira, combinam a ausência de impostos com outros
incentivos para fabricas estrangeiras, tendo como consequência lucros daquela
exportação, qualificação da mão de obra e a facilidade de transferência de
tecnologia. A China desenvolveu suas zonas especiais para criar formas de
alinhamento destas regiões, com o continente, adotando o regime de soberania
graduada, segundo ONG (2006). As quatro principais vantagens da política nas
zonas especiais chinsesas, especificamente, foram: atrair e utilizar capital
estrangeiro; para construir parcerias, joint ventures, entre o continente e
estrangeiros; para produzir bens para exportação e deixar com que as
condições do mercado guiem a atividade econômica, configurando a soberania
graduada. Estas zonas estão envolvidas em um sistema, que não somente se
vira para questões econômicas, mas tem a responsabilidade política de
conduzir a mudança do regime socialista chinês para um mercado econômico.
As ligações econômicas, riqueza e experimentos capitalistas serviram de
objetivos políticos explícitos para administrar a integração de Hong Kong,
Macao e Taiwan com a China continental. Estas zonas econômicas especiais,
segundo a autora, tem um poder diferente das zonas de exportação, elas tem a
autonomia de criar oportunidades de negócios, ou seja, tem o controle
administrativo do espaço. Porém, elas tem que reportar às autoridades centrais
em Pequim, matérias econômicas e administrativas. (ONG 2006)
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Hong Kong, Macau e Taiwan estão classificados na característica de zonas
administrativas especiais, ou seja, tem alguns privilégios em relação às zonas
econômicas especiais. As zonas econômicas especiais estão limitadas no que
tange a autonomia de administração; basicamente estas zonas são uma
exceção econômica ao planejamento socialista central, que desfrutam da
autonomia de mercado e de relações de mercado para desenvolver o
capitalismo no continente, com a ajuda chinesa e de investidores estrangeiros.
Já as zonas administrativas especiais, possuem sua própria constituição,
instituições políticas e judiciárias, com eleições democráticas e liberdade de
expressão, são verdadeiros Estados independentes, porém com sua soberania
vinculada à China (ONG 2006).
Em meados da década de 90, a política “One county, two sistems” (Um país,
dois sistemas) foi desenvolvida para a recuperação destes territórios
separados, atualmente zonas administrativas especiais, e se configuram como
uma acomodação formal de diferentes entidades políticas, foi criado um tipo de
regionalização, uma divisão regional dos territórios, de acordo com suas
capacidades de atração de investimentos, entre os dois sistemas políticos, com
o objetivo de unificar politicamente estes territórios com a China (ONG 2006).
A soberania chinesa é basicamente legitimada pelos canais de comércio
transfronteiriço, não pelos canais de direito civil. Problemas de governo, cada
vez mais, são resolvidos pela distribuição de técnicas intelectuais e práticas
que são promovidos pelo sucesso econômico pela abertura nesta economia
para um espaço político. O mercado tem impulsionado as práticas destas
zonas no sentido de conter pequenas agitações civis, primando pela
estabilidade da região. Este pode ser considerado um novo alinhamento entre
segurança nacional e liberdade econômica, porém estas questões de liberdade
política podem ser observados apenas em zonas administrativas especiais, que
possuem mecanismos que toleram o desenvolvimento de redes capitalistas e a
certas demandas de direitos humanos, em menor escala em zonas econômicas
especiais, mas não em zonas de tecnologia (ONG 2006).
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ONG (2006) critica a visão dominante de soberania, vinculada ao poder direto
do Estado, dizendo que os governos agem em uma espécie de hipocrisia
organizada, pelo motivo de agirem nos termos de seus próprios interesses
mesmo violando as regras internacionais. De acordo com as explanações de
ONG, na questão entre a possível secessão chinesa, ou da aplicação do
conceito de soberania, o caso entre China e Taiwan ocorre com a soberania
graduada por parte da China. Como a autora explicou, os países do sudeste
asiático tiveram um modelo econômico pós-desenvolvimentista, criando
também uma geografia pós-desenvolvimentista, o que culminou na criação
destes espaços, destas zonas especiais que estão isentas da soberania do
Estado que as construiram. Taiwan, como região autônoma especial, tem sua
autonomia nos moldes citados por ONG, porém sua junção política com a
China se configura como uma expressão da soberania graduada.
5_ CONCLUSÃO
As relações entre China e Taiwan possuem vários agravantes que dificultam a
análise do princípio da soberania em relação à condição. Contudo, com os
últimos acontecimentos, provavelmente esta situação não terá a mesma
dramaticidade em tempos futuros que tinha até então. Com a vitória do
Kuomintang (KMT) nas eleições presidenciais de março deste ano, as relações
no estreito tendem a melhorar, como o próprio presidente eleito, Ma Ying-Jeou,
ressaltou em seu primeiro discurso. A derrota do DPP (Democratic Progressive
Party) deu novo ânimo às relações no estreito.
Analisando como a situação atual foi formada, vimos que não é de fácil
solução, já que o governo taiwanes um dia foi o governo da China continental
que foi exilado na ilha, com o interesse de dominar novamente o continente.
Porém a aproximação das relações com o Partido Comunista, que passou a
comandar a China continental, fez com que os outros países transferissem
suas relações diplomáticas de Taipei para Pequim, excluindo Taiwan da ONU.
Desde então encontramos esta situação, com a diminuição nas ambições de
41
Taiwan, o governo desistiu de reconquistar a China continental e se contentou
com a ilha, lutando por sua independência.
A situação econômica e militar no estreito também constitui um ponto
importante para a análise do termo, para a verificação de sua aplicabilidade ou
não. Os ocorridos militares que foram citados se configuram como uma
tentativa de coerção, tanto da China quanto de Taiwan, porém o poderio militar
chinês é bem maior do que o de Taiwan. A China, com o intuito de evitar o
movimento para a independência de Taiwan utilizou estratégias militares, como
por exemplo a aprovação da lei anti-separação, que previa o uso de medidas
não pacíficas para evitar uma possível independência chinesa.
Levando em consideração todos os argumentos e características
apresentados, podemos concluir que Taiwan se trata de uma zona
administrativa especial, tendo todos os privilégios que um território como este
possui. Caso um dia venha a se desvincular com a China, o que é pouco
provável pela vitória nas últimas eleições, poderemos discutir a soberania da
ilha.
Com relação à China e as características do conceito de soberania, existem
algumas complicações com relação à aplicação desta do conceito de soberania
podemos caracterizar a situação de acordo com a classificação de ONG
(2006), que disserta sobre a soberania graduada. Taiwan foi constituído, na
forma em que se encontra atualmente, com os interesses de concretizar um
espaço para atrair investimento internacional, além de aproximar-se do
mercado global, porém foi a soberania chinesa quem deu origem a esta
situação, e, como a própria autora coloca, se dispersou criando um racional
mercado guiado, com sua própria autonomia.
Concluo que, na questão de aplicação do termo soberania na questão China –
Taiwan não podemos aplicar o termo em sua abordagem clássica, como última
instância de mando interno e princípio que iguala as entidades no âmbito
externo, tais como as expostas no primeiro capítulo, mas podemos então
encaixar a China como mantenedora da soberania graduada, onde a soberania
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se dispersa um pouco não atuando de forma plena na região autônoma. De
acordo com a interpretação de Bartelson (1995), o termo soberania deve
assumir uma forma no contexto em que está sendo estudado, no contexto atual
no que se refere à China e Taiwan. A adaptação atual do conceito pode ser
assumida como a soberania graduada, ou seja, existem partes internas em um
Estado nas quais ele não age como soberano plenamente, delegando esta
função para um outro tipo de autoridade. Bartelson e ONG (2006) podem
explicar a situação ocorrente entre China e Taiwan atualmente, com a
adaptação da soberania atualmente como soberania graduada, Taiwan sendo
o território chinês onde a soberania deste Estado não está presente de forma
plena.
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6_ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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