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Edmundo Inácio Júnior
EMPREENDEDORISMO E LIDERANÇA CRIATIVA: umestudo com os proprietários-gerentes de empresas
incubadas no Estado do Paraná
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração – PPA daUniversidade Estadual de Maringá – UEM,para obtenção do título de Mestre emAdministração.
Orientador: Dr. Fernando A. P. Gimenez
Março de 2002Maringá - PR
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Edmundo Inácio Júnior
EMPREENDEDORISMO E LIDERANÇA CRIATIVA: umestudo com os proprietários-gerentes de empresas
incubadas no Estado do Paraná
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração – PPA daUniversidade Estadual de Maringá – UEM, para obtenção do título de Mestre emAdministração.
Aprovada em 13 de março de 2002
Banca Examinadora
Prof. Dr. Fernando A. P. Gimenez (Orientador)Universidade Estadual de Maringá – UEM / Departamento de Administração
Prof. Dr. Ruy Quadros de CarvalhoUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP / Instituto de Geociências
Departamento de Política Científica e Tecnológica
Prof. Dr. José de Jesus PrevidelliUniversidade Estadual de Maringá – UEM / Departamento de Administração
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Dedico este trabalho,
À Deusque me é fonte constante de inspiração,
e aos meus Pais e irmã
pelo exemplo de empreendedorismo e criatividade em suas vidas.
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AGRADECIMENTOS
Não há dúvidas de que ao se elaborar um trabalho de pesquisa, são requeridas horas e mais
horas de esforço. Este desafio, sem sombra de dúvida, não poderia se concretizar sem que
houvesse o envolvimento de várias pessoas, que com diferentes maneiras, contribuíram de
forma expressiva à presente dissertação. Primeiramente, agradeço à orientação do Prof.
Gimenez que de forma tão hábil auxiliou na elaboração de cada parte do projeto bem como da
dissertação, estabelecendo uma rota segura e precisa à conclusão do mesmo. Sua paciência,
entusiasmo, bom humor e disponibilidade foram importantes nos momentos de dificuldades.
Agradeço ao Prof. Tudor Rickards e à Profª. Susan Moger, que em seu período no Brasil,
forneceram as explicações necessárias para o entendimento de seu modelo de Liderança
Criativa. Agradeço ao Prof. José de Jesus Previdelli e à Profª. Hilka Pelizza Vier Machado
que às vésperas de Natal, se dispuseram a participar do exame de qualificação. Todas as suas
observações quanto à forma e conteúdo do trabalho foram pertinentes e valiosos e com
certeza serviram para a melhoria do trabalho. Agradeço também aos professores e amigos do
Programa de Pós-Graduação em Administração, onde passei a maior parte do tempo
realizando os trabalhos de suas disciplinas bem como da dissertação. Agradeço aos
proprietários-gerentes das empresas bem como aos coordenadores das Incubadoras
Tecnológicas que, ao disponibilizarem seu tempo à pesquisa, tornaram-na possível. Agradeço
ao Prof. Gilmar Masiero que, desde a graduação, vem contribuindo à minha formação
acadêmica. Agradeço aos amigos e também acadêmicos Newton Hirata, Emerson, César,
Arnaldo e Letícia pelo apoio e auxílio, sendo estes minha família em Maringá, sempre
presentes para “o que der e vier”. Agradeço ao Sensei Roberto Nagahama pelas horas de
descontração e prática do judô, que contribuíram para a minha saúde física e mental.
Agradeço a minha família pelo incentivo e apoio a este novo desafio, a minha irmã Inara e
meu cunhado Salvador e especialmente aos meus pais Edmundo e Cecília por sempre
apoiarem minhas decisões e permanecerem fortes e constantes no apoio a minha formação
acadêmica. Por fim, sou grato à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – CAPES, que possibilitou esta pesquisa e contribui em grande parcela para
inúmeros outros trabalhos acadêmicos e científicos.
A todos, meu MUITO OBRIGADO...
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O Homem deve criar a oportunidade e não somente encontrá-la.Francis Bacon (1561 – 1626)
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SUMÁRIO
Capítulo 1: Apresentação......................................................................................................11
1.1 Tema e problema ..........................................................................................................111.2 Objetivos.......................................................................................................................141.2.1 Objetivos gerais ............................................................................................................141.2.2 Objetivos específicos....................................................................................................151.3 Justificativas .................................................................................................................151.4 Hipóteses ......................................................................................................................181.5 Aspectos metodológicos ...............................................................................................191.5.1 Características da pesquisa ...........................................................................................201.5.2 Cuidados em relação aos erros de medida....................................................................231.5.3 População e amostra .....................................................................................................241.5.4 Os Instrumentos de pesquisa ........................................................................................271.5.5 Tratamento dos dados...................................................................................................301.6 Estrutura da dissertação................................................................................................31
Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas ........33
2.1 Origens e definições do empreendedorismo.................................................................352.1.1 Características do empreendedor..................................................................................402.2 Liderança Criativa ........................................................................................................452.2.1 Modelo de formação de equipes segundo Tuckman ....................................................462.2.2 Os sete fatores de equipes criativas ..............................................................................472.3 Breve histórico das incubadoras tecnológicas ..............................................................492.3.1 A contribuição das incubadoras tecnológicas...............................................................52
Capítulo 3: Análise do CEI ...................................................................................................54
3.1 Análise geral do CEI ....................................................................................................563.2 Análise do CEI com as variáveis..................................................................................63
Capítulo 4: Análise do TFI....................................................................................................68
4.1 Análise geral do TFI .....................................................................................................694.2 Análise do TFI com as variáveis ..................................................................................77
Capítulo 5: Análise da relação entre o CEI e o TFI ...........................................................82
5.1 Discussão teórica ..........................................................................................................835.2 Análise da Associação..................................................................................................87
Capítulo 6: Conclusão ...........................................................................................................93
Referências Bibliográficas ...................................................................................................101
Anexo 1: Análise da validade e confiabilidade do CEI e do TFI.........................................108Anexo 2: Carta pesquisa às incubadoras ..............................................................................130Anexo 3: CEI e TFI - versão em português .........................................................................131Anexo 4: CEI e TFI - versão original...................................................................................134Anexo 5: Instrução para tabulação do CEI...........................................................................137
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LISTA DE TABELAS, QUADROS, GRÁFICOS E FIGURAS1
TABELASTabela 1.1 – Número de Incubadoras por localização geográfica............................................24Tabela 3.1 – Média do CEI por tipo .........................................................................................57Tabela 3.2 – Média do CEI por sexo........................................................................................63Tabela 4.1 – Média do TFI por tipo .........................................................................................70Tabela 4.2 – Média do TFI por sexo ........................................................................................77Tabela 5.1 – Média do CEI, TFI e seus fatores agrupados por CEI.........................................88Tabela 5.2 – Matriz de correlação entre CEI e os quatro fatores .............................................89Tabela 5.3 – Matriz de correlação entre TFI e os sete fatores..................................................90Tabela 5.4 – Matriz de correlação entre CEI e os fatores do TFI.............................................90Tabela 5.5 – Matriz de correlação entre TFI e os fatores do CEI.............................................91Tabela 1 – Fatores do TFI ......................................................................................................111Tabela 2 – Fatores do CEI ......................................................................................................112Tabela 3 – Autovalores do CEI ..............................................................................................116Tabela 4 – Matriz fatorial do CEI...........................................................................................117Tabela 5 – Análise Fatorial: autovalores do TFI ....................................................................119Tabela 6 – Matriz fatorial do TFI ...........................................................................................120Tabela 7 – Análise da confiabilidade: estabilidade do CEI (Anova: fator único)..................123Tabela 8 – Análise de confiabilidade: consistência interna – Split-half do CEI ....................124Tabela 9 – Análise de confiabilidade: consistência interna - Split-half do TFI .....................125Tabela 10 – Análise da confiabilidade: consistência interna – Alfa de Cronbach do CEI.....127Tabela 11 – Análise de confiabilidade: consistência interna – Alfa de Cronbach do TFI .....129
QUADROSQuadro 1.1 – Classificação da pesquisa ...................................................................................22Quadro 1.2 – Número de empresas, respondentes e localização das empresas........................26Quadro 2.1 – Linhas de pesquisa em empreendedorismo ........................................................34Quadro 2.2 – Características freqüentemente atribuídas ao empreendedor .............................41Quadro 3.1 – Dados demográficos da amostra (n = 73)...........................................................55Quadro 3.2 – Questões menos e mais pontuadas do CEI .........................................................62Quadro 3.3 – Foco de aprendizagem........................................................................................67Quadro 4.1 – Questões menos e mais pontuadas do TFI .........................................................74Quadro 5.1 – Características do indivíduo relativamente mais criativo...................................85Quadro 1 – Interpretação dos tiros em relação a acurácia e precisão.....................................121
1 O primeiro número indica o capítulo e o segundo a ordem crescente de apresentação. Quando composto de
somente um número refere-se as informações do Anexo 1.
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GRÁFICOSGráfico 3.1 – Histograma do CEI.............................................................................................56Gráfico 3.2 – Distribuição por tipo de CEI ..............................................................................58Gráfico 3.3 – Contribuição dos fatores internos na composição do CEI .................................59Gráfico 3.4 – Somatório dos pontos por questão do CEI .........................................................61Gráfico 3.5 – Diagrama de dispersão: idade x CEI ..................................................................64Gráfico 3.6 – Diagrama de dispersão: idade (p.m.) x CEI .......................................................65Gráfico 3.7 – Diagrama de dispersão: grau de instrução x CEI ...............................................66Gráfico 4.1 – Histograma do TFI .............................................................................................69Gráfico 4.2 – Distribuição por tipo de TFI...............................................................................71Gráfico 4.3 – Contribuição dos fatores internos na composição do TFI..................................72Gráfico 4.4 – Somatório dos pontos por questão do TFI .........................................................73Gráfico 4.5 – Radar: pontuação máxima, mínima e média dos setes fatores do TFI ...............75Gráfico 4.6 – Diagrama de dispersão: idade x TFI ..................................................................78Gráfico 4.7 – Diagrama de dispersão: idade (p.m.) x TFI........................................................79Gráfico 4.8 – Diagrama de dispersão: grau de instrução x TFI................................................80Gráfico 5.1 – Diagrama de dispersão: CEI x TFI.....................................................................92Gráfico 1 – Probabilidade normal: variável Q3 .....................................................................114Gráfico 2 – Distribuição dos autovalores do CEI...................................................................115Gráfico 3 – Distribuição dos autovalores do TFI ...................................................................118
FIGURASFigura 1.1 – Localização geográfica das incubadoras..............................................................27Figura 2.1 – Modelo revisado de formação de equipes de Tuckman.......................................46Figura 1 – Acurácia (validade) e precisão (confiabilidade) ...................................................121
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RESUMO
O tema/problema que deu início a esta dissertação foi o estudo do empreendedorismo e dacriatividade. Para uni-las surgiu a idéia de estudar as empresas incubadas, através de seusproprietários-gerentes, nas Incubadoras Tecnológicas do Estado do Paraná que se dedicam aosseguintes campos de atuação: automação de escritório, desenvolvimento de software,agribusiness, produtos químicos, entretenimento eletrônico, consultoria para Internet esistemas gerenciais para área de saúde. O objetivo da dissertação é analisar o potencialempreendedor e de liderança criativa dos proprietários-gerentes das micro e pequenasempresas verificando a relação existente entre empreendedorismo e liderança criativa bemcomo verificar a confiabilidade e validade da versão em português dos instrumentos CarlandEntrepreneurship Index – CEI e Team Factors Inventory – TFI. As justificativas para oestudo do empreendedorismo podem ser sintetizadas em três vertentes: a social que enfatiza oensino do empreendedorismo como uma resposta ao desemprego; a econômica que prega arelação existente entre crescimento econômico e atividade empreendedora; e a empresarialque se utiliza de instrumentos de medição do potencial empreendedor para triagem e seleçãode projetos a serem incubados. A justificativa para se escolher como amostra as incubadorastecnológicas é o rápido crescimento que esta forma de organização vem tendo nos últimosanos, e suas características peculiares de promover e fomentar a criação de novas empresasnormalmente atreladas a pessoal jovem e de áreas tecnológicas, com formação superior. Tem-se como pressupostos um conjunto de cinco hipóteses: H1: Os proprietários-gerentes possuemuma forte tendência ao comportamento empreendedor; H2: Os proprietários-gerentes possuemuma forte tendência ao comportamento criativo; H3: Existe uma associação positiva entre onível de empreendedorismo e de liderança criativa dos proprietários-gerentes; H4: A variávelsexo não tem associação com o nível de empreendedorismo (H4.1) e de liderança criativa(H4.2) dos instrumentos propostos; e H5: As variáveis grau de instrução e idade têmassociação positiva com o nível de empreendedorismo (H5.1) e de liderança criativa (H5.2).A metodologia abrangeu a revisão da literatura acerca de empreendedorismo e do modelo deliderança criativa, a tradução dos instrumentos pelo método de backtranslation, a definição dotamanho da amostra pelo uso de fórmulas estatísticas para pequenas populações e a análisedos dados utilizando-se da estatística descritiva, testes de hipóteses, análise fatorial e análisesde confiabilidade, a partir do software Statistics. A pesquisa portanto se caracteriza por ser umestudo formal, interrogativo, ex post facto, descritivo, cross-sectional e quantitativo. Osresultados apontaram para uma distribuição normal dos índices de empreendedorismo eliderança criativa, sendo a média das pontuações alcançadas alta, dando assim suporte a H1 eH2. A diferença das pontuações entre homens e mulheres não foi estatisticamentesignificativa, corroborando com H4.1 e H4.2. Indicou também uma associação positiva eestatisticamente significativa do índice de empreendedorismo com as variáveis idade e graude instrução, aceitando-se H5.1 e parcialmente com o índice de liderança criativa, que levou aaceitação com restrições de H5.2. A associação entre as duas medidas foi positiva eestatisticamente significativa, contribuindo para H3. Por fim, análises estatísticas indicaramque as versões em português dos instrumentos obtiveram níveis suficientes de validade econfiabilidade, apesar de evidenciar a necessidade de algumas alterações.
Palavras-chave: empreendedorismo, empreendedor, incubadoras tecnológicas, criatividade.
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ABSTRACT
The statement problem that this project addressed was the study of entrepreneurship andcreativity. In order to link both ideas, the focus centered on small firms’ owner-managerslocated in enterprise’s incubators located in Paraná, a Southern Brazilian state, dedicated tobusinesses in the following fields: automation, software development, agribusiness,chemicals, electronic entertainment, IT consulting, and health systems. The researchobjectives were to analyze both entrepreneurial and creative leadership potential of the smallfirms’ owner-managers, verifying the relationship between entrepreneurship and creativity.The study aimed also at verifying the reliability and validity of a translated version intoPortuguese of the Team Factors Inventory – TFI and Carland Entrepreneurship Index – CEI.The importance of studying entrepreneurship can be synthesized into three pillars: the socialone that emphasizes entrepreneurship as an answer to unemployment; the economic one thatis concerned with the relationship between entrepreneurship and economic growth; and themanagerial one that uses instruments to measure entrepreneurial potential for selecting newbusinesses’ projects to be incubated. The reasons for choosing incubators’ small businesses astarget sample were due to their fast growth in the last decade, and their peculiar characteristicsin promoting and nurturing the creation of new enterprises normally started by young peoplewith outstanding education. The hypotheses analyzed in this study were: H1. Owner-managers have a strong proclivity toward an entrepreneurial behavior; H2. Owner-managershave a strong proclivity toward a creative behavior; H3. There is a positive correlationbetween entrepreneurship and creative leadership; H4. There is no association betweenowner-managers’ sex and entrepreneurship – H4.1 and creative leadership – H4.2; H5. Thereis a positive correlation between owner-managers’ age and level of education withentrepreneurship – H5.1 and creative leadership – H5.2. The research methodology included aliterature review on entrepreneurship and creative leadership, backtranslation of both CEI andTFI instruments, definition of the sample’s size by statistics formula for small populations,and data analyses through exploratory data analysis, hypothesis testing, correlation analysis,factor analysis, and reliability and validity test. The design of the research can be classified asformal, interrogation, ex post facto, descriptive, cross-sectional, and quantitative. The resultspointed out to an approximate standard normal distribution of CEI and TFI scores, with highmean along the range giving support to H1 and H2. The correlation between CEI and TFIscores produced a positive and statistically significant coefficient, apparent stronger,accepting H3. A non-significant difference between male and female CEI and TFI scores,leading to the acceptance of H4.1 and H4.2. A positive and statistically significantrelationship between CEI scores and both age and level of education variables accepting H5.1.TFI scores had positive and statistically significance only in relation to the level of educationleading us to accept partially H5.2. Finally, the reliability and validity analysis showed thatboth translated version into Portuguese of CEI and TFI achieved acceptable levels ofreliability and validity and so possess the features of a good measurement tool, although somemodifications have been suggested.
Key words: entrepreneurship, entrepreneur, technological incubators, creativity.
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11
Capítulo 1
Apresentação
1.1 Tema e problema
O empreendedorismo, como campo de pesquisa acadêmica, tem sofrido de uma falta de
consenso e uniformidade na determinação de sua definição e métodos (BRAZEAL e
HERBERT, 1999). Conseqüentemente, pesquisadores, acadêmicos e profissionais engajados
no estudo desse fenômeno, se esforçam na determinação de um modelo geral, de ampla
compreensão e acordo, que possa unir os mais diversos entendimentos a respeito do que é ser
um empreendedor ou do ato de empreender e de quais fatores contribuem para seu
desenvolvimento ou sua inibição (COOPER, HORNADAY e VESPER, 1997; COOPER,
2000). As razões desta falta de consenso são atribuídas ao fato de que o conjunto de pesquisas
em empreendedorismo é, normalmente, levado a cabo por pessoas de diferentes campos de
pesquisa que abordam o empreendedorismo a partir dos pressupostos de suas próprias áreas
de estudo (HART, STEVENSON e DIAL, 1995).
Concomitante a esse quadro de fragmentação e desacordo, a expansão deste campo de estudo
tem sido rápida. Os esforços em direção à uma visão integradora tem sido relevantes,
consolidando o empreendedorismo como uma área de conhecimento com status científico
(BRUYAT e JULIEN, 2000; SHANE e VENKATARAMAN, 2000). Exemplos dessa
expansão e consolidação, ao redor do mundo, podem ser citados como o da Academy of
Management que, em 1987, criou uma divisão para estudos nesta área, inclusive com uma
definição própria de empreendedorismo como segue:
O estudo da criação e a administração de negócios novos, pequenos e familiares, e dascaracterísticas e problemas especiais dos empreendedores. Os principais tópicos incluemidéias e estratégias de novas empresas, influências ecológicas sobre a criação e odesaparecimento de novos negócios, aquisição e gerenciamento de novos negócios e deequipes criativas, auto-emprego, proprietários-gerentes e o relacionamento entreempreendedorismo e o desenvolvimento econômico (SHANE, 1997, p. 83, tradução doautor).
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Capítulo 1: Apresentação 12
Anteriormente à Academy of Management, a Universidade de Harvard, desde 1947, também
possui uma linha de pesquisa e estudos específicos sobre empreendedorismo sendo sua
definição um pouco diferente daquela: “Definimos Empreendedorismo como a busca de
oportunidade além dos recursos tangíveis correntemente controlados”.2 Ademais, o Centro
para Empreendedorismo Arthur M. Blank, da Babson College nos Estados Unidos,
universidade responsável por uma das principais conferências internacionais sobre
empreendedorismo3, ratifica a definição fornecida pela Harvard evidenciando seu
alinhamento para com esta. Segundo a Babson College, empreendedorismo:
É definido como uma maneira de pensar e agir que é obcecada pela oportunidade, holística naabordagem e balanceada na liderança. Empreendedorismo é identificar uma oportunidade semlevar em consideração os recursos correntemente disponíveis e agir sobre esta com o propósitode criação de riqueza nos setores público e privado.4
Explicações sobre o ato de empreender têm sido buscadas tanto em características como em
comportamentos do indivíduo empreendedor. Recentemente, abordagens mais amplas têm
sido propostas, considerando o empreendedorismo como um processo complexo e
multifacetado, reconhecendo as variáveis sociais (mobilidade social, cultura, sociedade),
econômicas (incentivos de mercado, políticas públicas, capital de risco) e psicológicas como
formadoras e influenciadoras no surgimento do empreendedorismo (KETS DE VRIES, 1985;
CARLAND e CARLAND, 1991; HUEFNER, HUNT e ROBINSON, 1996). Dentre as várias
características atribuídas ao empreendedor pode-se citar: Lócus Interno de Controle,
propensão ao risco, tolerância à ambigüidade, criatividade, necessidade de realização, visão,
alta energia, postura estratégica – inovadora e criativa – e autoconfiança (BROCKHAUS,
1982; DRUCKER, 1994a, DEAKINS, 1999).
Dessas características, uma das principais que emerge é a criatividade. Segundo Brazeal e
Herbert (1999), a criatividade tem sido foco recente de pesquisas integradas no intuito de se
afastar a fragmentação no campo e prover uma estrutura consistente para o crescimento do
empreendedorismo. Os mesmos autores acreditam que a criatividade seja o processo através
2 Disponível em: http://www.entrepreneurship.hbs.edu/. Acesso em: 12 set. 2001. Tradução do autor.3 Em 1981 realizou-se a 1ª Frontiers of Entrepreneurship Research. A 22ª acontecerá em 2002 sob a
denominação Babson-Kauffman Entrepreneurship Research Conference em Colorado-EUA.4 Disponível em: http://www2.babson.Edu/babson/babsoneshipp.nsf/. Acesso em: 12 set. 2001. Tradução do
autor.
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Capítulo 1: Apresentação 13
do qual as invenções ocorram, isto é, a criatividade é um processo que permite o surgimento
de novos produtos e processos. Amabile (1998) trouxe grande contribuição a esse campo de
estudo afirmando que não bastam somente as motivações intrínsecas, mas que também devem
ser levados em consideração fatores do contexto social - liberdade, estilo de gerenciamento,
recursos, encorajamento e reconhecimento, clima organizacional, excesso de avaliação e
pressão – que contribuem ou inibem o processo criativo.
A esse respeito Rickards e Moger (2000) publicaram resultados de pesquisas que vem sendo
desenvolvidas desde 1972 no Creativity Research Unit of Manchester Business School na
Inglaterra, sobre como a criatividade pode contribuir com desempenhos superiores de equipes
de trabalho. Os autores propuseram um modelo teórico denominado de Liderança Criativa
bem como um instrumento de pesquisa intitulado Team Factors Inventory – TFI, que mede o
potencial de liderança criativa dentro de equipes inovadoras. Este modelo enfatiza a
importância do líder em liberar a criatividade de um grupo de trabalho. Por fim, Brazeal e
Herbert (1999) procuram integrar conceitos de áreas correlatas ao estudo do
empreendedorismo, analisando-se as relações de variáveis como criatividade, inovação e
liderança como características chaves do comportamento empreendedor que também são
contingentes a fatores externos.
O estudo do empreendedorismo tem, portanto, um caráter complexo e abrangente no que se
refere às características psicológicas e de comportamento, bem como de seus impactos e
relacionamentos com a sociedade em geral. Considerando que o tema envolve o ato de
empreender e o processo de liderança criativa nas equipes de trabalho, a presente dissertação
busca analisar os proprietários-gerentes5 das micro e pequenas empresas – MPE’s com o
propósito de quantificar o quanto esses indivíduos são empreendedores e líderes criativos.
Tratam-se de empresas, em sua grande maioria, formadas por recém graduados e que foram,
ou ainda estão sendo, incubadas nas Incubadoras Tecnológicas do Estado do Paraná. Tendo
em vista que esta forma de organização tem um papel importante no desenvolvimento do
empreendedorismo, pretende-se estudar quais são os principais fatores que caracterizam estes
5 Proprietário-gerente é um termo utilizado por Filion (1999a, 1999b) para designar aquelas pessoas que estão
envolvidas com o gerenciamento rotineiro de uma empresa. Pelo próprio nome, são normalmente donos denegócios que assumem as atividades gerenciais de seus negócios. Uma pessoa pode assumir um papelempreendedor sem nunca se tornar um proprietário-gerente de MPE’s, como por exemplo, aqueles quetrabalham para outros. Por outro lado os proprietários-gerentes de MPE’s podem não ser consideradosempreendedores, uma vez que, em geral, administram rotinas do dia-a-dia e não fazem nenhuma mudançasignificativa nos produtos ou serviços. Dessa maneira, este termo será empregado no trabalho, até que nocapítulo 3, possa ser verificada a tendência ao comportamento empreendedor da amostra.
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Capítulo 1: Apresentação 14
jovens proprietários como empreendedores e avaliar em que medida a liderança criativa se
relaciona com o empreendedorismo, na consolidação de equipes de trabalho de alto
desempenho.
Na presente dissertação as definições mais adequadas ao estudo do fenômeno do
empreendedorismo estão embasadas em Filion (1999a) e Carland et al. (1998). Estes autores
concordam que o empreendedorismo é o resultado tangível ou intangível de uma pessoa com
habilidades criativas, sendo uma complexa função de experiências de vida, oportunidades,
capacidades individuais e que no seu exercício está inerente a variável risco, tanto na vida
como na carreira do empreendedor. Colocado de outra forma, o empreendedor é alguém que,
no processo de construção de uma visão, estabelece um negócio objetivando lucro e
crescimento, apresentando um comportamento inovador e adotando uma postura estratégica.
Segundo esses autores, não se trata de ser ou não ser empreendedor, mas de se situar dentro de
um espectro de pessoas mais ou menos empreendedoras. Também concordam que é uma
tarefa difícil quantificar um atributo subjetivo, não havendo um teste ou instrumento universal
que possa ser considerado o estado da arte no campo, sendo que o Carland Entrepreneurship
Index – CEI (CARLAND, CARLAND e HOY, 1992), é um dos mais conhecidos, tanto do
ponto de vista acadêmico, quanto do empresarial, no âmbito dos EUA. A esse respeito Galileu
(apud Pereira, 1999) já dizia que tudo é passível de mensuração e que se deve medir o
mensurável e transformar em mensurável o que, à primeira vista, não o for.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivos gerais
O objetivo da presente dissertação é analisar o nível de empreendedorismo e liderança criativa
dos proprietários-gerentes das MPE’s das Incubadoras Tecnológica do Estado do Paraná.
Como nível de empreendedorismo e liderança criativa entende-se a pontuação obtida por estas
pessoas nas respectivas escalas dos instrumentos CEI e TFI. Baseados em uma pontuação
máxima possível, os instrumentos fornecem a pontuação atingida pelo respondente, pela sua
concordância ou não, com as afirmativas apresentadas e que versam sobre características
imputadas às pessoas ditas como empreendedoras e criativas. Além disso, o estudo se propõe
a verificar a relação existente entre empreendedorismo e liderança criativa.
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Capítulo 1: Apresentação 15
1.2.2 Objetivos específicos
Espera-se também através deste trabalho atingir os seguintes objetivos específicos:
a. Levantar o perfil dos empreendedores através de dados secundários da RedeParanaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos – REPARTE e da AssociaçãoNacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas –ANPROTEC;
b. Mensurar o nível de empreendedorismo dos proprietários-gerentes através do CEI(CARLAND, CARLAND e HOY, 1992);
c. Mensurar o nível de liderança criativa dos proprietários-gerentes através do TFI(RICKARDS, MOGER e CHEN, 2001);
d. Identificar se existe uma associação positiva entre os itens “b” e “c”; e
e. Verificar a confiabilidade e a validade da versão traduzida em português dosinstrumentos.
1.3 Justificativas
O crescente interesse pelo empreendedorismo se justifica pela relevância que as MPE’s têm
tido na participação da economia. Desde 1999, uma pesquisa intitulada Global
Entrepreneurship Monitor – GEM (REYNOLDS et al., 2000), promovida pela London
Business School e Babson College vem analisando as complexas relações entre o crescimento
econômico e o empreendedorismo nos países do G-76 e na última pesquisa de 20007, em
países em desenvolvimento como o Brasil. A pesquisa concluiu que a principal ação de um
governo para promover o crescimento econômico consiste em estimular e apoiar o
empreendedorismo que deve estar no topo das prioridades das políticas públicas, fazendo, a
grande diferença para a prosperidade econômica, pois um país com baixas taxas de criação de
empresas corre o risco da estagnação econômica.
Como apontado pela pesquisa GEM 2000 (REYNOLDS et al., 2000), o Brasil se revelou o
país mais empreendedor de todos os países pesquisados com um Total Entrepreneurial
Activity (TEA) Index de 16%, seguido por Coréia do Sul com 14% e os EUA com 13%. Esse
6 O grupo dos 7 – G-7 é formado pelos sete países mais industrializados. Países membros: EUA, Alemanha, Grã-
Bretanha, França, Japão, Canadá e Itália (Almanaque Abril, 1999, p. 566).7 Na pesquisa de 2000 foram incluídos Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha,
Finlândia, Índia, Irlanda, Israel, Noruega, Suécia e Singapura, no total de 21 países pesquisados.
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Capítulo 1: Apresentação 16
índice é a combinação de outros dois índices que mediram as taxas de envolvimento das
pessoas adultas (entre 16-64 anos de idade) na criação de novos negócios e na sobrevivência
dos negócios com menos de 42 meses de existência. Ainda que os métodos de análise e
resultados do GEM possam ser questionados, acredita-se que ele seja uma tentativa
importante e válida, embora incipiente, de se mensurar os níveis de empreendedorismo
verificados nos países. Uma vez que essa pesquisa é conduzida por instituições de renome
internacional, ela deverá se aperfeiçoar paulatinamente a partir da correção das falhas e
incoerências metodológicas e de análise.
Tem-se atribuído grande ênfase na importância do papel do empreendedorismo como
mecanismo promotor do desenvolvimento econômico, criando-se uma nova massa de MPE’s.
Nos países da OECD mais de 95% das empresas são MPE’s gerando mais de 50% do PIB e
60 a 70% dos empregos (OECD, 2000). No Brasil, com relação à quantidade de MPE’s o
percentual é próximo dos países da OECD, ou seja, 98%, contudo estas (com menos de 100
empregados) geraram, em 1994, apenas 28% do PIB brasileiro e 43% dos empregos
(SEBRAE/DNRC, 2000).
A ênfase no incentivo à geração de produtos inovadores a partir das MPE’s se justifica
porque, segundo Timmons (1994 apud DOLABELA, 1999b), desde a segunda guerra
mundial, 50% de todas as invenções e 95% de todas a inovações radicais surgiram de novas e
pequenas empresas. Estão incluídas nesta lista, por exemplo, o micro-computador, o
marcapasso, a troca de óleo rápida, o fast food, o anticoncepcional oral, a máquina de raios-X,
entre outros exemplos. Com o passar do tempo, a partir dos ganhos obtidos com as primeiras
inovações, muitas pequenas empresas chegaram a se tonar grandes corporações, como por
exemplo Hewlett Packard, Gradiente e Microsoft.
Desta maneira, ao abordar o estudo do empreendedorismo tendo como pressupostos a
importância, a urgência e a interligação deste com o desenvolvimento social e principalmente
econômico de uma sociedade não se está, de maneira alguma, excluindo demais fatores que,
por si só, justificariam o estudo deste campo. Dentre eles, destaca-se como exemplo, a alta
taxa de mortalidade das MPE’s, infelizmente demonstradas em pesquisas como a do SEBRAE
(1999) que revelam uma média, para os Estados pesquisados8, de 42% de mortalidade para as
8 Estados pesquisados: AC, AM, MG, MS, RN, PB, PE, PR, RJ, SC, SE, SP e TO.
-
Capítulo 1: Apresentação 17
MPE’s com menos de um ano, 52% com menos de dois anos e 60% com menos de três anos
de existência.
Academicamente, a possibilidade de se conhecer a tendência empreendedora dos
proprietários-gerentes dessas MPE’s oferece a oportunidade de avaliar o desenvolvimento e
assimilação do conteúdo do empreendedorismo que, via de regra, necessita de uma mudança
de comportamento e atitudes, para que a pessoa possa ser considerada empreendedora.
Dolabela levanta a questão se é ou não possível ensinar empreendedorismo, porém ele e
diversos estudiosos concordam: “[...] é possível aprender a ser empreendedor, mas, como em
algumas outras áreas, através de métodos diferentes dos tradicionais” (DOLABELA, 1999a,
p. 109).
Visualizando-se outro escopo no qual a presente pesquisa vem a contribuir, tem-se a nova
dinâmica econômica. No cenário da nova economia “... as empresas conseguem e mantêm
vantagem competitiva na competição internacional por meio da melhoria, da inovação e do
aperfeiçoamento” (PORTER, 1993, p. 86). Essa pesquisa vem corroborar esse quadro
possibilitando a investigação da tendência do comportamento empreendedor, característica
essa, uma das mais importantes no sucesso de um novo empreendimento (LYON, LUMPKIN
e DESS, 2000; SARASVATHY, 2001), sendo que as versões, em português do CEI e TFI
propostas podem constituir-se em um instrumento de triagem e seleção, identificando
possíveis tendências do comportamento empreendedor e conseqüentemente os
empreendedores, pessoas estas indispensáveis para a dinâmica da nova economia, onde
destaca Filion:
[...] a velocidade da mudança tecnológica está diretamente relacionada com ashabilidades dos indivíduos [...] em gerenciar de forma empreendedora, ou seja, criativa erapidamente [...] Por causa disso, a próxima Era será a do florescimento doempreendedorismo. (1999a, p. 21).
Ademais, como o modelo de Liderança Criativa apresenta uma nova abordagem que se
propõe a relacionar criatividade e liderança, a possibilidade de contribuir com esse modelo em
construção, em uma parceria com pesquisadores ingleses é um importante passo para a
solidificação do grupo de pesquisas em empreendedorismo da UEM, levando-se à discussão
os resultados do TFI aplicados em empresas brasileiras.
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Capítulo 1: Apresentação 18
1.4 Hipóteses
H1: Os proprietários-gerentes possuem uma forte tendência ao comportamento
empreendedor, conseqüentemente obtendo altos níveis de empreendedorismo no
CEI, podendo ser considerados como empreendedores.
Diversas pesquisas encontradas na literatura levam ao pressuposto de que as pessoas
relacionadas com essa nova forma organizacional de promoção e apoio à criação de novos
empreendimentos – as Incubadoras – possuem traços claros de características empreendedoras
(HANSEN et al., 2000; MARUCA, 2000, OLIVEIRA, 2000). Seja pela forma de seleção das
incubadoras, seja pelo perfil dos proprietários-gerentes, espera-se encontrar evidências de
comportamento empreendedor na amostra, que os distinguirão dos proprietários-gerentes, em
geral, conforme ratificam pesquisas como a de Carland et al. (1998) e Filion (1999a, 1999b).
H2: Os proprietários-gerentes possuem uma forte tendência ao comportamento criativo,
conseqüentemente obtendo altos níveis de Liderança Criativa no TFI.
Pesquisa realizada por Rickards, Moger e Chen (2001) demonstram que entre os vários tipos
de empresas pesquisadas (grandes, pequenas, públicas, privadas), as MPE’s alcançaram maior
pontuação no TFI. Outros trabalhos também corroboram com essa afirmação, destacando
essas características em equipes multidisciplinares que lidavam com tarefas não-rotineiras e
em pequenas empresas ou grupos (SINETAR, 1985; RICKARDS, 1999).
H3: Existe uma associação positiva entre os níveis de empreendedorismo e liderança
criativa dos empreendedores pesquisados.
Diversos autores apontam para uma relação estreita entre a criatividade e o
empreendedorismo (WHITING, 1988; TERRA, 2000; UNSWORTH, 2001). Uma forma de
se acessar isto, é verificando-se a associação dos resultados de um conhecido instrumento
àqueles vindos de um novo instrumento proposto (STEVERSON, 1986; COOPER e
SCHINDLER, 1998). Espera-se que o CEI e o TFI, que medem características semelhantes,
relacionadas a equipes inovadoras, possuam uma associação positiva, isto é, se uma pessoa
possui um alto nível de empreendedorismo, espera-se também que possua um alto nível de
liderança criativa e vice-versa (HUEFNER, HUNT e ROBINSON, 1996).
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Capítulo 1: Apresentação 19
H4: A variável sexo não tem associação com os níveis de empreendedorismo (H4.1) e
liderança criativa (H4.2) dos instrumentos propostos.
Pesquisadores concordam que existem diferenças psicológicas, sociais, de pensar e agir entre
homens e mulheres com relação ao ato de empreender, mas não com relação à capacidade
individual de empreender. (CARLAND e CARLAND, 1991; FLEENOR e TAYLOR, 1994;
HUEFNER, HUNT e ROBINSON, 1996).
H5: As variáveis grau de instrução e idade têm associação positiva com os níveis de
empreendedorismo (H5.1) e liderança criativa (H5.2).
A relação entre idade e grau de instrução com índices de empreendedorismo vem sendo
pesquisada em estudos como as de Reynolds et al. (1999, 2000), Gibb (1987) e Vesper
(1982). Os autores acreditam que, à medida que a oferta de cursos sobre empreendedorismo
torna-se maior, as pessoas vão tomando mais contato com o assunto durante sua vida e podem
estar mais propensos a absorver e internalizar esses conhecimentos, resultando em potenciais
empreendedores.
1.5 Aspectos metodológicos
Cooper e Schindler afirmam que o projeto de pesquisa é um plano para selecionar as fontes e
os tipos de informações usadas para responder as perguntas da pesquisa. Continuam dizendo
que o projeto é um quadro de referência para especificar o relacionamento entre as variáveis
da pesquisa (COOPER e SCHINDLER, 1998). Encontra-se na gama de livros que tratam de
metodologias de pesquisas diversas classificações, porém nenhuma delas aborda em total
extensão muitos dos importantes aspectos. A escolha de certos métodos em detrimento de
outros tem relação estreita com os objetivos da pesquisa e o tipo de fenômeno estudado
(SELLTIZ, WRIGHTSMAN e COOK, 1987). Na presente dissertação adotou-se a
classificação de Cooper e Schindler que compreende oito diferentes aspectos metodológicos,
sendo que se escolheu sete deles para a caracterização da presente pesquisa. Eles serão
abordados a seguir.
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Capítulo 1: Apresentação 20
1.5.1 Características da pesquisa
O primeiro critério diz respeito à maneira com que as questões de pesquisas são formuladas.
Um estudo pode ser visto então como exploratório ou formal. A principal diferença entre os
dois reside no tipo de estrutura e nos objetivos imediatos da pesquisa (COOPER e
SCHINDLER, 1998). Segundo os autores, o estudo exploratório tende a estruturas mais
livres. Conforme os autores “o propósito imediato da exploração é normalmente desenvolver
hipóteses ou questionamentos para pesquisas futuras” (1998, p. 131, tradução do autor). Já o
estudo formal inicia-se onde a exploração termina com hipóteses e questões de pesquisa e
envolve procedimentos precisos e fontes de dados específicas. O objetivo da pesquisa formal
“é testar as hipóteses ou responder as questões de pesquisas postuladas.” (1998, p. 131,
tradução do autor).
O segundo critério faz distinção entre o método de coleta de dados, compreendendo processos
de monitoração e interrogação/comunicação. O primeiro é chamado de estudo observacional e
consiste na inspeção das atividades do objeto ou na natureza de algum material, sem a
tentativa de colher respostas de ninguém. Segundo Cooper e Schindler (1998), a contagem do
número de carros em uma determinada avenida, a observação das ações de um grupo de
gerentes e uma pesquisa na biblioteca são todos exemplos de monitoração. Já no segundo
modo, de interrogação/comunicação, o pesquisador indaga o objeto e coleta suas respostas por
meios pessoais ou impessoais. Normalmente, a coleta de dados pode resultar de: (i) entrevista
por telefone, (ii) instrumentos de auto-resposta enviados via e-mail ou outros meios, (iii)
instrumentos aplicados antes ou após uma condição de tratamento ou estímulo em um
experimento.
O terceiro fator classifica uma pesquisa com relação ao controle das variáveis pelo
pesquisador, podendo ser uma pesquisa experimental ou ex post facto. Em um experimento o
pesquisador procura controlar ou manipular as variáveis do estudo. É apropriada quando o
pesquisador deseja descobrir se certas variáveis produzem certos efeitos em outras variáveis.
A pesquisa experimental provê o maior suporte possível para hipóteses de causa-efeito. Por
outro lado, na pesquisa ex post facto o pesquisador não tem controle sobre as variáveis no
sentido de ser capaz de manipulá-las, ele somente reporta o que aconteceu ou o que está
acontecendo. Nesta pesquisa, o pesquisador está limitado a uma quantidade constante de
fatores pela seleção criteriosa do objeto de acordo com procedimentos estritos de amostragem
e pela manipulação estatística dos resultados.
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Capítulo 1: Apresentação 21
O quarto critério classifica uma pesquisa levando em consideração os propósitos, isto é, os
objetivos da pesquisa. Uma pesquisa pode ser descritiva ou casual. O objetivo da pesquisa
descritiva, segundo os autores, é responder aos quatro dos 5W1H9, de um determinado objeto
de pesquisa. Via de regra, procura-se traçar um perfil do objeto estudado. Já a pesquisa casual,
acontece quando o pesquisador está interessado em apreender o porquê de tal fato acontecer,
isto é, como uma variável influencia a outra. Trata-se do estabelecimento de relações de
causa-efeito entre variáveis. Os autores salientam que relações de causa-efeito podem
aparecer em estudos descritivos e que estas relações, empiricamente nunca serão totalmente
seguras, devido ao fato de ser tarefa difícil, na prática, o isolamento de todas as demais
variáveis que poderiam influenciar o objeto em estudo e que não pertencem ao modelo.
O quinto critério leva em consideração a dimensão tempo. Uma pesquisa pode ser cross-
sectional – corte transversal – ou longitudinal. O primeiro tipo considera as informações em
um momento específico e delimitado do objeto, analogamente é como se tirasse uma
“fotografia” do objeto. Já no longitudinal, a mesma pesquisa é realizada em um período mais
extenso de tempo. Como destacam Cooper e Schindler, as vantagens de tais estudos residem
no fato de que podem ser comparados resultados de uma mesma pesquisa ao longo do tempo,
tornando-se uma poderosa ferramenta da análise de comportamentos, mudanças, padrões e
validação de modelos e teorias propostas. Porém as dificuldades de orçamento e tempo levam
os pesquisadores a optarem por estudos transversais.
O sexto critério diz respeito ao escopo da pesquisa, sendo ele breadth – em largura, chamado
de estudo estatístico, ou depth – em profundidade, chamado de estudo de caso. No estudo
estatístico, a tentativa é capturar as características da população pela inferência das
características da amostra. As hipóteses são testadas quantitativamente e a generalização dos
resultados é apresentada baseada na representatividade da amostra. Já o estudo de caso coloca
mais ênfase na análise total do contexto de poucos eventos ou condições e suas inter-relações.
Apesar do estudo de caso ser difamado como “cientificamente desprezível” (COOPER e
SCHINDLER, 1998, p. 133) devido ao fato de não ter uma condição mínima para
comparação, ele tem um papel significante na comprovação de teorias. Isso porque uma das
características de uma proposição científica é a universalidade, isto é, uma teoria proposta
9 O 5W1H (What, Why, When, Where, Who e How) é uma ferramenta muito utilizada pelos processos de
melhoria de qualidade. É um tipo de lista de verificação utilizada para informar e assegurar o cumprimento deum conjunto de ações, diagnosticar um problema ou planejar soluções. Ultimamente tem-se incluído mais umH de How much (PRAZERES, 1996).
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Capítulo 1: Apresentação 22
teria que ser capaz de explicar todos os fenômenos que estão sob seu domínio, sendo que um
estudo de caso bem direcionado, particular e específico pode constituir-se no maior desafio a
uma teoria, uma vez que a teoria proposta não consegue explicá-lo. Dessa forma, um estudo
de caso pode prover novas idéias e hipóteses para a reconstrução da mesma em busca de sua
universalidade.
O sétimo critério difere uma pesquisa com relação ao ambiente em que a pesquisa é realizada.
Se a pesquisa é realizada sobre as condições atuais do ambiente do objeto é dita como
condições de campo, e se é realizada sobre outras condições é dita como condições de
laboratório. A essência do processo de laboratório pode ser entendida como um processo de
simulação e replicação. Estudos em pesquisa operacionais e financeiras enquadram-se bem
neste termo, onde são feitas previsões e análises de panoramas, levando-se em consideração
alterações em algumas variáveis de entrada. Normalmente podem ser traduzidas em modelos
matemáticos.
Tendo em vista esses critérios, a classificação da presente pesquisa configura-se da forma
apresentada no Quadro 1.1.
Quadro 1.1 – Classificação da pesquisa
Itens de classificação Classificação1 Forma do estudo Formal2 Método de coleta de dados Interrogação/Comunicação3 Controle da variáveis Ex post facto4 Propósito da pesquisa Descritiva5 Dimensão de tempo Corte transversal6 Escopo da pesquisa Breadth - Estatístico7 Ambiente da pesquisa Condições de campo
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Capítulo 1: Apresentação 23
1.5.2 Cuidados em relação aos erros de medida
Um estudo ideal deveria ser projetado e controlado para medir inequívoca e precisamente as
variáveis desejadas (COOPER e SCHINDLER, 1998). Desde que a obtenção deste ideal é
improvável, o pesquisador deve reconhecer as fontes de potenciais erros e tentar eliminá-los,
neutralizá-los ou, caso contrário, tratar com eles. Muitos dos erros potenciais são sistemáticos,
isto é, resultam de mal delineamento da pesquisa, enquanto que os demais são aleatórios, isto
é, ocorrem erroneamente ao acaso. Cooper e Schindler apontam quatro fontes de erros de
medida: o respondente, a situação, o avaliador e o instrumento. A primeira e a quarta fonte
serão tratadas separadamente nos próximos itens como População/amostra e Instrumento de
pesquisa, por delongarem maiores esclarecimentos. Já com relação à situação e ao avaliador,
serão aqui brevemente esclarecidos os cuidados que foram tomados.
A situação diz respeito às condições do ambiente no qual o respondente está inserido.
Condições estas não só físicas (como de temperatura, umidade e luminosidade), por exemplo,
mas também de fatores como pressão, tempo (pressa), insegurança ou de percepção de se
estar sendo avaliado. Qualquer situação que provoque algum tipo de pressão sobre o
respondente pode ter sérios efeitos sobre suas respostas. Nesse sentido, tomou-se o cuidado de
agendar as visitas antecipadamente nas incubadoras e, através de carta aos gerentes das
mesmas, esclareceu os objetivos e propósitos da necessidade das entrevistas salientando que
poderia ser usado o tempo que fosse necessário para se responder calmamente ao instrumento.
Também se deve ter cuidado com a presença de outras pessoas. Estas podem distorcer as
respostas pela união das opiniões, pela distração ou simplesmente pela sua presença. Nesta
pesquisa tomou-se o cuidado de se separar, sempre que possível, os respondentes em salas
distintas. Com relação ao anonimato dos respondentes, que às vezes pode implicar em uma
condição não satisfatória para se expressar algum tipo de sentimento, solicitou-se que o nome
da empresa fosse obrigatório e o nome do respondente ficasse opcional.
Com relação ao avaliador, como os instrumentos são de auto-resposta, sua influência foi
quase que totalmente afastada. Possíveis erros poderiam ser encontrados na tabulação dos
dados caso, ao se recolherem as respostas, não fosse feita uma rápida avaliação dos itens
respondidos, no sentido de se detectar a ausência de respostas para certos itens.
-
Capítulo 1: Apresentação 24
1.5.3 População e amostra
A população compreendeu os empreendedores das empresas das incubadoras10 tecnológicas
do estado do Paraná. Em sua grande maioria, a população é composta por empresas
residentes11 (pré ou incubadas). Optou-se em pesquisar as empresas das incubadoras
tecnológicas, por esta forma de organização representar um dos maiores esforços na
promoção e apoio ao empreendedorismo. Seu crescimento tem sido a passos largos, partindo
de 2 incubadoras em 1988, a 135 em 2000, segundo última pesquisa divulgada pela
ANPROTEC (2000). No cenário nacional, as incubadoras estão distribuídas geograficamente,
conforme tabela 1.1.
Tabela 1.1 – Número de Incubadoras por localização geográfica
NORDESTE SUDESTE SUL NORTE CENTRO-OESTEAL BA CE PB RN PE SP MG RJ ES PR SC RS AM PA AP DF2 7 4 2 2 2 36 16 9 1 8 7 35 1 1 1 1
19 62 50 3 1
Fonte: Panorama 2000, Anprotec (2000).
No Paraná, no momento da pesquisa já se contabilizam nove incubadoras espalhadas ao longo
de todo o Estado, normalmente localizadas próximas a algum centro universitário ou
tecnológico. De acordo com a teoria estatística, para determinar o tamanho de amostras
probabilísticas, há considerações a serem feitas, preliminarmente quanto ao tamanho da
população – infinita ou finita, e, também, quanto aos objetivos básicos da amostragem –
estimação da média ou estimação da proporção (STEVERSON, 1986). Assim, a fórmula
utilizada para determinação de uma amostra probabilística, no caso de população finitas
(pequenas) com estimação da proporção como a da presente pesquisa, é dada por:
10 O termo Incubadora de Empresas, para efeito desta pesquisa, designa empreendimentos que ofereçam espaço
físico, por tempo limitado, para a instalação de empresas de base tecnológica e/ou tradicional, e quedisponham de uma equipe técnica para dar suporte e consultoria a estas empresas.
11 Empresas Residentes são aquelas em processo de incubação, ou seja, utilizam a infra-estrutura e os serviçosoferecidos pela Incubadora, ocupando espaço físico, por tempo limitado, na mesma.
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Capítulo 1: Apresentação 25
qpZ
dNNn
××
×+
=
2
21
Fonte: Silver, 2000, p. 227.
onde:
n : é o número de elementos da amostra (tamanho da amostra)N : é o número de elementos da população (tamanho da população)Z : é o valor da abscissa da curva normal associada ao nível de confiança fixado.d : é o erro tolerável da amostra (precisão da amostra) em porcentagem.p e q : proporção de se escolher uma dada empresa aleatoriamente.
Então, com um tamanho de população N = 55 empresas, para um nível de significância pré-
fixado de 5%, o que corresponde a um nível de confiabilidade de 95% sobre os resultados da
pesquisa que, conforme afirma Silver (2000), para estudos nas áreas sociais é comum se
utilizar, resultando em um valor Z = 1,96, admitindo-se que a proporção é desconhecida e que
portanto utiliza-se p = q = 0,5, pois dá o maior tamanho possível de amostra e tomando-se d
(erro amostral) de 0,10 admitindo-se que intervalos de +/- 10% de variação sobre a média das
pontuações do CEI e do TFI encontrados fornece uma clara definição da tendência adotada, o
tamanho mínimo necessários da amostra seria de 35 empresas, conforme demonstra o cálculo
abaixo:
35
5,05,0296,1
210,0551
55 ≅
××
×+
=n
Como calculado, uma amostra igual ou superior a 35 empresas já seria suficientemente grande
para eliminar dúvidas quanto a sua representatividade. Com relação à escolha das empresas,
uma das possibilidades era a utilização da amostragem aleatória estratificada. Porém, adotou-
se a amostragem por conveniência por dois motivos principais. O primeiro deles era que as
incubadoras e respectivamente suas empresas encontravam-se geograficamente distantes; e o
-
Capítulo 1: Apresentação 26
segundo motivo foi pela decisão tomada na aplicação do instrumento de pesquisa (visita in-
loco). Assim, o custo (temporal e monetário) em se pesquisar algumas delas, ou todas que
estivessem disponíveis no momento seria o mesmo.
Com relação ao número de respondentes dentro de cada empresa, foi recomendado que se a
empresa possuísse mais de um proprietário-gerente, que pelo menos dois deles respondessem
a pesquisa. Todos responderam a um questionário de auto-resposta na forma de papel
impresso, que foi disponibilizado no dia agendado da visita às incubadoras, com as devidas
recomendações de preenchimento bem como esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa.
O Anexo 2 traz um exemplo da carta pesquisa para o contato com os gerentes das
incubadoras.
Como resultado, obteve-se 73 questionários respondidos englobando 38 empresas diferentes
de todas as oito incubadoras. A grande maioria das empresas (75%) trabalha na área
tecnológica, agribusiness, produção de software comerciais e de entretenimento, automação
industrial e soluções para Internet. Em geral, as incubadoras são recentes com menos de 3
anos de existência. Com relação a idade, 66% dos proprietários-gerentes das empresas
pesquisadas têm menos de 30 anos e 89% possuem pelo menos o terceiro grau, com 52% das
empresas possuindo até 2 sócios e 77% sendo do sexo masculino. O Quadro 1.2 apresenta os
dados de quantidade de empresas e de pessoas por incubadoras e a cidade das empresas
pesquisadas e a Figura 1.1 a localização geográfica das incubadoras.
Quadro 1.2 – Número de empresas, respondentes e localização das empresas
Quantidade de LocalizaçãoIncubadoras Empresas Respondentes Cidade
1 9 21 Maringá2 6 13 Pato Branco3 3 3 Cascavel4 2 3 Curitiba5 9 17 Curitiba6 3 9 Londrina7 4 4 São Mateus do Sul8 2 3 Foz de Iguaçu
Total 38 73
-
Capítulo 1: Apresentação 27
Figura 1.1 – Localização geográfica das incubadoras
Fonte: www.reparte.com.br
1.5.4 Os Instrumentos de pesquisa
Carland Entrepreneurship Index – CEI
O CEI é resultado de extensa pesquisa sobre empreendedorismo realizada pelos Professores
Jim e JoAnn Carland, os quais são reconhecidos internacionalmente como especialistas neste
campo. Segundo os próprios autores:
Baseamo-nos em conceitos de escritores como McClelland (1961) no estudo darealização, Brockhaus (1980, 1982) na propensão pelo risco dos empreendedores,Drucker (1985) em inovação, Jung (1923), Keirsey & Bates (1984) e Myers & Briggs(1962) em tipologias cognitivas, nos estudos de características de personalidadesempreendedoras de Borland (1974), Davids (1963), Dunkelberg & Cooper (1982), Gasse(1977), Hartman (1959), Hornaday & Aboud (1971), Liles (1974), Mancuso (1975),Palmer (1971), Sexton (1980), Timmons (1978), Vesper (1980), Welsh & White (1981) eWilliams (1981) e em nossa própria linha de pesquisa nesta área (Carland, 1982; Carland,Hoy, Boulton & Carland, 1984, 1988; Carland, Carland, & Hoy, 1982, 1983, 1988;Carland & Carland, 1983, 1984, 1986, 1987, 1988, 1991, 1992). (CARLAND,CARLAND & HOY, 1992, p. 1-2).
A avaliação dessa grande massa de literatura levou-os a concluir que o empreendedorismo é
uma função de, principalmente, quatro elementos: (i) traços de personalidade (necessidade de
realização e criatividade), propensão a (ii) inovação, (iii) ao risco e (iv) postura estratégica. Os
trabalhos que os autores têm feito durante os anos sugerem que a tendência empreendedora é
-
Capítulo 1: Apresentação 28
melhor explicada quando olhada através de um continuum (CARLAND, CARLAND & HOY,
1992). Os quatro elementos utilizados por Carland e seus colaboradores são de grande
consenso na literatura. A maior ou menor presença desses elementos, em um indivíduo,
coloca-o, segundo a escala do CEI, entre os valores de 0 a 33 pontos, contidos em três faixas:
de “Micro-Empreendedor” (0 a 15) ao “Macro-Empreendedor” (26 a 33), passando pela faixa
intermediária de Empreendedor (16 a 25).
Um Macro-Empreendedor verá seu negócio como um meio de mudar a indústria e tornar-se
uma força dominante. Para ele, o sucesso é medido em termos do crescimento de seus
negócios. Um Micro-Empreendedor, por outro lado, cria um negócio o qual nunca crescerá,
mas que se torna uma referência em sua cidade ou comunidade. Ele vê sua iniciativa de
negócio como a fonte primária para a renda familiar ou para estabelecer emprego familiar,
mas ele não espera nem aspira tornar-se nada além de seu negócio familiar. Enquanto o
Macro-Empreendedor vê, geralmente, seu negócio como o centro de seu universo, o Micro-
Empreendedor considera o negócio como uma fonte de renda, uma importante parte de sua
vida, mas certamente não a principal delas. Certamente, muitos empreendedores caem em
algum lugar entre essas duas posições (CARLAND, 2000).
O CEI consiste de um questionário de auto-resposta com trinta e três frases afirmativas em
pares, no formato de escolha forçada. O instrumento requer menos de 10 minutos para ser
respondido, e possui uma fácil tabulação. Ele é uma escala preferencial, indicando onde,
baseada em sua personalidade e preferências, o respondente mais confortavelmente está como
um empreendedor. Ele não deve ser usado como palavra final, mas como uma ferramenta, um
forte indicador que pode auxiliar o indivíduo a alcançar uma postura empreendedora.
Team Factors Inventory – TFI
O TFI é o resultado de pesquisas sobre criatividade desenvolvidas diretamente com equipes
criativas em diversas organizações da Europa, África e Ásia, que lidavam com tarefas e
objetivos não rotineiros, freqüentemente associados à pesquisa e desenvolvimento de novos
produtos. O TFI fundamenta-se no modelo de Liderança Criativa, criado por Rickards e
Moger (2000). O modelo busca entender e explicar basicamente duas questões “que
mecanismos estão em jogo quando uma equipe falha em atingir a performance esperada? e
que mecanismos levam à performance exemplar?” (RICKARDS e MOGER, 2000, p. 275).
-
Capítulo 1: Apresentação 29
Para os autores, a Liderança Criativa é o processo fundamental que muda o comportamento
criativo da equipe de inaceitável para aceitável e, posteriormente para superior, através da
introdução de estruturas “benignas”, enfatizando a cooperação (e não a coerção) e a
mutualidade (situações que beneficiam o grupo e o líder ao mesmo tempo). Essa estrutura
benigna é representada pelos sete fatores de equipe que distinguem equipes com elevado
potencial para criatividade, sendo eles: plataforma de entendimento; visão compartilhada;
clima; resiliência; idéias próprias; ativação em rede e aprendizado vindo da experiência.
A maior ou menor presença desses fatores de equipes criativas faz com que as duas barreiras
existentes que impedem a inserção ou o desenvolvimento das estruturas “benignas” no grupo
e, conseqüentemente, fazem com que as equipes não sejam capazes de atingir o desempenho
esperado em termos criativos, sejam quebradas. Rickards e Moger (2000) usam o termo
“barreira” para indicar um impedimento estrutural coerente ao desenvolvimento da
criatividade. Os autores vêem as barreiras para o desenvolvimento de equipe tanto
externamente, como pressões do ambiente, quanto internamente, como barreiras socialmente
construídas. Essas barreiras compreendem a fraca de comportamento e a forte de
desempenho.
O TFI consiste de um conjunto de 37 questões em uma escala de cinco pontos (escala de
Likert), que mede a tendência de uma equipe para a liderança criativa nestes sete fatores, cada
um contendo três itens. Posteriormente, quatro outras variáveis, contendo três itens cada,
também foram incluídas com o mesmo propósito. Elas são três critérios de performance:
produtividade, criatividade e conhecimento e um critério de estilo de liderança. Todas as
questões foram expressas positivamente e a primeira questão foi introduzida para focar a
atenção do respondente.
Como a utilização destes instrumentos é inédita no Brasil, foi necessária a tradução do inglês
para o português. Para tal, adotou-se o método de Douglas e Craig (2000), que compreende a
tradução do instrumento original – source – para o idioma alvo – target, e sua re-tradução
para o idioma original, novamente. Isto é feito para se comparar os resultados e, caso
necessário, refazer o mesmo processo até que o instrumento resultante contenha o mesmo
significado em todo seu contexto. Normalmente, recomenda-se utilizar para a tradução uma
pessoa que tenha como língua mãe o idioma alvo e para a re-tradução uma pessoa que tenha
como língua mãe o idioma original.
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Capítulo 1: Apresentação 30
Conjuntamente com o CEI e o TFI foram incluídas na pesquisa, três perguntas demográficas
(variáveis de controle) sobre a idade, o sexo e o grau de instrução, com o propósito de
observar o relacionamento destas com os índices. O Anexo 3 traz a versão em português do
CEI e do TFI utilizados na pesquisa, o Anexo 4 traz a versão original dos instrumentos e o
Anexo 5 traz a instrução para tabulação do CEI.
1.5.5 Tratamento dos dados
Com relação aos instrumentos de pesquisa, existem características que podem ser verificadas
estatisticamente para que se possa dizer se o instrumento é um bom instrumento de pesquisa
ou não. De um modo geral e intuitivo, acredita-se que um instrumento tenha precisão em
indicar aquilo que se está interessado em medir e que também seja fácil e eficiente em se usar.
Para tal, existem três principais critérios para avaliar um instrumento: validade, confiabilidade
e praticidade (COOPER e SCHINDLER, 1998). Estes três critérios serão alvo de atenção no
anexo 1, onde serão descritos os significados destes critérios, bem como realizadas algumas
técnicas estatísticas paramétricas, como a análise fatorial e o alfa de Cronbach para a
avaliação dos instrumentos.
Já a análise dos dados iniciou-se com uma análise exploratória, seguida do uso de técnicas e
testes mais avançados. A análise exploratória inclui o correto manuseio dos dados para a
análise, isto é, a verificação da qualidade dos dados, o cálculo de estatísticas descritivas
simples (média, desvio-padrão, moda, mediana) e o uso de gráficos e tabelas. (SILVER,
2000). Como ambos os instrumentos possuem variáveis quantitativas contínuas e escala
intervalar (PEREIRA, 1999), a oportunidade de análises numérica é muita maior do que nas
escalas nominal ou ordinal. Técnicas como testes de hipóteses, análise multivariada e medidas
de associação serão empregadas, utilizando-se testes estatísticos através do software
STATISTICA for Windows – 99 Edition, fabricado pela StatSoft, Inc – USA.
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Capítulo 1: Apresentação 31
1.6 Estrutura da dissertação
Este item destina-se a apresentar a estrutura da dissertação, isto é, a forma em que os assuntos
foram divididos e abordados de maneira a se atingirem os objetivos propostos. Excluindo-se o
capítulo chamado de Apresentação, que contém os elementos principais do projeto de
dissertação, quais sejam: tema, objetivos, justificativas, hipóteses, aspectos metodológicos,
estrutura da dissertação e, excluindo-se também o último capítulo intitulado Conclusão, a
dissertação contém mais quatro capítulos, sendo eles: 2. Empreendedorismo, Liderança
Criativa e Incubadoras Tecnológicas, 3. Análise do CEI, 4. Análise do TFI e 5. Análise da
relação entre o CEI e o TFI. Na parte dos anexos, destaca-se o Anexo 1, em que é realizado
um estudo estatístico sobre a validade e confiabilidade da versão em português de ambos os
instrumentos de pesquisa.
O capítulo dois compreende a revisão da literatura englobando dois principais temas, o
empreendedorismo e a liderança criativa. São tratados alguns conceitos importantes sobre
como vem sendo entendido o campo de estudo em empreendedorismo, suas principais
correntes de pensamento e as principais características atribuídas ao empreendedor. Dentre as
características, a criatividade é retomada, tendo-se como referência o modelo de Liderança
Criativa.
Para se ter uma noção melhor do papel das incubadoras no contexto do empreendedorismo
brasileiro, o segundo capítulo também trata da origem e do desenvolvimento desta instituição.
Através da pesquisa bibliográfica em dados secundários, pôde-se evidenciar a efetiva
contribuição dela para a promoção e disseminação do empreendedorismo brasileiro e para o
papel do desenvolvimento de novos produtos e serviços criativos e inovadores. Neste subitem,
além de um breve histórico sobre a origem e o desenvolvimento das Incubadoras, é
apresentada também sua contribuição ao empreendedorismo.
Conforme as hipóteses propostas, a análise dos resultados foi segmentada e tratada do terceiro
ao quinto capítulo. O capítulo três compreende a análise dos resultados da pesquisa com
relação às informações colhidas pela aplicação do CEI. O índice de empreendedorismo foi
analisado de forma geral e em cada uma de suas quatro características mensuradas, bem como
deste com as variáveis idade, sexo e grau de instrução. Estas análises visam dar suporte as
hipóteses H1, H4.1 e H5.1.
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Capítulo 1: Apresentação 32
O quarto capítulo aborda os resultados referentes ao índice de liderança criativa das equipes.
O instrumento fornece um índice geral e um para cada um dos sete fatores que estão
envolvidos no processo, sendo que a maior ou menor presença deles influencia positiva ou
negativamente o índice total. Aqui também é interesse da pesquisa verificar se existem
relações entre as variáveis idade, sexo e grau de instrução com o índice. Estas análises visam
dar suporte as hipóteses H2, H4.2 e H5.2.
As relações entre os níveis de empreendedorismo e liderança criativa foram estudadas no
quinto capítulo. O objetivo foi verificar se os dois modelos propostos para medirem
fenômenos semelhantes, tem alguma afinidade entre suas escalas. Apesar de serem
instrumentos com formas diferentes, ambos medem a maior ou menor propensão a
determinadas características que, normalmente, são atribuídas aos empreendedores e às
pessoas criativas. Assim, analisar as variáveis de cada instrumento com relação ao outro
fornecerá um importante indicativo da consistência dos instrumentos bem como das teorias
relacionadas aos modelos, ou evidenciará a fragilidade e a complexidade de comparações
entre diferentes instrumentos. Estas análises darão suporte a hipótese H3.
O Anexo 1 tem como objetivo verificar a confiabilidade e a validade das versões em
português dos instrumentos de pesquisa. Apesar de os mesmos já terem trabalhos empíricos e
análises estatísticas na versão original, em inglês, esta é a primeira vez que são aplicados no
Brasil. Como Knight afirma “[...] o pesquisador que assume que uma escala desenvolvida
para sua casa funcionará com igual eficácia no exterior está provavelmente procurando por
problemas” (1997, p. 213, tradução do autor). Dessa maneira, alguns cuidados metodológicos
quanto à tradução, pré-teste, análises fatoriais e adequação dos instrumentos foram tomadas,
permitindo-se afirmar sua confiabilidade em pesquisas no Brasil (DOUGLAS e CRAIG,
2000; PEREIRA, 1999; SILVER, 2000). Além disso, poderão trazer subsídios para futuros
trabalhos de adaptação dos instrumentos para a realidade brasileira.
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Capítulo 2
Empreendedorismo, LiderançaCriativa e Incubadoras Tecnológicas
Embora o campo de estudo em empreendedorismo seja reconhecido como sendo de
fundamental importância à economia e, apesar de muitos pesquisadores ao redor do mundo
terem voltado suas atenções para este fenômeno, ainda não há concordância sobre o objeto de
pesquisa deste campo de estudo (BRUYAT e JULIEN, 2000). O empreendedorismo tem sido
considerado um campo de estudo recente, ainda em sua infância (BRAZEAL e HERBERT,
1999) e como tal, carece de maturação. Esta maturação é necessária como em qualquer outro
campo de conhecimento que se inicia. E como apontado por Kuhn (1962, apud BRAZEAL e
HERBERT, 1999), o conhecimento evolui através de competições de paradigmas e da busca
por melhores respostas aos novos conjuntos de inquietações.
Ainda que haja algum conflito sobre a definição do objeto de estudo do empreendedorismo,
Filion (1999a) destaca que a palavra “diferença” seria mais apropriada do que termos como
“confusão” ou “não concordância” utilizados na literatura. Segundo ele, as diferenças, via de
regra, ocorrem porque pesquisadores tendem a perceber e definir o empreendedorismo e o
empreendedor usando premissas de suas próprias disciplinas. Filion afirma também, que
existem grandes semelhanças dentro de uma mesma corrente, como por exemplo, a dos
economistas com destaque a Richard Cantillon (1680-1734) e Jean-Baptiste Say (1767-1832)
e, posteriormente, Joseph A. Schumpeter (1883-1950) que associaram o empreendedor à
inovação. Um outro exemplo são os comportamentalistas, tendo como principal expoente
David C. McClelland, que enfatizava os aspectos de atitude como a criatividade e a intuição.
Estas duas correntes lançaram as fundações das posições atualmente dominantes sobre
empreendedorismo e tendem a conter elementos comuns à maioria (BRUYAT e JULIEN,
2000).
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Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 34
Atualmente, verifica-se um aumento do número de pesquisas e publicações na área (SHANE,
1997). Trabalhos mostram que, em 1998, existia um montante de mais de mil publicações
surgindo anualmente e mais de 50 conferências e 25 publicações especializadas ao redor do
mundo (FILION, 1999a). A maior parte destas atividades está sendo desenvolvida por
instituições e pesquisadores norte americanos. Um destes reflexos é o aumento do número de
cursos de empreendedorismo, de apenas 30 em 1970 para 370 em 1993 (COOPER,
HORNADAY e VESPER, 1997). No Brasil, o estudo do empreendedorismo ainda mostra-se
incipiente, embora sua prática começa a ser reconhecida como aponta o GEM 2000
(REYNOLDS et al., 2000). As duas últimas principais conferências mundiais12 e as duas das
mais completas obras13 sobre empreendedorismo, englobam um total de aproximadamente 25
temas que podem ser reunidos em quatro grandes linhas de pesquisas, apresentados no
Quadro 2.1.
Quadro 2.1 – Linhas de pesquisa em empreendedorismo
Estudos que buscam distinguir os empreendedores das pessoas em geral através de uma lista decaracterísticas;Estudos dos fatores (político, econômico, social, familiar, psicológico, cultural, físico e deoportunidade) que afetam o processo, o sucesso empreendedor;Estudos que buscam tipificar os empreendedores, criando tipologias e;Estudos dos meios pelos quais os fatores de sucesso podem ser melhorados em potenciaisempreendedores.
Fonte: adaptado de SEXTON e LANDSTRÖM (2000).
O propósito deste capítulo é discutir alguns itens dentro destas quatro grandes linhas de
pesquisa que darão uma visão do empreendedorismo e, por conseguinte, de quem é o
empreendedor. O capítulo será estruturado em três itens. O primeiro faz referências às origens
e definições do empreendedorismo. Aborda as idéias e conceitos de alguns dos principais
autores, já comentados anteriormente, que fornecerão o ponto de partida para o entendimento
12 Babson-Kauffman Entrepreneurship Research Conference – BKERC. Nova denominação a partir de 2002,
antiga Frontiers of Entrepreneurship Research – FER; International Council for Small Business – ICSB WorldConference.
13 KENT, C. A.; SEXTON, D. L.; VESPER, K. H. (Ed.) Encyclopedia of Entrepreneurship. Englewood Cliffs,Prentice-Hall, 1982 e SEXTON, D. L.; LANDSTRÖM, H. (Ed.) The Blackwell Handbook ofEntrepreneurship. Oxford: Blackwell Publishers, 2000.
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Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 35
do campo. A seguir, o segundo item faz menção às características que ao longo do tempo vem
sendo atribuídas ao comportamento empreendedor, dando atenção a três, em particular:
liderança, criatividade e inovação, resgatadas principalmente do modelo de liderança criativa
(RICKARDS e MOGER, 2000). O terceiro e último item trata da relação das MPE’s e o
empreendedorismo. Busca identificar a importância e a relevância dessa forma de organização
e de como ela pode estar mais envolvida com processos empreendedores.
2.1 Origens e definições do empreendedorismo
Em muitos artigos sobre empreendedorismo é comum ver referências a Jean-Baptiste Say
como aquele que cunhou a palavra entrepreneur. Contudo, o verbo entreprendre vem de bem
antes, da antiga França do século XII para designar aquele que incentivava brigas (FILION,
1999a) e não continha nenhuma conotação econômica. Em meados do século XV surgiu o
substantivo entrepreneur como um sinônimo para contratante – contractor – (HAAHTI,
1987). Isto levou ao entendimento de alguém que assumia alguma tarefa. No século XVI, seu
significado mudou para “alguma ação bélica violenta” e era empregado a pessoas que
tomavam a responsabilidade e dirigiam uma ação militar (FILION 1999a). Como aponta
Haahti, isto implicava em um contexto perigoso que pode ter sido a causa para a mudança
explícita que levou à idéia de risco inerente durante os próximos séculos até a atualidade.
Paralelamente, na Inglaterra, situações e palavras equivalentes eram utilizadas, como projeto
– project - e projetor – projector - e aventureiro – adventurer - e empresário – undertaker -
para denominar o empreendedor. Haahti afirma que o termo undertaker foi usado do século
XIV em diante paralelamente ao termo entrepreneur na França. Com o passar do tempo
houve uma distinção entre os termos projector e undertaker, sendo que o primeiro referia-se a
um projetista, enganador ou especulador e o segundo denotava um homem honesto
(HAAHTI, 1987). Por fim, o termo empreendedor adquiriu o significado de alguém que
executava sobre seu próprio risco uma tarefa imposta pelo governo e, gradualmente, se
aproximou ao significado de uma pessoa que estava envolvida em um projeto de risco do qual
um lucro incerto poderia ser derivado. (HAAHTI, 1987). A pesquisa de Haahti revelou que a
primeira aparição das palavras entreprendre, enterprise e entrepreneur foi no Dicionário
Universal do Comércio de Jacques des Brunslons Savary, publicado em Paris em 1723.
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Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 36
Os primeiros pensadores no campo foram os economistas. Richard Cantillon, já em 1725
utilizava a palavra empreendedor em seu escrito “Ensaio sobre o comércio” “Essai sur le
Commerce” que foi publicado postumamente em 1755. Ele definia o empreendedor como
alguém que comprava matéria-prima, com o objetivo de processá-la e depois revender por um
preço maior não definido previamente. Desta forma a figura do empreendedor era de alguém
que assumia riscos, aproveitando oportunidades com o objetivo de obter lucros (HAAHTI,
1987; FILION, 1999a). Segundo Filion, o próprio Cantillon era visto como um empreendedor
que vivia de rendas e da busca de oportunidades de investimento. Segundo suas palavras “Era
capaz de analisar uma operação identificando nela aqueles elementos que já eram lucrativos
e os que poderiam vir a ser ainda mais” (FILION, 1999a, p. 06).
Posteriormente, Robert Turgot em seus escritos datados de 1766 começa a fazer distinção
entre a figura do empreendedor e do capitalista. O empreendedor de Turgot era um rico
industrial ou mercador, que, na busca de riqueza iniciava uma operação de risco e
supervisionava atividades produtivas, enquanto que o capitalista provia os recursos
necessários. A partir daí, Say, em 1816, faz uma clara distinção entre a função empreendedora
e a função capitalista, incluindo no conceito a premissa de que o desenvolvimento econômico
era resultado da criação de novos empreendimentos. Cabe ressaltar que Say também foi um
empreendedor e admirava a obra de Adam Smith e ansiava pela expansão da revolução
industrial até a França. Segundo Filion ressalta, Say pode ser considerado o pai do
empreendedorismo, pois “... foi o primeiro a lançar os alicerces desse campo de estudo...” e
ainda “... Schumpeter admitia que a parte mais importante de seu trabalho era transmitir aos
anglo-saxões o universo dos empreendedores como descrito por Say” (Filion, 1999a, p. 07).
Say enfatiza que o empreendedor é a figura central da economia com o papel de mediador.
Sendo mediador sua função é combinar os meios de maneira a alcançar no final a produção de
uma mercadoria. Haahti exemplifica dizendo que ele mediava entre o capitalista e o senhor
das terras, entre os cientistas e os trabalhadores, entre os vários fornecedores de produtos e
serviços e entre os produtores e consumidores. Mais tarde, em 1920, Frank Knight (1885 -
1972) fez uma distinção entre risco e incerteza e tomou o ponto de vista de que a habilidade
do empreendedor estava na capacidade de lidar com a incerteza que existia na sociedade
(SEXTON e LANDSTRÖM, 2000).
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Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 37
Segundo ele, a oportunidade de lucro aparece da incerteza que cerca a mudança (DEAKINS,
1999). Para Knight, o risco existe quando nós temos resultados incertos, mas estes resultados
podem ser previstos com um certo grau de probabilidade. Por exemplo, o resultado que seu
carro poderá ser roubado ou não é incerto, mas o risco de que seu carro poderá ser roubado
pode ser calculado com algum grau de probabilidade e este risco pode ser então garantido. Já
a verdadeira incerteza apare