Transcript
Page 1: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir
Page 2: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

2

ÉÉ TTEEMMPPOO DDEE RREEFFLLEETTIIRR

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através

do Letras Santas, com autorização do Autor. Todos os direitos reservados. A reprodução no todo ou em parte deste livro, por qualquer meio, sem autorização do autor.

O Autor gostaria de receber um e-mail de você com seus comentários e críticas sobre o livro: [email protected] O Letras Santas gostaria também de receber suas críticas e sugestões. Sua opinião é muito importante para o aprimoramento de nossas edições: [email protected] ou [email protected] . Estamos à espera do seu e-mail.

Se alguém suspeitar que algum material do acervo não obedeça à Lei de Direitos Autorais, pedimos: por favor, avise-nos pelo e-mail: [email protected] para que possamos providenciar a regularização ou a retirada imediata do material do site.

wwwwwwwwwwww....lllleeeettttrrrraaaassssssssaaaannnnttttaaaassss....hhhhppppgggg....ccccoooommmm....bbbbrrrr

Page 3: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

3

Índice

Apresentação

Como (e por que) este livro nasceu

Preâmbulo

I A Inserção da Fé Protestante no Brasil

Tentativas e fracassos

Imigrantes e missionários

O choque petencostal

Manoel de Mello e as “igrejas autóctones”

Paraeclesiáticas, o regime militar e a reação jovem

II Fé em Expansão: Os Anos de Crescimento

Três ondas

A quarta onda: os neopentecostais

A sedução da mídia e a paixão pelo crescimento

Fé e sincretismo

Liderança e personalismo

III Por Uma Nova Eclesiologia

Fé e auto-ajuda

Epílogo

Bibliografia

Page 4: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

4

Apresentação (Texto do prefaciador)

Como (e por que) este livro nasceu (Texto do Ari)

Preâmbulo A Bíblia registra em 1 Timóteo 6:9: “Ora, os que querem ficar ricos

caem em tentações, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e

perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e na perdição”. As

palavras do apóstolo Paulo ganham um tom ainda mais profético quando

aplicadas ao momento atual da Igreja Evangélica Brasileira. Ele adverte

contra a sedução da riqueza e a insensatez de se perseguir o sucesso

material. Esse caminho, diz o apóstolo, está pavimentado de “ciladas” e só

pode terminar em “ruína e perdição”.

Nas últimas duas décadas, uma corrente teológica vinda dos Estados

Unidos invadiu o Brasil. Travestida de verdade revelada, ela subverte o

Evangelho e põe em xeque nossa herança protestante. A Teologia da

Prosperidade, nome pelo qual essa corrente é conhecida, encontrou ampla

acolhida no mundo editorial. Com raras exceções, as editoras evangélicas

inundaram o mercado com obras que propagandeavam os ensinamentos do

Movimento da Fé, como também é chamada a escola doutrinária iniciada

pelo americano Kenneth Hagin, autor dos best-sellers A autoridade do

Crente e Compreendendo a Unção.

Restrita no começo a uma ala do protestantismo brasileiro, a Teologia

da Prosperidade se espalhou rapidamente entre nós e pode ser ouvida dos

Page 5: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

5

mais insuspeitos púlpitos. Entra-se numa igreja e lá está um sujeito

pregando mensagens mais próximas da auto-ajuda do que da teologia dos

reformadores. O povo não quer ouvir falar de renúncia e sofrimento pela

causa do Reino, rendem-se os pastores. A Cruz tournou-se outra vez uma

vergonha, mas ironicamente para aqueles que dela deveriam fazer sua

profissão de fé.

O pastor sobe ao púlpito acreditando combater forças ocultas, que

talvez não sejam lá tão ocultas, mas assim mesmo cridas como sendo. O

crente vai ao templo para ouvir uma palavra positiva, para cima; anela por

uma mensagem de refrigério, de bênção. Falar de arrependimento e

conversão seria trair sua confiança, frustrar sua expectativa. Então, sob esse

aspecto, a Teologia da Prosperidade venceu.

O mundo editorial não foi, porém, o único a contribuir para a ascensão

da Teologia da Prosperidade. Da noite para o dia, os canais de televisão

passaram a abrigar em suas grades programas apresentados por estrelas do

Movimento da Fé como Valnice Milhomens e R. R. Soares. O poder do

meio amplificou o efeito, e não demorou para que a Teologia da

Prosperidade ganhasse o status de “pensamento oficial” da Igreja

Evangélica Brasileira, tamanha sua influência e de seus líderes.

Um dos seus mais destacados representantes, R. R. Soares declarou,

em entrevista recente à revista Eclésia, preferir “mil vezes pregar a teologia

chamada da prosperidade do que a teologia do pecado, da mentira, da

derrota, do sofrimento”. O triunfalismo esnobe dos arautos da Prosperidade

emerge na afirmação: “Não creio (sic) na miséria. Essa história é conversa

de derrotados. São todos um bando de fracassados, cujas igrejas são um

verdadeiro fracasso”. E desafia: “Todo mundo que está na derrota tem que

Page 6: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

6

aprender correndo a tomar posse da benção, senão vai continuar na derrota

e dando péssimo testemunho. Esse negócio de falar que Deus é bom mas

não cura, não liberta, não prospera (sic), que bondade é essa?”.1

Retrucaríamos: Que teologia é essa? Que evangelho é esse?

As páginas que se seguem não são uma refutação da Teologia da

Prosperidade. Pelo menos três volumes já foram dedicados a esse tema com

relativo sucesso. Dois são de autoria do pastor e pesquisador Paulo Romeiro

e um do pastor Ricardo Gondim.2

Nosso objetivo é mais modesto. Temos em mente o leitor que,

bombardeado pelas mensagens dos mensageiros da Prosperidade, foi

tomado de dúvidas sobre sua fé e, sem respostas, sente o chão fugir-lhe.

Sofre com a falta de conhecimento e de argumentos para rebater aos que o

acusam de ser ele um “crente fraco”, sem poder.

Pensamos também no pastor que se angustia por não ter encontrado a

“chave do crescimento e do sucesso” para o seu ministério e se impacienta

com a própria falta de criatividade. Ele ouve relatos de igrejas onde as

pessoas se espremem porque o lugar ficou pequeno para tanta gente; onde o

pastor tem um programa de televisão e o nome do seu ministério está na

boca de todo mundo. Aí ele para e se pergunta: “Onde está o segredo?”

Ao fazer um excurso através da história da Igreja Evangélica

Brasileira, tive a intenção de mostrar duas coisas: primeiro, que não temos

1 “Evangelho de Resultados”, entrevista publicada na edição de Junho de 2001 da revista Eclésia., pp. 24 e ss. O missionário R. R. Soares, é fundador e presidente da Igreja Internacional da Graça. 2 As obras são: SuperCrentes – O Evangelho Segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade. Mundo Cristão. São Paulo, 1993 e Evangélicos em Crise: Decadência Doutrinária na Igreja Brasileira. Mundo Cristão. São Paulo, 1995 (de autoria do Pr. Paulo Romeiro); O Evangelho da Nova Era: Uma Análise e Refutação Bíblica da Chamada Teologia da Prosperidade. Abba Press. São Paulo, 1993 (do Pr. Ricardo Gondim).

Page 7: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

7

por que nos envergonhar da nossa herança protestante; segundo, que é

possível crescer e manter a identidade com essa mesma herança. Se logrei

sucesso, somente leitor poderá dizer.

Não precisamos fazer concessões para nos tornar mais respeitáveis ou

ganhar a aprovação da sociedade. Paradoxalmente, depois de anos como

minoria religiosa, os evangélicos podem vir a se tornar uma maioria que

não faz diferença.

Page 8: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

8

I A I N S E R Ç Ã O D A

F É P R O T E S T A N T E N O B R A S I L

Tentativas e fracassos A Igreja Evangélica Brasileira é nova. Começou a fixar-se a partir da

segunda metade do século XIX, quando o Brasil já havia conquistado sua

independência de Portugal e era governado por um imperador (D. Pedro II).

Houve, no período Colonial, tentativas de implantar por aqui a fé

protestante, mas ela só viria a vingar entre nós muito tempo depois de o

catolicismo tornar-se a religião oficial do Brasil. De fato, a Constituição

Imperial de 1824 apenas ratificou um domínio já existente na prática.

Villegaignon, comandante da expedição francesa que aportou na

Guanabara em 1555 e teve o apoio do huguenote Gaspard de Coligny,

escreveu a Calvino e à Igreja de Genebra pedindo que para cá fossem

enviados “crentes reformados”. Dois anos depois era celebrado o primeiro

culto evangélico em terras brasileiras.

Mais tarde, o francês expulsaria os calvinistas da recém-fundada

França Antártica, por discordar deles acerca da administração dos

sacramentos.

No século XVII, durante a dominação holandesa do Nordeste (1630 a

1654), o Evangelho teve nova chance. Instalada sob a proteção de Maurício

de Nassau, a Igreja Reformada chegou a ter duas dezenas de igrejas e

Page 9: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

9

congregações, atendidas por mais 50 pastores e “predicantes”, além de dois

presbitérios e um sínodo. Os holandês deixaram o país em 1654, depois que

a Companhia das Índias Ocidentais negociou com Portugal sua saída do

Nordeste.

Um fato curioso na história da Igreja no Brasil foi o movimento

iniciado por Frei Caneca, então regente do Império, para separar a Igreja

brasileira do Vaticano. O religioso chegou mesmo a convidar teólogos de

Westminster para virem ao Brasil, com o intuito de criar aqui uma nova

teologia, de traços protestantes e anglicanos. O religioso foi destituído da

sua regência e condenado por traição. Fracassou, desse modo, mais uma

tentativa de implantar a Igreja Evangélica em nosso país, o que só viria a

acontecer com a chegada dos imigrantes europeus (principalmente alemães,

que abriram igrejas luteranas no sul do país) e das primeiras missões

estrangeiras na segunda metade do século XIX.

Imigrantes e missionários Os imigrantes tiveram um papel decisivo na inserção da fé protestante

no Brasil. Em 1810, Portugal e Inglaterra haviam firmado o Tratado de

Comércio e Navegação que, entre outras coisas, protegia os imigrantes

protestantes de perseguição religiosa. Isso incentivou a chegada deles em

grande número, vindos principalmente dos Estados Unidos, Escócia e

outras nações européias. Foram os imigrantes alemães, entre eles muitos

luteranos e reformados, porém, que criaram comunidades de colonos,

instalando-se principalmente nos estados do Sul do país. No começo, seus

pastores foram escolhidos entre os próprios “leigos”, e ficaram conhecidos

como “colonos-pregadores”. Só bem mais tarde, missionários e ministros

Page 10: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

10

foram enviados da Suíça e da Prússia para cuidar do rebanho alemão no

Brasil.

As primeiras ações missionárias no país foram resultado do trabalho

das sociedades bíblicas. O clima de tolerância da época (era ainda o tempo

de vigência dos tratados assinados com a Inglaterra, uma nação protestante)

permitiu que homens como Daniel Parish Kidder e James Cooley Fletcher

realizassem um extraordinário trabalho de colportagem. O primeiro era

episcopal; o segundo, presbiteriano. Kidder chegou aqui em 1842 e fundou,

com o rev. Fountain Pitts, a primeira escola dominical do Brasil. Sua maior

realização, contudo, foi como distribuidor de bíblias, tendo viajado por todo

o país.

Como Kidder, Fletcher foi agente da Sociedade Bíblica Americana e

um verdadeiro apaixonado pelo trabalho de divulgação do Evangelho.

Enviado ao Brasil pela União Cristã Americana Estrangeira, escreveu, em

1857, O Brasil e os Brasileiros, obra que viria a influenciar ninguém menos

do que Robert Reid Kalley.

Médico de formação, Kalley foi missionário na Ilha da Madeira, de

onde fugiu vítima de perseguição religiosa. Nos Estados Unidos, encontrou-

se com Fletcher, de quem ouviu relatos sobre o “grande campo” recém-

aberto no Brasil. E para cá Kalley veio, em 1855, acompanhado de Sarah

Poulton, sua esposa, co-autora com ele do mais famoso e influente hinário

evangélico brasileiro, o Salmos e Hinos.3

3 MENDONÇA, Antonio Gouveia. O Celeste Porvir – A Inserção do Protestantismo no Brasil. Aste. São Paulo, 1995., pp 29 e 176

Page 11: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

11

Do trabalho dos Kalleys nasceu a Igreja Evangélica Fluminense, uma

comunidade que reunia madeirenses e brasileiros. Robert Kalley foi um

destacado defensor da liberdade religiosa e o primeiro missionário a usar a

língua portuguesa para divulgar o Evangelho no país.4

Outro missionário pioneiro foi o presbiteriano Ashbel G. Simonton,

enviado ao Brasil pela Junta de Missões Estrangeiras, de Nova York

(EUA). Sua figura é decisiva na evolução do presbiterianismo brasileiro.

Apesar de ter escolhido o Brasil como campo missionário, Simonton não

dominava o Português e enfrentou muita dificuldade para se adaptar ao

país. Por oito anos esteve à frente da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro,

fundada por ele em 1862. Veio a falecer em 1867. 5

O trabalho de Simonton foi secundado pela vinda de outros

missionários presbiterianos, como Alexander Blackford e Francis

Schneider.

Depois de uma malsucedida tentativa com Thomas Jefferson Bowen

dez anos antes, os batistas se instalaram entre nós em 1871 na cidade de

Santa Bárbara D’Oeste, onde existia uma comunidade de imigrantes

confederados vindos dos Estados Unidos. A primeira igreja começou a

funcionar em Setembro daquele ano, tendo à frente o pastor Richard

Ratcliff. Somente uma década mais tarde, em 1881, a Junta Missionária de

Richadmond enviou ao Brasil William B. Bagby. No ano seguinte à sua

chegada, ele fundaria, ao lado de um ex-padre (Antônio Teixeira), a

primeira igreja batista brasileira.6

4 Ibidem, p. 176 5 Ibidem, pp. 29 e 178-185 6 Ibidem, p. 31

Page 12: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

12

Os episcopais foram, entre as denominações históricas, os últimos a se

estabelecerem no país. Lucien Kinsolving e James Watson Morris

chegaram aqui em 1889, enviados pela American Church Missionary

Society. Foram para Porto Alegre no ano seguinte, onde se fixaram e deram

início a um dos mais promissores trabalhos missionários daquela época.

Apesar da presença dos colonos luteranos na região e dos presbiterianos já

haverem iniciado uma missão na cidade de Rio Grande, a Província do Rio

Grande Sul era pouco ocupada por missões. Em poucos anos os episcopais

cresceram e, num só ano (1897), foram confirmados 150 fiéis. Dois anos

mais tarde a Igreja Episcopal do Brasil sagrou seu primeiro bispo residente,

Lucien Lee Kinsolving.7

A Igreja Evangélica Brasileira permaneceu, da sua instalação até o

início do século XX, sendo tradicional, cujas características mais marcantes

eram a erudição bíblica e o formalismo litúrgico. Havia também acentuada

ênfase na educação, compreensível pelas altas taxas de analfabetismo da

população brasileira da época.

Antonio Gouvêa Mendonça, autor de O Celeste Porvir, argumenta que

o protestantismo implantado no Brasil manteve, contrariamente ao que se

poderia esperar, uma certa unidade teológica e ideológica. Duas coisas

contribuíram para isso: a origem comum (EUA) da maioria das missões e a

predominância do culto católico entre os brasileiros. “As diferenças entre as

denominações eram de natureza secundária, niveladas que foram pela

teologia originada dos movimentos religiosos norte-americanos, de um

lado, e das condições peculiares do Brasil, por outro”.8

7 Ibidem, pp. 31 e 32 8 Ibidem, p. 83

Page 13: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

13

Essa unidade irá, pouco a pouco, sofrer abalos à medida que os

evangélicos crescem, até resultar na ruptura e no isolamento dos anos 80.

O aparecimento dos pentecostais será, por mais de uma razão, o

elemento desencadeador das fissuras que levarão ao racha entre os

tradicionais, principalmente nos círculos batistas e presbiterianos. Eis o

motivo para nos voltarmos a eles agora.

O choque petencostal Os pioneiros foram a Congregação Cristã do Brasil, aqui chegada em

1910 pelas mãos de um italiano, Luigi Francescon, e a Assembléia de Deus,

fundada no ano seguinte pelos missionários suecos Gunnar Vingren e

Daniel Berg. As duas permaneceram como as maiores forças do movimento

pentecostal no Brasil até o final dos anos 40, quando dissidentes criaram

ministérios independentes. Surgiram, então, três novos protagonistas. Dois

deles (a Pentecostal O Brasil Para Cristo e a Deus é Amor) se

singularizaram por marcarem a emergência das “igrejas autóctones”. O

terceiro (a Evangelho Quadrangular) foi trasladado dos Estados Unidos para

cá.

Francescon morou nos Estados Unidos no período em que William

Seymour iniciou, num prédio alugado na cidade de Los Angeles, o que

ficou conhecido como o Século Pentecostal. Era o ano de 1906. Francescon

e sua esposa, Rosina Balzano, moravam em Chicago quando receberam o

“batismo” com o Espírito Santo. Eles deixariam os Estados Unidos em

1909 rumo ao Brasil.

Aqui Francescon freqüentou a Igreja Presbiteriana do Brás, bairro da

capital paulista com uma enorme colônia italiana. Suas idéias acerca do

Page 14: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

14

ministério do Espírito Santo causaram um verdadeiro racha na igreja.

Apoiado por fiéis (presbiterianos, batistas, metodistas e até católicos)

descontentes com suas denominações, Francescon abriu a primeira “casa de

oração” da Congregação Cristã no Brasil.9

A igreja fundada no Pará, em 1910, por Gunnar Vingren e Daniel

Berg, tornou-se a maior denominação evangélica brasileira em menos de

cem anos. A Assembléia de Deus é a tradução mais bem sucedida –tanto

em ternos doutrinários quanto numéricos – do pentecostalismo entre nós.

Intrigante na trajetória da Assembléia de Deus é o fato de ter nascido

numa região do país que nunca despertou grande interesse nas outras

denominações. Ao recensear a história da evangelização no Brasil, Elben

Lenz César registra que os protestantes históricos (luteranos, presbiterianos,

congregacionais, metodistas, episcopais e batistas aí incluídos) instalaram-

se nas regiões Sul e Sudeste, ao passo que os pentecostais deram início à

sua expansão a partir do Norte.10

Não obstante o isolamento, a Assembléia de Deus crescia. E crescia

muito. Quando, nos anos 60, dá-se o encontro entre tradicionais e

pentecostais, o resultado é quase um cisma na Igreja Evangélica Brasileira,

um choque que levou a toda sorte de divisão.

Os pentecostais, liderados pela Assembléia de Deus, ganharam

expressão e invadiram os arraiais das denominações tradicionais. O fogo

caiu. E caiu sob dois aspectos: caiu o fogo do Espírito Santo e pegou fogo a

relação entre os irmãos. Igrejas históricas se dividiram, movimentos

9 CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil – Dos Jesuítas aos Neopentecostais. Ultimato Editora. São Paulo, 2a edição, 2000, p. 115 10 Ibidem, p. 119

Page 15: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

15

secessionistas surgiram com ímpeto. Duas formas de servir ao Senhor, dois

enfoques. O encontro gerou um racha, mas os pentecostais se

estabeleceram. São eles que irão protagonizar o extraordinário crescimento

experimentado pela Igreja Evangélica Brasileira nos anos 70 e 80.

Manoel de Mello e as “igrejas autóctones” No final dos anos 50 um fenômeno novo surge, provocando uma

mudança no cenário evangélico nacional. São as igrejas autóctones. Sua

figura de maior destaque –e, curiosamente, menos estudada– é o

pernambucano, pedreiro de profissão e missionário por vocação, Manoel de

Mello. Ele e a igreja que fundou (Igreja Evangélica Petencostal O Brasil

Para Cristo) são um marco no protestantismo brasileiro. Fruto talvez de

preconceito, Mello permanece mal compreendido, apesar da sua

singularidade e da influência que teve na história da Igreja Evangélica

Brasileira.

Manoel de Mello representou uma mudança radical, uma ruptura no

curso até então trilhado pela Igreja Evangélica Brasileira. De repente, um

homem oriundo da Assembléia de Deus (como a maioria dos outros

fundadores de igrejas autóctones no Brasil) começou a sacudir os crentes.

Sua pregação, profética e belicosa, ultrapassou as fronteiras das

denominações evangélicas e alcançou o mundo político. Se hoje a relação

entre fé e política está pacificamente incorporada aos nossos debates, não

devemos esquecer o quanto Manoel de Mello tem a ver com isso, rompendo

o isolamento dos protestantes e se fazendo ouvir pelos políticos.

Se a história falará bem ou mal dele, é uma questão discutível. Mas

que Manoel de Mello transpôs as fronteiras, disso não se pode ter a menor

Page 16: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

16

dúvida. E o fez de maneira original. Não só porque era um grande

comunicador de massas e possuía aquele afã que é próprio dos pentecostais,

de cura, libertação. Aquela palavra poderosa que constrange e exige

decisão. Não, não foi só por isso. Foi também porque corajosamente fez

escolhas que o levaram por caminhos desconhecidos das lideranças

evangélicas tradicionais.

Emblemática nesse itinerário foi sua filiação, em 1969, ao Conselho

Mundial de Igrejas (CMI), porque corajosa. Imagine-se um líder procedente

das lides da Assembléia de Deus, com uma igreja autóctone, com o nome

mais autóctone possível (O Brasil Para Cristo) formando fileira com o CMI.

Mello era um homem de atitudes radicais, convicções fortes e

declarações explosivas. Um exemplo dessa explosividade aparece quando

profetizou: “Roma deu ao mundo a idolatria; a Rússia, os terrores do

comunismo; os Estados Unidos, o demônio do capitalismo; nós, brasileiros,

nação pobre, daremos ao mundo o Evangelho”.11 Noutra entrevista,

pontificou: “O ateísmo cresce devido às situações de injustiça, de miséria

em que o povo vive. Os pregadores estão pregando sobre um futuro

longínquo e se esquecem que Jesus deu valor e atenção ao momento em que

o povo vivia”.12

Marcante na biografia de Manoel Mello foi também sua declaração,

durante um programa de televisão no qual ele e Dom Paulo Evaristo Arns

falavam sobre o CMI. O repórter perguntou ao pastor como era possível a

convivência com o cardeal Arns (aquele era um tempo em que os

11 ANTONIAZZI, Alberto e FRESTON,Paul. Nem anjos nem demônios – Interpretações Sociológicas do Pentecostalismo. Editora Vozes. Petrópolis, 1994, p.118 12 REILY, Duncan. História Documental do Protestantismo no Brasil. Aste. São Paulo, 1984, p.389

Page 17: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

17

evangélicos ainda tinham os católicos como alvo). Mello, então, sem

mostrar qualquer constrangimento, pôs a mão no ombro do cardeal e disse:

“Ah, se todos os padres fossem como Dom Paulo, nossa relação seria

diferente”.

Naquela época, um gesto como esse era simplesmente revolucionário.

Rompia a um tempo com o preconceito e abria uma possibilidade de

convivência e comunhão com os cristãos de confissão católica. No futuro,

quando historiadores se debruçarem sobre esse período da história da Igreja

Evangélica Brasileira, haverá quem se surpreenda com esse homem.

Paraeclesiáticas, o regime militar e a reação jovem Estamos no final dos anos 60 e início dos 70. Os militares se

instalaram no poder e a vida nacional mergulhou num período de

incertezas, angústia e medo. Os anos que se seguirão ao golpe serão os mais

negros da nossa história. Nem mesmo a breve bonança experimentada com

o “milagre econômico” nos anos setenta, tida como a maior realização do

governo dos generais, diminui o travo que ainda hoje sentimos ao lembrar

aquela década.

E, no entanto, o sopro do Espírito se fez sentir sobre A Igreja

Evangélica Brasileira. Outro milagre, agora da fé, também acontece no

meio evangélico. Um fervor evangelístico toma conta das igrejas com o

surgimento das missões paraeclesiáticas. São fruto tanto do zelo

missionário dos pentecostais quanto da diligência evangelística dos

tradicionais. As paraeclesiáticas eram missões pioneiras, queriam levar a

Boa Nova a todos os rincões do país, ser o sal fora do saleiro.

Page 18: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

18

Algo de extraordinário havia nesse fenômeno. Não exatamente do

ponto de vista evangelístico, pois as denominações protestantes sempre

empreenderam ações evangelizadoras entre o povo. As paraeclesiáticas

configuraram-se, na evolução do protestantismo brasileiro, num novo locus,

no sentido sociológico do termo. Numa religião marcada por divisões,

permitiram a superação de diferenças doutrinárias pontuais. Nenhum grupo

reivindicava o monopólio da verdade, ninguém defendia territórios. O

resultado era um esforço conjunto na evangelização do país, com um

significativo aumento da distribuição de literatura cristã, abertura de

institutos bíblicos e encontros, que reuniam pastores e líderes de diferentes

orientações denominacionais.

Num corte propriamente sociológico, pode-se dizer que as

paraeclesiáticas eram um espaço mais democrático para o exercício do

mandato missionário deixado por Jesus. Paul Freston alarga esse conceito

quando diz que elas permitiam “expressar alianças e oposições

contemporâneas mais relevantes do que as velhas fronteiras

denominacionais”. E conclui que nelas os que se sentiam marginalizados

em suas denominações de origem podiam encontrar um “espaço

alternativo”, onde suas ações talvez pudessem “influenciar o conjunto do

protestantismo”, mesmo que essa influência se restringisse a uma “área

específica da fé”.13

A Revolução de 64 inaugurou em nossa história uma era de sombra e

terror que se estendeu até meados da década de 80, quando deu-se o início

da redemocratização do país. Do mesmo modo que para outro grupos, o

golpe representou para os evangélicos um enorme desafio. Apesar da sua

Page 19: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

19

importância, esse é um período da história da Igreja Evangélica que ainda

espera por um exame apurado por parte dos estudiosos.

O regime instaurado pelos militares deixava pouca ou nenhuma

alternativa para os de pensamento diverso. Era o tempo do “ame-o ou

deixe-o”. A intelligentsia brasileira viu-se, da noite para o dia, transformada

em inimiga do país, caçada em todos os cantos. A perseguição foi

implacável: prisões, interrogatórios, julgamentos sumários, exílios, mortes.

Lideranças de destaque da Igreja Evangélica Brasileira alinharam-se à

esquerda, num movimento claramente oposto ao tomado pelos setores

conservadores da igreja Católica. Quem se der ao trabalho de consultar os

registros da época nos arquivos da antiga Confederação Evangélica

Brasileira descobrirá, não sem um certo assombro, o quanto havia de

“vanguarda” nas idéias defendidas pelos irmãos.

A Confederação era uma instituição progressista, com um ideário mais

próximo dos partidos de esquerda brasileiros. A clima político da época

parecia não deixar outra opção que não a do exílio. E foi para ele que

muitos líderes partiram.

Há os que verão em tudo isso algo de inusitado. Mas o fato mesmo de

se constituir em novidade para alguém denuncia, por si só, o descuido que

temos com a nossa história. E assoma maior razão para que se encare com

urgência um estudo sobre a atuação da Igreja Evangélica nos anos de

chumbo.

Os líderes não foram os únicos acossadas pelo regime. Outro alvo da

intransigência militar foram as organizações jovens evangélicas. Como suas

13 FRESTON, Paul. Opus cit. p. 389

Page 20: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

20

congêneres estudantis, elas também sentiram o peso do arbítrio: portas

foram fechadas, diretorias destituídas, documentos confiscados. Os jovens

foram silenciados pelo argumento dos fuzis.

Como sempre na história dos homens e mulheres que constróem o

Reino de Deus, a fé e a esperança abriram caminho em meio às pedras e

espinhos do mundo. Assim, no final dos anos 60 e início da década de 70,

precisamente quando os militares lançavam mão dos mais perversos

expedientes para se manter no poder, brotou entre os jovens uma vigorosa

reação.

Um renovado fervor surgiu no seio das igrejas protestantes,

arregimentando milhares de jovens para o trabalho de evangelização. É a

época de movimentos como Influência de Palavra da Vida, Mocidade para

Cristo, Jovens da Verdade, Jovens em Cristo e ABU. Chega também ao

Brasil a Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. A seara era grande, e

eles respondiam ao chamado do Senhor da seara.

Foi a década dos jovens. O mundo testemunhava um milagre: colônias

inteiras de hippies nos Estados Unidos e na Europa convertiam-se a Jesus.

Uma geração inteira vai se inspirar em homens como David Wilkerson. No

Brasil, jovens tornam-se ousados pregadores do Evangelho. A Igreja

Evangélica Brasileira não será mais a mesma desde então.

Page 21: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

21

I I F É E M E X P A N S Ã O :

O S A N O S D E C R E S C I M E N T O

Três ondas A década de 60 marcou a inserção definitiva da Igreja Evangélica na

sociedade Brasileira. A Assembléia de Deus cresceu de forma expressiva e

ganhou projeção nacional. O Pr. Manoel de Mello tornou-se alvo do

assédio de políticos, cientes do peso que ele e sua igreja representavam em

termos eleitorais. Os evangélicos passaram a ser percebidos como uma

força não só numérica, mas ideológica. Nasce a primeira grande onda de

crescimento da igreja.

A simplicidade das teses acima pode levar à falsa conclusão de que a

Igreja Evangélica Brasileira apenas seguiu seu curso evolutivo natural. A

rápida emergência dos pentecostais e a reação dos tradicionais dizem muito

de como nada de natural houve nessa evolução.

Ancorados num rígido formalismo litúrgico e numa sólida erudição

bíblica, os tradicionais condenavam os excessos “emocionais” dos

pentecostais, tidos como pouco letrados. Estes últimos deploravam a

“frieza” e a falta de poder dos primeiros. O “choque” foi inevitável.

Hoje, beneficiados pela perspectiva histórica, compreendemos como

esse encontro entre o formal e o espontâneo, o racional e o emocional, o

erudito e o operoso, foi salutar para o crescimento da Igreja Evangélica

Page 22: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

22

Brasileira. As brigas não enfraqueceram o corpo, antes o tornaram mais

forte. Não necessariamente mais coeso, apenas mais forte.

Se a Assembléia de Deus avançava em direção ao Nordeste e ao Sul

do país, sua visibilidade, contudo, não rivalizava com a das igrejas fundadas

por missionários como Manoel de Mello ou David Miranda.

A Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo, como já se

defendeu aqui, é o epítome das igrejas autóctones. A figura do Pr. Manoel

de Mello sintetiza esse movimento e permanece, como sugerimos algumas

linhas atrás, ignorado pelos estudiosos. Para sustentar nossa tese, basta

recordar aqui um episódio ocorrido com Manoel de Mello no ano em que

Adhemar de Barros concorria à prefeitura de São Paulo.

Em retribuição ao apoio recebido, o candidato presenteou Mello com

um terreno, onde foi construído um templo provisório. Uma vez eleito,

Adhemar de Barros mandou demolir a construção, cedendo a pressões da

Cúria Metropolitana.

Manoel de Mello era um homem com um projeto político. Após o

incidente com Barros, lançou e apoiou diversos candidatos, até que a

intervenção dos militares em 64 veio interromper suas investidas no mundo

da política.

Manoel de Mello tinha uma visão. Suas idéias, ousadas para a época,

o colocavam na vanguarda. Um autêntico líder, era aceito por políticos, mas

visto com desconfiança pelo evangélicos. Com sua morte, ocorrida em

1990, não morreu o sonho de ganhar o Brasil para Cristo!

Em David Miranda temos outro exemplo de líder carismático, embora

de magnitude e intenções algo distantes das de Mello. A denominação

Page 23: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

23

fundada por Miranda, a Igreja Pentecostal Deus é Amor, experimentou um

crescimento tão vertiginoso a ponto de, em 1991, contar mais de cinco mil

templos e missionários em quase duas dezenas de países.14

Com a Deus é Amor surgiu um discurso que fará escola nas décadas

seguintes: a cura como eixo do discurso religioso. A Assembléia de Deus, a

Quadrangular e a Congregação Cristã também a enfatizavam, mas nenhum

ministério faria da sua pregação marca registrada. Importa menos perguntar

se do ponto de vista doutrinário essa ênfase é aceitável do que identificar na

Deus é Amor o embrião dos tele-ministérios de Edir Macedo, R. R. Soares

e outros.

O elemento mercadológico, o caráter propagandístico e o apego à

mídia estão todos presentes na Deus é Amor. Ela foi a primeira entre as

pentecostais a usar os programas de rádio maciçamente. Lenz César

menciona, em seu História da Evangelização do Brasil, que a Deus é Amor

irradiava 581 horas diárias de programa no início da década passada.15

Quando seu fundador anuncia-se como “o maior pregador de curas

divinas” e seu nome aparece nos letreiros afixados à porta de seus

templos16, não resta dúvida de que o protestantismo brasileiro entrou na era

dos líderes como estrelas, da personalização do Evangelho.

Os quadrangulares também impulsionaram a expansão da fé

protestante na década de 60. A Igreja do Evangelho Quadrangular foi

fundada nos Estados Unidos na década de 20 por Aimee Semple

McPherson, canadense de nascimento e trazida para o Brasil em 1951 pelo

14 CÉSAR, Elben M. L. Opus cit. p. 141 15 Ibidem, p. 140 16 Ibidem, p. 140

Page 24: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

24

ex-ator americano de filmes de faroeste Harold Williams.17 No início os

quadrangulares tiveram um crescimento modesto para uma igreja

pentecostal. Atingiriam as dimensões que têm hoje sob a liderança do

missionário George Russell Faulkner.

Faulkner chegou ao Brasil em 1962 e, três anos mais tarde, implantou

uma estratégia que levaria os quadrangulares a um crescimento espetacular.

Em 1999, eles eram mais de 1,5 e suas igrejas, presentes em todos os

estados brasileiros, já passavam de seis mil.18

A pregação da Quadrangular enfatiza os quatro aspectos do ministério

de Jesus: aquele que salva, batiza com o Espírito santo, cura e virá outra

vez. Mas o que a destaca do grupo de igrejas pentecostais é sua

preocupação com a formação teológica dos seus líderes e o espaço dado à

mulheres no ministério.19

No final dos anos 70 e início dos 80 teve início a segunda grande onda

de crescimento da Igreja Evangélica Brasileira. Missões, como a Sepal,

chegam ao país e injetam novas idéias na evangelização. Os jovens formam

verdadeiros exércitos e as “cruzadas” se multiplicam pelo país.

A sociedade havia entrado em transe e, mundo afora, a insatisfação

das novas gerações se cristalizava num movimento que ficou conhecido

como contracultura. “Drogas, sexo e rock-n-toll” ganhou status de ideologia

e John Lennon declarou que os Beatles eram mais populares que Jesus

Cristo. No Brasil, vivíamos os anos de chumbo do regime militar.

17 Ibidem, p. 129-130 18 Ibidem, p. 132 19 Ibidem, p. 133

Page 25: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

25

A literatura passa a ser cada vez mais usada como meio para divulgar

as Boas Novas do Reino. Numa nação de iletrados e onde livros eram

artigos de luxo, essa era uma estratégia audaciosa, para não dizer

revolucionária. A revista Mensagem da Cruz, publicada pela Editora

Betânia, reproduzia textos de David Wilkerson, já a essa altura

mundialmente conhecido. Os livros de Billy Graham, best-sellers no país,

enchiam as prateleiras das livrarias (não só evangélicas) e eram lidos

avidamente. Foi um verdadeiro boom!

Uma mudança de mentalidade vai aos poucos se processando no seio

da Igreja Evangélica Brasileira. O fervor evangelístico e o sucesso de

algumas denominações (principalmente as pentecostais) na conquista de

fiéis ajudou a sedimentar a idéia de que os evangélicos podiam crescer no

Brasil. Essa nova confiança contrapunha-se à timidez excessiva dos

evangélicos no passado. Até então, acreditávamos que nunca chegaríamos a

conquistar este país, tão grandes eram os obstáculos a superar. Era como se

nos contentássemos em ser uma minoria. Não apenas silenciosa, mas auto-

refreada. Isso foi deixado para trás nos anos 70. Entramos na terceira onde

de expansão.

A década de 80 foi marcada por um crescimento sólido e sustentado

dos evangélicos. As denominações, contudo, permaneceram em seu

isolamento uma das outras. Cada uma só sabia de si, avançava consciente

de seu crescimento individual, enquanto ignorava o que acontecia aos

outros irmãos. Em parte isso foi resultado do debate em torno do Espírito

Santo, causa da divisão entre pentecostais e tradicionais.

No final dos anos 80 a mídia passou a divulgar que as denominações

evangélicas cresciam assustadoramente. Éramos expressivos, contávamos e

Page 26: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

26

passamos a ser notados como nunca acontecera antes na história da Igreja

Evangélica Brasileira.

Havíamos crescido e não tínhamos nos dado conta disso. Um fato

ilustrativo dessa ignorância aconteceu durante uma entrevista na qual me

indagavam sobre como era possível explicar o crescimento da Igreja

Evangélica Brasileira. Quase caí na tentação de perguntar: “Que

crescimento?” Disse, então, ao jornalista: “A partir de que dados você está

falando?” Assustei-me quando ele me forneceu os números. Não queria

revelar minha desinformação. Passei, então, a falar a partir do que ele me

dissera.

E como crescemos?

Embora a Assembléia de Deus continuasse a liderar as ondas de

crescimento, este veio principalmente em decorrência da multiplicação de

ministérios independentes, muitos deles rebentos de igrejas pentecostais

como a Nova Vida, a Quadrangular e a própria AD. Entre as denominações

tradicionais, os batistas cresceram expressivamente.

A quarta onda: os neopentecostais Um historiador já afirmou que o poder não convive com o vácuo, mas

com o vazio. Foi exatamente isso que ocorreu com a Igreja Evangélica

Brasileira no fim dos anos 80 e início dos 90. O pentecostalismo explodia,

seus templos se multiplicavam pelo país e atraiam verdadeiras multidões.

Estavam colocadas as condições para o surgimento de uma nova liderança,

voluntariosa, de homens prontos para fazer a obra do Senhor.

Page 27: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

27

Alguns desses novos líderes haviam saído da Assembléia de Deus,

tinham uma base sólida, pois haviam crescido através da oração. Mas entre

eles também contavam-se homens que converteram-se há pouco, estavam

fora e foram atraídos pelo crescimento extraordinário do Evangelho.

Queriam fazer parte disso e aí decidiram criar seus próprios ministérios.

Movimentos como a ADHONEP (Associação dos Homens de Negócio do

Evangelho Pleno) serviram de plataforma para projetá-los.

O aparecimento dessa nova liderança coincide com uma importante

mudança ocorrida no fim dos anos 80. Até então havia uma concentração de

fiéis nas às classes menos favorecidas (C, D e E). Com o surgimento dos

neopentecostais, o Evangelho começa a ter penetração também nas classes

A e B. Inicia-se aí um processo, por assim dizer, de elitização da fé. Essa

mudança é sintomática, uma vez que a partir desse instante uma corrente

doutrinária especial vai se tornando prevalente, cuja ênfase vai estar

exatamente na bem-aventurança material do crente e na pregação do

sucesso como intrínseco à condição de filho de Deus.

Surgida na esteira do crescimento dos pentecostais, a nova liderança

precisou disputar espaço com a estrutura tradicional de poder da Igreja

Evangélica Brasileira. A velha liderança, contudo, não estava preparada

para absorvê-la nem aceitar seus métodos. Via com desconfiança esses

“crentes” vindos de fora, impactados pela mensagem do Evangelho,

desejosos de por fogo no mundo, mas sem paciência para aprender.

Sem se intimidar, os novos líderes não perderam tempo: iniciaram

ministérios, abriram suas próprias igrejas e foram para a mídia. Assim teve

início a ascensão meteórica dos neopentecostais.

Page 28: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

28

O que, afinal, há de errado com essa nova liderança? Embora honestos

em sua fé, seus representantes não se livraram dos vícios sincréticos da

cultura brasileira. Daí seus ministérios serem sincréticos, com uma

pregação também sincrética. Pentecostais no discurso, pregam parte das

ênfases evangélicas, mas pagam tributo à herança católica e espírita

populares. Carecem de ciência teológica para separar as coisas.

Os que identificam no discurso neopentecostal a união espúria entre fé

e superstição, denunciam como heréticos seus propagadores. Escand-

alizados, batem a porta na cara deles. E declaram: “Vamos parar por aí, isso

já passou dos limites”. Os que assim agem falam a partir do conhecimento

que possuem da história e da teologia da Igreja Evangélica Brasileira. O que

os preocupa é menos a polêmica do que a integridade da fé; mais a defesa

do Evangelho do que a prerrogativa de ser histórico.

A sedução da mídia e a paixão pelo crescimento Os movimentos neopentecostais são bem sucedidos por diversos

motivos. Primeiro, por que surgiram como ministérios autóctones ou deles

derivaram. Depois, porque lançam mão de modernas estratégias de

marketing para se promover. E, por fim, usam a mídia como veículo

primordial para propagar sua mensagem.

A televisão sempre exerceu fascínio sobre os evangélicos. Poucos,

porém, arriscaram-se nesse veículo. No passado, houve tímidos ensaios,

como o programa apresentado por Silas Gonçalves. Mas até a década de 90,

os evangélicos permanecem na periferia do sistema, comprando horário na

grade das emissoras para falar de Jesus. A mudança acontece quando eles

passaram para o outro lado do balcão e tornaram-se donos de canais de TV,

Page 29: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

29

como a Universal do Reino de Deus (Rede Record) e a Renascer em Cristo

(Rede Gospel).

Se algumas incursões primavam pelo bom gosto e correção

doutrinária (é o caso de Pare e Pense, programa apresentado pelo Pr. Caio

Fábio na extinta TV Manchete que obteve expressivo ibope, angariando

telespectadores até fora dos arraiais evangélicos), o mesmo não se pode

dizer dos programas exibidos atualmente nos canais abertos e na TV paga.

O uso indiscriminado da mídia tornou-se um traço marcante dos

neopentecostais. O sucesso extraordinário de seus telepastores já induziu

muita gente bem intencionada a proclamá-los como a última palavra em

evangelização. É possível que, em grandes aglomerados urbanos com as

cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, seja a forma mais “eficaz” de

transmitir o Evangelho. Será, porém, sempre uma ação coadjuvante, jamais

substituindo as formas tradicionais de pregação ou as comunidades locais,

onde o povo de Deus se reúne para compartilhar a Palavra e adorar a Deus..

É preciso repetir: o sucesso midiático da nova liderança evangélica

não deve nos impedir de ver o quanto há de perigoso para a fé (e para a

Igreja Evangélica Brasileira, em especial) numa pregação que se caracteriza

por um laço teológico fraco, senão duvidoso.

Os evangélicos, inebriados pela própria imagem, fizeram da mídia seu

“bezerro de ouro”. Usam a TV como um instrumento neutro, nunca parando

para se perguntar se ali onde está a oportunidade (levar a mensagem do

Evangelho a todos os lares!), também não reside o maior perigo (a

descaracterização dessa mesma mensagem). Os evangélicos aceitaram a

Page 30: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

30

mídia pelo seu valor de face, receberam-na como lhes foi ofertada. O preço

parece todos começamos agora a pagar.

A Igreja pode e deve fazer uso dos meios de comunicação. Colocados

a serviço do Reino de Deus, são instrumentos poderosos na propagação do

Evangelho. O erro está no uso indiscriminado e acrítico da mídia, em

sucumbir à sua sedução, ao glamour e ao poder que ela confere aos que

estão na frente das câmeras. É preciso reconhecer: há meios que se

contrapõem à Palavra de Deus, trazem em si a negação mesmo da

mensagem (o amor de Deus pelo mundo) que anunciam. E os evangélicos

falharam desgraçadamente em não ter esse discernimento.

O que teria obliterado aquele salutar apego à ortodoxia da doutrina, à

correção teológica, tão característico do protestantismo? Por que nos

deixamos hipnotizar pelo poder transitório e elusivo da mídia?

Há muito a palavra de ordem entre os evangélicos tem sido “crescer”.

Circunscrita no começo aos grupos pentecostais, a preocupação com o

crescimento foi, pouco a pouco, entrando para agenda das denominações

protestantes históricas.

Crescer tornou-se nossa paixão. Uma paixão que nos obseda, turva

nossa razão e arrasta-nos para longe dos propósitos de Deus. Não nasce do

sincero desejo de trazer homens à salvação, encher o aprisco do Senhor.

Não, essa paixão pelo crescimento emerge como sanha mal disfarçada em

operosidade, cobiça travestida de fervor. Queremos crescer a qualquer

custo. E para quê? Para ter poder, visibilidade, sucesso!

Ninguém parece ter escapado a isso. Todo pastor, não importa a qual

denominação pertença, já ouviu falar, pelo menos uma vez, de “modelos”

Page 31: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

31

que prometem crescimento rápido: igreja em células, G12 etc. “Trinta mil

células em cinco anos? Opa, eu quero”. Aqui e ali se ouve uma crítica a este

ou aquele modelo, mas ninguém quer abrir mão do crescimento. É preciso

crescer, e crescer rápido.

Fé e sincretismo Talvez nenhum outro país tenha um caldo cultural tão complexo

quanto o Brasil. Somos miscigenados. Uma raça que é todas e nenhuma. O

efeito desse mosaico de traços culturais díspares revela-se mais fortemente

em nossa religião, acentuadamente sincrética.

Esta é uma constatação assustadora. No Brasil, afirma Ricardo

Gondim, em seu O Evangelho da Nova Era, “negros, europeus e nativos

deixaram de ser africanos, brancos e índios para assumirem simplesmente

uma nova identidade”. E completa: “Se esta peculiaridade ajudou para que

o Brasil tivesse uma só língua, uma só cozinha, contribuiu também para que

nascesse uma religião nova, autenticamente nacional”.20

O movimento neopentecostal se fortalece precisamente desse

sincretismo religioso, desse ambiente indistinto, no qual as “verdades” nas

se excluem, antes se reforçam. Numa religião sincrética o Evangelho

ganhará todos e nenhum sentido na boca de católicos, espíritas e

evangélicos. É a fé a la carte!

Todos os componentes místicos autênticos do Cristianismo como que

se diluem, perdem sua força em contato com elementos espúrios que tem

apelo menos à razão do que ao coração, capturam mais a imaginação do

20 GONDIM, Ricardo, O Evangelho da Nova Era: Uma Análise e Refutação Bíblica da Chamada Teologia da Prosperidade. Abba Press. São Paulo, 1993, p.10

Page 32: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

32

crente do que sua capacidade de pensar. A supertição toma o lugar da fé, o

transcendente dá lugar ao esotérico, o espiritual confunde-se com o oculto.

Entramos na esfera do sobrenatural, mas não necessariamente na presença

de Deus.

Liderança e personalismo Os novos líderes retomam ainda o coronelismo, traço que marca a

cultura brasileira e permeia todas as estruturas sociais, quer privadas ou

públicas, laicas assim como religiosas. Poderia ser diferente, tendo esse

movimento erguido-se em torno de igrejas autóctones? É duvidoso.

Os neopentecostais são reconhecidos pela centralização do poder nas

mãos do líder, daí ser até natural que práticas coronelistas de mando

medrem entre eles. Mas seria isso de todo mal? Ao assimilar o coronelismo,

os líderes neopentecostais estariam mais próximos do “povo” e da cultura

brasileira do que as igrejas tradicionais com seu modelo mais

parlamentarista de organização. Se, por outro lado, estariam mais próximos

do Evangelho é algo aberto à discussão.

Nenhuma igreja, contudo, exemplifica melhor isso do que a Universal

do Reino de Deus, e ninguém levou essa fórmula à perfeição como seu

fundador e líder, o Pr. Edir Macedo. É possível até ver tentativas mais ou

menos bem sucedidas de copiar o sucesso da Universal em igrejas como a

Casa da Benção e a Internacional da Graça, ou ministérios como Sara Nossa

Terra e Renascer em Cristo. Mas a trajetória da Universal é paradigmática e

até agora permanece como o maior triunfo da onda neopentecostal.

A Universal teve o mais meteórico e sustentado crescimento entre as

três mais importantes igrejas autóctones brasileiras (as outras duas são a

Page 33: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

33

Brasil para Cristo e a Deus é Amor). Edir Macedo é um dissidente da Igreja

da Nova Vida, celeiro de onde saíram outros líderes neopentecostais, como

R. R. Soares (da Internacional da Graça) e Miguel Ângelo (da Cristo Vive).

Saber como a Universal se tornou dona de um império midiático é menos

importante do que identificar em seus métodos e discurso a gênese da mais

perigosa corrente doutrinária a ameaçar nossa herança reformada: a

Teologia da Prosperidade.

Se no pentecostalismo a ênfase recai sobre as línguas estranhas, a cura

de enfermidades e a expulsão de demônios, na pregação da Universal esses

elementos subordinam-se a uma visão mais ampla da existência cristã, na

qual sobressaem a realização financeira e o desfrute do sucesso individual.

Nessa visão, a salvação ganha novo sentido.

Antes de tudo, porém, é preciso reconhecer que a Universal não é uma

igreja herética. A rigor, nada do que ensina pode ser tido como contrário à

ortodoxia protestante. Ela anuncia que o homem é pecador e está distante de

Deus, prega a necessidade de arrependimento e a salvação pela fé no

sacrifício expiatório de Jesus. Proclama o Senhorio de Cristo, sua segunda

vinda e a unidade da igreja. Sua doutrina do Espírito Santo em nada difere

do pregado pela Assembléia de Deus e outras igrejas pentecostais

históricas. Tudo isso pode ser dito a favor da Universal, sem

necessariamente se fazer uma apologia de suas práticas litúrgicas ou de seus

ensinamentos sobre o poder do crente. É precisamente neste ponto que as

coisas ganham contorno e coloração diferentes.

A jornalista e professora da PUC de São Paulo Márcia Benedetti

Machado sugere que a Universal vai além do que se pode chamar de uma

Page 34: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

34

igreja convencional, preocupada com a salvação do homem e a

proclamação do Evangelho. A Universal defende um verdadeiro ideário,

cujo caráter ideológico nem sempre é percebido por seus críticos.

Autora de Deus vence o Diabo: O Discurso dos Testemunhos da

Igreja Universal do Reino de Deus21, Márcia Benedetti afirma sustentar-se

esse ideário em três conceitos: salvação, cura e prosperidade. Eles

preencheriam lacunas deixadas outras religiões, principalmente pelo

catolicismo. Parte do sucesso alcançado pela Universal residiria exatamente

aí. Percebe-se, então, o entorno que delimita claramente a soterologia da

Universal.

“A salvação não é mais privilégio a ser desfrutado apenas depois da

morte”, pondera a professora. E conclui: “Ser salvo no Juízo Final é

certamente uma promessa da igreja, mas a salvação está estreitamente

relacionada à felicidade que o indivíduo pode conquistar ainda hoje, no

plano terreno”. Pode-se afirmar que, enquanto mantém os elementos

transcendentes da fé cristã, a pregação da Universal introduz-se um

componente mundano, secular, imanente, que associa a salvação da alma a

conquistas materiais.

Márcia Benedetti prossegue em sua análise e diz: “A cura, por sua

vez, mobiliza todas as dores humanas. Ela abrange não só a cura física, mas

também a dos sofrimentos emocionais. O fim das desavenças familiares e

do desejo do suicídio, por exemplo, estão no mesmo nível das doenças

21 Tese de doutorado defendida na PUC de São Paulo

Page 35: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

35

físicas”. O último componente dessa linha de pensamento é, segundo a

professora, “o apelo à realização financeira e ao sucesso”.22

Não é difícil entender por que a Universal experimentou um

crescimento tão extraordinário em pouco mais de duas décadas. Chegou a

um milhão de membros apenas 17 anos depois de fundada23. Em 1989, a

Universal tornou-se proprietária da Rede Record de Televisão. Que a

aquisição esteja cercada de suspeitas e Edir Macedo tenha sido

freqüentemente atacado por seus maiores concorrentes (os Marinhos, da

Rede Globo) não diminui o tamanho da proeza nem anula o efeito que a ela

se seguiu.

Márcia Benedetti adverte contra a aparente simplicidade do discurso

da Universal. Seu estudo dos testemunhos ouvidos nos templos dessa igreja

revela “uma lógica complexa”. “O homem é dotado de livre-arbítrio, pode

escolher seguir os preceitos de Deus ou não. Deus, por sua vez, está

disponível para o homem, desde que este de fato queira suas benesses. Se o

homem chamar e tiver fé, Deus atenderá”, explica Márcia Benedetti.

Surge, então, a indagação: “Qual é a medida da fé?”. A resposta, diz a

professora, é que não há como sabermos. “O indivíduo pode pedir a Deus

que atenda seus desejos e ainda assim nada acontecer. Nunca será culpa de

Deus, e sim falta de fé.”

22 As citações feitas aqui foram retiradas de uma entrevista, concedida por Márcia Benedetti machado ao Observatório da Imprensa. A íntegra pode ser lida no site do Observatório ( www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos). 23 CÉSAR, Elben M. L., História da Evangelização do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais. Ultimato Editora. São Paulo, 2a. edição, 2000, p. 149. A Universal foi fundada em 1977, no Rio de Janeiro, com o nome de Igreja da Benção, num prédio antes ocupado por uma funerária. No ano seguinte veio a chamar-se pelo nome atual. Além de Macedo, foram fundadores da Universal R. R. Soares e Miguel Ângelo. Até hoje ignora-se o motivo de sua separação.

Page 36: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

36

Márcia Benedetti avança um pouco mais em seu exame para mostrar

como fé e bem-aventurança material se vinculam no discurso da Universal.

“Entra aí um segundo elemento complicador”, diz ela, “que é a expressão

da fé por meio do sacrifício financeiro. Doando mais do que poderiam, as

pessoas ‘desafiam’ Deus a cumprir os seus desejos.” Estabelece-se desse

modo uma relação anômala, na qual o Criador torna-se refém da criatura.

Essa inversão de prerrogativas (o homem dando “ordens” a Deus, exigindo

que Sua bondade se manifeste por meio da resposta a uma súplica) fica

como que escamoteada na oração do fiel que diz: “Sou Teu filho, Senhor,

ouve minha oração. Já fiz o meu sacrifício, agora dá o que Te peço”.

Por mais que a análise de Márcia Benedetti seja acertada (e o é em

mais de um ponto), ele deixa de fora o que mais nos preocupa aqui:

identificar o elo que une a ascensão da Universal à, por assim dizer,

institucionalização da Teologia da Prosperidade no Brasil.

Na igreja fundada por Edir Macedo encontramos todos os elementos

subjacentes ao discurso dos teólogos da Prosperidade: a ênfase no poder da

oração para curar os males do corpo como do espírito; o poder do crente

para exercer domínio sobre o mundo espiritual; a prosperidade material

como sinal de espiritualidade elevada e fé imbatível; a relação intimista

com Deus e a subjetividade como instância última das certezas do fiel; o

uso da palavra para comandar e mover o intangível; e, por fim, o incentivo

à “posse” das bênçãos divinas.

Uma vez mais, porém, é preciso fazer a ressalva de que nem Edir

Macedo nem a sua igreja podem ser tidos em conta como responsáveis pela

maneira como essa corrente, com o perdão do trocadilho, prosperou entre

nós.

Page 37: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

37

Page 38: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

38

Page 39: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

39

I I I P O R U M A N O V A E C L E S I O L O G I A

Fé e auto-ajuda Quando o Evangelho começou a ser pregado no Brasil, fomos

ensinados que pertencíamos a Deus. Converter-se era sair do estado de

rebelião e vir para o de submissão. As igrejas de teologia tradicional, tanto

as históricas quanto as de orientação petencostal, ensinavam que conversão

implicava rendição, entrega incondicional. Era a época do “Deus, vem, me

quebra, faz de mim um vaso novo, tudo Te entregarei. Sou Teu, senhor!”

Essa humilde confissão deu lugar a um discurso triunfalista, de

exaltação do indivíduo e suas necessidades, uma declaração de posse

(“Deus é meu e tudo é meu”), que se não reduz Deus a um objeto, o torna

refém de quem se proclama seu seguidor. Eis a profissão de fé da Teologia

da Prosperidade.

Nascida nos Estados Unidos, a Teologia da Prosperidade espalhou-se

com extrema rapidez pelo Brasil. Seus defensores não se encontram apenas

entre os neopentecostais. Tem conquistado adeptos também entre os

evangélicos tradicionais e seu alastramento representam sérios desafios à

Igreja Evangélica Brasileira. Com ênfase nas “bênçãos” e indisfarçável

aversão à Cruz (metáfora do sofrimento, dor e perseguição que

acompanham os verdadeiros seguidores de Cristo), A Teologia da

Prosperidade coloca em xeque nossa herança protestante.

Page 40: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

40

Uma fórmula pregada com exagerada ênfase por esse novo credo

afirma ser o crente uma pessoa “especial”, subtraída quase às leis da vida e

para quem não existira pobreza e doença. Experimentá-las seria sinal de

falta de fé. Saúde e riqueza tornam-se, por assim dizer, sinais genuínos da

salvação, do estado de graça do fiel. Daí esse movimento também ser

conhecido como Wealth and Health Gospel.24

O pobre de Nazaré que nasceu numa manjedoura (Lc 2.7) e não tinha

onde reclinar a cabeça (Mt 8.20); o filho de um carpinteiro que pregava o

desapego aos bens deste mundo e ensinava a juntar tesouros onde a traça e

o ferrugem não corroem (Mt 6.19-21); o profeta, enfim, que terminou seu

ministério abandonado pelos discípulos (Mc 14.50) e pregado num madeiro

(Jô 19.17) fez da Cruz, e não do bem estar físico e material, o centro do seu

Evangelho.

Numa inversão de valores, os profetas da prosperidade colocam a

conquista da felicidade no plano terreno como o summu bonus da bem-

aventurança cristã, quando a Bíblia exorta-nos a buscar em primeiro lugar o

reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33). A posse das bênçãos deixa de ser uma

promessa dada por Deus para ser um direito, exigido pelo fiel com quem

pleiteia uma herança ou reclama um bem.

Um exemplo de como esse discurso se instalou entre nós pode ilustrar

melhor o abismo entre a Teologia da Prosperidade e o Evangelho. Certa

ocasião, encontrava-me numa igreja e o pregador da noite anunciou que nos

ensinaria a orar a partir da história do filho pródigo (Lc 15.11-32). “Isso

vai ser bárbaro!”, pensei, porque nessa parábola realmente há uma lição de

24 CÉSAR, Elben M. L., História da Evangelização do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais. Ultimato Editora. São Paulo, 2a. edição, 2000, p. 148

Page 41: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

41

arrependimento, humildade, conversão. A surpresa veio quando o pregador

aferrou-se apenas ao versículo 12, em que se lê “Pai, dá-me a parte dos bens

que me cabe”.

O que se seguiu foi estarrecedor. Ele dizia: “Irmãos, vocês têm que

chegar a Deus e dizer: Dá o que é meu”. Aos berros, continuava:

“Cheguem diante do trono da glória, olhem para Deus e digam: Dá o que é

meu”. Embora honesto em suas convicções, esse irmão caíra vítima do

discurso triunfalista da Teologia da Propriedade, deixara-se seduzir pela

idéia de que o cristão precisa desafiar Deus a demonstrar seu amor por nós,

respondendo as nossas súplicas.

Como estamos distante da Reforma. E mais distantes ainda do

Evangelho de Jesus Cristo.

Há, por trás de frases como “Deus é para mim!”, “Sou cabeça e não

cauda” e “Eu tenho direito, sou filho Deus”, uma definição do homem que

não é cristã nem bíblica. As Escrituras ensinam que nossa existência deve

refletir a glória de Deus. O cerne da mensagem do Evangelho é esse: Deus

cria o homem para sua glória. O cristão (e a igreja) é antes de tudo aquele

que adora o seu Criador, que exalta Seu nome. Essa nossa resposta ao amor

de Deus.

Numa pequena obra em que refleti sobre a natureza e a missão da

igreja, afirmei: “O primeiro projeto a ser entabulado pela igreja deve ser o

de adorar, fomentar uma relação de amor e gratidão com Deus.25 ” Nisso

parece residir o sentido último da revelação divina.

25 RAMOS, Ariovaldo, Igreja: E eu com isso?. Editora Sepal. São Paulo, 2000 p. 22

Page 42: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

42

Quando criticamos acima a busca frenética por crescimento, tínhamos

em vista precisamente isso: a subordinação do caráter adorador da igreja à

preocupação com o seu tamanho. Nossa crítica não implica na renúncia ao

crescimento em si, apenas à maneira equivocada como ele tem sido

encarado pelos líderes. “Quando se fala de projeto para a Igreja local,

pensa-se logo na questão do crescimento. Porém, o que a Igreja pode fazer

em termos de aumento numérico é, no poder do Espírito Santo, pregar

fielmente a palavra de arrependimento e de submissão ao Senhor Jesus

Cristo”.26

A Igreja Evangélica precisa com urgência recuperar sua eclesiologia,

sob pena de perder sua identidade. Precisa outra vez encontrar o rumo,

voltar àquela visão do Evangelho de que fomos feitos para a glória de Deus.

Na corrida para crescer, deixamos para trás nossa herança reformada e com

ela o sentido de ser igreja.

Muitos já não sabem nem para onde estão levando suas igrejas. Numa

reunião de pastores, tempos atrás, presenciei uma discussão sobre a melhor

maneira de se administrar uma igreja. Depois de ouvir o que todos tinham a

dizer, perguntei: “Digam-me, numa frase, o que é uma igreja edificada?

Como vocês podem ter certeza de que estão edificando a Igreja de Jesus

Cristo?” Calaram-se sem resposta, surpresos com a própria ignorância.

É inócua qualquer discussão sobre “métodos”, quando não se tem

resposta para essas perguntas. Se ignoramos o destino, por que nos

preocupar em saber que caminho tomar?

– Qual o caminho?, perguntou a menina.

26 Ibidem, p. 22

Page 43: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

43

– Para onde você quer ir?, devolveu o gato.

– Ah, para qualquer lugar.

– Mas para quem quer ir para qualquer lugar, qualquer caminho

serve.

Esse diálogo acontece no clássico de Lewis Carrol Alice no País das

Maravilhas e ilustra, de modo um tanto trágico, o dilema da Igreja

Evangélica Brasileira. Numa era dominada pelo marketing religioso e pelos

púlpitos midiáticos, a igreja vê-se acossada pela angústia de ter perdido seu

Norte. Daí a urgência de recuperar o senso eclesiológico dos reformadores,

a teologia paulina do Corpo de Cristo.

Daí também a necessidade de repetir o que dissemos acima: a Igreja

precisa recuperar aquela visão do homem que é o cerne do Evangelho, de

que fomos feitos para a glória de Deus. Eis uma verdade esquecida e que

precisa ser repetida uma vez mais. O assalto que a Teologia da Prosperidade

representa à verdade bíblica sobre o ser cristão coloca a Igreja Evangélica

Brasileira no limiar de uma revolução, só que de conseqüências desastrosas.

Não se pode transigir com a Revelação, fazer concessões aqui e ali

para tornar o Evangelho mais palatável e lotar templos. Jesus não precisa

disso. O risco é diluir o chamado ao arrependimento e à conversão em auto-

ajuda, transformar a igreja num clube.

Denunciei esse “outro evangelho” quando escrevi: “Ainda que a igreja

local, num projeto de evangelização, possa desenvolver metodologias que a

tornem mais eficaz na pregação do Evangelho, é preciso compreender que a

Igreja prega, mas só o Espírito Santo converte. Não dá, portanto, para ter

garantias de crescimento, a menos que se troque o verdadeiro Evangelho de

arrependimento por técnicas de manipulação de massa; a menos que, em

Page 44: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

44

lugar da Cruz, ofereçam-se técnicas de auto-ajuda; que se substitua a busca

prioritária do Reino pelo conforto descompromissado dos ‘filhos do rei’;

que, ao invés da comunhão [...] forme-se um clube, e em lugar do Senhor

Jesus apresente-se um “gênio da lâmpada”.27

O processo que permitiu a assimilação pela Igreja Evangélica

Brasileira de elementos estranhos à tradição reformada e à sua própria

herança histórica pode ser melhor compreendido se olharmos para o modo

como os pastores de hoje lêem a Bíblia. Eles orientam-se por uma exegese

de conveniência, sua leitura distorce o texto e força-o a deitar numa cama

de Plocustro. Pegam um texto e não se sabem o que ele diz. Falham em

encontrar o sentido original que o texto tinha quando foi escrito, nem sabem

como interpretá-lo para os nossos dias ou como podemos aplicá-lo às

nossas vidas.

Lembro-me de conversar com um irmão que acabara de pregar sobre a

promessa contida em Fl 4.13. Escutei o sermão e o procurei para saber se

ele havia entendido o contexto do famoso versículo. Minha pergunta não

fez sentido para ele, assim como lhe escapara a compreensão do que Paulo

dizia ali. Insisti e perguntei: “Escuta, você sabe o que o apóstolo diz aqui?

Ele não afirma o que você falou. Paulo declara que, porque Deus o

fortalece, ele pode viver tanto na pobreza como na riqueza, na abundância

como na escassez. É isso que ele diz: Não importa a situação em que você

está, pois é sustentado pelo Deus que fortalece; a força dele vem de Deus, e

não das coisas que estão à sua volta. Você não viu isso no contexto?”.

27 Ibidem, p. 23

Page 45: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

45

Tudo isso agudiza ainda mais a sensação de que perdemos o rumo, de

que nos encontramos à deriva, sem leme e sem bússola.

Page 46: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

46

Epílogo

Houve um tempo em que a única coisa a nos dividir era saber qual a

melhor forma de ser santo. Tradicionais e pentecostais colocavam-se em

campos opostos, estes dizendo que era preciso receber o batismo com o

Espírito Santo e ser cheio dos dons espirituais enquanto aqueles afirmavam

ser suficiente o estudo científico da Bíblia para se alcançar à santificação.

Uns buscavam o fogo do Consolador; os outros, a compreensão da Palavra.

Era um tempo em que, por assim dizer, valia a pena brigar.

Não deixa de ser irônico a Igreja Evangélica Brasileira experimentar

hoje uma tal desorientação doutrinária, marcada que é sua trajetória pela

presença de denominações protestantes ditas históricas. Que tenhamos

chegado a esse dilema (crescer e manter a identidade) é menos

surpreendente do que assustador.

Reatar o vínculo com os princípios da Reforma e voltar àquela fonte

primeira e última da verdade (Palavra de Deus revelada na Bíblia) é a mais

urgente tarefa a nos esperar. E é na história da Igreja Evangélica Brasileira

que encontraremos a inspiração e a coragem necessárias para realizá-la. O

senso de dever deveria nos lembrar nossa dívida com aqueles que lutaram

(e até morreram) para trazer o Evangelho para este país.

Queria concluir este pequeno livro com palavras mais otimistas,

acreditando numa saída para o dilema enfrentado pelo protestantismo

brasileiro. Queria compartilhar com o leitor a esperança de ver a Igreja

Evangélica Brasileira trilhando novamente o caminho aberto pelos

pioneiros da fé. A honestidade intelectual, no entanto, me obriga reconhecer

Page 47: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

47

que fomos vitimados pela idéia de que precisamos ter igrejas grandes para

ter o poder político e econômico, aquela coisa de “todo mundo me conhece,

sabe quem eu sou”. Sucumbimos exatamente àquilo contra o que Paulo

advertia Timóteo: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentações, e

cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais

afogam os homens na ruína e na perdição”. Que a graça de Deus nos

ampare.

Page 48: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún

48

Bibliografia

ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. A igreja Evangélica e o Brasil – Profecia, Utopia e Realidade. Proclama Editora. Niterói, 1997.

ANTONIAZZI, Alberto e FRESTON,Paul. Nem anjos nem demônios – Interpretações Sociológicas do Pentecostalismo. Editora Vozes. Petrópolis, 1994.

CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado – Organização e Marketing de Um Empreendimento Neopentecostal. Co-edição Editora Vozes, Umesp e Edições Simpósio. Petrópolis, 1997.

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil – Dos Jesuítas aos Neopentecostais. Ultimato Editora. São Paulo, 2a edição, 2000.

GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era – Uma Análise e Refutação Bíblica da Chamada Teologia da Prosperidade. Abba Press. São Paulo, 1993.

MENDONÇA, Antonio Gouveia. O Celeste Porvir – A Inserção do Protestantismo no Brasil. Aste. São Paulo, 1995.

RAMOS, Ariovaldo. Igreja, e eu com isso? – Compreendendo a Igreja Para Poder Vivê-la. Editora Sepal. São Paulo, 2000

REILY, Duncan. História Documental do Protestantismo no Brasil. Aste. São Paulo, 1984

ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise – Decadência Doutrinária da Igreja Brasileira. Mundo Cristão. São Paulo, 1995.

ROMEIRO, Paulo. Supercrentes – O Evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade. Mundo Cristão. São Paulo, 1993.

Page 49: (ebook - evangélico) livro - ariovaldo ramos e ricardo bitún - é tempo de refletir

É Tempo de Refletir

49

Caso tenha gostado deste livro, que tal ficar por dentro dos últimos lançamentos em eBooks do Site

Letras Santas?

SIM, QUERO CONHECER OS LANÇAMENTOS PERIÓDICOS E FICAR INFORMADO SOBRE AS

NOVIDADES DO SITE LETRAS SANTAS.

Mande um e-mail: [email protected]

ou visite o site:

www.letrassantas.hpg.com.br

Que Deus o abençoe ricamente!


Top Related