num reino bem grande, um vilarejo encravado em meio a morros e vales, chamado Vila Madalena. Ali viviam homens e mulheres que eram muito amigos, e que tinham grande carinho por esse lugar. Tudo naquele vilarejo era singelo e autêntico. Existiam casinhas de todas as cores, muitas ladeiras, e até mesmo rios. E também, montes e montes de árvores com suas frutas deliciosas, que todos colhiam do pé enquanto caminhavam pelas ruas; e lindos jardins de flores, de todas as cores!
Com o passar do tempo, essas pessoas tiveram filhos, e com eles passeavam e brincavam pelos parques e praças, andavam de bicicleta por todos os cantos da “Vila Madá”, como todos carinhosamente chamavam aquele cantinho do reino.
Vieram muitas primaveras, as jabuticabeiras e cerejeiras floriram e deram frutos, e as crianças, junto com elas, cresceram. Já era tempo de irem para a escola. E assim foi! Os pais, que sempre quiseram que seus filhos pudessem brincar e brincar e brincar, começaram a buscar um lugar especial. E encontraram um quintal: o do “João Menino”.
Ali, todas as famílias, banhadas por um espaço de muito amor, alegria e um respeito enorme pelo crescer das crianças, começaram a se encantar com essa maneira de educar e viver com os filhos e a comunidade. Sim! Porque ali o grupo de amigos conheceu ainda mais pessoas, e fizeram desse grupo um montão de gente! Os dias continuaram a passar, e as crianças, felizes foram crescendo, outras nascendo, deixando com seus sorrisos e brincadeiras tudo muito iluminado, como o brilho do sol, e colorido, como o arco-‐íris. Os pais se encantavam com tudo aquilo, e ao mesmo tempo se preocupavam, porque para alguns chegava novamente o tempo de buscar uma nova escola: alguns pequenos já tinham se tornado grandes crianças!
Mas, foi sem que percebessem, que o encantamento por essa linda e forte luz que as crianças emanavam para o mundo, fez brotar no coração de alguns pais um sonho muito precioso para seus filhos. Cada pai, ao seu jeito, sen?u no peito algo diferente: em alguns deu uma coceira enorme, outros não conseguiam dormir, outros tagarelavam sem parar, e outros queriam fazer algo, mas não sabiam bem o quê!
Mal sabiam eles que o tesouro desse sonho não era apenas para as crianças, mas para todos!
Era uma vez,
Eles ficaram com esse sonho de lá pra cá dentro do peito por um bom tempo! Então um dia, o brilho dourado desse sonho, que já não cabia mais dentro do coração de cada um, transbordou como raios de sol, e falou:
“E se fizéssemos uma escola, aqui na Vila, para que nossas crianças possam continuar a crescer felizes, fortes e saudáveis?!”
E então, apaixonados pelo brilho dourado que esse sonho emanou, eles buscaram toda a coragem que tinham e disseram:
SIM, VAMOS FAZER!
E com essa certeza na mão, e muita alegria no coração, colocaram o desejo no mundo: e muita gente, vendo esse brilho, veio ver o que era.
Os amigos, então, passaram a se encontrar sempre, para falar do sonho, imaginar como seria essa escola, ver qual caminho tomar para fazer com que ela virasse realidade. No início havia muita gente. Dava pra fazer uma roda bem grande. Mas era tão grande que as pessoas não conseguiam se tocar, e algumas vezes, quem estava do lado de cá não ouvia quem estava do lado de lá. Aos poucos, a roda foi diminuindo e um dia perceberam que eram sempre os mesmos amigos que vinham alimentar o brilho do sonho, e ser banhado de luz por ele. Quando isso aconteceu, perceberam que podiam todos se dar as mãos e se tocar, olhar nos olhos uns dos outros, se escutar. Perceberam que conseguiam fazer uma roda bem feita, e caminhar juntos, rodar para um lado, rodar para o outro. E mesmo quando algum desses amigos não estava, conseguiam fechar a roda para que ela não desmanchasse. E esse carinho, cuidado e calor todo, fez com que do sonho brotasse uma semente. Nesse dia, decidiram dar um nome à roda. E então nasceu Aicó. E com Aicó, a certeza maior de que agora precisavam encontrar uma terra para plantar aquela semente.
Em muitos momentos esses amigos não sabiam o que fazer para o sonho virar realidade: UMA ESCOLA DE VERDADE! E quando isso acontecia o brilho dourado do sonho, que agora já era uma semente que morava no colo de Aicó, pulsava, e com seus raios, iluminava os caminhos, mostrando a eles a direção. E então, seguiam!
Nessa jornada, conheceram muitas pessoas. Foi muito bonito ver como havia tanta gente, nesse grande reino, querendo ajudá-‐los! Houve um dia que decidiram contar para pessoas de todos os cantos que uma nova escola estava prestes a nascer. E como eram audaciosos e faceiros esses amigos! Mas disso eles não sabiam, não!
Eles mandaram um convite para um pic nic em uma praça, soltando um cata-‐vento pelo ar, que chegou aos quatro cantos do reino. Chegaram bem cedo, varreram, limparam, enfeitaram de fitas de cetim. Fizeram cabana, e uma mesa colorida de frutas e pães. Ficou tudo formoso! E então o povo foi chegando, e em pouco tempo havia tanta gente ao redor deles, que na praça não havia apenas uma, mas 3 rodas. Eles se olharam e disseram: “Nossa, há muita gente que sonha o nosso sonho!”. E cantaram e giraram em meio a praça: “Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós, ela é de todos nós!” Impulsionados pela linda ciranda, giraram por todas as ruas, vielas, subindo montanhas, descendo ladeiras, e até cruzando pontes e rios. Percorreram todos os caminhos para encontrar um pedaço de chão onde pudessem plantar a semente do sonho. Alguns, vendo tamanho esforço, se aproximavam e perguntavam: “Mas o que é que vocês precisam?” E eles respondiam: “Precisamos de uma pedaço de chão para nossa escola nascer.” “Então sigam por ali. Ouvi dizer que há um bom pedaço de chão, que pode lhes servir.” Eles corriam, mas quando chegavam ao lugar indicado percebiam que não era ali.
Porque o pedaço de chão que buscavam não podia ser qualquer pedaço de chão, sabe?! Tinha que ser um chão com terra, com grama, com árvores e plantas. Um chão grande o suficiente para que muitas crianças pudessem brincar, correr, subir em árvores, inventar jogos, dançar e cantar em dias de festas. Tinha que ser também um chão que tivesse uma casa muito quente e acolhedora, onde os professores e crianças pudessem estar juntos, cuidando da casa, cozinhando, costurando, pintando, cantando. Um chão onde as famílias pudessem se encontrar e criar uma verdadeira comunidade, fraternal, unida. Esse chão tinha que ser especial o suficiente para deixar a vida fluir como as águas que correm em um rio.
Aicó já havia trabalhado muito, e, apesar de terem conquistado um tantão de coisas, estavam ficando um pouco desanimados de tanto procurar e não achar um chão!
Até que um dia eles ouviram de uma pessoa muito sábia: “Lancem, como os guerreiros lançam suas flechas, o sonho de vocês até as estrelas. Sonhem alto! Contem seus sonhos para elas. As estrelas vão ajudar a trazer a escola para a Terra. E depois que ela estiver plantada, todo o resto irá chegar, brotando desse chão, como as sementes brotam da terra.”
E confiando nessas palavras, Aicó começou a conversar com as estrelas. Ao invés de caminhar em busca do chão, eles passaram a voar. E em um desses vôos, viram lá do alto um lugar muito lindo: um parque bem comprido, cheio de árvores, flores, uma praça, e até uma horta. E quando chegaram mais perto, viram que esse parque se deitava ao longo de um rio, chamado RIO DAS CORUJAS. Eles se encantaram com tudo aquilo. Caminharam por cada canto, juntos! E de repente, lá estavam eles a sonhar! Com olhos de corujas e o coração radiante, caminhavam por ali e enxergavam tudo: “Vejam, aqui podemos fazer a escola, e as crianças com seus pais poderão vir a pé, ou de bicicleta. Poderão correr, brincar na praça. Poderemos fazer festas no parque, e as crianças poderão ajudar na horta. E com o tempo teremos a nossa horta, e partilharemos nosso alimento com todos. Olha, essa casinha pode ser a banca de frutas. E aqui debaixo da amoreira podemos fazer uma marcenaria, ou uma sala de música, ou de artes!”
E imaginando e brincando como crianças, sonharam alto, muito alto! Se abraçaram, sorriram e aqueceram o brilho do sonho de um jeito, que uma estrela, lá do alto, viu. E ao ver aquela beleza e a pureza do desejo deles, soprou no ouvido de um passarinho que mora ali, na grande Mangueira das Corujas: “Cante bem alto, passarinho! Cante seu canto mais bonito!” Em seguida, a estrela soprou para as nuvens que estavam sobre eles: “ Deixem cair um chuvisco suave, amigas nuvens!”. Depois cutucou o sol, dizendo: “Amigo sol, mande seus raios encontrarem aquelas gotinhas de chuva.” E naquele instante, quando os amigos ali estavam parados a sonhar, escutaram um lindo canto vindo do outro lado. Se voltaram na direção do som, e então, como que por mágica, viram um lindo arco-‐íris se formar, criando uma ponte que levava ao outro lado do rio.
Eles caminharam pelo arco-‐íris, embalados pelo canto mais lindo que já tinham ouvido, e chegaram ao pé do frondoso Ipê Rosa! Ali, em um dos galhos, estava o passarinho, mensageiro das estrelas, que anunciou: “Aqui existe uma mangueira onde muitas crianças já brincaram, onde tantos já trabalharam e se alegraram, derramando sobre ela muito amor e cuidados. E lá há terra o suficiente para receber a semente do sonho de vocês!” O coração de todos reconheceu aquele chão como a morada de seus sonhos. Era ali que a escola nasceria. E assim se fez!
Festejaram, emocionados, a chegada daquele chão em pleno dia de Cosme e Damião! E daquele dia em diante, eles passaram a se encontrar ao pé da mangueira. E cirandaram muito por lá! Dias fes?vos é o que sonhavam para aquele lugar. E que cada ser que ali pisasse pudesse ser livre para seu caminho encontrar.
Ali nascia a Escola Livre Areté! Mas o trabalho não parou não. Porque o tempo era curto para muito se fazer: a reforma da casa, os cuidados com o jardim, as conversas com as pessoas para contar que a escola já ?nha sua morada! Todo mundo parava para olhar o que estava acontecendo por ali. Até mesmo o sol espantou todas as nuvens para olhar de perto a beleza daquela luz. E nenhuma gota de chuva caiu até que a casa es?vesse pronta para a comunidade entrar.
Pouco a pouco, como o sábio havia dito, tudo começou a se encaixar: os amigos dos amigos trazendo ainda mais crianças para brincar. E junto com as crianças, claro, chegaram todos que em Areté trabalham e também os professores. Porque não há uma egrégora de crianças que não tenha um professor para lhes olhar! Aicó aprendeu a confiar! E no dia 12 de fevereiro Areté abriu suas portas para suas crianças abraçar! E de lá para cá, todos os dias nesse chão elas estão a brincar, e crescer. Já teve festa pra São João, e até o boi veio visitar. Mu?rão com a comunidade reunida, para os brinquedos fabricar. Escorregador, casinha, balanços e cordas para escalar! A bicharada que mora perto também não pára de visitar. Tem bem-‐te-‐vi, borboleta, minhoca e até ra?nhos a perambular! E quando vem a noite, e todos retornam à suas casas para descansar, as corujas, de olhos bem abertos, cuidam desse chão, e contam para as estrelas tudo o que se passou por lá.
E como todo o dia em Areté é um dia fes1vo, as estrelas brilham mais forte, para a alegria das crianças saudar!
Planta daqui, planta dacolá, hoje chegou o dia de celebrar: 1 ano de vida de Areté no chão que estamos a pisar!