Mestrado em Engenharia e Gestão de Sistemas de Informação
2013/2014
E-government and social media: The
role of social media in government!
Universidade do Minho
Rui Rocha - Nº 53865
Tecnologias e Sistemas de Informação no Governo
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Índice Introdução ..................................................................................................................... 3
A E-revolução ............................................................................................................... 3
Os media sociais ........................................................................................................... 4
E-government e os media sociais .................................................................................. 5
Quem utiliza os media sociais ...................................................................................... 6
A importância para os governos ................................................................................... 7
A Confiança............................................................................................................... 8
A transparência .......................................................................................................... 8
Diminuição dos recursos disponíveis ........................................................................ 9
Limitações e o que implica ......................................................................................... 10
O Governo Português e os media sociais ....................................................................... 12
Conclusão ....................................................................................................................... 13
Referências ..................................................................................................................... 14
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Introdução
Este relatório enquadra-se na unidade curricular de Tecnologias e Sistemas de
Informação no Governo (TSIG) do 4º ano do Mestrado Integrado em Engenharia e Gestão
de Sistemas de Informação (MIEGSI) lecionado na Universidade do Minho.
Irá ser discutida e analisada a questão, “E-government and social media: The
role of social media in government!”
Inicialmente vamos perceber o que são os media sociais, e de que forma estão a
gerar uma revolução na forma como comunicamos e interagimos com os outros, os
conceitos de e-government e Web 2.0 serão abordados, vamos perceber a importância
destas ferramentas para os governos e quais as suas principais limitações e implicações.
Vamos tentar responder à questão: quem utiliza os media sociais? E por fim será analisado
o panorama no nosso país, o nosso governo utiliza os media socias? Como? E para que
fim?
A E-revolução
O modelo tradicional de como as pessoas têm acesso às suas notícias mudou. Não
só cada vez mais as pessoas obtêm as suas notícias nos media socias, como os media
sociais são as noticias. Nunca foi tão fácil aceder a tanta coisa em tão pouco tempo, nunca
as pessoas tiveram tanta facilidade em educarem-se e informarem-se. O recurso aos media
socias permite espalhar a palavra a milhões de pessoas de forma quase instantânea,
promove a partilha e a discussão, nunca a pessoa se sentiu tão parte da noticia como hoje.
A Primavera Árabe é o espelho desta revolução, governos caíram, mentalidades
foram mudadas, e os media sociais foram responsáveis pela rápida e massiva
disseminação destes movimentos de mudança, de facto, pode se considerar que foram os
grandes responsáveis por incitar estes movimentos.
Muita da cobertura feita a estes acontecimentos focou-se nos media sociais e até
os usou como fonte para uma perspetiva mais próxima do terreno daquilo que estava a
acontecer, transformando de forma quase instantânea estórias de pessoas locais, normais,
em noticias internacionais.
Não existem limites para esta revolução, é transversal a todas as classes sociais,
não reconhece géneros ou ideação politica, é aberta a todos e ignora limites geográficos,
acontece todos os dias, todos os segundos, cresce à nossa volta, com o nosso contributo
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como meros consumidores ou como parte ativa no processo de criação e partilha de
notícias e estórias.
A Primavera Árabe e o movimento Occupy ensinaram uma importante lição ao
mundo e aos governos em particular, com recurso aos media sociais, um cidadão normal
tem um canal permanentemente aberto para falar, partilhar, ligar-se, e por último
mobilizar as massas a agirem.
Os media sociais
Os medias sociais incluem redes sociais como o Facebooh, Google+ ou o Twitter,
blogs, wikis, ou sites de partilha multimédia como o Youtbe e o Flickr. Insere-se no
conceito de Web 2.0, que encara a internet como uma plataforma onde os utilizadores
criam conteúdo, e estabelecem redes de contato (Magro, Ryan & Sharp, 2009).
Media social é uma ferramenta de comunicação que opera dentro das redes sociais
(Landsbergen, 2010), possibilita ao público a interação com comunidades diversificadas
e de larga escala (Waters et al. 2009). Ao contrário dos governos que operam de forma
centralizada e hierárquica, os media sociais permitem às pessoas, criarem redes mais
restritas ou mais abrangentes onde podem partilhar informação e resolver problemas
(McCarty 2008).
Segundo Bertot, Jaeger e Grimes (2010), os media sociais assentam em quatro
pilares principais: colaboração, participação, empoderamento e tempo. São colaborativos
e participativos por natureza, permitem aos utilizadores ligarem-se e formarem
comunidades com interesses em comum, fornecem uma plataforma onde podem
expressar as suas opiniões e criar conteúdo de forma quase instantânea e quase sem
despesas, conseguem ainda democratizar eficazmente os media e a informação. Por
último os media socias têm como grande vantagem um modelo alternativo de difusão de
notícias, fornece uma via de comunicação de sentido duplo e proporciona interatividade
instantânea ao invés do modelo habitual de difusão de notícias, por uma via de sentido
único, quer seja a televisão, os jornais ou páginas estáticas de internet.
Não restam dúvidas que os media socias vão desempenhar um papel cada vez mais
importante na interação online e na organização, criação e disseminação de
conhecimento. Os sites já referidos, Facebook e Twitter tiveram um aumento de
participação e uso de 200 e 368% respetivamente só em 2009. Atualmente, segundo o
Statistic Brain e Internet World Stats, o Facebook tem 1.230.000.000 de utilizadores e
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continua a crescer diariamente. Para percebermos a dimensão deste número, se o
Facebook fosse um país seria o terceiro mais populoso do mundo.
Os media sociais são mais do que posts, e tweets, são uma ferramenta poderosa
capaz de influenciar milhões em apenas alguns instantes, apesar da sua força os governos
têm atuado com lentidão na sua adoção, negligenciando os benefícios do uso destas
ferramentas.
A questão que se coloca não é se os governos devem adotar os media sociais, mas
sim como o devem fazer.
E-government e os media sociais
A utilização da internet, por parte dos governos, para comunicar com os cidadãos
não é uma novidade, esta prática é habitualmente conhecida por e-government e inclui
todas as comunicações e atividades online de um governo (Dixon, 2010).
E-government é o uso de tecnologias de informação e de comunicação (TICs) no
governo, como forma de melhorar a eficácia, prestar serviços públicos eficientes e
promover valores democráticos (Gil-Garcıa et al. 2003). No entanto a adoção deste tipo
de serviços tem sido mais lenta do que o perspetivado, os cidadãos que utilizaram serviços
de e-government estão a voltar ao método tradicional, uma vez que ao usarem este tipo
de serviços, os cidadãos têm de acreditar que eles são fidedignos (Belanger & Carter,
2008), o que nos conduz a uma questão importante, abordada no seguimento deste
trabalho, a confiança nos serviços de e-government e nos media sociais em particular.
As práticas de e-government enquadram-se bem nesta era das tecnologias, da Web
2.0, da interação online e têm o condão de ver o cidadão como um parceiro na governação
(Anttiroiko, 2004).
Os media sociais permitem aos governos interagir diretamente com os cidadãos,
o que fornece uma fonte inestimável de feedback, tornando-os aliados preciosos na
governação. Este facto promove um conceito cada vez mais emergente, a e-democracia,
que pode ser descrita como um recurso que converte o envolvimento dos cidadãos em
processos democráticos (Stayaert, 2000).
A teoria da democracia diz-nos que os atos eleitorais são importantes para angariar
responsabilidade e legitimidade para um governo. As novas tecnologias reduzem os
custos e o tempo necessário para transmitir e receber informação dos eleitores, permitem
a estes terem a capacidade de avaliar os registos do governos e os seus membros, fornece
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ainda os meios para que os eleitores possam interagir diretamente com os oficiais dos
governos. Segundo a pesquisa do Freedom in the World, existem em 2014, 195 países
com um sistema democrático como base, os media sociais constituem um recurso chave
para o bom funcionamento da democracia, uma democracia funciona melhor quando as
pessoas estão diretamente envolvidas no debate político e nas decisões, o que já
afirmamos ser promovido pelos media sociais. As novas tecnologias, e os media sociais
em particular, podem ser igualmente importantes na recuperação de cidadãos que se
desligaram de uma participação ativa no seu governo e no debate social. “E-democracy
can overcome space and time constraints on public involvement, as well as those
associated with status differentials, such as age, gender, ethnicity, and wealth” (Scott,
2006, p. 344).
Um estudo efetuado por Bonson, Torres, Royo e Folres (2012) sobre governos
locais na Europa, conclui que muitos destes governos perceberam as oportunidades
oferecidas pelo uso dos media sociais, e que disponibilizando as suas noticias por estes
veículos conseguiam aumentar largamente o alcance de público a um custo muito
reduzido, estes governos utilizam também estes meios para aumentar a transparência da
sua governação, na tentativa de aumentar a confiança por parte dos seus eleitores. Do
ponto de vista do cidadão, este estudo mostrou ainda, que estes se sentem mais envolvidos
com o governo e com a tomada de decisão, que se sentem mais próximos dos seus
representantes e que possuem uma plataforma onde podem expressar as suas opiniões e
serem ouvidos.
Quem utiliza os media sociais
Pesquisas mostram uma relação entre a idade dos utilizadores, a sua capacidade
de adaptação e adoção de novas tecnologias.
Os utilizadores predominantes dos media sociais são jovens adultos, e três quartos
são adultos com menos de 25 anos, com perfis em redes sociais. A popularidade destes
sites atrai cada vez mais utilizadores de faixas etárias mais velhas, em 2005 apenas 8%
dos utilizadores adultos tinham um perfil em redes sociais, em 2009 este número
aumentou para 35% (Lenhart, 2009).
A idade é o preditor mais forte para a criação de perfis de utilizadores dos media
sociais, adultos entre os 18 e os 34 anos aparecem como os seus maiores utilizadores
(Chou et al. 2009). Estes dados são importantes para os governos definirem a sua
estratégia de comunicação, criando perfis de público-alvo, e personalizando os conteúdos
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divulgados para estes perfis, assegurando assim que a mensagem chega ao público-alvo
pretendido.
Contudo, embora a idade seja um fator determinante na escolha do público-alvo,
não deve ser exclusivo, como já referido, faixas etárias mais velhas aderem cada vez mais
aos media socias, e às redes sociais em particular, sendo assim, os governos devem fazer
um esforço, para que os seus conteúdos sejam o mais abrangente possíveis de modo a
cobrir o máximo de população possível.
A importância para os governos
O objetivo do uso dos media sociais não se cinge unicamente à disseminação de
informação. As organizações governamentais podem utilizá-los para diversos propósitos:
procurar feedback dos cidadãos, re-pronunciamento de políticas públicas, contrução de
relações públicas, aumento de confiança nos governos assim como transparência,
prevenção de corrupção e aumento da participação dos cidadãos.
A explosão de conteúdos gerados por utilizadores da internet, fala bem da
capacidade e potencial que estes meios empregam no enriquecimento das comunicações
e da criação de colaborações. A utilização dos media sociais pelos governos oferece várias
potenciais oportunidades: os governos e os cidadãos podem juntar-se de modo a criar
novos serviços governamentais para aumentar a qualidade dos serviços atuais; utilização
do conceito de crowdsourcing na procura de conhecimento dos cidadãos para o
desenvolvimento de soluções inovadoras de larga escala; encorajar uma melhor interação
entre os cidadãos e as forças policiais.
Os media sociais devem ser tidos em consideração não apenas pela administração
central mas por todos os ramos do governo. Em 2010 um artigo do jornal Cleveland Plain-
Dealer referia: “When a tanker truck exploded July 15, closing a section of Interstate 75
near Detroit, hundreds of motorists were notified of the crash and detours via tweets from
the Michigan Department of Transportation…” este é um exemplo de como os media
socias podem ser utilizados por outros ramos do governo e ajuda em situações de
emergência, nos Estados Unidas mais de uma dezena de estados providenciam
informações de trânsito no Twitter, Facebook e Youtube. (Landsbergen 2010).
Há três oportunidades principais, geradas pelos media sociais, que podem ser
exploradas pelos governos, para seu benefício, estas podem mudar a perceção que o
cidadão tem do seu governo, promover o debate democrático e ajudar na criação de
parcerias estratégicas. São elas a confiança, a transparência e a diminuição de recursos.
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A Confiança
A confiança é essencial para explicar o que constitui uma boa
administração pública. Na administração pública confiança significa manter o equilíbrio
entre ter governantes recetivos aos cidadãos e também ter cidadãos que confiem na
experiência e capacidade dos governantes para que estes mesmos cidadãos não precisem
de ser envolvidos em todas as decisões governamentais. É objetivo de todos os governos
aumentarem os níveis de confiança, para o cidadão é mais fácil confiar nas pessoas que
constituem o governo do que no conceito abstrato de governo (Giddens, 1990). Os media
sociais oferecem, como nenhum outro recurso, acesso às pessoas, permitem o contato
direto com os seus representantes. Quanto menos os governos forem vistos como algo
abstrato e sem face, e mais como indivíduos, com um nome e uma reputação, maior será
a sensação de confiança transmitida e mais fácil será para o cidadão ver os governos como
uma coisa, ou alguém, cometido a trabalhar para o seu bem-estar (Landsbergen, 2010).
O tema da confiança leva-nos inevitavelmente a explorar a transparência,
que melhor forma existe de conquistar a confiança das pessoas do que mostrando aquilo
que estamos a fazer, sermos honestos e transparentes nas nossas atividades.
A transparência
Nesta era de descredibilização dos governos, da falta de credibilidade
destes perante os seus cidadãos, em que aumenta o escrutínio dos governos, a
transparência é essencial para relações governamentais eficazes (Bertot & Jaeger, 2010).
Transparência define-se como a disponibilidade de informação sobre
assuntos de interesse público, como a capacidade dos cidadãos de participarem nas
tomadas de decisão políticas e como a prestação de contas do governo à opinião pública
(Cotterrell, 1999). Segundo Piotrowski (2007), a transparência governamental permite
aos cidadãos formarem uma opinião mais exata dos governos e do que estes fazem, o que
os torna mais capazes de avaliarem a performance de quem os governa e de os poderem
responsabilizar pelas suas decisões.
A transparência nos governos deve ser entendida de forma diferente das
restantes organizações, um governo quer-se o mais transparente possível, pelo que o
modelo de comunicação e relações públicas de um governo deve ser substancialmente
diferente daquele aplicado às restantes organizações (Grunig and Jaatinen, 1999).
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Fairbanks, Plowman, and Rawlins (2007), desenvolveram um modelo de
como os governos devem encarar a transparência. Este modelo assenta em três elementos
chave: práticas de comunicação, suporte organizacional e provisão de recursos. Heise
(1985) afirmou que o mais importante num modelo de comunicação governamental é a
capacidade de fornecer informações fidedignas, atempadamente sem qualquer tipo de
manipulação. A internet e os media sociais em particular cobrem, como já referimos
anteriormente, estes aspetos. São um recurso único na disseminação destas informações
e possibilitam a criação de plataformas onde estas informações podem ser requisitadas
pelos próprios cidadãos. O contributo da internet para o aumento da transparência nos
governos provém da facilidade com que se pode disponibilizar uma enorme quantidade
de informação, a um custo reduzido, esta informação pode ser consultada a qualquer
momento, em qualquer lugar. Como já vimos anteriormente, os media sociais fornecem
uma via de comunicação de duplo sentido entre os governos e os cidadãos, esta
possibilidade pode ser usada também para aumentar a transparência dos processos do
governo, na medida em que estes podem responder diretamente a questões dos cidadãos
e manter diálogos em tempo real sobre o que está a acontecer, por exemplo, numa reunião
importante.
Em Outubro de 2012, Jokowi-Ahok o Governador de Jakarta – Indonésia,
começou a disponibilizar no YouTube vídeos das reuniões do governo, o canal do
YouTube PemprovDKI, conta com mais 19 mil subscrições e tem mais de 5 milhões de
visualizações, estas reuniões são gravadas e publicadas quase sem qualquer tipo de
edição.
Em Portugal, está atualmente a ser criado o portal da transparência
municipal (www.portalmunicipal.pt) onde será possível consultar indicadores estatísticos
sobre gestão financeira, administrativa, política fiscal e serviços municipais.
Diminuição dos recursos disponíveis
Na atualidade, neste perpetuo contexto de crise económica em que nos
encontramos, os recursos disponíveis para os governos são cada vez menores, esta
realidade é particularmente preocupante ao nível dos governos locais. É evidente que cada
vez mais os governos não conseguem fazer tudo sozinhos e encontrar os parceiros certos
para atingir as metas públicas é crucial. Cabe aos governos encontrarem formas criativas
e inovadoras de assegurarem o acesso a recursos fora da sua alçada (Landsbergen, 2010).
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A participação e o uso eficaz em redes de indivíduos, organizações e
instituições, prometem ser uma boa forma de assegurar estes recursos. A capacidade de
nutrir estas relações de forma eficaz e de as encontrar é uma capacidade cada vez mais
necessária nos governos, os media sociais fornecem uma vantagem em encontrar estas
relações, inúmeras organizações têm presença nas redes socias, e estas podem ser um meio
importante de chegar até elas. Muitas vezes estas parcerias vêm não só destas organizações
privadas mas como de cidadãos comuns, e como referido anteriormente, os media sociais
são cruciais no estreitamento e criação destas ligações.
Limitações e o que implica
Vários governos de todo o mundo já estão a tirar partido daquilo que os media
sociais lhes podem oferecer. Esta é uma área volátil, em constante mudança que requer
adaptação, e estratégias de atuação bem definidas, simplesmente instalar ferramentas e
tecnologia, não é suficiente, um post no Facebook uma vez por ano a desejar boas festas
não é suficiente, não é uma boa utilização de uma ferramenta tão poderosa.
As várias iniciativas já referidas têm algo em comum, todas prometem um maior
envolvimento dos cidadãos, um aumento na transparência dos governos e a sua
responsabilização. Atualmente faltam estudos empíricos capazes de provar estas teorias
e dar respostas a algumas questões: são estas iniciativas tão eficazes como prometem ser?
Até que ponto o seu impacto pode ser sentido nos governos? De facto foi possível
comprovar o aumento da transparência dos governos? E a sua responsabilização? Estão
os governos realmente a promover espaços de discussão democráticos? Estão estas
iniciativas a criar valor para o cidadão? Ou são meros espaços de autopromoção e
marketing para os governos?
Dar novos usos às informações dos governos levanta sempre questões de
segurança. A prometida rápida e massiva disseminação de informação também significa
que muita gente, dentro do governo, vai ser responsável por esta divulgação. O número
de pessoas que pode divulgar informação precisa de ser controlado, e as informações a
serem divulgadas precisam de ser expressamente estabelecidas. Não podemos
negligenciar o facto de estarmos a lidar com tecnologias pelo que a segurança que estas
oferecem pode também ser posta em causa, é necessário estabelecer uma relação de
confiança entre os governos e o cidadão, estes têm de ser capazes de confiar na veracidade
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daquilo que os governos lhes dá e na segurança e privacidade que as iniciativas de e-
government oferecem.
A liberdade de expressão num ambiente tão anónimo como a internet potencia
exageros, em tempos socialmente conturbados como os que vivemos, este meio é
utilizado para dar voz às nossas indignações, por exemplo as páginas de Facebook dos
nossos governantes são diariamente bombardeadas com pedidos de explicações e até
insultos, a liberdade de expressão garante-nos o direito de nos expressarmos da forma que
bem entendermos também é verdade que uma certa conduta é necessária para o bom
funcionamento destas iniciativas. Estas páginas são naturalmente geridas por mais de uma
pessoa com autorização para divulgar e comentar conteúdo, estas pessoas têm de ser
cuidadosas e não podem simplesmente responder na mesma moeda, ou responder mal, só
porque alguém expressou uma opinião diferente da sua. E não estão estas pessoas tentadas
a ocultar estas vozes de discórdia? Até que ponto estas plataformas que deviam fomentar
uma participação democrática são condicionadas pelas pessoas que as gerem?
Quantidade e qualidade. Estes meios permitem uma fácil divulgação de conteúdo,
muitas informações podem ser partilhadas com o cidadão, mas são estas as informações
a que o cidadão realmente quer ter acesso? Onde se encontra o equilíbrio entre aquilo que
o governo quer divulgar e aquilo que o cidadão quer ver divulgado? É um estado 100%
transparente concebível? Ou existem coisas que pela sua natureza devem ser do
conhecimento público?
Questões legais vão sempre surgir quando falamos de informações públicas, o que
deve e o que não deve ser divulgado, quem deve fazer esta divulgação, estas questões são
importantes mas não impeditivas, devem ser tidas em contas na delineação inicial da
estratégia a utilizar pelos governos.
Qualquer iniciativa tecnológica governamental tem de ultrapassar um simples
teste, gera valor para os cidadãos? Melhora os serviços a que estes têm acesso? O cidadão
precisa de reconhecer nestas iniciativas uma mais-valia, precisa de as perceber como algo
que lhes dará uma vantagem, seja no adquirimento de conhecimento ou no simples facto
os aproximar dos seus governantes.
Todas as decisões no setor público acarretam um certo risco, aqui não é diferente,
um governo corre um risco ao escolher utilizar os media socias, assim como corre um
risco ao escolher não o fazer. Esta não é uma decisão binária e a solução ideal passaria
por encontrar o delicado equilíbrio entre o nível de utilização a dar a estes meios.
Simplificando uma resposta complexa, dado os benefícios e olhando às contrapartidas,
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nenhum governo na atualidade se pode dar ao luxo de menosprezar o poder da Internet e
dos media socias em particular.
O Governo Português e os media sociais
“O Governo de Portugal acredita que é sua obrigação, não só informar, mas
garantir ao maior número possível de pessoas a possibilidade de utilizar essa informação
na plataforma de debate democrático que é hoje a internet. Cerca de um terço da
população portuguesa está hoje ligada via FACEBOOK, o que o torna a mais participada
das redes sociais no nosso país”(Governo de Portugal, 2014).
O Governo de Portugal tem presença nas duas maiores e mais utilizadas redes
sociais do mundo, Facebook e Twitter, a página oficial no Facebook da presidência da
República encontra-se em www.facebook.com/presidenciadarepublicaportuguesa, esta
página conta este momento com 34 mil Likes, e é utilizada maioritariamente para fornecer
informação sobre as atividades do Presidente da República. A presidência da república
tem também presença na rede social Twitter, (twitter.com/presidencia), esta conta tem
68.9 mil seguidores e partilhou 2,575 tweets, desde a sua criação em Novembro de 2008,
a sua utilização é muito semelhante à da página oficial do Facebook, disponibiliza
informações sobre as atividades do Presidente da República, por norma é utilizada como
uma via de comunicação de sentido único, disponibilizam informação mas não participam
no debate que algumas destas informações geram. Está também presente no Youtube
desde 2011, com um canal com 579 subscrições
(www.youtube.com/user/PresidenciaRepublica), na mesma senda da partilha de vídeos,
é utilizado o portal Sapo Videos (http://v2.videos.sapo.pt/presidencia). A rede social
flickr é utilizada para partilhar fotografias das atividades do Presidente da República
(https://www.flickr.com/photos/presidencia). Tem ainda presença na plataforma Second
Life, “A ilha da Presidência da República no mundo virtual Second Life apresenta uma
nova área dedicada ao espírito empreendedor e inovador da Escola de Sagres e à sua
importância na história dos descobrimentos Portugueses” (Presidência da República,
2010). Por último existe uma iniciativa chamada the start tracker, da sua
responsabilidade, “The Star Tracker is an invitation-only niche social network that aims
to connect and empower Global Portuguese Talent around the world.
With over 33,000 members in over 250 cities of the world, in 136 countries The Star
Tracker is embracing the Portuguese diaspora and believes that social cohesion and
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cultural promotion are determinant to perpetuate a sense of belonging to the Portuguese
global tribe”(The Star Tracker).
Em Janeiro de 2012, foi criada a iniciativa O Meu Movimento, “O Meu
Movimento é uma forma de dar uma oportunidade a todos de participar no debate sobre
o futuro do nosso país, defendendo as causas em que acreditam. O movimento mais
votado terá direito a uma audiência com o Primeiro-Ministro de Portugal”
(https://www.facebook.com/omeumovimento/info).
O Governo utiliza também o seu portal, o Portal do Governo para disponibilizar
informações sobre os últimos acontecimentos políticos do país
(http://www.portugal.gov.pt/pt/mantenha-se-atualizado.aspx?p=2) e tem presença na
rede social Twitter, em: twitter.com/govpt, aderiu em 2009 e possui mais de 20 mil
seguidores, aqui são também partilhadas informações sobre os acontecimentos políticos
nacionais.
As duas maiores figuras do nosso Governo têm também presença nas redes socias
Facebook e Twitter. (https://www.facebook.com/CavacoSilva?fref=ts;
https://twitter.com/prcavacosilva; https://twitter.com/passoscoelho).
O Governo Português tem uma presença forte nas redes socias, e faz uma boa
utilização das mesmas, no entanto deveria ser mais participativo e incentivar mais o
debate, sendo parte dele.
Conclusão
O crescimento das tecnologias de informação e comunicação têm um impacto
significativo na nossa forma de viver, na nossa forma de interagir e comunicar com as
outras pessoas. Este impacto está a modificar a forma como trabalhamos, e o mesmo está
a acontecer com os governos.
A oferta de medias sociais é muito vasta e diversificada, pelo que a escolha de
onde e como estar presente requer uma estratégia bem elaborada e cuidada por parte dos
governos.
Ao longo deste trabalho identificamos os benefícios e as limitações do uso destas
plataformas, face à sua emergente utilização, nenhum governo pode deixar de estar
presente e de tirar vantagens da sua utilização, mas sempre com um espírito de benefício
e criação de valor para o cidadão.
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Numa perspetiva diferente, podemos considerar que ferramentas de media social
são um novo tipo de dashboards, que podem ajudar os governos na hora da tomada de
decisão, estes podem perceber de que forma os cidadãos interagem com a informação
divulgada, ao analisarem estes comportamentos podem dirigir a sua informação para
grupos de cidadãos mais específicos e assim abordar as suas necessidades específicas.
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