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Page 1: Edição nº 255

JorNAL UNiVersiTÁrio de CoimbrA

EntREVIStA: JuAn luIS CEbRIánAquando da sua vinda a Coimbra, para o Seminário “Jornalismo e Comunicação”, o administrador do grupo PRISA e fundador do ‘El País’falou sobre o futuro dos jornalistas e as suas problemáticas hoje – inclusive o despedimento de 129 trabalhadores do seu próprio jornalPág. 10 E 11

acabra18 de dezembro de 2012 • ANo XXii • N.º 255 • QUiNzeNAL GrATUiTo

direTorA ANA dUArTe • ediTorA-eXeCUTiVA ANA morAis

rafaela Carvalho

daniel alves da silva

Eslovénia

A Eslovénia parece estar a tor-

nar-se um epicentro europeu de

protestos. A grande força que

move os manifestantes prende-

se com a forte corrupção exis-

tente um pouco por todo o país.

O contágio grego parece ganhar

forma na linha de ação seguida

pelos manifestantes.

Vontade de mudar Governo e elites políticas dominantes

Pág.13

Mais informação em

acabra.net@

Geração mais qualificada de sempre:

são assim que são vistos os jovens for-

mados portugueses. Mas tanta for-

mação parece afastar os

empregadores, que parecem assim

tentam pagar o menos possível. A ge-

ração vê-se obrigada a sair do país,

em busca de condições dignas de tra-

balho e que recompensem o investi-

mento feito em anos de formação.

Pedem-se mais apoios e a alteração

de diretrizes de austeridade. Para

fixar e atrair os “cérebros” é preciso

abanar mentalidades.

Fuga dE cérEbros

Reverter políticas para manter cérebros

Pág. 2 E 3

Faça a seguinte questão e reflita sobre

a mesma: o que são alterações climá-

ticas? Sempre que se fala em altera-

ções climáticas, o dióxido de carbono

(CO2) e a subida dos níveis do mar

são os assuntos favoritos. Não foi ex-

ceção na última conferência das Na-

ções Unidas sobre as Mudanças

Climáticas, realizada no Qatar.

Porém, será que a população se en-

contra bem informada acerca dos

motivos (reais) que geram o aumento

dos níveis oceânicos ou, de um modo

geral, as alterações climáticas?

alTEraçõEs climáTicas

CO2: vítima ou verdadeiro culpado?

Pág.9

Contando com mais de trinta anos

de carreira, o encenador brasileiro

trouxe ao palco do Teatro da

Cerca de São Bernardo, as peças

“12 Homens e uma Sentença” e

“Retratos Falantes”, com a ajuda

do “seu” TAPA. Um grupo que co-

meçou sem pretensões maiores,

mas que foi crescendo, procu-

rando sempre uma “qualidade ab-

soluta”.

Eduardo TolEnTino

Entrevista: o papel do Teatro

Pág. 6Secção de Basebol e Softbol da AAC:

uma casa em crescimentoPág.7

Łukasz Bartkowiak

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2 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

DestAqUe

s investigadores nãoestão a abandonar opaís, mas sim a serabandonados pelas

atuais políticas”. É do Reino Unidoque Pedro Gonçalves, a frequentar odoutoramento em Arqueologia naUniversidade de Cambridge, cons-tata a situação atual do país ondenasceu. Com licenciatura em Arqui-tetura pela Universidade Lusíada deLisboa (1997) e um mestrado emGeociências, na área de especializa-ção em Ambiente e Ordenamento doTerritório pela Faculdade de Ciênciase Tecnologia da Universidade deCoimbra (UC), em 2008, Pedro Gon-çalves representa parte da geraçãoque, sem apoio estatal, se viu obri-gada a sair de Portugal para garantiruma formação de qualidade e, con-sequentemente, um emprego naárea.

Façamos uma retrospetiva: 40anos volvidos, depois de uma vaga de

emigração que se queria libertar daopressão do regime e da pobreza(rumo aos maiores países da Eu-ropa), este paradigma repete-se. Mashá uma diferença notória: a excelên-cia da formação de quem abandonao país. Nos anos 60 e 70, foram osportugueses de classe média e semformação académica a sair. A partirde 2000 são os mais e melhor for-mados de sempre. Estes não o fazemde ânimo leve – veem-se obrigados ase instalar no estrangeiro e a adiar,para já, o regresso.

Em pleno século XXI, a emigração“por necessidade” ainda se verifica.Hoje, e cada vez mais, existem pes-soas a sair em busca de condiçõesdignificantes – tanto na área da in-vestigação como simplesmente naárea do trabalho “puro e duro”. E oconvite à emigração é, por vezes,feito pelos próprios governantes.Como se viu há um ano atrás, pelasdeclarações do primeiro-ministro,

Pedro Passos Coelho e do ministro-adjunto dos Assuntos Parlamentares,Miguel Relvas. As palavras proferi-das por Passos Coelho são criticadaspor três jovens que se encontram noestrangeiro a trabalhar: Ana RelvasFrança (Londres), Andreia Silva(Macau) e Pedro Gonçalves (Cam-bridge) são perentórios quando afir-mam que “é dos comentários maisinfelizes” e que “foi duríssimo deouvir e muito injusto porque não seresolvem os problemas de um pais ti-rando daqui gente para ver se sobratrabalho para os que restam”. Já San-dro Alves (Paris) mostra um discursomais comedido, não deixando, no en-tanto, de ser algo crítico: “para quêinvestir na educação e na formaçãopara depois ser passada aos jovens amensagem de emigração?”.

Viver lá fora com Portugal na memóriaCom licenciatura em Jornalismo pelaFaculdade de Letras da UC, tiradaem 2009, Ana Relvas França fez asmalas e rumou a Londres, para con-tinuar a estudar. “Vim para Londresonde completei uma pós-graduaçãoem Jornalismo, na vertente Im-prensa (London School of Jorna-lism)”. Ainda regressou a Portugalpara mais duas formações no Cenjor,mas Londres continuava na mira,porque sempre foi um dos seus des-tinos de eleição. “Cá nunca me sintoestranha e fora de órbita”, assegura.A trabalhar em regime ‘freelancer’ nasua área, tem ainda de recorrer aoexercício de supervisão de um “res-taurante chique”, como a própria iro-niza, para pagar as suas contas.Estagiou na conceituada revista ‘Mo-nocle’ e acabou por continuar a cola-borar, a par de outros trabalhos empublicações mais pequenas. Ana Rel-vas França tem ainda tempo para um‘part-time’ na cadeia televisiva BBC,como tradutora no Departamento deLínguas Latinas. Quando confron-tada com um possível regresso aopaís de origem, Ana encara essa hi-pótese como distante, preferindoantes viajar pelo mundo. Deixa oconselho: “para os portugueses seriabom pensar em deixar as saudadesna gaveta e tentar Macau, Brasil ouAngola”.

Do mesmo ano e do mesmo curso

é Andreia Silva, hoje jornalista emMacau. “A minha vinda para Macauprendeu-se unicamente pela aven-tura pura e dura, pelo desafio de virtrabalhar para um diário, objetivoque sempre quis atingir”. Apesar dacrise ser um fator crucial que motivamuitas saídas, Andreia brinca com asituação: «saí de Portugal poucotempo depois de Passos Coelho ven-cer as legislativas, e dizia “só regressoa Portugal quando o PSD sair dopoder”». Ao contrário dos restantes,Andreia não seguiu para a Europa.Sendo este um continente que tam-bém se encontra em crise, a jorna-lista afirma: “neste momento a Ásiaestá, de facto, a tornar-se no centrodas atenções de todo o mundo”, nãodescredibilizando totalmente o con-tinente europeu. “Há países na Eu-ropa de Leste, como a Polónia, queainda conhecem crescimento econó-mico, o Reino Unido, ou até a Ale-manha”, acrescenta.

Para além de Ana Relvas França,Pedro Gonçalves também está noReino Unido. Reconhece que a emi-gração jovem pode traduzir-se numabandono do país mas, ainda assim,diz que “é, sobretudo, uma reação aofacto de o país estar a abandonar aspessoas”. Neste sentido, SandroAlves vai mais longe e, num tom in-dignado, apresenta uma série dequestões retóricas: “onde está o re-torno financeiro do investimentoavultado feito pelo país, desde a pri-mária até à universidade? Será quese perdeu uma geração inteira?Como será na próxima geração? Ca-minhará Portugal para um país develhos?”. Em Paris desde finais de2008, a desenvolver trabalhos depós-doutoramento no Institut duCerveau et de la Moelle épinière (Ins-tituto do Cérebro e da Espinal Me-dula), Sandro explica a decisão dasua saída: “o objetivo era adquirirnovas tecnologias de ponta e impor-

“O

Mudem-se as cabeças para manter os cérebrosO fenómeno comummente chamado de ‘brain drain’ – “fuga de cérebros”, em português – tem-se

agravado cada vez mais ao longo dos tempos. Hoje, a aposta na qualificação académica já não

serve aos empregadores. Há que sair do país para trabalhar, para ver o esforço de anos ser

recompensado. Urge reverter as políticas. Por Ana Duarte e Ana Morais

Hoje, e cada vez

mais, existem

pessoas a sair em

busca de condições

dignificante

Elísio Estanque

encontra na política

de austeridade a

verdadeira causa da

emigração jovem

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DestAqUe

tar as mesmas, de forma a imple-mentá-las no laboratório aquando doregresso a Portugal”.

As valências da emigraçãoO investigador do Centro de EstudosSociais (CES) da UC, Elísio Estanque,encontra na política de austeridade averdadeira causa da emigraçãojovem – “é resultado da pressão danossa economia e da falta de oportu-nidades, associadas a esta tendênciade crise e austeridade em que esta-mos”. Mas o sociólogo vê tambémeste fenómeno por outro prisma:“esse fluxo migratório pode ser inte-ressante do ponto de vista das expe-riências pessoais de cada um”.

Excetuando Ana Relvas França,todos mostram vontade de voltar aoseu país. “Nada me faria mais feliz”,

confidencia Pedro Gonçalves, apesarde reconhecer que “será difícil re-gressar” tendo em conta a atual con-juntura. Também Andreia Silvaconta que “não há um dia em que nãotenha saudades de Lisboa e dos seuspormenores maravilhosos”. Porém,tem um discurso mais positivoquando mostra a facilidade de viajarpelos países asiáticos: “quero viajarmuito; e com duas horas de avião,estou na Tailândia”. Apesar de adiaresse regresso aquando de “uma rea-lidade mais próspera”, Sandro Alvesdiz que o seu “grande objetivo” é re-tornar.

Na opinião do investigador doCES, a solução para inverter esteciclo de saída dos mais qualificadosdo país passa por: “uma reorientaçãodas políticas a nível europeu e ao

nível do país”. Elísio Estanque am-plifica este possível caminho ao níveleuropeu: “é necessário que a própriaEuropa direcione as suas estratégiasnuma outra direção”, assegura.

Atraso científico?Esta “fuga de cérebros” pode trazeralgumas consequências nefastas parao país, no que toca a atrasos cientí-fico-culturais. “Portugal vai ficar comos talentos de 40 ou 50 anos, que defacto têm o ‘know-how’, mas não hárejuvenescimento”, explica Andreia.E não há porque deixa de ocorrer re-novação no que toca a recursos hu-manos. Para o doutorando deArqueologia em Cambridge, os resul-tados dos investimentos feitos hácerca de 10, 15 anos qualificaçãocientífica e intelectual do país, vão

cair por terra. “Agora que os frutosdesse investimento começavam a darresultado, parece que se quer des-truir todo o investimento feito”, la-menta.

Para o investigador em Paris, “urgemudar a forma de gerir a vertenteeducativo-científica” para se chegara bom porto. Como consequência,Sandro Alves não hesita: “Portugalestá a pagar caro e infelizmente pa-gará com juros acrescidos a médiolongo prazo”.

O (possível) regresso“Não existe país com mais potencialneste mundo, com gente mais genui-namente boa e com uma ética e umapaixão pela profissão como um por-tuguês”, desabafa Ana Relvas França,para evidenciar que apesar de não

pensar regressar a Portugal, esteainda é o seu país. Sem pudor, con-clui: “só é pena que tenhamos sido,até agora, liderados precisamentepor aqueles que constituem a exce-ção a essa regra”.

Está tudo nas mãos das novas ge-rações. É a geração mais qualificadade sempre. Mas é preciso saber in-vestir, saber escoar produção cientí-fica. Porque Portugal precisa deganhar identidade no estrangeiro erenovar-se. Até ao fecho da edição, oJornal A CABRA tentou contactar aSecretaria de Estado do Ensino Su-perior e da Ciência, mas não obteveresposta de João Queiró e de LeonorParreira, respetivamente. Também aFundação para a Ciência e Tecnolo-gia foi solicitada, não tendo, igual-mente, respondido.

ilustração por carolina campos

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EnsIno sUPErIor4 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

Procurar locais à noite para estudar no perímetro da

Universidade de Coimbra (UC) pode suscitar dois exemplos:

um de perda e outro de inovação. Em dois dos três polos

não há uma alternativa a quem queira estudar por este horário. A Biblioteca Geral, no Polo I, encerrará

o serviço noturno esta semana. Do outro lado, o DEI não tem horas para fechar. Por Liliana Cunha

Falta de locais de estudo noturnos

As luzes que se desligam para estudar à noite

stou aqui há tanto anoe isto está-se a degra-dar. Não sabemosquando reabre o ser-

viço”, afirma o funcionário da Bi-blioteca Geral, Acácio Xavier. É denoite, por volta das 21h30, no Polo Ie esta é a última semana para os es-tudantes beneficiarem do serviço no-turno da Biblioteca até às 22h. Desdehá 36 anos neste expediente, Acáciosente que muita coisa mudou na uni-versidade. E no seu posto em parti-cular. Estudar à noite na UC podeser um exercício quase ilusório. An-tigamente havia requisições de livrosainda batiam as 23h. Hoje, isso nãoacontece. A sala de leitura tem umnúmero considerável de estudantes.No entanto, acontece que dali a meiahora fecharão portas. “A maior forçada universidade é o estudante. Nãose consegue estudar sem lugarespara tal”, prossegue o funcionário. Évisível nas suas palavras o cansaçodas consequências que os novostempos trouxeram, mas continua aacreditar nos estudantes para força-rem a continuidade destas suashoras extraordinárias. “O serviço no-turno só acaba se os estudantes qui-serem. Eles têm poder para isso, são

eles que pagam as propinas”, asse-gura.

“É uma dúvida pessoal, mas nãosei se se justifica ter bibliotecas aber-tas à noite para salas de estudo. Éuma solução cara”, assevera o vice-reitor para as Instalações, VítorMurtinho. A reitoria afirma que oseu papel é apenas a qualificação dosespaços e não a providência de novoslocais de estudo: “não é vocação da

universidade ter esse tipo de ofertaem termos genéricos”, afirma VítorMurtinho.

Quem tem o papel ativo?Acácio afirma que os estudantes têmforça, mas quem de lá sai não pareceter a mesma certeza. Ao ir emborauma aluna, que preferiu não se iden-tificar, deixa escapar “que o pro-blema é que nesta altura os

estudantes têm mais com que sepreocupar. Têm os exames. Preocu-par-se com o que estudar e onde es-tudar, fica muito pesado”. Serámesmo assim? Por toda a universi-dade, à noite, contam-se estudantesque procuram lugares para examinaras matérias. Uns com alternativaspróprias, outros vão-se acomodandocom o que há para oferecer. O Polo Ie o Polo III parecem ser os mais par-cos em locais durante a ronda no-turna de estudo. Ana Seiça, aluna deQuímica, está sentada numa mesado piso três da Faculdade de Letrasda UC quando faltam cinco minutospara esta fechar. Arrumam-se os car-regadores, mas ainda há quem apro-veite o tempo que resta - “sei que afaculdade fecha entretanto e por issotenho de me ir embora a seguir”. Anasente-se “condicionada”, diz. Procu-rará um café a seguir porque gostade estudar à noite. O seu departa-mento (de Química), logo ao lado,está fechado desde as 20h, assimcomo a Faculdade de Medicina daUC. A vice-presidente do núcleo deMedicina, Maria Lúcia Moleiro,afirma que não há nenhuma biblio-teca noturna tanto no Polo I comono Polo III a funcionar de noite.

Mais uma alternativa gorada.Todavia, ao lado do Largo D.Dinis

surgirá uma opção inesperada. ODepartamento de Arquitetura temluz. As salas estão abertas, mas aporta de acesso tem apenas umapedra a trancá-la. Vítor Murtinho étambém lá professor e alerta para afalta de controlo no departamento.“Não é uma boa solução porque fra-giliza a segurança interna”, atesta.

Ademais, o vice-reitor afirma que areitoria está a tentar desenvolver umsistema que faça com que a entradanos departamentos fora de horasseja ativada com cartões de acessode modo a controlar quem lá se en-contra. Todavia, já alguém se ante-cipou.

Um caso “exclusivo”O ideal para a administração da UC

era a existência de “espaços de rela-ção com o exterior direta e que fos-sem quase os alunos a gerir osespaços”, explica Vítor Murtinho.Nesse sentido, no Polo II há cerca decinco anos que o Departamento deEngenharia Informática (DEI) estáaberto toda a noite para os estudan-tes fazerem os seus trabalhos semtérmino diurno. “Acaba por ser anossa segunda casa, passamos cá otempo todo”, sustenta entusiasmadoo presidente de núcleo do DEI, JoãoMarques. Os estudantes estão a con-viver em todas as salas num espaçoamplo. “Somos um caso exclusivo naUC. Temos acesso a todas as instala-ções, não nos é feito qualquer tipo derestrição e por isso temos de apro-veitar”, apresenta João Marques. Napróxima época de exames tentarãodisponibilizar de novo o Centro Cul-tural da Casa da Pedra - a cantina doPolo - para estar aberto até tarde, talcomo no ano passado. Por enquanto,o cartão de acesso destes estudantesfaz com que sejam os únicos a ter umespaço sempre seu 24 horas, setedias por semana.

Ainda é o único. Porque uma ruaabaixo, no Departamento de Enge-nharia Civil (DEC) há uma sala quepretende também estar aberta 24horas em toda a semana. “Prefiro virpara cá à noite porque às vezes omeu quarto é mais frio”, ressalva oestudante Vital Araújo. A comodi-dade da sala 24, inaugurada no iní-cio do ano, é notória. E ainda podetrazer mais uma facilidade – “até es-tamos mais perto dos professores,aqui, nos dias úteis e quando temosdúvidas vamos lá tirá-las e volta-mos”, explica Vital. “Porque háquem faça de estudar à noite um há-bito. Isso não se pode contrariar”,assenta o presidente de núcleo doDEC, Jorge Graça.

“Se alguém quer os espaços, hámuitos estudantes que podem daressa proposta e essa prova de con-fiança de que realmente conseguemgerir as suas próprias salas de estudosem necessidade de vigilância”,lança André Carvalho a estudar nodepartamento de civil mas sendoaluno de Informática. Está numamesa com mais três colegas a estu-dar. Porém, muitos há que não têmmesa disponível. Têm de ficar porcasa. E já é de noite.

“E

“Não se consegue

estudar sem lugares

para tal”, afirma o

funcionário da BGUC

Acácio Xavier

“Porque há quem faça

de estudar à noite um

hábito. Isso não se

pode contrariar”, diz

Jorge Graça

Arquivo - luís Gomes

A Biblioteca Geral encerrará o serviço nocturno (até às 22h00) a partir do dia 20 de Dezembro, sem data para reabrir

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18 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 5

EnsIno sUPErIor

Apenas com poder consultivo, o Senado ainda “tem peso”

Depois das eleições para

os corpos gerentes da AAC

e para o Conselho Geral,

a comunidade voltou às

urnas desta vez para votar

na composição do senado

O Senado, a par do Conselho Geral,é um órgão de gestão da Universi-dade de Coimbra (UC). Apenas compoder consultivo, o Senado tem comogrande competência auxiliar o reitorno que concerne à coordenação deatividades de oferta formativa, de de-senvolvimento e inovação e tambémà mobilidade de professores e estu-dantes no seio da UC. No que toca àsua composição, fazem parte desteórgão, para além do reitor, os direto-res das oito unidades orgânicas, umestudante a representar cada facul-

dade e ainda dois não docentes.Dois anos depois do último ato

eleitoral, realizaram-se na passadaquinta-feira, 13, as eleições para onovo mandato, com a duração de doisanos. Exceto a Faculdade de Letrasda UC (FLUC) e a Faculdade de Di-reito da UC (FDUC), as listas de es-tudantes senadores nas outrasfaculdades foram listas únicas. NaFaculdade de Economia da UC(FEUC) e na Faculdade de Ciênciasdo Desporto e Educação Física da UC(FCDEFUC) apresentaram-se listasrecandidatas. Até ao fecho desta edi-ção os resultados finais dos estudan-tes não tinham sido publicados napágina online do Senado. Tambémquem consultasse esta página comvista a saber as listas dos estudantescandidatos não encontrava a infor-mação. Apesar dos resultados dosfuncionários já constarem. Assimforam eleitos dois representantes deduas das três listas candidatas (listaI e P), registando cerca de 58 porcento de abstenção.

Senado desconhecidoDepois de em 2007, o novo RegimeJurídico das Instituições de EnsinoSuperior (RJIES) ter vindo a alteraro funcionalmente dos órgãos de ges-tão das universidades, o Senado pas-sou a ter um poder meramenteconsultivo ao invés de deliberativo.Para a senadora eleita pela Faculdadede Psicologia e Ciências da Educaçãoda UC, Rita Mendes, isso não é impe-dimento para a participação dos es-tudantes no órgão: “é o único órgãoque o estudante se faz ouvir efetiva-mente e de igual forma quando com-pararmos outros órgãos da UC”.Opinião partilhada pela senadorareeleita pela FEUC, Lídia Pereira: “osenado ainda tem peso”. Ainda atambém reeleita senadora pelaFCDEFUC, Eva Oliveira, segue estalinha de pensamento: “conseguimoslevar todos os problemas ao Senado,somos sempre ouvidos e nunca tive-mos entraves nesse aspeto”.

“Os estudantes das várias faculda-des conhecem muito pouco o órgão”,

assevera o senador eleito pela FDUC,Bruno Matias. Esta ideia é partilhadapelos restantes senadores, que vãoapresentando algumas alternativascomo a criação de uma página no Fa-cebook para facilitar a comunicaçãocom todos os estudantes da UC. A se-nadora pela Faculdade de Medicinada UC, Inês Madaleno, vai mais longee aposta na concertação de posiçõespor parte de todos os estudantes se-nadores: “se delinearmos as estraté-gias em conjunto serão bem ouvidas.Temos de trabalhar em rede.”

Uma vez eleitos os estudantes se-nadores passam a manter um diálogoconstante com o reitor. Assim, os oitosenadores estudantes classificam deforma positiva o trabalho desenvol-vido por João Gabriel Silva. O eleitopela Faculdade de Ciências e Tecno-logia da UC, Jonathan Torres, consi-dera mesmo que o reitor é “umparceiro na luta estudantil”. O sena-dor pela FLUC, Ruben Ferreira, tam-bém é desta opinião: “o trabalho doreitor não tem sido mau”.

A época especial de

setembro passa neste ano

letivo para julho. Assim, a

UC dá lugar a três épocas

de exame seguidas para

quem tem estatuto ou é

finalista

Neste ano letivo está introduzidauma nova alteração à época extraor-dinária de exames para alunos fina-listas: passa do mês de setembro parao mês de julho em todas as faculda-des da Universidade de Coimbra(UC). No entanto, a opção transfor-

mada agora em norma já tinha sidoadotada pela Faculdade de Farmáciada UC (FFUC). “Uma coisa é estudaragora e passar seis semanas e voltar aestudar a mesma matéria, outra coisaé estudar hoje e passado uma semanater o exame”, explica o diretor daFFUC, Francisco Veiga. O professoracrescenta que pode haver então um“ganho contrariamente àquilo quepossa parecer”. A posição contráriaprende-se com a sobreposição deexames e o facto de assim o estudantecom regalia ou finalista passar a tertrês épocas seguidas – época normal,de recurso e especial.

Pela Faculdade de Economia daUC (FEUC), o seu diretor, José Reis,ainda tinha setembro no calendárioletivo como tempo de época extraor-dinária antes da decisão da reitoria.

No entanto, o também diretor doConselho Pedagógico constata que,pela parte dos seus alunos, nenhumareivindicação foi levantada – “até foiposição dos próprios alunos que sevia vantagem nisso”. José Reis ob-serva que há “uma compressão doscalendários de exames, mas isso tam-bém facilita porque estão mais cedolivres para concorrerem ao ciclo se-guinte ou concluir o curso para quepossam procurar emprego”. O dire-tor da Faculdade de Letras da UC,Carlos André, é da mesma opinião ereconhece “que a concentração ex-cessiva pode criar problemas doponto de vista da avaliação”. O tempode interregno está assim mais redu-zido para os alunos que usem estaépoca de exames que, como o nomeindica, é “especial”. Quanto ao facto

do rendimento aumentar ou diminuirface à compressão, a diretora da Fa-culdade de Direito da UC (FDUC),Anabela Rodrigues, aponta que, emprimeiro grau, esta questão tenta “fo-mentar junto dos estudantes um mé-todo de estudo programado”. Acerteza em atestar que “a consagra-ção de épocas extraordinárias consti-tui uma mais-valia face às épocasnormal e de recurso” é o outro pontosegundo a também diretora do Con-selho Pedagógico da FDUC.

O processo de Bolonha, que prevêuma indicação relativa ao número desemanas das aulas a dar, está envol-vido assim no aperto que possa haverpara com as avaliações que se pre-tendem contínuas. Anabela Rodri-gues considera que o momento darealização “contínua de exames deve

corresponder a uma situação pontua-lizada e não sistematicamente recor-rente”. A diretora considera que talprejudica o aprofundamento na in-vestigação e “incentivo do saber”.

“Devemos, como objetivo, valori-zar sobretudo o momento da apren-dizagem em vez da época de exames”,defende José Reis. O diretor da FEUCtem no seu parecer que, “de certa ma-neira, as várias oportunidades queexistem são para os estudantes decerta maneira otimizarem o seu ca-lendário individual”.

“Independentemente do momentoem que ocorra, a época extraordiná-ria terá sempre uma função pedagó-gica relevante”, conclui AnabelaRodrigues. Agora, e em todas as fa-culdades, o mês de julho significa fimdo ano letivo para todos.

Época especial em julho quer antecipar final do ano letivo

Arquivo - inês BAlreirA

As eleições para o senado realizaram-se na quinta-feira, 13. em quase todas as faculdades houve lista única, com exceção de letras e Direito

Liliana Cunha

João Martins

Ana Morais

Último ENDAdo ano sempropostasconcretas

A decorrer neste último fim-de-semana 14,15 e 16 de dezembro naUniversidade do Minho, o EncontroNacional das Direções Associativas(ENDA) terminou já perto das qua-tro da madrugada de domingo. Ojornal A CABRA tentou contactaraté ao fecho desta edição os dirigen-tes das maiores associações do país,incluindo o presidente da Direção-geral da Associação Académica deCoimbra, Ricardo Morgado. No en-tanto, apenas o novo presidente daFederação Académica do Porto(FAP), Rúben Alves respondeu.

“Aprovamos uma proposta de ca-lendarização do regulamento de bol-sas junto da secretaria de estado”,afirma Rúben Alves. O presidenteda FAP revela que a revisão dos ou-tros documentos tem sido realizada“em cima do joelho. Só somos cha-mados a intervir quando já estáquase tudo decidido”. A publicaçãodo novo regulamento para o pró-ximo ano letivo “tem de estar na opi-nião dos dirigentes decidida atéabril de 2013”, assegura RúbenAlves.

O estudante assenta que a FAP es-teve envolvida no debate sobre aexecução fiscal recentemente ati-vada para os estudantes em incum-primento de pagamento e pensamque as Instituições do Ensino Supe-rior “têm de resolver o problemamuito antes: a partir do incumpri-mento os serviços de ação social ten-tarem perceber o porquê”.

Foi também aprovada uma decla-ração de princípios que demonstra“a visão do movimento associativonacional sobre o desemprego - nãotem nenhuma proposta em con-creto”, explica o presidente da FAP.O ENDA pretende atestar que os es-tudantes não querem olhar para odesemprego como um grupo homo-géneo, mas com perfis diferentes.

Liliana Cunha

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culTura6 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

A peça “12 Homens e UmaSentença”, do Teatro Ama-dor Produções Artísticas(TAPA), foi escolhida peloMinistério da Cultura bra-sileiro para integrar a pro-gramação do “Ano doBrasil em Portugal”. De-pois de uma passagem porLisboa, a peça foi levada aopalco do Teatro da Cercade São Bernardo em Coim-bra, nos dias 7 e 8 de de-zembro. Houve tempotambém para o TAPA apre-sentar “Retratos Falantes”,no dia 9. Eduardo Tolen-tino, encenador e fundadordo TAPA, falou sobre a suavisão do teatro e da relaçãodeste com a sociedade.

O que o levou a fundar o

TAPA?

O TAPA foi um grupo que começouna Pontifícia Universidade Católica(PUC) do Rio de Janeiro. Começoucomo um grupo amador em 1974.Sem nenhuma pretensão de ser umgrupo de teatro profissional. Sóque aí fomos sendo mordidos pelaabelha do teatro. Eu sou formadoem Jornalismo, comecei como eco-nomista, passei para jornalismo,trabalhei num jornal, mas em 1979a vida já nos levou ao teatro e fize-mos essa a nossa profissão.

Na época da ditadura e re-

pressão existia uma maior

efervescência cultural.

Quando o Brasil regressou à

democracia essa efervescên-

cia diminuiu? Isto é, como as

pessoas tinham mais acesso à

cultura e mais liberdade, isso

de alguma maneira pode ter

tido um efeito perverso na

criação artística?

Isso é uma maneira simplista dever a questão. Essa eclosão culturalque o Brasil tinha no período da di-tadura, vinha de antes, do únicoperíodo democrático do país. O queaconteceu quando acabou a dita-dura é que tudo havia sido minado,desfertilizado: a escola foi desmon-tada no Brasil. A televisão entroucom uma força avassaladora, como

em nenhum lugar do mundo. Tive-mos uma televisão que foi propa-gandista de um sistema inteiro. Omeio cultural foi completamentedemolido. Quando o terreno dei-xou de ser fértil, veio a aberturabrasileira. Quando o pensamentojá estava definitivamente sepul-tado.

Toda essa efervescência que

nós estamos a ter, em Portu-

gal, é consequência de estru-

turas que foram criadas

anteriormente. Mas daqui a

dois, três anos podem mudar

completamente. A crise acaba

por destruir isso?

O que sinto em relação à questãoda crise financeira é que ela é umaparte do problema. Existe dinheiropara produzir. E a qualidade éabaixo da crítica. Então, comonuma escola e universidade precá-ria, você pode ter um bom público?Nós criamos, atualmente, no Bra-sil. Há dinheiro para cultura, masesse dinheiro é diluído para umaplateia que não sabe nem o que vaiassistir. Quer dizer, é o que haviade diferente em relação aos anos60, no Brasil. Existia uma plateiaurbana muito preparada.

Hoje em dia não…

Existia uma plateia urbana que fre-quentava o teatro, o cinema, a mú-sica brasileira porque erapreparada para isso. Estou falandodo público de teatro estudantil, opúblico de uma classe média for-mada. A classe média foi desmon-tada no Brasil, através exatamenteda escola. E isso é uma coisa maisséria do que a questão financeira.É o desmonte do sistema cultural.Tínhamos uma classe média pen-sante, hoje temos uma classemédia ignorante. Temos uma eliteestúpida, que herdamos de vocês,uma elite predadora, burra, igno-rante, que vai para fora para con-sumir, para comprar. Temos umamassa que não tem acesso à menorforma de ensino. Não temos sóuma desigualdade social e econó-mica no Brasil, temos uma desi-gualdade cultural e ninguém sepreocupa com isso. Temos umaclasse média que foi sendo alie-nada. Que tem aspirações de con-sumo. Só.

Qual acha ser a razão de ter-

mos poucas companhias por-

tuguesas a encenar no Brasil,

quando agora temos aqui a

sua, quando tivemos a Com-

panhia do Latão no semestre

passado, e o enriquecimento

da participação brasileira

aqui no teatro...

Essa ponte... Precisaria de um tra-balho governamental pesado emrelação a isso. Temos muita difi-culdade de entender o portuguêsde Portugal. Ouve uma invasão emPortugal da televisão [brasileira]. Evocês se habituaram a ouvir [o por-tuguês do Brasil].

O “Ano de Portugal no Brasil”

pode ajudar a esse unificar de

relações entre os dois países

ou a crise pode...

Não sei. Não vi muita coisa de Por-tugal no Brasil. Não vi aquilo queestou vendo a acontecer em Portu-gal, a receção de uma série de coi-sas aqui em Portugal, brasileiras.Eu não vejo o correspondente noBrasil, ainda. Pode ser que isso sealtere mas seria fundamental ver osespetáculos portugueses no Brasil,ganhar novamente o hábito disso.Parece que o mundo, no Brasil, seresume àquela forma de pensarque nos é ditada pela televisão. Émuito difícil assimilarmos algumacoisa que não seja aquilo que a te-levisão vende como verdade abso-luta.

Ou mesmo a linguagem televi-

siva…

É mesmo por isso que é muito di-fícil aceitarmos a questão [da lín-gua] portuguesa. Uma vez assisti aum filme excelente, português, etinha legenda. Foi ótimo porquetemos realmente dificuldade emouvir, pela falta de prática, pelotipo de acento, é engraçado isso. Éimpressionante como a culturanegra abriu as nossas vogais, dife-rentes das vogais portuguesas quesão muito fechadas. Esse fecha-mento das vogais é muito difícilpara entendermos, atualmente. So-bretudo uma plateia que não é umaplateia que trabalha a escuta.

Como o teatro pode sobrevi-

ver à cultura de massas? Ou

coexistir, pelo menos?

Só acredito numa coisa: com umaqualidade absoluta. Temos que nossuperar na qualidade. A briga quetenho há 32 anos é pela qualidadedo que se faz. Em algum momentovamos tocar alguém. Podemosfazer três fracassos, mas em algummomento vamos tocar alguém,quando você consegue cooptar esseespetador, que descobre uma outracoisa a assistir uma obra de quali-dade. Ele pode ser tocado não pelarazão, mas pela sensibilidade dele.E abrir algumas portas nesse sen-tido. É uma guerra.

Carlos Nicola

Daniel Alves da Silva

encenador e fundador do tapa

“Tínhamos uma classe média pensante,hoje temos uma ignorante”

“Parece que

o mundo, no

Brasil, se resume

àquela forma de

pensar que nos

é ditada pela

televisão”

Eduardo Tolentino

AnA MorAis

Entrevistas na íntegra em

cabra net@

Page 7: Edição nº 255

18 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 7

deSPorTo

Basebol e softbol: uma secção renovada de volta à primeira base

basebol e o softbol sãomodalidades pouco co-nhecidas em Portugal.Jogam nove contra nove,

alternando posições de ataque e de-fesa, e o objetivo passa por marcaro maior número possível de pontos(“corridas”). As principais diferen-ças, entre uma e outra, são as di-mensões da bola (maiores nosoftbol), o tamanho do campo e otempo de jogo. As regras são sim-ples: para pontuar tem que se acer-tar com o taco na bola atirada pelo‘pitcher’ (o lançador) e depois cor-rer pelas quatro bases do campo.No final, a equipa com mais corri-das vence.

O softbol é uma variação “maisleve” do basebol, pelo que se tornouuma modalidade mais direcionadapara as mulheres. As regras sãopraticamente as mesmas, mas olançamento é muito diferente, poisé feito por baixo, junto à anca.

Em Coimbra, ambas as modali-dades têm sido divulgadas pelaSecção de Basebol e Softbol da As-sociação Académica de Coimbra(AAC), que está, neste momento,em fase de captação de jogadores,uma tarefa complicada, segundo opresidente Patrick Gomes. “Ocampo [de Santa Cruz] já está re-servado para as secções de futebol ede râguebi e tivemos que ficar comos horários que faltavam, das17h30 às 18h30, e para o pessoaluniversitário torna-se complicadovir treinar”, lamenta.

Os treinos têm sido realizadosdois dias por semana (terças equintas) e, apesar de serem poucosos praticantes deste desporto, o ob-jetivo é muito claro: “queremoscriar uma equipa masculina, para obasebol, e uma feminina, para osoftbol”, afirma Patrick. No en-tanto, para conseguir juntar umaequipa, é necessário haver maisgente a querer participar. É poresse motivo que se procuram novosjogadores e, além disso, qualquerpessoa se pode candidatar. “Temosuma página no Facebook e podemver lá os nossos contactos. Tambémna AAC, no quarto piso, podem en-trar em contacto connosco, costu-mamos estar lá muitas vezes”,revela o presidente da secção.

“Uniformes não temos, ficou tudo na antiga direção”Como são pouco mais de uma de-zena de jogadores nos treinos,tanto rapazes como raparigas, asecção convida “outras equipaspara vir participar nos treinos”.Porém, como essas equipas só

podem ao fim-de-semana, orga-niza-se um treino ao sábado, deforma a simular um jogo. PatrickGomes considera que o campoonde treinam tem “muito boas con-dições”, mas não lhe agrada a faltade equipamento e pouca qualidadedaquele que ainda dispõem: “esta-

mos a ficar sem bolas, porque sevão perdendo. Os tacos e os capa-cetes também já estão um bocadodanificados e uniformes não temos,ficou tudo com a antiga direção.Precisamos de material novo”, con-clui.

A relação que existe com a ante-

rior direção não é a melhor, vistoque houve uma pausa na secção eos equipamentos não foram devol-vidos: “contactei-os e eles disseramque não devolviam nada”, acusaPatrick. A única solução era falarcom alguém da Direção-geral daAAC ou com o Conselho Desportivo

para que fosse exigida a devoluçãode tudo aquilo que foi levado, mastal não veio a acontecer.

A secção só voltou ao ativo emnovembro do ano passado, por ini-ciativa do atual presidente. “Vimpara me integrar na equipa de ba-sebol, mas a secção estava fechadae então resolvi juntar um grupo deamigos e reativá-la”, justifica Pa-trick, eleito no início deste anocomo principal dirigente do novoprojeto. Olhando para aquilo que jáfoi feito, considera que “não estánada mau” e tem tudo para melho-rar: “já somos cerca de 13 jogado-res e temos um treinador cubano,com licenciatura em basebol”, ex-plica.

O único problema é que, para já,só há uma equipa mista, o que nãovai ao encontro daquilo que se pre-tende. “O objetivo seria mesmouma equipa masculina e outra fe-minina, separadas”, esclarece.

Equipas sem apoioda FederaçãoPara além da situação complicadacom a antiga direção, a relação dopresidente com a Federação Portu-guesa de Basebol e Softbol (FPBS)também não é a melhor. Patrickafirma que não concorda comaquilo que está a ser feito: “temosde fazer pressão à Federação paraque nos dê apoio e às outras equi-pas que estão de fora. Caso não ofaça, que seja substituída por umadireção que ajude mais o basebolem Portugal”. O desporto já foimais praticado mas, segundo o di-rigente, “ultimamente estão duasequipas a participar tanto na Ligacomo na Taça”.

Para a equipa da secção podercompetir, tudo vai depender da ati-tude da FPBS, que deve “mostrardedicação e empenho ao cargo”.Ainda assim, Patrick mostra-se so-lidário para com as outras equipas:“se forem deixadas de fora, emsinal de protesto, iremo-nos man-ter fora das competições”, indigna-se.

A situação das modalidades con-tinua complicada, pois “com a si-tuação da Federação, muitasequipas deixaram de jogar e desis-tiram, mas ainda se pratica. Temosos Vikings ou os Whitesharks”, ex-plica um dos jogadores, RuiDuarte. Em relação ao futuro dasecção, este parece confiante, talvezpor “haver muita gente interes-sada” em participar num jogo que“não é assim tão complicado” e quecativa. “Há pessoas novas a quererexperimentar. Toda a gente gostade lançar e bater uma bola”, revela.

Após um período de interrupção a secção de Basebol e softbol volta a iniciar a sua atividade

a Secção de Basebol e Softbol, que se encontra numa fase de crescimento depois de ter sido reativada,

procura um novo rumo para o seu projeto. Patrick Gomes, o atual presidente, acredita que vai haver mais

divulgação das modalidades, mas está descontente com a direção da Federação. Por Tiago rodriguesrAfAelA cArvAlho

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Page 8: Edição nº 255

CIDADe8 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

Revisão de PDM (re)centraliza CoimbraAplicado em 1994, háquase 19 anos em vigor,o Plano Diretor Municipal(PDM) de Coimbra foi proposto a revisão eapresentado em reunião extraordinária

O PDM é o plano que controla aocupação do solo e é um docu-mento que regulamenta o planea-mento e o ordenamento domunicípio. O primeiro documentodesta natureza em Coimbra foiaprovado em 1994. “Se houvesseum PDM há mais de 19 anos emCoimbra, algumas das desgraçasurbanísticas não existiriam”, escla-rece o presidente da Câmara Muni-cipal de Coimbra (CMC), JoãoPaulo Barbosa de Melo.

A atual proposta de revisão dodocumento segue uma propostaefectuada há quatro anos, que naaltura não foi aprovada pelas enti-dades da administração central.Barbosa de Melo sustenta que o pri-meiro documento “teve muitoserros e que é fazendo um históricoque se vão percebendo os pequenoserros”. No entanto, este é um pro-cesso que não têm aplicabilidade noimediato, e que terá que passar pelaaprovação de diversas entidades daadministração central.

A alteração proposta em 2009contemplava um aumento dos pe-rímetros em cerca de 9 por cento doíndice de urbanização. Porém, ob-teve um parecer desfavorável da co-missão de acompanhamento,“porque se procurou ‘recentrar’ asatividades económicas e a constru-ção na recuperação do edificado”,afirma o vereador das Obras e In-fraestruturas, Paulo Leitão. Como

tal, o documento estabelece um au-mento de apenas 3 por cento dossolos que podem ser urbanizáveis,por outro lado existem outras zonasque o vão deixar de ser.

Especificidades técnicasElaborado pela equipa técnica da“casa” que foi responsável quase naíntegra por todas as tecnicidades doprojeto, e que mereceu considera-ções meritórias por parte de toda avereação camarária. O autarca daCMC refere que “hoje temos técni-cos muito mais habilitados do quehá 20 anos, o que nos garante quepossamos aplicar instrumentosmuito mais sofisticados”.

O PDM verte as orientações doPlano Estratégico posteriormente aum conjunto de planos (como oplano de pormenor e de urbaniza-ção) e unidades de execução. O pre-sidente da CMC admite que édesejo da autarquia que o PDM nãoimpeça de fazer aquilo que se con-sidera “ser importante na estraté-gia para o município”.

No que toca aos pormenores téc-nicos, o PDM contempla a reabili-tação do centro histórico, Barbosade Melo refere que “estão a serconstruídos alguns mecanismospara tornar mais fácil o investi-mento privado” nesta zona. Paraalém disso, o plano prevê que asáreas disponíveis para a instalaçãode empresas no território do muni-cípio “sejam muito maiores”, acres-centa ainda o presidente da CMC.

Possíveis falhas e omissões do PDM“Lamentamos que se tenham per-corrido estes anos todos e a maio-ria socialista não tenha conseguidorever o PDM”, comenta o vereadordo Partido Socialista, Carlos Cidade- em referência ao ano 2000 –, al-tura em que se iniciou o projeto derevisão. O vereador lamenta tam-

bém a falta de perspetiva política eadmite que esta proposta de revisãopoderá não ser a mais desejável. Omesmo aponta como principais fa-lhas na proposta do PDM, a valori-zação de um conjunto deoportunidades que se foram perde-ram ao longo desses dez anos.Como exemplo refere o caso doMetro Mondego, que agora consi-dera uma ameaça, a questão das li-nhas de alta-velocidade, e assim

como a reabilitação da Baixa.O PDM aprovado por maioria na

reunião da Câmara, há cerca deuma semana, contou com absten-ção de três vereadores e duas au-sências. Carlos Cidade observa queo projeto cria expetativa aos cida-dãos e o seu partido não quer queessas sejam goradas. Contudo, esteafirma que o PDM “não pode serum instrumento político pois existeuma matriz muito técnica que está

integrada nela”.O modelo de revisão do PDM

proposto por este executivo apre-senta-se de um modo genérico fa-vorável a um sustentadocrescimento estratégico da cidade.Onde não se procura a sempre ex-pansão urbanística, mas antes a ‘re-centralização’ e a visão estratégicada promoção das atividades econó-micas.

com Pedro Martins

António Cardoso

João Valadão

a revisão do PDM foi aprovada por maioria em reunião extraordinária na CMC

Rafaela CaRvalho

Inaugurado no final denovembro, o Serviço deAlimentação Solidária éuma nova valência da Associação Integrar quefornece apoio a pessoascarenciadas

As origens do projeto remon-tam ao mês de novembro de 2011,em que a Associação Integrar ob-teve o espaço atualmente ocupadoatravés de uma candidatura dire-cionada para outro tipo de finali-dade. Uma das responsáveis peloprojeto, Inês Simões, refere que oespaço não estava pensado paraservir refeições para o exterior,mas sim para “o treino de compe-

tências de gestão doméstica, noâmbito da gestão alimentar”. Con-tudo, o crescente número de pe-didos de ajuda à instituição e aquantidade de carências deteta-das na população acompanhadafez surgir “a ideia de lançar umserviço de alimentação solidária”.Inês Simões refere que o projeto é“inédito”, por apoiar a comuni-dade universitária e sobretudo“por funcionar aos fins de se-mana”.

O novo serviço apresenta comomais-valia a funcionalidade deum serviço de ‘take-away’ e a uti-lização de produtos agrícolas. Se-gundo a responsável, para alémdo indivíduo poder “levar a co-mida para casa”, pode também terum apoio ao nível da “assistênciade produtos agrícolas”. Para po-derem usufruir do Serviço de Ali-mentação Solidária, os utentesdevem comprovar a sua carência

económica, algo que é feito atra-vés da “articulação entre váriasentidades sociais”. Inês Simõesdiz que, após a triagem da situa-ção, é marcado um atendimentocom a pessoa para que se possaobter o máximo de informaçãopossível e se possa dar prioridadeàs “situações mais urgentes”.

Para a realização deste serviço,a Associação Integrar conta comum conjunto de parcerias – “esteserviço não pretende duplicar res-postas”, ressalva a responsável. Oconjunto de parcerias, para alémde servir de articulação com os di-versos apoios sociais da cidade,pretende a dinamização do ser-viço. As parcerias contam com aparticipação da Direção-geral daAssociação Académica de Coim-bra (através de um protocolo es-tabelecido em 2009), do Núcleode Estudantes de Faculdade deLetras, do Colégio Apostólico da

Imaculada Conceição ou do Insti-tuto Politécnico de Coimbra. InêsSimões acrescenta que o grossodos voluntários envolvidos “pro-vém da Paróquia de Santo Antó-nio dos Olivais” e que o projetoconta com “mais de cinquentapessoas”. A Associação Integrarpretende agora a inscrição denovos voluntários, de modo acriar uma escala fixa e a “não so-brecarregar as pessoas”.

A iniciativa, ainda muito re-cente, abrange uma comunidadede perto de noventa cidadãos,ainda que estejam a ser identifi-cadas mais situações no seio dacomunidade estudantil. Quantoao financiamento, Inês Simõesfrisa que o serviço “não tem qual-quer tipo de financiamento” e quetudo é assegurado através da re-colha de géneros alimentares,através da realização de diversascampanhas.

Serviço de apoio alimentar abrange jovens universitáriosRafaela CaRvalho

João Valadão

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18 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 9

CIÊnCIA & TeCnOlOgIA

pós a 18ª Conferênciadas Nações Unidas sobreas Mudanças Climáticas,desta vez no Qatar, os

alarmes voltam a soar. Se for real-mente verdade que o nível do marestá a subir à velocidade apontadapelo Painel Intergovernamentalpara as Alterações Climáticas (doinglês Intergovernmental Panelon Climate Change – IPCC), hápelo menos 44 países em risco dedesaparecer, ilhas com menos de30 quilómetros quadrados.

O professor catedrático da Fa-culdade de Ciências da Universi-dade de Lisboa, Filipe DuarteSantos, explica que “o nível domar sobe devido a três razões: poraquecimento da atmosfera - a ca-mada superficial do oceanoaquece e um corpo quandoaquece dilata, o que significa queo nível do oceano vai aumentar;segunda razão: os glaciares estãoa ficar mais pequenos, há umafusão do gelo” em água, que es-

corre para os oceanos; “e a últimarazão, há um degelo nos camposda Gronelândia e na Antártida, oque representa um aumento donível do mar”.

Importa, contudo, esclareceruma ideia errada que está enrai-zada na sociedade. A liquefaçãodos glaciares oceânicos não con-tribui para a subida dos oceanos,conforme esclarece o professorcatedrático do Instituto de Ciên-cias Agrárias e Ambientais Medi-terrânicas da Universidade deÉvora (UE), João Corte-Real: “házonas do mar que estão geladas eque, se se fundirem, não vão fazersubir o nível do mar, porquecomo se sabe o gelo ocupa um vo-lume maior do que a água lí-quida”.

Clima versus tempoSão estas as ideias erradas quealimentam a principal confusãoconcetual: clima e tempo. O pro-fessor catedrático do Instituto Su-

perior Técnico (IST), José Del-gado Domingos, começa por citarMark Twain: “o clima é aquiloque esperamos e o tempo é aquiloque temos”. Dito por outras pala-vras, o tempo é o momento e oclima é a estatística. A mudançado clima é comummente desig-nada pelas conhecidas alteraçõesclimáticas, que são “variações deestatísticas obtidas em períodosde, pelo menos, 30 anos, para umdeterminado local ou para umadeterminada zona”, define JoãoCorte-Real.

Imagine-se um conjunto dedados diários recolhidos emCoimbra durante um período de30 anos e comparados com dadosde outro período de 30 anos na ci-dade. Essa comparação, a ser sig-nificativamente distinta, permiteafirmar que existe uma diferençareal e uma consequente alteraçãoclimática. “Uma alteração climá-tica é uma alteração estatística,não é por se observar determina-

dos fenómenos meteorológicos,fenómenos de tempo, que se poderapidamente concluir que o climaestá a mudar”, acrescenta JoãoCorte-Real.

O problema da politizaçãoPara quem esteja atento, percebe-se a motivação por detrás daquestão das alterações climáticas,que se “tornaram uma questãopolítica, muito mais política doque científica. E, sendo política,aparecem duas implicações. Uma,é que envolve somas de dinheiroconsideráveis. A outra é que sãochamados à liça políticos”, expli-cita o docente da UE. “Se já esta-mos condicionados por decisões,de grupos ou de pessoas que nãosão desta área, isso aprisiona aciência e esta deixa de ser livre”,acrescenta João Corte-Real.

Um exemplo muito simples é afixação científica de que apenasos gases com efeito de estufa, no-meadamente o dióxido de car-bono (CO2), têm implicaçõesdominantes no aquecimento glo-bal. José Delgado Domingos é pe-rentório ao afirmar que “atribuirtudo ao CO2 é um erro que consi-dero gravíssimo porque é neces-sário o CO2 para se dar afotossíntese”. Além disso, anali-sando o portal português Pordata,é possível concluir que as emis-sões de dióxido de carbono na Eu-ropa diminuíram praticamenteum milhão de toneladas nos últi-mos 20 anos.

E Portugal, comparativamenteà Europa? “O que é caricato é queemitimos CO2 abaixo da médiaeuropeia”, demonstra José Del-gado Domingos, devido ao atualcenário económico. Há muitosoutros fatores para além do CO2.Há uma perturbação, pela mão doser humano, do sistema, nomea-damente através da “desfloresta-ção, incêndios massivos,sobreexploração dos solos e asmega cidades que impermeabili-zam o solo, alterando o ciclo hi-drológico e quociente de reflexãoda radiação solar”, enumera JoãoCorte-Real.

Importa, acima de tudo, escla-recer. Clarificar. “Os fenómenosmeteorológicos não são diferen-tes porque o clima está a mudar,é precisamente o contrário. É por-que os fenómenos meteorológicosse estão a modificar que depois asestatísticas vão ser diferentes”, fi-naliza João Corte-Real.

com Rita Abreu

Dê-se o mote. Conferência no Qatar, alarmismo pela subida do nível do mar e ninguémassume a culpa a não ser o incógnito dióxido de carbono. Mas estarão realmente osmares a subir e será o gás o verdadeiro responsável? O certo é que poucos sabem oque são, realmente, alterações climáticas. Por Paulo Sérgio Santos e Joel Saraiva

Aumento de CO2 = alteraçõesclimáticas? Pense de novo

Rafaela CaRvalho

Reprodução de quadro de Mehdi Saeedi integrado na exposição GloB-all MIX, no Museu da Ciência

A

OPINIÃO

UMA OUTrA VErDADE iNCONVENiENTE

Quando surgiu a ideia de escr-ever este artigo, o objetivo eracompilar as principais conclusõesda 18ª Conferência das NaçõesUnidas sobre as MudançasClimáticas, que terminou no pas-sado dia 8, na luxuosa capital doQatar, Doha. Depois, como emqualquer artigo, comecei a con-versar com interessados e pessoasda área, que me foram abrindo aporta ao reavivar de velhos con-hecimentos e a descobrir novos.Há uma ideia que deve ficar claradesde início, tão entendida comoa diferença entre tempo e clima: oaquecimento global existe. En-controu-se foi um culpado conve-niente.

Tempo e clima não são sinóni-mos. E isso são constructos quedevem ficar bem definidos para seperceber toda a questão das al-terações climáticas. Tempo refere-se aos valores de um determinadoconjunto de elementos atmosféri-cos (como a temperatura do ar oua pressão atmosférica) para umdado local e instante. Clima, porsua vez, é estatística, números. É asíntese desse conjunto de valorespara um período de tempo,definido pelos especialistas, de 30anos. Portanto, as alteraçõesclimáticas são variações significa-tivamente distintas entre valorescalculados para intervalos de trêsdécadas.

E as alterações climáticasdevem-se, na sua génese, a in-úmeros fatores, não apenaspoluição através da emissão degases com efeito de estufa, comoo CO2. A primeira vez que vi odocumentário de Al Gore foi háalguns anos. Voltei a revê-loporque sabia que rodava apenas àvolta desse gás que, por acaso, énecessário à vida na Terra (atravésda fotossíntese). Mas não falhaapenas aí. Falha também nas pro-jeções, que não passam muitasvezes de hipóteses, palpites. E aciência pode e deve ser melhordo que isso ou corre o risco deperder a credibilidade de outrora.

E tudo porque se aliou àpolítica. As alterações climáticaspolitizaram-se. E ver políticos afalar sobre elas é constrangedor,como por exemplo a deputada doPartido Ecologista Os Verdes,Heloísa Apolónia, no passado dia5: zero de ideias, zero de con-teúdo. Percebe-se, então, queBarack Obama, na sua primeiraconferência pós reeleição, tenharelegado as alterações climáticaspara segundo plano, em detri-mento do difícil momento sociale económico americano.

Não é que o clima seja poucoimportante. O que se passa é quenecessita de ser encarado deforma séria e firme. Algo que temfaltado desde que as alteraçõesclimáticas começaram a ser discu-tidas, na década de 70 do séculopassado.

Paulo Sérgio Santos

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ENTREVISTA - JUAN LUIS CEBRIÁN

10 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

No livro ‘Cartas a um JovemJornalista’, convence os jovensaprendizes do jornalismo a nãodesistir da profissão. Os últi-mos números apontado pelaFedaración de Asociaciones dePeriodistas de España indicamque 7900 jornalistas perderamo emprego, em Espanha, desde2008. Escreveria hoje o livro damesma forma?Eu creio que sim. Em primeiro lugaré muito grave o que se está a passarem Espanha. Mas o que se está apassar é uma crise global. Indepen-dentemente da crise financeira eeconómica, há uma crise da nossa

profissão induzida pela introduçãodas novas tecnologias, que estão a al-terar por completo os modelos denegócio, os modelos da empresa e ocomportamento dos clientes. Os jo-vens compram cada vez menos jor-nais, mas não quer dizer que nãoestejam menos informados, infor-mam-se pela rede. A publicidadetambém está a castigar a imprensaescrita não só pela crise económica,mas também por encontrarem ou-tras plataformas para anunciar. Osjornais, tal como os conhecemos, vãodesaparecer, há quem pensa que vãodesaparecer de todo, eu não gosta-ria. Acredito que a imprensa conti-

nua a ter um papel a desempenhar, eque acima de tudo o jornalismo nainternet é muito diferente.

Então não mudaria nada nolivro?Já não me lembro dele… [risos] Massuponho que não. Continuo a acre-ditar em jornalistas e continuo aacreditar que haverá sempre jorna-listas…

Mas em menos quantidade?Não necessariamente em menosquantidade… Há um tema que meafeta como jornalista, que é o ego.Nós, os jornalistas, temos muito ego.

E às vezes é demasiado. E creio quevai haver menos ego nos jornalistas.O ego é uma laca para os jornalistase a humildade uma condição neces-sária. Não acho que vá haver menosquantidade, mas a profissão vaimudar.

É inevitável levantar esta ques-tão. O último caso mediático re-lativo a reestruturações depessoal surge no próprio ‘ElPaís’, pertencente ao GrupoPRISA, do qual é administra-dor. Como fundador, e pela re-lação contínua que sempre tevecom o jornal, como vê o despe-dimento de 129 trabalhadores,na sua maioria jornalistas, 21pré-reformas e cortes salariaisde 15 por cento?Como presidente do grupo, tenhoque me preocupar com todo o grupo,e não só com uma empresa mais li-gada a mim e que me é mais querida.Mas a minha preocupação em rela-ção ao ‘El País’ é garantir a sua so-brevivência. Não é apenas um jornal,é uma instituição. É um jornal im-portante para Espanha e para aAmérica do Sul. Os intelectuais, aselites, os políticos, os empresários,insistem no papel que o El País temna conceção ibero-americana, e aminha preocupação é que o jornaltenha a sua independência. Não hájornal independente que perca di-nheiro. Se não te autofinancias,quem manda é quem te financia.

Uma das razões normalmenteapontadas para o sucesso do ‘ElPaís’ depende de uma granderedação, capaz de dar respostaaos vários factos e aconteci-mentos. Com estes despedi-mentos, a qualidade do jornalnão sairá afetada?Não sai afetada se o diretor tiveracertado com a seleção da equipaque fez. O problema é que necessita-mos de jornalistas com perfis novos.O mundo das plataformas digitaisexige-nos fazer um jornal global, di-rigido a toda a comunidade hispâ-nica. E também pensamos em fazeruma edição em português no Brasil.Portanto, a partir daí, muda o sis-tema de trabalho e a sua organiza-ção, mas não deve afetar aqualidade, pelo contrário, deveriamelhorar…

Na carta aberta dirigida aos lei-tores do ‘El País’, os jornalistasda publicação questionavam“que diário chegará aos quios-ques depois de despedidosmais de cem jornalistas, entreele, alguns dos melhores de Es-

panha?”Se o diretor decidiu prescindir dosjornalistas, certamente não pensouque eram alguns dos melhores jor-nalistas de Espanha. O diretor deci-diu escolher com que jornalistasfazer o seu jornal, se a qualidadesairá afetada, isso vão decidir os lei-tores. E isso iremos ver nos próxi-mos meses.

Mas, perante a greve de trêsdias, com mais de 80% de ade-são o jornal saiu na mesma…Mas nesse caso a qualidade obvia-mente saiu afetada. Eu sou jornalistade imprensa e a base dos jornais sãoos jornalistas. Um jornal pode ter osmelhores gerentes, os melhores ad-ministradores, os melhores comer-ciais e publicitários, mas se não temuma boa equipa de jornalistas, nãotem qualidade.

Não teme uma bola de neve emque estes despedimentos pos-sam conduzir a uma diminui-ção de leitores econsequentemente de publici-dade?Não. Há uma diminuição de leitoresno papel, porque há cada vez menosleitores a comprar o jornal. Os dire-tores e os redatores devem ter umavisão mais global do que é um jornale da própria função do jornalista. Háque mudar a forma de comunicarcom os leitores na internet, e paraisto são necessários perfis profissio-nais e organizações diferentes. Poroutro lado, diminui a tiragem, por-que desce a publicidade, e isso afetaa profissão. É inevitável.

O grupo PRISA anunciou umaquebra de 88 por cento dos lu-cros. A aplicação de um ‘expe-diente de regulación de empleo’foi a primeira opção que sur-giu?Outras empresas do nosso grupo játinham levado com reduções de pes-soal. O ‘El País’ foi dos últimos. Porrazões óbvias, porque para mim o ElPaís não é apenas uma empresa.

O jornal vivia acima das suaspossibilidades?Não. Pagávamos bons salários, e tí-nhamos uma melhor estrutura queconcorrentes nossos porque podía-mos pagar. O jornal não viveu acimadas suas possibilidades, viveria nofuturo se não fizéssemos o que esta-mos a fazer.

Uma questão levantada pelostrabalhadores, durante este pe-ríodo de contestação, prende-se com os seus ganhos pessoais,

Cebrián não é uma contradição, mas sem dúvida vive numparadoxo. Entre o papel de administrador do grupo PRISAe a nostalgia de jornalista, o fundador do ‘El País’ passou a notícia com o despedimento de 129 trabalhadores dojornal que é seu. Em Coimbra, no Seminário “Jornalismo eComunicação”, perdeu-se entre a crise da imprensa e umfuturo que já se começou a construir. Por João Gaspar eJoão Miranda

O papel do jornalista há deser o que foi sempre: dizer oque alguém não quer queseja dito

Ainda há futuro para os jornalistas

A “revolução” podeestar do lado deles

daniel alves da silva

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que acusam de ser de entre 12 a13 milhões de euros no ano pas-sado….Um dia dizem que ganho oito, outrodia 12 milhões, já nem sei o queganho. E pergunto: onde está todoesse dinheiro?

Então as notícias que foram

lançadas à volta dos seus ga-nhos pessoais são falsas?Sim. Não ganho 13 milhões de euros.O que ganho foi aprovado pela as-sembleia de acionistas.

Mas vários jornais, como é ocaso do ‘El Economista’, avan-çaram com a manchete de queteria havido uma atualização aovalor que inicialmente apro-vado, que deixaria de corres-ponder a 5,3 milhões para,entre ações, retribuições e re-munerações, passar a 13,6 mi-lhões. São notícias falsas?Honestamente, a única coisa que é averdade é o que está publicado na in-ternet [site da CMVM espanhola].

Então e a utilização de viagensem jato privado também é umanotícia falsa?

Não. Já utilizei o avião privado. Esteano creio que só usei uma vez. Emfevereiro, para um ato com Sarkozy,tive que ir a Paris. Foram 12 mileuros.

Perante estes factos, não consi-dera que isto é viver acima daspossibilidades? Está num

grupo com uma dívida líquidade 3,5 mil milhões de euros,cortaram nas pessoas, os pró-prios administradores não de-veriam dar o exemplo?Os administradores dão o exemplo,eu baixei 7 por cento do meu bónusdeste ano. Claro que temos de dar oexemplo. Sabem quanto oferecemosde indemnizações? 180 mil euros lí-quidos, o que equivale a 350 mileuros brutos. Digam a qualquer jor-nalista português que, por despedi-lo, lhe vão dar 350 mil euros brutos...

Em assembleia de trabalhado-res, foi acusado por vários jor-nalistas, que chegaram a pedira sua reprovação. Como co-menta?Eu não estava nas assembleias. Eunão acredito que os jornais sejam di-rigidos por essas assembleias e não

vou permitir nunca que o ‘El País’seja dirigido por essas assembleias.O ‘El País’ é uma empresa normal,não é uma cooperativa. Os donos do‘El País’ são os acionistas do PRISA,não são os jornalistas do ‘El País’,nem os seus trabalhadores. Os jor-nalistas podem pedir a demissão dodiretor. Mas o diretor é nomeado

pelo conselho de administração.Outra questão levantada na as-sembleia foi a da ameaça do di-retor, Javier Moreno, de que osjornalistas que não assinassemno dia da greve não poderiamvoltar a assinar.Não acreditamos que uma greve deempresa [layoff] seja um direito dosjornalistas. O ‘El País’ é um dos jor-nais que mais tem estabelecidos osdireitos dos seus jornalistas. O quedizemos é que o jornalista deve assi-nar, porque deve responsabilizar-se.

Sim, mas os correspondentesestrangeiros, sobretudo, afir-mam que houve essa ameaça.Eu acredito que os correspondentesestrangeiros, e disse-lhes isso, natu-ralmente têm direito a fazer grevecomo qualquer trabalhador. Mas ocorrespondente estrangeiro, não só

é um trabalhador que não tem horá-rio laboral, tem um salário normal-mente o dobro ou o triplo de umredator e, para além disso, é umcargo de confiança da empresa, umpouco como o representante da em-presa. E acho que é uma falta de res-peito aos leitores não assinar umacrónica ou reportagem. Mas não me

consta que o diretor tenha dito isso.Mas houve essa acusação decorrespondentes estrangeiros.Só dois jornais, dos mais de 100 quefizeram eco da situação do ‘El País’,que foram o ‘New York Times’ e o‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’,pediram a opinião do diretor e daempresa. A falta de rigor jornalísticonão é um problema só em alguns jor-nais, é um mal endémico.

Qual considera ser o papel doonline em toda esta situação deque vimos falando? O ‘ElMundo’ também está em rees-truturação, a Impresa avançoucom despedimentos...É um papel definitivo. A imprensa,se não está à beira de desaparecer,está à beira de transformar-se radi-calmente. E eu compreendo que osjornalistas, que têm medo de perdero seu trabalho ou têm medo que oseu trabalho se transforme de talmaneira que exija competências quenão possuem, lutem pelos seus di-reitos, pelos seus interesses, façamgreves. Não greve de empresa, agreve de empresa não é uma greve,não é um direito reconhecido. Com-preendo que protestem contra a em-presa. Compreendo que meidentifiquem, enquanto presidente,como estando no outro lado. O quenão compreendo é que prejudiquemo próprio jornal. O jornal é o seu fu-turo, não é o meu.

Como administrador, acha quefoi um erro tornar a informa-ção gratuita?Não sabemos qual é o modelo de ne-gócio no futuro. Informação gratuitavai haver muita. Já havia antes da in-ternet. A rádio faz informação e égratuita. Mas o que quero dizer é queninguém sabe como isto se vai orga-nizar. E vamos padecer durante al-guns anos de crises como a de queestamos a padecer.

E como jornalista?O papel do jornalista há-de ser o quefoi sempre. Dizer o que alguém nãoquer que seja dito. Terá de haver umjornalismo de investigação e um jor-nalismo de rigor. Mas o problema éque nós, jornalistas, somos uma pro-

fissão liberal, mas ao mesmo temposomos assalariados. Pertencemos aempresas que têm que descobrircomo sobreviver.

Em 1981, no prefácio a uma bio-grafia de Pinto Balsemão, diziaque tinha uma tarefa mais fácilque o então primeiro-ministro

português, pois o “País” quetinha que gerir era bem maispequeno e simples de conduzir.Era então jornalista, hoje é ad-ministrador. Tendo em contaos últimos desenvolvimentos,arrepende-se da escolha?Não sinto nenhuma contradiçãominha, quer como administrador,quer como jornalista. Eu continuei aescrever artigos e alguns editoriaisno ‘El País’, durante os anos comoadministrador. Portanto, não sintonenhuma contradição. Sinto umaresponsabilidade de fazer com que o‘El País’ sobreviva. Se há alguém in-teressado em que o ‘El País’ mante-nha a sua qualidade, que mantenha asua influência e excelência profissio-nal, sou eu. Não há um só redator no‘El País’ que esteja mais interessado.

Qual é o futuro do jornalismo?O futuro do jornalismo é o futuroque os jornalistas lhe queiram dar.Se existirem jornalistas com conhe-cimento, com coragem e convicçãode serviço à comunidade, existirájornalismo.

E o futuro dos jornalistas?O futuro dos jornalistas depende dosjornalistas atuais, depende de queentendam que o mundo mudou eque precisam de renovar o jorna-lismo e aproveitar a experiência dosmais velhos. Têm uma oportunidadeextraordinária, porque têm uma mu-dança revolucionária e têm a opor-tunidade de encabeçar a revolução.Os jornalistas têm que se adaptar àscircunstâncias. Mas também as em-presas e as redações. Temos que nosadaptar aos novos comportamentosdos leitores. São os leitores quemmudou.

E qual o futuro dos jornalistasque despediu?Há novos empregos. Há jornalistasque estão a fundar os seus própriosjornais, os seus próprios blogues. Hánovas oportunidades para o jorna-lismo. Não as tradicionais.

129 trabalhadores despedidos.Haverá oportunidades paratodos eles?Sim.

ENTREVISTA - JUAN LUÍS CÉBRIAN

Continuo a acreditar em jornalistas e continuo aacreditar que haverá sempre jornalistas…

daniel alves da silva

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PAÍS12 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

PIB indicadescida donível de vidaem Portugal

“A austeridade implica recessão eisso traduz-se nisso mesmo, numa re-cessão da riqueza criada num país”,assegura o diretor e professor cate-drático da Faculdade de Economia daUniversidade de Coimbra, José Reis.O Produto Interno Bruto (PIB) percapita, expresso em comparação aopoder de compra em Portugal, caiu de80 para 77 por cento da média daUnião Europeia em 2011, segundo osdados publicados pelo Eurostat. Estafoi a maior queda desde, pelo menos,1996, e também o valor mais baixodesde então, que se tinha registadoapenas em 2004.

Este indicador mede o que se pro-duz por pessoa, e é um dos mais usa-dos para comparar o bem-estareconómico em diferentes países. Noano passado, Portugal registou umvalor equivalente a 77,4 por cento damédia dos 27 países da União Euro-peia, uma descida de 2,9 pontos per-centuais face a 2010. “Existe umaimediata consequência: nós passa-mos a criar menos riqueza, quandotemos capacidade para criar mais”,afirma o catedrático.

Ainda assim, Portugal é o 19º paísda União Europeia na lista do Pro-duto Interno Bruto per capita. O paísmais rico é o Luxemburgo, onde a ri-queza por habitante é quase o triploda média europeia: 271 por cento. Se-guem-se outros países do Centro eNorte da Europa: Holanda, Irlanda,Áustria, Suécia, Dinamarca e Alema-nha têm um Produto Interno Brutoper capita 20 a 30 por cento acima damédia europeia. Bélgica e a Finlândiaestão 10 a 20 por cento acima. A vizi-nha Espanha e a Itália estão alinha-das com a média dos 27.

A Bulgária é o país mais pobre, se-guindo-se países como a Grécia, Por-tugal e Eslováquia estão 20 a 30 porcento abaixo da média, ao passo queMalta, Eslovénia e Republica Checaestão 15 a 20 por cento abaixo, mos-trando que, segundo José Reis, “sãopaíses que, na última década, regista-ram um desenvolvimento significa-tivo, enquanto Portugal esteverelativamente estagnado”.

A descida verificada no ano pas-sado encontra-se também abaixo da-quilo que se verificava no momentode entrada de Portugal no euro. Ape-sar de não haver previsões disponí-veis, este é um caso em que atendência será a inevitável descida,tendo em perspetiva o consumo noatual momento de austeridade.

António Cardoso

A Base depois das Lajes: trabalhadores querem soluções

A 19 de novembro, a administração dos EUAinformou o Governo português que iria reduziro seu contingente nos Açores, de 640 para 160efetivos

A notícia foi recebida com grandeapreensão entre os trabalhadorescivis portugueses na infraestrutura,onde se prevê que o impacto econó-mico da redução da presença norte-americana provoque um corte de seispor cento no Produto Interno Brutoda Ilha Terceira.

O professor da Universidade dosAçores e especialista em Relações In-ternacionais, Luís Andrade, começapor alertar que os efeitos desta redu-ção “serão terríveis”. O docente ex-plana que a base é o segundo maiorempregador na ilha, a seguir ao Go-verno Regional, e que o consequentedespedimento de três centenas detrabalhadores civis portugueses será“muitíssimo complicado numa ilhadaquela dimensão”. Também o pre-sidente da Comissão de Trabalhado-res da Base das Lajes, João Ormonde,refere que numa situação em que odesemprego local atinge os 16 porcento, a diminuição dos efetivos mili-tares norte-americanos irá ter impli-cações “dramáticas a nível económicoe social”.

João Ormonde argumenta que aComissão pediu que “os despedi-mentos fossem feitos junto das pes-soas mais velhas” - que seapresentassem “mais disponíveis” ede acordo com as indeminizaçõesprevistas pela lei. O também traba-lhador refere que a injeção de capitalestrangeiro na Terceira correspondea cerca de 60 a 70 milhões de eurosanuais, por via dos “salários diretos,do setor de arrendamento de casas oudos serviços conexos a empresas”.

“Portugal não deve aceitar passivamente uma decisão dos EUA”A Base Aérea Nº4 (BA4) teve umaimportância crucial para a aviaçãomilitar norte-americana desde mea-dos do século XX. As forças militaresnorte-americanas ocuparam a infra-estrutura em 1946, aquando da saídadas tropas inglesas, que lá tinha esta-belecido uma base área em 1943. Aimportância das Lajes, como centrode apoio no combate aos submarinosalemães, passou a ser um ponto deapoio fundamental às forças aéreasnorte-americanas no auge da guerrafria.

Durante décadas, milhares demeios aéreos da Organização do Tra-

tado do Atlântico Norte (OTAN), acaminho de outras bases, utilizaramos Açores como ponto de escala. Con-tudo, a evolução da engenharia aero-náutica e a capacidade crescente dosmeios aéreos em realizar grandes via-gens, aliado ao fim da Guerra Fria, noinício dos anos 90, contribuiu para adiminuição da importância geoestra-tégica da BA4.

Esta redução pode vir a pôr emcausa as relações bilaterais entre osEstados Unidos da América (EUA) ePortugal, ainda que as opiniões divir-jam. O investigador da UniversidadeLusófona, José Filipe Pinto, entendeque estas alterações poderão afetar arelação bilateral e “Portugal não deveaceitar passivamente uma decisãodos EUA”. Já Luís Andrade defendeque “as relações [entre os dois países]são muito fortes e que o governo por-tuguês deve fazer sentir ao governoamericano as implicações na IlhaTerceira”. No que concerne às ques-tões laborais na BA4, João Ormondeargumenta que o Estado Portuguêsdeve ter uma atitude menos “descul-pabilizante” das razões dos EUA. Omesmo defende ainda que Portugal“tem obrigação de ser mais interven-tivo” e que a administração portu-guesa deve ser “mais agressiva e auma só voz”.

Chineses poderão estar interessadosA possibilidade dos EUA abandona-rem definitivamente a Base das Lajesnão está, para já, a ser equacionada.Porém, há quem afirme que a Chinamanifesta interesse na BA4. Para oinvestigador da Universidade Lusó-fona, José Filipe Pinto, a passagemdo primeiro-ministro chinês pelosAçores denota algum interesse pelabase em si. O docente acrescentaainda que “a China aproximou-se daLusofonia uma vez que disponha deMacau” e que Portugal foi para aChina “a entrada na União Europeia”,ironiza.

José Filipe Pinto acredita na renta-bilidade do arquipélago, afirmandoque é uma “mais-valia” e que “a Basedas Lajes é apenas um dos elementosdos Açores”. Este investigador realçaque “uma vez mais o que está emcausa é uma estratégia norte-ameri-cana” e que num primeiro momentose desvaloriza o valor estratégico dasLajes para “diminuir a sua capaci-dade negocial”. No entanto, o profes-sor ressalva que a defesa dos EUA irádemonstrar preocupação, assim queos serviços mínimos não servirem osinteresses das forças militares deambos os países.

Por outro lado, Luís Andrade du-vida que “o governo chinês esteja in-teressado em ter uma presençamilitar na Base das Lajes”. O docenteconclui que essa hipótese é imprová-vel pela presença de Portugal naOTAN e por ser um “aliado bilateraldos EUA”.

foto gentilmente cedidA por António ArAújo

Daniela Proença

João Valadão

foto gentilmente cedidA por António ArAújo

joão vAlAdão

joão vAlAdão

A medida prevê a redução em 500 militares norte-americanos

“Nós passamos a

criar menos riqueza,

quando temos

capacidade para

criar mais”

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18 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 13

MUndOstamos aqui, todosjuntos, indepen-dentemente se deesquerda ou di-

reita. Não tem a ver com divisõespolíticas mas uma completa mu-dança de governo e das elites po-líticas. O nosso protesto é contratoda a política das classes domi-nantes”, dizia um membro da ma-nifestação do dia 30 denovembro, nas praças Kongresnie Republika, no centro da capitaleslovena, Liubliana. Milhares depessoas juntaram-se nos protes-tos anti governo, em véspera deeleições, para mostrar o seu des-contentamento face aos cortes ereformas do governo designadospara evitar o resgate internacio-nal. Manifestantes atiravam pe-tardos e pedras da calçada. Apolícia bloqueava a passagem emfrente ao Parlamento no sentidode evitar que se repetisse a vio-lência dos protestos em Maribor,onde cerca de dez mil pessoasprotestaram pela resignação doprefeito Franc Klanger, acusadode corrupção.

“O que os eslovenos querem éter mais oportunidades para par-ticiparem no processo de discus-são política e voto. Não apenas dequatro em quatro anos, mas per-manentemente”, afirma a profes-sora de Antropologia naUniversidade de Liubliana e colu-nista na revista ONA, Vesna Go-dina. Os protestos devem-se àambição por um sistema que nãodeixe apenas nas mãos dos parti-dos as decisões políticas, acres-centa ainda a docente.

Sucessão à direitaDe um ponto de vista sociológico,é na própria estrutura do estadodemocrático que encontra o pro-blema. A Eslovénia, nascida dorompimento de uma união comu-nista, alimenta a génese do socia-lismo: “os indecisos normalmentepreferem partidos de esquerdaque se enquadram na tradicionalcultura política eslovena e que, deum ponto de vista prático, pro-vam ao longo da história ser maissociais e economicamente funcio-nais”, explica a professora de Liu-bliana. Ainda assim, salienta queeste ‘standard’ moral não temsido respeitado e os eslovenos nãoveem com bons olhos nenhumdos partidos políticos.

“Não sei se algum destes parti-dos é orientado à esquerda emtermos de interesses”, comentaVesna Godina, referindo-se aosconstantes casos de corrupção ob-servados entre os membros do go-verno nacional e local. Para citarmais um deles: Zoran Janković,prefeito de Liubliana e ex-presi-dente da Mercator (a maior ca-deia de retalho do sudesteeuropeu), no mês de outubro de2010, referia numa entrevista aojornal diário ‘Večernji list’ que acorrupção não constitui um pro-blema sério na Eslovénia. Con-tudo, foi detido em setembrodeste ano, juntamente com osseus dois filhos, por suspeita departicipação num dos maiores

casos de corrupção no país.Sociais democratas (SD) e de-

mocratas (SDS) têm-se sucedidonos últimos dez anos no Governo.Janez Janša foi primeiro-ministroentre 2004 e 2008 e eleito pelasegunda vez em 2011. BorutPahor foi-o entre 2008 e 2011quando o seu partido ficou emprimeiro lugar na coligação. Aoter vencido as eleições para Presi-dente da Eslovénia, Pahor tornou-se no mais novo a exercer essecargo e o único a ter passado pelastrês posições presidenciais no sis-tema político esloveno: presi-dente da assembleia,primeiro-ministro e presidente darepública. Quando os resultadosforam anunciados afirmou: “esteé apenas o início de algo novo,uma nova esperança, um novo pe-ríodo”.

O exemplo europeuGasper Zavrsnik é um jovem jor-nalista. Explica que as pessoasnão querem aceitar que, enquantosão forçadas à austeridade, as eli-tes se apropriem de dinheiro pú-blico. "A Eslovénia, emcomparação com a Grécia, Portu-gal e Espanha não foi tão afetadapela recessão até meio do ano de2012", refere, explicando que apopulação está progressivamentea revoltar-se. "O Governo eslo-veno está a implementar ideolo-gia neoliberal, que nunca resultouna Eslovénia. As divisões entre es-querda e direita são muito polari-zadas na Eslovénia. O maiorproblema é a falta de consensoentre a oposição e a coligação”.Ainda assim, o jornalista acreditaque os protestos podem dar fru-tos apesar de ser uma "batalha delongo termo" que pressupõe re-sistência. Dá o exemplo dos pro-testos em Maribor, que atingiramo seu objetivo - o prefeito demi-tiu-se e os estudantes da Univer-sidade de Liubliana conseguiramque os cortes na educação fossemevitados.

A influência por parte de outrospaíses em recessão na Europa écrucial, sendo que a Eslovéniaapenas agora se está a juntar àonda de protestos. Para além dacrise económica ser de bemmenor gravidade: “nós, eslove-nos, podemos ver onde a austeri-dade neoliberal e as reformasdesreguladas estão a levar-nos.Vemos isso por vossa causa [Gré-cia, Portugal, Espanha] que põemem contexto todas essas mudan-ças devastadoras”, reflete GasperZavrsnik.

Vesna Godina acredita que “oseslovenos ficariam satisfeitos seos problemas fossem resolvidosao nível do sistema político local”,acabando assim com as manifes-tações que juntam essencialmentepessoas que querem ver estabili-zada a sua situação económica eacabar com a elite política. Pro-blemas concretos que parecem ig-norados pela política nacional.“Estas demonstrações mostramque este tipo de soluções capita-listas já não são adequadas”, ga-rante.

A União que nos separa

“E

A Eslovénia é o mais recente palco de protestos no panoramaeuropeu. Os manifestantes opõem-se ao poder político controlado pelas elites corruptas, que se personifica no governo conservador de Janez Janša. A adoção de reformasde austeridade que a União Europeia impõe assusta o paísque não esquece as lições do antigo bloco comunista. Por Ana Marques Francisco, em Liubliana, Eslovénia

foto gentilmente cedidA por ŁukAsz BArtkowiAk

Protestos na eslovénia

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artes14 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

isse Michael Haneke quefoi o contacto com o dramade um familiar próximo

que o levou a rodar “Amor” (Palma deOuro 2012), o que talvez venha pro-var que a perfeição se atinge mesmoquando a arte imita a vida. Perdão, amorte.

Anne (Emmanuelle Riva) e Geor-ges (Jean-Luis Trintignant) formamum casal idoso da classe média alta eerudita parisiense. Levam uma vidade qualidade, pacata e rotineira, re-partida entre ‘soirées’ de música clás-sica e visitas pendulares da filha, quevive em Inglaterra. Tudo mudaquando Anne sofre um AVC que adeixa incapacitada e roga ao maridoque não a deixe ir para hospitais oucasas de repouso. A doença agrava-sede dia para dia, reduzindo ao máximoas capacidades de Anne até chegar aum estado terminal cuja única espe-rança é a morte. Entre o casal estabe-lece-se uma fortaleza – amor, poisclaro – que os une e impede a entradaou até a compreensão de quem os ro-

deia.A comparação com filmes como

“Mar Adentro” ou “O Escafandro e aBorboleta”, ambos tratando dadoença e da degeneração física, é ine-vitável. No entanto, “Amor” supera-os, não pela comoção que se adivinha,mas sim pela crueza com que a mortese insinua e paira naquele aparta-mento de Paris. Começa pela lentidãosufocante, em que a mais simples ta-refa se arrasta na sua execução, comose o tempo também ele se tivesse sub-metido aos caprichos da morte. Ha-neke é mestre na utilização que fazinvariavelmente dos planos longos efixos, lembrando o espectador de queé apenas um visitante de Anne eGeorges e que terá de esperar otempo que for preciso, tal como eles.A banda sonora é parca e compostaexclusivamente pelos trechos de mú-sica clássica que o casal ensinou todaa sua vida.

A brutalidade da rotina de quemaguarda a morte não é sequer per-turbada pela habitual tomada de po-

sição política em relação à eutanásiaem que normalmente caem este tipode filmes. Anne tem vontade de mor-rer, isso é certo, mas não faz uso dodiscurso próprio do paladino dos di-reitos do enfermo que quer deixar desofrer e de ser um fardo para quemestá. Mais uma vez, não há mensa-gem ou moral nenhuma a passar parao espectador, limitando-se este a as-sistir.

Que a morte nos diz a todos muitoe muito mais do que aquilo que dese-jávamos é o maior dos lugares co-muns. Haneke resolveusimplesmente mostrá-lo, como Tols-toi, por exemplo, já o havia feito e oresultado é desagradavelmente pró-ximo de cada um de nós. E nessa ace-ção estamos mesmo perante um“monstro”, como a certa altura Annechama afetuosamente a Georges, porse mostrar mais do que é devido. Um“atrevimento” que deixará qualquerpúblico desconcertado, como seriadesejável que acontecesse sempre nassalas de cinema.

amor

Cin

em

a

a beleza de um monstrocrítica De joão ribeiro

De

Michael haneke

com

eMManuelle riva

Jean-louis trintignant

isabelle huPPert

2012

América produziuapenas três escri-tores clássicos -Mark Twain, J.D.

Salinger e eu. Sou o JonathanFlynn e tudo o que eu escrevo éum clássico". É assim que a per-sonagem de Robert de Niro se de-fine, apesar de o seu estilo devida, numa etapa inicial do filme,se assemelhar mais a um CharlesBukowski.

Parte daqui o mote para umapelícula que falha em escapar àclássica lógica de filme promotordo "sonho americano", realçandoos incontáveis ensejos que ape-nas a "land of the free and thehome of the brave" nos pode ofe-recer. Juntando isto à prévia in-formação do trailer – que noslembra que o filme é assinadopelo mesmo realizador de “About

a Boy”, Paul Weitz – e as expec-tativas não estão propriamentealtas.

Então vejamos: JonathanFlynn, escritor boémio e falhado,é o pai ausente de Nick Flynn, umaspirante a escritor. Depois damorte da mãe de Nick, e passadosvários anos sem qualquer con-tacto, progenitor e primogénitoreencontram-se numa instituiçãode acolhimento de sem-abrigoonde o segundo é empregado e oprimeiro busca refúgio. A tramadesenrola-se seguidamente numasequência de cenas nem semprelógica sem que alguns eventos seapresentem relevantes, com ele-mentos encaixados de forma for-çada e pouco natural.

Nick Flynn, o anti-herói, é in-terpretado por Paul Dano, cujaexpressividade e emotividade

fazem lembrar um Keanu Reevesnum dia menos bom. Salvam-sealguns rasgos de de Niro, que de-pois das últimas décadas do sé-culo XX parece ter perdidocompletamente a aptidão paraescolher papeis que acrescentemalgo positivo ao seu currículo.

Convém ainda lembrar quetodo o enredo é baseado no livroautobiográfico “Another BullshitNight in Suck City”, do escritorNick Flynn. Não fosse este dadoe a tradução do título original dofilme, “Beign Flynn”, perderiaqualquer sentido, o que, aindaassim, não seria inédito em Por-tugal. “Mais Uma Noite de MerdaNesta Cidade da Treta” teve umapassagem discreta pelas salas decinema e o mesmo destino pareceaguardá-lo no formato DVD.

“about a writer”

mais Uma Noite de merda Nesta cidade da treta”

camilo solDaDo

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“A

ve

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Artigo disponível na:

Filme

De

Paul Weitz

eDitora

Focus Features

2012

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Feitas4 de dezembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 15

ir Scratch já "cá" anda hámuitos anos. Apelidado de"puto Manucho" quando,

tanto ele, quanto o próprio rap por-tuguês partilhavam a mesma juven-tude, Scratch ganhou espaço epreponderância no movimento.

Sete anos depois, chega o tira-tei-mas pela mesma mão de quem"pariu" uma das maiores promes-sas do hip-hop nacional. Confirma-ção, superação ou desilusão?

"Eu conheci o Sir Scratch em casado Sam (the kid), ele tinha 12 anos,já fazia melhor rap do que niggascom 30, 35 e 40 anos..." - foi comestas palavras de Valete que SirScratch abriu o seu primeiro disco"Cinema: Entre o Coração e o Rea-lismo". Decorria o ano de 2005 eScratch acabara de se tornar um Sir,pela mão da Footmovin' com ape-nas 18 tenros anos. Para trás, umprojecto já extinto (Plunasmo) como seu irmão e uma guerra de pala-vras(beef) famosíssima, com Lance-lot e Caligula.

“Em Nosso Nome” tem o cunho de 30 artistas, sem contar com opróprio Sir Scratch. Desengane-se quem pensar que vai pôr os ouvi-dos em 30 rappers nacionais. Há de tudo, desde pesos-pesados dorap como Sam The Kid, Bob Da Rage Sense, DJ Madkutz, passandopelas vozes de Dino, New Max, Kalaf e Tamin, ou até alguns nomesmais duvidosos como Tim (Xutos&Pontapés), Diogo Dias (Klepht) eNu Soul Family.

A produção é o prato forte do disco e ficou a cargo de artistas tãoimportantes como Sam The Kid, o norte-americano Nottz ou mesmoa inseparável dupla João Gomes e Francisco Rebelo (Cool Hip-noise/Orelha Negra).

Na mensagem reside o ponto fraco do disco. Esperava-se uma evo-lução mais vincada de Scratch, tanto no ‘flow’, quanto na variedadede temas. Se os títulos indiciam uma orientação temática muito bemintencionada, após audição, vão-se notando os erros de sempre: usoabusivo de aliterações, antíteses e trocadilhos, bem como o excessoexaltação de si próprio contra “inimigos imaginários”, que vão trans-formando o seu discurso em algo pouco conclusivo.

“Em Nosso Nome” tem tudo para agradar à crítica generalista (ins-trumentais) mas, para os fãs do rap “tuga”, será o filme de 2005 amelhor recordação de Sir Scratch.

OUvir

De

sir scratch

eDitora

FootMovin'

2012

em nosso nome”

carlos braZ

Artigos disponíveis na:

GUerra DaS CaBraS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

tira teimas S uando Almeida Faria, prove-niente de Montemor-o-Novo,estuda no Liceu de Évora, aos16 anos, há um professor que

lhe desperta interesse: pela figura sériae pela literatura. Confessa que, até essemomento, era reduzido o seu interesseliterário. Em 1962, aos 19 anos, publica“Rumor Branco”, a sua primeira obra,prefaciada por aquele professor, Vergí-lio Ferreira. Com os 50 anos da obra, élançada a edição revista.

Uma primeira nota: o leitor deve ten-tar (não é prometido que consiga)tomar consciência de que esta é umaobra escrita por um rapaz de 19 anos,ou um homem de 19 anos, que vem,quase alheado disso, provocar discus-são pública acesa no panorama literá-rio português, entre o “mentor” eexistencialista Vergílio Ferreira e o crí-tico Alexandre Pinheiro Torres. Dissi-dências que hoje, com a devidadistância, se entendem políticas e pro-vocadas também pela deserção de Ver-gílio Ferreira do neo-realismo para oexistencialismo, deixando ao fundo osproblemas daquele Portugal. A questãomantém-se: o que é “Rumor Branco”?

A expressão provém do músicoStockhausen, e é como que uma pro-posta de “intertextualidade”, se puderser assim chamada: as marcas de nou-

veau roman de Rumor Branco (que sãoessencialmente formais, mas tambémestão patentes na viagem por uma es-crita de fluxos de consciência) asseme-

lham-se estranhamente análogas àsharmonias electrónicas contemporâ-neas do músico alemão. Como prefa-ciou Vergílio Ferreira, “diria eu que ésobretudo uma voz; e que mais do queuma voz ele é claramente o seu tom” –uma voz que é polifónica, estridente, so-litária, mas sempre, de alguma forma,ontológica.

É difícil especificar o objecto peranteo qual se está. “Para nos fazermosfomos feitos e os homens não nascemmas se fazem”, é uma das evocaçõesexistencialistas da obra – que são, noentanto, alternadas por críticas ao espí-rito burguês, ao provincianismo dasdiscussões e ao estado quase anima-lesco dos homens. Aos sete fragmentos(que correspondem a capítulos) quecompõem “Rumor Branco”, liga-os onome Daniel João. Será ele sempre omesmo? O que liga vivências citadinas,boémias, rurais e de reclusão?

“Rumor Branco” é o grito que Be-nigno Almeida Faria não pôde dar najuventude, depois de estar em Paris eem Cambridge e de se ter apercebido doatraso e da repressão que mergulhavamPortugal em agonia. É um grito contra aopressão cultural, no mesmo ano emque os estudantes abalavam o regimesalazarista. É a forma do seu grito. Per-gunto: quem grita assim aos 19 anos?Lamento apenas que me tenha chegadocom o ruído do Novo Acordo Ortográ-fico.

012 é ano para esquecer noque concerne à grande produ-ção industrial – não há um

jogo que se aproveite para a posteri-dade. No meio da patetice de “BlackOps 2” ou “Assassin’s Creed III”,surge “Dishonored”, uma não-se-quela (!) que embora desprovida depretensões artísticas, ao menos de-monstra alguma réstia de carácter.Harvey Smith (Dir. Criativo) per-tence a uma longa linha de designersnorte-americanos que chegou à ma-turidade com “System Shock”, e quedesde então procura aprofundar oentretenimento ‘sand-box’ para adul-tos. “Dishonored” segue esse ideáriopró-jogador com fervor, colocando-nos no papel de Corvo, um assassinoque é uma réplica do Garret de“Thief”, apenas conferido com os po-deres sobrenaturais do ADAM de“Bioshock”. Encarregue de salvar ummundo de FC vitoriana, Corvo temde executar diversos alvos políticosem complexos ambientes não-linea-res, plenos em armadilhas e adversá-rios que conferem amplasoportunidades para experimentar asmais rocambolescas ferramentas deassassinato em minuciosas estraté-gias de eliminação silenciosa. “Dis-honored” estimula eficazmenteaquela parte do nosso cérebro que

tira prazer do delinear de planos,dando-nos a efémera ilusão de ser-mos pequenos deuses a brincar comos destinos de míseros mortais. Oproblema aqui, como em todos osjogos que evoca, é que essa agenda étão absorvente que expurga a expe-riência de todas as cambiantes sen-soriais, emocionais e intelectuais quelhe podiam dar um sentido ulterior;tudo é dominado pelo desafio lúdico,deixando nenhum espaço para ex-pressão digna desse nome. Até seriainteressante explorar o mundo fic-cional de “Dishonored”, que nãosendo tão temática e esteticamenterico como os de “Bioshock” ou“Human Revolution”, nem tão elu-sivo e ambíguo como o de “Half-Life2”, poderia ser o pano de fundo idealpara uma aventura digna da litera-tura que cita. Infelizmente, ficamo-nos sempre pela auto-indulgênciabem executada, mas vácua, artificiale sem gosto (passa por aqui uma “fe-tichização” cartoonesca pela violên-cia que não conseguimossubscrever). Não é nada de bom, masainda assim este é o melhor AAAnorte-americano do ano… Assimestão os videojogos.

De

alMeida Faria

eDitora

assírio e alviM

2012 (edição revista)

Qrumor branco”

rUi craveiriNha

iNês amaDo Da silva

Dishonored - Ps3”

JOGar

o ladrão honrado

ler

um grito invulgar

Plataforma DisPoNíveis

Ps3, XboX 360, Pc

eDitora

bethesda

2012

2

Page 16: Edição nº 255

Líderes e profissionaisqualificados, investigação,inovação e especialização,

políticas modelares em mobilidadesocial e em igualdade de oportunida-des para mulheres e minorias sociaisconcorrem indissociáveis da forma-ção superior. Caldo primordial para ofortalecimento económico, o em-preendedorismo vem agora desafiarpara objetivos mais amplos que aeducação geral pós-secundária, a in-vestigação e a prestação de serviços àregião e à comunidade. Neste séculoXXI, ninguém questionará, portanto,que as universidades sejam institui-ções sociais que incluam, na sua mis-são essencial e na sua esfera decompetências e possibilidades, osproblemas coletivos e a construção desociedades desenvolvidas, justas eigualitárias. Porém, a responsabili-dade das universidades deverá irmais além do que a capacitação pro-fissional e a instrumentação econó-mica, pois a educação é um bempúblico na medida em que forma ci-dadãos com conhecimentos e valoresimportantes para a construção de so-ciedades justas e desenvolvidas a par-tir da integração dos aspetoseconómicos, culturais, estéticos, téc-nicos, éticos e políticos - todo um pa-trimónio comum, imprescindívelpara o desenvolvimento humano epara qualquer projeto de humaniza-ção.

Embora influindo nas estruturasda vida social, sobre valores e instru-mentos de desenvolvimento, as insti-tuições de ensino superior (IES) têmperdido a imunidade aos sistemas so-cioeconómico e histórico-cultural.Não é novidade o forte condiciona-

mento pelas doutrinas e práticas demercado, que fazem parte da luta po-lítica, económica e ideológica. Vive-mos num tempo em que a ética está aser subsumida pela economia de mer-cado. E a proeminência do mercado,enquanto razão central da sociedade,arrasta as universidades para duassubversões: uma condicionada supe-riormente – tutela -, e outra, na suaprópria esfera de atuação, local e re-gionalmente: 1. As IES sentem-se ob-rigadas aos objetivos de adaptação ecapacitação de profissionais para otrabalho e para a competitividade dasempresas, esquecendo a visão maisalargada, humanista e universal, dauniversidade. O mais grave é que estaformação para o eixo central da eco-nomia de mercado (competitividade,produtividade) não é neutra. Tende adesintegrar e a delapidar vínculos so-ciais sem a consequente produção demecanismos de solidariedade e coo-peração ativa;2. A tutela aceita verdesvalorizado o papel determinanteque as IES possuem no mapa de or-denamento territorial, funcionandocomo agentes catalisadores e ativosde um bem de inexcedível valor axio-lógico, porque sem preço, e que se de-signa por coesão social e territorial,fixação de pessoas, conhecimentos eprodutos em áreas cuja desertificaçãoe desanexação seria evidente e desas-trosa a prazo para o país. A universi-dade tem responsabilidades e nãodeve perder a sua capacidade de re-fletir sobre as questões determinan-tes da sociedade, de criarconhecimentos e técnicas e de esti-mular ações que produzam, de modosustentável, mais desenvolvimentohumano com mais coesão e justiça

social. Falhar este objetivo é favore-cer o individualismo e os mecanismosde exclusão. O Estado, a tutela, e osorganismos reguladores desta impor-tante função social que é a educaçãosuperior, devem continuar a pugnarpela solidificação dos polos de desen-volvimento regionais, reestruturadossem dúvida, mas assentes numa ló-gica distributiva onde o reordena-mento não poderá deixar de ter emconsideração a equidade na distribui-ção dos bens materiais e culturais.Impõe-se, assim: analisar a concor-rência das ofertas educativas e a ne-cessidade e possibilidades decrescimento; e analisar o rateio dasvagas entre as diferentes ofertas edu-cativas acreditadas pelas agências na-cionais, nas diferentes IES,permitindo ou não a liberalização dosnumeri clausi, articulando-os commecanismos de titulação múltipla.

A equidade que subjaz à plenitudedemocrática em termos económicos,políticos e sociais será assim partícipenuma democracia cognitiva, essencialna construçãode sociedadesinclusivas.

soltas16 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

uma ideia para o ensino superior

carlos sequeira • reitor da universidade de trás-os-montes e alto douro (utad)HaBitar

como poética

Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Uma sala de expo-sição, um atelier e dois quartos sobrepostos – chamado de “abrigo”. Énestes espaços, dentro do contexto do seu doutoramento em Arte Con-temporânea, que Claudia Renault, artista plástica brasileira, natural deMinas Gerais, nos conta histórias de Coimbra.

Escritas com material quotidiano – botões estampados, pedaços decadeiras, fragmentos de árvores – iluminam nossos olhos com seustextos inéditos. Coladas nas paredes e vitrais dispostos no atelier,nossa leitura é diferenciada porque o meio de publicação não é a la-trina ou o saco de lixo. Ao observar algo tão banal e rotineiro, dispen-sável a ponto de ser jogado fora, indagamo-nos da coisa seu histórico,percurso e dono. Somos incentivados a esmiuçar o olhar, forçarmo-nos na busca de um sentido que julgamos oculto. Mas ele inscreve-sede modo claro em cada material recolhido.

Podemos ler, expostas, as fotos da autora na sua busca-achamento.Um objeto encontrado e colado na parede da rua e lá está a possibili-dade de mudança de olhar. A caçadora de sentidos segue em segundoplano auxiliando nossa própria descoberta. E ela acontece sorrateira-mente, enquanto uma imagem é recolocada ao alcance dos olhos-ob-jetivos ou no trazer para o foco das atenções algo quase imperceptível.

A novidade no usual é algo a ser valorizado num contexto de con-versas-repetidas e do re-revisitar do já sabido da nossa sociedade.Claudia nos ensina que do pretensamente lido pode-se extrair a po-lissemia. A possibilidade de nos reinventar a nós mesmos surge dessarevisitação de coisas e lugares e do pensar criativo sobre si mesmo enossas próprias condições.

Por Carlos Nicola

ConheCimento e universalismo na origem de Coesão e de equidade

critic’arte

carlos nicola

Breves Portugal Segundo o relatório“Education at a Glance 2012”, osprofessores portugueses são dosque dão mais horas de aulas emtoda a Europa, e até no espaçomais alargado da OCDE. Para já,a educação terá de assegurar umacontribuição significativa no quetoca à despesa do Estado, dadoque o Governo irá efetuar umcorte de quatro mil milhões deeuros nessa área. Ainda sobre oestudo, e comparativamente àrestante zona europeia, há maistempo para preparar as aulas eapoiar os alunos. Expresso

Brasil A presidente do Brasil,Dilma Rousseff, tem neste mo-

mento um documento que visaadiar a plena aplicação do AcordoOrtográfico (AO), que apenasaguarda aprovação presidencial.Inicialmente, no Brasil, a datapara a plena aplicação do acordoera 1 de janeiro de 2013. A datafalada atualmente é 1 de janeirode 2016, a mesma para a entradaem vigor total do AO decidida emPortugal e dos Jogos Olímpicosno Brasil. Público

Médio Oriente Os Estados Uni-dos da América (EUA) assumemo comando de várias baterias demísseis Patriot apontadas à Síriaa partir da Turquia, numa opera-ção da NATO que envolve mais demil soldados dos EUA, Alemanhae a Holanda. O Irão acusa os paí-ses ocidentais de estarem a pre-parar uma nova guerra mundial.Esquerda.net

Coimbra Uma equipa do Insti-tuto Superior de Engenharia deCoimbra (ISEC) cria prótese eapoio lateral para o atleta TelmoPinão, amputado da perna es-

querda. O atleta, que antes prati-cava karaté, acabou por envere-dar pelo ciclismo, em 2008.Agora, surgiu a hipótese de ad-quirir uma prótese na perna, es-tando, assim, a colaborar numprojeto de alunos da licenciaturade Engenharia Mecânica do ISEC.O objetivo, segundo o docenteLuís Roseiro, passava por proje-tar e construir uma prótese paraciclismo adaptado, que fosse des-tinada a Telmo. Diário As Bei-

ras

Privatização da RTP Para o Se-cretário-geral do Partido Socia-lista (PS), António José Seguro,tanto a venda como a compra deórgãos de comunicação “deve serlivre”. No caso da estação públicade rádio, o PS recusa a sua alie-

nação, sem abdicar de “defendera transparência” deste e de outrosprocessos de privatização. Seguroafirma ainda que “ democraciaexige que todos nós saibamosquem detém o poder e quemdetém a influência”. O Governo“quer fazer uma privatização àpressa da RTP, mas nós estamoscontra”, disse, frisando que o PS“defende princípios e defendetransparência”. Lusa

Coimbra João Mendes Ribeiro éum dos cinco arquitetos portu-gueses de renome que participam

na mostra “Arquitetura Imaginá-ria”, patente desde o dia 1 noMuseu Nacional de Arte Antiga,em Lisboa. O arquiteto de Coim-bra vai estar ao lado de nomescomo Álvaro Siza, Eduardo Soutode Moura, Carrilho da Graça,entre outros. Na mostra, vai estarpatente o espaço do Jardim Botâ-nico, como objeto de “arte” privi-legiado pelo arquiteto deCoimbra. Diário de Coimbra

EUA Depois do massacre na es-cola de Sandy Hook, em Newton,o presidente dos EUA, BarackObama, afirmou que o país já pas-sou por “demasiadas tragédias”.Perante esta situação, o presi-dente democrata prometeu tomarmedidas significativas no que tocaao uso de armas. Durante o fim-de-semana, a polícia apurou queo atirador, Adam Lanza, 20 anos,tinha três armas consigo, umadelas uma espingarda militar. Ojovem terá tido acesso às armasem casa, já que a sua mãe as cole-cionava. Jornal i

Por Ana Duarte

Page 17: Edição nº 255

le tem um carro amolgado,um telemóvel avariado, unsóculos sem a haste direita,

uma cicatriz na mão esquerda, as cal-ças rotas e o coração partido (tão pe-rigosos os clichés, tão absurdos eirresistíveis). Ela tem as pernas per-feitas – tão preguiçosos os adjectivos,tão idem aspas, uma gargalhada parasalvar o mundo e uns olhos ondeapetece ficar a viver. Eles não se co-nhecem bem.

Encontram conforto no acaso, es-tabilidade no ódio às novas tecnolo-gias, tranquilidade no silêncio quenão atemoriza, solidariedade na crisee defesas contra a timidez nos sms.Sim, o século XXI reduziu a antigacorrespondência romântica que le-vava esforço e tempo a bilhetes da es-cola primária, meia dúzia de frasesdialogadas à distância mas com a ve-locidade da luz. Tão longe e a ilusãodo tão perto.

Trazem para a mesa feridas aber-tas, desejos interrompidos e sonhosirrealizáveis. Por ironia, só falamatravés de substantivos, sobretudoquando se fazem rir. Dançam o lutotenso de pessoas vivas. Supõem omar em copos meios cheios devodka, meio vazios de poesia. Discu-tem o encantamento como conferen-cistas numa palestra, esse estadointermédio – bem mais do que indi-ferença, algo menos que paixão ou(claro) amor. Não conhecem os ami-gos do outro, a família, o local de tra-balho, as datas importantes, osdramas obliterados, a música foleiracantarolada às escondidas, as imper-feições nuas. É tão bom não se co-nhecerem bem. Nada bem. Nada.

O amor são os domingos à tarde,as horas perdidas com prazeres indi-viduais usufruídos em conjunto: um

livro para ela, uma jogatana de plays-tation para ele. Uma aguarela para asenhora, um vynil de jazz para o ca-valheiro. A imprensa toda para adama, só os desportivos e meio maçode cigarros para o doutor. Elessabem disso, apreciam o aforismocoloquial, partilham-no até, mas nãofoi com o outro que o viveram, sou-beram, enfim aprenderam. Há en-tretanto fantasmas alegres arodopiar à volta da sua mesa e ora-ções ateias no eco dos indizíveis. Sãocalmos.

Toda a gente quer ser feliz e nin-guém deseja ser calmo. Como eles.Não é por mal dos outros, só não selembram. É a responsabilidade soli-dária da descontracção. A vidinhadistrai-nos, essa sonsa. A rotina toma

conta de nós e dos nossos. Deles não.Encontraram-se agora na mesma en-cruzilhada mas estão serenos. Tra-zem dois mundos às costas enenhum viajou ainda ao planeta dointerlocutor.

Separam-se até já. Relaxam nabravura envergonhada das mensa-gens escritas, revelando sóbrios umpouco mais do que o supostamentepermitido pelo álcool. Idade da ino-cência, inveja doce dos amigos esva-ziados pelo quotidiano, aquele temposem hábitos, defeitos ou contradi-ções. Ficam a marinar – a fazer deconta que atrás de tempo, tempo nãovem – no repouso das palavras escri-tas. Pretendem não ter apagadoantes dezenas, centenas de bilhetesvirtuais semelhantes; fingem ser in-

génuos, vestem o melhor sorrisocomo acessório da melhor roupa, ecomeçam tudo de novo.

Ele leva o encanto tão a sério queaté faz questão de se vestir bem en-quanto envia mensagens. Ela confiatanto na sedução franca que lê emvoz alta tudo o que escreve e recebe.O som ecoa nas paredes nocturnas deambos e assusta o receio. Talvez sejapossível mais uma maratona. Pura.Talvez possam corrê-la nas horasvagas da vida, dois semi-desconheci-dos que apalpam terreno na escuri-dão. Lado a lado, mesmo cegos, acoisa faz-se. Não sabem mais nada,por agora. Mas ao menos agora nãoconhecem obstáculos, ruínas, horá-rios nem pecados. Se derem as mãosaté cortam a meta.

soltas18 de dezembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 17

semideuses em part-timepor luís Filipe Borges micro-conto

omo o leitor decerto sabe,internet e humor andam demãos dadas. Ele são os

sempre profundos memes, oumimes, ou mimisse ou que raio é.São as horas de intensa diversãono Facebook, em português, Feice-buque, ainda Faizebúk para quemquiser atirar pró fino. De igualforma, circulam eternamente ar-caicos e-mails com anedotas compiada apenas para quem envia,descontando os exageros da con-tradição. Confesso que acho sin-gela graça a cartas correntes - “sedepois de leres este texto não fize-res o pino vais falecer por inter-venção de S. Sidónio” – não hánada que roce tão bem o pináculoda comicidade.

Precisamente, o que tem maispiada na internet, como na vida deresto, é o que não é suposto tê-la,ou melhor, o que não é feito comintenção de entreter mas, por umaqualquer característica que possua,tem graça redobrada. Terrenos fér-teis nesta dinâmica são os panta-

nosos comentários no Youtube.Passo a relatar um cabal exemplo:

Um vídeo tem o título “Xutos ePontapés – O Homem do Leme”mas, desafiando as leis da multi-medialidade, não tem vídeo, ape-nas música [o uploader – SirSardine de seu nome – justifica:“É só a música não tem imagens..Pode ser útil a muitos, inclusiveeu…;-)]. Tal como este vídeo nãotem vídeo, o segundo comentáriomais votado também não é um co-mentário porque assim se lê:“acho q nem vale a pena comentarpois todos sabem o que os xutossignificam”.

Reparemos no paradoxo exis-tencial introduzido pelo utilizadorCatotaak (2009): será a ausênciade comentário um comentário? Oque significa comentar? O que sig-nifica a vida? E a morte? Não sa-bemos. Neste momento, a únicacoisa que sabemos, diz-nos Cato-taak, é o que os xutos significam.E já não é pouco.

Tudo isto para dizer que a ver-

dade é a melhor comediante, quan-tos e-mails já não recebemos, vin-dos de gente bem-intencionada,que nos deixaram dobrados sobreo abdómen. Infelizmente, há muitoque não recebia essa benesse, an-dava até algo soturno, arrastava-me pelos cantos como um cão sujo

de enfado à espera do banho de es-puma humorística que tardava.

Mas tudo mudou, na semanapassada, quando o Reitor me cha-mou para ir à missa.

Dizia-me um e-mail do proto-colo que o Reitor tinha a honra deconvidar minha excelência para a

Missa de Nossa Senhora da Con-ceição, Padroeira da Universidade.Ainda que sinceramente agrade-cido pela consideração, não só aca-bei por não ir como acabei por rir,decerto assinando a dupla conde-nação ao fogo dos infernos. Emminha defesa, missa não é coisapara a qual se faça um convite.Qual foi a última vez que ouvimosas palavras: oublá queres ir ali àmissinha comigo?

Por outro lado, missa e internetnão combinam, é uma questão detempo, dirão alguns, o Sumo Pon-tífice já twitta, se calhar daqui auns anos já fazemos o upload dasrezas, o download do corpo decristo, sacamos uma aplicação paraescolher a cor da batina do senhorabade. Todos esperamos ansiosa-mente esse dia. Para já, convenha-mos, um convite por e-mail para irà missa ainda é do mais hilarianteque a internet tem para oferecer.

entre a arreGaça e o calHaBépor Bacharel Jorge Gabriel

Cd.r.

as santas devem estar loucas

luís Filipe borges nasceu em 1977,na ilha terceira, açores. o seu amor àilha era grande, no entanto, a vontadede expandir os seus horizontes faloumais alto. Foi assim que mergulhou naazáfama da capital e ingressar na Fa-culdade de direito de lisboa. dostempos de faculdade traz consigo asua alcunha - o boinas. sempre acom-panhado por uma, dizia que a usavapara marcar a diferença...até hoje.

não gosta de pastéis de nata masadora humor. desta forma deu vida ao‘talk-show’ "revolta dos Pasteis denata" (rtP) e aproveitou para con-quistar as gargalhadas dos portugue-ses. escreveu livros como "souportuguês, e agora" e "a vida é só fu-maça". Foi co-apresentador dos pro-gramas de rádio "5 para a uma " e "5para o meio-dia " e atualmente é apre-sentador, às segundas feiras , do pro-grama "5 para a meia noite" (rtP).

com 35 anos já experimentou rádio,televisão, cinema e teatro. conheceu osucesso, mas sem nunca esquecer deonde veio, afirma de peito cheio: " po-demos sair das ilhas, mas elas nuncasaem de dentro de nós" . assim é "oboinas".

Inês Martins

luís FIlIPe borges35 anos

EIlustração Por João Pedro Fonseca

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opInIão18 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

As pessoas mais jovens têmvindo a enfrentar dificuldadescada vez maiores para reentrar nomercado de trabalho. Esta ten-dência, registada desde há váriosanos, acentuou-se significativa-mente com a presente crise. Ográfico apresentado mostra bemque as pessoas na faixa etária dos15 aos 24 anos sempre tiveram emPortugal muito mais dificuldadepara encontrar um emprego, bemexpressa no facto de a sua taxa dedesemprego corresponder a maisdo dobro da observada para oconjunto da população.

Neste gráfico, podemos aindaobservar o modo como o desem-prego tem vindo a afetar as mu-lheres e os homens, quer emgeral, quer no grupo etário maisjovem. Nele está bem claro o in-cremento mais acentuado do de-semprego entre os homens que,sendo em geral mais baixo do queo das mulheres, acabou por ultra-passar este em meados do cor-rente ano. Gostaria de sublinharque isto mostra bem o quão erró-nea é uma ideia muito dissemi-nada de que “em situações decrise, as mulheres são as primei-ras a ser despedidas”. Esta “tese”toma o emprego masculino e o fe-minino como equivalentes, igno-

rando o fenómeno da segregaçãodo mercado de trabalho, em fun-ção do sexo. Os homens estão aperder postos de trabalho maisrapidamente do que as mulheresporque eles constituem a mão-de-obra maioritária nos sectores quemais têm sido afetados pela perdade emprego – a construção civil ea indústria (nomeadamente a doramo automóvel).

Estes indicadores também su-gerem a conclusão de que as pes-soas mais jovens constituem ogrupo etário mais vulnerável eque mais oportunidades de em-prego tem perdido desde o inícioda crise (2009). Neste caso, o in-cremento observado nas taxas dedesemprego juvenil tem sido pa-ralelo em ambos os sexos, man-tendo-se a taxa de desempregodas jovens superior à dos seuspares do sexo oposto (38 porcento versus 36 por cento).

À questão de saber o que levaos/as jovens qualificados/as aemigrar parece, pois, fácil res-ponder. Apesar de um diploma doensino superior reduzir as proba-bilidades de ficar sem emprego(reduzindo bastante as taxas dedesemprego dos seus titulares),acontece frequentemente que aposição que se alcança é caracte-

rizada pela instabilidade e/oupela fraca relação entre a forma-ção académica obtida e os con-teúdos funcionais do posto detrabalho ocupado. Esta descoinci-dência entre formação e trabalhopode ter uma orientação vertical,resultando do facto de os postosde trabalho ocupados não exigi-rem qualificações de nível supe-rior (o que afeta cerca de 18 porcento de jovens no seu primeiroemprego, na União Europeia[UE]), ou horizontal, quando oemprego exige qualificações denível superior mas em áreas dife-rentes das da formação inicial (15por cento na UE). Em especial oprimeiro dá origem ao fenómenoda sobrequalificação académica.

No nosso país, parece que nemo/s governo/s nem os privadosdão muita importância aos níveisde formação académica, donde,as baixas qualificações tambémproduzirem fracos efeitos de ex-clusão do mercado de trabalho(Portugal tem uma das mais ele-vadas taxas de emprego no grupode pessoas com qualificaçõesmuito baixas). Outra caracterís-tica do nosso mercado de traba-lho é oferecer poucasoportunidades de progresso nacarreira, especialmente nas suas

fases iniciais. Por fim, o elevadoretorno, que o mercado de traba-lho costumava atribuir aos diplo-mas de educação de nívelsuperior, está em queda desde osanos 90.

Não admira, pois, que a frustra-ção sentida em face destes reve-ses na transição para a vida ativa– o desemprego ou um empregoprecário, desqualificado e mal re-munerado – leve as/os jovens adeslocar as suas esperanças paraoutros mercados de trabalho,onde o retorno dos diplomas émenor, mas o desencontro verti-cal entre formação e emprego po-derá ser menor, pelo menos numasegunda fase de integração nopaís de acolhimento. O impactodeste “brain drain” será terrívelpara o país, desprovido de quempossuirá, em princípio, as quali-dades necessárias à sustentabili-dade e à inovação.

*Docente da Faculdade de Econo-mia da Universidade de Coimbrae Investigadora do Centro de Es-tudos Sociais

esta “tese” toma o emprego masculino e o feminino como equivalentes, ignorando o fenómeno da segregação do mercado de trabalho,em função do sexo

Fonte: Ine, estatístIcas do emprego (várIos anos)

O desperdíciO geraciOnal

Virgínia Ferreira*

A Cabra errou: Por lapso, naedição nº 245 do Jornal Universi-tário de Coimbra A CABRA houveum erro na paginação do espaço"Cultura por cá", tendo sido pu-blicada o da edição nº253.

Na mesma edição, no artigo"Estará o movimento a começar afervilhar?", onde se lê "no últimoevento organizado pela ZCH" de-veria ler-se "no último evento or-ganizado pela Toxic Pit (RuiAlexandre, dos Terror Empire, eMarco Fresco, dos Tales From TheUnspoken) e apoiado pela ZCH".

Ainda nessa edição, no artigo“Espaço: O desconhecido aos nos-sos olhos”, o último parágrafo foicorrigido no site acabra.net, vistoque continha alguns dados incer-tos relativos à presença do homemna Lua.

Page 19: Edição nº 255

opInIão18 de dezembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 19

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editOrial

pOr cá nada de nOVO

É um assunto que já não é novidade. Mas é preciso ser levantado, dequando a quando, para voltar a trazer a discussão à mesa. O futuroé cada vez mais incerto. Se para aqueles que, por motivos económi-

cos ou culturais, não conseguiram prosseguir estudos no Ensino Superior(ES) e, ainda assim, hoje têm emprego, uma casa e dinheiro para(sobre)viver. Para os outros que apostaram na sua formação académicadurante anos, gastaram o seu tempo com investigações que, muitas dasvezes, não são reconhecidas devidamente pelo estabelecimento de ES quefrequentaram, a situação é insustentável.

É difícil conceber um país, dito pleno em democracia, que não invistanas gerações mais novas – que, no fundo, serão os próximos governantes,professores, funcionários, investigadores, etc.. É ainda mais difícil ver isso,dado que se tornará num ciclo vicioso: se, atualmente, não há capital parainvestir e, aparentemente, vontade, amanhã será pior. E se existe um Go-verno que não está disposto a sacrificar despesas próprias para canalizarverbas para a educação/investigação, levanta-se a questão: que futuro?Para nós, para a educação, para o estado do país, para a democracia.

A “fuga de cérebros” – consequência direta do desinvestimento e doabandono dos jovens recém-formados pelo Estado – aumenta a veloci-dade galopante. É preciso alterar mentalidades, ver a longo prazo. Quandoos nossos governantes, porventura, discursarem nesse grande país que éo “Lá fora” sobre as suas gerações mais novas – chamadas de “mais qua-lificadas de sempre” – só há uma resposta, à ‘bom português’: “não foi coma vossa ajuda”.

Depois de um mês que se revelava prometedor para a contestaçãoestudantil, dezembro está a cinzento. Ao invés do ano anterior,em que se decidira em sede de Encontro Nacional de Direções As-

sociativas (ENDA) a moção “Natal Negro no Ensino Superior”, este anotrouxe pelo último ENDA realizado no último fim-de-semana uma palavra:desapego. Embora a coleta das direções associativas se reúna várias vezesdurante o ano letivo, desta feita não conseguiram aprovar nada de signi-ficativo para o próximo ano civil. Sem nenhum protesto nem nenhumareivindicação digna de nome que pretenda lutar para que mais nenhumaluno abandone o ES.

Embora apenas o recém-eleito dirigente da Federação Académica doPorto, Rúben Alves tenha falado ao Jornal A CABRA em tempo útil, o quesaiu de relevante no Minho foi quase inexistente. Prevê-se uma declaraçãode princípios que se a nega a olhar para o desemprego como um grupo ho-mogéneo e uma calendarização atempada para a discussão do novo regu-lamento das bolsas. Somente. O facto de o governo recuar no corteinfluencia as hostes para que se determine um período de espera. Todavia,é preciso um novo Natal Negro e um ano de 2012 igualmente negro. Nãoé por o orçamento ter ficado estável que os alunos não continuam com acorda ao pescoço e à espera de uma objeção permanente de quem os re-presenta.

Liliana Cunha e Ana Duarte

não é por o orçamento ter ficadoestável que os alunos não continuam

com a corda ao pescoço e à espera de umaobjeção permanente de quem os representa“

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A excelência académica vive hoje pa-redes meias com a mais impressio-nante mediocridade. Os governos sãoos principais responsáveis masfazem o que fazem com a cumplici-dade ou resignação das universida-des. As instituições académicas nemsempre reagem, ou então, nem sem-pre se insurgem com força peranteinsuficiências e caprichos dos gover-nos. Quando o fazem, muitas dasvezes usam manobras e artifícios quelevam à mais confrangedora comu-nidade académica dos últimos anos.

O último exemplo foi o “chega”proferido pelo Magnifico Reitor con-tra este Orçamento do Estado, que“coloca em causa os funcionamentosbásicos da universidade”. Ouvimosuma declaração bem intencionada,insurgindo-se contra este governo eestas políticas que levaram os estu-dantes a acreditar que unidos pode-riam vencer mais este “ataque” aoEnsino Superior público. Falsa ideia,como comprovado, dias mais tarde,pela declaração conivente com o sta-tus-quo de quem a profere, uma vezque aplaude mais um corte à nossauniversidade, desta vez na ordem dos25 por cento do que primeiramenteestava previsto.

Não estávamos já no limiar do fun-cionamento? Perante todas estas po-líticas que afectam sempre osestudantes, com um ensino a perderqualidade e a tornar-se cada vez maiselitista, deparamo-nos, infelizmente,com um incompreensível confor-mismo da nossa academia. Hoje,muitos estudantes já não o podem sera tempo inteiro, uma vez que a faltade bolsas de estudo em número emontante suficiente levam a quegrande parte daqueles que com maisdificuldades ainda permanecem no

Ensino Superior se vejam obrigadosa trabalhar, não tendo assim tempopara o estudo intensivo ao qual hojeBolonha obriga, e para já não falar noconvívio académico e científico quetanta importância tem no enriqueci-mento humano e cultural de todosnós. Assim, o que deveria ser uma ex-cepção, o trabalhador-estudante aca-bou por se transformar numa bempesada realidade.

Muitos outros que aspiram a“gerir” associações excitados, paranão dizer corrompidos pelas políticasvindas das juventudes partidárias, es-colas de má vida e de má formaçãohumana, lutam sim, pelo poder e pelo

interesse pessoal, encenando verda-deiras peças teatrais com todos ospeões que têm poder de decisão, aoinvés do interesse colectivo que “lide-ram”. Estes líderes estudantis dosnossos dias nunca perdem tempo emusurpar o poder que têm para ime-diatamente tentarem ridicularizar aprimeira voz crítica e de alerta que selevante. São esses que iniciam fulgu-rantes carreiras nas juventudes par-tidárias e talvez seja este o mais gravedos traços marcantes do Ensino emPortugal.

*Estudante de Engenharia Civil na

Faculdade de Ciências e Tecnologia

da Universidade de Coimbra

cOnFOrmismO

de elites

jOãO azeVedO*

estes líderes estudantisdos nossos dias nuncaperdem tempo emusurpar o poder quetêm para imediata-mente tentarem ridicu-larizar a primeira vozcrítica e de alerta quese levante”

cartas à diretOra

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Jornal Universitário de Coimbra

AndA dAí! por rafaela Vilão 200x 100

Décima sexta hora do dia. Va-gueiam pela cidade em passos va-garosos e despreocupados. Semdestino definido, sem mapa nemroteiro. Atravessam ruas e ruelas,de mãos dadas, dedos enleados.Olham-se nos olhos tentam ver omais fundo possível. Têm conver-sas amenas ou profundas, riemcom franqueza e ela repousa sua-vemente a cabeça no ombro dele.Esboçam rascunhos de um ama-nhã perfeito. Conjecturam o fu-turo, fazem previsões epromessas - juram ocupar as duasmetades de uma mesma cama.Garantem que hão-de viver sob omesmo tecto. Vão dando infinitosnós aos fortes laços que os unem.No encerrar de cada dia, no iníciode cada noite, têm-se um aooutro, não importa o quão longeestejam. Sabes, hoje sonhei con-tigo. Acordei com desejo de teamar.

Nos últimos tempos, é cada vezmais notória a perda para o estran-geiro dos portugueses mais bem for-mados de sempre. Depois dos altosníveis de emigração nos anos 60 e70 - por motivos e gerações diferen-tes -, a emigração repete-se e os jo-vens, depois de se formarem, nãoconseguem ser absorvidos pelomercado. Depois de se apostar e ca-nalizar fundos para uma formaçãode excelência, o Ministério da Edu-cação e Ciência deve então apresen-tar propostas a longo prazo quetenham em vista fixar os recém-for-mados. Curiosamente, não pareceser essa a linha de raciocínio dosnossos governantes, que nos acon-selham a emigrar. A.M.

Ministério da Educação e Ciência

Ministério dos Negócios Estrangeiros

Na passada semana, o presidentedo Governo dos Açores, Vasco Cor-deiro, deslocou-se aos Estados Uni-dos onde, segundo o Jornal Público,manteve “intensos contactos” após adecisão norte-americana de reduzir apresença militar na Base das Lajes.Com esta decisão, cerca de 300 tra-balhadores da Ilha Terceira são atira-dos para o desemprego. Porém, o queé de estranhar neste processo é a faltade transparência no diálogo mantidoentre a administração americana, oGoverno Regional e o Ministério dosNegócios Estrangeiros. Urge assimpensar numa alternativa para estaspessoas que perderam os seus em-pregos e mostrar solidariedade comos trabalhadores. A.M.

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Vice-reitoria paraas Instalações

Sempre com a vontade de citar emostrar percentagens de boas classi-ficações internacionais, a UC conti-nua a enunciar a excelência dos seusresultados. Ainda assim, parece nãooferecer aos seus estudantes – os res-ponsáveis por esses mesmos resulta-dos – as condições necessárias paraos obter. É sabido que quando apertaa época de exames, as maratonas deestudo se prolongam noite dentro.Mas onde estudar à noite? Os espa-ços oferecidos pela UC são escassos eos que existem partiram da força dosalunos. O vice-reitor para as instala-ções, Vítor Murtinho, descarta-sedesta responsabilidade e pede inicia-tiva dos estudantes. E iniciativa dovice-reitor? A.M.Pág. 9 Pág. 12 Pág. 4


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